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FONÉTICA E FONOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA PROF.A MA. MONIQUE BISCONSIM GANASIN Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Gestão Educacional: Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Gabriela de Castro Pereira Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Luana Ramos Rocha Produção Audiovisual: Heber Acuña Berger Leonardo Mateus Gusmão Lopes Márcio Alexandre Júnior Lara Gestão de Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Só- crates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande res- ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a socie- dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conheci- mento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivên- cia no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de quali- dade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mer- cado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 5 1 - APRESENTANDO A FONÉTICA E A FONOLOGIA ................................................................................................ 6 1.1. FONÉTICA ............................................................................................................................................................. 7 1.2. FONOLOGIA ......................................................................................................................................................... 8 1.3. UMA DISCUSSÃO TERMINOLÓGICA ...............................................................................................................10 2 - OS ALFABETOS FONÉTICOS ............................................................................................................................. 10 2.1. O ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL (AFI) ............................................................................................ 11 2.2. O SAMPA ........................................................................................................................................................... 12 3 - CAMPOS DE INTERFACE ................................................................................................................................... 14 3.1. CIÊNCIA DA TELECOMUNICAÇÃO ................................................................................................................... 14 3.2. DRAMATURGIA ................................................................................................................................................. 14 INTRODUZINDO: FONÉTICA E FONOLOGIA PROF.A MA. MONIQUE BISCONSIM GANASIN ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: FONÉTICA E FONOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 4WWW.UNINGA.BR 3.3. ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS ........................................................................................................... 14 3.4. ENSINO DE LÍNGUA MATERNA ...................................................................................................................... 15 3.5. FONOAUDIOLOGIA ............................................................................................................................................ 15 3.6. LINGUAGEM DE SURDO-MUDO ...................................................................................................................... 15 3.7. LINGUÍSTICA COMPUTACIONAL ..................................................................................................................... 15 3.8. LINGUÍSTICA FORENSE ................................................................................................................................... 16 3.9. LINGUÍSTICA INDÍGENA .................................................................................................................................. 16 3.10. LINGUÍSTICA ................................................................................................................................................... 16 3.11. PLANEJAMENTO LINGUÍSTICO-SOCIAL ....................................................................................................... 16 3.12. TECNOLOGIA DA FALA .................................................................................................................................... 17 3.13. TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO ..................................................................................................................... 17 3.14. ZOOBIOLOGIA ................................................................................................................................................. 17 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................................. 19 5WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), esta aula tem um perfil introdutório. Isto é, se trata de uma introdução sobre a Fonética e, igualmente, a Fonologia. Objetivamos que, com base na sua língua – a Língua Portuguesa – você comece a entender os fenômenos que estão relacionados às propriedades articulatórias dos sons do português brasileiro e seu sistema fonológico. Estudos realizados em situações de aula por Seara, Nunes e Volcão (2015), usados como referência na obra Fonética e Fonologia do Português Brasileiro, mostram que partir da língua materna dos estudantes para ensinar Fonética e Fonologia é uma maneira de facilitar o aprendizado, pois os alunos aprofundam os seus conhecimentos em relação à sua língua. O campo de estudos que vamos percorrer é, essencialmente, um caminho árduo, visto que trataremos de noções abstratas. Por isso, não vamos enveredar por análises fonológicas de línguas indígenas ou hipotéticas, pois, você, além de lidar com um elemento pouco palpável (que é o som), teria que demandar esforços para entender uma nova língua. Sendo assim, nesta aula, objetiva-se que você reflita a respeito da produção, do funcionamento e da sistematização da própria língua. Posteriormente, faremos referência a outras variedades do português e a outras línguas. Mas isso só acontecerá quando os exemplos do português brasileiro não forem suficientes para exemplificar um fenômeno ou um aspecto teórico, ok? Você verá que as suas intuições fonético-fonológicas são muito fortes e, certamente, elas te acompanharão quando chegar a hora de analisar os fenômenos tratados. De forma geral, esta unidade torna possível que você tenha uma iniciação a aspectos relacionados à Fonética e a Fonologia e os seus fundamentos. Esclarecemos que “as diferentes escolas linguísticas, tratando da fonologia, construíram modelos teóricos distintos, propiciando uma grande variabilidade terminológica” (SILVEIRA, 1986, p. 12). Ou seja, por se tratar de uma introdução, não nos filiaremos a uma determinadaescola, mas apresentaremos aspectos que nos parecem mais importantes para estudos iniciais. Para tanto, dividimos nossas discussões em três tópicos: as convergências e divergências entre os estudos fonéticos e fonológicos, etapa em que faremos aproximações e distinções entre essas disciplinas, bem como uma breve discussão sobre as suas terminologias; uma familiarização com os símbolos fonéticos – aluno(a), para que você conheça os elementos usados para representar a sonoridade da fala, desde esta unidade você terá acesso aos símbolos convencionados pela literatura fonética, ou seja, partiremos da apresentação de dois alfabetos fonéticos mais usados pelos estudiosos da área: IPA e SAMPA – que serão retomados nas unidades futuras; e, também, apresentaremos quais as áreas de intersecção existentes com os estudos fonéticos/fonológicos, para que você possa visualizar como essas disciplinas são exercidas e sua importância na/para a sociedade contemporânea. Isabelle Realce 6WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - APRESENTANDO A FONÉTICA E A FONOLOGIA Aluno(a), poderíamos iniciar essa caminhada retomando como se desenvolve a linguagem no ser humano e os desdobramentos dessa função para o ato da fala, porém, é importante não perder de foco o nosso objeto, o que será estudado nesta unidade: os sons que possibilitam a fala. Acontece bastante de “ao falar da linguagem” os leigos terem como ancoragem a língua escrita. Mas, segundo Callou e Leite (1993, p. 13) “a linguagem é primordialmente oral”. Ou seja, muito antes da escrita, os povos se comunicavam pela fala e, embora possa parecer óbvio, precisamos sempre lembrar que as letras não são correlatas aos sons. Dito de outro modo, letras podem até corresponder a sons, mas de forma complexa. Um exemplo trazido por Seara, Nunes e Volcão (2015) sobre a letra ‘x’, para que você possa entender melhor essa relação. A letra ‘x’ está presente em palavras que têm um som semelhante ao de ‘xícara’ e ‘xale’. Porém, observe que mesmo o som inicia as palavras ‘chave’ e ‘chuva’ – temos aí um primeiro indício de que letra e som não são equivalentes. Outra situação a ser pensada é a presença da letra ‘x’ nas palavras ‘exame’, ‘táxi’ e ‘explícito’, repare que, nessas palavras, a letra ‘x’ está correspondendo a sons diferentes. Tendo essa premissa como norteadora, podemos iniciar uma aproximação entre Fonética e Fonologia afirmando que ambas as disciplinas apresentam como objeto de pesquisa a investigação de “como os seres humanos produzem e percebem os sons da fala” (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015, p. 14). Sendo assim, mesmo que, posteriormente, as unidades tratem de forma separada Fonética e Fonologia, esta é uma finalidade exclusivamente didática. Mantenha-se atento ao fato de que esses dois campos se completam mutuamente. Em outros momentos a Fonética e a Fonologia foram pensadas de formas independentes. No princípio do século XX, a Fonética era tratada pelas Ciências Naturais, enquanto que a Fonologia pelas Ciências Linguísticas. Hoje, as discussões recentes mostram que elas têm uma ampla relação. Aluno(a), para que você possa acompanhar as explicações que vão seguir neste tópico, seguem algumas convenções: letras estarão sempre entre aspas simples: ‘’; grafemas estarão entre parênteses angulares: <>; transcrições fonéticas serão feitas entre colchetes []. Se, de imediato, você não conseguir reconhecer todos os símbolos, não se preocupe, pois eles serão retomados nas unidades futuras. As letras ‘s’, ‘c’, ‘q’, ‘u’, ‘h’ foneticamente possuem comportamentos distintos, quan- do pronunciadas. As palavras ‘saco’, ‘asa’, ‘assa’, ‘cebola’, ‘quero’, ‘lua’, ‘hoje’ e ‘cha- to’, apresentam os grafemas <s>, <ss>, <c>, <q>, <u>, <h>, <ch>. Agora, observe como são pronunciados esses grafemas nas palavras: [s]aco, a[z]a, a[s]a, [s]ebola, [k]ero, l[u]a, []oje, [x]ato. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 7WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1.1. Fonética Considerando que em uma situação de comunicação/fala a fonte é o falante, o transmissor é o aparelho fonador, o canal é o ar atmosférico, o receptor é o aparelho auditivo e o alvo é o ouvinte, a Fonética estuda como se produzem os sons, partindo de três ângulos diversos: o falante e seu aparelho fonador; os efeitos acústicos que os sons produzem; e, examinando a percepção da onda de som, pelo ouvinte. O primeiro enfoque, nomeado de Fonética Articulatória, estuda a fala partindo de seu funcionamento físico, o que envolve: cérebro, pulmões, laringe, ouvido, língua, entre outros elementos do corpo que são usados com a finalidade de produzir o som. Nesse campo de pesquisa, os parâmetros fisiológicos dos nossos articuladores são levados em consideração. Vamos considerar alguns exemplos que nos ajudam a perceber a variação na realização dos sons da língua (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015). Coloque a sua mão aberta no seu pescoço e pronuncie continuamente o som do ‘s’, dê uma pausa e, depois, o som do ‘z’. Você observará que há pregas vocais, que estão na laringe, que trabalham a vibração de formas diferentes: o som sem vibração, chamado de surdo, e o com vibração, chamado de sonoro. Agora, pronuncie a palavra ‘sagu’. Para produzir o fone [a] você precisou deixar a língua e a mandíbula abaixadas. Observe que nenhum elemento fisiológico bloqueia o som, ele sai livremente. Enquanto que na vogal ‘u’ há uma alteração no arranjo dos movimentos. Segundo Seara, Nunes e Volcão (2015), o dorso da língua vai para trás e os lábios se prolongam. Assim, a representação sonora da palavra ‘sagu’ será [sa′ gu]. O último caso que vamos analisar é do ‘l’ quando aparece no final das sílabas. Pronuncie as palavras ‘sal’ e ‘bolsa’ e preste atenção. O ‘l’ sobre uma vocalização soa da mesma forma do som do grafema <u>. Sendo assim, foneticamente descrevemos [′saw] e [′bowsə]. Os exemplos são breves, mas esperamos que você tenha conseguido perceber como sons distintos podem ser descritos se considerarmos as características fisiológicas dos nossos articuladores, pois é desse recorte que se ocupa a Fonética Articulatória, que será nosso foco de estudo na Unidade II. A Fonética Auditiva ou Perceptiva tenta entender como o som é recebido, isto é, como ouvimos, como percebemos a fala, como o nosso aparelho auditivo trata o som, ainda, como ele é decodificado pelo cérebro. Para que esse trabalho seja feito, existem ferramentas tecnológicas que partem de parâmetros acústicos, desenvolvidos pelo campo teórico da Física, da Fonética Acústica. E, ainda, há a Fonética Instrumental, que compreende o estudo das propriedades físicas da fala, considerando o apoio de instrumentos laboratoriais. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 8WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Aluno (a), faça uma breve ponderação sobre as vezes que você ouviu alguém fa- lando e, automaticamente, classificou idade, sexo, grau de educação dessa pes- soa, bem como a região do país que ela mora, e, até se ela é estrangeira. Perceba que, mesmo que existam diferentes variantes utilizadas para expressar o nosso português, você consegue se comunicar com essa pessoa de maneira natural. Para que você tenha um exemplo, vamos nos apoiar na reflexão propiciada por Seara, Nunes e Volcão (2015) sobre o processo de palatização que acorre quando pronunciamos a palavra ‘tia’. Um carioca, ao pronunciar tal palavra, produz ruído diante do ‘i’. Sendo assim, no “carioquês”, em ‘tia’, o som de ‘t’ se produz com fricção, representado pelos fones [′tʃia]. Já em Florianópolis, os falantes usam de uma leve aspiração para pronunciar o ‘t’, assim, a palatização da consoante com o ‘i’ não acontecee ‘tia’ pode ter como pronuncia [′thiə]. Caro(a) aluno(a), após essa exemplificação, espero que tenha ficado exposto como a Fonética irá descrever os sons se foram realizados como [t], [th] ou [tʃ]. Apesar desses sons serem bastante distintos, eles não conseguem diferenciar as palavras. Reflita: [t]ia e [tʃ]ia têm o mesmo significado em português brasilei- ro. Sendo assim, mesmo que em nosso território haja muitas variantes, como as pronúncias típicas dos regionalismos, há compreensão entre aqueles que falam. Em resumo, a Fonética está, então, preocupada em descrever como se dá a cons- trução dos sons na relação com as articulações, percepções e a acústica. “Assim parece que podemos considerar que foneticistas lidam com medidas precisas, amostragem do sinal de fala, estatísticas” (SEARA, NUNES E VOLCÃO, 2011, p. 13). 1.2. Fonologia Aluno(a), partindo do exemplo já estudado, sobre o processo chamadao “palatização” com a palavra ‘tia’, diferente da Fonética, a Fonologia irá explicar como se dá o funcionamento do sistema que gera mudanças na realização deste ‘t’. É papel da Fonologia considerar quais regras explicam por que isso acontece e, ainda, o que pode condicionar essas variações no nosso português. Se ainda ficou pouco compreensível, vamos a outro exemplo elucidado por Seara, Nunes e Volcão (2015). Ao pronunciarmos as palavras ‘faca’ e ‘vaca’ estaremos falando de objetos distintos, correto? Além de terem seus sons iniciais diferentes, são palavras que apresentam sentidos que não são os mesmos. Dito de outra forma, os dois sons [f] e [v] – que distinguem as palavras [′fakə] e [′vakə] – é base de pesquisa para a Fonologia. Atenção, aluno(a), para a Fonologia quando um par de sons é capaz de distinguir as palavras, eles são nomeados fonemas. Os fonemas são representados de uma maneira que não foi abordada até o momento, eles são anotados entre barras (duas) inclinadas para a direita: /f/ aca e /v/aca. 9WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA “A unidade fonética é o som da fala ou fone, enquanto a unidade da fonologia é o fonema” (CALLOU; LEITE, 1993, p. 11). Os fonólogos lidam com a organização mental da linguagem, com as distinções sonoras concernentes a línguas em particular, ou seja, estabelecem quais são os sons que servem para distinguir uma palavra de outra, ou quais são as regularidades de distribuição dos sons captadas a partir daquilo que o falante produz, ou ainda, quais são os princípios que determinam a pronúncia das palavras, frases e elocuções de uma língua (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2011, p. 13). Provavelmente você já notou que não são todas as sonoridades que se caracterizam como fonemas, ou seja, nem todos os fones capturados pela fonética são usados no sistema fonológico de uma ou outra língua. Voltando, mais uma vez, ao exemplo de ‘tia’, o par [t] e [tʃ] não são fonemas, já que [t]ia e [tʃ]ia apresentam o mesmo significado, lembra-se? Por esse motivo é que a Fonologia não se ocupa em descrever ou identificar variantes, por exemplo. Mas faz parte dos estudos dessa disciplina tratar quais sons são capazes de distinguir o significado entre uma palavra e outra, além de organizar regras que expliquem o porquê de ocorrerem as variações. Na obra Iniciação à Fonética e à Fonologia, Dinah Callou e Yonne Leite (1993, p. 11) fazem uma diferenciação entre as disciplinas, afirmando que à fonética cabe “descrever os sons da linguagem e analisar suas particularidades articulatórias, acústicas e perceptivas”, enquanto que “para a fonologia ficam as diferenças fônicas intencionais, que se vinculam as diferenças de significação”. À fonologia cabe “estabelecer como se relacionam entre si os elementos de diferenciação e quais condições em que se combinam uns com os outros para formar morfemas, palavras e frases”. Por isso que reafirmamos que Fonética e Fonologia são disciplinas que dependem uma da outra, que não podem ser consideradas de forma isolada. Para que qualquer estudo fonológico se realize, é preciso partir do conteúdo fonético. Só assim se faz possível que sejam identificadas as unidades distintivas da língua. Esta é uma sugestão de leitura, para que você possa complementar o conteúdo apresentado no tópico “Fonologia” da Unidade I. Para aprofundar suas reflexões sobre as questões teóricas relacionadas à Fonologia Portuguesa, recomendamos a obra Estudos de Fonologia Portuguesa, de Regina Célia Pagliuchi da Silveira. A autora, de forma muito introdutória, apresenta, especificamente no Capítulo I, um breve histórico, retomando os precursores da ciência dos fonemas e as dificulda- des que foram encontradas para se construir uma “gramática dos sons”. SILVEIRA. R. C. P. Estudos de Fonologia Portuguesa. São Paulo: Cortez, 1986, p. 11-65. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 10WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1.3. Uma Discussão Terminológica Aluno(a), é importante que você saiba que diferentes escolas linguísticas trataram o tema “fonologia”. Por isso, modelos teóricos e metodológicos foram se construindo durante as pesquisas, resultando em outras terminologias, como fonemática ou fonêmica. Caso você encontre essas terminações em outras leituras, queremos deixar explicitado que fonologia, fonemática ou fonêmica constituem a mesma ciência, referentes à linguagem humana: tendo como objetivo o estudo dos fonemas. A variabilidade terminológica dessa ciência vai depender das características de cada escola linguística que está inserida. Inicialmente, os estudos referentes aos sons consideravam “fonética e fonologia” como sinônimos, depois a diferenciação entre os dois vocábulos começou a ser ponderada e, dessa forma, a fonologia passou a ser considerada uma ciência da fonética. Desde o século XIX, com o desenvolvimento das pesquisas de Saussure, em Curso de Linguística Geral (1916), ficou compreendido que: os estudos sincrônicos e descritivos dos sons seriam nomeados de fonologia, enquanto o estudo diacrônico e histórico ficaria para a fonética. O Círculo Linguístico de Praga, em 1928, formalizou tal conceito, diferenciando as duas ciências que tratam do signo, utilizando a dicotomia saussuriana: langue e parole. Desde então, ficou estabelecido que a fonética iria estudar o som que é significante do signo da parole (uso individual da langue); a fonologia se preocupa com fonemas, significantes do signo da langue (sistema social, convencional de signos). Tanto os sons quanto os fonemas podem ser estudados sincrônica e diacronicamente (SILVEIRA, 1986, p. 19). Mesmo com essa formalização, teóricos russos, americanos e ingleses continuaram em debate, pois a palavra “fonologia” já era usada anteriormente com outra significação. Para resolver esse impasse, a palavra “fonêmica” foi proposta por Troubetzkoy (1947), aceitando, por parte dos anglo-saxões, esta divergência terminológica. Também precisamos citar os estudos dinamarqueses que diferenciaram a forma da substância. Jakobson (1967) e Hjelmslev (1943), por tratarem das relações, das formas, usam do termo “fonemática”, focalizando a descrição linguística e não mais o som. Assim como foi citado no início das nossas reflexões, hoje, nos estudos contemporâneos, fonética e fonologia procuram se complementar em uma unidade voltada à pesquisa. E, a fim de que possamos cumprir o objetivo de descrever as unidades linguísticas distintivas do nosso português, tomaremos como base, também, para as próximas unidades, os empenhos da linguística estrutural, especialmente a europeia. 2 - OS ALFABETOS FONÉTICOS Aluno(a), provavelmente você observou que no decorrer das exemplificações lançou-se mão de uma simbologia “nova”. Esse novo tipo de escrita se denomina transcrição fonética. Ou seja, “uma tentativa de se registrar de modo inequívoco o quese passa na fala” (CALLOU; LEITE, 1993, p. 33). Nesta seção, vamos apresentar alfabetos usados para representar os sons da fala. O Alfabeto Fonético Internacional, conhecido como AFI no Brasil, e o Speech Assessment Methods Phonetic Alphabet, o Alfabeto SAMPA, são convenções feitas a fim de que se possam escrever todos os sons, independente das línguas, mesmo que cada língua utilize as suas convenções para escritas no cotidiano. Dessa forma, uma transcrição fonética, feita partindo do alfabeto fonético, é passível de ser lida em qualquer língua, desde que a pessoa seja treinada. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 11WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2.1. O Alfabeto Fonético Internacional (AFI) O AFI foi criado pela Associação Fonética Internacional, para que as transcrições dos áudios, de idiomas diferentes, pudessem ser padronizadas. Ele é um sistema voltado para a notação fonética, que possui 107 letras, 52 sinais diacríticos e 4 marcas de prosódia. Os seus símbolos são divididos em três diferentes categorias: letras (que indicam os sons básico), diacríticos (que especificam sons que a letras não conseguem produzir) e o suprasegmentos (que indicam características da prosódia). Observe que nas colunas em que aparecem sons em pares, os da esquerda são os sons surdos – que são produzidos sem alguma vibração, como o ‘s’, som que praticamos no começo desta unidade. Enquanto que os sons do lado direito são os sonoros – produzidos com vibração de pregas vocais, como o ‘z’. O primeiro caso apresentado na tabela, em que aparece o par [p b]: [p] representa o som surdo e o [b], o sonoro. Se houver apenas um som representado, ele será sempre sonoro. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 12WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Tabela 1 – Alfabeto Fonético Internacional (AFI). Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2015). 2.2. O SAMPA Outro alfabeto muito usado para a função de transcrever os dados é o SAMPA (Speech Assessment Methods Phonetic Alphabet – Alfabeto Fonético dos Métodos de Avaliação da Fala), que é a escrita fonética legível para os computadores. Esse alfabeto foi criado em 1980 e tenta adotar ao máximo os caracteres do IPA, mas, quando isso não é concebível, eles disponibilizam outros sinais. Tomamos o exemplo proposto por Seara, Nunes e Volcão (2015) sobre alguns símbolos. Como o [@], ele corresponde ao ‘e’, uma vogal neutra, ou o símbolo [6] que condiz com um som vocálico do nosso português em posição não acentuada no final de uma palavra, essa foi a alternativa encontrada pelos estudiosos da época para solucionar a impossibilidade das codificações de texto. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 13WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA No SAMPA os símbolos são adaptados de forma diferente, a depender de que língua está se transcrevendo. A tabela que segue é especificamente usada para referenciar cada som do português. Tabela 2 – Símbolos fonéticos usados pelo SAMPA (português brasileiro). Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2015). 14WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3 - CAMPOS DE INTERFACE Caro(a) aluno(a), se durante a leitura desta unidade você conseguiu criar alguns questionamentos, como: o estudo dos sons – representados por meio de transcrições e símbolos –, como eles se apresentam efetivamente na nossa sociedade? Saiba que existe um número crescente de laboratórios voltados para a fonética. Os campos de atuação no domínio da fonética e fonologia são inúmeros e, para finalizar as reflexões desta unidade, iremos apontar campos que requerem profissionais com tais formações e, posteriormente, uma indicação de filme para que você possa observar essa prática. Para tanto, nos apoiaremos em uma reflexão já desenvolvida por Thaïs Cristófaro Silva (2013), em Fonética e Fonologia do Português. E faremos uma adaptação de seus textos em conjunto com Para conhecer Fonética e Fonologia do Português Brasileiro, de Seara, Nunes e Volcão (2015), que traz atualizações da conjuntura atual, em que comandos de voz estão sendo inseridos em todos os modelos tecnológicos, de carros, smartphones, aparelhos de segurança, entre outros. As atuações estão elencadas em ordem alfabética. 3.1. Ciência da Telecomunicação A transmissão da fala – em noções físicas – impõe desafios para a ciência. O som deve ser transmitido nitidamente para não se perder o conteúdo da informação. A transmissão dos meios de comunicação – como rádio e televisão – depende de pesquisa nesta área. Obter-se um meio eficaz, rápido e econômico de transmitir a fala são ambições desta área de pesquisa. Formação: Graduação em Computação, Física e Linguística e pós-graduação em áreas afins. 3.2. Dramaturgia A expressão oral tem um papel fundamental na dramaturgia. Pense, por exemplo, que um ator/atriz às vezes desempenha um papel cujo personagem tem um sotaque diferente do seu. O linguista pode também ensinar aos atores o melhor meio de utilizar os equipamentos que permitam o uso pleno das partes do corpo envolvidas na linguagem. Formação: Graduação em Letras, Teatro e Escolas de Dramaturgia. 3.3. Ensino de Línguas Estrangeiras O profissional que trabalha com língua estrangeira deveria conhecer bem qual língua está ensinando e, também, ser capaz de compará-la ao português. A comparação permite avaliar problemas de interferência linguística de uma língua na relação com outra e formular propostas para bloquear tal interferência. Assim, o professor que faz relações, para o aluno, entre a “nova” língua e a língua materna que ele possui, acelera o procedimento da aquisição. Formação: Graduação em Letras (Língua Portuguesa) e outra língua. 15WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.4. Ensino de Língua Materna Ao conhecer em detalhes a estrutura sonora da própria língua, a língua portuguesa, o profissional pode avaliar problemas enfrentados por estudantes e formular propostas para solucioná-los. Tal conhecimento é, sobretudo, valioso aos alfabetizadores e professores de português, seja para a alfabetização de adultos ou crianças. Além do mais, é importante que o profissional da educação saiba lidar com as variações e os preconceitos linguísticos que podem surgir em suas aulas. Formação: Curso Normal (segundo grau) e Graduação em Letras. 3.5. Fonoaudiologia O profissional que trabalha com aspectos patológicos relacionados à fala é o fonoaudiólogo. Ele deve conhecer bem os aspectos articulatórios e os aspectos acústicos que estão envolvidos durante a elaboração da fala. Ele também deve ser capaz de avaliar a organização fonológica do sistema da língua em questão. Aspectos como a gagueira ou “troca de sons” na fala são tratados por fonoaudiólogos ou terapeutas da fala. Por isso, é importante compreender os maquinismos articulatórios, acústicos, neurais e cognitivos relativos à produção/recepção dos sons que são da fala. Formação: Graduação em Fonoaudiologia e pós-graduação em áreas afins (como Linguística, por exemplo). 3.6. Linguagem de Surdo-mudo Os sistemas de comunicação de pessoas que não escutam ou que não falam têm uma complexidade gramatical específica que, por pressuposto, estão sujeitos a mudanças linguísticas semelhantes às que ocorrem nas línguas naturais. Há vários sistemas de sinais utilizados por mudos. Alguns surdos podem utilizar a linguagem oral se adequadamente orientados por profissionais. Formação: Graduação em Letras e áreas afins.Também o desenvolvimento de pesquisas em cursos de mestrado, doutorado, pós-graduação em áreas afins (como a Linguística, por exemplo). 3.7. Linguística Computacional Um dos grandes desafios da ciência computacional é encontrar correlatos acústicos da fala que sejam conversíveis em sinais digitais. Muito tem sido desenvolvido nesta área. Um bom exemplo dessa relação linguística-computação é: obter e passar informações por telefone entre um ser humano e um computador (via telefonia, por exemplo). Ao definirem-se os aspectos acústicos e articulatórios da língua, também, seu sistema fonológico, podem-se aperfeiçoar mecanismos já existentes. Desafios são impostos, sobretudo, na área da sintaxe e semântica. Formação: Graduação em Computação, Física e Linguística e pós-graduação em áreas afins. 16WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.8. Linguística Forense A fala, individualmente, apresenta características específicas e únicas. Estudos têm sido realizados para caracterizar as particularidades da fala individual e definir os parâmetros do que pode corresponder à “impressão digital” da fala. Espera-se que o progresso nesta área de pesquisa permita a utilização de evidências em tribunais. Pois com o avanço das ferramentas capazes de analisar a fala, tornou-se possível a identificação de um locutor, ou seja, “quem está falando”. A voz do locutor passa por uma fase de comparação com outras vozes. Formação: Graduação em Linguística com complementação das áreas de Física e Direito e pós-graduação em áreas afins. 3.9. Linguística Indígena Temos hoje aproximadamente 120 línguas indígenas faladas em todo o território brasileiro. Destas, apenas umas poucas foram amplamente estudadas. Do ponto de vista teórico o estudo destas línguas permite a ampliação do conhecimento dos mecanismos que regulam as línguas que são naturais. Do ponto de vista prático registram-se tecnicamente as línguas nativas, elas podem ser eventualmente utilizadas em projetos educacionais, se for do interesse da comunidade. Formação: Graduação em Linguística, Letras, Antropologia e pós-graduação em áreas afins. 3.10. Linguística O teórico da linguagem busca explicar os mecanismos subjacentes aos sistemas linguísticos. Bem como a compreensão dos sistemas de sons, que são produzidos pelas línguas e a relação destes sistemas com os demais componentes da gramática (como morfologia, sintaxe, semântica). Teóricos da linguagem podem investigar um determinado aspecto da linguagem do ponto de vista sincrônico ou podem empreender uma pesquisa de um aspecto diacrônico da língua escolhida. Formação: Graduação em Letras e Linguística e pós-graduação em áreas afins. 3.11. Planejamento Linguístico-social A variedade linguística em um país com a dimensão territorial do Brasil impõe desafios. Em áreas com grande migração nacional depara-se com as diferenças linguísticas entre o educador e os educandos. Muitas vezes, alunos com excelente potencial são excluídos do sistema educacional devido ao fato da particularidade da sua fala desviar da norma prescrita. A exclusão ocorre às vezes na mesma região geográfica, sendo que educador e educando compartilham de variedades linguísticas diferentes e problemas, até mesmo, de inteligibilidade podem surgir. Cabe ao planejador educacional avaliar situações de conflito e propor alternativas para os problemas existentes. Formação: Graduação em Letras, Pedagogia, Sociologia e Assistência Social. Pós- graduação em áreas afins com pesquisa específica em planejamento. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 17WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.12. Tecnologia da Fala Neste campo há, pelo menos, três frentes (SEARA, NUNES; VOLCÃO, 2015): na frente da Síntese de Fala o computador torna um texto que está escrito em oral, buscando a mesma forma natural que temos ao falar; no Reconhecimento de Fala a máquina cumpre tarefas que lhe foram solicitadas, partindo de um comando de voz; e na Interação via Fala há uma junção desses dois casos: são esses sistemas que aparecem em aplicativos de telefone, para compras online, nos acessos a contas bancárias, dentre outras possibilidades que geram perguntas e respostas entre a máquina e o usuário. 3.13. Tradução e Interpretação A tradução e interpretação tornam-se áreas de trabalho muito relevantes no mundo globalizante em que vivemos. Tradutores precisam conhecer o sistema de som das línguas no qual trabalham para explicar aspectos que muitas vezes são opacos em textos escritos (a tradução de poesias e canções é um caso explícito). Para o intérprete, esse conhecimento é essencial para que o mínimo de incompreensão incorra durante o seu labor. Formação: Graduação em Letras, Tradução e pós-graduação em áreas afins. 3.14. Zoobiologia Definir os parâmetros envolvidos na comunicação animal e caracterizar de que forma são organizados os sistemas linguísticos animais são tópicos de pesquisa na área de zoobiologia. Linguagens de chimpanzés, golfinhos, baleias e abelhas são relativamente bem estudadas. Faz- se relevante caracterizar as relações de comunicação entre diversos membros de uma mesma espécie em diferentes regiões do planeta. Formação: Graduação em Linguística, Biologia, Zootecnia e pós-graduação em áreas afins. Para esta unidade, apresentamos como sugestão o filme A Chegada, dirigido por Dennis Villeneuve, lançado no ano de 2016. Embora, inicialmente, a obra aparente ter um enredo para lá de “ficção científica hollywoodiana”, contando a história de extraterrestres que chegam à terra, deixando à capacidade norte-americana a sal- vação da raça humana, acredite: assistir esse filme é importante para completar os seus conhecimentos referentes à disciplina apresentada na Unidade I. é um dos melhores filmes lançados recentemente quando nos referi- mos à visibilidade para a profissão do Linguista e a importância da sua atuação na sociedade. Amy Adams vive o papel de Louise Banks, uma doutora em linguística que colabora com as forças armadas americanas. Na ocasião em que 12 “naves” pousam na terra, a especialista é chamada para traduzir a linguagem – feita por sinais – dos “heptápodes” e desvendar se eles representam uma ameaça à terra ou não. 18WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Com o desenvolver da narrativa, observamos que, mais que estabelecer uma co- municação entre raças distintas, que possuem linguagens distintas, a grande pre- ocupação de Louise é não parecer hostil, evitando o desencadeamento de um conflito real. Isso só é possível, pois a Linguista entende de semasiografia, um formato de linguagem que não apresenta correspondência fonética, como a ma- temática. Ela dispõe de muito afeto com o “novo”, sem temer, julgar ou ameaçar. Assim, tanto Louise quanto os heptápodes vão percorrendo juntos um caminho de aprendizado e conhecimento. Figura 1 – A Chegada. Fonte: Adoro Cinema (2018). O trailer do filme pode ser acessado no link que segue: <https://www.youtube. com/watch?v=isWwUJf4KEA >. Acesso em: 16 out. 2018. Linguistas de diversas áreas escreveram sobre este filme. Sendo assim, existem muitas análises sobre como se dá a profissão da personagem principal, como ela usa as ferramentas disponíveis para fazer pesquisa, que obras ela está lendo, além de análises aprofundadas sobre a fonética da linguagem fictícia criada pelo diretor, para a raça dos heptapódes. Como não queremos dar spoiller, acreditamos que depois de ter assistido a esse filme, você, aluno(a), deve ter compreendido a importância do profissional da Lin- guística, como se desenvolvem as habilidades fonéticas e como elas possuem uma relação muito próxima com o sucesso ou com o fracasso no percurso de en- sino-aprendizagem e, então, já pode aprofundar-seem questões mais complexas. Por isso, também fica como recomendação que, depois de assistir o filme, você acesse as análises de Ben Macaulay (2016). Disponível em: <https://gizmodo.uol. com.br/analise-linguistica-filme-a-chegada/>. Acesso em: 16 out. 2018. 19WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Como pudemos observar neste material, a Fonética e a Fonologia são disciplinas interdependentes. Elas estão em uma relação muito próxima, pois tratam o mesmo objeto de pesquisa: a sonoridade da fala. Simultaneamente, esses campos também apresentam as suas diferenças, pois se valem de “entradas” diferentes neste objeto que é o som. A Fonética se dedica ao estudo da elaboração da fala, do ponto de vista fisiológico e articulatório, descrevendo as funções do aparelho fonador, os mecanismos fisiológicos para a elaboração da fala, as propriedades articulatórias envolvidas na produção dos segmentos consonantais e vocálicos, e, ainda, descreve, classifica e transcreve a sonoridade da fala. Ao mesmo tempo, a Fonologia cuida do arranjo dos sons articulados em uma cadeia, chamada de fala, orientando-a por certos princípios. Segmentos consonantais e vocálicos são agrupados em estruturas silábicas, que por sua vez, determinam a organização das sequências sonoras possíveis em uma determinada língua, quer dizer, formando palavras possíveis para determinada língua. Sendo assim, segundo a ciência da Fonologia, as línguas variam conforme os seus inventários fonéticos e quanto às sequências sonoras possíveis para uma língua – podem não ser usadas em outra língua. Ainda tratamos brevemente uma discussão terminológica sobre a “fonologia”, para que você consiga se orientar em outros materiais de leitura, caso se depare com os termos “fonêmica” e/ou “fonemática”. Apresentamos os alfabetos IPA e SAMPA e, também, as interfaces das disciplinas de Fonética e Fonologia, bem como os seus desdobramentos na sociedade atual. Aluno(a), essa introdução se fez necessária para que nas próximas unidades possamos tratar com mais profundidade os princípios básicos dessas ciências e, enfim você possa ter uma compreensão ampla da organização da cadeia sonora do nosso português, o brasileiro, até breve! 2020WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 22 1 - APARELHO FONADOR ........................................................................................................................................ 23 2 - VOGAIS E CONSOANTES ................................................................................................................................... 25 2.1. AS CONSOANTES .............................................................................................................................................. 26 2.1.1. PONTO DE ARTICULAÇÃO ............................................................................................................................. 26 2.1.2. MODO DE ARTICULAÇÃO .............................................................................................................................. 28 2.1.3. VOZEAMENTO ................................................................................................................................................ 28 2.1.4. PROPRIEDADES ARTICULATÓRIAS SECUNDÁRIAS .................................................................................. 29 2.1.5. TABELAS FONÉTICAS CONSONANTAIS ...................................................................................................... 30 2.2 AS VOGAIS .......................................................................................................................................................... 31 2.2.1. VOGAIS ORAIS ................................................................................................................................................ 31 FONÉTICA PROF.A MA. MONIQUE BISCONSIM GANASIN ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: FONÉTICA E FONOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 21WWW.UNINGA.BR 2.2.2. VOGAIS NASAIS ............................................................................................................................................ 34 2.2.3. PROPRIEDADES ARTICULATÓRIAS SECUNDÁRIAS ................................................................................. 35 3 - ENCONTROS VOCÁLICOS ................................................................................................................................. 36 3.1. DITONGOS ......................................................................................................................................................... 36 3.2. TRITONGOS ....................................................................................................................................................... 37 3.3. HIATOS .............................................................................................................................................................. 37 4 - O SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO .................................................................................. 38 5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 39 22WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), na Unidade I apresentou-se uma introdução sobre os campos de pesquisa que têm os sons da fala como objeto: a Fonética e a Fonologia. A partir dessa introdução, você pôde entender mais acerca de algumas ramificações específicas da Fonética, como a articulatória, auditiva, acústica e instrumental. Para o curso de Letras, é sabido que há um recorte de investigação próprio que diz respeito aos aspectos fonéticos do português, partindo do ponto de vista articulatório. Sendo assim, nesta unidade você terá acesso aos aspectos relacionados aos sons da fala, especialmente no que diz respeito à produção dos que utilizamos em nossa fala, partindo do aspecto fisiológico e articulatório. Para tanto, temos como um dos objetivos tratarmos algumas questões relativas, particularmente, a essa área, como: você sabe quais os mecanismos que usamos para falar? Você saberia dizer o que diferencia a vogal da consoante? Você sabe quantas vogais existem no nosso português? Nesta unidade, buscaremos que você entenda o funcionamento do aparelho fonador dos humanos, quando produzem segmentos vocálicos e, também, os consonantais. Você verá que compreendendo como e onde o som produz-se, memorizar as nomenclaturas não será uma tarefa difícil. Sendo assim, partiremos de como cada som é gerado pelo aparelho fonador, passando pelo como se da à modelagem dos diferentes tubos acústicos, conforme os movimentos dos articuladores, chegando ao resultado: como se dá a produção dos sons de fala do português. Ainda sobre vogais e consoantes, é nosso objetivo apresentar as propriedades das nossas consoantes, as propriedades articulatórias das vogais orais e nasais da nossa língua, e, também, como são tratados os encontros vocálicos (ditongos, tritongos e hiatos). Para que esta unidade seja aproveitada ao seu máximo, se faz necessário que você faça um esforço, pronunciando sempre as palavras tomadas nos exemplos. Faça esse exercício e os conteúdos aqui disponíveis ficarão ainda mais amostrados. 23WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - APARELHO FONADOR Falar parece ser uma ação muito natural, afinal, são poucas as vezes que nos atentamos ao “passo a passo” desse processo. Mas, saiba que é exatamente essacapacidade complexa que nos diferencia dos outros animais, que singulariza o ser humano na sua correspondência com a natureza. Como já explicitado, o recorte que propomos para explicar a elaboração da fala, nesta unidade, busca considerar a Fonética Articulatória. Sendo assim, nossas reflexões partem do estudo sobre o aparelho fonador, o responsável pela nossa respiração. Isso quer dizer que: para que exista fala é preciso, antes de tudo, que haja respiração. Segundo Seara, Nunes e Vulcão (2015, p. 38), quando falamos usamos do ato de respirar de forma diferenciada, formulando um processo complexo: Para produzir a fala, é necessário que haja vibração das moléculas de ar. As moléculas em vibração são expelidas pela compressão do volume dos pulmões, tonando o fluxo de ar audível pela vibração das pregas vocais que se encontram na laringe. Esse fluxo de ar vai sofrer modificações em função das alterações promovidas dentro do aparelho fonador a partir dos movimentos e posicionamento dos órgãos articuladores que estão acima da laringe. No nosso português a fala é gerada partindo da corrente de ar egressiva (esse termo quer dizer que o ar vai de dentro para a área externa dos pulmões). Para tanto, antes de falar precisamos inspirar e encher os pulmões de ar, aumentando o seu volume. Depois, por meio da expiração, essa energia é enviada para que as pregas vocais transformem a corrente de ar em um som audível. Para que, por fim, o movimento dos órgãos articuladores modifique esse som em diferentes formatos, totalizando na elaboração da fala. Figura 1 – Aparelho fonador humano. Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2015). Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 24WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Existem algumas experiências interessantes que simulam o trabalho das cordas vocais, o chamado “processo de fonação”, como encher um balão (ou bexiga) com ar, sem deixar o ar escapar, segurar a boca do balão com a extremidade dos dedos (como mostra a Figura 2) e deixa o ar sair aos poucos. Você verá que ao sair o ar provocará um ruído, assim como acontece na vibração das nossas cordas vocais. Figura 2 – Balão simulando o movimento de vibração das pregas vocais. Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2015). Para que você compreenda melhor esse movimento, inicialmente, partiremos de uma breve explicação sobre o nosso aparelho fonador: conjunto de órgãos que, por sua vez, são responsáveis pelos mecanismos e articulações dos sons. Esse aparelho possibilita a elaboração de sons em qualquer língua, por isso, sofremos um pouco para aprender como pronunciar línguas diferentes, que nos exigem o uso dos órgãos de maneira “nova” para aprender “novas” pronúncias. São três os sistemas que compõem nosso aparelho fonador: 1) O sistema respiratório, que compreende o diafragma, os dois pulmões, os músculos pulmonares, os tubos brônquios e a traqueia. Esse sistema está localizado na parte inferior à glote, que é denominada cavidade infraglotal, ou subglótica; 2) O sistema fonatório, composto apenas pela laringe que, por sua vez, é formada pelas cordas vocais. Essa região, que pode, ou não, ser obstruída pelas cordas, também pode ser chamada de glote; e, 3) O sistema articulatório, formado pela cavidade faríngea (faringe), cavidade oral, que abrange a boca – língua, o palato duro e mole (ou véu palatino), úvula, alvéolos, dentes e lábios – e a cavidade nasal, onde estão as narinas. Essas estruturas se encontram na parte superior à glote, nomeada, também de supraglótica. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 25WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 3 – Os sistemas respiratório, fonatório e articulatório. Fonte: Silva (2013). Embora todos esses órgãos sejam necessários para que o ser humano consiga falar, é importante relembrar que nenhum deles tem essa função como primária. Além de respirar, como já foi dito, as ocupações inaugurais dos órgãos supracitados são – de forma geral – mastigar, engolir ou cheirar. “Não existe nenhuma parte do corpo humano cuja única função esteja apenas relacionada com a fala” (SILVA, 2013, p. 24). Mas é a combinação dos três sistemas descritos que caracteriza um aparelho fonador, uma ferramenta humana limitada, quando considerada a sua fisiologia. Tomemos como exemplo a não possibilidade de produzir um som levando a sua língua até a ponta do nariz, mas que é totalmente viável que você o faça levando a língua até a parte traseira dos dentes que ficam na parte superior, correto? (sugiro que faça uma tentativa) “O ser humano é capaz de produzir uma gama variadíssima de sons vocais. Porém nem todos eles são utilizados para fins linguísticos” (CALLOU; LEITE, 1993, p. 15). Sendo assim, por meio da capacidade humana de movimentar esses órgãos pertencentes ao aparelho fonador, a soma de sons produzidos por línguas naturais seja limitada, segundo os cientistas são, aproximadamente, 120 símbolos. 2 - VOGAIS E CONSOANTES Aluno(a), agora que você já compreende melhor como se compõe o aparelho fonador, chegamos ao momento de discutir detalhadamente os sons da nossa fala, a fala humana, de caracterizá-los partindo dos parâmetros articulatórios do aparelho que acabamos de conhecer. Para tanto, vamos dividir os Fones entre vogais e consoantes. Essa separação tradicional acontece porque “todas as línguas naturais possuem consoantes e vogais” (SILVA, 2013, p. 26) e, também, graças às características classificatórias de ambas as classes, partindo de um aspecto acústico-físico. “Os diferentes modos por que o fluxo de ar é modificado permite o estabelecimento de duas grandes classes de sons: a classe das consoantes e a das vogais” (CALLOU; LEITE, 1993, p. 23). Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 26WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Você verá que a diferença básica entre vogais e consoantes é a forma como elas são articuladas. As consoantes, ao serem produzidas no trato oral, encontram obstruções, podendo ou não serem produzidas com vibrações nas cordas vocais. Sendo assim, são caracterizadas pelo modo e local onde se dá a articulação, seu vozeamento ou não vozeamento. Enquanto que, de forma contrária, as vogais não contam com impedimentos na passagem de ar, sendo assim, são sempre vozeadas. Para tanto, são analisadas a partir do estágio de abertura da cavidade oral, altura e movimento da língua e do arredondamento dos lábios (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015). 2.1. As Consoantes Como citado no tópico precedente, entendemos por segmentos consonantais aqueles sons elaborados com alguma obstrução (total/parcial) enquanto o ar percorre o trato oral. A fim de ordenar as consoantes consideramos o seu ponto de articulação, modo de articulação e vozeamento (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015). Sendo assim, caro(a) aluno (a), ao final deste tópico você poderá fazer a descrição articulatória de qualquer segmento consonantal. 2.1.1. Ponto de articulação Antes de entrarmos propriamente neste tópico, é necessário fazer um aprofundamento sobre os nossos articuladores, que são definidos como ativos ou passivos. Os ativos são os que se movimentam em direção do articulador passivo, modificando o trato vocal na elaboração da fala, são eles: a língua, lábio e dentes inferiores, véu do palato e as pregas vocais. Por outro lado, os passivos não se movem e estão localizados na mandíbula superior. São eles: lábio e dentes superiores e o céu da boca, que são divididos em alvéolos, palato duro e véu palatino (que também será tratado comopalato mole). Figura 4 – Esquema detalhado dos órgãos articuladores ativos e passivos do aparelho fonador. Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2015). Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 27WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA É a dependência entre os articuladores (ativos e passivos) que determina onde os segmentos consonantais serão articulados. Neste estudo estamos considerando os articuladores passivos como referência. Desse modo, o ponto de articulação está conectado com os articuladores ativos e passivos implicados na elaboração das consoantes. Partindo da articulação dos passivos, os segmentos consonantais são classificados: Bilabial, como em “mamãe”, “papai” e “boa”, o lábio inferior toca o superior; Labiodental, como em “farofa” e “fava”, o lábio inferior vai até os dentes incisivos da parte superior; Dental, como em “data”, “sapa”, “nada” e “lata”, o ápice da língua vai até os dentes incisivos da parte superior; Alveolar, como em “tato”, “asa”, “assa”, “nata”, “nora”, “torra”, a ponta da língua vai até os alvéolos; Alveopalatal (ou pós-alveolares), como em “chata”, “já”, “tchau” e “xarope”, a parte anterior da língua vai até a região média do palato duro; Retroflexa, como em “porta” e “corda”, a ponta da língua sofre uma retração em uma região próxima dos alvéolos, até o palato duro; Palatal, como em “galho” e “telha”, a parte média da língua vai até o palato duro; Velar, como em “gata” e “casa”, o dorso da língua vai até o véu do palato; Uvular, como em “rato” e “gordo”, o dorso da língua vai até a úvula; Glotal, como em “rato” e “gordo”, os músculos da glote são como articuladores (considere a pronúncia típica de Belo Horizonte). Figura 5 – Distribuição dos pontos de articulação do português brasileiro. Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2015). Além de identificarmos onde é articulado, o ponto que se encontra os articuladores de um segmento, devemos caracterizar a sua maneira ou modo de articulação (SEARA; NUNES; VOLCÃO, 2015). Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 28WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 2.1.2. Modo de articulação Quando produzimos segmentos, pode ser que, na passagem pelas cavidades supraglóticas, aconteça ou não obstrução de ar. Segundo Seara, Nunes e Volcão (2015) partindo do modo de articulação, as consoantes são ordenadas em: Oclusiva/plosiva, quando os articuladores produzem a obstrução completa do caminho que percorre o ar através da boca, como em “pá”, “tá”, “cá”, “bar”, “dá” e “gol”, o véu do palato fica elevado e o fluxo de ar vai até a cavidade oral. Oclusivas são consoantes orais; Nasal, assim como as oclusivas, ocorrem quando os articuladores produzem a obstrução completa do ar através da boca. A diferença é que como em “má”, “nua” e ‘banho’, o véu palatino fica repousado enquanto o ar, que vem dos pulmões, vai até as cavidades nasal e oral; na Fricativa há uma espécie de diminuição do canal bucal, formando um bloqueio parcial, o que faz gerar o ruído e a fricção. Como em “saca”, “fava”, “azar”, “jato” e “chato”. Os fricativos ocorrem muito nas variantes típicas do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Florianópolis; na Africada há um bloqueio completo do curso de ar, seguido de uma espécie de estreitamento no canal bucal, gerando ruído e fricção, posteriormente ao afrouxamento da oclusão. Como em “dia” e “tia” o véu do palato fica levantado, enquanto o curso de ar passa somente pela cavidade oral; Tepe, quando há a oclusão completa e rápida do curso de ar na região da cavidade oral, como em “cara” e “brava”, o véu do palato fica levantado, impossibilitando o curso do ar na cavidade nasal; Vibrante, quando a ponta da língua ou a úvula provoca algumas oclusões completas e breves, como em “roda” e “marra”, o caminho que percorre o ar na cavidade nasal também fica bloqueado; Aproximante ou Retroflexa acontece no momento da produção da consoante, com uma compressão que não provoca, de fato, uma obstrução, como em “erre”, a cavidade nasal fica obstruída com o véu do palato, impossibilitando que o ar vá para as narinas; Lateral, quando o curso de ar sofre obstrução na linha de centro do trato vocal, como em “lá” ou “palha”, o ar é expelido por ambos os lados dessa obstrução, por isso, o nome “laterais”. 2.1.3. Vozeamento Nesta classificação, as consoantes podem, ainda, serem ordenadas por seu vozeamento. Ou seja, dependendo de como estão posicionadas as cordas vocais, na glote, no curso de ar dos pulmões até a faringe, pode (ou não) ser obstruída. O posicionamento da glote pode ser classificado como: Sonoras/vozeadas, quando as cordas vocais se aproximam para a reprodução de um som e, consequentemente, vibram durante esse processo, como em “pata” e “faca”; Surdas/ não vozeadas, quando os músculos que compõem a glote ficam completamente separados, sendo assim, o ar flui de forma livre e não provoca vibração das cordas vocais, como em “bolo” e “zona”. Figura 6 – O estado da glote em segmentos vozeados (esquerda) e desvozeado (direita). Fonte: Silva (2013). Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 29WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Aluno(a), observe que todas as categorias apresentadas até agora se aproximam em suas definições, tanto no ponto de articulação, quanto no modo de articulação, existem tipos de consoantes que se ligam em alguns nuances. Acerca das conso- antes vozeadas ou desvozeadas, podemos refletir o mesmo. Elas não precisam ser interpretadas de forma binária, mas podem apresentar uma gradação de sons. Observe os exemplos colocados por Silva (2015, p. 27) sobre os sons de [b, d, g]. Segundo a autora, embora essas consoantes sejam vozeadas no nosso português e em inglês americano, ao fazermos uma descrição desses sons, em cada língua, devemos “caracterizar os diferentes graus de vozeamento: completamente voze- ados em português e parcialmente vozeados em inglês”. Ou seja, talvez em um estudo mais específico, considerando relações de línguas diferentes, essas duas modalidades não sejam suficientes. 2.1.4. Propriedades articulatórias secundárias Os seguimentos consonantais, ainda, podem ser caracterizados pela sua produção, partindo de propriedades articulatórias que são chamadas secundárias. A nomeação “secundárias” é uma maneira de marcar que alguns articuladores, que são envolvidos nesse processo, que, usualmente, não seriam requeridos na articulação de segmentos consonantais. Tomemos como exemplo uma sequência como “su” (SILVA, 2013, p.34). Perceba que para articular a consoante ‘s’ você precisou fazer um arredondamento dos lábios. Considerando que os lábios não são envolvidos na elaboração de segmentos consonantais, essas propriedades aparecem quando o contexto ou o ambiente pedem segmentos adjacentes. Por isso, para que as propriedades articulatórias secundárias sejam marcadas, utilizamos um diacrítico junto a consoante em questão. As articulações secundárias dos segmentos consonantais relevantes para o nosso português, são: Labialização, momento em que os lábios ficam arredondados durante a elaboração do segmento consonantal, seguida das vogais arredondadas (orais ou nasais), como em “tutú”, “só”, “bolo”, “rum”, “som”. Utilizamos o símbolo “w” acima à direita do segmento para destacar a labialização, [ʷ]; Palatalização, quando a língua levanta e vai atéa parte subsequente do palato duro (mais para frente da cavidade bucal do que usualmente acontece para produzimos consoantes), como em “aliado”, “kilo”, “guia”, “letra”, “leva” e “tento” – ocorre no momento em que a consoante é seguida de vogais interiores i, e, é (orais ou nasais). Utilizamos o símbolo “j” acima à direita do segmento para marcar palatalização, [ʲ]; Velarização, quando a parte subsequente da língua vai até o véu palatino, enquanto articula um som consonantal – como em “sal” e “salta”, ocorre quando a lateral está no final da sílaba. Utilizamos o símbolo [ł] para transcrever a lateral velarizada; Dentalização: às vezes, a produção de consoantes do nosso português são dentais ou alveolares, isso vai depender da variação dialetal (e não do contexto), como na pronúncia de “tapa”, considerando o dialeto paulista, apresenta a propriedade de dentalização, enquanto que no mineiro ocorre uma articulação alveolar. Utilizamos um símbolo como o que segue na letra ‘t’, t̪ a fim de destacar a dentalização. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 30WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Atenção, aluno(a), ao fazermos os registros fonéticos de palavras do português omitiremos as especificidades das articulações secundárias: labialização, palatização e dentalização, ficando apenas com a velarização (que depende da estrutura das silabas: estando na posição final). Por isso, neste material, adotaremos a transcrição fonética ampla, ao invés da restrita – que considera os aspectos condicionados por contextos ou características específicas da língua/dialeto. 2.1.5. Tabelas Fonéticas consonantais Seguem duas tabelas, na primeira lista estão relatados os segmentos consonantais, que ocorrem no nosso português, enquanto que na segunda, inserida na indicação de vídeo, são ilustrados os segmentos apresentados na primeira tabela fonética. Figura 7 – Símbolos fonéticos consonantais relevantes para o português brasileiro. Fonte: Silva (2013). Aluno(a), como sugestão de vídeo, apresentamos o Alfabeto Fonético – Conso- antes. Assistir este material é importante para completar os seus conhecimentos, considerando que a tabela das consoantes – pertencente ao Alfabeto Fonético Internacional – está toda pronunciada no vídeo! Então, com essa tabela você terá certeza de como são produzidos os sons de cada consoante, que estudamos até aqui. Acesse: <https://www.youtube.com/watch?v=hhTyatrGoTY>. Isabelle Realce 31WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 2.2 As Vogais Aluno(a), você já sabe que, diferente dos segmentos consonantais, os segmentos vocálicos não são obstruídos ao passarem junto ao ar pelo trato vocal. Esses segmentos passeiam livremente, sem a fricção produzida pelos articuladores. E, também, são sempre sonoros (ou vozeados), considerando que a emissão dos sons das vogais, os vocálicos, realiza vibrações nas pregas vocais. Portanto, esses segmentos serão classificados segundo os seguintes aspectos articulatórios: oralidade ou nasalidade; movimento de altura da língua; movimento de avanço (anterioridade) e de recuo (posterioridade) da língua; protrusão ou estiramento dos lábios. 2.2.1. Vogais orais Quando produzimos as vogais orais, o acesso para o canal nasal fica obstruído pelo véu do palato. Assim, o ar só consegue sair por meio do trato oral. Nesse caso, a língua consegue se mover de duas formas: verticalmente (altura: levantar ou abaixar) e horizontalmente (anterioridade: avançando, ou posterioridade: recuando). E, também, existe a possibilidade do estiramento dos lábios, nas vogais orais os lábios podem ficar arredondados (protraídos), como acontece para as vogais “arredondadas” – as outras são descritas “não arredondadas”, enquanto os lábios se mantêm distensos (estirados). No que se refere à dimensão vertical da língua (altura), as vogais orais são classificadas em: Altas, quando a parte mais espessa da língua se suspende ao máximo, ficando elevada, sem produzir ruídos e fricção enquanto que o trato vocal fica mais fechado, como as vogais [i] e [u]; Médias-altas, quando a parte mais espessa da língua fica na posição intermediária – tendendo para o alto –, enquanto o trato vocal se mantém meio fechado, como nas vogais [o] e [e]; Médias- baixas, quando a parte mais espessa da língua fica na posição intermediária – tendendo para baixo –, enquanto o trato vocal se mantém meio aberto, como nas vogais [ɛ] e [ɔ]; Baixas, quando a parte mais espessa da língua fica na região mais baixa do trato oral, que está aberto, como as vogais [a] e [ɐ]. Figura 8 – Posição da língua em relação à altura (eixo vertical) no trato oral. Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2015). Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 32WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Sobre a dimensão horizontal da língua (avanço ou recuo), durante a articulação do segmento vocálico, as vogais orais são ordenadas: Anteriores, quando o corpo da língua vai até a parte da frente do trato vocal, como na pronúncia de [i], [e] e [ɛ]; Posteriores, quando o corpo da língua vai até a parte de trás do trato vocal, no sentido do palato mole, sem bloquear o fluxo do ar, como acontece quando pronunciamos as vogais [ɔ], [o] e [u]; Centrais, quando a língua fica localizada na parte mais central do trato oral, como quando pronunciamos as vogais [a] e [ɐ]. Figura 9 – Posição da língua em relação ao avanço/recuo (eixo horizontal) no trato oral. Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2015). Em relação à posição assumida pelos lábios, as vogais são ordenadas em Arredondadas (ou Labializadas), na situação em que os lábios ficam projetados para frente, ficando arredondados, como quando pronunciamos as vogais [ɔ], [o] e [u]; Não arredondadas, na situação em que os lábios ficam distendidos ou estirados, como quando pronunciamos as vogais [i], [e], [ɛ], [a] e [ɐ]. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 33WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 10 – Posição dos lábios em termo dos graus de altura que a língua assume. Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2015). Dentro do quadro elaborado pela Associação Internacional de Fonética, sobre a transcrição de segmentos vocálicos, apenas sete deles ocorrem em posição tônica no português, observe: Isabelle Realce 34WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 11 – Classificação das vogais quanto ao arredondamento dos lábios, anterioridade/posterioridade e altura - posições tônicas no português. Fonte: Silva (2013). Para que uma vogal seja descrita de forma precisa, contamos com os diacríticos, que já foram apresentados anteriormente, no tópico voltado para as consoantes e suas especificações. São eles: Figura 12 – Diacríticos para detalhamento fonético das vogais. Fonte: Silva (2013). 2.2.2. Vogais nasais Aluno(a), até agora tratamos do comportamento fonético de um tipo de vogal, aquelas em que os sons são produzidos enquanto o véu do palato está levantado, ou seja, as vogais orais. Porém, também existe o abaixamento do véu do palato na produção de segmentos vocálicos, como mostra a Figura 13. Nesses casos, o curso do ar, além de atingir a cavidade oral, passa pelas narinas. Nesse movimento, o ar ao também passar pelas cavidades ressoadoras nasais, algumas vogais sofrem modificaçõesmais acentuadas do que outras. Para distinguir as vogais nasalizadas, iremos usar um til, isto é [~], colocado acima do segmento vocal, a fim de marcar a nasalização. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 35WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 13 – Posição do véu do palato na produção de vogais orais e nasais. Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2015). Silva (2013) ressalta que a nasalidade resultante da produção vocálica é causada pela descida do véu palatino na relação com a altura da língua. As vogais altas orais [i] e [u], quando são elaboradas com a descida do véu, se tornam [ĩ] e [ũ]. Nas vogais baixas, há um esforço maior para a descida do véu, tente pronunciar as silabas da palavra “anta”, separadamente. Você verá que terá produzido o [a] e o [ɐ̃]. E assim, também decorre no caso das vogais médias altas, quando são pronunciadas com uma gradativa descida da língua, [ẽ] e [õ]. 2.2.3. Propriedades articulatórias secundárias Além das especificidades já apresentadas, propriedades como altura e avanço ou recuo da língua, arredondamento dos lábios, podemos, ainda, caracterizar os segmentos vocálicos partindo de propriedades articulatórias secundárias. Essas medidas são: a Duração, que só pode ser feita na comparação entre dois segmentos, ou seja, “a duração é uma medida relativa entre segmentos” (SILVA, 2013, p. 71). Esses diacríticos são usados para destacar a duração do segmento vocálico na relação com outro, como em: [a:] – duração longa, [a.] – duração média, [a] duração breve; o Desvozeamento, mesmo que todas as vogais sejam vozeadas, por vezes, os segmentos são elaborados sem vibração, dessa forma, ocorre o desvozeamento. Pronuncie a palavra ‘sapo’, note que há um desvozeamento, pois a vogal, no final da palavra, não é acentuada. Faremos o uso de um pequeno circulo para caracterizar: [ɐ̥]; Nasalização, como foi explicitado há pouco, o recuo do véu palatino deixa o curso do ar sair pelas cavidades nasais e orais. Porém, também existem vogais nasalizadas pelo contexto, isso é, pela articulação de fones “vizinhos”, como em “cama”, “ninho” e “tenho”; e Tensão, que diz o nome, para que os segmentos sejam realizados precisam de esforço muscular, se opondo à elementos frouxos, como podemos observar nas vogais átonas finais das palavras “pato” e “safári”, consideradas frouxas, na comparação com as tônicas finais de “saci” e “jacu”. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 36WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 3 - ENCONTROS VOCÁLICOS Quando duas ou três vogais se encontram, respectivamente, acontece um ditongo e um tritongo. Aluno(a), para esta unidade, entenda que esses fenômenos serão sempre formados pelas vogais altas anterior [i] e posterior [u]. Quando as vogais se encontram nas regiões periféricas das sílabas são nomeadas semivogais, porque na comparação com as vogais que elas acompanham, apresentam menor prominência acentual. Como em “pai”, que “a” é a vogal e “i” é a semivogal. Também é preciso chamar a sua atenção para algumas nomenclaturas. Possivelmente você encontrará, nas literaturas existentes, outras nomenclaturas para “semivogal”, como “semivocóide”, “semicontóide” ou, ainda, “glide”. Para este material adotaremos o termo “semivogal”. 3.1. Ditongos Até o momento, nossos estudos estavam tratando as vogais monotongas, ou seja, aquelas que não exibem mudança de qualidade. Segundo Silva (2013, p.73), “Um ditongo é uma vogal que apresenta mudanças de qualidade continuamente dentro de um percurso na área vocálica”. Sendo assim, não podemos confundir o ditongo com “duas vogais postas em sequência”, essa definição cairia bem para outro caso, o de “hiato”. Pois, do ponto de vista fonético, no ditongo há um movimento articulatório que provoca mudança na qualidade vocálica, principalmente em relação ao tempo que a semivogal ocupa na estrutura silábica. Note que na palavra “cai” há um ditongo crescente, pois há mais de um segmento vocálico na mesma sílaba, uma vogal e depois uma semivogal. Já na palavra “Márcia” há um ditongo decrescente, formado por semivogal e depois uma vogal. Sendo assim, sempre que houver um ditongo a semivogal é considerada uma vogal sem proeminência acentual. Silva (2013, p. 75) explica melhor essa distinção entre ditongo e hiato: Um ditongo está em oposição a uma sequência de vogais pelo fato de ambas as vogais no ditongo ocorrerem em uma única sílaba enquanto que na sequencia de vogais os dois seguimentos vocálicos ocorrem em silabas distintas. Na sequência de vogais de um ditongo a vogal sem proeminência acentual corresponde ao glide. A tabela a seguir traz exemplos de ditongos crescentes e decrescentes, nasais e orais do nosso português. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 37WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 14 – Levantamento dos ditongos. Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2011). 3.2. Tritongos Da mesma maneira que os ditongos, os tritongos ocorrem na mesma sílaba, porém, como sugere o nome, com três segmentos vocálicos. Somente um deles ocupa o pico silábico, como uma vogal, enquanto que os outros dois são semivogais. Como nas palavras “Uruguai”, “enxaguei” e “saguão”. Alguns teóricos consideram que os tritongos podem ser chamados de consoantes complexas. Em alguns casos, a consoante complexa vai depender da pronúncia do falante, como em “quatorze”, mas, em muitas outras a consoante complexa ocorre obrigatoriamente para todos os falantes, como em “linguagem” e “tranquilo”. 3.3. Hiatos Caso o encontro de duas vogais – que formam o núcleo silábico – ocorra em sílabas separadas, teremos um hiato. Como em “sai” e “baú”. Segundo Seara, Nunes, Volcão (2015, p. 69), “o hiato pode ser intravocabular, quando ocorre dentro de uma palavra, ou intervocabular, quando é consequência do encontro entre uma vogal final de uma palavra e a vogal inicial de outra”. Alguns casos de hiato podem ser averiguados nos casos exemplificados por Seara, Nunes, Volcão (2015, p. 69): a) Entre vogais iguais átonas: caatinga, coordenação; b) Entre vogais iguais, em que a segunda e tônica: alcoólico, xiita; c) Entre vogais iguais, sendo a primeira tônica: voo, veem; d) Entre vogais diferentes átonas: doação, estereotipado; e) Entre vogais diferentes, sendo a primeira tônica: Maria, pavio; f) Entre vogais diferentes, sendo a segunda tônica: hiato, freada. Isabelle Realce Isabelle Realce Isabelle Realce 38WWW.UNINGA.BR FO NÉ TI CA E F ON OL OG IA D A LÍ NG UA P OR TU GU ES A | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 4 - O SISTEMA VOCÁLICO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO Aluno(a), vimos nesta unidade que ao classificar os sons vocálicos consideramos o abaixamento ou levantamento do véu do palato, a altura e o movimento da língua e o arredondamento dos lábios. Além dessas classes, as vogais que se realizam no nosso português ainda podem ser categorizadas pela sua tonicidade, sendo: tônicas, pretônicas ou postônicas. Para que você tenha um conhecimento geral desses fenômenos, segue uma tabela para uma leitura rápida, que, posteriormente, pode ser aprofundada com uma leitura atenta da tabela completa das vogais. Figura 15 – Fonemas vocálicos do português brasileiro. Fonte: Seara, Nunes, Volcão (2011). Aluno(a), para que você possa continuar os seus estudos na Fonética, sugerimos a obra Fonética e Fonologia do Português: roteiro de estudos e guia de exercícios de Thaïs Cristófaro Silva. Nela você poderá ter acesso à exercícios extremamente didáticos para compreender, com mais efeito, tudo o que foi posto nesta unidade. SILVA,