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Unidade 3 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 1 Lei orgânica As leis são as normas e regras jurídicas de um país. A lei do tipo orgânica regulamenta os direitos fundamentais da população e o desenvolvimento dos poderes públicos. A lei orgânica é amparada na esfera da magistratura nacional pela lei complementar número 35 de 1979. Esta lei é subordinada pela constituição estadual e federal, sendo uma conexão intermediária entre a constituição e as leis ordinárias. O artigo 29 da Constituição Federal descreve a lei orgânica como sendo os regimentos organizatórios municipais. Já quando se alude aos regimentos dos estados, denomina-se estes de constituição estadual. Para uma lei orgânica ser aprovada, é necessária a obtenção da supremacia de votos favoráveis à mesma, pois esta trata de temas importantes para a população, exigindo maior rigor na sua instituição e alteração (BRASIL, 1990). No município, a lei orgânica representa a lei de maior magnitude, devendo, no entanto, respeitar as diretrizes da Constituição Federal da República. Para uma lei orgânica ser estabelecida, é preciso haver a aprovação da câmara municipal e a superioridade de 2/3 dos votos dos vereadores; após aprovada, esta não pode ser facilmente modificada, mesmo que seja a vontade do prefeito da cidade. A elaboração de leis orgânicas, de maneira autônoma, pelos municípios é um processo relativamente recente. Voltando no tempo e analisando o histórico de constituições brasileiras, podemos verificar que: A) A constituição de 1824, vigente durante o Brasil império, nem ao menos utilizada a palavra município; B) A constituição de 1891 afirma, somente, que os estados devem se organizar para assegurar a soberania dos interesses municipais; C) A constituição de 1934 e 1937 menciona o estabelecimento da lei orgânica somente para o DF. D) A constituição de 1946 faz alusão à lei orgânica, somente, para designar que até a promulgação desta, a lei deve se manter conforme a legislação precedente. E) A constituição de 1967 não faz referências diretas à lei orgânica. F) A constituição de 1988, atualmente vigente, afirma, no seu artigo 29, que o município irá reger-se através da lei orgânica, com votação em dois turnos, e com a interstício mínimo de dez dias. Ela deve ser aprovada por 2/3 dos membros da câmara municipal, que a promulgará, desde que sejam atendidos os princípios estabelecidos na constituição. Como visto, as leis orgânicas começaram a ser estabelecidas somente no Brasil República; com o fim do império priorizou-se dar autonomia aos estados e consentir que estes determinassem a autonomia dos seus respectivos municípios. Foi com a constituição federal de 1988 que se instituiu a total autoridade dos municípios na criação de suas próprias leis orgânicas. Também foi a partir dessa época que a federação passou a ser composta pelos âmbitos da união, dos estados, dos municípios e do distrito federal. A cada âmbito federativo foi destinado um conjunto de autonomias organizativas, monetárias, administrativas, legislativas e políticas. A autonomia organizativa refere-se à autonomia dada aos municípios no que se refere ao estabelecimento de suas leis orgânicas. A autonomia monetária engloba a criação, arrecadação e aplicação dos impostos municipais, assim como a gerência dos recursos provenientes dos repasses da união e dos estados. A autonomia administrativa está relacionada à gestão dos serviços públicos municipais. A autonomia legislativa denota a concepção de normas locais, sendo enfatizadas as particularidades de cada município. A autonomia política se dá por meio da eleição dos prefeitos e vereadores e da posterior chance de cassação dos seus governos pela câmara municipal (CORRALO; CARDOSO, 2016). As normas constituintes anteriores a 1988 davam precedentes para que os estados escolhessem o tipo de sistema que lhes proporcionasse maior poder, salvo os estados de Goiás e do Rio Grande do Sul, que seguiam o método de carta própria desde a primeira constituição. O sistema de carta própria delegava ao município o direito de estabelecer as suas leis fundamentais. Com a constituição de 1988, todos os municípios passaram a ser Entes Federados e, consequentemente, a ter mais autonomia organizacional, podendo elaborar suas próprias leis orgânicas. Curiosidade – o poder constituinte faz parte da história mundial desde as primeiras organizações políticas. Onde quere que haja uma comunidade social e uma força política ativa, existirá um impulso inicial que institui esse poder, dando-lhe molde, normas e decretos. Atualmente os estados brasileiros possuem autonomia para modificar as leis institucionais que designam as diretrizes organizacionais da composição e do desempenho dos órgãos municipais. É no desenvolvimento das leis orgânicas que os municípios estruturam os seus poderes executivo e legislativo. Existem muitas críticas em relação ao sistema vigente de leis orgânicas. Aqueles que divergem afirmam que estas entregam um desproporcional poder aos municípios, sendo que Unidade 3 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 2 grande parte destes não possuem preparo para isto. Outro forte argumento refere-se à aptidão e formação dos vereadores, muitas vezes insuficiente, para desenvolver as leis orgânicas, dada a complexidade desta tarefa A Lei do tipo orgânica na disposição jurídica As leis orgânicas são estendidas por muitos como uma espécie de constituição. É fundamental compreender que, em uma escala hierárquica, a Constituição Federal vem em primeiro lugar, sendo que todas as leis, inclusive as orgânicas, devem respeitar os preceitos desta. O poder constituinte divide-se em dois tipos, o poder originário e o derivado. O poder constituinte originário é caracterizado como supremo e político, manifestando-se por um evento que rompe com a ordem jurídica precedente, provocando a necessidade de se criar outra constituição, um novo modo de organizar o estado e gerir as reivindicações da sociedade. O poder derivado é instaurado pelo poder originário, sendo decorrente da necessidade da constituição se ajustar constantemente à evolução da população. A função do poder derivado é a de realizar modificações no texto constitucional. O poder derivado subdivide-se em poder reformador e poder decorrente. O reformador embasa-se na perspectiva de alteração do texto constitucional. O poder decorrente fundamenta-se na aptidão de auto-organização dos estados, através das suas constituições estaduais. Este poder tem como atributo a complementariedade à Constituição Federal. Semelhantemente, o município possui também o poder decorrente, fato que lhe garante juridicidade para o estabelecimento das leis orgânicas municipais. Deste modo, a constituição federal, é para a união, o equivalente ao que a lei orgânica municipal é para o município. Curiosidade – o município legisla para si a partir das atribuições dadas a ele pela Constituição Federal da República lhe permite. As leis orgânicas estão hierarquicamente acima de todas as outras normas legislativas regionais, no âmbito das competências municipais. A lei orgânica do município é dotada de maior positividade que as simples leis ordinárias municipais. A validade destas só entram em vigor se, e enquanto, se adequarem à primeira. Resumindo, as leis ordinárias municipais haurem a validade e a legitimidade na lei orgânica do respectivo município. Elas ficam, assim, em um patamar inferior da chamada pirâmide jurídica. Havendo um descompasso entre elas, prevalecerá a de maior hierarquia jurídica: a lei orgânica municipal (CARRAZZA, 2003). A Lei orgânica e a administração municipal Os municípios são empoderados para criarem as leis orgânicas de modo a suprir as suas principais demandas. Nesse contexto, as leis orgânicas possuem as subsequentes responsabilidades(CORRALO, 2008): A) Garantir os direitos fundamentais, a participação da população e o controle social; B) Manter a funcionalidade e a organização do poder executivo e legislativo; C) Organizar a administração municipal dos bens e serviços; D) Administrar as finanças municipais, incluindo os preceitos tributários e orçamentários; E) Planejar a ordem econômica e social e abarcar as mais diversas políticas públicas municipais. A lei orgânica abrange aspectos administrativos e de políticas públicas sociais, a fim de assegurar direitos fundamentais da população em todos os âmbitos. É por essas atribuições que a autonomia municipal é considerada extremamente importante para a federação, pois ela possibilita que cada município se estruture de acordo com suas necessidades, otimizando a resolução dos problemas enfrentados pela sociedade. Lei 8.080/90 e 8.124/90 As leis números 8.080 e 8.142 são leis do tipo orgânica, que foram instituídas em 1990 para reger a saúde e regulamentar o Sistema Único de Saúde (SUS). Ambas são válidas em todo território nacional, sendo conhecidas e denominadas como as “leis orgânicas da saúde”, as quais discorrem preponderantemente a respeito do repasse intergovernamental de verbas na saúde, da presença da sociedade na gestão do SUS, e da estrutura e execução de atividades no sistema público de saúde (ROCHA, 2012; MOREIRA, 2018). As leis orgânicas da saúde têm como proposito o esclarecimento da conjuntura adequada à realização da proteção, recuperação e promoção da saúde no país. Elas normatizam o modo de execução dos serviços de saúde, que podem ser realizados em caráter eventual ou definitivo, de modo individual ou coletivo, por pessoas jurídicas ou físicas, e no âmbito público ou privado. Um aspecto elementar e prevalecente dessas leis é a instauração da saúde como um direito da população e como um dever do Estado, o qual tem a obrigação de assegurar a assistência por meio do desenvolvimento de políticas públicas de saúde e programas sociais. Por designarem a saúde como um direito fundamental a vida, à aprovação das leis 8.080/90 e 8.142/90 foram, e são, compreendidas como uma importante vitória da sociedade brasileira. Estas Unidade 3 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 3 enfatizam que o governo é responsável por garantir o acesso universal, integral e equitativo em todos os níveis de atenção à saúde. Ressalta-se, no entanto, que as leis orgânicas da saúde não se abstêm da responsabilidade individual de cada cidadão, família e empregador de proteger e promover a saúde dos seus dependentes. A definição de saúde é contemplada pela lei 8.080/90, na qual ela é relacionada a determinantes e condicionantes socioeconômicos, como: as condições de moradia, alimentação, saneamento básico, trabalho, lazer e educação. Os aspectos de saúde de uma população e o acesso a serviços essenciais a uma vida digna são fatores que compõem o índice de desenvolvimento de um país no contexto global (BRASIL, 1990; SOLHA, 2014). Lei 8.080/90 e os objetivos do SUS A lei 8.080/90 dispõe sobre a formação do SUS, denotando que este é constituído por uma variante de condutas e serviços de saúde que englobam órgãos de manejo de qualidade, pesquisa e fabricação de insumos, remédios, hemoderivados e equipamentos para saúde, os quais são ofertados por entidades públicas e privadas, da gestão direta e indireta, a nível do governo federal, estadual e municipal. A lei 8.080/90 atribui ainda como objetivos do SUS (BRASIL, 1990; ARRUDA, 2017): O reconhecimento e o esclarecimento à população, sobre os aspectos essenciais para a manutenção da saúde; A elaboração de programas de assistência à saúde através do fomento da proteção, recuperação e promoção dela, juntamente com o desenvolvimento de medidas preventivas e assistenciais; A vigilância e o aconselhamento nutricional, com especial atenção aos indivíduos vulneráveis; O controle e a averiguação da qualidade da água e dos alimentos consumidos, a fim de impedir a propagação de infecções e moléstias; O desenvolvimento e a realização de medidas incrementadoras de saneamento básico; A defesa e a preservação do meio ambiente; A fiscalização da criação, armazenamento, deslocamento e emprego de: fármacos com potencial tóxico, psicoativo e radioativo; substâncias imunobiológicas e hemoderivadas; máquinas, instrumentos e aparatos utilizados para assegurar a saúde da população; A vigilância epidemiológica, que é responsável por reconhecer e prevenir a disseminação de doenças; Suscitar e resguardar a saúde dos trabalhadores, detectando os potenciais riscos consecutivos às condições laborais e fomentando a sua recuperação e reabilitação. A lei 8.080/90 exige que todas as políticas públicas de saúde sigam os princípios da universalidade, equidade, integralidade, regionalização e hierarquização, de modo a resguardar a individualidade e a soberania de cada indivíduo. Esta também fomenta: o respeito à participação social nas decisões governamentais; a descentralização da gestão e a integração em âmbito executivo das medidas de saúde, de modo a conectar os fundos monetários, os recursos humanos, materiais e tecnológicos dos municípios, estados e união na atenção à saúde da sociedade. De acordo com a lei 8.080/90, a assistência prestada pelo SUS deve sempre obedecer a um padrão de complexidade crescente, ou seja, do nível mais simples para o nível mais complexo. Em relação à gestão do SUS, a lei designa que as três esferas do governo participem ativamente desta. Observe atentamente o Diagrama 1 para entender melhor a estruturação da gestão do SUS. É importante ressaltar que a lei 8.080/90 respalda como livre à iniciativa privada o direito de intervir e atuar na saúde, legitimando esta a agir na prevenção, reabilitação, proteção e promoção da saúde, através de profissionais e pessoas jurídicas e ou físicas. No entanto, fica vedada a atividade direta e indireta de instituições internacionais na assistência à saúde no Brasil, salvo os donativos de empresas conectadas à Organização das Nações Unidas (ONU) e às fundações de financiamento e apoio técnico. O orçamento do SUS é determinado com base nas leis orgânicas da saúde que tratam do orçamento Unidade 3 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 4 da seguridade social e da atuação da previdência social, levando sempre em consideração os objetivos estipulados na lei de diretrizes orçamentárias. Os parâmetros que especificam os recursos a serem repassados para as esferas do governo são deliberados por meio: dos dados demográficos e epidemiológicos de cada local, da cota de contribuição do departamento da saúde nos orçamentos do município e estado, bem como da performance econômica do ano decorrido. Desde 1990, ano em que foi aprovada, a lei 8.080 vem sendo acrescida de outras leis, como (MOREIRA, 2018): Lei 9.836/99, que estabeleceu um programa de amparo à saúde indígena; Lei 10.424/2002, que incorporou a assistência à saúde no nível domiciliar; Lei 11.108/2005, que garantiu à parturiente a concessão de ter um acompanhante durante o parto; Emenda Constitucional 29 e a lei complementar 141/2012, que normatizaram o orçamento do sistema de saúde. Agora que já discutimos e entendemos os preceitos da lei 8.080/90, vamos analisar detalhadamente a lei orgânica 8.142/90. É importante você já começar sabendo que a promulgação da lei 8.142 aconteceu dois anos após a instituição do SUS, sendo esta, portanto, um importante marco histórico para a regulamentação dos serviços de saúde, já que a mesma engloba medidas garantidoras da participação social na gerência do SUS e deliberações econômicas intergovernamentais do sistema de saúde. No tocante à participação social, a lei orgânica 8.142 expressa duas competências, as Conferências Nacionaisde Saúde e o Conselho de Saúde. As conferências de saúde são realizadas no intervalo de quatro anos, e contam com a presença de inúmeros representantes sociais. Os principais objetivos das conferências são analisar a conjuntura de saúde do país e discutir a elaboração de propostas para os problemas de saúde pública identificados (BRASIL, 1986; SALIBA et al, 2009). O conselho de saúde é um grupo delegado deliberativamente e permanentemente. Este grupo é constituído por funcionários do governo, profissionais da saúde, usuários do SUS e prestadores de serviços em saúde. O conselho é responsável por desenvolver mecanismos de manejo da efetivação da política de saúde pública, incluindo a criação de medidas socioeconômicas. O artigo 2 da lei 8.142 trata dos recursos do Fundo Nacional de Saúde, que são investidos na cobertura assistencial ambulatorial e hospitalar, sendo alocados das seguintes formas (ROLIM et al, 2013): Como cobertura das ações e serviços de saúde a serem implementados pelos estados e municípios; Através de investimentos previstos no plano quinquenal do Ministério da Saúde; Por meio de investimentos pressupostos em lei orçamentária; Como despesas de custeio e de capital do Ministério da Saúde. Lei 8.080/90 e 8.142/90 e a reforma sanitária do Brasil A Reforma Sanitária tem sua origem relacionada à formação de um grupo que era composto por: profissionais da saúde, sindicalistas, estudantes, filósofos e representantes de organizações populares. Este grupo compartilhava do mesmo ideal: o direito universal à saúde. Felizmente este ideal foi alcançado na 8º edição da Conferência Nacional de Saúde, a qual contou com mais de 5.000 participantes, ficando conhecida na época como a maior reunião da história dos movimentos sociais. Pode-se dizer que o SUS foi criado graças à luta incessante do movimento da Reforma Sanitária e a batalha dos participantes das Conferências Nacionais de Saúde. Após a instituição do SUS, surgiu a necessidade da normatização do mesmo, ocorrendo esta através das leis 8.080/90 e 8.142/90. Essas leis estabeleceram alterações no sistema de saúde que vêm ao encontro da luta e do proposito fomentado pela Reforma Sanitária (PAIVA; TEIXEIRA, 2014; BRASIL, 1986). Organização dos serviços de saúde O Brasil é o 5º maior País do mundo em território e o 6º maior em população. A imensidão do Brasil, somada ao fato de que os usuários do SUS podem ser, teoricamente, toda a sociedade brasileira, faz com que a organização da saúde pública e dos seus serviços ofertados sejam um enorme desafio governamental. A Constituição Federal de 1988, vigente atualmente, é um símbolo democrático, pois esta instituiu direitos fundamentais à população. É a constituição que resguarda os princípios e diretrizes do SUS, assegurando o direito aos serviços de saúde pública a sociedade. O SUS possui um sistema de atendimento regionalizado e hierarquizado, de acordo com o nível de complexidade da assistência necessária. Este sistema fundamenta-se em princípios doutrinários e organizacionais, os quais asseguram que a população possui o direito de ser assistida conforme as suas carências individuais e coletivas, de forma a Unidade 3 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 5 disponibilizar uma assistência integral à saúde (ARRUDA, 2017). O artigo 198 da Constituição Federal da República diz que as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada, que constituem um sistema único de saúde do País. Segundo esse mesmo artigo, os serviços de saúde devem ser (BRASIL, 1988): Descentralizados, possuindo uma direção única em cada âmbito do governo; Integrais, priorizando as ações preventivas, sem causar prejuízo aos serviços assistenciais; Constituídos pela participação popular. O sistema de saúde pública brasileiro fomenta alterações na forma de delinear, organizar e gerenciar os serviços de saúde, enfatizando um padrão de organização que foca e enaltece o nível municipal. Antes de nos aprofundarmos mais sobre o sistema de organização dos serviços de saúde, temos que conhecer os princípios da gestão em saúde. Para isso, observe atenciosamente o Diagrama 2. A constituição reconhece que os municípios são autônomos em relação aos estados e à união. Esta preconiza que as políticas públicas de saúde sejam harmoniosas, preservando a autonomia de cada esfera do governo e pautando as decisões em consensos. Os preceitos do SUS fortalecem a descentralização, de modo que os municípios administrem os serviços de saúde de acordo com as demandas e carências locais. Com a descentralização, os municípios passaram a ser incumbidos de realizar medidas e ações para qualificar os serviços e estruturar a rede de atenção à saúde, pois a assistência e a gestão da saúde não se encerram nas divisas territoriais do município. A regionalização do SUS foi estabelecida como uma medida para assegurar o direito à saúde, diminuir as desigualdades, favorecer a integralidade e a equidade da atenção, simplificar as despesas, fortalecer o patrimônio e intensificar o curso de descentralização. A Lei 8.080/90 determinou, por meio do decreto 7.508, as obrigações da união, municípios e estados, estipulando limites para cada esfera do governo na organização da assistência em todos os níveis de atenção à saúde. Sistema de organização hierárquica de atenção à saúde O SUS é um programa integrado, estruturado em uma rede hierarquizada e regionalizada. Historicamente, a organização dos serviços públicos de saúde é dividida em três amplos conjuntos de assistência, sendo eles (MENDES, 2010; MOREIRA, 2018): A atenção básica, que é a porta de entrada do sistema, prestando assistência de baixa complexidade, englobando unidades básicas de saúde, ambulatórios, o programa saúde da família e o programa de agentes comunitários da saúde; A média complexidade, a qual é composta por ambulatórios, clínicas e hospitais especializados da rede pública e privada de saúde; A alta complexidade que disponibiliza atendimento em diversas especialidades, incluindo procedimentos de alto custo e que exigem grande aparato tecnológico, como a realização de transplantes. Observe atentamente o Diagrama 3, que demonstra o sistema de saúde piramidal e hierárquico, que divide a saúde em níveis de complexidade. Nos últimos anos, o sistema hierárquico não tem obtido os resultados desejados frente às demandas de saúde da população. Por este motivo, novas medidas têm sido implementadas pelo Ministério da Saúde no país, como o sistema de redes de atenção à saúde. Sistema de redes de atenção à saúde Atualmente, o Ministério da Saúde vem tentando implementar no País o sistema de redes de atenção à saúde. Diferentemente do sistema hierárquico e piramidal, separado em níveis de complexidade, as redes de atenção à saúde possuem o propósito de integrar os serviços, disponibilizando uma assistência mais efetiva, humanizada e em conformidade com os princípios doutrinários do SUS. O sistema de rede fomenta o vínculo entre a atenção hospitalar e a atenção básica, estabelecendo serviços de referência e subdivisões de cuidados específicos à saúde do paciente (MOREIRA, 2018). Unidade 3 – Saúde coletiva 5º período - Farmácia 6 Para o sistema de redes, a unidade básica de saúde é a porta de entrada do paciente no SUS, podendo este ser direcionado pela unidade a outros serviços da rede, quando necessário. É importante ressaltar que o sistema de redes entende que uma unidade de pronto atendimento e um ambulatório de especialidades médicas possuem a mesma importância, ou seja, um serviço não é considerado inferior ou superior ao outro. As redes de atenção à saúde são organizadas através de um complexo de unidades assistenciais à saúde. A implantação dessas redes otimiza as condiçõessanitárias e econômicas do sistema público de saúde. Não existe somente um único padrão organizacional das redes de atenção à saúde, entretanto, o Ministério da Saúde considera que os seguintes quesitos são essenciais ao seu funcionamento (ARRUDA, 2017; MOREIRA, 2018): Recursos humanos suficientes, competentes, comprometidos e com incentivos pelo alcance de metas da rede; Vasta cadeia de empresas de saúde que oferecem serviços individuais e coletivos de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos; Atenção básica à saúde estruturada como primeiro nível de atenção e porta de entrada preferencial do sistema, constituída de equipe multidisciplinar que cobre toda a população, integrando, coordenando o cuidado, e atendendo às suas necessidades de saúde; Financiamento tripartite alinhado com as metas da rede; Participação social ampla; Prestação de serviços especializados em locais adequados; Existência de mecanismos de coordenação, continuidade do cuidado e integração assistencial por todo o contínuo da atenção; Atenção à saúde centrada no indivíduo, na família e na comunidade, tendo em conta as particularidades culturais, assim como a diversidade da população; Administração integrada dos sistemas de apoio administrativo, clínico e logístico; Sistema de informação integrado que vincula todos os membros da rede, com identificação de dados; Ação intersetorial e abordagem dos determinantes da saúde e da equidade em saúde; Gerência baseada em resultado; Sociedade e território definidos com amplo conhecimento de suas carências e preferências, que determinam a oferta de serviços de saúde; Sistema de governança único para toda a rede, com o propósito de criar uma missão, visão e estratégias nas organizações que compõem a região de saúde; definir objetivos e metas que devam ser cumpridos no curto, médio e longo prazo; articular as políticas institucionais; e desenvolver a capacidade de gestão necessária para planejar, monitorar e avaliar o desempenho dos gerentes e das organizações. A constituição da equipe de saúde deve sempre ser multiprofissional no sistema de rede, pois este acredita que as doenças são de múltiplas causas, requerendo, portanto, distintos conhecimentos profissionais, sendo também fundamental a manutenção do diálogo interdisciplinar entre a equipe (MOREIRA, 2018).