Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fórum Ética - Filme e reflexão: Monsieur Le Padite: ético ou antiético? Ao assistir o filme “Bastardos Inglórios”, dirigido por Quentin Tarantino, logo nas primeiras cenas nos deparamos com uma forte situação: um fazendeiro de leite, da França ocupada pelos nazistas, é abordado pelo Coronel da SS Hans Landa, que faz uma busca por judeus na região. Após uma conversa e uma série de ameaças, o coronel o questiona se haviam judeus escondidos em sua casa, e o fazendeiro, Monsieur Le Padite, temendo por sua vida e pela vida de suas três filhas, entrega a família escondida em sua casa, que é assassinada pelos soldados (com exceção da menina Shosanna, que escapa e após alguns anos trama sua vingança contra os nazistas). Percebemos, nessa cena, um dilema vivido por Le Padite, pois apesar de ter escondido a família Dreyfus por um tempo, ao ser questionado, sabendo que provavelmente o coronel, conhecido como caçador de judeus, acharia os fugitivos, teria que escolher entre mentir, arriscando a vida de sua própria família e considerando que todos poderiam acabar mortos; ou contar a verdade, preservando a vida de sua família, mas não da família judia. Sendo assim, iremos analisar a decisão do fazendeiro a partir de uma perspectiva ética. Para tal, devemos considerar os conceitos de moral como o conjunto de normas que regulam as relações dos indivíduos entre si, e destes com a sociedade, tendo como função harmonizar os interesses individuais com os sociais; e ética como a reflexão crítica e racional dos fundamentos e pressupostos das normas morais. Além disso, devemos ressaltar que uma ação “ética” pode não ser legal, de acordo com a lei vigente, como também uma determinada lei pode não ser ética; que é o que ocorreu na Alemanha Nazista, visto que todas as ações do governo estavam de acordo com a legislação do sistema vigente, ou seja, amparadas pela lei, porém, vistas por uma perspectiva ética, não foram ações morais, que objetivem o bem da maioria e a harmonia social. Atualmente, os princípios do nazismo, que justificaram as ações praticadas na época, como os campos de concentração, massacres, experiências com humanos, entre tantas atrocidades, são vistos com repúdio, e considerados imorais, entretanto, na época, eram as normas vigentes e aceitas, ao menos pelo grupo ariano nazista. Na cena em questão, é possível perceber que Le Padite tem compaixão pela família judia, tanto que os esconde por um tempo, e sofre ao ter que entregá-los, o que demonstra que ele compreende a situação de forma ética, não concorda com as ações dos soldados, mas se vê obrigado pelas circunstâncias à delatar o esconderijo, a fim de proteger sua família. Dessa forma, pode-se concluir que apesar de analisar e compreender a situação de forma ética, Monsieur Le Padite não age ética ou moralmente, mas sim de forma utilitária, prática, após ponderar suas duas opções. Também seria possível considerar que tal atitude tomada sob coerção não poderia ser analisada eticamente, pois um ato moral depende da consciência e da liberdade do agente, e no caso em questão o sujeito não é completamente livre, mas sim condicionado pelas circunstâncias, portanto seria uma ação amoral. REFERÊNCIAS: VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2008. Figueiredo, A. M. (2008). Ética: origens e distinção da moral. Saúde Ética & Justiça , 13(1), 1-9. https://doi.org/10.11606/issn.2317-2770.v13i1p1-9
Compartilhar