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Unidade 3 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 
 
1 
 
Lei orgânica 
 As leis são as normas e regras jurídicas de um 
país. 
 A lei do tipo orgânica regulamenta os direitos 
fundamentais da população e o desenvolvimento dos 
poderes públicos. 
 A lei orgânica é amparada na esfera da 
magistratura nacional pela lei complementar número 
35 de 1979. Esta lei é subordinada pela 
constituição estadual e federal, sendo uma conexão 
intermediária entre a constituição e as leis ordinárias. 
 O artigo 29 da Constituição Federal descreve 
a lei orgânica como sendo os regimentos 
organizatórios municipais. Já quando se alude aos 
regimentos dos estados, denomina-se estes de 
constituição estadual. Para uma lei orgânica ser 
aprovada, é necessária a obtenção da supremacia 
de votos favoráveis à mesma, pois esta trata de 
temas importantes para a população, exigindo maior 
rigor na sua instituição e alteração (BRASIL, 1990). 
 No município, a lei orgânica representa a lei 
de maior magnitude, devendo, no entanto, respeitar 
as diretrizes da Constituição Federal da República. 
Para uma lei orgânica ser estabelecida, é preciso 
haver a aprovação da câmara municipal e a 
superioridade de 2/3 dos votos dos vereadores; 
após aprovada, esta não pode ser facilmente 
modificada, mesmo que seja a vontade do prefeito 
da cidade. 
 A elaboração de leis orgânicas, de maneira 
autônoma, pelos municípios é um processo 
relativamente recente. Voltando no tempo e 
analisando o histórico de constituições brasileiras, 
podemos verificar que: 
A) A constituição de 1824, vigente durante o 
Brasil império, nem ao menos utilizada a palavra 
município; 
B) A constituição de 1891 afirma, somente, que 
os estados devem se organizar para assegurar a 
soberania dos interesses municipais; 
C) A constituição de 1934 e 1937 menciona o 
estabelecimento da lei orgânica somente para o DF. 
D) A constituição de 1946 faz alusão à lei 
orgânica, somente, para designar que até a 
promulgação desta, a lei deve se manter conforme a 
legislação precedente. 
E) A constituição de 1967 não faz referências 
diretas à lei orgânica. 
F) A constituição de 1988, atualmente vigente, 
afirma, no seu artigo 29, que o município irá reger-se 
através da lei orgânica, com votação em dois turnos, 
e com a interstício mínimo de dez dias. Ela deve ser 
aprovada por 2/3 dos membros da câmara municipal, 
que a promulgará, desde que sejam atendidos os 
princípios estabelecidos na constituição. 
 Como visto, as leis orgânicas começaram a ser 
estabelecidas somente no Brasil República; com o fim 
do império priorizou-se dar autonomia aos estados e 
consentir que estes determinassem a autonomia dos 
seus respectivos municípios. Foi com a constituição 
federal de 1988 que se instituiu a total autoridade dos 
municípios na criação de suas próprias leis orgânicas. 
Também foi a partir dessa época que a federação 
passou a ser composta pelos âmbitos da união, dos 
estados, dos municípios e do distrito federal. 
 A cada âmbito federativo foi destinado um 
conjunto de autonomias organizativas, monetárias, 
administrativas, legislativas e políticas. A autonomia 
organizativa refere-se à autonomia dada aos 
municípios no que se refere ao estabelecimento de 
suas leis orgânicas. A autonomia monetária engloba a 
criação, arrecadação e aplicação dos impostos 
municipais, assim como a gerência dos recursos 
provenientes dos repasses da união e dos estados. A 
autonomia administrativa está relacionada à gestão 
dos serviços públicos municipais. A autonomia 
legislativa denota a concepção de normas locais, 
sendo enfatizadas as particularidades de cada 
município. A autonomia política se dá por meio da 
eleição dos prefeitos e vereadores e da posterior 
chance de cassação dos seus governos pela câmara 
municipal (CORRALO; CARDOSO, 2016). 
 As normas constituintes anteriores a 1988 
davam precedentes para que os estados escolhessem 
o tipo de sistema que lhes proporcionasse maior 
poder, salvo os estados de Goiás e do Rio Grande do 
Sul, que seguiam o método de carta própria desde a 
primeira constituição. O sistema de carta própria 
delegava ao município o direito de estabelecer as 
suas leis fundamentais. Com a constituição de 1988, 
todos os municípios passaram a ser Entes Federados 
e, consequentemente, a ter mais autonomia 
organizacional, podendo elaborar suas próprias leis 
orgânicas. 
 Curiosidade – o poder constituinte faz parte 
da história mundial desde as primeiras organizações 
políticas. Onde quere que haja uma comunidade 
social e uma força política ativa, existirá um impulso 
inicial que institui esse poder, dando-lhe molde, 
normas e decretos. 
 Atualmente os estados brasileiros possuem 
autonomia para modificar as leis institucionais que 
designam as diretrizes organizacionais da 
composição e do desempenho dos órgãos municipais. 
É no desenvolvimento das leis orgânicas que os 
municípios estruturam os seus poderes executivo e 
legislativo. 
 Existem muitas críticas em relação ao sistema 
vigente de leis orgânicas. Aqueles que divergem 
afirmam que estas entregam um 
desproporcional poder aos municípios, sendo que 
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grande parte destes não possuem preparo para isto. 
Outro forte argumento refere-se à aptidão e formação 
dos vereadores, muitas vezes insuficiente, para 
desenvolver as leis orgânicas, dada a complexidade 
desta tarefa 
 
A Lei do tipo orgânica na disposição jurídica 
 As leis orgânicas são estendidas por muitos 
como uma espécie de constituição. 
 É fundamental compreender que, em uma 
escala hierárquica, a Constituição Federal vem em 
primeiro lugar, sendo que todas as leis, inclusive as 
orgânicas, devem respeitar os preceitos desta. O 
poder constituinte divide-se em dois tipos, o poder 
originário e o derivado. 
 O poder constituinte originário é caracterizado 
como supremo e político, manifestando-se por um 
evento que rompe com a ordem jurídica precedente, 
provocando a necessidade de se criar outra 
constituição, um novo modo de organizar o estado e 
gerir as reivindicações da sociedade. O poder 
derivado é instaurado pelo poder originário, sendo 
decorrente da necessidade da constituição se ajustar 
constantemente à evolução da população. A função 
do poder derivado é a de realizar modificações no 
texto constitucional. O poder derivado subdivide-se 
em poder reformador e poder decorrente. 
 O reformador embasa-se na perspectiva de 
alteração do texto constitucional. O poder decorrente 
fundamenta-se na aptidão de auto-organização dos 
estados, através das suas constituições estaduais. 
Este poder tem como atributo a complementariedade 
à Constituição Federal. Semelhantemente, 
o município possui também o poder decorrente, fato 
que lhe garante juridicidade para o estabelecimento 
das leis orgânicas municipais. Deste modo, a 
constituição federal, é para a união, o equivalente ao 
que a lei orgânica municipal é para o município. 
 Curiosidade – o município legisla para si a 
partir das atribuições dadas a ele pela Constituição 
Federal da República lhe permite. As leis orgânicas 
estão hierarquicamente acima de todas as outras 
normas legislativas regionais, no âmbito das 
competências municipais. 
 A lei orgânica do município é dotada de 
maior positividade que as simples leis ordinárias 
municipais. A validade destas só entram em vigor se, 
e enquanto, se adequarem à primeira. Resumindo, as 
leis ordinárias municipais haurem a validade e a 
legitimidade na lei orgânica do respectivo município. 
Elas ficam, assim, em um patamar inferior da 
chamada pirâmide jurídica. Havendo um 
descompasso entre elas, prevalecerá a de maior 
hierarquia jurídica: a lei orgânica municipal 
(CARRAZZA, 2003). 
 
A Lei orgânica e a administração municipal 
 Os municípios são empoderados para criarem 
as leis orgânicas de modo a suprir as suas principais 
demandas. Nesse contexto, as leis orgânicas 
possuem as subsequentes responsabilidades(CORRALO, 2008): 
A) Garantir os direitos fundamentais, a 
participação da população e o controle social; 
B) Manter a funcionalidade e a organização do 
poder executivo e legislativo; 
C) Organizar a administração municipal dos bens 
e serviços; 
D) Administrar as finanças municipais, incluindo 
os preceitos tributários e orçamentários; 
E) Planejar a ordem econômica e social e abarcar 
as mais diversas políticas públicas municipais. 
 A lei orgânica abrange aspectos 
administrativos e de políticas públicas sociais, a fim de 
assegurar direitos fundamentais da população em 
todos os âmbitos. É por essas atribuições que a 
autonomia municipal é considerada extremamente 
importante para a federação, pois ela possibilita que 
cada município se estruture de acordo com suas 
necessidades, otimizando a resolução dos problemas 
enfrentados pela sociedade. 
 
Lei 8.080/90 e 8.124/90 
 As leis números 8.080 e 8.142 são leis do tipo 
orgânica, que foram instituídas em 1990 para reger a 
saúde e regulamentar o Sistema Único de Saúde 
(SUS). Ambas são válidas em todo território nacional, 
sendo conhecidas e denominadas como as “leis 
orgânicas da saúde”, as quais discorrem 
preponderantemente a respeito do repasse 
intergovernamental de verbas na saúde, da presença 
da sociedade na gestão do SUS, e da estrutura e 
execução de atividades no sistema público de saúde 
(ROCHA, 2012; MOREIRA, 2018). 
 As leis orgânicas da saúde têm como proposito 
o esclarecimento da conjuntura adequada à 
realização da proteção, recuperação e promoção da 
saúde no país. Elas normatizam o modo de execução 
dos serviços de saúde, que podem ser realizados em 
caráter eventual ou definitivo, de modo individual ou 
coletivo, por pessoas jurídicas ou físicas, e no âmbito 
público ou privado. Um aspecto elementar e 
prevalecente dessas leis é a instauração da saúde 
como um direito da população e como um dever do 
Estado, o qual tem a obrigação de assegurar a 
assistência por meio do desenvolvimento de políticas 
públicas de saúde e programas sociais. 
 Por designarem a saúde como um direito 
fundamental a vida, à aprovação das leis 8.080/90 e 
8.142/90 foram, e são, compreendidas como uma 
importante vitória da sociedade brasileira. Estas 
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enfatizam que o governo é responsável por garantir o 
acesso universal, integral e equitativo em todos os 
níveis de atenção à saúde. Ressalta-se, no entanto, 
que as leis orgânicas da saúde não se abstêm da 
responsabilidade individual de cada cidadão, família e 
empregador de proteger e promover a saúde dos seus 
dependentes. 
 A definição de saúde é contemplada pela lei 
8.080/90, na qual ela é relacionada a determinantes e 
condicionantes socioeconômicos, como: as condições 
de moradia, alimentação, saneamento básico, 
trabalho, lazer e educação. Os aspectos de saúde de 
uma população e o acesso a serviços essenciais a 
uma vida digna são fatores que compõem o índice de 
desenvolvimento de um país no contexto global 
(BRASIL, 1990; SOLHA, 2014). 
 
Lei 8.080/90 e os objetivos do SUS 
 A lei 8.080/90 dispõe sobre a formação do 
SUS, denotando que este é constituído por uma 
variante de condutas e serviços de saúde que 
englobam órgãos de manejo de qualidade, pesquisa e 
fabricação de insumos, remédios, hemoderivados e 
equipamentos para saúde, os quais são ofertados por 
entidades públicas e privadas, da gestão direta e 
indireta, a nível do governo federal, estadual e 
municipal. 
 A lei 8.080/90 atribui ainda como objetivos do 
SUS (BRASIL, 1990; ARRUDA, 2017): 
 O reconhecimento e o esclarecimento à 
população, sobre os aspectos essenciais para 
a manutenção da saúde; 
 A elaboração de programas de assistência à 
saúde através do fomento da proteção, 
recuperação e promoção dela, juntamente 
com o desenvolvimento de medidas 
preventivas e assistenciais; 
 A vigilância e o aconselhamento nutricional, 
com especial atenção aos indivíduos 
vulneráveis; 
 O controle e a averiguação da qualidade da 
água e dos alimentos consumidos, a fim de 
impedir a propagação de infecções e 
moléstias; 
 O desenvolvimento e a realização de medidas 
incrementadoras de saneamento básico; 
 A defesa e a preservação do meio ambiente; 
 A fiscalização da criação, armazenamento, 
deslocamento e emprego de: fármacos com 
potencial tóxico, psicoativo e radioativo; 
substâncias imunobiológicas e 
hemoderivadas; máquinas, instrumentos e 
aparatos utilizados para assegurar a saúde da 
população; 
 A vigilância epidemiológica, que é responsável 
por reconhecer e prevenir a disseminação de 
doenças; 
 Suscitar e resguardar a saúde dos 
trabalhadores, detectando os potenciais riscos 
consecutivos às condições laborais e 
fomentando a sua recuperação e reabilitação. 
 A lei 8.080/90 exige que todas as políticas 
públicas de saúde sigam os princípios da 
universalidade, equidade, integralidade, 
regionalização e hierarquização, de modo a 
resguardar a individualidade e a soberania de cada 
indivíduo. Esta também fomenta: o respeito à 
participação social nas decisões governamentais; a 
descentralização da gestão e a integração em âmbito 
executivo das medidas de saúde, de modo a conectar 
os fundos monetários, os recursos humanos, 
materiais e tecnológicos dos municípios, estados e 
união na atenção à saúde da sociedade. 
 De acordo com a lei 8.080/90, a assistência 
prestada pelo SUS deve sempre obedecer a um 
padrão de complexidade crescente, ou seja, do nível 
mais simples para o nível mais complexo. Em relação 
à gestão do SUS, a lei designa que as três esferas do 
governo participem ativamente desta. Observe 
atentamente o Diagrama 1 para entender melhor a 
estruturação da gestão do SUS. 
 
 É importante ressaltar que a lei 8.080/90 
respalda como livre à iniciativa privada o direito de 
intervir e atuar na saúde, legitimando esta a agir na 
prevenção, reabilitação, proteção e promoção da 
saúde, através de profissionais e pessoas jurídicas e 
ou físicas. No entanto, fica vedada a atividade direta e 
indireta de instituições internacionais na assistência à 
saúde no Brasil, salvo os donativos de empresas 
conectadas à Organização das Nações Unidas (ONU) 
e às fundações de financiamento e apoio técnico. 
 O orçamento do SUS é determinado com base 
nas leis orgânicas da saúde que tratam do orçamento 
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da seguridade social e da atuação da previdência 
social, levando sempre em consideração os objetivos 
estipulados na lei de diretrizes orçamentárias. Os 
parâmetros que especificam os recursos a serem 
repassados para as esferas do governo são 
deliberados por meio: dos dados demográficos e 
epidemiológicos de cada local, da cota de contribuição 
do departamento da saúde nos orçamentos do 
município e estado, bem como da performance 
econômica do ano decorrido. 
 Desde 1990, ano em que foi aprovada, a lei 
8.080 vem sendo acrescida de outras leis, como 
(MOREIRA, 2018): 
 Lei 9.836/99, que estabeleceu um programa 
de amparo à saúde indígena; 
 Lei 10.424/2002, que incorporou a assistência 
à saúde no nível domiciliar; 
 Lei 11.108/2005, que garantiu à parturiente a 
concessão de ter um acompanhante durante o parto; 
 Emenda Constitucional 29 e a lei 
complementar 141/2012, que normatizaram o 
orçamento do sistema de saúde. 
 Agora que já discutimos e entendemos os 
preceitos da lei 8.080/90, vamos analisar 
detalhadamente a lei orgânica 8.142/90. É importante 
você já começar sabendo que a promulgação da lei 
8.142 aconteceu dois anos após a instituição do SUS, 
sendo esta, portanto, um importante marco histórico 
para a regulamentação dos serviços de saúde, já que 
a mesma engloba medidas garantidoras da 
participação social na gerência do SUS e deliberações 
econômicas intergovernamentais do sistema de 
saúde. 
 No tocante à participação social, a lei orgânica 
8.142 expressa duas competências, as Conferências 
Nacionaisde Saúde e o Conselho de Saúde. As 
conferências de saúde são realizadas no intervalo de 
quatro anos, e contam com a presença de inúmeros 
representantes sociais. Os principais objetivos das 
conferências são analisar a conjuntura de saúde do 
país e discutir a elaboração de propostas para os 
problemas de saúde pública identificados (BRASIL, 
1986; SALIBA et al, 2009). 
 O conselho de saúde é um grupo delegado 
deliberativamente e permanentemente. Este grupo é 
constituído por funcionários do governo, profissionais 
da saúde, usuários do SUS e prestadores de serviços 
em saúde. O conselho é responsável por desenvolver 
mecanismos de manejo da efetivação da política de 
saúde pública, incluindo a criação de medidas 
socioeconômicas. 
 O artigo 2 da lei 8.142 trata dos recursos do 
Fundo Nacional de Saúde, que são investidos na 
cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar, sendo 
alocados das seguintes formas (ROLIM et al, 2013): 
 Como cobertura das ações e serviços de 
saúde a serem implementados pelos estados e 
municípios; 
 Através de investimentos previstos no plano 
quinquenal do Ministério da Saúde; 
 Por meio de investimentos pressupostos em 
lei orçamentária; 
 Como despesas de custeio e de capital do 
Ministério da Saúde. 
 
Lei 8.080/90 e 8.142/90 e a reforma sanitária 
do Brasil 
 A Reforma Sanitária tem sua origem 
relacionada à formação de um grupo que era 
composto por: profissionais da saúde, sindicalistas, 
estudantes, filósofos e representantes de 
organizações populares. Este grupo compartilhava 
do mesmo ideal: o direito universal à saúde. 
Felizmente este ideal foi alcançado na 8º edição da 
Conferência Nacional de Saúde, a qual contou com 
mais de 5.000 participantes, ficando conhecida na 
época como a maior reunião da história dos 
movimentos sociais. 
 Pode-se dizer que o SUS foi criado graças à 
luta incessante do movimento da Reforma Sanitária e 
a batalha dos participantes das Conferências 
Nacionais de Saúde. Após a instituição do SUS, 
surgiu a necessidade da normatização do mesmo, 
ocorrendo esta através das leis 8.080/90 e 8.142/90. 
Essas leis estabeleceram alterações no sistema de 
saúde que vêm ao encontro da luta e do proposito 
fomentado pela Reforma Sanitária (PAIVA; 
TEIXEIRA, 2014; BRASIL, 1986). 
 
Organização dos serviços de saúde 
 O Brasil é o 5º maior País do mundo em 
território e o 6º maior em população. A imensidão do 
Brasil, somada ao fato de que os usuários do SUS 
podem ser, teoricamente, toda a sociedade brasileira, 
faz com que a organização da saúde pública e dos 
seus serviços ofertados sejam um enorme desafio 
governamental. 
 A Constituição Federal de 1988, vigente 
atualmente, é um símbolo democrático, pois esta 
instituiu direitos fundamentais à população. É a 
constituição que resguarda os princípios e diretrizes 
do SUS, assegurando o direito aos serviços de saúde 
pública a sociedade. 
 O SUS possui um sistema de atendimento 
regionalizado e hierarquizado, de acordo com o nível 
de complexidade da assistência necessária. Este 
sistema fundamenta-se em princípios doutrinários e 
organizacionais, os quais asseguram que a população 
possui o direito de ser assistida conforme as suas 
carências individuais e coletivas, de forma a 
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disponibilizar uma assistência integral à saúde 
(ARRUDA, 2017). 
 O artigo 198 da Constituição Federal da 
República diz que as ações e serviços públicos de 
saúde integram uma rede regionalizada e 
hierarquizada, que constituem um sistema único de 
saúde do País. Segundo esse mesmo artigo, os 
serviços de saúde devem ser (BRASIL, 1988): 
 Descentralizados, possuindo uma direção 
única em cada âmbito do governo; 
 Integrais, priorizando as ações preventivas, 
sem causar prejuízo aos serviços assistenciais; 
 Constituídos pela participação popular. 
 O sistema de saúde pública brasileiro fomenta 
alterações na forma de delinear, organizar e gerenciar 
os serviços de saúde, enfatizando um padrão de 
organização que foca e enaltece o nível municipal. 
Antes de nos aprofundarmos mais sobre o sistema de 
organização dos serviços de saúde, temos que 
conhecer os princípios da gestão em saúde. Para isso, 
observe atenciosamente o Diagrama 2. 
 
 A constituição reconhece que os municípios 
são autônomos em relação aos estados e à união. 
Esta preconiza que as políticas públicas de saúde 
sejam harmoniosas, preservando a autonomia de 
cada esfera do governo e pautando as decisões em 
consensos. Os preceitos do SUS fortalecem a 
descentralização, de modo que os municípios 
administrem os serviços de saúde de acordo com as 
demandas e carências locais. Com a 
descentralização, os municípios passaram a ser 
incumbidos de realizar medidas e ações para 
qualificar os serviços e estruturar a rede de atenção à 
saúde, pois a assistência e a gestão da saúde não se 
encerram nas divisas territoriais do município. 
 A regionalização do SUS foi estabelecida 
como uma medida para assegurar o direito à saúde, 
diminuir as desigualdades, favorecer a integralidade e 
a equidade da atenção, simplificar as despesas, 
fortalecer o patrimônio e intensificar o curso de 
descentralização. A Lei 8.080/90 determinou, por meio 
do decreto 7.508, as obrigações da união, municípios 
e estados, estipulando limites para cada esfera do 
governo na organização da assistência em todos os 
níveis de atenção à saúde. 
 
Sistema de organização hierárquica de 
atenção à saúde 
 O SUS é um programa integrado, estruturado 
em uma rede hierarquizada e regionalizada. 
Historicamente, a organização dos serviços públicos 
de saúde é dividida em três amplos conjuntos de 
assistência, sendo eles (MENDES, 2010; MOREIRA, 
2018): 
 A atenção básica, que é a porta de entrada do 
sistema, prestando assistência de baixa 
complexidade, englobando unidades básicas de 
saúde, ambulatórios, o programa saúde da família e o 
programa de agentes comunitários da saúde; 
 A média complexidade, a qual é composta por 
ambulatórios, clínicas e hospitais especializados da 
rede pública e privada de saúde; 
 A alta complexidade que disponibiliza 
atendimento em diversas especialidades, incluindo 
procedimentos de alto custo e que exigem grande 
aparato tecnológico, como a realização de 
transplantes. 
 Observe atentamente o Diagrama 3, que 
demonstra o sistema de saúde piramidal e 
hierárquico, que divide a saúde em níveis de 
complexidade. 
 Nos últimos anos, o sistema hierárquico não 
tem obtido os resultados desejados frente às 
demandas de saúde da população. Por este motivo, 
novas medidas têm sido implementadas pelo 
Ministério da Saúde no país, como o sistema de redes 
de atenção à saúde. 
 
Sistema de redes de atenção à saúde 
 Atualmente, o Ministério da Saúde vem 
tentando implementar no País o sistema de redes de 
atenção à saúde. Diferentemente do sistema 
hierárquico e piramidal, separado em níveis de 
complexidade, as redes de atenção à saúde possuem 
o propósito de integrar os serviços, disponibilizando 
uma assistência mais efetiva, humanizada e em 
conformidade com os princípios doutrinários do SUS. 
O sistema de rede fomenta o vínculo entre a atenção 
hospitalar e a atenção básica, estabelecendo serviços 
de referência e subdivisões de cuidados específicos à 
saúde do paciente (MOREIRA, 2018). 
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 Para o sistema de redes, a unidade básica de 
saúde é a porta de entrada do paciente no SUS, 
podendo este ser direcionado pela unidade a outros 
serviços da rede, quando necessário. É importante 
ressaltar que o sistema de redes entende que uma 
unidade de pronto atendimento e um ambulatório de 
especialidades médicas possuem a mesma 
importância, ou seja, um serviço não é considerado 
inferior ou superior ao outro. 
 
 As redes de atenção à saúde são organizadas 
através de um complexo de unidades assistenciais à 
saúde. A implantação dessas redes otimiza as 
condiçõessanitárias e econômicas do sistema público 
de saúde. Não existe somente um único padrão 
organizacional das redes de atenção à saúde, 
entretanto, o Ministério da Saúde considera que os 
seguintes quesitos são essenciais ao seu 
funcionamento (ARRUDA, 2017; MOREIRA, 2018): 
 Recursos humanos suficientes, competentes, 
comprometidos e com incentivos pelo alcance de 
metas da rede; 
 Vasta cadeia de empresas de saúde que 
oferecem serviços individuais e coletivos de 
promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, 
reabilitação e cuidados paliativos; 
 Atenção básica à saúde estruturada como 
primeiro nível de atenção e porta de entrada 
preferencial do sistema, constituída de equipe 
multidisciplinar que cobre toda a população, 
integrando, coordenando o cuidado, e atendendo às 
suas necessidades de saúde; 
 Financiamento tripartite alinhado com as 
metas da rede; 
 Participação social ampla; 
 Prestação de serviços especializados em 
locais adequados; 
 Existência de mecanismos de coordenação, 
continuidade do cuidado e integração assistencial por 
todo o contínuo da atenção; 
 Atenção à saúde centrada no indivíduo, na 
família e na comunidade, tendo em conta as 
particularidades culturais, assim como a diversidade 
da população; 
 Administração integrada dos sistemas de 
apoio administrativo, clínico e logístico; 
 Sistema de informação integrado que vincula 
todos os membros da rede, com identificação de 
dados; 
 Ação intersetorial e abordagem dos 
determinantes da saúde e da equidade em saúde; 
 Gerência baseada em resultado; 
 Sociedade e território definidos com amplo 
conhecimento de suas carências e preferências, que 
determinam a oferta de serviços de saúde; 
 Sistema de governança único para toda a rede, 
com o propósito de criar uma missão, visão e 
estratégias nas organizações que compõem a região 
de saúde; definir objetivos e metas que devam ser 
cumpridos no curto, médio e longo prazo; articular as 
políticas institucionais; e desenvolver a capacidade de 
gestão necessária para planejar, monitorar e avaliar o 
desempenho dos gerentes e das organizações. 
 A constituição da equipe de saúde deve 
sempre ser multiprofissional no sistema de rede, pois 
este acredita que as doenças são de múltiplas causas, 
requerendo, portanto, distintos conhecimentos 
profissionais, sendo também fundamental a 
manutenção do diálogo interdisciplinar entre a equipe 
(MOREIRA, 2018).

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