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1 DEFICIENCIA VISUAL E AÇÃO EDUCATIVA, DEFICIENCIA AUDITIVA NA ESCOLA 2 Sumário A EDUCAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL: MARCOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DA FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOCENTE ................................. 4 DOS MARCOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS À ATUAL CONFIGURAÇÃO PARA A FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOCENTE .............................................................. 7 EDUCAÇÃO ESCOLAR INCLUSIVA PARA PESSOAS COM SURDEZ ......... 23 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA OS ALUNOS COM SURDEZ: UMA PROPOSTA INCLUSIVA ........................................................ 30 REFERENCIAS ................................................................................................ 40 Faculdade de Minas 3 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 A EDUCAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL: MARCOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DA FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOCENTE O presente estudo propõe analisar o Plano Nacional de Educação, Lei nº 13.005 (BRASIL. Presidência da República, 2014), Meta 4, e em específico as estratégias que tratam da formação e atuação docente em articulação com a atual Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. E a principal protagonista deste estudo, a pessoa com deficiência visual é destacada com a caracterização da educação especial como parte do seu mundo vivido. Fatos históricos e políticos demonstram o percurso da Educação Especial até chegar a atual configuração política com o Atendimento Educacional Especializado (AEE) à pessoa com deficiência matriculada e frequentadora das escolas públicas. Para tanto, contamos com as contribuições de autores como: Marcos José Mazzota (2001) e Elcie Masini (1994, 1997, 2007 e 2013), que abordam respectivamente: os principais fatos e momentos histórico-políticos do atendimento educacional à pessoa com deficiência nos contextos mundial e brasileiro; orientações para educadores nas relações de educabilidade com pessoas deficientes visuais. É a partir destas referências, juntamente com os textos oficiais e legais, e outros autores, que se intenciona explicitar e discutir as ideologias presentes nas políticas púbicas e nas ações governamentais no âmbito da formação e atuação docente para a educação do aluno deficiente visual no contexto da diversidade humana. A natureza mesma da educação especial, enquanto fenômeno e atividade humana, nos remete a um processo complexo que vai da segregação institucional ao movimento pela inclusão. E Mazzotta, ao discutir a complexidade da educação escolar, defende uma Abordagem dinâmica (unidade entre comum e especial) como aquela que, baseada no princípio da não segregação, possibilita a melhor compreensão da relação entre o educando e a educação escolar e comporta a organização de Faculdade de Minas 5 situações de ensino-aprendizagem mais condizentes com as necessidades educacionais a atender. (MAZZOTA, 2001, p. 01) A unidade é fundamental para que as escolas comuns de qualidade especial celebrem a diversidade, se preocupem com a humanidade, e coloquem como centro de suas preocupações o ser humano, levando em consideração a sua condição de sujeito complexo. Portanto, faz-se necessário “ensinar a condição humana” e saber conviver com ela. Na história da educação, a lógica excludente impedia o vislumbre de uma aceitação/inclusão das pessoas com deficiência, como afirma Mazzotta (2001a), O atendimento educacional dos portadores de deficiência, (...) até o século XVIII, as noções a respeito da deficiência eram basicamente ligadas a misticismo e ocultismo, não havendo base científica para o desenvolvimento de noções realísticas. O conceito de diferenças individuais não era compreendido ou avaliado (...) a falta de conhecimento sobre as deficiências em muito contribuiu para que as pessoas portadoras de deficiência, por ‘serem diferentes’ fossem marginalizadas, ignoradas. (MAZZOTTA, 2001a, p. 16) Do exposto, o que nos chama a atenção é o risco das significações sociais que sedimentam sob o humano, impedimentos para o seu desenvolvimento, cuja tônica está na subtração das funções perdidas em decorrência da deficiência. Mas uma nova maneira de compreender a pessoa com deficiência visual foi posicionada por Lev Vigotski (1997), ao afirmar de um lado a eficiência do potencial humano em contraposição à ênfase na deficiência, privilegiando as características da pessoa, ao dizer que, A cegueira, ao criar uma formação peculiar de personalidade, reanima novas fontes, muda as direções normais do funcionamento e, de uma forma criativa e orgânica, refaz e forma o psiquismo da pessoa. Portanto, a cegueira não é somente um defeito, uma debilidade, senão também em certo sentido uma fonte de Faculdade de Minas 6 manifestação das capacidades, uma força. (Por estanho que seja, semelhante a um paradoxo). (VIGOTSKI, 1997, p. 99) A educação é chamada a tomar uma posição de ruptura do enfoque tradicional, que focaliza o defeito, a falha, o estigma, a deficiência, e direcionar sua atenção para novas fontes que configuram outra ordem – a do desenvolvimento cultural – a compensação da deficiência. No caso da criança deficiente, o defeito exerce uma dupla valência no desenvolvimento humano: Por um lado, ele é uma deficiência, e atua diretamente como tal, produzindo falhas, obstáculos, dificuldades na adaptação da criança. Por outro lado, exatamente porque o defeito produz obstáculos e dificuldades no desenvolvimento e rompe o equilíbrio normal, ele serve de estímulo ao desenvolvimento de caminhos alternativos de adaptação, indiretos, os quais substituem ou superpõem funções que buscam compensar a deficiência, e conduzir todo o sistema de equilíbrio rompido a uma nova ordem. (VIGOTSKI, 2011, p. 869) Assim, ao trazer para o âmbito da pesquisa as características da criança cega e não sua deficiência contamos com as contribuições de Vigotski, que na década de 1920 em Moscou, estudou os fundamentos da deficiência no Laboratório de Psicologia para Crianças Deficientes, com um olhar direcionado para o potencial humano de desenvolver e ampliar-se pela compensação da deficiência. Os sentidos são importantes na exploração sensorial, mas não podemos nos reduzir ao pensamento comum que considera a percepção tátil ou a reminiscência de outros sentidos, a forma de compensação do deficiente visual, como processo meramente orgânico, ancorado no treinamento sensorial, cognitivo, comportamental. É a linguagem, como utilização da experiência social, o instrumento de compensação da cegueira. Deste modo, A aprendizagem humana se dá com base na convivência social, na apropriação das atividades historicamente engendradas pelos homens, pela internalização dos significados sociais.Assim, o homem conhece o mundo pela Faculdade de Minas 7 atividade simbolizadora nas relações sociais. Toda atividade humana é constituída de significados que são mediados, de um homem para o outro, pela linguagem, que é o sistema simbólico básico de comunicação de todos os grupos humanos. Entre as várias linguagens que representam o real, a palavra é ímpar. (CAIADO, 2003, p. 39) Uma compensação orientada para os aspectos históricos, culturais e sociais da vida concreta humana, que ocorre por meio da linguagem, da medicação social (processos compensatórios guiados pelas leis sociais que apontam para a superação das dificuldades). A linguagem, os signos, o outro, são funções mentais superiores que permitem ao sujeito deficiente o acesso ao desenvolvimento, a compensação das dificuldades e, possibilita a inserção dele nas práticas socioculturais, transformando- as. Vigotski (1997) entende a deficiência como uma construção social, sendo o sujeito considerado na sua singularidade. Acredita que não se deve negar a deficiência, mas sim buscar caminhos para enfrentá-la, com a utilização, por exemplo, do sistema Braille e das tecnologias assistivas. A aceitação das diferenças individuais, a valorização de cada pessoa, a convivência dentro da diversidade humana e a aprendizagem por meio da cooperação são princípios defendidos pela nova ordem da Educação Especial sob o enfoque da Educação Inclusiva. Saber conviver com a diversidade humana representa aceitar as diferenças, em qualquer lugar e a escola, na nossa sociedade, é um dos espaços mais importantes para o acesso ao conhecimento e aos bens culturais. DOS MARCOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS À ATUAL CONFIGURAÇÃO PARA A FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DOCENTE No contexto brasileiro, os primeiros trabalhos para a educação do cego e de pessoas com baixa visão começaram de forma mais sistematizada em meados do século XIX, ano de 1854 quando foi criado no Rio de Janeiro o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamin Constant. Este instituto público federal Faculdade de Minas 8 atendia e ainda atende crianças, adolescentes e adultos, nas modalidades da educação básica, reabilitação1 e capacitação profissional. Como iniciativa oficial do governo concretizada por D. Pedro II, através do Decreto Imperial nº 1428, fundou-se o primeiro educandário para alunos cegos na América Latina, que constitui o marco inicial da Educação Especial no Brasil. A fundação do Imperial Instituto deveu-se, em grande parte, a um cego brasileiro, José Álvares de Azevedo, que estudara no Instituto dos Jovens Cegos de Paris, fundado por Valentin Haüy no século XVIII. Por ter obtido muito sucesso na educação de Adélia Sigaud, filha do Dr. José F. Xavier Sigaud, médico da família imperial, José Álvares de Azevedo despertou a atenção e o interesse do Ministro do Império, Conselheiro Couto Ferraz. Sob a influência de Couto Ferraz, D. Pedro II criou tal Instituto, que foi inaugurado no dia 17 de setembro de 1854, cinco dias após sua criação. Para dirigi-lo, foi nomeado o Dr. Xavier Sigaud (...) Em 24 de janeiro de 1891, pelo Decreto nº 1320, a escola passou a denominar- se Instituto Benjamin Constant (IBC), em homenagem a seu ilustre e atuante ex- professor de Matemática e ex-diretor, Benjamin Constant Botelho de Magalhães. (MAZZOTTA, 2001a, p. 28) Outra fase importante no processo educacional das pessoas com deficiência visual foi a oficialização, em 1946, do Curso Ginasial do IBC através da Portaria nº 385, de 8 de junho, que possibilitou o acesso dos alunos à educação, equiparada ao ginásio de ensino comum. Também no mesmo ano, na cidade de São Paulo, Dorina de Gouvêa2 junto com um grupo de amigas, deu início às atividades da Fundação para o Livro do Cego no Brasil, “tendo como finalidade a integração do deficiente visual na comunidade como pessoa auto-suficiente e produtiva” (MAZZOTTA, 2001a, p. 35) com objetivo inicial de produzir e distribuir livros em Braille, e depois passou a atuar nas áreas de educação e reabilitação de pessoas com deficiência visual. Na década de 1950 foi realizada, ainda que em caráter experimental, no Instituto Caetano de Campos, “a primeira sala de recursos para deficientes visuais Faculdade de Minas 9 estudarem em classes comuns” (MASINI, 2013, p. 50), que recebeu suporte da Fundação para o Livro do Cego no Brasil e, foi a “primeira instituição a capacitar professores especializados para a atuação em escolas públicas” (Idem). Em 1958, sob o Decreto nº 44.236, de 1º de agosto, criou-se a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão inspirada na campanha iniciada pelo Instituto Benjamin Constant, posteriormente chamada de Campanha Nacional de Educação de Cegos – CNEC, vinculada diretamente ao Gabinete do Ministro da Educação. Com a criação da CNEC e as atividades então desenvolvidas, como: treinamento e especialização de professores e técnicos no campo da educação e reabilitação de deficientes visuais, incentivo, produção e manutenção de facilidades educacionais, incluindo equipamentos, livros, auxílios ópticos e material para leitura e escrita, além da assistência técnica e financeira aos serviços de educação especial e reabilitação, o Ministério da Educação e Cultura procurou através dessa Campanha oferecer maiores oportunidades de atendimento educacional aos deficientes da visão. (LEMOS apud MAZZOTTA, 2001a, p. 51) Os desdobramentos da campanha contribuíram para a criação de cursos de formação docente, como foram os desenvolvidos no estado de São Paulo nas universidades e faculdades, buscando expandir o ideal do ensino integrado, tendo como norte o princípio da normalização, cujas práticas de integração visavam “oferecer às pessoas com deficiências condições de vida diária semelhantes aos que não tinham deficiência” (MASINI, 2013, p. 51). A integração fundamentava-se no modelo médico de deficiência, “cujo objetivo era a adaptação da pessoa com deficiência às exigências ou necessidades da sociedade como um todo” (Idem). Verifica-se que a formação de professores para a Educação Especial tomou proporções de nível nacional a partir da criação, em 1973, do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), órgão vinculado ao Ministério da Educação que instaurou o Plano Nacional de Educação Especial, tendo como uma das frentes prioritárias a capacitação de recursos humanos para atuar junto aos alunos com Faculdade de Minas 10 deficiência. O mesmo Centro também implementou o projeto Reformulação de Currículos para Educação Especial, que de acordo com Soares e Carvalho (2012, p. 28), era “destinado à orientação do trabalho pedagógico específico para as deficiências intelectual, visual, auditiva e para os superdotados.” Segundo Mazzotta (2001a), logo após a criação do CENESP, extinguiu-se a Campanha Nacional de Educação de Cegos bem como a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais, e sua finalidade consta em Regimento próprio, que dispõe no Artigo 2º: O CENESP tem por finalidade planejar, coordenar e promover o desenvolvimento da Educação Especial no período pré-escolar, nos ensinos de 1º e 2º graus, superior e supletivo para os deficientes da visão, da audição, mentais, físicos, portadores de deficiências múltiplas, educandos com problemas de conduta e os superdotados, visando à sua participação progressiva na comunidade, obedecendo aos princípios doutrinários, políticos e científicos que orientam a Educação Especial. (MAZZOTA, 2001a p. 56) Na Proposta Curricular para Deficientes Visuais do CENESP/MEC, de 1976, elaborada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), como fruto de um trabalho em equipe de professores especialistas, enfatizou-se “... a necessidade de capacidade prévia do deficiente visual para as atividades escolares comuns” (MASINI, 1994, p. 56),o que coloca a tônica na ausência da visão e não naquilo que poderia ser potencializado na maneira própria de perceber do aluno. E isso é reiterado por Masini, que ao analisar a proposta, conclui que O deficiente visual não é considerado na sua totalidade, como um indivíduo com características próprias, das quais uma delas é a deficiência visual. A programação, ao contrário disso, focaliza-o como indivíduo deficiente e não leva em conta sua maneira própria de perceber. (MASINI, 1994, p. 56) Dentre as instituições de ensino superior que começaram a oferecer cursos de habilitação docente na área da Educação Especial, destacam-se na década de 70: Faculdade de Minas 11 Faculdade de Educação da Unesp, em Marília, Faculdade do Carmo, em Santos; e na década de 80: Universidade de São Paulo e Faculdade de Educação do Paraná. Sob a égide do paradigma integracionista caminha-se da segregação para a integração, que teve início com a criação das primeiras escolas especiais que apesar de segregacionistas, prestaram relevantes serviços em seu contexto histórico. Com o tempo novas configurações sociais sugiram e no seu bojo, “as demandas por uma educação integrada do aluno com deficiência visual” (MASINI, 2013, p. 50), que se consolidou na década de 1980. Novas conquistas surgiram no panorama mundial com o movimento internacional de pessoas com deficiência em 1979, que influenciaram na criação das recomendações de organismos internacionais sobre a Educação Especial (CARVALHO, 2002), como as instituídas pela Organização das Nações Unidas (ONU) que declarou em 1981 como o Ano e a Década da Pessoa Portadora de Deficiência. Trata-se de um marco que evidencia o protagonismo das pessoas com deficiência, requerendo proximidade e controle das ações que lhe diziam respeito. Neste sentindo, Os movimentos sociais das pessoas com deficiência, na intenção de estimular o processo participativo e garantir a interlocução com o Estado, optaram por formalizar entidades jurídicas, “profissionalizando” serviços e lutas. Desta forma, constituindo uma identidade social e política, explicitaram as demandas e estratégias − ora de enfrentamento, ora de negociação − na construção do processo democrático e na busca do respeito às diferenças e da igualdade de oportunidades. A grande conquista do período foi, certamente, a potencialização social e política dessas pessoas, como retrata militante de movimentos sociais de cegos, com histórico de titular no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência: “O Governo só faz se a sociedade civil empurrar, cobrar, propor, fiscalizar. Os movimentos sociais são molas propulsoras das políticas públicas”. (CARVALHO FILHO e FERREIRA, 2013, p. 106) Faculdade de Minas 12 Na esteira do movimento pela inclusão, Carvalho (2002) afirma que na década de 1990, surgem a Declaração Mundial de Educação para Todos de Joimtien (1990) e a Declaração de Salamanca (1994). Esta última assevera que o princípio da inclusão consiste no “reconhecimento da necessidade de si caminhar rumo à ‘escola para todos’ – um lugar que inclua todos os alunos, celebre a diferença, apoie a aprendizagem e responda às necessidades individuais” (SASSAKI, 2003, p. 119- 120). O desafio para uma escola inclusiva é o de desenvolver uma pedagogia centrada no aluno, uma pedagogia capaz de educar com sucesso todos os alunos, incluindo aqueles com deficiências (MACHADO, 2005, p. 131). O autor afirma ainda, que “o princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, não importam quais dificuldades ou diferenças elas podem ter” (MACHADO, 2005, p. 133). Os laços de pertencimento social e o enfrentamento de adversidades se construíram através de fazeres propositivos e coletivos, ganhando nova dimensão e possibilidade de eficácia quando se articularam em redes locais e/ou universais (CARVALHO FILHO e FERREIRA, 2013, p. 113). E no âmbito nacional, historicamente, a luta dos cegos para uma educação de qualidade com a criação de institutos, fundações e escolas, assim como a preocupação com a formação docente revela a atuação política de pessoas com deficiências e outros agentes sociais na defesa do princípio da inclusão escolar, evidenciando assim, o protagonismo desse público da Educação Especial. O Movimento Diretas Já, em 1983, a nova ordem instaurada com o processo de redemocratização e a proclamação da Constituição Brasileira de 1988, trazem um novo olhar para a Educação Especial, que a partir da década de 1990 intensifica-se com o crescente movimento pela inclusão. E isso traz desdobramentos importantes para a educação brasileira, com algumas medidas oficiais tomadas por órgãos governamentais, no intuito de oferecer suporte para professores, como por exemplo, as políticas de formação de professores após a abertura política, especificamente a Faculdade de Minas 13 partir da década de 1990 com a promulgação da Política Nacional de Educação Especial (1994). Em 1996, um importante passo foi dado na contemplação das pessoas com deficiência, com políticas sociais e educacionais, como foi com a promulgação da Lei nº 9.394 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que pela primeira vez dedica um capítulo inteiro ao tema da Educação Especial, que tem no Título V – Dos níveis e modalidades de educação e ensino, do Capítulo V – Da educação especial, Art. 58, a seguinte definição: “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais” (BRASIL. Presidência da República, 1996). Em 2013, o Art. 58, foi alterado pela Lei nº 12.796, com a seguinte redação: “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação” (BRASIL. Presidência da República, 2013a). É inegável que o tema ganhou destaque, se comparado com a apresentação nas duas leis anteriores. Na Lei 4.024/61, título X: “Da Educação de excepcionais”, os art. 88 e 89 indicam que “a educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de educação”. Na Lei 5.692/71, o art. 9º do capítulo I, que trata das disposições comuns ao ensino de 1º e 2º grau, afirma que os alunos que apresentam “deficiências físicas e mentais” deverão receber tratamento especial no ensino de 1º e 2º grau, conforme as normas fixadas pelos Conselhos de Educação. (CAIADO, 2003, p. 22) Da preocupação para a formação e atuação docente junto às pessoas com deficiência, foi lançada a Série Atualidades Pedagógicas (BRUNO, MOTA, 2001), que nos três fascículos dedicados a deficiência visual, traz primeiramente a caracterização da deficiência visual, seguida do processo de educação precoce da educação infantil ao ensino pré-escolar. No segundo fascículo, aborda a escolarização do aluno com Faculdade de Minas 14 deficiência visual, com destaque para a alfabetização, o Sistema Braille, os recursos didáticos e adaptações curriculares. No último fascículo, apresenta as complementações curriculares específicas (Sorobã, Atividades da Vida Diária, Orientação e Mobilidade, Escrita Cursiva), o processo de socialização e a profissionalização da pessoa com deficiência visual, e reabilitação. Em 2001, é aprovado o Plano Nacional de Educação, Lei nº 10.172 (BRASIL. Presidência da República, 2001), que no âmbito da Educação destaca a importância do papel da sociedade civil em assumir as diretrizes, objetivos e metas da Educação Especial como responsabilidade de garantir o direito à educação, pelo acesso, permanência e indicadores de qualidade do ensino a essealunado. Preocupação revisitada após a vigência do PNE, com tramitação na Câmara e Senado Federal do Projeto de Lei por mais de três anos, sendo sancionado pela presidente da República como Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Dentre suas metas e estratégias, a Meta 4, merece atenção, pois trata da área da Educação Especial, e destaca a necessidade de: Universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou conveniados. Estratégia 4.13: apoiar a ampliação das equipes de profissionais da educação para atender à demanda do processo de escolarização dos (das) estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, garantindo a oferta de professores (as) do atendimento educacional especializado, profissionais de apoio ou auxiliares, tradutores (as) e intérpretes de Libras, guias-intérpretes para surdos-cegos, professores de Libras, prioritariamente surdos, e professores bilíngues; Estratégia 4.16: incentivar a inclusão nos cursos de licenciatura e nos demais cursos de formação para profissionais da educação, Faculdade de Minas 15 inclusive em nível de pós-graduação, observado o disposto no caput do art. 207 da Constituição Federal, dos referenciais teóricos, das teorias de aprendizagem e dos processos de ensino-aprendizagem relacionados ao atendimento educacional de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação; Estratégia 4.18: promover parcerias com instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o poder público, visando a ampliar a oferta de formação continuada e a produção de material didático acessível, assim como os serviços de acessibilidade necessários ao pleno acesso, participação e aprendizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação matriculados na rede pública de ensino. (BRASIL. Presidência da República, 2014) Nas estratégias destacadas aparece uma preocupação recorrente sobre a formação e atuação docente, que levantam o seguinte questionamento: o que transformar quanto à deficiência visual? A questão levantada desdobra-se para o espaço escolar, ao inquerir se as escolas estão abertas às diferenças – ao ensino inclusivo. E para que as escolas mudem – que ações implementar? Qual postura docente assumir frente à pessoa com deficiência visual na classe regular? Com o intuito de ampliar as equipes de profissionais, incluir referenciais teóricos específicos nos cursos de formação de professor e estabelecer parcerias para a ampliação da oferta de formação continuada, algumas medidas precedentes que convergiram para a Lei nº 13.005 revelam uma preocupação já manifesta com a implementação de políticas públicas direcionadas à inclusão escolar. Em 2007 o lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, pactuado pela Agenda Social, tem dentre seus eixos, a formação docente para a Educação Especial, e a implementação das salas de recursos multifuncionais, que no ano seguinte seriam instaladas em todos os entes federados (Estados, Distrito Federal e Municípios) (BRASIL. Ministério da Educação, 2007). Faculdade de Minas 16 Em 2008, a Secretaria de Educação Especial (SEESP/MEC), lança o documento “Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, com a seguinte orientação, dentre outras: A educação especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas. (BRASIL. Ministério da Educação, 2008, p. 15) Da análise dos marcos históricos e normativos, e pelo diagnóstico feito pela comissão do grupo de trabalho que elaborou o documento com as novas diretrizes para a Educação Especial, tem-se a seguinte definição: A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os serviços e recursos próprios desse atendimento e orienta os alunos e seus professores quanto a sua utilização nas turmas comuns do ensino regular. (BRASIL. Ministério da Educação, 2008, p. 15) A partir de então, fica definido que o Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado pelas escolas públicas estaduais e municipais, é complementar ao ensino da sala regular. Em consonância ao Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008, a Política Nacional dispõe sobre o AEE em seu artigo 1º, e parágrafos subsequentes: Art.1º A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na forma deste Decreto, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular. § 1º Considera-se atendimento educacional especializado o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, Faculdade de Minas 17 prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. § 2º O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a participação da família e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas. (BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial, 2010, p. 28) O Ministério da Educação com a atual política de educação inclusiva que norteia a Educação Especial, de forma transversal e complementar ao Ensino Regular, instituiu as diretrizes e ações dos serviços de Atendimento Educacional Especializado, “oferecidos aos alunos com deficiência visando a complementação da sua formação e não mais a substituição do ensino regular” (BRASIL. Secretaria de Educação Especial; BRASIL. Secretaria de Educação a Distância, 2007, p. 05). Com o intuito de responder às necessidades educacionais especiais, garantindo um dos objetivos da atual política da Educação Especial: formação de professores para o Atendimento Educacional Especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar, a União, buscando aperfeiçoar os professores da rede pública de educação organiza um curso em parceira com as Secretaria de Educação Especial e a Secretaria de Educação a Distância. O curso tem carga horária total de 180 horas, das quais 34 horas são destinadas ao Atendimento Especializado em Deficiência Visual. Trata-se de um projeto de formação continuada mediado pelo programa “Educação Inclusiva: direito à diversidade”. O curso desenvolvido enfatiza as áreas de deficiência física, auditiva, visual e intelectual, e possui uma estrutura para: - trazer o contexto escolar dos professores para o foco da discussão dos novos referenciais para a inclusão dos alunos; - introduzir conhecimentos que possam fundamentar os professores na reorientação das suas práticas de Atendimento Educacional Especializado; Faculdade de Minas 18 - desenvolver aprendizagem participativa e colaborativa necessária para que possam ocorrer mudanças no Atendimento Educacional Especializado. (BRASIL. Secretaria de Educação Especial; BRASIL. Secretaria de Educação a Distância, 2007, p. 05) O curso orientou-se pela reorganizaçãodos sistemas de ensino de modo que o AEE através do Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais pudesse atender o alunado dessa modalidade de ensino no contra turno ao frequentado na sala comum e, também, possibilitar ao professor revisitar suas práticas sob o enfoque dos novos referenciais pedagógicos da inclusão. Portanto, por meio da Resolução nº 4 CNE/CEB 2009, instituída pelo Conselho Nacional de Educação, ficaram estabelecidas as Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, e de acordo com o Art. 5º: O AEE é realizado, prioritariamente, nas salas de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, em centro de atendimento educacional especializado de instituição especializada da rede pública ou de instituição especializada comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a secretaria de educação ou órgão equivalente dos estados, do Distrito Federal ou dos municípios. (BRASIL. Presidência da República, 2013a, p. 05-06) Dos volumes que compõem o material formativo da coleção do AEE, o dedicado aos alunos com deficiência visual (BRASIL. Ministério da Educação, 2007), de acordo com Soares e Carvalho (2012), não oferece nesta atual proposta nenhuma novidade, pois é direcionada sob o mesmo esquema da anterior – Série Atualidades Pedagógicas (BRUNO, MOTA, 2001), pautando-se também pela descrição da inclusão escolar de alunos cegos e com baixa visão, seguida da descrição da funcionalidade da visão na utilização de recursos ópticos e não ópticos. Na alfabetização e aprendizagem, aborda a comunicação e relacionamento, o sistema Faculdade de Minas 19 Braille, atividades e avaliação, e recursos didáticos. Por último, traz a informática com seus recursos tecnológicos assistivos. Em suma, “a publicação prende-se à descrição dos aspectos técnicos e uso de adaptação, não abordando (...) como todo esse material pode ser utilizado no trabalho pedagógico a ser utilizado nas salas de AEE”. (SOARES; CARVALHO, p. 50). Apesar da falta de adensamento nas orientações pedagógicas para educadores, as publicações oficiais além de manifestarem uma preocupação de ordem instrumental quanto à alfabetização e aprendizagem deste público, destacam, por exemplo, a necessidade de relacionamentos que evidenciem novas atitudes, procedimentos e posturas. Dentre estes, Os educadores devem estabelecer um relacionamento aberto e cordial com a família dos alunos para conhecer melhor suas necessidades, hábitos e comportamentos. Devem conversar naturalmente e esclarecer dúvidas ou responder perguntas dos colegas na sala de aula. Todos precisam criar o hábito de evitar a comunicação gestual e visual na interação com esses alunos. É recomendável também evitar a fragilização ou a superproteção e combater atitudes discriminatórias. (BRASIL. Ministério da Educação, 2007, p. 22) As lacunas deixadas pelas orientações oficiais neste espaço de sete anos (2001-2007), revelam a ausência de aprofundamento numa parte que é fundamental, ao se considerar uma educação centrada na criança, a sua aprendizagem. Daí, surge a questão: quais estratégias podem nortear o fazer criativo do educador, deixando-se orientar pelo ato de aprender? Sob o enfoque interventivo educacional no atendimento ao aluno com deficiência visual, Masini (1997) apresenta algumas orientações pedagógicas em consonância ao mundo circundante deste público da Educação Especial que assim seguem, - Na comunicação, em nossa cultura, há predominância do visual e do verbal. Se o educador não estiver atento a isso, fará uso de conhecimentos não Faculdade de Minas 20 acessíveis ao deficiente visual, fazendo com que ele desenvolva uma linguagem e uma aprendizagem conduzidas pelo visual. Como os dados não provêm de sua experiência, não podem ser organizados por ele, verificando-se verbalismo e aprendizagem mecânica; - Para que o deficiente visual organize o mundo ao seu redor, é necessário que use o mais possível todas as suas possibilidades (táteis, térmicas, olfativas, auditivas, cinestésicas), e fale sobre sua experiência perceptiva. - A maneira de o deficiente visual relacionar-se com a professora é importante para que utilize e amplie suas possibilidades. A atitude da professora pode ser a de tutelar ou proteger (solicitude protetora3), dando-lhe informações diretivas sobre o que fazer, impedindo-o de explorar/conhecer e conhecer-se, ou ao contrário, a de estar junto a ele (solicitude emancipatória4), contribuindo para que a pessoa deficiente visual encontre seus próprios meios de agir. (MASINI, 1997, p. 81-82) Masini noutro texto (2007) pontua outros aspectos que merecem a atenção da escola e do educador nas relações de educabilidade, quais sejam: - fazer contato por meio dos sentidos de que seu educando dispõe, manifestando consideração e evitando o sentimento de isolamento; - mostrar expectativas que considerem suas possibilidades e limites ante a deficiência, em vez de expectativas cujos padrões de referência são os do desenvolvimento da criança vidente; - estabelecer e esclarecer padrões apropriados de execução de atividades que a motivem a ajustar-se a suas possibilidades e seus limites; - estar atento (a) à reação emocional de aceitação à deficiência visual e aos limites impostos por ela, atribuindo à pessoa com deficiência responsabilidades, de acordo com sua idade e desenvolvimento; - propiciar oportunidades para falar de suas descobertas sobre as pessoas e objetos e de suas experiências perceptivas. (MASINI, 2007, p. 32-33) Faculdade de Minas 21 Trata-se de intervenções pautadas pela autenticidade do educador que possibilita condições para o desenvolvimento humano dos alunos com deficiência visual, que solicitam uma aprendizagem orientada pelo redimensionamento dos procedimentos educacionais na ampliação da percepção docente daquilo que se manifesta na interação com o aluno em um determinado contexto social. E mais, de acordo com Masini (1997, p. 83), “o educador pode ser criativo, buscando caminhos perceptuais”. Uma empreitada que exige “engenho, paciência e energia”. A criança deficiente visual “tem mais semelhanças do que diferenças com a criança que não tem deficiência visual. Elas têm as mesmas necessidades básicas físicas, emocionais e intelectuais” (MASINI, 2013, p. 36). Neste sentido, da atenção dada pelo educador na relação estabelecida com o aluno, o professor na situação de aprendizagem pode buscar em cada situação: “pontos de similitude referentes às necessidades básicas, ao que a criança manifesta e estabelecer níveis realísticos de expectativas para a criança, quer na escola, quer no lar”. (MASINI, 2013, p. 36). O olhar atento para aquilo que é próprio do mundo da pessoa com deficiência visual, enquanto ação educativa dos educadores em geral, solicita de quem o faça, capacidade para: Organizar e transmitir com clareza seu pensamento e de transformar condições insatisfatórias, contribuindo para que o aluno desenvolva confiança em si mesmo: na sua própria capacidade de realizar uma aprendizagem significativa, elaborando informações e apontando soluções criativas para situações de vida. (MASINI, 2013, p. 37) Retomando o cenário das políticas de formação de professores, em 2011 ocorre a implementação do Programa de Formação Continuada de Professores em Educação Especial, e com o apoio especifico dos CAPs (Centro de Apoio para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual), que tem por objetivo, de acordo com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI, “apoiar a formação continuada de professores para o atendimento educacional especializado e a produção de material didáticoacessível aos estudantes Faculdade de Minas 22 com deficiência visual” (BRASIL. Presidência da República, 2016a)5. E oferece, também, formação continuada de professores para atuar nas salas de recursos multifuncionais e em classes comuns do ensino regular, em parceria com Instituições Públicas de Educação Superior. A exequibilidade da estratégia 4.13 é engendrada por meio da Universidade Aberta do Brasil – UAB com a oferta de “cursos no nível de aperfeiçoamento e especialização na modalidade a distância, e presencial e semipresencial pela Rede Nacional de Formação Continuada de Professores na Educação Básica – RENAFOR” (BRASIL. Presidência da República, 2016b). Hoje, de acordo com o Censo Escolar (BRASIL. Presidência da República, 2016c), o quadro de professores com formação em Educação Especial, apresenta os seguintes indicadores. O gráfico acima revela um crescimento de 189 % no período de 2003-2014, totalizando de 97.459 professores. O número de funções docentes que lecionam em turmas de Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica vem crescendo desde 2009, alcançando a marca de 37.474 em 2014, conforme expresso no gráfico abaixo. Os indicadores revelam que a estratégia 4.13 do PNE avança com os efeitos das políticas públicas de educação inclusiva na garantia de um sistema educacional inclusivo. Já a estratégia 4.16, que também é acompanhada pelo Observatório do PNE, está em andamento, uma vez que a Resolução CNE/CP nº 2, de 7 de julho de 2015, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior e para a formação continuada estabelece que os cursos de formação inicial deverão prever, entre outros, conteúdos relacionados a Libras e à Educação Especial. Portanto, a inserção dos referenciais teóricos específicos é fundamental nos cursos de formação de professores para o atendimento do público da Educação Especial, visando assim, uma educação e desenvolvimento humano-significativos. Daí a relevância de operacionalizar esta estratégia, pois de acordo com o Observatório, “não há avaliação sistemática do que está hoje previsto nos currículos e da sua Faculdade de Minas 23 funcionalidade para preparar os professores para lidarem, na escola, com os efeitos das políticas de educação inclusiva” (OBSERVATÓRIO DO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2016). O retrato atual da situação da estratégia supracitada, não difere da estratégia 4.18, que também não tem uma avaliação sobre as perspectivas de desenvolvimento, bem como do status de implementação e indicadores da oferta efetiva de formação continuada por parte de instituições conveniadas. Em síntese, as estratégias (4.13, 4.16 e 4.18) que compõem a Meta 4 – Educação Especial/Educação Inclusiva, revelam a intenção de serem exequíveis “em razão das condições favoráveis criadas a partir da institucionalização da política de educação especial na perspectiva inclusiva, do financiamento da educação especial previsto no FUNDEB e das orientações pedagógicas disseminadas nos sistemas de ensino”. (BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial, 2010, p. 26). EDUCAÇÃO ESCOLAR INCLUSIVA PARA PESSOAS COM SURDEZ Estudar a educação escolar das pessoas com surdez nos reporta não só a questões referentes aos seus limites e possibilidades, como também aos preconceitos existentes nas atitudes da sociedade para com elas. As pessoas com surdez enfrentam inúmeros entraves para participar da educação escolar, decorrentes da perda da audição e da forma como se estruturam as propostas educacionais das escolas. Muitos alunos com surdez podem ser prejudicados pela falta de estímulos adequados ao seu potencial cognitivo, sócio afetivo, linguístico e político-cultural e ter perdas consideráveis no desenvolvimento da aprendizagem. Estudos realizados na última década do século XX e início do século XXI, por diversos autores e pesquisadores oferecem contribuições à educação de alunos com surdez na escola comum ressaltando a valorização das diferenças no convívio social Faculdade de Minas 24 e o reconhecimento do potencial de cada ser humano. Poker (2001) afirma que as trocas simbólicas provocam a capacidade representativa desses alunos, favorecendo o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento, em ambientes heterogêneos de aprendizagem. No entanto, existem posições contrárias à inclusão de alunos com surdez nas turmas comuns, em decorrência da compreensão das formas de representação da surdez como incapacidade ou das propostas pedagógicas desenvolvidas tradicionalmente para atendê-las que não consideram a diversidade linguística. Conforme Skliar (1999) alegam que o modelo excludente da Educação Especial está sendo substituído por outro, em nome da inclusão que não respeita a identidade surda, sua cultura, sua comunidade. Estas questões geram polêmica entre muitos estudiosos, profissionais, familiares e entre as próprias pessoas com surdez. Àqueles que defendem a cultura, a identidade e a comunidade surda apoiam-se no discurso das diferenças, alegando que elas precisam ser compreendidas nas suas especificidades, porém, pode-se cair na cilada da diferença, como refere Pierucci (1999), que em nome da diferença, pode- se também segregar. Diante desse quadro situacional, o importante é buscar nos confrontos promovidos na relação entre as diferenças, novos caminhos para a vida em coletividade, dentro e fora das escolas e, sendo assim, como seria atuar com alunos com surdez, em uma escola comum que reconhece e valoriza as diferenças? Que processos curriculares e pedagógicos precisam ser criados para atender a essa diferença, considerando a escola aberta para todos e, portanto, verdadeiramente inclusiva? Não se trata de trocar a escola excludente especial, por uma escola excludente comum. Ocorre que alguns discursos e práticas educacionais ainda não conseguiram, responder às questões acima formuladas, mantendo os processos de normalização das pessoas com surdez. A inclusão do aluno com surdez deve acontecer desde a educação infantil até a educação superior, garantindo-lhe, desde cedo, utilizar os recursos de que Faculdade de Minas 25 necessita para superar as barreiras no processo educacional e usufruir seus direitos escolares, exercendo sua cidadania, de acordo com os princípios constitucionais do nosso país. A inclusão de pessoas com surdez na escola comum requer que se busquem meios para beneficiar sua participação e aprendizagem tanto na sala de aula como no Atendimento Educacional Especializado. Conforme Dorziat (1998), o aperfeiçoamento da escola comum em favor de todos os alunos é primordial. Esta autora observa que os professores precisam conhecer e usar a Língua de Sinais, entretanto, deve-se considerar que a simples adoção dessa língua não é suficiente para escolarizar o aluno com surdez. Assim, a escola comum precisa implementar ações que tenham sentido para os alunos em geral e que esse sentido possa ser compartilhado com os alunos com surdez. Mais do que a utilização de uma língua, os alunos com surdez precisam de ambientes educacionais estimuladores, que desafiem o pensamento, explorem suas capacidades, em todos os sentidos. Se somente o uso de uma língua bastasse para aprender, as pessoas ouvintes não teriam problemas de aproveitamento escolar, já que entram na escola com uma língua oral desenvolvida. A aquisição da Língua de Sinais, de fato, não é garantia de uma aprendizagem significativa, como mostrou Poker (2001), quando trabalhou com seis alunos com surdez profunda que se encontravam matriculados na primeira etapa do Ensino Fundamental, com idade entre oito anos e nove meses e 11 anos e nove meses, investigando, por meio de intervenções educacionais, as trocas simbólicas e o desenvolvimento cognitivo desses alunos. Segundo esta autora, o ambiente em quea pessoa com surdez está inserida, principalmente o da escola, na medida em que não lhe oferece condições para que se estabeleçam trocas simbólicas com o meio físico e social, não exercita ou provoca a capacidade representativa dessas pessoas, consequentemente, compromete o desenvolvimento do pensamento. A pesquisadora constatou que nesse caso, a natureza do problema cognitivo da pessoa com surdez está relacionado à: Faculdade de Minas 26 [...] deficiência da trocas simbólicas, ou seja, o meio escolar não expõe esses alunos a solicitações capazes de exigir deles coordenações mentais cada vez mais elaboradas, que favorecerão o mecanismo da abstração reflexionante e consequentemente, os avanços cognitivos (POKER, 2001: 300). Considerando a necessidade do desenvolvimento da capacidade representativa e linguística dos alunos com surdez, a escola comum deve viabilizar sua escolarização em um turno e o Atendimento Educacional Especializado em outro, contemplando o ensino de Libras, o ensino em Libras e o ensino da Língua Portuguesa. Ao optar-se em oferecer uma educação bilíngue, a escola está assumindo uma política linguística em que duas línguas passarão a coexistir no espaço escolar. Além disso, também será definido qual será a primeira língua e qual será a segunda língua, bem como as funções em que cada língua irá representar no ambiente escolar. Pedagogicamente, a escola vai pensar em como estas línguas estarão acessíveis às crianças, além de desenvolver as demais atividades escolares. As línguas podem estar permeando as atividades escolares ou serem objetos de estudo em horários específicos dependendo da proposta da escola. Isso vai depender de „como‰, „onde‰, e „de que forma‰ as crianças utilizam as línguas na escola. (MEC/SEESP, 2006) Inúmeras polêmicas têm se formado em torno da educação escolar para pessoas com surdez. A proposta de educação escolar inclusiva é um desafio, que para ser efetivada faz-se necessário considerar que os alunos com surdez têm direito de acesso ao conhecimento, à acessibilidade, bem como ao Atendimento Educacional Especializado. Conforme Bueno (2001:41), é preciso ultrapassar a visão que reduz os problemas de escolarização das pessoas com surdez ao uso desta ou daquela língua, mas sim de ampliá-la para os campos sócio políticos. Tendências Subjacentes à Educação das Pessoas à Educação das Pessoas com Surdez Faculdade de Minas 27 As tendências de educação escolar para pessoas com surdez centram-se ora na inserção desses alunos na escola comum e/ou em suas classes especiais, ora na escola especial de surdos. Existem três tendências educacionais: a oralista, a comunicação total e a abordagem por meio do bilinguismo. As escolas comuns ou especiais, pautadas no oralismo, visam à capacitação da pessoa com surdez para que possa utilizar a língua da comunidade ouvinte na modalidade oral, como única possibilidade linguística, de modo que seja possível o uso da voz e da leitura labial, tanto na vida social, como na escola. O oralismo, não conseguiu atingir resultados satisfatórios, porque, de acordo com Sá (1999), ocasiona déficits cognitivos, legitima a manutenção do fracasso escolar, provoca dificuldades no relacionamento familiar, não aceita o uso da Língua de Sinais, discrimina a cultura surda e nega a diferença entre surdos e ouvintes. Já a comunicação total considera as características da pessoa com surdez utilizando todo e qualquer recurso possível para a comunicação, a fim de potencializar as interações sociais, considerando as áreas cognitivas, linguísticas e afetivas dos alunos. Os resultados obtidos com a comunicação total são questionáveis quando observamos as pessoas com surdez frente aos desafios da vida cotidiana. A linguagem gestual visual, os textos orais, os textos escritos e as interações sociais que caracterizam a comunicação total parecem não possibilitar um desenvolvimento satisfatório e esses alunos continuam segregados, permanecendo agrupados pela deficiência, marginalizados, excluídos do contexto maior da sociedade. Esta proposta, segundo Sá (1999), não dá devido valor a Língua de Sinais, portanto, pode- se dizer que é uma outra feição do oralismo. Os dois enfoques, oralista e da comunicação total, negam a língua natural das pessoas com surdez e provocam perdas consideráveis nos aspectos cognitivos, sócio afetivos, linguísticos, político culturais e na aprendizagem desses alunos. A comunicação total, em favor da modalidade oral, por exemplo, usava o Português sinalizado e desfigurava a rica estrutura da Língua de Sinais. Faculdade de Minas 28 Por outro lado, a abordagem educacional por meio do bilinguismo visa capacitar a pessoa com surdez para a utilização de duas línguas no cotidiano escolar e na vida social, quais sejam: a Língua de Sinais e a língua da comunidade ouvinte. As experiências escolares, de acordo com essa abordagem, no Brasil, são muito recentes e as propostas pedagógicas nessa linha ainda não estão sistematizadas. Acrescenta-se a essa situação, a existência de trabalhos equivocados, ou seja, baseados em princípios da comunicação total, mas que são divulgados como trabalhos baseados na abordagem por meio do bilinguismo. De fato, existem poucas publicações científicas sobre o assunto, há falta de professores bilíngues, os currículos são inadequados e os ambientes bilíngues, quase inexistentes. Não se podem descartar também outros fatores, tais como: dificuldade para se formar professores com surdez num curto período de tempo; a presença de um segundo professor de Língua Portuguesa para os alunos surdos e; a falta de conhecimento a respeito do bilinguismo. As propostas educacionais dessa natureza começam a estruturar-se a partir do Decreto 5.626/05 que regulamentou a lei de Libras. Esse Decreto prevê a organização de turmas bilíngues, constituídas por alunos surdos e ouvintes onde as duas línguas, Libras e Língua Portuguesa são utilizadas no mesmo espaço educacional. Também define que para os alunos com surdez a primeira língua é a Libras e a segunda é a Língua Portuguesa na modalidade escrita, além de orientar para a formação inicial e continuada de professores e formação de intérpretes para a tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. Contrariando o modelo de integração escolar, que concebe o aluno com surdez, a partir dos padrões dos ouvintes, desconsiderando a necessidade de serem feitas mudanças estruturais e pedagógicas nas escolas para romper com as barreiras que se interpõem entre esse aluno e o ensino, as propostas de atendimento a alunos com surdez, em escolas comuns devem respeitar as especificidades e a forma de aprender de cada um, não impondo condições à inclusão desses alunos no processo de ensino e aprendizagem. Faculdade de Minas 29 Também, a escola especial é segregadora, pois os alunos isolam-se cada vez mais, ao serem excluídos do convívio natural dos ouvintes. Há entraves nas relações sociais, afetivas e de comunicação, fortalecendo cada vez mais os preconceitos. Segundo alguns professores, é mais fácil ensinar em classes especiais das escolas comuns, pois, essas classes além do agrupamento ser constituído apenas por alunos com surdez, a comunicação e a metodologia de ensino da língua escrita e oral são as mesmas para todos. Entretanto nessas classes os alunos com surdez não têm sido igualmente beneficiados na aprendizagem. As posições contrárias à inclusão de alunos com surdez tomam como referência modelos que se dizem “inclusivos” mas, na verdade, não alteram suas práticas pedagógicas no que se refere às condições de acessibilidade, em especial às relativas às comunicações. É preciso fazer a leitura desse movimento político cultural e educacional, procurando esclarecer os equívocos existentes, visando apontar soluções para os seus principais desafios.Deflagram-se atualmente, debates sobre a comunidade surda, sua cultura e sua identidade. Essas questões são polêmicas e, quando analisadas pelos antropólogos, sociólogos, filósofos e professores, levam a interpretações conceituais, provocando divergências relacionadas à indicação de procedimentos escolares. Grande parte dos pesquisadores e estudiosos da cultura surda têm se apropriado da concepção de diferença cultural, defendendo uma cultura surda e uma cultura ouvinte o que fortalece a dicotomia surdo/ouvinte (Bueno, 1999). A desafio frente à aprendizagem da Língua Portuguesa é uma questão escolar importante. A Língua Portuguesa é difícil de ser assimilada pelo aluno com surdez. Segundo Perlin (1998:56), os surdos não conseguem dominar os signos dos ouvintes, por exemplo, a epistemologia de uma palavra, sua leitura e sua escrita. De fato, existem dificuldades reais da pessoa com surdez para adquirir a oralidade e a escrita, porém, dizer que não são capazes de aprendê-la reduz totalmente a pessoa ao seu Faculdade de Minas 30 déficit e não considera a precariedade das práticas de ensino disponíveis para esse aprendizado. Há, pois, urgência de ações educacionais escolares que favoreçam o desenvolvimento e a aprendizagem escolar das pessoas com surdez. A Língua de Sinais é, certamente, o principal meio de comunicação entre as pessoas com surdez. Contudo, o uso da Língua de Sinais nas escolas comuns e especiais, por si só, resolveria problema da educação escolar das pessoas com surdez? Não seria necessário o domínio de outros saberes que lhes garantam, de fato, viver, produzir, tirar proveito dos bens existentes, no mundo em que vivemos? As práticas pedagógicas constituem o maior problema na escolarização das pessoas com surdez. Torna-se urgente, repensar essas práticas para que os alunos com surdez, não acreditem que suas dificuldades para o domínio da leitura e da escrita são advindas dos limites que a surdez lhes impõe, mas principalmente pelas metodologias adotadas para ensiná-los. Neste sentido, é necessário fazer uma ação-reflexão-ação permanente a acerca deste tema, visando à inclusão escolar das pessoas com surdez, tendo em vista a sua capacidade de frequentar e aprender em escolas comuns, contra o discurso da exclusão escolar e a favor de novas práticas educacionais na escola comum brasileira. O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA OS ALUNOS COM SURDEZ: UMA PROPOSTA INCLUSIVA O trabalho pedagógico com os alunos com surdez nas escolas comuns, deve ser desenvolvido em um ambiente bilíngue, ou seja, em um espaço em que se utilize a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa. Um período adicional de horas diárias de estudo é indicado para a execução do Atendimento Educacional Especializado. Nele destacam-se três momentos didático-pedagógicos: • Momento do Atendimento Educacional Especializado em Libras na escola comum, em que todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos Faculdade de Minas 31 curriculares, são explicados nessa língua por um professor, sendo o mesmo preferencialmente surdo. Esse trabalho é realizado todos os dias, e destina-se aos alunos com surdez. • Momento do Atendimento Educacional Especializado para o ensino de Libras na escola comum, no qual os alunos com surdez terão aulas de Libras, favorecendo o conhecimento e a aquisição, principalmente de termos científicos. Este trabalhado é realizado pelo professor e/ou instrutor de Libras (preferencialmente surdo), de acordo com o estágio de desenvolvimento da Língua de Sinais em que o aluno se encontra. O atendimento deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da Língua de Sinais. • Momento do Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa, no qual são trabalhadas as especificidades dessa língua para pessoas com surdez. Este trabalho é realizado todos os dias para os alunos com surdez, à parte das aulas da turma comum, por uma professora de Língua Portuguesa, graduada nesta área, preferencialmente. O atendimento deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da Língua Portuguesa. O planejamento do Atendimento Educacional Especializado é elaborado e desenvolvido conjuntamente pelos professores que ministram aulas em Libras, professor de classe comum e professor de Língua Portuguesa para pessoas com surdez. O planejamento coletivo inicia-se com a definição do conteúdo curricular, o que implica que os professores pesquisem sobre o assunto a ser ensinado. Em seguida, os professores elaboram o plano de ensino. Eles preparam também os cadernos de estudos do aluno, nos quais os conteúdos são inter-relacionados. No planejamento para as aulas em Libras, há que se fazer o estudo dos termos científicos do conteúdo a ser estudado, nessa língua. Cada termo é estudado, o que amplia e aprofunda o vocabulário. Faculdade de Minas 32 Na sequência, todos os professores selecionam e elaboram os recursos didáticos para o Atendimento Educacional Especializado em Libras e em Língua Portuguesa, respeitando as diferenças entre os alunos com surdez e os momentos didático-pedagógicos em que serão utilizados. Os alunos com surdez são observados por todos os profissionais que direta ou indiretamente trabalham com eles. Focaliza-se a observação nos seguintes aspectos: sociabilidade, cognição, linguagem (oral, escrita, viso-espacial), afetividade, motricidade, aptidões, interesses, habilidades e talentos. Registram-se as observações iniciais em relatórios, contendo todos os dados colhidos ao longo do processo e demais avaliações relativas ao desenvolvimento do desempenho de cada um. São apresentados a seguir três momentos didático-pedagógicos do Atendimento Educacional Especializado. Momento Didático-Pedagógico: O Atendimento Educacional Especializado em Libras na Escola Libras na Escola Comum Este atendimento constitui um dos momentos didático-pedagógicos para os alunos com surdez incluídos na escola comum. O atendimento ocorre diariamente, em horário contrário ao das aulas, na sala de aula comum. A organização didática desse espaço de ensino implica o uso de muitas imagens visuais e de todo tipo de referências que possam colaborar para o aprendizado dos conteúdos curriculares em estudo, na sala de aula comum. Os materiais e os recursos para esse fim precisam estar presentes na sala de Atendimento Educacional Especializado, quais sejam: mural de avisos e notícias, biblioteca da sala, painéis de gravuras e fotos sobre temas de aula, roteiro de planejamento, fichas de atividades e outros. Faculdade de Minas 33 Na escola comum, é ideal que haja professores que realizem esse atendimento, sendo que os mesmos precisam ser formados para ser professor e ter pleno domínio da Língua de Sinais. O Professor em Língua de Sinais, ministra aula utilizando a Língua de Sinais nas diferentes modalidades, etapas e níveis de ensino como meio de comunicação e interlocução. O planejamento do Atendimento Educacional Especializado em Libras é feito pelo professor especializado, juntamente com os professores de turma comum e os professores de Língua Portuguesa, pois o conteúdo deste trabalho é semelhante ao desenvolvido na sala de aula comum. O Atendimento Educacional Especializado em Libras fornece a base conceitual dessa língua e do conteúdo curricular estudado na sala de aula comum, o que favorece ao aluno com surdez a compreensão desse conteúdo. Nesse atendimento há explicações das ideias essenciais dos conteúdos estudados em sala de aula comum. Os professores utilizam imagens visuais e quando o conceito é muito abstrato recorrem a outros recursos, como o teatro, por exemplo. Os recursos didáticos utilizados na sala de aula comum para a compreensão dos conteúdos curriculares são também utilizados no Atendimento EducacionalEspecializado em Libras. No decorrer do Atendimento Educacional Especializado em Libras, os alunos se interessam, fazem perguntas, analisam, criticam, fazem analogias, associações diversas entre o que sabem e os novos conhecimentos em estudo. Os professores neste atendimento registram o desenvolvimento que cada aluno apresenta, além da relação de todos os conceitos estudados, organizando a representação deles em forma de desenhos e gravuras, que ficam no caderno de registro do aluno. Momento Didático-Pedagógico: O Atendimento o Educacional Especializado para o ensino de Libras Faculdade de Minas 34 Este atendimento constitui outro momento didático-pedagógico para os alunos com surdez incluídos na escola comum. O atendimento inicia com o diagnóstico do aluno e ocorre diariamente, em horário contrário ao das aulas, na sala de aula comum. Este trabalhado é realizado pelo professor e/ou instrutor de Libras (preferencialmente surdo), de acordo com o estágio de desenvolvimento da Língua de Sinais em que aluno se encontra. O atendimento deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a respeito da Língua de Sinais. O professor e/ou instrutor de Libras organiza o trabalho do Atendimento Educacional Especializado, respeitando as especificidades dessa língua, principalmente o estudo dos termos científicos a serem introduzidos pelo conteúdo curricular. Eles procuram os sinais em Libras, investigando em livros e dicionários especializados, internet ou mesmo entrevistando pessoas adultas com surdez, considerando o seguinte: Caso não existam sinais para designar determinados termos científicos, os professores de Libras analisam os termos científicos do contexto em estudo, procurando entendê-los, a partir das explicações dos demais professores de áreas específicas (Biologia, História, Geografia e dentre outros); Avaliam a criação dos termos científicos em Libras, a partir da estrutura linguística da mesma, por analogia entre conceitos já existentes, de acordo com o domínio semântico e/ou por empréstimos lexicais; Os termos científicos em sinais são registrados, para serem utilizados nas aulas em Libras. Criação de sinais para termos científicos A organização didática desse espaço de ensino implica o uso de muitas imagens visuais e de todo tipo de referências que possam colaborar para o aprendizado da Língua de Sinais. Os materiais e os recursos para esse fim precisam estar presentes na sala de Atendimento Educacional Especializado e respeitar as necessidades didático-pedagógicas para o ensino de língua. Faculdade de Minas 35 Caderno de registro de registro de Língua de Sinais Os alunos recorrem sempre a esse caderno, como se fosse um dicionário particular. O caderno expressa sua compreensão sobre os termos representados em Libras. A sequência de fotos a seguir ilustra os procedimentos descritos: Os professores do Atendimento Educacional Especializado de Libras fazem permanentemente avaliações para verificação da aprendizagem dos alunos em relação à evolução conceitual de Libras. Em resumo, questões importantes sobre o Atendimento Educacional Especializado em Libras e para o ensino de Libras: O Atendimento Educacional Especializado com o uso de Libras, ensina e enriquece os conteúdos curriculares promovendo a aprendizagem dos alunos com surdez na turma comum. O ambiente educacional bilíngue é importante e indispensável, já que respeita a estrutura da Libras e da Língua Portuguesa. Este atendimento exige uma organização metodológica e didática e especializada. O professor que ministra aulas em Libras deve ser qualificado para realizar o atendimento das exigências básicas do ensino por meio da Libras e também, para não praticar o bimodalismo, ou seja, misturar a Libras e a Língua Portuguesa que são duas línguas de estruturas diferentes. O professor com surdez, para o ensino de Libras oferece aos alunos com surdez melhores possibilidades do que o professor ouvinte porque o contato com crianças e jovens com surdez com adultos com surdez favorece a aquisição dessa língua. Faculdade de Minas 36 A avaliação processual do aprendizado por meio da Libras é importante para que se verifique, pontualmente, a contribuição do Atendimento Educacional Especializado para o aluno com surdez na escola comum. A qualidade dos recursos visuais é primordial para facilitar a compreensão do conteúdo curricular em Libras. A organização do ambiente de aprendizagem e as explicações do professor em Libras propiciam uma compreensão das ideias complexas, contidas nos conhecimentos curriculares. O Atendimento Educacional Especializado em Libras oferece ao aluno com surdez segurança e motivação para aprender, sendo, portanto, de extrema importância para a inclusão do aluno na classe comum. Momento Didático-Pedagógico: O Atendimento Educacional Especializado para o Ensino de Língua Portuguesa O Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa acontece na sala de recursos multifuncionais e em horário diferente ao da sala comum. O ensino é desenvolvido por um professor, preferencialmente, formado em Língua Portuguesa e que conheça os pressupostos linguísticos teóricos que norteiam o trabalho, e que, sobretudo acredite nesta proposta estando disposto a realizar as mudanças para o ensino do português aos alunos com surdez. O que se pretende no Atendimento Educacional Especializado é desenvolver a competência gramatical ou linguística, bem como textual, nas pessoas com surdez, para que sejam capazes de gerar sequências linguísticas bem formadas. Nesta perspectiva, a sala de recursos para o Atendimento Educacional Especializado em Língua Portuguesa deverá ser organizada didaticamente, respeitando os seguintes princípios: Riqueza de materiais e recursos visuais (imagéticos) para possibilitar a abstração dos significados de elementos mórficos da Língua Portuguesa. Faculdade de Minas 37 Amplo acervo textual em Língua Portuguesa, capaz de oferecer ao aluno a pluralidade dos discursos, para que os mesmos possam ter oportunidade de interação com os mais variados tipos de situação de enunciação. Dinamismo e criatividade na elaboração de exercícios, os quais devem ser trabalhados em contextos de usos diferentes. O Atendimento Educacional Especializado para ensino da Língua Portuguesa é preparado em conjunto com os professores de Libras e o da sala comum. A equipe analisa o desenvolvimento dos alunos com surdez, em relação ao aprendizado e domínio da Língua Portuguesa. Neste atendimento, a professora de Língua Portuguesa focaliza o estudo dessa língua nos níveis morfológico, sintático e semântico-pragmático, ou seja, como são atribuídos os significados às palavras e como se dá à organização delas nas frases e textos de diferentes contextos, levando os alunos a perceber a estrutura da língua através de atividades diversificadas, procurando construir um conhecimento já adquirido naturalmente pelos alunos ouvintes. Dessa forma, no Atendimento Educacional Especializado, o professor trabalha os sentidos das palavras de forma contextualizada, respeitando e explorando a estrutura gramatical da Língua Portuguesa. Esse processo inicia-se na educação infantil, intensificando-se na alfabetização e prossegue até o ensino superior. O professor de Língua Portuguesa em parceria com os professores da sala comum e da Libras, realiza estudos dos termos específicos do conteúdo curricular, utilizando toda fonte de pesquisa bibliográfica possível, em especial, dicionário ilustrado e livros técnicos. Após o trabalho com o glossário para a ampliação e aquisição do vocabulário do Português, são feitos estudos pontuais dos diferentes significados e formas de uso que as palavras podem assumir em diferentes contextos (estudo depalavras sinônimas e homônimas) e sua aplicação a partir da própria palavra, de frases prontas Faculdade de Minas 38 em que essas são empregadas palavras, textos ou imagens que se reportem às situações em questão. Para esclarecerem dúvidas e polêmicas sobre o estudo dos contextos e dos conteúdos curriculares, o professor de Língua Portuguesa e os professores de turma comum organizam um caderno de estudo, no qual exemplificam conceito por conceito, procurando oferecer esclarecimentos pontuais para o aprendizado dos alunos. O Atendimento Educacional Especializado deve ser organizado para atender também alunos que optaram pela aprendizagem da Língua Portuguesa na modalidade oral. Nesse caso, o professor de português oferece aos alunos as pistas fonéticas para a fala e a leitura labial. O aluno com surdez precisa aprender a incorporar no seu texto as regras gramaticais da escrita na Língua Portuguesa. A Língua Portuguesa estrutura-se a partir da combinação de vocábulos que conectados corretamente dão sentido: palavras combinadas formam frases; Frases conectadas formam orações; orações transpostas por meio de conectivos formam períodos e assim por diante, até chegar ao texto. Assim, se inicia o trabalho com os alunos, paralelamente à ampliação do vocabulário, a elaboração de tópicos frasais. Com o objetivo de alcançar estruturas gramaticalmente corretas, insere-se no trabalho regras gramaticais propriamente ditas, que os alunos ouvintes, facilmente compreendem, por terem como canal comunicativo à língua oral. No caso dos alunos com surdez, faz-se necessário criar o canal que os leva a essas compreensões. Esta situação é observada na análise morfológica – flexão de gênero, número e grau de substantivos e adjetivos, bem como nas flexões verbais de modo, tempo e pessoa, ao estabelecerem nas frases e textos, a concordância verbal e nominal. Faculdade de Minas 39 Por isto a necessidade de iniciar este trabalho nos primeiros anos de escolarização, pois uma vez que iniciados tardiamente neste processo, mais obstáculos encontrarão na conquista da habilidade comunicativa escrita. No Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa, o canal de comunicação específico é a Língua Portuguesa, ou seja, leitura e escrita de palavras, frases e textos, o uso de imagens e até mesmo o teatro, para a representação de conceitos muito abstratos. Vários recursos visuais são usados para aquisição da Língua Portuguesa. Desta forma, os alunos precisam ficar atentos a todos as pistas oferecidas para compreenderem a mensagem. O atendimento nessa língua contribui enormemente para o avanço conceitual do aluno na classe comum. Em resumo, podemos afirmar que: O Atendimento Educacional Especializado para aprendizagem da Língua Portuguesa exige que o profissional conheça muito bem a organização e a estrutura dessa Língua, bem como, metodologias de ensino de segunda língua. O uso de recursos visuais é fundamental para a compreensão da Língua Portuguesa, seguidos de uma exploração contextual do conteúdo em estudo; O atendimento diário em Língua Portuguesa, garante a aprendizagem dessa língua pelos alunos. Para a aquisição da Língua Portuguesa, é preciso que o professor estimule, permanentemente, o aluno, provocando-o a enfrentar desafios. O atendimento em Língua Portuguesa é de extrema importância para o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno com surdez na sala comum. Faculdade de Minas 40 A avaliação do desenvolvimento da Língua Portuguesa deve ocorrer continuamente para assegurar que se conheçam os avanços do aluno com surdez e para que se possa redefinir o planejamento, se for necessário. REFERENCIAS BRASIL, Ministério Público Federal. O acesso de alunos com deficiência às escolas e classes comuns da rede regular. Eugênia Augusta G. Fávero; Luisa de Marillac P. Pantoja; Maria Teresa Eglér Mantoan. 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