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DESCRIÇÃO Estudo sobre métodos de avaliação e identificação das principais lesões associadas à coluna vertebral com estratégias de prevenção e reeducação postural. PROPÓSITO Compreender os principais métodos de avaliação postural, as principais lesões da coluna vertebral e a adequada prescrição de exercícios para prevenção e tratamento das suas disfunções será fundamental para a sua atuação profissional. OBJETIVOS MÓDULO 1 Compreender as técnicas de avaliação postural e cinético-funcional da coluna vertebral MÓDULO 2 Identificar as principais lesões da coluna vertebral MÓDULO 3 Reconhecer as técnicas para intervenção nas disfunções da coluna vertebral e da postura INTRODUÇÃO Uma boa postura global é um indicador de boa saúde musculoesquelética. No entanto, a prevalência e a incidência de lesões e distúrbios musculoesqueléticos estão atingindo proporções pandêmicas. Nosso estilo de vida excessivamente sedentário e inativo com longos períodos em posições fixas e tensas leva a uma má postura estática e dinâmica. Atualmente, um dos grandes problemas na sociedade moderna está relacionado à manutenção de posturas inadequadas por períodos prolongados, pelo uso diário de smartphones e de toda a tecnologia disponível e cada vez mais inserida no nosso dia a dia. A consequência desses hábitos inadequados é a sobrecarga do sistema musculoesquelético, especialmente da região da coluna vertebral, principalmente pela postura estática e dinâmica. EXEMPLO Se estamos deitados de qualquer jeito em nosso sofá digitando em um laptop, existe uma sobrecarga postural estática. Da mesma maneira, se carregamos peso sem os devidos cuidados, ocorre uma sobrecarga dinâmica e, se aumentamos o peso corporal, sem dúvida a coluna vertebral será muito mais sobrecarregada nas atividades diárias, sejam elas estáticas sejam dinâmicas. Agregamos a tudo isso o sedentarismo, o estresse, as doenças articulares, a nutrição inadequada, os hábitos posturais que geram encurtamentos musculares e consequente redução da mobilidade de todos os segmentos corporais, principalmente da coluna vertebral. Com isso, as lesões se desenvolvem, as restrições de movimento aumentam e, como um evento em cascata, as condições físicas tendem a piorar, sendo a atividade física orientada por um profissional preparado a mais eficiente forma de intervenção, principalmente na prevenção da instalação das disfunções posturais. Por isso, estudaremos as principais lesões relacionadas à coluna vertebral, os métodos e as técnicas de avaliação e as abordagens necessárias para a melhora, preservação e cuidados da saúde postural global e da coluna. MÓDULO 1 Compreender as técnicas de avaliação postural e cinético-funcional da coluna vertebral TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO POSTURAL E CINÉTICO-FUNCIONAL DA COLUNA VERTEBRAL AVALIAÇÃO POSTURAL Quando realizamos a prescrição de exercícios é necessário coletar o maior número de informações que permitam a organização do plano de exercícios com a maior individualização possível. Logo após a avaliação postural, é importante verificar quais os exercícios mais indicados para determinada pessoa e, consequentemente, determinar quais seriam os contraindicados, de acordo com os dados coletados. A avaliação pode ser física, morfológica, metabólica e postural, ou seja, a avaliação postural é um dos tópicos que fazem parte da bateria de avaliação realizada pelo profissional de Educação Física, fornecendo dados importantes que devem ser utilizados para a tomada de decisão no momento da prescrição. EXEMPLO Quando identificamos a presença de uma escoliose significativa na avaliação postural, devemos questionar se o agachamento, um exercício com grande sobrecarga axial sobre a coluna vertebral, seria indicado, ou deveríamos optar por um outro que trabalhe grupamentos musculares semelhantes, como o leg press, por exemplo. Na avaliação física, é identificado um desvio lateral da coluna vertebral (escoliose). Agachamento: com carga axial imposta com a barra sobre os ombros. No caso do exemplo mencionado, o agachamento não seria uma boa indicação. Nesse exercício, há uma imposição de carga axial, e para a sua execução de forma correta é importante que haja um equilíbrio da musculatura eretora da coluna e dos músculos profundos posturais, sendo necessário o maior alinhamento possível da coluna vertebral para a sua realização. PARA QUE SEJA FEITA UMA ADEQUAÇÃO DA PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS CONSIDERANDO AS INDIVIDUALIDADES, OBJETIVOS E AS REAIS NECESSIDADES, É PRECISO PRIMEIRAMENTE IDENTIFICAR OS DESVIOS POSTURAIS E, A PARTIR DESSA IDENTIFICAÇÃO, PODEMOS TRAÇAR UM PLANO DE ABORDAGEM EFICAZ. SAIBA MAIS Denominamos postura-padrão o alinhamento esquelético que gera uma quantidade mínima de esforço e sobrecarga, conduzindo a uma maior eficiência para a execução dos movimentos. E, para a sua verificação, existem diversos instrumentos de avaliação, como veremos a seguir. AVALIAÇÃO POSTURAL POR SIMETROGRAFIA O instrumento utilizado é o simetrógrafo, um aparelho com estrutura retangular com linhas dispostas na horizontal e na vertical que se cruzam, formando quadrados, que são utilizados como referência pelo avaliador para interpretar o desvio ou alinhamento postural. É importante que ele esteja calibrado na horizontal para garantir o nivelamento do simetrógrafo, e as linhas devem ser posicionadas de forma linear. Representação da mensuração dos ângulos. Exemplo de calibrador com bolha de ar que pode ser utilizado para garantir o nivelamento do simetrógrafo. ATENÇÃO Somente após a certificação do nivelamento, podemos passar para o procedimento de avaliação. Planos de avaliação Recomenda-se iniciar no plano frontal, com uma visão anterior e posterior e por fim avaliar no plano sagital (laterais direita e esquerda). Tipos de planos de avaliação. Procedimentos NO PLANO FRONTAL, VISÃO ANTERIOR Alinhar o nariz do avaliado com a linha vertical central do simetrógrafo. O avaliador deve se posicionar de frente e a uma distância aproximada de dois metros do avaliado. Se o avaliado tiver um bom alinhamento corporal, a linha que passa sobre o nariz deve coincidir com: manúbrio; processo xifoide; linha alba; cicatriz umbilical; centro da sínfise púbica; e membros inferiores divididos em duas partes relativamente iguais (nosso corpo não é totalmente simétrico). Exemplo de um bom alinhamento corporal. Na avaliação, quando os pontos como manúbrio, processo xifoide e linha alba se afastam da linha central, pode ser um indicador de uma escoliose, que poderá ser confirmada em uma análise no plano frontal em vista posterior. Podemos ainda observar a horizontalidade da cabeça e dos ombros, a distância da cintura em relação aos membros superiores e o alinhamento da pelve. Os membros inferiores também devem ser avaliados, como o joelho varo e o joelho valgo, pois essas alterações podem interferir diretamente na coluna vertebral. NO PLANO FRONTAL, VISÃO POSTERIOR Alinhar a sétima vértebra cervical do avaliado com a linha vertical central do simetrógrafo. Verificar o alinhamento dos processos espinhosos. Verificar o alinhamento dos ombros. Observar o ângulo inferior da escápula → é possível verificar escápula alada (afastada do tórax) como consequência da rotação do tronco, muitas vezas associado a uma escoliose, ou da fraqueza do músculo serrátil anterior. Prega glútea inferior. Prega poplítea (localizada na linha articular do joelho, podendo significar uma diferença de comprimento dos membros inferiores). javascript:void(0) Visão posterior no plano frontal — escoliose torácica direita. DISTÂNCIA DA CINTURA EM RELAÇÃO AOS MEMBROS SUPERIORES Espaço denominado Triângulo de Tales — localizado entre a margem lateral do tórax e da cintura e a face medial do braço e antebraço — pode ser um indicador de desvios laterais da coluna (escoliose). Quando identificamos uma escoliose na região torácica, verificamos que no lado da convexidade existe uma proeminênciacausada pela rotação vertebral, sendo mais bem observada com a flexão anterior do tronco, denominada gibosidade. A gibosidade pode ser avaliada por meio do teste de Adams → O avaliador solicita que a pessoa incline o tronco para frente com as mãos unidas, pés juntos e joelhos estendidos. NO PLANO SAGITAL, VISÃO LATERAL Alinhar a linha vertical central do simetrógrafo com o orifício auricular do avaliado. A linha vertical deve coincidir com: centro articular do ombro; centro articular do quadril; ligeiramente anterior ao centro articular do joelho; anteriormente ao maléolo lateral (maléolo da fíbula). Avaliar as curvaturas — lordose cervical, cifose torácica e lordose lombar. Avaliação postural em diferentes planos: frontal e sagital. É importante ressaltar que se trata de uma avaliação qualitativa visual de análise postural, portanto não há quantificação dos desvios, sendo um método clássico de observação visual. AVALIAÇÃO POSTURAL POR BIOFOTOGRAMETRIA Demarcação de pontos anatômicos para o estudo por biofotogrametria. Inicialmente são identificados e demarcados os pontos anatômicos que serão estudados: Após a demarcação são feitas fotos que serão analisadas por um software específico, como o SAPO (software para avaliação postural). As fotos são realizadas em uma visão anterior, posterior e lateral direita e esquerda. O posicionamento sem rotações corporais do avaliado é importante, pois mínimos movimentos durante as fotos poderão interferir nos resultados. São obtidos dados de alinhamentos com a vertical (ex.: a cabeça alinhada com a cervical) e nivelamentos na horizontal (ex.: ombros alinhados ou um ombro mais elevado que o outro, o que caracterizaria um desnivelamento). O desalinhamento (vertical) e/ou desnivelamento (horizontal) podem ser correlacionados com assimetrias, que significam encurtamento muscular de um lado, e do outro lado um músculo que cede ao tracionamento do encurtado. javascript:void(0) SAPO Pode ser baixado gratuitamente em um site. SAIBA MAIS A biofotogrametria tem a vantagem de ser um método quantitativo com base em dados mensurados em ângulos, ou seja, os desvios posturais são transformados em números, diferentemente dos métodos subjetivos qualitativos, que dependerão da experiência e percepção do avaliador. AVALIAÇÃO POSTURAL COM FIO DE PRUMO O fio de prumo é utilizado para determinar se os pontos de referência testados estão no mesmo alinhamento que os pontos correspondentes à postura-padrão. É esperada a simetria entre as metades direita e esquerda e, se os pontos de referência coincidirem com a linha de prumo, é indicativo de uma postura ideal ou próxima do ideal (KENDALL et al., 2007). O fio de prumo pode ser associado ao simetrógrafo. Os pontos avaliados são: Levemente anterior ao maléolo lateral Levemente anterior ao eixo da articulação do joelho Levemente posterior ao eixo da articulação do quadril Corpos das vértebras lombares Articulação do ombro Corpos da maioria das vértebras cervicais Meato auditivo externo Levemente posterior ao ápice da sutura coronal Alinhamento postural. AVALIAÇÃO POSTURAL GLOBAL Além das metodologias de avaliação, devemos ficar atentos aos dados obtidos por meio dos questionamentos que são feitos rotineiramente nas academias e nas avaliações físicas subjetivas em geral, como: Nível de atividade física ( ) ativo ( ) sedentário Você está sedentário há: _____________________ Tabagismo Etilismo Nível de estresse Você tem algum problema ósseo ou articular que possa piorar com a prática de atividades físicas? Você sabe de alguma razão que contraindique a prática de atividade física? Teste de sentar e alcançar Verificação do índice de massa corpórea Observações realizadas em uma avaliação qualitativa subjetiva, ou seja, não mensurável. Exemplo de desvios posturais que podem ter origem nas alterações das curvaturas fisiológicas da coluna vertebral → cabeça anteriorizada, protusão dos ombros e ombro esquerdo mais elevado. Teste de sentar e alcançar (banco de Wells). DICA Podemos traçar planos de intervenções posturais a partir dos dados obtidos, tentando amenizar os desvios o máximo possível, trazendo-os para um padrão que seja mais próximo da normalidade do ponto de vista fisiológico e biomecânico. Porém, se as alterações posturais já estiverem estruturadas, como alterações ósseas e ligamentares adaptativas, podemos interferir buscando a não evolução da alteração e orientar como devem ser realizados os exercícios para evitar que o desvio se acentue. COMO DEVE ATUAR O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA QUANDO IDENTIFICA ALTERAÇÕES POSTURAIS? ELE ESTARIA HABILITADO E AUTORIZADO PARA AGIR, COM O OBJETIVO DE CORREÇÃO? NÃO SIM A resposta é sim! A resposta é sim! Vejamos o que regulamenta o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF): CONSIDERANDO QUE A PRÁTICA REGULAR E ORIENTADA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS TEM IMPORTANTE IMPACTO NA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E RECUPERAÇÃO DOS PRINCIPAIS AGRAVOS CRÔNICO-DEGENERATIVOS TANTO EM ACADEMIAS, CLÍNICAS, CLUBES E PROGRAMAS DE CONDICIONAMENTO FÍSICO INDIVIDUALIZADO QUANTO NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE — SUS (ATENÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA), ASSIM COMO EM TODA REDE VINCULADA À SAÚDE SUPLEMENTAR. (RESOLUÇÃO CONFEF nº 391/2020). O que deve ficar claro é que existem desvios e alterações posturais da coluna vertebral por diversas causas, que podem ser: doenças genéticas, reumatológicas, tumores, osteoporose severas, doenças neurológicas, acidentes, entre outros, que de alguma maneira poderão interferir nas curvaturas fisiológicas. Por conta disso, temos que trabalhar com uma equipe multidisciplinar e interdisciplinar, quando possível. O médico com suas devidas especialidades, o fisioterapeuta, o terapeuta ocupacional, o psicólogo e o profissional de Educação Física poderão atuar conjuntamente ou em separado, cada um na sua amplitude de conhecimento, contribuindo dentro de suas competências. A avaliação pode ser complementada por outros dados coletados, como sugere o modelo de avaliação físico funcional da coluna vertebral (adaptado de ALEXANDRE; MORAES, 2001): javascript:void(0) javascript:void(0) ASPECTOS POSTURAIS E ERGONÔMICOS Travesseiro: ( ) Baixo ( ) Alto ( ) Médio ( ) Não usa Posição no trabalho: ( ) Sentada ( ) Ortostática ( ) Sem posição fixa ( ) Outra:____________ Tipo de atividades no trabalho: _____________________________ Prática de atividade física: ( ) Sim ( ) Não Tipo: __________________ Frequência: _________________ Fatores de piora ( ) Esforço físico prolongado ( ) Repouso ( ) Posição em pé ( ) Posição sentada ( ) Deambulação ( ) Tensão emocional ( ) Esporte ( ) Movimento ( ) Outro Especifique: _______ Fatores que aliviam ( ) Repouso ( ) Calor local ( ) Fisioterapia ( ) Medicação ( ) Movimento ( ) Exercício/alongamento ( ) Outro, especifique: _______ Recente história de trauma ( ) Queda, especifique: ________________________ ( ) Acidente com veículo, especifique: ________________________ ( ) Outro, especifique: _________________________ Visão da coluna vertebral no plano sagital (vista lateral) e no plano frontal (vista dorsal e ventral). Curvaturas fisiológicas da coluna vertebral. Avaliação postural e cadeias musculares (avaliação postural global) O termo cadeias musculares está relacionado à continuidade das fáscias, músculos e tendões, todos interligados, permitindo que o movimento de um segmento corporal seja transmitido e associado a outro segmento, e assim por diante. Ou seja, uma visão em que o corpo humano trabalha em conjunto, como uma engrenagem, sendo necessária a visão global do indivíduo para compreender um desvio postural, uma dificuldade de movimentação ou até mesmo a dor. Podemos entender essa metodologia de avaliação por meio do estudo de três expoentes que foram fundamentais para a disseminação do conhecimento e olhar do corpo humano a partir das cadeias musculares:FRANÇOISE MÉZIÈRES a fisioterapeuta corporal percebeu que, quando tentava atenuar uma curvatura mais acentuada de uma região da coluna, essa acentuação era deslocada para outro segmento de forma compensatória, demonstrando a necessidade de um alongamento global, não sendo suficientes correções posturais pontuais, logo é necessário considerar o corpo em sua totalidade e cuidar dele como um todo. Ela ressaltava ainda que existia uma supremacia do tônus muscular da cadeia posterior em função da necessidade de sustentação, justificando os encurtamentos das cadeias posteriores. GODELIEVE DENYS-STRUYF a fisioterapeuta e osteopata associou a análise morfológica e psicológica, entendendo que esses dois fatores somados seriam responsáveis pelas deformações e dores do aparelho locomotor. PHILIPPE SOUCHARD na década de 80, o fisioterapeuta criou o método reeducação postural global (RPG) — que foca a individualidade (avaliação e intervenção individualizada), causalidade (localizar a causa da dor, conseguindo assim eliminar os sintomas), e globalidade (tratar o corpo como um todo, de forma global). Fisioterapeuta e paciente em uma sessão de RPG. Quando realizamos uma análise postural global, podemos perceber que muitas vezes uma queixa de dor no ombro pode ter sua origem na região cervical ou uma queixa de dor na cervical pode estar relacionada com alterações dos membros superiores, como uma forma de compensação. Podemos avaliar ainda encurtamentos em cadeias musculares específicas, como a cadeia respiratória (formada pelos músculos principais e acessórios da respiração), que pode gerar as seguintes adaptações: Peitoral menor — Ombro protraído (protração, antepulsão ou anteropulsão). Escalenos — Anterior, médio e posterior — anteriorização e/ou rotação da cabeça. Diafragma — Porção esternal (aumenta a cifose), costal (eleva as últimas costelas) e lombar (acentua a lordose lombar). Postura típica do encurtamento da cadeia muscular respiratória — ombros protraídos, anteriorização da cabeça e aumento da cifose torácica. Encurtamento de músculos da cadeia posterior de perna e coxa GASTROCNÊMIOS Flexão dorsal do tornozelo, semiflexão dos joelhos, ângulo do tornozelo fechado. SEMITENDÍNEO E SEMIMEMBRANÁCEO Retroversão pélvica, redução da lordose lombar. GLÚTEO MÁXIMO Rotação lateral do quadril e retroversão pélvica. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Exemplo de avaliação global. Após a avaliação global e a identificação das retrações musculares, é traçado um plano de intervenção objetivando reposicionar o corpo com uma aplicação gradual de tensão na cadeia muscular encurtada. Esse processo se dá em combinação com a consciência e controle da respiração, gerando a realização de contrações musculares que neutralizam o movimento articular. Alongamentos ativos associados com controle da respiração são os que geram maior nível de consciência corporal. Os métodos mais indicados para um trabalho corporal global, que associa a consciência dos movimentos corporais com a respiração, trabalhando o corpo em sua totalidade são, entre outros: reeducação postural global (RPG), pilates, isostretching, método GDS (Godelieve Denys-Struyf) e yoga. SONO E DOR NA COLUNA VERTEBRAL A relação entre sono e dor é bastante conhecida na literatura e na prática clínica, sendo observado que a maioria das pessoas com dor crônica (dor persistente por mais de três meses) apresenta distúrbios do sono associados. As pessoas que se enquadram nessa situação geralmente apresentam consequente redução na qualidade de vida. A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, em um estudo realizado em 2019, observou uma relação entre as posturas do sono e o aparecimento de sintomatologia na coluna. Vale ressaltar que durante 1/3 da vida vamos posicionar nosso corpo e suas articulações na cama para o repouso, dessa forma, a utilização de travesseiros para a cabeça e para o corpo, assim como a qualidade do material, influencia a qualidade do sono, considerando diferenças individuais como peso e altura. Travesseiros ruins podem prejudicar a qualidade do sono. Postura de nosso corpo e articulações durante o sono é muito importante. SÍNDROME DA CIRURGIA FALIDA DA COLUNA VERTEBRAL Algo que merece destaque é o dado apresentado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia de que em 2019 até 46% dos pacientes que foram submetidos a procedimentos cirúrgicos na coluna (artodeses, lamnectomias e dissectomias) apresentaram a síndrome da cirurgia falida da coluna vertebral, ou seja, mesmo após procedimentos e intervenções prévias esses pacientes não obtiveram melhora do quadro álgico e funcional. ARTODESES Procedimento cirúrgico realizado para impedir a movimentação entre as vértebras, formando um bloco ósseo no segmento operado. LAMNECTOMIAS javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Cirurgia que promove a remoção de uma ou mais lâminas das vértebras para aliviar a pressão sobre os nervos espinais na coluna. DISSECTOMIAS Procedimento cirúrgico que envolve a remoção de uma parte do disco intervertebral e é indicado para tratamento de dores irradiadas para membros superiores e inferiores. Esses dados são de extrema importância e reforçam a necessidade de uma interpretação adequada das informações clínicas e radiológicas obtidas durante a entrevista inicial do doente e, principalmente, valida a necessidade de optarmos como intervenção inicial por exercícios e tratamentos conservadores (não invasivos) sempre que possível, evitando assim que o indivíduo seja submetido a um procedimento cirúrgico e a todos os riscos inerentes a ele de forma desnecessária. ERGONOMIA E A COLUNA VERTEBRAL A avaliação do ambiente, dos materiais e dos equipamentos utilizados na vida diária e profissional do indivíduo é de fundamental importância no contexto da avaliação e do tratamento das pessoas que apresentam dores na coluna vertebral. Movimentos repetitivos, posturas inadequadas, estresse físico e emocional, e pouca experiência corporal são fatores relevantes quando somados à manutenção de uma postura estática (sentada ou em pé), podendo resultar em aumento de tônus muscular e sobrecarga articular. Um estudo realizado com trabalhadores de escritório iranianos relacionou a manutenção da postura da cabeça, coluna cervical e torácica no trabalho ao aparecimento da dor cervical. A avaliação da postura sentada nas diferentes situações cotidianas é fundamental para elaborar uma relação mais precisa entre a dor e os hábitos diários. Ao agachar e levantar também podemos observar as estratégias utilizadas para realizar o gesto motor. Esses podem ser fatores importantes desencadeadores de lesões e dor. Devem ser observados diferentes padrões de postura na posição sentada, uma vez que podem favorecer cargas exageradas em locais inadequados. AVALIAÇÃO POSTURAL E CINÉTICO- FUNCIONAL DA COLUNA A especialista Adriana de Souza Marinho Teixeira demonstrará as técnicas de avaliação postural e cinético funcional da coluna e sua importância. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Identificar as principais lesões da coluna vertebral PRINCIPAIS LESÕES DA COLUNA VERTEBRAL Para a adequada investigação de uma possível lesão ou desconforto é necessária inicialmente a realização de uma entrevista, denominada anamnese, que permitirá um raciocínio clínico e investigativo da possível causa e um tratamento. Posteriormente, podemos proceder à avaliação física, verificando a forma estática (no plano frontal, em uma visão anterior e posterior e no plano sagital, em uma visão de perfil) somada a uma avaliação dinâmica. Ou seja, solicitando que o avaliado execute movimentos como sentar e levantar em uma cadeira, subir degraus de uma escada e observar como é desenvolvida a marcha, para posteriormente traçarmos a conduta de tratamento. Portanto, percebemos que antes de traçarmos a conduta de tratamento devemos: Entrevistar (anamnese). Realizar avaliaçãoestática em uma visão anterior, posterior e de perfil. Realizar uma avaliação dinâmica da marcha e de atividades da vida diária (AVDs). A seguir, exemplificaremos quais as principais perguntas que podem ser levantadas durante uma anamnese: QUAL É A IDADE DO PACIENTE? A idade pode ser correlacionada com desgastes de estruturas como: Disco intervertebral → pode gerar uma discopatia degenerativa ou uma hérnia discal. Cartilagem articular → a sua degeneração, muitas vezes correlacionada com o envelhecimento, gera o que chamamos de artrose. QUAL É A OCUPAÇÃO? O que importa é a duração, o tipo de atividade, a manutenção de posturas e as sobrecargas impostas no posto de trabalho, que podem criar condições favoráveis para o desenvolvimento de lesões. QUAL FOI O MECANISMO DA LESÃO? Dado importante para orientar como e o que deverá ser avaliado, traçar o plano de intervenção e estimar o prognóstico de recuperação. Por isso, é necessário saber como a lesão ocorreu. Se foi proveniente de movimentos repetitivos, por causa de posturas prolongadas ou devido a traumas mecânicos, como uma queda. A coleta desses dados permite, ainda, orientar quanto à possibilidade de se adotar medidas de prevenção para evitar o retorno da lesão. QUAIS OS LOCAIS E OS LIMITES DA DOR? Assim podemos identificar se a dor está relacionada com compressões de nervos periféricos, contraturas musculares e até mesmo encurtamento de determinado músculo localizado na região afetada, ou próximo a ela. HÁ IRRADIAÇÃO DA DOR? Esse sintoma pode revelar uma possível compressão nervosa, como verificamos nas hérnias de disco. A DOR É PIOR PELA MANHÃ OU À NOITE? Dores que surgem pala manhã, após uma noite de sono, podem ser associadas ao posicionamento do corpo ao dormir, sendo um indicativo de artrose (pois um dos sintomas é a rigidez matinal), ou podem ser associadas a comprometimentos circulatórios, principalmente se a queixa se refere inicialmente aos membros inferiores. QUAIS MOVIMENTOS GERAM DESCONFORTO? De acordo com o movimento relatado, podemos associar a dor com possíveis lesões, ou até mesmo encurtamentos musculares ou fraqueza de músculos posturais. EXISTE PARESTESIA (FORMIGAMENTO)? Em caso positivo, pode ser um indicativo de compressões nervosas. QUAL A ATIVIDADE OU LAZER HABITUAL DO PACIENTE? QUE ATIVIDADES AGRAVAM OU ALIVIAM A DOR? Auxilia na identificação de movimentos que podem estar associados ao desenvolvimento de possíveis sobrecargas e consequentes lesões. QUE TIPO DE SAPATOS O PACIENTE USA? Lembrando que a base do corpo tem origem nos pés e que a forma como pisamos, os sapatos e os movimentos dos pés durante a marcha podem gerar uma inadequada distribuição de cargas e um consequente impacto sobre articulações do tornozelo, joelho, quadril e coluna vertebral. Sabemos que a coluna vertebral funciona como um eixo de sustentação para o corpo, combinando rigidez e flexibilidade, é formada por um conjunto de vértebras interligadas por ligamentos, discos intervertebrais e cartilagens, e é movimentada e sustentada por diversos músculos. ATENÇÃO É interessante perceber que a sustentação das partes corporais — como cabeça, membros superiores, esqueleto e órgãos torácicos, órgãos abdominais e por vezes os membros inferiores quando movimentados — é sempre correlacionada, de alguma maneira, à coluna vertebral, seja direta seja indiretamente. Por isso, além de ter a função de sustentação, a coluna vertebral apresenta-se como um elo para o movimento de diversas partes corporais, sendo a sua saúde estrutural necessária para que o corpo se alinhe e execute seus movimentos de forma fluída e harmônica. Consequentemente, lesões, encurtamentos, fraquezas musculares e possíveis deformidades afetarão a capacidade de absorção e distribuição de cargas e ainda podem comprometer os movimentos das diversas partes corporais anexadas à coluna vertebral. Os inúmeros componentes que formam a coluna vertebral podem ser afetados por doenças, em decorrência de adaptações do envelhecimento, por sobrecargas mecânicas, atividades físicas e da vida diária, sedentarismo, entre outras causas. A seguir, estudaremos algumas patologias e alterações, permitindo a identificação das disfunções mais comuns. CERVICALGIA A dor cervical é um sintoma frequente na prática clínica, podendo apresentar diversas etiologias (causas), o que torna o seu tratamento desafiador. Segundo Camargo e Filho (2010), a dor cervical ocorrerá em algum momento da vida em cerca de 70% dos indivíduos, sendo que a maioria das cervicalgias apresenta resolução espontânea. ATENÇÃO Os músculos do pescoço podem ficar tensos devido à postura inadequada, como quando ficamos inclinados sobre o computador, ou sobre uma bancada de trabalho ou ainda falando ao celular. A osteoartrite (degeneração da cartilagem articular) é uma causa comum de dor no pescoço, juntamente com torcicolo (contratura do músculo esternocleidomastoideo), podendo ainda a dor no pescoço ser acompanhada de dormência ou perda de força nos braços ou nas mãos, por compressão do plexo braquial ou de uma hérnia de disco cervical. Plexo braquial → responsável pela inervação do membro superior. Quando comprimido por encurtamento de músculos localizados no pescoço, gera dor irradiada por onde o nervo se distribui. Local onde geralmente a cervicalgia é relatada → na região onde se localizam as fibras descendentes do músculo trapézio, que também pode se apresentar tensionado pelas sobrecargas causadas pela manutenção da flexão da cervical por tempo prolongado. É possível perceber nessa imagem que a manutenção de um bom alinhamento da coluna vertebral é um fator importante para a redução da sobrecarga na região cervical. Os sintomas mais comuns são: Dor que costuma piorar ao manter a cabeça parada por longos períodos, como ao dirigir ou trabalhar no computador. Tensão muscular e espasmos. Diminuição da capacidade de mover a cabeça. Dor de cabeça. Existem diversas abordagens terapêuticas para o tratamento da dor cervical que podem variar desde a administração de medicações, como analgésicos e anti-inflamatórios, associados à terapia física de reabilitação, até o tratamento cirúrgico. A orientação quanto à manutenção de posturas alinhadas nas atividades diárias, durante a prática de exercícios físicos e ao dormir, deve sempre ser considerada. Posição correta, com alinhamento da coluna cervical. Posição incorreta gerando desalinhamento da região cervical. RADICULOPATIA A radiculopatia é o acometimento da raiz nervosa que origina os 31 pares de nervos espinais, podendo ocorrer ao longo da coluna vertebral, da região cervical ao sacro, manifestando-se como uma dor irradiada (que se distribui pela área inervada), podendo se dirigir para os braços quando a compressão das raízes tem origem na região cervical, ou para coxa e perna, quando a origem da compressão é na região lombar. Os nervos conduzem informações sensitivas e motoras, e dependendo da área afetada os sintomas poderão gerar alterações sensitivas, motoras ou mistas (alterações motoras e sensitivas). As raízes nervosas se juntam formando um nervo espinal, que será responsável pela inervação dos músculos esqueléticos, gerando o movimento corporal, e pela condução das informações sensitivas (tato, calor, pressão, dor, propriocepção) em direção ao sistema nervoso central. Quando a raiz nervosa é danificada, pode causar: Dor irradiada. Parestesia (formigamento). Aumento da sensibilidade, dormência e fraqueza muscular. Dor aguda nas costas, braços, pernas ou ombros que pode piorar com determinadas atividades, e mesmo algo tão simples como tossir ou espirrar pode gerar o sintoma. A radiculopatia é normalmente causada por alterações nos tecidos ao redor das raízes nervosas. Esses tecidos incluem ossos da coluna vertebral, cartilagens e discos intervertebrais. Quando ocorrem alterações que modificam o tamanho desses componentes, eles podem estreitar os espaços onde as raízes nervosasse localizam. A compressão da raiz nervosa pode ter diversas origens: Artrite (osteoartrose) → degeneração da cartilagem articular e do osso subjacente. Doença reumatológica → ex.: artrite reumatoide. Condições degenerativas da coluna vertebral, como a discopatia degenerativa. Anormalidades, como tumores e cistos. Os sintomas na radiculopatia dependerão da área afetada e da respectiva distribuição das raízes nervosas. UMA CAUSA COMUM DA RADICULOPATIA É A HÉRNIA DE DISCO, REPRESENTADA NA FIGURA A SEGUIR: Representação da hérnia de disco, uma causa comum da radiculopatia. HÉRNIA DE DISCO A protusão discal está envolvida com a maioria dos sintomas e queixas apresentados, sendo comum na região cervical e lombar, principalmente por serem as áreas de maior mobilidade da coluna e sujeitas a maiores sobrecargas posturais. Quando nos sentamos em frente ao computador, dirigimos ou permanecemos sentados, por exemplo, temos a tendência de ficar com a postura relaxada, mantendo a flexão da cervical e retificando a lordose lombar, muitas vezes por tempo prolongado. Esse é um hábito nocivo e um dos responsáveis pela sobrecarga no disco intervertebral com consequente degeneração. Exemplo de postura correta para evitar sobrecarga no disco intervertebral. Exemplo de postura incorreta que gera sobrecarga no disco intervertebral. Articulação anterior entre os corpos das vértebras por meio dos discos intervertebrais (articulação cartilaginosa do tipo sínfise) e posterior, que ocorre entre as faces articulares revestidas por cartilagem (articulação sinovial plana). A articulação que se dá entre os corpos das vértebras é classificada como cartilaginosa do tipo sínfise, sendo estabilizada por meio do disco intervertebral, formado pelo anel fibroso (disposto em fibras concêntricas na periferia do disco) e pelo núcleo pulposo (gelatinoso, com grande quantidade de água, localizado centralmente). Estágios da hérnia de disco. O sobrepeso e a manutenção de posturas inadequadas, muitas vezes associadas a um trauma mecânico agudo, como uma queda ou levantando um peso, são fatores que, quando somados, podem degenerar o anel fibroso, permitindo o deslocamento do núcleo pulposo, com consequente herniação e compressão de uma ou mais raízes nervosas. SAIBA MAIS O sequestro seria a modalidade mais grave de hérnia de disco, podendo ocorrer a invasão do canal medular, tendo muitas vezes a indicação cirúrgica, assim como ocorre com a extrusão. Quando a hérnia de disco ocorre na região cervical, o sintoma tem início nela, podendo se irradiar para o braço, antebraço e mão. Quando ocorre na região lombar, a dor tem início nessa região, irradiando para a coxa, perna e algumas vezes até o pé. Na região lombar, é comumente conhecida como dor do nervo ciático. Já a protusão tem geralmente a indicação do tratamento conservador, ou seja, a fisioterapia juntamente com mudanças de hábitos (educação física). VOCÊ SABIA O método Mckenzie é empregado em todo o mundo como forma de tratamento e correção postural, sendo uma boa indicação. É realizado por meio de uma progressão da extensão da coluna vertebral, associado ao fortalecimento da musculatura postural. O método envolve quatro passos: avaliação, classificação individualizada da lesão, tratamento e, por fim, mas não menos importante, orientações e exercícios de prevenção. Exercícios de extensão da coluna vertebral são empregados no método McKenzie como forma de tratamento e prevenção. Exemplo de exercício de fortalecimento da musculatura extensora da coluna vertebral. SAIBA MAIS É possível citar diversos métodos que podem ser indicados no tratamento da hérnia, como o pilates, reeducação postural global (RPG) e cinesioterapia, mas sempre com o enfoque em exercícios que se oponham à postura de flexão desencadeadora da hérnia de disco, atuando na preservação das curvaturas fisiológicas, no fortalecimento da musculatura extensora do tronco, como os paravertebrais e, principalmente, nas mudanças de hábitos posturais. LOMBALGIA A lombalgia pode ser definida como a dor e o desconforto localizados entre a margem inferior da 12ª costela e a prega glútea inferior, que não estão relacionados a fraturas, trauma direto, doenças sistêmicas ou de órgãos internos. A dor na região lombar muitas vezes não consegue ter a sua causa identificada por testes específicos ou por meio de exames de imagens, como radiografias e ressonância magnética, se apresentando muitas vezes como um desconforto sem uma causa ou lesão específica. Local em que ocorre a dor e o desconforto da lombalgia. ATENÇÃO Devemos ter cuidado ao identificar a lombalgia, pois é sempre necessário fazer uma avaliação que exclua outras patologias que também geram dor na região, como: Tumores da medula espinal Disco intervertebral degenerado (discopatia degenerativa) Artrose desenvolvida nas vértebras Doenças renais Tumores na região lombar, entre outras A lombalgia tem grande impacto socioeconômico sendo relacionada a uma das maiores causas da dor crônica, gerando muitas vezes incapacidade para o trabalho e absenteísmo e incapacidade para realizar tarefas simples da vida diária. A dor também pode se manifestar de forma aguda, permanecendo por um dia ou até semanas. Classificação Duração Lombalgia aguda < 6 semanas Lombalgia subaguda Entre 6 e 12 semanas Lombalgia crônica 12 semanas Quadro: Classificação da lombalgia de acordo com sua duração. Elaborado por Adriana de Souza A dor lombar pode ser associada com indivíduos acima de 30 anos. Isso se deve em parte às mudanças que ocorrem no corpo com o envelhecimento, por redução de fibras colágenas e elásticas, encurtamentos musculares e redução de força, principalmente quando associado ao sedentarismo. Por isso, o fortalecimento dos músculos das costas e usar uma boa mecânica corporal são úteis na prevenção da dor lombar. DICA Praticar atividade física regular, manter um peso ideal e evitar manutenção de posturas por tempo prolongado são formas eficazes de evitar o desenvolvimento da lombalgia crônica. O TRATAMENTO NÃO INCLUI SOMENTE AÇÕES NA REGIÃO AFETADA, DEVE SER OBSERVADO O POSICIONAMENTO DOS PÉS, JOELHOS E QUADRIL, UMA VEZ QUE O CORPO É FORMADO POR ARTICULAÇÕES E MÚSCULOS INTERLIGADOS. EXEMPLO Quando desenvolvemos um programa de reabilitação para redução do quadro álgico da lombalgia, os músculos isquiotibiais merecem especial atenção, uma vez que encurtados podem gerar um movimento posterior da pelve (báscula posterior) e consequente hipomobilidade, prejudicando o jogo articular normal entre pelve e lombar. Exemplo do impacto que diferentes posturas geram sobre os discos intervertebrais. O conhecido estudo desenvolvido por Oliver em 1998 traz uma informação importante para considerarmos o impacto que diferentes posturas geram sobre os discos intervertebrais (SOUZA, 2008). Muitas vezes, há confusão quanto à nomenclatura empregada. Quando ocorre dor na região lombar, devemos ficar atentos às principais diferenças: Lombalgia Lombociatalgia Dor/ desconforto localizado Dor irradiada para os membros superiores ou inferiores Geralmente, associada às disfunções musculares ou sem uma causa específica Associada às lesões do disco intervertebral com compressões nervosas Tratamento principalmente em flexão Tratamento principalmente em extensão Quadro: Diferenças entre lombalgia e lombociatalgia. Elaborado por Adriana de Souza ESSA ABORDAGEM QUANTO À DISTINÇÃO ENTRE A LOMBALGIA E LOMBOCIATALGIA É FUNDAMENTAL PARA NORTEAR A PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS, SEJA NO TRATAMENTO SEJA DE FORMA PREVENTIVA, PARA EVITAR RECIDIVAS OU A SUA INSTALAÇÃO. EXEMPLO Os exercícios para a lombalgia incluem principalmente: alongamento da musculatura extensora do tronco, dos músculos isquiotibiais, do músculo quadrado lombar e do músculo iliopsoas com fortalecimento da musculatura localizada na parede anterolateral do abdome (reto do abdome, oblíquo externo, oblíquo interno)e conscientização de ativação do músculo transverso do abdome. Exemplo de alongamento da região posterior do tronco empregado no tratamento da lombalgia. SÍNDROME DO PIRIFORME O músculo piriforme está localizado na região posterolateral do quadril, profundo à musculatura da região glútea, e realiza os movimentos de abdução e rotação lateral do quadril sinergicamente com outros músculos. Profundo a ele encontramos o nervo isquiático que tem origem na região lombar e sacral (formado pelas raízes nervosas de L4 — S3), dirigindo-se distalmente, ramificando-se em ramos menores até alcançar o pé. Local onde se encontram o músculo piriforme e o nervo isquiático. SINTOMAS ASSOCIADOS À SÍNDROME DO PIRIFORME: Geralmente, os primeiros sintomas são: dor, parestesia (formigamento) ou dormência na região glútea, posterolateralmente. Local de relato de dor na síndrome do piriforme. A dor pode evoluir para o membro inferior, estendendo-se ao longo do nervo isquiático, o que é causado pela compressão do músculo piriforme sobre o nervo. Os sintomas podem surgir ao subir escadas, por meio de pressões firmes diretamente sobre o músculo piriforme ou porque o indivíduo ficou sentado por longos períodos. Outros sintomas que podem ocorrer na síndrome do piriforme: Dor intensa em forma de fisgada na região posterolateral da coxa e na região glútea. A dor piora ao permanecer sentado ou quando cruza as pernas. A dor aumenta ao realizar exercícios que solicitam rotação lateral do quadril e abdução (movimento de afastar a perna do corpo). Durante o período mais agudo, pode ter dificuldade para a marcha. É IMPORTANTE REALIZAR TESTES ESPECÍFICOS PARA DIFERENCIAR A SÍNDROME DO PIRIFORME DA HÉRNIA DE DISCO, UMA VEZ QUE AS DUAS DISFUNÇÕES APRESENTAM SINTOMAS MUITO SEMELHANTES. ATENÇÃO O tratamento conservador apresenta bons resultados, com alívio da dor e da parestesia, por meio de técnicas específicas da fisioterapia, visando ao relaxamento muscular a partir de mobilizações e do emprego da liberação miofascial, associado a exercícios de fortalecimentos específicos focando a correção biomecânica do movimento, podendo a cirurgia ser recomendada como último recurso. ESPONDILÓLISE E ESPONDILOLISTESE A espondilólise é uma anormalidade na região articular do arco vertebral posterior, podendo apresentar etiologias diversas, que vão desde fraturas por estresse até fraturas traumáticas. Os indivíduos com deficits nas superfícies articulares podem progredir para espondilolistese. Diferença entre um arco posterior íntegro e as condições de espondilólise e espondilolistese. A espondilolistese, uma progressão da espondilólise, significa o escorregamento (listese) da vértebra, que, após fraturada, seria deslocada anteriormente. Pode estar relacionada com: Alteração na formação das superfícies articulares que acabam por permitir o deslizamento. Defeito na ossificação do arco posterior da vértebra. Processo degenerativo das superfícies articulares e disco intervertebral. Escorregamento por trauma agudo. Tumores. A espondilólise pode ocorrer em função de movimentos repetitivos de hiperextensão do tronco, como na ginástica artística, no futebol e no ballet. Os movimentos repetitivos de hiperextensão do tronco no ballet podem gerar a espondilólise. A hiperextensão do tronco e os movimentos de mecanismo de chute no futebol podem ser fatores desencadeadores da espondilólise. ATENÇÃO O tratamento busca corrigir desequilíbrios musculares (encurtamento adaptativo dos flexores do quadril), fortalecer os músculos posteriores, do tronco e abdominais, e orientar para que sejam evitadas atividades que envolvam impacto excessivo e hiperextensão lombar. A imobilização pode ser uma alternativa, e a intervenção cirúrgica é indicada somente em pacientes que não responderem de maneira adequada aos tratamentos conservadores. TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR A lesão raquimedular ocorre por meio de um mecanismo traumático agudo da coluna vertebral e da medula espinal, podendo ocasionar uma grande variedade de lesões neurológicas motoras e/ou sensitivas e, apesar dos grandes avanços científicos e numerosos investimentos em pesquisa nessa área, as lesões da medula espinal permanecem sendo devastadoras, irreversíveis e incuráveis. DEVEMOS, PORÉM, CONSIDERAR QUE EXISTEM LESÕES VERTEBRAIS QUE NÃO ACOMETEM A MEDULA ESPINAL E POR ESSE MOTIVO NÃO DEIXAM SEQUELAS EM RELAÇÃO AO SISTEMA NERVOSO. EXISTEM AINDA TRAUMAS QUE AFETAM A MEDULA, POR EDEMAS CAUSADOS PÓS-TRAUMA, MAS SEM SECÇÃO DESSA, E COM O TEMPO REGRIDEM, VOLTANDO MUITAS VEZES APÓS UM DETERMINADO LAPSO TEMPORAL À NORMALIDADE. A medula espinal faz parte do sistema nervoso central (SNC), sendo a principal via condutora e de integração entre o SNC e o sistema nervoso periférico. É a via que conduz os sinais sensoriais provenientes do corpo ao encéfalo e permite que os impulsos motores voluntários (originados no cérebro) e involuntários (como os que ocorrem no arco reflexo) cheguem aos músculos por meio dos nervos espinais, gerando a contração muscular. No adulto, a medula espinal inicia após o forame magno estendendo-se até o espaço do disco intervertebral entre a 1ª e 2ª vértebra lombar. Essa informação é relevante para compreender que, após esse nível, as lesões não atingirão a medula espinal, e sim a cauda equina, que é formada por um conjunto de nervos espinais. A medula segue até a 2ª vértebra lombar, sendo continuada após esse nível pela cauda equina. Essa lesão ocorre, preferencialmente, em indivíduos do sexo masculino na proporção de 4:1 em relação às mulheres, e na faixa etária entre 15 e 40 anos. Acidentes automobilísticos, por mergulho em água rasa, quedas de locais altos e ferimentos por arma de fogo são as principais causas de trauma raquimedular (DEFINO et al, 2020). Traumatismo raquimedular. Ressonância magnética de um traumatismo raquimedular na região cervical. TRATAMENTO DAS LESÕES MEDULARES O tratamento do trauma raquimedular deve ter início no momento do primeiro atendimento, ainda fora do ambiente hospitalar, durante o resgate e o transporte do paciente, com o objetivo de evitar lesões adicionais ou aumento das lesões já existentes. Ainda não existe um tratamento efetivo e capaz de restaurar a lesão da medula espinal. Os tratamentos disponíveis têm como principais objetivos: Minimizar o grau da lesão neurológica na fase aguda. Reduzir a lesão secundária da medula espinal, causada principalmente por fragmentos ósseos e edema. Proteger os tecidos nervosos que não foram atingidos pela lesão primária. PODEMOS CLASSIFICAR A LESÃO QUANTO AO NÍVEL DE SUA OCORRÊNCIA Quando a lesão ocorre a nível cervical gerando grande comprometimento dos membros superiores é denominada tetraplegia, já em níveis de lesões torácicas ou lombares com grande comprometimento dos membros inferiores é denominada paraplegia. Após a fase aguda, a fisioterapia terá papel fundamental na manutenção da massa óssea, para evitar a instalação de deformidades e contraturas, buscando sempre garantir a maior autonomia possível. Posteriormente, o profissional de Educação Física deverá atuar na melhor da aptidão física geral do lesionado. LESÕES DA COLUNA VERTEBRAL A especialista Adriana de Souza Marinho Teixeira apresentará as principais lesões da coluna vertebral. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Reconhecer as técnicas para intervenção nas disfunções da coluna vertebral e da postura EXERCÍCIOS CORRETIVOS POSTURAIS Quando pensamos em propostas e técnicas para intervenção nas disfunções da coluna vertebral e da postura, devemos primeiramente entender que os exercícios não devem ser localizados e focados somente na coluna vertebral, uma vez que a coluna funciona como uma ponte de comunicação entre as diversas partes corporais, afetando e sendo afetada pelos segmentos corporais que com ela se relacionam. Sabemos que uma postura em flexão, com hipercifose e ombros protraídos, é a principal razão para o encurtamentode músculos flexores do ombro, o que em geral é acompanhado por tensão nos músculos extensores do pescoço de forma compensatória. Progressivamente, todo esse encurtamento contribuirá para restrições respiratórias, como consequência da redução de mobilidade e pelo posicionamento inadequado do tórax. Assim percebemos o quanto a postura pode influenciar a saúde dos movimentos dos membros superiores. Agora, podemos correlacionar esses fatores no sentido inverso, ou seja, o membro inferior influenciando e restringindo os movimentos da coluna vertebral. Os músculos isquiotibiais exemplificam bem essa situação, uma vez que apresentam sua inserção proximal na tuberosidade isquiática. Quando encurtados, podem gerar uma adaptação de retroversão da pelve, acarretando a retificação da lordose lombar, o que não é nada bom para a coluna vertebral, pois reduz sua capacidade de distribuição de cargas, impactando essa alteração nas cartilagens articulares na região posterior das vértebras e no disco intervertebral na região anterior. ATENÇÃO Pelos exemplos anteriores, podemos concluir que a postura da coluna pode influenciar os membros e os membros podem influenciar a coluna. Por isso, os trabalhos posturais requerem uma visão sistêmica do avaliado, pois de nada adianta tentarmos corrigir alguma alteração na coluna que tenha origem nos membros inferiores se fizermos exercícios focados somente no tronco e não pensarmos em dar ênfase, nesse caso, nos membros inferiores. Após essa abordagem podemos iniciar a análise de alguns exercícios corretivos posturais: 1) ALONGAMENTO COM ÊNFASE NOS MÚSCULOS FLEXORES DO OMBRO (PEITORAL MAIOR, PEITORAL MENOR E DELTOIDE PARTE CLAVICULAR) Auxilia na redução da tensão compensatória dos músculos extensores do pescoço, na correção de ombros protraídos e da hipercifose. Foto: Shutterstock.com Exemplo de alongamento para os músculos flexores do ombro. 2) MOVIMENTO BILATERAL DE HIPEREXTENSÃO DA ARTICULAÇÃO DO OMBRO NÍVEL AVANÇADO Esse alongamento é excelente para corrigir um pescoço projetado anteriormente ou uma postura de ombros arredondados e encurvados, que na maioria das vezes têm causa na má postura. Foto: Shutterstock.com Exemplo de movimento bilateral de hiperextensão da articulação do ombro 3) ALONGAMENTO DE MÚSCULOS EXTENSORES E ADUTORES DA ARTICULAÇÃO DO OMBRO E DE MÚSCULOS ADUTORES DA CINTURA ESCAPULAR Uma postura desalinhada sobrecarrega o músculo deltoide parte espinal, latíssimo do dorso, redondo maior e menor, trapézio e romboides, causando tensão. Esse alongamento pode aliviar desconforto e dores entre as escápulas. Foto: Shutterstock.com Tipo de alongamento que pode aliviar desconforto e dores entre as escápulas. 4) ALONGAMENTO DE FLEXORES DO TRONCO (MÚSCULO RETO DO ABDOME, OBLÍQUO EXTERNO E OBLÍQUO INTERNO) EM DECÚBITO VENTRAL Pessoas que passam muito tempo dirigindo ou sentadas tendem a se curvar para frente; com isso, ocorre arredondamento da parte superior do dorso, redução de mobilidade e relaxamento dos músculos abdominais. Como consequência, essa compressão das cavidades abdominal e pélvica pode causar tensionamento compensatório dos músculos dorsais, restringir a respiração e interferir no funcionamento das vísceras, podendo atingir até o bom funcionamento do músculo diafragma, que passa a ter dificuldade para descer, ficando a caixa torácica impedida de se expandir. Sabemos que uma respiração deficiente pode resultar em fadiga crônica. Foto: Shutterstock.com Exemplo de alongamento de flexores do tronco. 5) ALONGAMENTO DOS EXTENSORES DO TRONCO NA POSIÇÃO SENTADO Hábitos diários como carregar objetos pesados sem o devido cuidado, sentar-se com postura relaxada na cadeira, com o dorso encurvado, e ficar em pé em posição não aprumada são ações que levam à tensão muscular, especialmente do dorso. Podemos somar a todos esses fatores o estresse. Esse exercício de fácil realização pode beneficiar o praticante, fazendo pausas durante o dia, o que causará benefícios perceptíveis. Imagem: Shutterstock.com Exemplo de alongamento dos extensores do tronco na posição sentado. 6) ALONGAMENTO DOS EXTENSORES DA PARTE INFERIOR DO TRONCO DEITADO Nesse exercício, alongamos os músculos eretores da coluna e o glúteo máximo. Ele é indicado para indivíduos que apresentam lombalgia e ficam em pé por muito tempo. Porém, é fundamental que toda a coluna fique alinhada e em contato com o solo, evitando que a região cervical fique retesada, com aumento da lordose, como forma de compensar o encurtamento da parte mais distal do tronco. Foto: Shutterstock.com Exemplo de alongamento dos extensores da parte inferior do tronco deitado. 7) ALONGAMENTO DA REGIÃO POSTERIOR DA COXA (MÚSCULOS ISQUIOTIBIAIS) Podemos justificar a importância da inclusão desse exercício em programas posturais, principalmente pela grande tendência de encurtamento dessa musculatura, causando redução de mobilidade da pelve e possível retificação da lordose lombar. A manutenção da amplitude dos membros inferiores é essencial para a execução das atividades diárias. Esses músculos com pouca mobilidade acabam gerando restrições de movimentos e, nesse caso, a sobrecarga recairá sobre a coluna com a execução de um deslocamento desarmônico. Durante o alongamento é importante manter o tronco alinhado e em contato com o solo, a fim de evitar compensações, principalmente na região cervical, devendo o tornozelo permanecer em posição neutra, evitando-se a dorsiflexão, sendo esse um importante fator para isolar o alongamento da região posterior da coxa. Foto: Shutterstock.com Exemplo de alongamento da região posterior da coxa. DORSIFLEXÃO Com a dorsiflexão (flexão dorsal) do tornozelo, alongamos os gastrocnêmios, porém nesse caso não seria o objetivo. ATIVAÇÃO DO MÚSCULO TRANSVERSO DO ABDOME Esse músculo funciona como um cinturão que estabiliza as vísceras abdominais e quando contraído aumenta a pressão intra-abdominal, gerando maior estabilidade e sustentação da coluna vertebral. Podemos exercitá-lo quando tentamos reduzir o diâmetro abdominal ao encolher a barriga, e em diversos exercícios que necessitam do controle do tronco, como os realizados para fortalecimento do CORE. javascript:void(0) javascript:void(0) Músculo transverso do abdome. CORE São músculos que atuam na estabilização da coluna, fornecendo suporte para todas as atividades que realizamos, transferindo forças e evitando que articulações que suportam grande sobrecarga como quadril, pelve e lombar sejam sobrecarregadas. O termo CORE significa centro, núcleo essencial. Os músculos incluídos no CORE são: musculatura do assoalho pélvico, músculos da parede anterolateral do abdome (transverso do abdome, reto do abdome, oblíquo externo e oblíquo interno), eretor da espinha, glúteo máximo e diafragma. MAS POR QUE O CORE PODE SER TÃO IMPORTANTE PARA A FUNCIONALIDADE E SAÚDE DOS MEMBROS INFERIORES? Os movimentos das atividades da vida diária (AVDs) são extremamente dependentes do CORE, por estabilizar o tronco e a pelve, permitindo que os membros superiores e inferiores se movam adequadamente, enquanto o seu enfraquecimento pode resultar em uma predisposição à lesão. Exercícios indicados para fortalecimento do CORE: Prancha. Variações feitas em prancha solicitando ativação de todo o CORE. Exercício conhecido como perdigueiro. IMPORTÂNCIA DO MÚSCULO PSOAS: UM MOMENTO PARA O RELAXAMENTO Quando pensamos em dores na coluna, principalmente a lombalgia, não podemos negligenciar a importância do músculo psoas maior. Ele apresenta inserção proximal no corpo vertebral, processo transverso e discos intervertebrais de L1 a L5, sendo o motor primário em diversos movimentos do quadril, principalmente a flexão, devido à sua inserção distal no trocânter menor do fêmur juntamente com o músculo ilíaco. ATENÇÃO Observando a sua inserção proximal e distal, percebemos que os movimentos realizados com os membros inferiores interferem na sua fixação na coluna vertebral.A seguir apresentaremos o trabalho desenvolvido por Staugaard-Jones (2018) que nos traz uma abordagem e técnicas de intervenções no músculo psoas maior, considerando a sua importância para a manutenção de uma coluna e corpo saudáveis. CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS O músculo psoas maior encontra-se situado profundamente entre a face anterior da articulação do quadril e a parte inferior e lateral da coluna vertebral, fazendo a conexão entre a coluna e os membros inferiores. Isso o torna um músculo postural muito importante, além de motor agonista e estabilizador de dois complexos articulares diferentes: a articulação do quadril e as articulações da região lombar da coluna vertebral, atuando ainda na regulação do equilíbrio, uma vez que se localiza próximo ao centro de gravidade. Localidade do músculo psoas maior. POSIÇÃO DE DESCANSO CONSTRUTIVO Consciência corporal e relaxamento explicam por que o trabalho postural não deve ser realizado somente por exercício de contração e alongamento. A seguir traremos um exercício simples, mas não menos importante que os demais. Exercício simples para realizar o trabalho postural. 1. Inicie em decúbito dorsal sobre uma superfície plana e firme. 2. Flexione os joelhos e mantenha os pés (plantas) em contato com o solo (pode colocar um apoio sob a cabeça a fim de que fique alinhada com a coluna vertebral). Obs.: se houver dificuldade para manter os quadris, os joelhos e os pés alinhados, pode apoiar um joelho no outro com os pés ligeiramente afastados e os dedos dos pés voltados medialmente. 3. Feche os olhos e imagine a coluna vertebral em toda a sua extensão. 4. Inspire e expire de forma consciente, concentrando-se somente na respiração. 5. Deixe o peso da cabeça, não do dorso, se dispersar no solo, estando essa alinhada com a coluna vertebral neutra. 6. Relaxe e deixe que as vértebras e a pelve alinhada suportem o corpo sem contrair a musculatura. 7. Sinta-se como se estivesse pendurado pelos joelhos sobre um cabide ancorado superiormente, com as coxas de um lado e as pernas do outro. 8. Perceba os músculos relaxando dos joelhos em direção ao quadril. 9. Agora, perceba o relaxamento das articulações do joelho em direção aos tornozelos e pés. 10. Sinta os pés, assim como mantenha os olhos totalmente relaxados. 11. Inspire e expire profundamente por três vezes, abra os olhos, e ao terminar não sente diretamente, role para um lado e sente-se lentamente. A tensão muscular está relacionada ao estresse e pode se tornar prejudicial, gerando desconforto e até mesmo lesão nos ombros e no pescoço, tendo como causa inúmeros fatores, que podem ser desde sentimentos desconfortáveis até conflitos e hábitos posturais inadequados, podendo perdurar por muitos anos. À medida que o músculo psoas se torna tenso, a postura, a marcha e a própria disposição são afetadas. A sua abordagem direta é difícil, em virtude de sua localização profunda, sendo, portanto, importante que o indivíduo faça terapia corporal para liberar e relaxar o músculo psoas. OUTROS EXERCÍCIOS DE CONSCIÊNCIA POSTURAL Postura chamada savasana, uma posição de repouso total. Savasana: também conhecida como postura Asana, é comumente executada no fim de uma aula de yoga. É uma posição de repouso total, em geral executada em decúbito dorsal, liberando completamente não apenas a tensão corporal, mas também pensamentos e emoções. Utilizando a respiração para conduzir a pessoa a um profundo estado de relaxamento de todo o corpo, inclusive do músculo psoas. A meditação é um momento de consciência da respiração em que vivenciamos somente o momento presente. Meditação: momento em que o indivíduo se volta para a consciência da respiração, afastando da mente qualquer tipo de pensamento e vivenciando somente o momento presente. A melhor maneira de executá-la é em posição sentada, com os músculos flexores do quadril relaxados e a coluna vertebral alongada a fim de proporcionar condições ideais para o fluxo de energia. Também se pode usar a postura de Asana se houver necessidade de liberar os flexores do quadril. MÉTODO PILATES Nascido em 1880 na Alemanha, Joseph Pilates foi uma criança que apresentou diversas debilidades, como raquitismo, asma e febre reumática. Pilates passou a se engajar em programas que pudessem melhorar seu físico, participando de diversas modalidades de atividades que fossem benéficas para a sua saúde. Passou a treinar boxe e se tornou instrutor de autodefesa, o que lhe conferiu uma boa definição muscular. Em 1914, com a primeira guerra mundial, é levado com outros alemães para um campo de concentração na Inglaterra. Durante esse período, ele ensinou exercícios físicos a outros presos no campo e começou a desenvolver um programa de reabilitação para os que foram feridos durante a guerra. Após a guerra, em 1919, Pilates retornou à Alemanha, passando a treinar a polícia militar em autodefesa e condicionamento físico. Nesse período, ele trabalhou com um analista do movimento de dançarinos. Tempos depois, Pilates foi para os Estados Unidos. Em 1926, aos 45 anos de idade, Pilates conheceu a sua futura esposa, Clara, e juntos eles estabeleceram um estúdio em Nova York, no mesmo prédio onde havia vários estúdios de dança, passando o seu método a ser vinculado ao condicionamento, à reabilitação e ao treinamento de muitos dançarinos. Pilates desenvolveu um método chamado de contrologia, e passou a ensiná-lo para futuros treinadores. Muitas escolas atualmente ensinam Pilates e adaptam os exercícios de diferentes formas, fazendo com que atualmente o método Pilates esteja em contínua evolução. O método é um programa de exercícios que visa ao condicionamento físico combinando fortalecimento muscular, flexibilidade e técnicas de respiração, buscando estabelecer a coordenação entre tronco, escápulas e pelve durante o movimento. Trata-se de um programa que busca o condicionamento corpo e mente, possibilitando movimentos com pouco esforço, fluido e equilibrado, exigindo uma constante atenção sobre o seu corpo durante os exercícios. A indicação do método para a educação ou reeducação postural consta nas características que são desenvolvidas: equilíbrio muscular, aprendizado motor consciente, habilidades de estabilização e coordenação, flexibilidade e fortalecimento, além da consciência corporal sempre aliada à respiração. Veja a seguir alguns exemplos de exercícios clássicos de Pilates: The Hundred Objetivos: fortalecer o grupamento dos músculos abdominais, melhorar o controle respiratório e o uso do padrão respiratório torácico, sendo um exercício que pode ser usado para aquecimento. Posição inicial do Rolamento para cima (Roll-up). Objetivos: fortalecer os músculos abdominais, restaurar o ritmo lombo-pélvico, alongar os isquiotibiais, desenvolver a estabilidade e a mobilidade da coluna e alongar os músculos da região dorsal. Rolamento para trás (rollover). Objetivos: desafiar a flexibilidade da coluna, controlar a contração de músculos abdominais e profundos da coluna vertebral, favorecer a mobilidade do tronco, alongando a região lombar e os isquiotibiais. Alongamento de uma perna (single leg stretch). Objetivos: alcançar estabilidade e coordenação do movimento por meio do controle dos músculos transverso do abdome e iliopsoas. Alongamento com uma perna estendida (single straight leg stretch). Objetivos: alongar os isquiotibiais e gastrocnêmios, desenvolvendo o controle e a força dos membros inferiores, fortalecendo os músculos abdominais e aprimorando a habilidade de dissociar o movimento entre pernas e tronco. TÉCNICAS PARA INTERVENÇÃO NAS DISFUNÇÕES DA COLUNA VERTEBRAL E DA POSTURA A especialista Adriana de Souza Marinho Teixeira apresentará técnicas para intervenção nas disfunções da coluna vertebral e da postura. VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Iniciamos nossos estudos passando por técnicas de avaliação postural da coluna vertebral, conhecendoabordagens quantitativas e qualitativas de observação, o que nos permitiu perceber que para uma eficaz intervenção postural é necessário passar por uma cuidadosa avaliação, e que existem diversas modalidades, cabendo ao profissional escolher a que mais se adequa aos seus objetivos. Identificamos as lesões mais comuns relacionadas à coluna vertebral, e percebemos a importância desse arcabouço ósseo formado por vértebras na proteção de um componente anatômico essencial para a sensibilidade e execução dos movimentos corporais — a medula espinal e seus nervos. Por fim, abordamos técnicas para intervenção das disfunções posturais, que podem e devem ser realizadas por meio de alongamentos, fortalecimento e relaxamento, sempre com enfoque na consciência corporal e no controle da respiração. PODCAST Agora, a especialista Adriana de Souza Marinho Teixeira encerra com um resumo do tema. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALEXANDRE, N. M. C.; MORAES, M. A. A. de. Modelo de avaliação físico-funcional da coluna vertebral. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 9, n. 2, p. 67-75, 2001. CAMARGO, O. P.; FILHO, T. E. P. B. Ortopedia e traumatologia para graduação. Rio de Janeiro: Revinter, 2010. DEFINO, H.L.A.; PUDLES, E.; ROCHA, L. E. M. Coluna vertebral: lesões traumáticas. Porto Alegre: Artmed, 2020. KENDALL, F. P.; MCCREARY, E. K.; PROVANCE, P. G. et al. Músculos, provas e funções: com postura e dor. 5º ed. Ed. Manole: São Paulo, 2007. NELSON, A.G.; KOKKONEN, J. Anatomia do alongamento: guia ilustrado para aumentar a flexibilidade e a força muscular. Tradução: Fernando Gomes do Nascimento. 2ª ed. Barueri [SP]: Manole, 2018. 230 p.: il. OLIVER, J; MIDDLEDITCH, A. Anatomia funcional da coluna vertebral. Rio Janeiro: Revinter, 1998. PILZ, B. et al. Versão brasileira do STarT Back Screening Tool - tradução, adaptação transcultural e confiabilidade. Braz. J. Phys. Ther., São Carlos, v. 18, n. 5, 2014. RESOLUÇÃO CONFEF Nº 391/2020. Consultado na internet em: 20 fev. 2021. SACCO, I. C N. et al. Confiabilidade da fotogrametria em relação a goniometria para avaliação postural de membros inferiores. Brazilian Journal of Physical Therapy, v. 11, n. 5, p. 411-417, 2007. SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA. Tratado de dor musculoesquelética. coordenadores Ricardo Kobayashi, Marcus Vinicius Malheiros Luzo, Moisés Cohen. São Paulo [SP]: Alef, 2019. SOUZA, V. P. Efeitos do método iso stretching® na dor lombar crônica. Universidade do Sul de Santa Catarina. Vanessa philippi Palhoça, 2008. STAUGAARD-JONES, J. A. O músculo psoas: bem-estar físico e emocional. Tradução: Paulo Laino Cândido. 1ª ed. Barueri [SP]: Manole, 2018. EXPLORE+ Visite o site do BMClab — Laboratório de Biomecânica e Controle Motor. Acesse o site do BMClab para baixar o software SAPO gratuitamente. Veja como funciona o método Mckenzie a partir do site do McKenzie Institute USA. (conteúdo em inglês) CONTEUDISTA Adriana de Souza Marinho Teixeira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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