Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO UNIASSELVI-PÓS Indaial - 2019 Autoria: Valéria Becher Trentin 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Xxxxxx Xxxxxxxxxxx Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx XXX p.; il. ISBN XXXXXXXXXXXXX 1.Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxx CDD XXXX.XXX Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Transtorno do Neurodesenvolvimento: O Que Diz o DSM-5? .......................................................................7 CAPÍTULO 2 O Que é a Inclusão Escolar? .....................................................61 CAPÍTULO 3 Transtorno do Neurodesenvolvimento e a Intervenção Pedagógica.......................................................97 APRESENTAÇÃO Caro pós-graduando, Neste livro daremos continuidade à trajetória de estudos, tendo como foco o Transtorno do Neurodesenvolvimento. O conteúdo aqui apresentado visa subsidiar a construção de conhecimentos sobre os transtornos que, muitas vezes, assolam nossos alunos, deixando-os à margem do processo de aprendizagem. Assim, a abordagem apresentada pretende trazer reflexões para a compre- ensão do sujeito com Transtornos do Neurodesenvolvimento no contexto da so- ciedade e da escola. Ao nos referirmos especificamente ao contexto escolar, as discussões e re- flexões se fazem presentes, devido ao fato de que a escola necessita oferecer uma educação que ultrapasse a matrícula escolar, pois esta não garante que a inclusão escolar seja efetivada, pois a inclusão escolar não pressupõe somente a matrícula, mas sim a compreensão das singularidades dos sujeitos, o respeito as suas diferenças no processo que envolve o aprender e o entendimento de que a aprendizagem e o desenvolvimento ocorrem por meio das relações estabelecidas no contexto escolar. Com base nesta abordagem, o livro está organizado em três capítulos: No Capítulo 1, você compreenderá o conceito de Transtorno do Neurodesen- volvimento. Após esta compreensão você identificará os Transtornos do Neurode- senvolvimento, os quais segundo o DSM-5, vão de limitações especificas na apren- dizagem ou no controle de funções executivas à prejuízos em habilidades sociais. No Capítulo 2, você compreenderá o significado de inclusão escolar. Median- te esta compreensão você analisará a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva; identificando a diferença entre inclusão e integração. A par- tir desta identificação você apreenderá que os estudos da defectologia fornecem subsídios para a prática docente com crianças, jovens e adultos com deficiência e transtornos. No Capítulo 3, você conhecerá o papel do professor frente a aprendizagem e por meio deste conhecimento, você analisará os possíveis efeitos da intervenção no processo de desenvolvimento do aluno com Transtorno do neurodesenvolvimento. Leia, reflita, mergulhe no universo que envolve a compreensão do Transtorno do Neurodesenvolvimento, pois estamos inseridos em uma sociedade diversifica- da, heterogênea e que caminha constantemente com a inclusão. Excelente estudo! CAPÍTULO 1 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Saber: • Compreender o conceito de Transtorno do Neurodesenvolvimento. Fazer: • Identifi car os Transtornos do Neurodesenvolvimento, os quais segundo o DSM-5, vão de limitações especifi cas na aprendizagem ou no controle de funções executivas à prejuízos em habilidades sociais. • Analisar os efeitos do Transtorno do Neurodesenvolvimento no processo de desenvolvimento do sujeito. 8 Transtornos do Neurodesenvolvimento 9 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Neste capítulo apreenderemos o que é o Transtorno do Neurodesen- volvimento, pois torna-se fundamental, nós profi ssionais que atuamos na educação termos conhecimento científi co e informações claras sobre as patologias que envolvem o processo de aprendizagem. Assim, para compreendermos este transtorno, a base de nossos es- tudos e refl exões será o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais- DSM-5, onde se contemplam os aspectos clínicos, estatísticos e epidemiológicos dos transtornos mentais. Vale destacar que este Manual serve como ferramenta para compreender os padrões de doenças men- tais, sendo utilizado em avaliações diagnósticas realizadas pelos profi ssio- nais da saúde. Para tecermos refl exões sobre o Transtorno do Neurodesenvolvi- mento, identifi caremos nesse capítulo alguns destes transtornos, os quais segundo o DSM-5, vão de limitações especifi cas na aprendizagem ou no controle de funções executivas à prejuízos em habilidades sociais. 2 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO E O MANUAL ESTATÍSTICO E DIAGNÓSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS (DSM-5): CONCEITOS. Iniciaremos este capítulo buscando compreender o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM), o qual se apresenta como um dos principais sistemas de classifi cação. O referido manual desde a sua primeira pu- blicação em 1952, passou por cinco grandes revisões, resultando no DSM-5 ela- borado pela American Psychiatry Association (APA, 2014). 10 Transtornos do Neurodesenvolvimento FIGURA 1 - DSM-5 – MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS FONTE: <http://bit.ly/2UjDuGd>. Acesso em: set. 2019. O DSM é regulado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). Nele se contemplam os aspectos clínicos, estatísticos e epidemiológicos dos transtornos mentais (APA, 2014). Como se visualiza na fi gura 1, recentemente, uma nova atu- alização do Manual foi feita, denominada como DSM-5 e provavelmente, os novos documentos que tratam dos transtornos mentais, seguirão esse novo parâmetro (APA, 2014) O DSM é regulado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). Nele se contemplam os aspectos clínicos, estatísticos e epi- demiológicos dos transtornos mentais (APA, 2014). Assim, podemos destacar que as avaliações diagnósticas realiza- das pelos profi ssionais da saúde são pautadas em pelo menos duas grandes referências, a CID-10 e o DSM-V. O DSM de tempos em tempos passa por um processo de revisão, sendo defendido por alguns órgãos e questionadas por outros devido a sua forma de classifi cação e categorização. Após a compreensão sobre o DSM, elucidaremos a CID-10. O DSM de tempos em tempos passa por um processo de revisão, sendo defendido por alguns órgãos e questionadas por outros devido a sua forma de classifi cação e categorização. 11 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 FIGURA 2 - CID-10- CLASSIFICAÇÃO DE TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTO FONTE: <http://bit.ly/2uiLRXP>. Acesso em: set. 2019. CID-10 signifi ca classifi cação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (também conhecida como Classifi cação Interna- cional de Doenças – CID 10) foi publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A referida classifi cação apresenta como objetivo padroni- zar a codifi cação de doençase outros problemas relacionados à saúde. Ela é geralmente utilizada pelos médicos quando atestam alguma doença e o que costumeiramente encontramos num diagnóstico de defi ciência ou transtorno de algum indivíduo, por exemplo: F84 (Autismo). A CID-10 signifi ca classifi cação Internacional de Doenças e Proble- mas Relacionados à Saúde (também conhecida como Classifi cação In- ternacional de Doenças – CID 10) foi publicada pela Organização Mun- dial de Saúde (OMS). Frente ao conhecimento do DSM-5 e da CID-10, vale ressaltar que estes apresentam diferenças e semelhanças. O DSM serve como ferramenta para com- preender os padrões de doenças mentais e a CID-10, molda a prática mais ampla da psiquiatria. No entanto, neste capítulo abordaremos o DSM-5, o qual foi publicado em 18 de maio de 2013, tornando-se um dos principais sistemas de classifi cação. Este Manual resultou das pesquisas de profi ssionais de diferentes áreas, os quais traba- lharam intensamente revisando evidências sobre a validade dos critérios diagnós- ticos. Tornando-se assim o DSM-5 “uma fonte segura e cientifi camente embasada para a aplicação em pesquisas e na prática clínica” (ARAÚJO; NETO, 2014, p. 68). A CID-10 signifi ca classifi cação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (também conhecida como Classifi cação Internacional de Doenças – CID 10) foi publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 12 Transtornos do Neurodesenvolvimento A partir do exposto, cabe evidenciar o Quadro 1, o qual apresenta os capítu- los e as reformulações para as várias doenças do DSM-IV para o DSM-5. QUADRO 1 - REFORMULAÇÕES PARA AS VÁRIAS DOENÇAS DO DSM-IV PARA O DSM-5 DSM-IV DSM-5 -Transtornos Geralmente Diagnosticados pela Primeira Vez na Infância ou na Adolescência. -Delirium, Demência, Transtorno Amnéstico e Outros Transtornos Cognitivos. -Transtornos Mentais Causados por uma Condição Médica Geral não classifi cados em Outro Local. -Transtornos Relacionados à Substâncias. -Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos. -Transtornos do Humor. -Transtornos de Ansiedade. -Transtornos Somatoformes. -Transtornos Factícios. -Transtornos Dissociativos. -Transtornos Sexuais e da Identidade de Gênero. -Transtornos da Alimentação. -Transtornos do Sono. -Transtornos do Controle dos Impulsos Não Classifi cados em Outro Local. -Transtornos da Adaptação. -Transtornos da Personalidade. Outras Condições quem podem ser foco de Atenção Clínica -Transtorno do Neurodesenvolvimento. -Espectro da Esquizofrenia e outros Transtornos Psicóticos. -Transtorno Bipolar e Transtornos Relacionados. -Transtornos Depressivos. -Transtornos de Ansiedade. -Transtornos Obsessivo-Compulsivo. -Transtornos Relacionados ao Trauma e ao Estresse. -Transtornos Dissociativos. -Sintomas Somáticos e outros Transtornos Re- lacionados. -Transtornos Alimentares. -Transtornos de Eliminação. -Transtornos Sono-Vigília. -Disfunções Sexuais. -Disforia de Gênero. -Transtornos Disruptivo, do Controle dos Impul- sos e de Conduta. -Transtornos Aditivos e Relacionados à Subs- tâncias. -Transtornos Neurocognitivos. -Transtornos de Personalidade. -Transtornos Parafílicos. -Outros Transtornos Mentais. -Distúrbio do Movimento Induzido por Medica- mentos e outros Efeitos Adversos. -Outras Condições que podem ser foco de Aten- ção Clínica. FONTE: A autora 13 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 Podemos observar no Quadro 1, que os Transtornos Geralmente Diagnos- ticados pela Primeira Vez na Infância ou na Adolescência, os quais fazem parte do DSM IV, foi substituído por Transtornos do Neurodesenvolvimento no DMS-5. Segundo APA (2014), os Transtornos do Neurodesenvolvimento são apoiados por características fi siopatológicas, as quais são caracterizadas por um atraso ou desvio no desenvolvimento do cérebro infl uenciando características fenotípicas. Fisiopatologia: Estuda os distúrbios funcionais e signifi cado clí- nico. A natureza das alterações morfológicas e sua distribuição nos diferentes tecidos infl uenciam o funcionamento normal e determinam as características clínicas, o curso e também o prognóstico da doen- ça (APA, 2014). Características fenotípicas sendo a expressão de caracterís- ticas no organismo decorrente da relação entre seus genes e o am- biente (APA, 2014). Os Transtornos do Neurodesenvolvimento, segundo o DSM-5 trata-se de um conjunto de condições que se inicia no período de desenvolvimento do sujeito, geralmente antes do ingresso na escola. Assim, vale destacarmos que os défi cits característicos desses transtornos vão de limitações especifi cas na aprendizagem ou no controle de funções executivas à prejuízos em habilidades sociais ou, até mesmo, Defi ciência Intelectual, Transtornos da Comunicação, Transtorno do Es- pectro Autista, Transtorno de Défi cit de Atenção/hiperatividade, Transtorno Espe- cífi co da Aprendizagem, Transtornos Motores e Outros Transtornos do Neurode- senvolvimento (APA, 2014). O anunciado se evidencia no Quadro 2, o qual ressalta os transtornos que compõem o capítulo da DSM-5 sobre Transtornos do Neurodesenvolvimento. 14 Transtornos do Neurodesenvolvimento QUADRO 2 - TRANSTORNOS QUE COMPÕEM O CAPÍTULO DA DSM- 5 SOBRE TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO DSM-5 Defi ciência Intelectual Transtornos de Comunicação Transtorno do Espectro Autista Transtorno de Défi cit de Atenção/Hiperatividade Transtorno Específi co da Aprendizagem Transtornos Motores Outros Transtornos do Neurodesenvolvimento FONTE: APA (2014) Ao se observar o Quadro 2, compreendemos que nova a classifi cação da DSM-5 vem lançar olhar longitudinal sobre o curso dos transtornos mentais, es- tabelecendo algumas mudanças, como a exclusão do capítulo “Transtornos Ge- ralmente Diagnosticados pela Primeira Vez na Infância ou na Adolescência”. Vale ressaltar que a partir desta exclusão parte dos diagnósticos pertencentes a este capítulo, passaram a serem compreendidos como Transtornos do Neurodesenvol- vimento (TRENTIN, 2018). As revisões de diagnósticos realizadas na nova versão, da DSM, segundo Araújo e Neto (2014) veio a contribuir para a possibilidade de diagnosticar correta- mente. Os autores destacam essa contribuição, devido ao fato de que muitas vezes os diagnósticos realizados por psiquiatras e psicólogos acerca dos Transtornos do Neurodesenvolvimento, encontram-se sem defi nição (ARAÚJO; NETO, 2014). Mediante o evidenciado por Araújo e Neto (2014), compreendemos que essa indefi nição no diagnóstico pode afetar negativamente o desenvolvimento escolar da criança e/ou jovem, devido ao fato destes sujeitos não estarem utilizando medi- cação, ou estarem a utilizando sem necessidade. De acordo com os autores, outro aspecto que envolve negativamente a ausência de diagnóstico de crianças e jovens com Transtornos do Neurodesenvolvimento é a inexistência de adaptação do ma- terial didático, ou seja, a não adaptação do material em sala de aula para as con- dições de desenvolvimento específi co para cada sujeito (ARAÚJO; NETO, 2014). Mediante a compreensão aqui elucidada sobre o que signifi ca o DSM-5, e o conceito de Transtorno do Neurodesenvolvimento, iniciaremos discussões sobre alguns dos Transtornos do Neurodesenvolvimento que compõem o capítulo do DSM-5, dando-se início pela Defi ciência Intelectual. 15 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 2.1 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A defi ciência não se resume a andar, ouvir, falar e ver. Para explorarmos melhor este conceito, iremos nos reportar a 1976, ano este em que a Organiza- ção Mundial da Saúde (OMS), com o objetivo de conhecer melhor as doenças, publicou a International Classifi cation of Impairment, Disabilities and Handicaps (ICIDH) em caráter experimental. Ao ser traduzido para o português, lê-se: Clas- sifi cação Internacional das Defi ciências, Incapacidadese Desvantagens, a CIDID (TRENTIN, 2018). A partir dessa classifi cação, Farias e Buchalla (2005) descrevem que a Im- pairment, ou defi ciência passou a ser descrita como anormalidades nos órgãos, sistemas e nas estruturas do corpo. No entanto, a Disabilities, ou incapacidade, foi caracterizada como as consequências da defi ciência do ponto de vista funcio- nal (desempenho das atividades) e os Handicaps, como a adaptação ao meio, o qual resulta da defi ciência. Cabe destacar que, a partir das defi nições expostas na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Defi ciência (ONU, 2006), a qual foi ratifi cada pelo De- creto nº 6.949/2009 (BRASIL, 2009, s. p.), ocorreu refl exões sobre o conceito de defi ciência. O referido Decreto em seu Artigo 1º defi ne as pessoas com defi ciência como “[...] aquelas que tem impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial permanentes, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em bases iguais com as demais pessoas”. Com base na defi nição exposta na Convenção sobre os Direitos das Pes- soas com Defi ciência (ONU, 2006), a Associação Americana de Retardo Mental (AAMR) inicia pesquisas sobre a defi ciência mental. As pesquisas da referida as- sociação defi niram conceitos, classifi cações, modelos teóricos e orientações em diversas áreas. No contexto que abarcou as pesquisas, emergiu a ressignifi cação do termo defi ciência mental, para o termo defi ciência intelectual (TRENTIN, 2018). O termo defi ciência intelectual foi introduzido e utilizado na De- claração de Montreal sobre a Defi ciência Intelectual. Este documento foi o resultado das discussões feitas na Conferência Internacional so- bre Defi ciência Intelectual, na cidade de Montreal – Canadá, nos dias 5 e 6 de outubro de 2004, sendo realizada pela Organização Pan- -americana de Saúde e pela Organização Mundial de Saúde (OPM/ OMS) (ONU, 2006). 16 Transtornos do Neurodesenvolvimento Ao nos referirmos à defi ciência intelectual, ressaltamos a American Associa- tion on Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD, 2019, s.p.), que a de- fi ne como “uma incapacidade caracterizada por limitações signifi cativas tanto no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, que abrange habilida- des conceituais, sociais e práticas”. A American Association on Intellectual and Developmental Disa- bilities, com tradução livre para o português de Associação America- na de Defi ciências Intelectual e de Desenvolvimento, possui mais de 5.000 membros nos Estados Unidos e em 55 países em todo o mundo e, desde a sua criação, está engajada na defesa da qualidade de vida e direitos para pessoas com defi ciência intelectual (AAIDD, 2019). A o encontro do anunciado pela American Association on Intellectual and De- velopmental Disabilities (AAIDD, 2019), o DSM-5 evidencia a Defi ciência intelec- tual (transtorno do desenvolvimento intelectual) como um transtorno com início no período do desenvolvimento que inclui défi cits funcionais, tanto intelectuais quan- to adaptativos, nos domínios conceitual, social e prático. (APA, 2014). Para esclarecermos o destacado pela American Association on Intellectual and Developmental Disabilities (AAIDD, 2019) e pela APA (2014), sobre as habili- dades/domínios conceituais, sociais e práticas evidenciamos Smith (2008), o qual destaca que: • as habilidades/domínios conceituais envolvem os aspectos acadêmi- cos, cognitivos e de comunicação (SMITH, 2008); • as habilidades/domínios sociais respondem às exigências sociais exemplifi cadas pela responsabilidade, autoestima, habilidades interpes- soais, observância de regras, normas e leis (SMITH, 2008); • as habilidades/domínios práticas remetem ao exercício da autonomia, como: alimentar-se, arrumar a casa, deslocar-se de maneira indepen- dente e utilizar meios de transporte (SMITH, 2008); No entanto para compreendermos os défi cits funcionais, intelectuais e adap- tativos o DSM-5 apresenta três critérios que devem ser preenchidos para o diag- nóstico: 17 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 • Défi cits em funções intelectuais como raciocínio, solução de proble- mas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadê- mica e aprendizagem pela experiência confi rmados tanto pela avaliação clínica quanto por testes de inteligência padronizados e individualizados (APA, 2014). • Défi cits em funções adaptativas que resultam em fracasso para atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação a independên- cia pessoal e responsabilidade social. Sem apoio continuado, os défi cits de adaptação limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diá- rias, como comunicação, participação social e vida independente, e em múltiplos ambientes, como em casa, na escola, no local de trabalho e na comunidade (APA, 2014). • Início dos Défi cits Intelectuais e Adaptativos durante o período do de- senvolvimento (APA, 2014). Mediante os défi cits funcionais, intelectuais e adaptativos anunciados, o DSM-5 ainda especifi ca em seu conteúdo a gravidade destes com base no funcio- namento adaptativo, uma vez que é o funcionamento adaptativo que determina o nível de apoio necessário (APA, 2014). Funcionamento adaptativo se refere a habilidades conceituais, sociais e práticas que permitem adaptação ao contexto vivenciado (APA, 2014). Assim, os níveis de gravidade para a Defi ciência Intelectual, podem ser visu- alizados no quadro a seguir: QUADRO 3 - NÍVEIS DE GRAVIDADE PARA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NÍVEL DE GRAVIDADE DOMÍNIO CONCEITUAL DOMÍNIO SOCIAL DOMÍNIO PRÁTICO CID- F70 Leve -Em crianças pré-escolares, pode haver diferenças con- ceituais óbvias. -Para crianças em idade es- colar e adultos, existem di- fi culdades em aprender ha- bilidades acadêmicas que envolvam leitura, escrita, ma- temática, tempo ou dinheiro, sendo necessário apoio em uma ou mais áreas para o alcance das expectativas as- sociadas à idade. -Comparado aos in- divíduos na mesma faixa etária com de- senvolvimento típico, o indivíduo mostra-se imaturo nas relações sociais. Por exemplo, pode haver difi culda- de em perceber, com precisão, pistas so- ciais dos pares. -O indivíduo pode funcionar de acordo com a idade nos cuidados pessoais. - Precisa de algum apoio nas tarefas complexas da vida diária na comparação com os pares. -Na vida adulta, os apoios costumam envolver compras de itens para a casa, trans- porte, organização do lar e dos cuidados com os fi lhos, preparo de alimentos nutriti- vos, atividades bancárias e controle do dinheiro. 18 Transtornos do Neurodesenvolvimento -Nos adultos, pensamento abstrato, função executiva (planejamento, estabeleci- mento de estratégias, fi xa- ção de prioridades e fl exibi- lidade cognitiva) e memória de curto prazo, bem como uso funcional de habilidades acadêmicas (p. ex., leitura, controle do dinheiro), estão prejudicados. Há uma abor- dagem um tanto concreta a problemas e soluções em comparação com indivíduos na mesma faixa etária. -Comunicação, con- versação e linguagem são mais concretas e imaturas do que o es- perado para a idade. -Podem existir difi cul- dades de regulação da emoção e do com- portamento de uma forma adequada à idade; tais difi culda- des são percebidas pelos pares em situa- ções sociais. -Há compreensão li- mitada do risco em situações sociais; o julgamento social é imaturo para a ida- de, e a pessoa corre o risco de ser mani- pulada pelos outros (credulidade). -As habilidades recreativas assemelham-se às dos com- panheiros de faixa etária, em- bora o juízo relativo ao bem- -estar e à organização da recreação precise de apoio. Na vida adulta, pode con- seguir emprego em funções que não enfatizem habilida- des conceituais. -Os indivíduos em geral ne- cessitam de apoio para to- mar decisões de cuidados de saúde e decisões legais, bem comopara aprender a desempenhar uma profi ssão de forma competente. - Apoio costuma ser necessá- rio para criar uma família. CID- F71 Moderada -Durante todo o desenvol- vimento, as habilidades conceituais individuais fi - cam bastante atrás das dos companheiros. -Nos pré-escolares, a linguagem e as habilidades pré-aca- dêmicas desenvolvem-se lentamente. -Nas crianças em idade escolar, ocorre lento progresso na leitura, na escrita, na matemática e na compreensão do tempo e do dinheiro ao longo dos anos escolares, com limita- ções marcadas na compa- ração com os colegas. -O indivíduo mostra diferenças marcadas em relação aos pares no comportamento social e na comunica- ção durante o desen- volvimento. -A linguagem falada costuma ser um re- curso primário para a comunicação social, embora com muito menos complexidade que a dos compa- nheiros. -O indivíduo é capaz de dar conta das necessidades pes- soais envolvendo alimentar- -se, vestir-se, higiene, ainda que haja necessidade de pe- ríodo prolongado de ensino e de tempo para que se torne independente nessas áreas, talvez com necessidade de lembretes. 19 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 -Nos adultos, o desenvolvi- mento de habilidades aca- dêmicas costuma mostrar- -se em um nível elementar, havendo necessidade de apoio para todo emprego de habilidades acadêmicas no trabalho e na vida pessoal. - Assistência contínua di- ária é necessária para a realização de tarefas con- ceituais cotidianas, sendo que outras pessoas podem assumir integralmente es- sas responsabilidades pelo indivíduo. -A capacidade de re- lacionamento é evi- dente nos laços com família e amigos, e o indivíduo pode man- ter amizades bem- -sucedidas na vida e, por vezes, relacio- namentos românticos na vida adulta. Pode, entretanto, não per- ceber ou interpretar com exatidão as pistas sociais. -O jul- gamento social e a capacidade de tomar decisões são limita- dos, com cuidadores tendo que auxiliar a pessoa nas deci- sões. Amizades com companheiros com desenvolvimento nor- mal costumam fi car afetadas pelas limita- ções de comunicação e sociais. -Há necessidade de apoio social e de co- municação signifi cati- vo para o sucesso nos locais de trabalho. -Da mesma forma, participa- ção em todas as tarefas do- mésticas pode ser alcançada na vida adulta, ainda que seja necessário longo período de aprendizagem, que um apoio continuado tenha que ocorrer para um desempenho adulto. -Emprego independente em tarefas que necessitem de habilidades conceituais e co- municacionais limitadas pode ser conseguido, embora com necessidade de apoio consi- derável de colegas, supervi- sores e outras pessoas para o manejo das expectativas sociais, complexidades de trabalho e responsabilida- des auxiliares, como horário, transportes, benefícios de saúde e controle do dinheiro. -Uma variedade de habilida- des recreacionais pode ser desenvolvida. Estas costu- mam demandar apoio e opor- tunidades de aprendizagem por um longo período. Com- portamento mal adaptativo está presente em uma mi- noria signifi cativa, causando problemas sociais. CID- F72 Grave -Alcance limitado de habili- dades conceituais. -Geralmente, o indivíduo tem pouca compreensão da linguagem escrita ou de conceitos que envolvam nú- meros, quantidade, tempo e dinheiro. Os cuidadores proporcionam grande apoio para a solução de proble- mas ao longo da vida. -A linguagem falada é bastante limitada em termos de voca- bulário e gramática. A fala pode ser com- posta de palavras ou expressões isoladas, com possível suple- mentação por meios alternativos. -O indivíduo necessita de apoio para todas as atividades cotidianas, inclusive refeições, vestir-se e banhar-se. -Precisa de supervisão em todos os momentos. -Não é capaz de tomar deci- sões responsáveis quanto a seu bem-estar e dos demais. 20 Transtornos do Neurodesenvolvimento -A fala e a comunica- ção têm foco no aqui e agora dos eventos diários. A linguagem é usada para comuni- cação social mais do que para explicações. -Os indivíduos entendem discursos e comunica- ção gestual simples. -As relações com fami- liares e pessoas con- hecidas constituem fon- te de prazer e ajuda. -Na vida adulta, há necessida- de de apoio e assistência con- tínuos nas tarefas domésticas, recreativas e profi ssionais. - A aquisição de habilidades em todos os domínios envol- ve ensino prolongado e apoio contínuo. CID- F73 Profunda -As habilidades conceituais costumam envolver mais o mundo físico do que os pro- cessos simbólicos. -A pessoa pode usar objetos de maneira direcionada a metas para o autocuidado, o trabalho e a recreação. -Algumas habilidades viso espaciais, como combinar e classifi car, baseadas em características físicas, po- dem ser adquiridas. -A ocorrência concomitante de prejuízos motores e sen- soriais, pode impedir o uso funcional dos objetos. -O indivíduo apre- senta compreensão muito limitada da co- municação simbólica na fala ou nos gestos. -Pode entender al- gumas instruções ou gestos simples. -Há ampla expressão dos próprios desejos e emoções pela co- municação não ver- bal e não simbólica. -A pessoa aprecia os relacionamentos com membros bem co- nhecidos da família, cuidadores e outras pessoas conhecidas, além de iniciar inte- rações sociais e re- agir a elas por meio de pistas gestuais e emocionais. - A ocorrência conco- mitante de prejuízos sensoriais e físicos pode impedir muitas atividades sociais. -O indivíduo depende dos outros para todos os aspec- tos do cuidado físico diário, saúde e segurança, ainda que possa conseguir parti- cipar também de algumas dessas atividades. -Aqueles sem prejuízos físicos graves podem ajudar em algumas tarefas diárias de casa, como levar os pratos para a mesa. -Ações simples com objetos podem constituir a base para a participação em algumas ativi- dades profi ssionais com níveis elevados de apoio continuado. -Atividades recreativas po- dem envolver, por exemplo, apreciar ouvir música, assistir a fi lmes, sair para passear ou participar de atividades aquá- ticas, tudo isso com apoio de outras pessoas. -A ocorrência concomitante de prejuízos físicos e sensoriais é barreira frequente à participa- ção (além da observação) em atividades domésticas, recre- ativas e profi ssionais. FONTE: APA (2014) 21 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 Frente ao evidenciado pelo DSM-5 sobre os níveis de gravidade que abar- cam a Defi ciência Intelectual, cabe destacar a importância da compreensão dos contextos nos quais a pessoa com defi ciência intelectual está inserida, bem como a identifi cação dos apoios que ela necessita. A compreensão destes aspectos contribui para o desenvolvimento e apren- dizagem, para a qualidade de vida e a participação social da pessoa com defi - ciência. No entanto, a utilização dos apoios requer os domínios de aplicação, os quais necessitam ser catalizadores de funções em diversos ambientes, pro- movendo o desenvolvimento humano; a aprendizagem; a vida em sociedade; a participação escolar; a qualidade de vida; as relações interpessoais, entre outros (TRENTIN, 2018). O movimento que abarca a incorporação de apoios requer mudanças de conceitos sobre a defi ciência intelectual. Mudanças as quais envolvem a com- preensão dos sujeitos, no reconhecimento das identidades e na valorização das vivências, pois os indivíduos com defi ciência necessitam de uma formação para a realidade social, cultural e para a emancipação. Em continuidade as refl exões, buscaremos compreender as causas e os fa- tores de risco que abarcam a defi ciência intelectual. 2.1.1 Defi ciência Intelectual: Causas e Fatores de Risco Os fatores de risco, os quais envolvem a defi ciência, tornam-se uma con- stante no desenvolvimento do ser humano, pois este pode ocorrer já na concepção.Assim, cabe destacar que são várias as causas e os fatores que podem levar à defi ciência intelectual. No entanto, apesar de sofi sti- cados recursos tecnológicos na área da medicina, desconhece-se muitas vezes a etiologia, ou seja, a causa em 50% dos casos de defi ciência in- telectual, pois os fatores etiológicos podem ocorrer antes, durante e após o nascimento (OMS, 2013). Assim podemos destacar que os fatores etiológicos podem ser: Pré-na- tais; Perinatais e Pós-natais. 22 Transtornos do Neurodesenvolvimento Fatores de risco e causas Pré-natais: São os fatores que acometem o indi- víduo desde a concepção até o parto. Assim, considera-se que entre os fatores de risco presentes antes do nascimento estão: • Fatores maternos, os quais envolvem desordens genéticas; incompatibi- lidade sanguínea; fertilidade reduzida; idade materna (mais de 40 anos e menos de 15 anos); doenças infecciosas durante a gravidez; exposição ao Raio X; uso de drogas, fumo ou álcool; ingestão de remédios; exces- so de vitamina A e B; hipertensão e epilepsia. • Fatores psicológicos os quais envolvem desordens psiquiátricas. • Fatores sociais, os quais envolvem a ausência de assistência médica; pré-natal. Mediante os fatores apresentados, vale destacar que, as causas mais fáceis de identifi cação são as de desordens genéticas, as quais envolvem alterações cromossômicas (provocadas por alteração no número de cromossomos). Afi nal, o que é um cromossomo? Um cromossomo é uma longa sequência de DNA, o qual contém vários ge- nes, e outras sequências de nucleótidos com funções específi cas nas células dos seres vivos (ARCANJO, 2010). FIGURA 3 - CROMOSSOMO FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/doencas-relaciona- das-aos-cromossomos/>. Acesso em: 19 jan. 2020. Dando continuidade as refl exões que abarcam os fatores de risco e as cau- sas pré-natais, podemos destacar ainda que as alterações cromossômicas podem afetar os sujeitos em nível metabólico. Nesse caso, associam-se à defi ciência in- 23 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 telectual as alterações endócrinas, ou seja, a incapacidade de produzir determina- das proteínas ou enzimas. Dentre as alterações cromossômicas confi guram-se nas causas mais fre- quentes de defi ciência intelectual, a Fenilcetonúria, o Hipotireoidismo Congê- nito, a Síndrome do X-frágil, a Síndrome de Down, e a Síndrome de Rett. • Fenilcetonúria: A fenilcetonúria, segundo o Ministério da Saúde (2013), é uma doença genética, causada por mutações do cromossomo. A au- sência ou a defi ciência da enzima fenilalanina hidroxilase impede que o organismo metabolize o aminoácido fenilalanina. Ao não ser metaboliza- do pelo organismo, esse aminoácido em excesso no sangue, torna-se tóxico, ocasionando a defi ciência intelectual. Em conjunto com a defi - ciência intelectual, a fenilcetonúria causa microcefalia, retardo da fala, convulsões, distúrbios do comportamento, irritabilidade, hipopigmenta- ção cutânea, eczemas e problemas no trato urinário (OMS, 2013). FIGURA 4 - TESTE DO PEZINHO FONTE: <https://primeirahora.com.br/saude-de-rondonopolis-alerta-pa- ra-importancia-do-teste-do-pezinho/>. Acesso em: set. 2019. O diagnóstico da fenilcetonúria ocorre por meio de triagem neonatal de roti- na, ou seja, (“Teste do pezinho”), o qual mostra se o bebê pode ter a fenilceto- núria. A partir do diagnóstico, o médico poderá começar o tratamento dietético de imediato para evitar problemas a longo prazo. Os recém-nascidos com a doença são tratados com uma fórmula especial de aminoácidos (OMS, 2013). 24 Transtornos do Neurodesenvolvimento Após o diagnóstico, o tratamento envolve o controle alimentar com dieta especial à base de leite e com alimentos que não contenham fenilalanina. Esse controle ocorre sob rigorosa orientação médica, para que o bebê tenha uma vida normal. Dados do Ministério da Saúde (2013) evidenciam que a cada 10.0000 recém-nascidos, um apresenta a fenilcetonúria (OMS, 2013). • Hipotireoidismo Congênito: o hipotireoidismo congênito é causado pela ausência de uma enzima, a qual impossibilita que o organismo pro- duza o T4 (hormônio tireoidiano) (MACIEL et al. 2013). Maciel et al. (2013) ainda destacam que os bebês com hipotireoidismo con- gênito apresentam peso e estatura dentro da normalidade. No entanto, um dos sinais observados é a icterícia neonatal prolongada. O diagnóstico do hipotireoi- dismo congênito também ocorre por meio de triagem neonatal de rotina, ou seja, (“Teste do pezinho”). A ausência de diagnóstico precoce e de tratamento adequado impedem o crescimento e o desenvolvimento do organismo o que propicia vários graus de defi ciência neurológica, incluindo a defi ciência intelectual. O tratamento do hipoti- reoidismo congênito abarca a administração de hormônio tireoidiano, o qual deve ter controle médico (MACIEL et al. 2013). Para conhecer mais sobre o Teste do Pezinho e sobre a sua im- portância, assista ao vídeo disponível no seguinte link: <https://www. youtube.com/watch?time_continue=73&v=OkUOryEowsk>. • Síndrome do X-frágil: a síndrome do X frágil é considerada a respon- sável pela maioria das causas de defi ciência intelectual. A expressão “X-Frágil” deve-se a uma anomalia causada por um gene defeituoso lo- calizado no cromossomo X, o qual, por sua vez, passa a apresentar uma falha. Essa falha ou a “fragilidade do X” causa um conjunto de sintomas clínicos (MACIEL et al., 2013). Essa síndrome está ligada a alterações no cromossomo X, ela acomete am- bos os sexos, apresentando menos incidência em sujeitos do sexo feminino. No entanto, cabe destacar que a mãe da criança com síndrome do X frágil obrigato- riamente apresenta a mutação (MACIEL et al., 2013). 25 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 Como já mencionado, o sexo masculino apresenta maior incidência da sín- drome e maiores expressões fenotípicas, ou seja, as características observáveis tornam-se mais evidentes. Entre essas características, destacam-se: a defi ciência intelectual, o estreitamento e o alongamento da face, alterações comportamentais, problemas ortopédicos, pés planos, escoliose, peito escavado, autismo, convulsões, fi ssura palatina, ausência congênita de dentes, entre outros (MACIEL et al., 2013). O diagnóstico da Síndrome do X Frágil ocorre na infância. Fase em que os pais percebem em seus fi lhos alterações comportamentais e atrasos no desenvol- vimento. Essas alterações observáveis envolvem a difi culdade para engatinhar, o atraso na fala e no caminhar, além de difi culdades intelectuais. A partir das altera- ções observáveis, Maciel et al. (2013) anunciam que a alteração do cromossomo X pode ser confi rmada por meio de mapeamento genético. FIGURA 5 - MAPEAMENTO GENÉTICO (CARIÓTIPO DA SÍNDROME DO X FRÁGIL) FONTE: <https://guiamedicobrasileiro.com.br/sindro- me-x-fragil/>. Acesso em: 22 dez. 2019. Cariótipo é o nome dado ao conjunto de cromossomos de uma dada es- pécie e apresenta forma, tamanho e número característicos(MOREIRA; EL- -HANI, 2000). Síndrome de Down: a síndrome de Down é uma condição genética, que foi reconhecida em 1866, pelo médico inglês, John Langdon Down. O referido mé- dico apresentou, na época, cuidadosa descrição clínica da síndrome, entretanto, erroneamente estabeleceu associações com caracteres étnicos, seguindo a ten- dência da época, nomeando a condição inadequadamente de idiotia mongoloide (MOREIRA; EL-HANI, 2000). 26 Transtornos do Neurodesenvolvimento Atualmente, a síndrome pode ser identifi cada como Trissomia do Cromosso- mo 21, sendo as pessoas que a possuem trissômicas. Os cromossomos como já mencionado anteriormente se constituem em estruturas que encontram no núcleo de cada célula, contendo características hereditárias. Em cada célula, apresen- ta-se um total de 46 cromossomos, dos quais 23 são de origem paterna e 23 de origem materna (MOREIRA; EL-HANI, 2000).FIGURA 6 - MAPEAMENTO GENÉTICO (CARIÓTIPO DA SÍNDROME DE DOWN) FONTE:<https://www.movimentodown.org.br/2014/04/alteracao-que-origina-sin- drome-de-nao-esta-apenas-cromossomo-21/>. Acesso em: 22 dez. 2019. Os indivíduos com síndrome de Down não apresentam 46 cromossomos, mas sim 47. O cromossomo a mais se localiza no par 21 e por esse motivo a sín- drome pode ser chamada de Trissomia do 21 (MOREIRA; EL-HANI, 2000). Frente ao anunciado, vale destacar que referida síndrome se constitui como uma das causas mais frequentes de defi ciência intelectual. Além da defi ciência intelectual, Moreira e El-Hani (2000) anunciam que podem ocorrer na criança com síndrome de Down: cardiopatia congênita (40%); hipotonia (100%); problemas de audição (50 a 70%); de visão (15 a 50%); alterações na coluna cervical (1 a 10%); distúrbios da tireoide (15%); problemas neurológicos (5 a 10%); obesidade e en- velhecimento precoce. 27 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 A criança com síndrome de Down também apresenta características obser- váveis, que são: • Olhos com pálpebras estreitas e levemente oblíquas, com prega de pele no canto interno. • Íris com pequenas manchas brancas. • Cabeça com parte posterior achatada. • Boca pequena, a qual se mantém muitas vezes aberta, com a língua pro- jetando-se para fora. • Mãos curtas e largas, muitas vezes com uma única linha transversal na palma das mãos. • Musculatura de maneira geral fl ácida (hipotonia muscular). • Orelhas geralmente pequenas e de implantação baixa. • Dedos dos pés comumente curtos, havendo espaço entre o dedão e o segundo dedo. • Pés achatados (OMS, 2013). • Síndrome de Rett: a síndrome de Rett (SR) é considerada uma doença de ordem neurológica de caráter progressivo, a qual acomete crianças de ambos os sexos, principalmente crianças do sexo feminino. A síndro- me apresenta-se associada a mutações no gene MECP2 localizado no cromossomo X (QUEIROZ; BARROS, 2014). Os bebês com a síndrome desenvolvem-se normalmente nos primeiros me- ses de vida, no entanto, após o 6º mês, surgem os primeiros sintomas. Com o passar do tempo, as crianças passam a desenvolver problemas relacionados ao movimento, à coordenação e à comunicação (QUEIROZ; BARROS, 2014). Queiroz e Barros (2014) ainda destacam que a síndrome foi evidenciada pelo Dr. Reet, em 1966, que relatou, nessa época, casos de 130 meninas com a sín- drome. Queiroz e Barros (2014) demonstraram em seus estudos que a síndrome acomete cerca de 10.000 a 15.000 meninas, nas quais se tornou mais frequente a defi ciência intelectual. Queiroz e Barros (2014) ainda acrescentam que, além da defi ciência inte- lectual, a síndrome apresenta outros sinais, sendo eles: epilepsia; regressão das habilidades sociais, cognitivas; estereotipias, caracterizadas pela perda de uso funcional das mãos, passando a realizar movimentos de torcer com entrelaça- mento de dedos e mão na boca, tornando-se incapaz de utilizar voluntariamente as mãos. Agora que já compreendemos os fatores Pré-natais que desencadeiam a defi ciência intelectual, vamos conhecer os fatores Perinatais e Pós-natais. 28 Transtornos do Neurodesenvolvimento Fatores de risco e causas Perinatais: são os fatores que acometem o bebê, do início do trabalho de parto até seu 30º dia de vida. Assim, consideram-se os fatores de risco perinatais: • Parto: parto demorado (mais de 18 horas); uso de fórceps; prolapso do cordão umbilical e ruptura tardia ou prévia da placenta, entre outros. • Condições do bebê: bebês prematuros; pós-maturos que apresentam ca- racterísticas de desnutrição (peso ao nascer inferior a 2.500 kg); hiper- bilirrubina nas primeiras 48 horas de vida; convulsões; bebê impregnado de mecônio ao nascer; com anóxia; choro reduzido; refl exos anormais; difi culdades respiratórias, entre outros. No contexto que envolve as causas perinatais, destaca-se a Paralisia Cerebral. Paralisia Cerebral: a paralisia cerebral se apresenta como uma disfunção neurológica que pode ser descrita como um conjunto de desordens posturais e de movimento que acabam levando à limitação funcional da criança, pois esta de- corre de uma disfunção sensório-motora que envolve o tônus muscular, postura, movimentos voluntários, associadas geralmente à hipóxia e/ou anóxia, as quais ocorrem no período de maturação estrutural e funcional do cérebro (DIAS; FREI- TAS; MARTINS, 2010). Hipóxia: “diminuição das taxas de oxigênio no ar, no sangue ar- terial ou nos tecidos, o que pode levar à anóxia” (DIAS; FREITAS; MARTINS 2010). Anóxia “é ausência de oxigênio no ar, no sangue arterial ou nos tecidos” (DIAS; FREITAS; MARTINS 2010), um agravante da hipóxia. Em medicina, rela- ciona-se com a ausência de oxigênio no cérebro, principalmente. Se for prolon- gada, pode resultar em lesão cerebral e levar o paciente a óbito. Este é um dos riscos ao nascimento e a principal causa de defi ciência intelectual nas crianças (DIAS; FREITAS; MARTINS 2010). Segundo Dias, Freitas e Martins (2010), dados apresentam cerca de 30 a 40 mil casos novos de paralisia cerebral por ano. No entanto a etiologia da paralisia cerebral abarca vários fatores, podendo ser desencadeada por causas perinatais e pós-natais. Mediante o exposto, vale destacar que a criança com paralisia cerebral apre- senta um determinado ritmo de evolução do sistema nervoso, porém, junto a esse 29 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 ritmo apresenta também a plasticidade cerebral, a qual se torna a base para a aprendizagem. Com base no entendimento da plasticidade cerebral, Dias, Freitas e Martins (2010) denota que a criança com paralisia cerebral, apesar de apresentar alte- rações motoras e sensoriais, irá aprender e desenvolver-se de acordo com as condições e as possibilidades propiciadas pelo meio. O atraso motor, na maioria das vezes, pode vir acompanhado de alterações de comunicação, cognição, per- cepção, comportamento, funções sensoriais e crises convulsivas. Fatores de risco e causas Pós-natais: são os fatores que acometem do 30º dia de vida até a vida adulta, sendo eles: • Condições de bebê: anormalidades congênitas que não foram identifi ca- das no período pré-natal; peso e altura abaixo do normal; desidratação e subnutrição. • Distúrbios degenerativos; lesão cerebral traumática; má nutrição. • Condições sociais: abandono e maus tratos; redução de interações posi- tivas da mãe com a criança na primeira infância. Agora que compreendemos a defi ciência intelectual, as causas e os fatores de risco, segue sugestão de fi lme: Uma lição de Amor. O fi lme apresenta a história de um pai com defi ciência intelec- tual, os desafi os e as conquistas na educação da sua fi lha. Vale a pena assistir. Atividades de Estudo: 1 Complete o quadro a seguir apontando o que você compreende por causas Pré-natais; Perinatais e Pós-natais. PRÉ-NATAIS PERINATAIS PÓS-NATAIS. 30 Transtornos do Neurodesenvolvimento 3 TRANSTORNO DA COMUNICAÇÃO FIGURA 7 - TRANSTORNO DA COMUNICAÇÃO FONTE: <https://tutores.com.br/blog/alguns-disturbios-da-linguagem-e-da-fala-2/>. Para iniciarmos discussões sobre os Transtornos da Comunicação, desta- camos o DSM-5, o qual defi ne este Transtorno como défi cits na linguagem, na fala e na comunicação (APA, 2014). Fala é a produção expressiva de sons e inclui a articulação, a fl uência, a voz e a qualidade da ressonância de um indivíduo (APA, 2014). Linguagem apresenta a função e o uso de um sistema convencional de sím- bolos ( palavras faladas, linguagem de sinais, palavras escritas, fi guras), com um conjunto de regras para a comunicação (APA, 2014). Comunicação inclui todo comportamento verbal e não verbal (intencional ou não) que infl uencia o comportamento, as ideias ou as atitudes de outro indivíduo (APA, 2014). Neste contexto O DSM-5 ainda destaca que o Transtorno da Comunicação é composto por quatro específi costranstornos, sendo eles: • Transtorno da linguagem; 31 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 • Transtorno da fala; • Transtorno da comunicação social – pragmática; • Transtorno da fl uência com início na infância (gagueira). Segundo o DSM-V, o Transtorno da linguagem, o Transtorno da fala e o Transtorno da comunicação social caracterizam-se por défi cits no desenvolvi- mento e no uso da linguagem, da fala e da comunicação social, respectivamente (APA, 2014). Assim, podemos destacar que são critérios diagnósticos do Transtorno da Linguagem as difi culdades persistentes na aquisição e no uso da linguagem em suas diversas modalidades (falada, escrita, linguagem de sinais etc.) devido a dé- fi cits na compreensão ou na produção, incluindo: • Vocabulário reduzido (conhecimento e uso de palavras). • Estrutura limitada de frases (capacidade de unir palavras e terminações de palavras de modo a formar frases, com base nas regras gramaticais e morfológicas). • Prejuízos no discurso (capacidade de usar vocabulário e unir frases para explicar ou descrever um tópico ou uma série de eventos, ou ter uma conversa) (APA, 2014). O transtorno da linguagem costuma afetar vocabulário e gramática, e es- ses efeitos passam a limitar a capacidade para o discurso. As primeiras palavras e expressões da criança possivelmente surgem com atraso; o tamanho do voca- bulário é menor e menos variado do que o esperado, e as frases são mais curtas e menos complexas, com erros gramaticais, em especial as que descrevem o passado (APA, 2014). Ressalta-se ainda que, essas difi culdades não são atribuíveis a defi ciência auditiva ou outro prejuízo sensorial, a disfunção motora ou a outra condição mé- dica ou neurológica, não sendo mais bem explicadas por defi ciência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por atraso global do desenvolvi- mento (APA, 2014). Sobre o Transtorno da Fala podemos inferir que este abarca uma difi cul- dade persistente para produção da fala que interfere na inteligibilidade da fala ou impede a comunicação verbal de mensagens, causando limitações na comu- nicação as quais interferem na participação social, no sucesso acadêmico ou no desempenho profi ssional. Cabe destacar que as difi culdades que envolvem o Transtorno da Fala, não são atribuíveis a condições congênitas ou adquiridas, como paralisia cerebral, 32 Transtornos do Neurodesenvolvimento fenda palatina, surdez ou perda auditiva, lesão cerebral traumática ou outras con- dições médicas ou neurológicas (APA, 2014). O Transtorno da Fala é diagnosticado quando a produção da fala não ocor- re como esperado, de acordo com a idade e o estágio de desenvolvimento da criança, e quando as defi ciências não são consequências de prejuízo físico, estru- tural, neurológico ou auditivo (APA, 2014). O Transtorno da comunicação Social (pragmática) envolve difi culdades persistentes no uso social da comunicação verbal e não verbal, manifestando em: • Défi cits no uso da comunicação com fi ns sociais, como em saudações e compartilhamento de informações, de forma adequada ao contexto so- cial. • Difi culdades de seguir regras para conversar e contar histórias, tais como aguardar a vez, reconstituir o que foi dito quando não entendido e saber como usar sinais verbais e não verbais para regular a interação. Os défi cits supracitados resultam em limitações funcionais na comunicação, na participação social, nas relações sociais, no sucesso acadêmico ou no desem- penho profi ssional (APA, 2014). O Transtorno da Comunicação Social (pragmática) caracteriza-se por uma di- fi culdade no uso social da linguagem e da comunicação, conforme evidenciado por défi cits em compreender e seguir regras sociais de comunicação verbal e não verbal em contextos naturais, adaptar a linguagem conforme as necessidades do ouvinte ou da situação e seguir as regras para conversar e contar histórias (APA, 2014). O Transtorno da fl uência com início na infância (gagueira) inicia-se na infância, sendo caracterizado por perturbações da fl uência normal e da produção motora da fala, incluindo sons ou sílabas repetidas, prolongamento de sons de consoantes ou vogais, interrupção de palavras, bloqueio ou palavras pronuncia- das com tensão física excessiva, ocasionando: • repetições de som e sílabas; • prolongamentos sonoros das consoantes e das vogais; • repetições de palavras monossilábicas (por exemplo, “eu-eu-eu-eu vejo”). A perturbação da fl uência normal e da produção motora da fala causa ansie- dade em relação à fala ou limitações na comunicação, na participação social ou no desempenho acadêmico ou profi ssional (APA, 2014). 33 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 A característica essencial do transtorno da fl uência com início na infância (gagueira) é a perturbação na fl uência normal e no padrão tem- poral da fala inapropriada à idade do indivíduo. Assim, como os outros transtornos do neurodesenvolvimento, os Transtornos da Comunicação iniciam-se precocemente e podem acarre- tar prejuízos funcionais durante toda a vida (APA, 2014). Atividades de Estudo: 1 Leia o relato de caso que segue e depois responda: RELATO DE CASO Maria tem 10 anos, frequenta o 4º ano do Ensino Fundamental é uma menina alegre e esperta. No entanto, diz que não gosta de falar e ler na frente dos colegas de sala, pois sua fala apresenta sons e sílabas repetidas, prolongamento de sonoros de conso- antes ou vogais, interrupção de palavras e repetição de palavras monossilábicas. Em sua opinião, qual o Transtorno da Comunica- ção Maria apresenta? R.:____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Agora que apreendemos o que signifi ca o Transtorno da Comunicação, va- mos investigar outro transtorno do neurodesenvolvimento, o Transtorno do Es- pectro Autista. Assim, como os outros transtornos do neurodesenvolvi- mento, os Trans- tornos da Comuni- cação iniciam-se precocemente e podem acarretar prejuízos funcionais durante toda a vida (APA, 2014). 34 Transtornos do Neurodesenvolvimento 3.1 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA Entre os Transtornos Mentais que compõem o Transtorno do Espectro Au- tista (TEA), apresenta-se o Transtorno Autista (TA), a Síndrome de Asperger (AS) e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especifi cação (TGDSOE) (APA, 2014). Ao fazermos refl exões sobre o anunciado no DSM-5, emerge um questiona- mento: Por que o Transtorno Autista (TA), a Síndrome de Asperger (AS) e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especifi cação (TGDSOE) agora compõem o Transtorno do Espectro Autista (TEA)? A resposta se encontra no manual. O DSM-5 ressalta que os sintomas des- ses transtornos representam um continuum único de prejuízos com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de comunicação social e de comportamen- tos restritivos e repetitivos em vez de constituir transtornos distintos (APA, 2014). Podemos ressaltar ainda a diferença existente entre a DSM IV e DSM-5. No entanto para entendermos o porquê foi usado no DSM-5 o termo Transtorno do Espectro Autismo (TEA), vou te contar um pouco da história mais recente sobre este termo. Até o início do ano de 2013, os manuais em que os profi ssionais se basea- vam para diagnosticar eram o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) e a Classifi cação Internacional de Doenças (CID-10), como já mencionado anteriormente. Esses manuais de classifi cação utilizam os termos Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) e Transtorno Invasivo do Desen- volvimento (TID), respectivamente. A versão do DSM-IV, apresenta cinco tipos clínicosna categoria TID: “transtorno autista, transtorno de Rett, transtorno desin- tegrativo da infância, transtorno de Asperger e transtorno invasivo do desenvolvi- mento sem outra especifi cação” (BRITO, 2017, p. 11). Atualmente o DSM- 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Men- tais, 2013) descreve tais casos como Transtorno do Espectro Autista e não há mais subcategorias como Transtorno de Asperger, Transtorno Autista, entre ou- tros; todos agora são tratados como Transtorno do Espectro Autista (TEA). Já o Transtorno de Rett e o Transtorno Desintegrativo da Infância não fazem parte des- se espectro (BRITO, 2011). 35 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 Assim apreendemos que a nova versão do DSM-5, reuniu todos os transtor- nos em um só diagnóstico: o TEA. A partir do DSM-5 e da junção dos transtornos em um só diagnóstico, este, passou a constar na nova Classifi cação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, a CID-11, lançada no dia 18 de junho de 2018 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta classifi cação será apresentada no quadro 4. QUADRO 4 - AUTISMO NA CID10 E CID 11 Autismo na CID-10 Autismo na CID-11 F84 – Transtornos globais do desenvolvimento (TGD) F84.0 – Autismo infantil; F84.1 – Autismo atípico; F84.2 Síndrome de Rett; F84.3 – Outro transtorno desintegrativo da infância; F84.4 – Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados; F84.5 – Síndrome de Asperger; F84.8 – Outros transtornos globais do desenvolvimento; F84.9 – Transtornos globais não especifi cados do desenvolvimento. 6A02 – Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) 6A02.0 – Transtorno do Espectro do Autismo sem defi ciência intelectual (DI) e com comprometi- mento leve ou ausente da linguagem funcional; 6A02.1 – Transtorno do Espectro do Autismo com defi ciência intelectual (DI) e com comprometi- mento leve ou ausente da linguagem funcional; 6A02.2 – Transtorno do Espectro do Autismo sem defi ciência intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada; 6A02.3 – Transtorno do Espectro do Autismo com defi ciência intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada; 6A02.4 – Transtorno do Espectro do Autismo sem defi ciência intelectual (DI) e com ausência de linguagem; 6A02.5 – Transtorno do Espectro do Autismo com defi ciência intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional; 6A02.Y – Outro Transtorno do Espectro do Au- tismo especifi cado; 6A02.Z – Transtorno do Espectro do Autismo, não especifi cado. FONTE: <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&i- d=5702:oms-divulga-nova-classifi cacao-internacional-de-doencas-cid-11&Itemid=875>. No entanto cabe evidenciarmos que a CID-11, foi apresentada para adoção dos estados-membros durante a Assembleia Mundial da Saúde, em maio de 2019, entrando em vigor em 1º de janeiro de 2022. Vale ressaltarmos que a versão lan- çada é uma pré-visualização e permitirá aos países planejar seu uso, preparar traduções e treinar profi ssionais de saúde. 36 Transtornos do Neurodesenvolvimento A partir da compreensão de que o Transtorno Autista (TA), a Síndrome de Asperger (AS) e o Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Es- pecifi cação (TGDSOE) fazem parte do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o primeiro passo é começarmos a entender o que é este Transtorno. Vamos mergulhar neste universo e compreender o que é o Transtorno do Espectro Autista? O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma nova categoria do DSM-5, a qual foi introduzida o conceito de “espectro”, para reforçar a dimensão que o envolve. Espectro (spectrum) envolve situações diferentes em níveis de gravidade que vai da mais leve à mais grave. No entanto indepen- dente do grau, estas estão relacionadas com difi culdades de comuni- cação e relacionamento social. FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/2uYLYV7>. Assim, ressaltamos que a introdução do conceito espectro (spectrum), advém da validade e da confi abilidade frente aos novos critérios para diagnóstico. Critérios estes, os quais são potencialmente mais capazes de diferenciar o TEA do desenvol- vimento normal e de outros transtornos psiquiátricos (MACHADO et al., 2015). Esses novos critérios de diagnóstico para o TEA, assim foram reduzidos de três para dois domínios de sintomas principais, sendo eles: • Défi cits de comunicação social e interação social. • Comportamento, interesses e atividades restritos e repetitivos. No que tange os Défi cits de comunicação social e interação social, compre- endemos que estes foram criados a partir da fusão entre dois domínios que com- punham o DSM-IV, sendo eles, o “défi cit social” e o “défi cit de comunicação”. Essa fusão decorreu da compreensão de que estes dois domínios são manifestações de um único conjunto de sintomas, resultando em uma dupla contagem de sinto- mas (MANDY et al., 2012). Sobre os Défi cits de comunicação social e interação social, o DSM-5 em seu texto destaca alguns exemplos, sendo eles: 37 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 • Défi cits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abor- dagem social anormal e difi culdade para estabelecer uma conversa nor- mal a compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a difi - culdade para iniciar ou responder a interações sociais (APA, 2014, p. 94). • Défi cits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou défi cits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunicação não verbal (APA, 2014, p. 94). • Défi cits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, va- riando, por exemplo, de difi culdade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a difi culdade em compartilhar brincadeiras imaginativas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares (APA, 2014, p. 94). Frente aos exemplos expostos que envolvem os Défi cits de comunicação so- cial e interação social, a DSM-5 ainda destaca exemplos que envolvem o compor- tamento, interesses e atividades restritos e repetitivos, sendo eles: • Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). • Insistência nas mesmas coisas, adesão infl exível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal (por exemplo, sofrimento extremo em relação a pequenas mu- danças, difi culdades com transições, padrões rígidos de pen- samento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). • Interesses fi xos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (p. ex., forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). • Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse inco- mum por aspectos sensoriais do ambiente (por exemplo, indiferen- ça aparente a dor/temperatura, reação contrária a sons ou texturas específi cas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascina- ção visual por luzes ou movimento) (APA, 2014, p. 94). A ecolalia na fala da criança ou jovem com TEA é um fenômeno persistente que se caracteriza como um distúrbio de linguagem, de- fi nida como a repetição em eco da fala do outro (OLIVEIRA, 2003). Idiossincrática é o uso estereotipado da linguagem. FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/2Vxkvpg>. 38 Transtornos do Neurodesenvolvimento Alguns dos critérios de diagnóstico para o TEA, evidenciados na DSM-5, po- dem ser visualizados na fi gura a seguir: FIGURA 8 - CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO PARA O TEA, EVIDENCIADOS NA DSM-5 FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/2WVdBL2>.Diante do evidenciado pela DSM-5, entendemos que as pessoas com TEA apresentam alterações importantes nas áreas da comunicação e interação sociais 39 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 além de outros aspectos, como alterações sensoriais (ex.: hipo ou hipersensibili- dade auditiva, tátil, visual), comorbidades (ex.: defi ciência intelectual, síndrome do x-frágil) e peculiaridades que interferem diretamente sobre o modo como apren- dem (MACHADO et al., 2015). Podemos destacar ainda que a pessoa com TEA apresenta alterações impor- tantes na Interação social, como: • isolamento social ou comportamento social inadequado; • contato visual pobre; • ausência de reposta ao chamado (suspeita de surdez); • difi culdade em participar de atividades em grupo; • indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto; • falta de empatia social ou emocional. As alterações na Comunicação afetam a habilidade verbal e não verbal de compartilhar informações com os outros. Aqueles que adquirem habilidade verbal têm, frequentemente, difi culdade em compreender sutilezas da linguagem bem como tem problemas para interpretar linguagem corporal e expressões faciais. Os padrões repetitivos de interesses e atividades envolvem: • rituais na atividade da vida diária (jeito de vestir, seletividade de alimen- tos a ingerir, hora de dormir, apego excessivo a objetos); • resistência a mudança de rotina ou ambiente: recusa a ambientes novos; • comportamento restrito, limitado a um objeto, ou a uma atividade (fi car somente com aquele objeto). Frente ao contexto apresentado, cabe evidenciarmos que segundo o DSM-5 a gravidade do TEA, baseia-se em prejuízos na comunicação social e em padrões restritos ou repetitivos de comportamento dividindo-se em três níveis conforme consta no quadro 5. QUADRO 5 - NÍVEIS DE GRAVIDADE PARA TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) NÍVEL DE GRAVIDADE COMUNICAÇÃO SOCIAL COMPORTAMENTOS RES-TRITOS E REPETITIVOS Nível 3 “Exigindo apoio muito substancial” Défi cits graves nas habilidades de comunicação social, verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento, grande limita- ção em dar início a interações so- ciais e resposta mínima a abertu- ras sociais que partem de outros. Infl exibilidade de comportamento, extrema difi culdade em lidar com a mudança ou outros comportamen- tos restritos/repetitivos interferem acentuadamente no funcionamen- to em todas as esferas. Grande sofrimento/difi culdade para mudar o foco ou as ações. 40 Transtornos do Neurodesenvolvimento Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de poucas pa- lavras que raramente inicia as interações e, quando o faz, tem abordagens incomuns apenas para satisfazer a necessidades e reage somente a abordagens sociais muito diretas. Nível 2 “Exigindo apoio substancial” Défi cits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal; prejuízos sociais aparen- tes mesmo na presença de apoio; limitação em dar início a intera- ções sociais e resposta reduzida ou anormal a aberturas sociais que partem de outros. Por exem- plo, uma pessoa que fala frases simples, cuja interação se limita a interesses especiais reduzidos e que apresenta comunicação não verbal acentuadamente estranha Infl exibilidade do comportamen- to, difi culdade de lidar com a mu- dança ou outros comportamentos restritos/repetitivos aparecem com frequência sufi ciente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcionamento em uma variedade de contextos. Sofri- mento e/ou difi culdade de mudar o foco ou as ações. Nível 1 “Exigindo apoio” Na ausência de apoio, défi cits na comunicação social causam pre- juízos notáveis. Difi culdade para iniciar interações sociais e exem- plos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas so- ciais dos outros. Pode parecer apresentar interesse reduzido por interações sociais. Por exem- plo, uma pessoa que consegue falar frases completas e envol- ver-se na comunicação, embora apresente falhas na conversação com os outros e cujas tentativas de fazer amizades são estranhas e comumente malsucedidas. Infl exibilidade de comportamento causa interferência signifi cativa no funcionamento em um ou mais contextos. Difi culdade em trocar de atividade. Problemas para organização e pla- nejamento são obstáculos à inde- pendência. FONTE: DSM-5 (2014) A partir dos níveis apresentados no quadro 5, ressaltamos que o nível de gravidade dos sujeitos representa apenas a forma pela qual ele se apresenta em determinado momento, pois este sujeito pode ter avanços signifi cativos por meio 41 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 de terapia adequada. Assim, o diagnóstico não pretende rotular de forma negativa ou sentenciar a pessoa, ao contrário disso, ele auxilia na comunicação entre os profi ssionais, na busca por direitos, ajuda a nortear as intervenções e a orientar os familiares (BRITO, 2017). Segundo Brito (2017), evidências científi cas mostram que entender algumas características comuns às pessoas com Transtorno do Espectro Autista, pode au- xiliar muito a agir em diferentes situações (na escola, em casa, na terapia). No entanto, torna-se pertinente lembrarmos que cada pessoa é única e precisa ter suas particularidades (idade, escolaridade, aspectos sociais, linguísticos, cogni- tivos, motores, familiares e sócio-culturais, grau de autismo, síndromes ou transtor- nos associados etc.), aspectos estes que necessitam ser levados em consideração. Assim, compreendemos que a partir da identifi cação de sinais, do diagnós- tico estabelecido, pode-se iniciar o processo de intervenção propriamente dito. Para isso, torna-se imprescindível que cada profi ssional terapeuta ou professor, realizem conjuntamente com a família investigações cuidadosas sobre a criança ou adulto com TEA em seus diferentes contextos de vida (em casa, na escola e outros). Esta parceria entre os que já convivem com a pessoa com TEA e os pro- fi ssionais é indispensável para compreender as necessidades de todos, especial- mente da criança ou adulto com TEA (BRITO, 2017). Atividades de Estudo: 1 Leia o relato de caso e depois responda: RELATO DE CASO João tem 8 anos e apresenta laudo com diagnóstico de Trans- torno do Espectro Autista (TEA). Mediante este laudo podemos inferir que segundo o DSM-5, João apresenta dois domínios de sintomas principais, sendo eles: O Défi cits de comunicação social e interação social e o Comportamento, interesses e atividades restritos e repetiti- vos (APA, 2014). Descreva o que envolve o Comportamento, interes- ses e atividades restritos e repetitivos. R.:____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ____________________________________________________ 42 Transtornos do Neurodesenvolvimento Agora que apreendemos o que signifi ca o Transtorno do Espectro Autista, vamos investigar outro transtorno do neurodesenvolvimento, o Transtorno de Dé- fi cit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). 3.2 TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento defi nido por níveis pre- judiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade (APA, 2014). FIGURA 9 - TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE FONTE: Disponível em: <http://bit.ly/2GXJL2x>. Desatenção e desorganização envolvem incapacidade de permanecer em uma tarefa, aparência de não ouvir e perda de materiais em níveis inconsistentes com a idade ou o nível de desenvolvimento (APA, 2014). Hiperatividade-impulsividade implicam atividade excessiva, inquietação, incapacidade de permanecer sentado, intromissão em atividades de outros e in- capacidade de aguardar, ou seja, sintomas que são excessivos para a idade ou o nível de desenvolvimento (APA, 2014). Assim,a desatenção manifesta-se comportamentalmente no TDAH como falta de persistência, difi culdade de manter o foco e desorganização, não consti- tuindo ausência de compreensão (APA, 2014). 43 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 A hiperatividade refere-se à atividade motora excessiva (como uma criança que corre por tudo) quando não apropriado, batucar ou conversar em excesso (APA, 2014). A impulsividade refere-se a ações precipitadas que ocorrem no momento sem premeditação e com elevado potencial para dano à pessoa (ex: atravessar uma rua sem olhar). No entanto, a impulsividade algumas vezes pode ser refl exo de um desejo de recompensas imediatas ou de incapacidade de postergar a gra- tifi cação (APA, 2014). Mediante o apresentado no DSM-5 podemos inferir que a característica es- sencial do Transtorno de Défi cit de Atenção/Hiperatividade é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento. Os sintomas devem persistir por pelo menos seis meses e apresentar impacto negativo diretamente nas atividades sociais, acadêmicas e pro- fi ssionais. Dentre estes sintomas que envolvem a desatenção podemos destacar: • Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (APA, 2014). • Frequentemente tem difi culdade de manter a atenção em tarefas ou ativi- dades lúdicas (por exemplo, difi culdade de manter o foco durante aulas, conversas ou leituras prolongadas) (APA, 2014). • Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente (por exemplo, parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia) (APA, 2014). • Frequentemente não segue instruções até o fi m e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho (por exem- plo, começa as tarefas, mas rapidamente perde o foco e facilmente per- de o rumo) (APA, 2014). • Frequentemente tem difi culdade para organizar tarefas e atividades (por exemplo, difi culdade em gerenciar tarefas sequenciais; difi culdade em manter materiais e objetos pessoais em ordem; trabalho desorganizado e desleixado; mau gerenciamento do tempo; difi culdade em cumprir pra- zos) (APA, 2014). • Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (por exemplo, trabalhos escola- res ou lições de casa; para adolescentes mais velhos e adultos, preparo de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de trabalhos longos) (APA, 2014). • Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por exemplo, materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos, celular) (APA, 2014). 44 Transtornos do Neurodesenvolvimento • Com frequência é facilmente distraído por estímulos externos (APA, 2014). • Com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas (exemplo, realizar tarefas, obrigações; para adolescentes mais velhos e adultos, re- tornar ligações, pagar contas, manter horários agendados) (APA, 2014). Dentre os sintomas que envolvem a hiperatividade e impulsividade pode- mos destacar: • Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira. • Frequentemente se levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (por exemplo, sai do seu lugar em sala de aula, no escritório ou em outro local de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar). • Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado. (Nota: em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sen- sações de inquietude) (APA, 2014). • Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente (APA, 2014). • Com frequência “não para”, agindo como se estivesse “com o motor liga- do” (exemplo, não consegue ou se sente desconfortável em fi car parado por muito tempo, como em restaurantes, reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar) (APA, 2014). • Frequentemente fala demais (APA, 2014). • Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta te- nha sido concluída (exemplo, termina frases dos outros, não consegue aguardar a vez de falar) (APA, 2014). • Frequentemente tem difi culdade para esperar a sua vez (exemplo, aguardar em uma fi la) (APA, 2014). • Frequentemente interrompe ou se intromete (exemplo, mete-se nas con- versas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode intrometer-se em ou assumir o controle sobre o que outros estão fazendo) (APA, 2014). No entanto, vale destacar que os sintomas supracitados devem estar pre- sentes em mais de um ambiente (por exemplo, em casa e na escola, no trabalho), sendo que estes se iniciam na infância e costumam persistir na vida adulta, resul- tando em prejuízos no funcionamento social, acadêmico e profi ssional. 45 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO: O QUE DIZ O DSM-5? Capítulo 1 Agora que apreendemos o que é o TDAH e os sintomas envol- vem a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade, segue suges- tão de livro: Livro: TDAH na Infância Sobre o livro: Este livro oferece informações para todos os envolvidos na educação de crianças diagnosticadas com o TDAH (Transtorno do Défi cit de Atenção/Hiperatividade). Baseia-se nas últi- mas descobertas sobre esse transtorno, reunindo estratégias educa- tivas e detalhadas. Obra útil para pais e professores educarem, com sucesso, a criança com TDAH. Atividades de Estudo: 1 complete o quadro a seguir apontando alguns sintomas que en- volvem a desatenção e a hiperatividade/impulsividade. Desatenção Hiperatividade/impulsividade Agora que apreendemos o que signifi ca o Transtorno de Défi cit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH), vamos investigar outro transtorno do neurodesenvolvi- mento, o Transtorno Específi co de Aprendizagem. 46 Transtornos do Neurodesenvolvimento 3.3 TRANSTORNO ESPECÍFICO DA APRENDIZAGEM A descrição para os Transtornos Específi cos de Aprendizagem é encontra- da em manuais internacionais de diagnóstico, tanto no CID-10, elaborado pela Or- ganização Mundial de Saúde (1992), como no DSM-V, organizado pela Associação Psiquiátrica Americana (APA, 2014). Ambos os manuais reconhecem a falta de exa- tidão do termo "transtorno", justifi cando seu emprego para evitar problemas ainda maiores, inerentes ao uso das expressões "doença" ou "enfermidade" (APA, 2014). Os transtornos Específi cos de aprendizagem, segundo o Manual de Diag- nóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5) fazem parte dos Transtor- nos do Neurodesenvolvimento. Segundo o DSM-5, o Transtorno Específi co da Aprendizagem é um trans- torno do neurodesenvolvimento com origem biológica que é a base das anormali- dades no nível cognitivo as quais são associadas com as manifestações comporta- mentais. A origem biológica inclui uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que infl uenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações verbais ou não verbais com efi ciência e exatidão (APA, 2014). Epigenética consiste nas modifi cações das funções genéti- cas que são herdadas, mas que por sua vez não alteram a sequ- ência do DNA do indivíduo (APA, 2014) Esse transtorno manifesta-se, inicialmente, durante os anos de escolaridade formal, caracterizando-se por difi culdades persistentes e prejudiciais nas habilidades básicas acadêmicas de leitura, escrita e/ou matemática (APA, 2014). Crianças com um transtorno específi co da aprendizagem podem parecer desatentas devido a frustração, falta de interesse ou capacida- de limitada (APA, 2014). Crianças com um transtorno específi co da aprendizagem podem parecer desatentas devido a frustração, falta de interesse
Compartilhar