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Aspectos Teóricos e Técnicos do Jornalismo Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Manuel Carlos Chaparro Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento Jornalismo, Linguagem Performativa • Introdução; • Veracidade X Objetividade X Precisão; • Pilares de Qualidade; • Exercício de Autoaprendizagem (4); • Revolução das Fontes. · Propor reflexões e exercícios para o entendimento pragmático e in- terlocutório da linguagem jornalística. OBJETIVO DE APRENDIZADO Jornalismo, Linguagem Performativa Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Jornalismo, Linguagem Performativa Introdução Para o enlace da continuidade na apresentação do nosso conteúdo, vamos co- meçar a Segunda Unidade da disciplina com a repetição do fluxograma que deu síntese à videoaula da Unidade anterior: O Jornalismo como Processo AÇÃO JORNALÍSTICA Discurso Asseverativo Relatos/Comentários = Confrontos discursivos Sociedade Princípios/Valores/ Ideários/Leis Atualidade Acontecimentos/ Fatos/Falas Verdades Éticas Razões e Intenções para a Ação Jornalística Novos Comportamentos No vo s A con tec im en tos Discursos Interessados Conteúdos Difusão Transformadora Preliminarmente, dois esclarecimentos para a correta compreensão do fluxograma: 1) A frase “Jornalismo, Linguagem Performativa”, que dá título a esta Unidade, propõe o entendimento do Jornalismo como linguagem que, ao ser usada pelos sujeitos falantes, os capacita para agir e interagir socialmente, produzindo efeitos transformadores imediatos em ambientes e interlocuções reais. E como a linguagem jornalística tem esse poder performativo, ninguém diz nada à toa no jornalismo. 2) O fluxograma constitui uma representação dinâmica do uso performativo da linguagem jornalística pelos sujeitos intervenientes no processo. E o termo processo tem, aqui, o sentido científico a ele atribuído pelo astrônomo Jérôme Lalande (1732/1807). Assim, entenda-se a palavra como a denominação dada à sequência dos fenômenos que apresentam uma certa unidade e/ou se reproduzem com regularidade que os torna normais. Mas, admitindo, também, que especialmente quando se trata de processos psicológicos ou sociais, essa normalidade pode ser quebrada por mudanças mais ou menos transformadoras, produzidas por circunstâncias direta ou indiretamente inerentes ao próprio processo. Por exemplo, as mudanças que as revoluções tecnológicas impõem aos processos socioculturais, entre eles o Jornalismo. 8 9 Após esses dois esclarecimentos, proponho que você volte ao começo do texto para uma releitura do fl uxograma, aplicando nessa releitura as novas infor- mações agora fornecidas. Como você mesmo deve ter concluído, o fluxograma propõe a representação dinâmica de um sistema Macrointerlocutório, de múltiplos sujeitos falantes, in- terativamente protagonistas e usuários da linguagem jornalística. Com um detalhe que não pode passar despercebido: por interesses próprios, todos os intervenientes estão direta ou indiretamente vinculados aos conflitos narrados ou analisados nas ações jornalística. Para que não haja dúvidas quanto a isso, vamos ao nosso terceiro Exercício de Autoaprendizagem. Exercício de Autoaprendizagem (3) Siga a ordem dos procedimentos: 1) interrompa a leitura deste conteúdo. Localize, no computador em uso, o link de acesso a alguns jornais diários. Escolha o de sua preferência para ler, integralmente, o texto da matéria anunciada pela principal “chamada” da primeira página. 2) divida a ação de leitura em duas fases. Na primeira, leia a totalidade da matéria sem desvios de atenção. Na segunda, faça a releitura com procedimentos de desconstrução do texto, para anotações em algum caderno. 3) vá anotando, em lista nominal, os protagonistas e personagens intervenientes da narração, em falas, descrições, citações e ações praticadas ou sofridas. Identifique, se possível, as instituições ou grupos sociais representados pelos personagens falantes, bem como as questões em que divergem e se confrontam. Imagine, também, e anote, eventuais fontes ocultas; os prováveis jornalistas que participaram do trabalho como autores da reportagem (editores, pauteiros, repórteres e fotógrafos, diagramadores ou designers); e os previsíveis grupos socioculturais que formarão os públicos leitores. 4) avalie o resultado da desconstrução feita, tomando-a como representativa das razões de ser e das práticas jornalísticas, defina a resposta a ser dada a duas perguntas: - Jornalismo é ou não é um processo sociolinguístico e um espaço público de conflitos discursivos? - Por suas virtudes técnicas, éticas e estéticas, poderemos acreditar e dizer que jornalismo é uma linguagem apta para dar eficácia e sucesso às macroin- terlocuções dos conflitos da atualidade? ************************************************* 9 UNIDADE Jornalismo, Linguagem Performativa Se você fez esse Exercício de Autoaprendizagem com criatividade e de forma responsável, parabéns, pois você está preparado para potencializar o proveito intelectual desta nossa aula. Portanto, vamos em frente! E vamos em frente falando de jornalismo como linguagem. Qualquer que seja a ousadia teórica das reflexões acadêmicas sobre a “linguagem jornalística”, nada se explica fora do pressuposto que organiza as expectativas sociais em relação ao jornalismo. E de expectativas em relação ao jornalismo, todos entendemos alguma coisa, porque somos usuários do jornalismo. Você mesmo, que nesse momento, como aluno de jornalismo é meu interlocutor, tem certamente, como eu, uma bela experiência de usuário do jornalismo. Acredito que você se relaciona diariamente com o jornalismo, em ações e interações de leitor, telespectador, internauta e radiouvinte. Você, e eu, entendemos, sim, daquilo a que chamei de “expectativas sociais”. Porque entendemos, sabemos que a expectativa social decisiva, cada vez mais exigente, é a de que as ações jornalísticas, de narrar e analisar os acontecimentos da atualidade, contenham a virtude essencial da Veracidade. Por isso, e até por uma lógica de coerência, agora que iniciamos o nosso percurso de estudiosos e futuros profissionais de jornalismo, temos que valorizarcada vez mais esta palavra: VERACIDADE – entendendo-se por Veracidade a qualidade das coisas que, sendo verdadeiras, podem ser descritas com precisão e confirmadas com provas. Repito a palavra: VERACIDADE. Sob o ponto de vista da confiabilidade da Linguagem, essa é a virtude que prioritariamente se exige do jornalismo. Ser veraz, confiável, é, pois, “marca de caráter!”, na linguagem jornalística como na profissão de jornalista. Ninguém compra um jornal em que não acredita, nem assiste a telejornais suspeitos. Não queremos ver as nossas próprias notícias divulgadas em publicações que podem até vender muito, mas que servem apenas para espalhar fofocas. Isso, por quê? Porque sem Veracidade não há jornalismo. Pois, como Linguagem dos Conflitos, só a Veracidade amarra o jornalismo aos valores e às prioridades do interesse público. E atenção! No vocabulário da cultura jornalística, Veracidade e Verdade não são exatamente a mesma coisa. Nos conflitos dos quais o jornalismo se ocupa, recheados de complexidades em causas e efeitos, não existe a Verdade única. No recheio intelectual de qualquer desses conflitos, sempre são várias as Verdades, o que dá aos fatos e às coisas a possibilidade de significações plurais (econômicas, ideológicas, políticas, culturais, jurídicas, éticas, morais, religiosas, científicas etc.) 10 11 Veracidade X Objetividade X Precisão Por outro lado, há por aí quem pense que Veracidade é sinônimo de Objetividade. E essa é uma heresia que dá inferno. Sob nenhum aspecto devemos confundir Veracidade com Objetividade. Direi por quê! No sentido que a cultura jornalística atribui ao termo, objetivi- dade seria a capacidade de observar os fatos de maneira neutra, em sua realidade material - e só, sem “deformações” resultantes da perspectiva individual do jorna- lista observador e narrador. Os fatos jornalísticos seriam, pois, “objetos concretos”, livres de componentes abstratos da ação narradora. Compreensíveis, portanto, pelo que são, não pelo que possam valer ou significar. Ora, isso é incompatível com uma linguagem que, por natureza e vocação, deve atribuir valor às coisas que narra. Os fatos e as falas que interessam à narração jornalística valem pelo que significam. Se não fosse assim, não haveria como justi- ficar o jargão também defendido pelos arautos da objetividade: aquele que manda começar a notícia “pelo que é mais importante”. Embora pareça tributo à objetividade, a ação de decidir e dar relevo ao mais importante pertence, inquestionavelmente, ao universo abstrato da interpretação. Afinal, não é possível à mente humana escolher ou determinar “o mais importante” sem o exercício subjetivo da valoração dos fatos a narrar. Claro que os acontecimentos da atualidade têm a sua dimensão material, concre- ta, sem a qual não haveria como narrar os fatos, nem como contar qualquer história. Mas, notícia e reportagem não são relatos frios de coisas meramente materiais. No âmago dos conteúdos, a clareza cognitiva da compreensão está associada à percepção de causas, efeitos e significados do acontecido. Ou seja: os fatos valem pelas razões que os geram, pelas intenções que os controlam e pelas consequências que produzem ou podem produzir. No relato jornalístico, a objetividade simplesmente não existe. O que existe é a PRECISÃO da Veracidade ou, se preferirem, a VERACIDADE da Precisão. O rigor e a criatividade na fusão das duas virtudes levarão “o outro” que nos lê ou nos vê e ouve) à convicção de que todos os fatos e falas relatados são verdadeiros e podem ser confirmados. 11 UNIDADE Jornalismo, Linguagem Performativa Pilares de Qualidade É certo que, nesse cipoal de conceitos e conceituações, ainda há quem confunda Objetividade com Precisão, pois também são coisas diferentes. Objetividade pertence ao universo das atitudes mentais. É um conceito de “ob- jeto real”, a ser visto pelo que é, não pelo que significa. Já a Precisão é o resultado do uso competente de um conjunto de técnicas de observação, captação e relato – técnicas que servem à perspectiva escolhida pelo sujeito narrador e que fortale- cem os fundamentos da linguagem jornalística, para que nela seja preservada a sua natureza asseverativa, principal característica linguística do jornalismo.1 Em resumo: PRECISÃO é a virtude do rigor semântico e informativo, garantido ao texto na escolha de palavras, dados, nomes, números e falas que lhe dão estrutura. Mas, para bem narrar, descrever e argumentar, além de PRECISÃO e VERACI- DADE, o bom texto jornalístico exige pelo menos mais cinco pilares de qualidade: · Clareza. · Concisão. · Lógica Interativa. · Formas estilísticas eficazes. · Critérios éticos. De forma resumida, vamos à explicação da principal característica de cada um desses pilares. · CLAREZA é a qualidade que garante compreensibilidade ao texto, por meio de critérios e técnicas de redação que têm por objetivo o sucesso da interlocução. · CONCISÃO é a qualidade das enunciações que dizem o máximo num mínimo de palavras. · LÓGICA INTERATIVA é a lucidez intelectual que guia o texto pelas veredas comunicativas da interlocução. · FORMAS ESTILÍSTICAS são classes de escritura classificadas em espécies de Relato e de Comentário, diferenciadas na forma por características de estilo, tendo em vista a eficácia das ações discursivas pretendidas pelo texto. Falo de coisas como Artigo, Entrevista, Reportagem, Notícia, Crô- nica, Relatório etc. · CRITÉRIOS ÉTICOS são o referencial dos valores que, como parâmetros 1 O linguista TEUN VAN DIJK, em seu livro La Notícia como Discurso - Comprensión, extructura y producción de la información (Barcelona/Buenos Aires, Paidós, 1990), estuda as relações entre Linguística e Jornalismo na perspectiva da Pragmática e ensina que ASSEVERAR é ato de fala próprio do jornalismo. Sobre a aplicação das teorias de Van Dijk ao jornalismo, ler: CHAPARRO, Manuel Carlos, Pragmática do Jornalismo, São Paulo, Summus Editorial, pp. 27-33 / 140-144. 12 13 civilizacionais, devem dar fundamento às ações discursivas do agir humano, inclusive as realizadas pelo uso da linguagem escrita. Falo de coisas como LIBERDADE, HONRA, DIGNIDADE, PRIVACIDADE, DIREITO À INFORMAÇÃO, PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA, JUSTIÇA e DEMOCRACIA. Se quisermos garantir sucesso aos nossos textos, deveremos dar-lhes a susten- tação desses sete pilares. Se bem compreendidos como parâmetros de qualidade, os sete pilares quali- tativos da linguagem jornalística transformarão a nossa relação com o texto, pois nos ajudarão a torná-lo mais criativo, mais claro e mais convincente no relato, na análise e no debate dos acontecimentos, atos e falas que dão rumo e ritmo aos conflitos da atualidade. Confl itos, a Energia Transformadora Falei mais uma vez em conflitos! Pois não se assustem. Embora Conflito seja um termo de uso raro nos glossários da profissão, está nos bons conflitos (os que servem ao interesse público) o principal suprimento discursivo e intelectual do nosso trabalho - o trabalho de narrar, descrever e argumentar para dar forma e conteúdo aos dizeres do jornalismo. Repito: não se assustem com a palavra conflito, porque o jornalismo pertence ao universo transformador dos conflitos de interesse público. Ou vocês imaginam que sem conflitos haveria notícia? Como já escrevi em livro2, de conflitos se nutre a narração jornalística, para relatar os confrontos da vida real que organizam as ações humanas. Que ações? Ações conscientes, deliberadas, planejadas, para afirmar, dividir, conciliar ou defender poderes, princípios, ideias, crenças, espaços, bens, lucros, direitos, emoções, preferências, gostos, ambições ou tendências. No mundo em reelabo- ração pelas ações e interações humanas, nenhuma transformação se materializa sem o conflito. “O conflito está no coração da notícia”, sentenciou Kientz em 1973.3 Talvez fosse mais correto dizer que no conflito está a essência da vida, da vida humana e da vida culturale institucionalmente organizada, no espaço das relações sociais. Dessa vida faz parte o jornalismo para dos conflitos dar conta, pela notícia e pelo comentário. 2 CHAPARRO, Manuel Carlos. Jornalismo, Linguagem dos Conflitos, São Paulo, Edição do Autor, 1914, pp. 9-12. (Edição em papel esgotada; edição e-boock disponível em www.oxisdaquestao.com.br). 3 KIENTZ, Albert. Comunicação de Massa – Análise de Conteúdo. Rio de Janeiro, Eldorado. 13 UNIDADE Jornalismo, Linguagem Performativa “Mesmo no vasto mundo não noticiado,” escrevi eu no livro citado, o do cotidiano teimoso dos mortais comuns, dia a dia reinventado, é o conflito que decide ‘as maneiras de fazer’, expressão com que Michel de Certeau dá nome às práticas comuns das solidariedades e das lutas que organizam o espaço onde as narrações vivas vão abrindo caminhos.” Por causa dos conflitos que narra e comenta, tudo o que no jornalismo se relata ou analisa deve ter a qualidade de ser verdadeiro, crível. E por tratar de conflitos decisivos da vida real de pessoas e instituições em sociedades organizadas, o jornalismo tem nesse dever a razão essencial da própria força - força de linguagem com aptidão asseverativa. Tudo isso, para que possamos dizer e acreditar que, na civilização digital do mun- do globalizado, o jornalismo tornou-se o espaço público, portanto, espaço demo- crático, dos confrontos discursivos que interessam à cultura e aos processos sociais. Ao sucesso de tais conflitos, e por causa do seu próprio sucesso, a linguagem jornalística oferece à regra da confiabilidade o distanciamento criativo da indepen- dência e o balizamento das razões éticas em favor do relato veraz. O perigo da Imparcialidade Alguns de vocês poderão estranhar de até agora não ter falado em imparcia- lidade. Afinal, não são poucos os pensadores e profissionais do jornalismo para quem essa é uma qualidade indispensável ao jornalismo ideal. Pois na minha opinião, a imparcialidade é opção indesejável no bom jornalismo. Não há como ser neutro diante de conflitos e contradições que colocam em jogo questões relacionadas com o primado dos direitos humanos. Não podemos ser neutros diante da injustiça, da fome, do desemprego, da exclusão social, da violência, da ladroagem, da fraude, do aviltamento da dignidade humana. Por isso, virtude indispensável ao jornalismo terá de ser a independência, não a imparcialidade. Só com independência poderemos ser narradores verazes, precisos e honestos, tendo em vista o aperfeiçoamento das relações e das estruturas sociais. E o que quero dizer é o seguinte: os conflitos que interessam à democracia e ao jornalismo sempre têm três lados, porque a sociedade faz parte deles. E pelo que aí está escrito, este é um bom momento do curso para darmos mais uma olhada de reflexão no fluxograma do Processo Macrointerlocutório em que o Jornalismo se constitui. Vamos refletir mais um pouco? 14 15 O Jornalismo como Processo AÇÃO JORNALÍSTICA Discurso Asseverativo Relatos/Comentários = Confrontos discursivos Sociedade Princípios/Valores/ Ideários/Leis Atualidade Acontecimentos/ Fatos/Falas Verdades Éticas Razões e Intenções para a Ação Jornalística Novos Comportamentos No vo s A con tec im en tos Discursos Interessados Conteúdos Difusão Transformadora É fundamental que, na leitura do fluxograma, se entenda “Sociedade” como um ente abstrato que existe e se manifesta nas leis superiores que proclamam os ideários que dão objetivos éticos às Nações e agrupamentos humanos organizados (Ver a Constituição do Brasil, artigos 1º a 5º). Está, portanto, nos valores e nas razões da sociedade o lado dos conflitos que deve funcionar como fonte de critérios para o agir jornalístico. Informação X Opinião Outra questão importante a discutir neste momento do curso pode ser apresentada em forma de perguntante: é verdade que o discurso jornalístico se divide em formas de Informação e Opinião? Para a vossa concordância ou discordância, e apoiado na minha experiência de pelo menos seis décadas de relações profissionais e acadêmicas com o jornalismo, sem meias palavras vos digo: jornalismo não se divide em Opinião e Informação. Trata-se de uma fraude teórica surpreendentemente persistente. Devemos aos racionalistas da objetividade a criação e a manutenção do velho paradigma que propõe a divisão do jornalismo em classes de textos opinativos e textos informativos. A conservação dessa matriz mentirosa esparrama efeitos que, além de empobrecer o ensino e a discussão do jornalismo, tornam cínicas as suas práticas profissionais. Fala-se em separação de opinião e informação como se a manchete não contivesse um ponto de vista, ou não fosse o resultado de uma in- tervenção opinativa provavelmente complexa. No ofício de fazer reportagens, entrevistas, notícias e editoriais, o jornalista exercita as artes de narrar e argumentar. E o faz associando os fatos às ideias, os 15 UNIDADE Jornalismo, Linguagem Performativa dados às emoções, os acontecimentos à reflexão, os sintomas ao diagnóstico, a observação à explicação, o pressuposto à aferição. Não há, pois, como definir uma fronteira entre opinião e informação pela simples razão de que não existe essa fronteira. Existe, sim, uma relação interativa, dialética, estratégica, criativa, permanente, entre informação e opinião. E nessa relação se constrói o jornalismo, tanto nas formas do esquema da narração (notícia, reportagem, entrevista...) quanto nos formatos do esquema argumentativo (artigo, editorial, crítica...). O que dá estrutura, eficácia e beleza ao discurso jornalístico é a variedade das formas (gêneros e espécies) agrupadas em esquemas narrativos e esquemas argu- mentativos – ambos com informação e opinião, em proporções estratégicas con- venientes à ação que se pretende realizar. Na narração, as ideias elucidam e dão significado aos fatos; na argumentação, os fatos dão sustentação às ideias. Duvidam? Pois então, vamos a mais um Exercício de Autoaprendizagem. Exercício de Autoaprendizagem (4) Siga a ordem dos procedimentos: 1) Interrompa a leitura deste conteúdo e localize, no computador em uso, o link de acesso a alguns jornais diários. Escolha o de sua preferência para ler, integralmente, o texto do principal editorial da edição. 2) Ao final da Leitura, responda mentalmente à seguinte pergunta: ficou claro que, nesse texto argumentativo, os fatos descritos com alto grau de precisão dão sustentação às ideias? 3) Em seguida, escolha, qualquer notícia ou reportagem ilustrada com foto(s). Faça uma leitura rigorosa de tudo, tentando entender os critérios e nexos que levaram o autor ou os autores do texto e da edição ao resultado final impresso. 4) Concluídas a leitura e a análise, responda mentalmente, ou até por escrito, à seguinte pergunta: “Ficou ou não perceptível, nas relações entre título, texto e fotos da matéria, que as escolhas e os ordenamentos das relevâncias informativas refletem uma intervenção opinativa do autor ou dos autores, tanto no conteúdo quanto na forma da mensagem apresentada aos leitores?” 5) Assuma, para você mesmo, a decisão de concordar ou discordar da minha opinião, que repito aqui: o que dá estrutura, eficácia e beleza ao discurso jornalístico é a variedade das formas (gêneros e espécies) agrupadas em esquemas narrativos e esquemas argumentativos – ambos com informação e opinião, em proporções estratégicas convenientes à ação que se pretende realizar. Na narração, as ideias elucidam e dão significado aos fatos; na argumentação, os fatos dão sustentação às ideias. 16 17 Revolução das Fontes E vamos mudar de assunto para falarmos da importância que as chamadas “fontes” têm e exercem no jornalismo de hoje. Trata-se de outro tema que incomoda os partidários das “verdades imutáveis” que faziam do jornalismo um “quarto poder encastelado em grandes e tradicionais redações”. Mas o mundo mudou muito! E a principal perturbação que hoje atrapalha o debate sobre jornalismovem de algo a que podemos chamar de “Revolução das Fontes”. Uma revolução gerada pelas tecnologias de difusão, graças às quais a notícia se tornou a mais eficaz ferramenta do agir institucional, nos cenários e conflitos da atualidade. As fontes, sujeitos institucionalizados, capacitaram-se para produzir acontecimen- tos noticiáveis. São governos, parlamentos, instituições do Judiciário, partidos polí- ticos e uma infinidade de entidade públicas; empresas de todos os setores da econo- mia; igrejas e instituições de ensino e pesquisa; associações não governamentais de todo o tipo; grupos culturais e esportivos em permanente expansão; e até pessoas com notoriedade e poderes de representantes de correntes de pensamento. Trata-se de um mundo novo, formado por sujeitos sociais organizados, falantes, com discurso próprio e lugar definido nos espaços da discussão pública. Adquiri- ram competência para gerar conteúdos e interferir na pauta jornalística. Como geradores de fatos e falas noticiáveis, tornaram-se sujeitos jornalísticos e usam o jornalismo como espaço público dos conflitos em que se movimentam para agir e interagir no mundo dos negócios, da política, da educação, da ciência, da saúde, dos serviços, da infraestrutura etc. No ambiente da globalização e da civilização digital, a linguagem jornalística tornou-se aquela de mais intenso, amplo e crescente uso social. Mas como cam- po acadêmico e profissional responsável pela preservação ética e técnica da sua própria linguagem, o jornalismo precisa, urgentemente, revisar ideias e preparar- -se para exercer os novos papéis que lhe cabem em uma sociedade movida pelas energias da informação e pelos embates discursivos de instituições que sabem o que dizer, como dizer e quando dizer. Acredito que você, meu aluno, concordará que, para a democracia, é ótimo que os sujeitos sociais organizados, institucionalmente representativos de segmentos impor- tantes da sociedade, sejam capazes de articular e difundir os seus próprios discursos, porque é muito melhor uma sociedade onde todos saibam e possam falar, do que uma sociedade onde, supostamente, só os jornalistas possam e saibam falar. Mas a discussão, complexa, deve ser iniciada pelo reconhecimento de que o jornalismo entrou no século XXI em estado de crise. E para bem enxergar o que se passa, deve-se recuperar o que se entendia por jornalismo antes de a crise surgir. 17 UNIDADE Jornalismo, Linguagem Performativa Em seu livro A opinião no jornalismo brasileiro4, José Marques de Melo percorre alguns dos autores que ao longo do século XX mais profundamente estudaram o assunto. E propõe a seguinte síntese: “Jornalismo é concebido como um processo social que se articula a partir da relação (periódica/oportuna) entre organizações formais (editoras/emissoras) e coletividades (públicos receptores), através de canais de difusão (jornal/revista/ rádio/televisão...) que asseguram a transmissão de informações (atuais) em função de interesses e expectativas (universos culturais ou ideológicos).” Temos, aí, o entendimento do jornalismo como processo inteiramente contro- lado pelo jornalista, em torno do qual tudo girava. Trabalhava-se com uma noção passiva de atualidade (“as coisas que aconteciam”), sobre a qual o jornalista atuava de forma determinante, com a sua capacidade de “captar e recriar fatos”. Só acon- tecia o que fosse noticiado pelo jornalista e sob sua decisão. Logo, não havia no- tícia fora das redações estabelecidas e sem a intervenção mediadora do jornalista. As fontes, reduzidas a entes sem vida própria, nem citadas eram, como se não fizessem parte do processo jornalístico. No muito que li dos vários teóricos desse tempo, não encontrei uma perguntinha essencial que a experiência me ensinou quando era repórter de rua, nas décadas de 50 e 60 do século passado: como fazer jornalismo sem fontes? A crise resulta da superação dos antigos conceitos pela realidade nova, moldada no ambiente de redes universais, criado pelas modernas tecnologias de difusão. E a mais importante decorrência da vertiginosa evolução tecnológica é, a meu ver, a irreversível expansão de ideias, práticas e estruturas de democracia participativa, com sujeitos sociais dotados de alta capacidade de intervenção na vida real de nações, instituições e agrupamentos humanos. E daí? – Perguntarão vocês. Daí, o todo do processo jornalístico foi profundamente alterado por uma nova relação entre o fato e a notícia. No velho conceito e na velha realidade, havia um intervalo – o intervalo que o poder das redações ocupava – entre “o acontecido” e “o noticiado”. Na ocupação desse intervalo, as grandes redações exerciam, ou imaginavam exercer, um poder exclusivo sobre a notícia. Como todos já sabemos, o intervalo entre o acontecimento e a notícia simplesmente desapareceu. E aí está a razão da crise. O controle da notícia pertence, hoje, a quem produz os acontecimentos, os fatos, as falas e os conhecimentos noticiáveis. Ou seja, os conteúdos discursivos que os meios de comunicação socializam. 4 MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro, Petrópolis, Vozes, 1985. 18 19 Tendo “o fato produzido” e a sua notícia como principais ferramentas de ação, as fontes, antigamente passivas, se transformaram em instituições deliberadamente produtoras de conteúdos, por meio de fatos noticiáveis. O jornalismo está em crise, mas não está destruído. Ao contrário: como espaço público de embates discursivos e linguagem confiável de relato e comentário, cumpre papel cada vez mais importante nas sociedades democratizadas e nos processos da construção democrática. Mas as formas e os espaços de exercício da profissão precisam de uma discussão que modernize os conceitos. O mapeamento dos espaços de exercício das competências profissionais terá de adequar-se às novas realidades, às novas lógicas e aos novos poderes geradores e socializadores da informação jornalística. Essa é uma questão que interessa diretamente a vocês, estudantes de jornalismo, pois tem a ver com a expansão do trabalho que vos espera e com a preparação técnica, ética e intelectual para ocupar esse mercado. Já é previsível que esse mercado de trabalho vai-se caracterizar, cada vez mais, pelas demandas de bons profissionais para uma pluralidade de polos de competência jornalística – competência profissional e intelectual. O mundo da civilização digital precisará de bons jornalistas não apenas nas redações de jornais e revistas do mundo do papel e no mundo dos produtos digitais. Haverá mercado para bons jornalistas nas instituições geradoras de fatos e conteúdos onde a notícia deve nascer já como produto jornalístico. A discussão pública precisará de bons jornalistas nos espaços (já em crescimento) do empreendedorismo e do exercício liberal da profissão, até mesmo em áreas especializadas (técnicas, teóricas e estratégicas) dos mercados de consultoria. Em resumo: a crise na profissão existe; mas é uma crise boa, que caminhará para boas soluções, porque nunca o jornalismo foi tão socialmente usado e tão importante para caminhada humana quanto hoje. De olho no futuro Em tempos de revolução das fontes, duas recomendações devem ser feitas aos jornalistas em formação nas faculdades (como vocês) ou em início de carreira, onde quer que trabalhem: 1) sem arrogância nem frustrações, vamos olhar, entender e valorizar a dinâmica nova em que atuamos ou vamos atuar. 2) em redações ou em outras frentes do mercado de trabalho, cultivar a sabedoria da humildade. São veredas que podem ajudar a alcançar a lucidez necessária para descobrir e compreender os novos papéis que o mundo de hoje solicita dos jornalistas. Provavelmente, papéis de narrador ou analista crítico, confiável, independente, 19 UNIDADE Jornalismo, Linguagem Performativa radicalmente honesto, comprometido com o projeto ético da sociedade; e intelectualmente preparado para a observação, o entendimento e a elucidação dos conflitos daatualidade. É o que vos desejo, como professor, e espero que este curso possa ajudar decisiva- mente na vossa formação de profissionais aptos para os tempos novos do jornalismo. Pensando nesse objetivo, arrisco um pequeno depoimento pessoal. Trabalhei pelo menos dez anos como repórter. Depois, as funções de chefia me tiraram das ruas. Mas, desses dez anos (bem organizados no baú das lembranças...), guardei ensinamentos que muito me serviram para aulas, na tarefa, assumida aos 50 anos, de ajudar a formar repórteres. É verdade que as conexões com a teoria, impostas pela cultura acadêmica, deram ao meu entendimento de reportagem complicações que não existiam na cabeça do antigo repórter. Mas deixemos as complicações de lado para dar clareza e precisão a uma ideia em que continuo a acreditar: tanto quanto antigamente, o sucesso do jornalismo depende da boa reportagem, qualquer que seja o seu forma- to, o seu tamanho e a sua plataforma. No entendimento que tenho, boa reportagem será sempre o resultado da exis- tência e da relação solidária, bem articulada, de três pré-condições: um bom repór- ter; um bom assunto; um bom motivo. A ausência de qualquer dessas condições resultará no fracasso da reportagem. Falemos primeiro do repórter e do seu objeto. Ou melhor, do bom repórter e do bom assunto. O bom repórter só surgirá se for movido pela energia de se sentir ligado ao mundo e à vida. Não pelo sonho ou pela imaginação, mas pela conexão à realidade circundante, porque aí estarão os bons assuntos, explícitos ou ocultos. Se o repórter não tiver a capacidade de enxergar o mundo nos limites e nos fatos da aldeia por onde transita, é melhor que troque de ramo. A relação do repórter com a realidade circundante terá de ser a de um indaga- dor insaciável, mas metódico. Indagador de olhares, para captar as manifestações do quotidiano das pessoas, pois nelas estão os sinais aparentes da complexidade dos grandes temas e dramas. Indagador de perguntas, sem elas, jamais irá além das aparências. Sem a arte e o atrevimento de associar a pergunta ao olhar, não haverá bom repórter nem bom assunto, pois lhe será impossível atribuir significados e dimen- sões ao que vê. Mas, a arte da pergunta não é truque de mágica nem mero exercício de es- perteza. Pergunta não cai do céu nem nasce da invencionice. Pergunta nasce da relação inteligente com o conteúdo a produzir e com suas razões. Faz parte de uma estratégia de pensar, que define e organiza a fronteira entre o que se sabe e o que é 20 21 precisa saber e entre o que se vê e o que é preciso desvendar. Sempre vislumbran- do caminhos e escolhas para se chegar ao conhecimento pretendido. Mas, para percorrer criativamente esses caminhos, a profissão exige cada vez mais uma boa formação intelectual. Na hora de escrever, depois de uma boa investigação, o segredo principal deve- rá ser o de escolher e assumir um ponto de vista. Sem ponto de vista não haverá como escolher nem como articular relevâncias. E sem relevâncias nítidas e bem articuladas, jamais contaremos uma boa história. Do bom repórter e do bom assunto, o que importa dizer, está dito. Quanto ao bom motivo, basta uma frase: sem razões éticas, não haverá bom repórter, nem bom assunto, nem boa reportagem, porque todas as razões do bom jornalismo terão de ser éticas. Pensem nisso! 21 UNIDADE Jornalismo, Linguagem Performativa Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros O texto da reportagem impressa - um curso sobre sua estrutura COIMBRA, Oswaldo, O texto da reportagem impressa - um curso sobre sua estrutura, São Paulo, Ática, 1993. O Dizer e o Dito DUCROT, Oswald, O Dizer e o Dito, Campinas, Pontes, 1987. Conceito de texto ECO, Humberto, Conceito de texto, São Paulo, Edusp, 1984. Interpretação e superinterpretação ECO, Humberto, Interpretação e superinterpretação, São Paulo, Martins Fontes, 1993. 22 23 Referências ALBERTOS, José Luiz Martinez, Curso general de redacción periodística, MTadrid, Paraninfo,1992. AUSTlN, John angshaw, Sentido e percepção, São Paulo, Martins Fontes, 1993. BARTHES, Roland, Crítica e Verdade, São Paulo, Perspectiva, 1982. BELAU, Angel Faus, La ciencia periodística de Oito Groth. Navarra, Universidade de Navarra, 1966. BRANDÃO, Helena H. Nagamine, Introdução à análise do discurso, Campinas, Unicamp,1994. CASASÚS, Josep Maria, lniciación a Ia periodística, Barcelona, Teide, 1988. CHAPARRO, Manuel Carlos, Pragmática do Jornalismo - buscas práticas para uma teoria da ação jornalística, 3ª edição, São Paulo, Summus, 2007. CHAPARRO, Manuel Carlos, Sotaques d’Aquém e d’Além mar – Travessias para uma nova teoria de gêneros jornalísticos, São Paulo, Summus, 2008. COIMBRA, Oswaldo, O texto da reportagem impressa - um curso sobre sua estrutura, São Paulo, Ática, 1993. DUCROT, Oswald, O Dizer e o Dito, Campinas, Pontes, 1987. ECO, Humberto, Conceito de texto, São Paulo, Edusp, 1984. ECO, Humberto, Interpretação e superinterpretação, São Paulo, Martins Fontes, 1993. KIENTZ, Albert, Comunicação de massa - análise de conteúdo, Rio de Janeiro, Eldorado, 1973. LAGE, Nilson, Linguagem jornalística, São Paulo, Ática, 1985. LlNS DA SILVA, Carlos Eduardo, O adiantado da hora - a influência americana sobre o jornalismo brasileiro, São Paulo, Summus, 1991. LlNS DA SILVA, Mil dias - os bastidores da revolução de um grande jornal, São Paulo, Trajetória Cultural, 1988. MARQUES DE MELO, José, Sociologia da imprensa brasileira, Petrópolis, Vozes, 1973. MEDINA, Cremilda, Entrevista, o diálogo possível, São Paulo, Ática, 1986. RICOEUR, Paul, O discurso da acção, Lisboa, Edições 70, 1988. RODRIGUES, Adriano Duarte, Dimensões pragmáticas do sentido, Lisboa, Cosmos, 1996. 23 UNIDADE Jornalismo, Linguagem Performativa SEARLE, John R., Os actos de fala, Coimbra, Almedina, 1981. SODRÉ, Nelson Werneck, A história da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966. VERON, Eliseo, A produção do sentido, São Paulo, CuItrix/Edusp, 1980. VERON, Eliseo, Construir el acontecimiento, Buenos Aires, Gedisa, 1983. 24
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