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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL MAURÍCIO PIZZOLATTO BRUSTOLIN Itajaí (SC), novembro de 2008 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL MAURÍCIO PIZZOLATTO BRUSTOLIN Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI , como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Msc. Wanderley Godoy Júnior Itajaí (SC), novembro de 2008 ii Meus Agradecimentos: A Deus, por ter sido um amigo fiel em todas as horas. Ao Professor Msc. Wanderley Gody Júnior por ter me orientado nesse trabalho. Aos colegas e amigos que fiz no período da faculdade. iii Este trabalho dedico: Ao meu pai Valdoci Luiz Brustolin, minha mãe Marise Pizzolatto Brustolin e minha irmã Maiara Pizzolatto Brustolin, pela compreensão e companherismo nesta fase da minha vida. iv PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduando Maurício Pizzolatto Brustolin , sob o título CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL, foi submetida em ___ de ___________ de 2008 à Banca Examinadora composta pelos seguintes Professores:_____________________________________________________ _______________________________________________________________ e aprovada com a nota ________ (____________). Itajaí (SC), ____ de ____________ de 2008. Professor Msc. Wanderley Godoy Junior Orientador e Presidente da Banca Msc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia v DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí (SC), ____ de ______________ de 2008. Maurício Pizzolatto Brustolin Graduando vi ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS a.C Antes de Cristo Art. Artigo CBF Confederação Brasileira de Futebol CDB Confederação Brasileira de Desportos CLT. Consolidação das Leis do Trabalho CND Conselho Nacional de Desportos STJD Superior Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol § Parágrafo vii ROL DE CATEGORIAS Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. Atleta Amador 1 - Os desportistas de qualquer idade que, com liberdade, entregam-se à prática de qualquer modalidade sem qualquer forma de remuneração ou incentivos materiais, ou seja, aqueles que não recebem nenhuma compensação econômica como conseqüência da prática esportiva e não têm nenhum outro interesse que não seja o do simples revigoramento físico, euforia da saúde ou passatempo higiênico. Atleta não-profissional 2 - São identificados pela liberdade de prática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio. Atleta Profissional 3 - É todo aquele que pratica esporte como profissão, entendida esta como o exercício de um trabalho como meio de subsistência do seu exercente. Contrato 4 - É o acordo tácito ou expresso mediante o qual ajustam as partes pactuantes direitos e obrigações recíprocas. Contrato de Trabalho 5 - Acordo de vontades, tácito ou expresso, pelo qual uma pessoa física coloca seus serviços à disposição de outrem, a serem prestados com pessoalidade, não-eventualidade, onerosidade e subordinação ao tomador. Subordinação Jurídica 6 - É tudo o que o empregador 1 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas alterações. p.44. 2 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas alterações. p.44. 3 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.59. 4 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. São Paulo: LTr, 1999. p.15. 5 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. p.16. 6 FONSECA, Ricardo Marcelo. Modernidade e contrato de trabalho: do sujeito de Direito à Sujeição Jurídica. p.137. viii determinar ao empregado que esteja dentro dos limites da atividade econômica da empresa, que não seja crime, não o humilhe e não o coloque em situação de risco físico. ix SUMÁRIO RESUMO ................................................................................................................ XI INTRODUÇÃO.....................................................................................................XIII Capítulo 1 ................................................................................................................ 15 O FUTEBOL COMO PROFISSÃO ...........................................................................15 1.1 HISTÓRICO ..................................................................................................... 15 1.1.1 SURGIMENTO DO FUTEBOL NO MUNDO ................................................... 15 1.1.2 SURGIMENTO DO FUTEBOL NO BRASIL ..................................................... 22 1.2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DESPORTIVA NO BRASIL ............................... 25 1.3 DESTAQUE DA LEI 9.615/98 (LEI PELÉ) E SUAS ALTERAÇÕES ....................... 33 1.4 DISTINÇÃO ENTRE ATLETA PROFISSIONAL, NÃO PROFISSIONAL E AMADOR ............................................................................................................. 42 Capítulo 2 .............................................................................................................. 444 CONTRATO DE TRABALHO NA CLT ......................................................................44 2.1 CONCEITOS DE CONTRATO DE TRABALHO ................................................. 44 2.2 ELEMENTOS DO CONTRATO DE TRABALHO .................................................46 2.3 A SUBORDINAÇÃO JURÍDICA ...................................................................... 57 Capítulo 3 ................................................................................................................ 61 CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL ..................61 3.1 ATLETAS PROFISSIONAIS DE FUTEBOL ........................................................... 61 3.2 TERMINAÇÃO DO CONTRATO E PASSE LIVRE ............................................. 83 3.3 JURISPRUDÊNCIAS .........................................................................................84 x CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 96 xi RESUMO A presente monografia trata do Contrato de Trabalho do Atleta Profissional de Futebol. O homem está interligado e correlacionado ao esporte desde os primatas, quando fugiam de animais predadores, lutavam por áreas e regiões e disputavam domínios no início das coletividades. Acredita-se que depois da alimentação, a mais antiga forma de atividade humana é a que hoje se conhece por esporte. Da mesma formaque a prática de esportes, o futebol não tem registros exatos em sua origem, sendo o seu surgimento muito discutido. Historiadores, na busca da origem do futebol, mencionam jogos com bola de bambu nos quais se usavam pés e mãos desde 5.000 a.C, e 4.500 a.C. No Brasil o surgimento do futebol é atribuído a Charles Muller, brasileiro, descendente de ingleses, na Inglaterra onde conheceu o foot-ball, por ele se encantou e praticou, De volta ao Brasil em 1984, trouxe consigo bolas, uniformes e chuteiras. A primeira lei que tratou o regulamento no Brasil, foi editada em 1941, na ditadura de Getúlio Vargas. Essa Lei era uma cópia do modelo nazista que existia na época, quando o esporte era uma maneira de ser aferir a hegemonia de uma raça sobre a outra. Com o passar dos tempos, com a chegada da Nova República, o Brasil começou a eliminar a defasagem com o renovado conceito de esporte, já aceito nos países de grau civilizatório. Em 1993 foi sancionada a Lei 8.672, chamada de Lei Zico, onde verificou-se no corpo da nova lei, toda uma preocupação com o homem. Passado cinco anos, foi sancionada a Lei Pelé (Lei 9.6015/ 1998) onde trouxe alterações, principalmente com a extinção do passe. Trás a distinção entre atleta profissional, não-profissional e amador. No segundo capítulo, conceitos de contrato de trabalho na CLT (consolidação das leis do trabalho) e subordinação jurídica. Em fim o contrato de trabalho do atleta profissional de futebol. Onde o ordenamento jurídico destaca regimes diferenciados para alguns empregados, em razão do tipo de atividade profissional que desempenham ou da condição que ostentam. Estes contratos especiais regulam as razões de trabalho de atletas profissionais. Destaca-se a Lei nº. 9.615/98 que “a atividade do atleta profissional, de todas as modalidades desportivas, é caracterizada por remuneração pactuada em contrato formal de trabalho firmado com entidade xii de prática desportiva, pessoa jurídica de direito privado, que deverá conter, obrigatoriamente, cláusula penal para as hipóteses de descumprimento, rompimento ou rescisão contratual”. xiii INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objeto o Contrato de Trabalho do Atleta Profissional de Futebol e, como objetivos:institucional é produzir uma monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; abordando o contrato de trabalho do atleta profissional no mundo do futebol. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica. A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as seguintes hipóteses: a) existem diferenças entre atleta profissional, atleta não- profissional e atleta amador; b) o instituto do passe ainda existe no contrato de trabalho do atleta profissional de futebol; c) o contrato de trabalho do atleta profissional de futebol apresenta particularidades diferentes do contrato de trabalho previsto da CLT. O trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro com o histórico do surgimento do futebol no mundo e no Brasil, histórico da legislação desportiva no Brasil, destaques da Lei Pelé e suas alterações e distinção entre atleta profissional, atleta não-profissional e amador. O segundo, tratando do Contrato de Trabalho na CLT. (Consolidação das Leis do Trabalho) e a subordinação jurídica. xiv O terceiro e último capítulo, Contrato de Trabalho do Atleta Profissional de Futebol e a terminação do contrato e passe livre. Nas considerações finais apresentam-se breves sínteses de cada capítulo e se demonstra se as hipóteses básicas da pesquisa foram ou não confirmadas. 15 Capítulo 1 O FUTEBOL COMO PROFISSÃO 1.1 HISTÓRICO 1.1.1 SURGIMENTO DO FUTEBOL NO MUNDO O homem está interligado e correlacionado ao esporte desde os primatas, quando fugiam de animais predadores, lutavam por áreas e regiões e disputavam domínios no início das coletividades. Acredita-se que depois da alimentação, a mais antiga forma de atividade humana é a que hoje se conhece por esporte. Verifica-se que a prática desportiva teve início remoto, onde já havia monumentos de vários estilos dos antigos egípcios, babilônios, assírios e hebreus com cenas de luta, jogos de bola, natação, acrobacias e danças. Entre os egípcios, a luta corpo-a-corpo e com espadas surgiram por volta de 2.700 a.C. e eram exercícios com fins militares. Os outros jogos tinham caráter religioso. Para relatar os antecedentes históricos do futebol, torna-se necessário uma viagem pelas civilizações antigas, para buscar inicialmente a origem da prática de esportes. As origens do jogo com a bola são remotíssimas. Conforme levantamentos feitos por historiadores e arqueólogos, no Egito e na Babilônia há notícias que dão a esses primeiros centros de civilização na Antigüidade a condição de pioneiros na prática de algo semelhante ao futebol7. 7 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002. p.11. 16 ZAINAGUI8 destaca que os registros não são exatos: Há evidências importantes da existência da prática de esportes nas civilizações antigas, mas seus registros não são exatos. As civilizações primitivas (maias, incas, egípcios etc.) praticavam jogos com caráter esportivo, muitas vezes com intuito religioso. A própria natação encontra sua origem numa prática “esportiva” que consistia em afogar o adversário, sagrando-se vencedor aquele que conseguisse sobreviver. Porém, as atividades esportivas ganharam destaque na Grécia antiga, com realce no momento em que o corpo do homem é mais valorizado. Da mesma forma que a prática de esportes, o futebol não tem registros exatos em sua origem, sendo o seu surgimento muito discutido. Não existe qualquer fonte que comprove a origem deste esporte, tendo os pesquisadores, apenas indícios de que seu surgimento ocorreu muitos séculos a.C. De acordo com LEAL9, historiadores, na busca da origem do futebol, mencionam jogos com bola de bambu nos quais se usavam pés e mãos desde 5.000 a.C, e 4.500 a.C., no Japão, portanto, há mais de sete mil anos. Durante o reino de Yang-Tsé (atribui-se a ele a invenção do futebol), cerca de 2.500 a.C., oito jogadores disputavam jogos num campo de 14 m2, com duas estacas ligadas por um fio de seda em cada extremo do campo, bola redonda de 22cm de diâmetro, feita de couro e recheada de cabelo e crina10. Havia indícios de sistemas e táticas, sendo os jogadores 8 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os Atletas Profissionais de Futebol no Direito do Trabalho. p.17. 8 DUARTE, Orlando. Futebol histórias e Regras. São Paulo: Makron Books, 1997. p.3. 9 LEAL, Júlio César. Futebol: arte e ofício. Rio de Janeiro: Sprint, 2000. p.23. 10 LEAL, Júlio César. Futebol: arte e ofício. p.23. 17 divididos em: corredores, sacadores, dianteiros e defensores. Era jogado pela elite da sociedade e pelos altos oficiais da Igreja. Sabe-se que os Papas Clement VII, Leon X e Urbain VII foram campeões no futebol florentino. De outra sorte, destaca AQUINO 11 que informações mais precisas revelam que na China, por volta de 2.300 anos atrás, jogava-se o tsutchu, palavra chinesa que significa “golpe na bola com o pé”. Baixos-relevos mostram cenas desse jogo praticado desde a dinastia Han (202 a.C. -226 d.C.). Outros baixos-relevos referentes à dinastia Ming (1368-1644) registram particularidades do tsutchu, queera praticado em três modalidades. Em uma delas, havia a participação de um único jogador fazendo malabarismos com a bola. Outra modalidade envolvia a competição entre duas equipes empenhadas em lançar a pelota sobre uma rede no meio do campo. Aos adversários cabia evitar que a bola tocasse o solo antes de ser devolvida à outra metade do campo. A terceira modalidade opunha duas equipes empenhadas em arremessar a bola em algo parecido com gols colocados em cada canto do campo. Registros indicam que seu inventor, Yang-Tsé, pertencia à guarda do jovem imperador Huang-Ti, que foi talvez o primeiro nobre a se interessar pelo futebol Também são encontrados registros quanto à prática do futebol no Japão, chamado de kemari12, e que fora praticado há mais de 2.000 anos. Assim como o chinês tsutchu era muito mais uma exibição de habilidade com a bola do que uma efetiva competição esportiva. Por volta do final do primeiro milênio antes de Cristo, o kemari deixou de ser um esporte da aristocracia, passando a ser praticado pelas classes populares. Era jogado em um campo quadrado e a equipe vencedora 11 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.11 12 O kemari, jogado em torno de uma cerejeira, árvore plantada repleta de simbolismos para os japoneses, era semelhante ao tsutchu. A princípio era praticado como treinamento militar, tornando-se, mais tarde, um esporte de nobres, sendo jogado com oito jogadores em cada equipe. A bola era redonda, com cerca de 22 centímetros de diâmetro, sendo recheada com crinas de cavalo. 18 poderia ser premiada com flores ou lingotes de prata13. Já na Grécia: Entre os gregos, o chamado epyskiros era muito popular, e incluía-se entre outros jogos com a pelota, sendo classificado – juntamente com o aporaxis, a fênida e o epiceno – na categoria chamada de sphairomachia, que englobava esportes em que a pelota era jogada com as mãos ou com os pés. Do epyskiros, jogado com os pés, pouca coisa se sabe. São muito escassas as informações relativas ao número de jogadores de cada equipe, dimensões do campo e até mesmo sobre como se fazia a contagem de pontos14. No entendimento de DUARTE15, para os gregos, o epyskiros possuía regras desconhecidas, perdidas no tempo. Os romanos adotam a bola e detalhes do jogo e fazem o harpastum. Após verificar o esporte praticado pelos gregos, os romanos criaram o harpastum, que coexistiu com o trigon e a pila pagânica, praticados com as mãos e os pés. No harpastum, popular entre os legionários romanos, o jogo era com uma bola de couro semelhante à atual, inclusive em dimensões. Uma capa de couro – chamada de follis – envolvia uma bexiga de boi cheia de ar. O campo tinha forma retangular, com uma linha divisória no meio e duas linhas de meta nas extremidades. A bola tinha de ser passada de jogador a jogador, cabendo a um deles arremessá-la através da linha de meta adversária, marcando assim um ponto. Da mesma forma, também são encontrados registros de jogos com bola no continente americano, conforme relata AQUINO16: 13 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.12. 14 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.12. 15 DUARTE, Orlando. Futebol: histórias e regras. p.3. 16 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.14. 19 Existem informações de que a prática do jogo da bola também era conhecida das populações indígenas do continente americano. Entre os araucanos, que viviam no atual Chile, era chamado de pirimatum, ao passo que os tehuelches da Patagônia denominavam-se de tchoekah. Não somente as populações aborígenes da América do Sul jogavam suas peladas: em Copán, importante cidade da civilização maia, na América Central, disputava-se o pok-tai-pok. O campo tinha 490 pés de comprimento e media 100 pés de largura. Pela primeira vez na evolução do futebol, o jogo era realizado com bolas de borracha maciça. Na Europa, durante a Idade Média, a bola rolava na cidade de Florença, na Península Italiana, onde se disputavam o calcio, denominação que ainda hoje é usada pelos italianos para designar o futebol. Segundo AQUINO, a primeira partida foi disputada em 17 de fevereiro de 1529, onde vinte e sete jogadores atuavam em cada time, com camisas brancas ou verdes. A peleja foi a forma encontrada por dois grupos políticos rivais para solucionar suas diferenças políticas17 18. Mas, verificavam-se nestas disputas muita violência, e o rei Eduardo I proibiu sua realização em 1297. Apesar disso, a lei não foi respeitada, sendo que continuaram a ocorrer verdadeiras batalhas campais entre os participantes das equipes, que eram formadas por centenas de jogadores cada uma. Na disputa de pelotas, socos e pontapés eram válidos e a equipe vencedora era aquela que conseguia arremessar a pelota através da meta adversária. Já em 1314, o jogo foi mais uma vez proibido, desta vez pelo Rei Eduardo II. Itália, França, Inglaterra e Escócia continuavam animando o 17 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.14. 18 Antes de chegar à Península Italiana, o harpastum teria sido levado pelos romanos em sua campanha contra os celtas, que vivia na Britânia, atual Inglaterra, e o mais antigo documento a ele relacionado é o livro Descriptio nobilissimae civitatis londinae, de William Fitztephen, escrito em 1175. O jogo, disputado com uma bola de couro, tinha caráter festivo: celebrava-se o fim da denominação dinamarquesa, em 1047. 20 calcio, soule, futebol, que se transformava, principalmente na Escócia e na Inglaterra, em esporte violento. Roupas rasgadas, pernas quebradas, dentes arrancados e críticas ao ‘esporte’. Muitos achavam que era um esporte bárbaro que estimulava a violência e o ódio. Na França, o esporte chegada aos jardins aristocráticos. Surge também o ‘futebol de massa’, onde chegavam a jogar 500 de cada lado. Surgiram proibições e manifestações das autoridades contra o massfootball que resistia19. De acordo com AQUINO20, foi no século XVIII, quando a Inglaterra consolidou o governo parlamentar e a Revolução Industrial, representando a vitória do capitalismo na sociedade inglesa que começaram a ocorrer mudanças no jogo da bola. Nesta época, surgia uma aristocracia integrada principalmente por famílias cuja riqueza provinha do dinheiro, e não mais de propriedades rurais, onde os filhos dessas famílias ricas começaram a freqüentar as escolas. Destaca ainda o autor: Aos dirigentes dessa aristocracia interessava reformular a educação então dominante no país. O futebol, esporte que pressupunha companheirismo e disciplina, poderia perfeitamente servir para esse propósito. Para isso, no entanto, deveria ser regulamentado mediante uma organização submetida a regras fixas. Além disso, os educandos poderiam canalizar suas energias para uma prática desportiva disciplinada, o que os desviaria de atividades capazes de ameaçar a estabilidade política da sociedade capitalista inglesa21. Em 1823, na Rugby School, houve uma séria divisão entre os que defendiam regras disciplinando o jogo da bola praticado nas escolas particulares inglesas. A controvérsia girava em torno da permissão ou não de se usar pés e mãos durante as pelejas. William Welbb Ellis defendia a validade do 19 DUARTE, Orlando. Futebol: histórias e regras. p.4. 20 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.17. 21 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.17. 21 uso também das mãos, tendência que acabou prevalecendo no chamado ‘futebol americano’, ou ‘rúgbi’. Fundamenta DUARTE22 que: As regras começam a por ordem. Jovens das famílias ricas da Inglaterra começam a deixar de lado o tiro, a esgrima, a caça, aequitação, alguns dos seus esportes preferidos, passando para o futebol. No século XIX, o futebol está mais organizado. Em 1848, houve uma unificação das regras com a participação de Cambridge, Harrow, Westminster, Winchester e alunos de Elton. Eram, então, catorze regras. Depois vieram acréscimos: impedimento, árbitro, goleiro podendo usar as mãos, arremesso lateral, escanteio, pênalti e troca de lado na metade do tempo (antes trocava-se de lado após cada gol)23. Relata ainda DUARTE24 que: Em 1868, surge a figura do árbitro. Ele anunciava as decisões aos gritos. Foram surgindo o apito, o travessão superior etc. Em 1891 apareceram as redes. O pênalti foi criado. Estabeleceu-se o número de 11 jogadores, o tamanho do campo, o tamanho da bola. Em 1901 surge o limite das áreas. Em 1907 surge a Lei do Impedimento, mudando-se em 1926. O futebol como é hoje chegou à França em 1872; à Suíça em 1879; à Bélgica em 1880; à Alemanha, Dinamarca e Holanda, em 1889; à Itália em 1893; aos países da Europa Central, em 1900. Em 1904 surge a FIFA. Segundo o pesquisador BALLOUSSIER25, acredita-se que o futebol com 11 jogadores se firmou pelo fato de as turmas de Cambridge terem 22 DUARTE, Orlando. Futebol: histórias e regras. p.5. 23 LEAL, Júlio César. Futebol: arte e ofício. p.27. 24 DUARTE, Orlando. Futebol: histórias e regras. p.5. 25 Apud AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.18. 22 dez alunos e um bedel (inspetor de classe). Para outros, o número 11 foi escolhido porque foram 11 os times e escolas que fixaram o código único de regras uniformizando essa prática desportiva. Em dezembro de 1863, o futebol foi codificado em apenas 14 regras, tornadas públicas em livros e cartilhas distribuídas pelo país. Dentre as regras estabelecidas, proibia-se chutar ou agarrar o adversário, fixava-se a troca de campo ao fim do primeiro tempo, a validação de um tento somente quando a bola ultrapassasse a linha do gol, a dimensão da largura e da extensão do campo, o controle das chuteiras e a padronização da bola. A partir de 1875, os juízes passaram a arbitrar as pelejas usando um apito e depois de 1881 começaram a atuar dentro das quatro linhas26. 1.1.2 SURGIMENTO DO FUTEBOL NO BRASIL Pouco referencial se encontra na literatura em relação à origem do futebol no Brasil antes de Charles Miller. Ainda assim, DUARTE27 relata que: No Brasil, o futebol chegou por intermédio de marinheiros ingleses, holandeses e franceses, na segunda metade do século passado. Eles jogavam em nossas praias, na parada dos navios. Iam embora e levavam as bolas. Para os nossos brasileiros só restava admirar o esporte, sem saber que esse seria o nosso esporte nacional, que anos depois seríamos campeões do mundo. Fala-se também que funcionários da São Paulo Railway, de Jundiaí, teriam aprendido a jogar em 1882. Também se comenta que os funcionários da Leopoldina Railway, do Rio, no mesmo ano, também teriam experimentado o futebol. Comenta-se o sensacional que foi o jogo de 26 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.18. 27 DUARTE, Orlando. Futebol histórias e Regras. p.5. 23 marinheiros ingleses, em 1874, nas praias do Rio, exatamente onde é o Hotel Glória. Já na obra de LEAL 28 , no Brasil, destaca-se que o surgimento do futebol é atribuído a Charles Miller, nascido em 1874, brasileiro, descendente de ingleses, educado na Banister Court School, na Inglaterra, onde conheceu o foot-ball, por ele se encantou e praticou, jogando no time do Condado de Hampshire. De volta ao Brasil, em 1894, trouxe consigo as duas primeiras bolas, uma delas logo apelidada de Peluda, por ainda conter pêlos no couro, uniformes e chuteiras. Organizou o primeiro jogo, do qual também participou, no São Paulo Atletic Club, clube de ingleses, fundado em 1888, onde se jogava principalmente o críquete. Neste sentido, relata AQUINO29: Ao retornar a São Paulo, em 1894, trazia em sua bagagem duas bolas de couro, camisas, chuteiras e calções. Constatando que essa modalidade de esporte era praticamente desconhecida no país, empenhou-se em divulgá-la. Ele passou a promover partidas, formar times e fundar clubes, aparecendo como o grande incentivador do futebol na capital paulista. Tornava-se assim, para muitos, o precursor do jogo no Brasil, o que lhe garantiria um lugar de destaque no panteão dos heróis do esporte nacional. A historiografia assinala a data de 14 de abril de 1895 para a realização da primeira partida de futebol no Brasil. Devido aos esforços de Charles Miller, enfrentaram-se no campo da Cia. Paulista de Viação as equipes de 28 LEAL, Júlio César. Futebol: arte e ofício. p.28. 29 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.26. 24 trabalhadores do The Team Gaz e do The São Paulo Railway30. Relata ZAINAGHI31 que o futebol era praticado pela classe alta da sociedade, excluindo os operários e as pessoas que pertenciam às classes mais humildes. Em 1914, surge a Federação Brasileira de Sports, e em 1916 a Confederação Brasileira de Desportos (CDB), que dedicou-se aos esportes amadores. Em 1923, foi criada a Federação Brasileira de Futebol para os adeptos do profissional. Somente em 1937, a Federação Brasileira de Futebol uniu-se à Confederação Brasileira de Desportos, dando início à fase profissional do futebol. O futebol de campo enquadra-se perfeitamente na categoria de esporte popular. É praticado por diferentes categorias sociais, predominantemente das classes C, D e E. As bases da prática desportiva no Brasil estão fundadas sob laços associativos, caracterizados pela união de pessoas para a realização de atividades físicas, envolvendo várias modalidades desportivas. Conforme CARLEZZO32, como qualquer outro setor social, o desporto evoluiu gradativamente com o passar dos anos, seja com relação às técnicas e equipamentos que auxiliam a prática desportiva, seja com relação à sua parte organizacional. O esporte, como um dos fenômenos sociais e culturais mais importantes do século XX, tanto em sua vertente de entretenimento como de 30 No Brasil, os termos ingleses foram usados durante muitos anos, também aqui o futebol surgiu através dos ingleses. Charles Miller era brasileiro, foi estudar na Inglaterra e trouxe as bolas e as regras, mas as empresas de origem inglesa traziam o agradável hábito da prática do futebol. Muito se falou dos stopers, dos halfs, dos goals-keeper, dos forward, dos off-side, dos corners etc. Isso tudo veio da Inglaterra, a verdadeira ‘mãe do futebol’ e que soube, depois de muita luta, organizar o futebol. No dia 02 de junho de 1886, quatro Associações de Futebol britânicas fundaram, em Londres, a International Football Association Board que ainda é a guardiã das regras e da organização desse esporte mundial. 31 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Nova legislação desportiva: aspectos trabalhistas. São Paulo: LTr, 2001. p.29. 32 CARLEZZO, Eduardo. Direito desportivo empresarial. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. p.30. 25 prática livre e voluntária do cidadão, desenvolve-se, fundamentalmente, através de entidades e organizações desportivas. 1.2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DESPORTIVA NO BRASIL TUBINO 33 inicia sua obra explanando que, no início da década de 30, a desorganização do esporte brasileiro, causada principalmente pelos conflitos decisórios por ocasião das deliberações sobre participações internacionais, levou o Governo brasileiro a buscar medidas que solucionassem os impasses que a cada momento surgiam. PERRY34 relata que: Fora de tais normas legais, o desporto regia-se pela sumária legislação das entidades dos diversos ramos desportivos, com obediência relativa aos preceitosinternacionais, sem a menor interferência do Governo, em qualquer sentido, com organização precária, circunstâncias que mais põem em relevo o esforço e o sacrifício dos dirigentes da época, plantando as sementes que frutificariam na potência esportiva em que se torna, aos poucos, o nosso país. Tal desorganização e a falta de preceitos legais estruturais do desporto ocasionaram, então, cisões que tantos malefícios causaram, sobretudo no futebol, onde se degladiaram entidades nacionais e entidades estaduais de direção, num desgaste de valores, de esforços e de trabalho, umas à margem da filiação internacional, outras desfrutando dela, mas desfalcadas pela luta. Com o início do profissionalismo, esses conflitos ocorriam com maior freqüência na área do futebol, o que obrigou o Estado a regulamentar 33 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. Rio de Janeiro: Shape, 2002. p.25. 34 Apud TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.25. 26 as atividades desportivas, estendendo essa normatização além do futebol, vindo a atingir todas as modalidades praticadas no Brasil. A primeira lei que tratou e regulamentou o esporte no Brasil, foi editada em 1941, na ditadura de Getúlio Vargas. Essa lei era uma cópia do modelo nazista que existia na época, quando o esporte era uma maneira de se aferir a hegemonia de uma raça sobre a outra. Neste sentido, destaca AIDAR35 que até o ano de 1941 não existia nenhuma legislação que regulamentasse o desporto, absolutamente nada, apenas um apanhado de pessoas que praticavam o esporte, mas não havia lei nenhuma que regulamentasse sequer a atividade esportiva, quanto mais a atividade administrativa ou a atividade jurídica da modalidade esportiva. O Decreto-lei nº. 3.199, de 14/04/1941, primeira legislação esportiva do país, além das normas gerais que organizariam e permitiriam uma burocratização ou cartorialização do esporte nacional criou, no seu Artigo 20, o Conselho Nacional de Desportos (CND), que daria prosseguimento a essa regulamentação esportiva brasileira. Pela primeira vez, no seu art. 53, reconhece implicitamente a existência de uma prática esportiva profissional36. Até a instituição deste decreto, foram criados vários instrumentos legais, que por si só explicam o desenvolvimento e a preparação do Estado para normatizar o esporte no Brasil, e foram37: - Decreto-lei nº. 526, de 01/07/1938 – Instituiu o Conselho Nacional de Cultura. No seu Art. 20, § único, alínea h, incluiu a Educação Física (ginástica e esportes) como atividade de desenvolvimento cultural. - Decreto-lei nº. 1.056, de 19/01/1939 – Instituiu a Comissão Nacional de Desportos, que ficou encarregada de desenvolver o 35 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. Campinas: Editora Jurídica, Mizuno, 2000. p.18. 36 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.25. 37 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.26. 27 projeto para a futura lei base para o esporte nacional. - Decreto-lei nº. 1.212, de 07/04/1939 – Criou a Escola Nacional de Educação Física e Desportos, primeira escola civil de formação em Educação Física no país. Os conteúdos do esporte eram tratados conjuntamente com os da Educação Física. - Decreto-lei nº. 10.409, de 14/08/1939, do Governo do Estado de São Paulo – Primeiro ato legal que legislou sobre os esportes, baixando normas para orientar a prática esportiva, promovê-la, e fiscalizá-la. Tratou ainda das cobranças de ingressos, das organizações de competições, das construções de praças esportivas e estádios, da produção de material esportivo e da previdência contra acidentes esportivos. - Decreto-lei nº. 11.119, de 30/05/1940 – Instituiu benefícios fiscais às sociedades esportivas. O período que compreendeu os anos de 1945 e 1985 foi aquele que o esporte brasileiro foi normalizado primeiramente pelo Decreto-lei nº. 3.199/1941 e pelas deliberações do Conselho Nacional de Desportos até 1975, e depois deste ano, pela Lei nº. 6.251/1975 e seu Decreto regulamentador, nº. 80.228/1977, e pela continuação das deliberações do CND. O ponto comum é que todos esses documentos legais podem ser caracterizados como instrumentos autoritários que produziram uma tutela e uma cartorialização do esporte brasileiro por mais de quarenta anos38 39. Esse período durou até 08 de outubro de 1975, quando foi criada a Lei nº. 6.251, marcada pela posição forte do Estado sobre as sociedades esportivas. Os alvarás para funcionamento de entidades esportivas e registros, as 38 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.39. 39 Observa-se que a partir da década de 70 surgiram no contexto internacional e no próprio Brasil várias manifestações que se confrontavam com o arcabouço jurídico-esportivo vigente no país. A concepção mundial do movimento “Esporte para Todos” e a sua chegada ao Brasil, os manifestos dos organismos internacionais ligados à Educação Física e ao Esporte, o Diagnóstico de Educação Física/Desportos do Brasil em 1971, a criação da Comissão de Esporte e Turismo no Congresso Nacional e a respectiva promoção do ciclo de debates “Panorama do Esporte Brasileiro”, a reestruturação do Ministério da Educação e Cultura quanto ao setor responsável pela Educação Física/Esportes foram os registros de, por que não dizer, verdadeiras reações ao status quo. 28 aprovações de estatutos das entidades, a normatização dos passes no futebol profissional, as normas para transferência de atletas, as aprovações dos códigos disciplinares e muitas outras imposições constituem uma vasta folha de ações do CND no sentido do cumprimento do Decreto-lei nº. 3.199/41, então vigente40. Na visão de MELO FILHO41: Outrossim, acresça-se que a Lei nº. 6.251 condensava no CND funções legislativas, executivas e judicantes, tornando-o o órgão que fazia a norma, exercia atos de fiscalização e controle, e julgava matérias desportivas, reunindo em um só órgão todas as funções entregues na República Federativa do Brasil a três poderes distintos e inconfundíveis. Explica AIDAR42 que a Lei nº. 6.251 foi uma cópia do Decreto nº. 3.199, uma roupagem diferente é bem verdade, mas ainda prevalecia a mão forte do Estado a ditar regras e normas sob a forma de organização do esporte. Não era dado por exemplo, ao Corinthians ou ao São Paulo ou a um clube de menor expressão seja ele qual fosse, se organizar de acordo com a sua necessidade, todos tinham que se organizar da mesma maneira, todos tinham que ter a sua quantidade de sócios e todos tinham que ter no mínimo vinte conselheiros, no máximo trezentos em razão da quantidade de milhares de sócios, para cada milhar era um limite de vinte conselheiros, até o limite máximo de trezentos. De forma que, era muito difícil os clubes se organizarem livremente43. Nesta época, o esporte brasileiro precisava de uma modernização, o que veio a acontecer com a Lei nº. 6.251, apesar da continuação 40 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.40. 41 MELO FILHO, Álvaro. Lei Pelé: comentários à Lei nº. 9.615/98. Brasília: Livraria e Editora Brasília Jurídica, 1998. p.30. 42 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.18. 43 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.19. 29 da ação tuteladora do Estado no processo esportivo. Conceitua ainda AIDAR44: Essa lei distingue as diversas modalidades esportivas e as classifica como desporto comunitário, estudantil, militar e classista. O comunitário como sendo praticado por entidades esportivas, o desporto como nós conhecemos e já praticados em termos profissionais, o estudantil comodesporto de aprendizagem e lazer; o militar praticado pelas forças armadas; e por fim, o classista praticado no âmbito das empresas. Ressalta TUBINO 45 que, nesse período de 1941 a 1985, outros instrumentos legais contribuíram para a organização e o desenvolvimento do esporte brasileiro, oferecendo condições para as práticas esportivas dos estudantes universitários, para a implantação da loteria esportiva para o esporte militar e para o amparo do atleta profissional. Além disso, o CND continuou com suas deliberações no sentido de disciplinar as relações do esporte nacional, independentemente de estar referenciado no Decreto-lei nº. 3.199/1941 ou na Lei nº. 6.251/1975 e seu Decreto regulamentador nº. 80.228/1977. Já a partir de 1985, com a chegada da Nova República, o Brasil começou a eliminar a defasagem com o renovado conceito de esporte, já aceito nos países de grau civilizatório mais adiantado. No entender de TUBINO, foi pelo Decreto nº. 91.452, de 19 de julho de 1985, por iniciativa do MEC, foi instituída a Comissão de Reformulação do Esporte Brasileiro. Essa Comissão apresentou um minucioso relatório com o título de “Uma nova política para o Desporto Brasileiro – Esporte Brasileiro Questão de Estado”, com 80 indicações de reformulações divididas em seis partes: 44 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.19. 45 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.85. 30 I – Da questão da reconceituação do esporte e sua natureza; II – Da necessidade de redefinição de papéis dos diversos segmentos e setores da sociedade e do Estado em relação do esporte; III – Mudanças jurídico-institucionais; IV – Da carência de recursos humanos, físicos e financeiros comprometidos com o desenvolvimento das atividades esportivas; V – Da insuficiência de conhecimentos científicos aplicados ao esporte; VI – Da imprescindibilidade da modernização de meios e práticas do esporte. Referencia ainda TUBINO46 que: O compromisso maior da Nova República exige, prioritariamente, seja resgatada a enorme dívida social, e, neste contexto não há como olvidar-se ou minimizar-se o Desporto, uma das forças vivas da Nação, seriamente comprometido na sua função social. Daí decorre a necessidade urgente de mudar, de promover a adequação das estruturas desportivas às exigências da vida nacional, de modo a que o modelo desportivo a ser implementado contribua de maneira eficaz para o desenvolvimento e democratização dos desportos, direito e objetivo comum de todos nós. No período de 1985 a 1989, o CND na sua ação renovadora, mexeu em profundidade no esporte brasileiro, com 93 resoluções, o que veio a criar um clima de mudança na ambiência esportiva nacional, que viria favorecer a 46 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.92. 31 constitucionalização do esporte na Carta Magna de 1988. Enfatiza ainda TUBINO47 que o esporte brasileiro sempre teve como aspiração uma lei que oferecesse benefícios fiscais às organizações que investissem no esporte. Foi nessa perspectiva que toda a comunidade esportiva brasileira apoiou o projeto apresentado por Mendes Thame, que após longa tramitação no Congresso. A Lei Mendes Thame foi promulgada em 1989 e recebeu o nº. 7.75248. Apesar de todo empenho dos congressistas da época e do importante papel que o esporte ocupava na conjuntura da Nação, o governo Collor conseguiu destruir todo esse quadro favorável ao esporte, apesar de usá-lo para seu marketing pessoal e de ter criado uma Secretaria de Desportos ligada à Presidência. Neste sentido, destaca TUBINO49: É interessante acrescentar que os dois secretários, paradoxalmente, deixaram importantes contribuições ao esporte brasileiro. O primeiro, Artur Coimbra (Zico), deixou um belo projeto de reforma do esporte brasileiro, que viria a se consumar no governo seguinte. O segundo, Bernard Rajzman, inovou ao conseguir as parcerias das empresas estatais com as entidades esportivas. Ambos deixaram as suas marcas positivas no esporte brasileiro. A Lei Zico, nº. 8.672, foi sancionada no dia 06 de julho de 1993, onde verificou-se no corpo da nova lei toda uma preocupação com o homem, utilizando-se este como meio, ao contrário da legislação anterior, que preocupava- 47 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.94. 48 A Lei nº. 7.752/1989 criou uma grande ilusão no meio esportivo do país, pois com a chegada do governo Collor o sonho de uma lei de incentivos fiscais rapidamente acabou. Esta lei, conseguida com toda a mobilização da comunidade esportiva nacional, foi imediatamente suspensa, no primeiro conjunto de atos do Governo Collor, pela Lei nº. 8.034/1990. 49 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.109. 32 se somente com a imposição de uma burocracia no sentido de disciplinar as atividades inerentes aos fatos esportivos. Referencia AIDAR 50 que o movimento que nasceu e que levou à direção de uma nova lei, a Lei Zico, nasceu do fruto de um trabalho de muitas pessoas, que realmente trabalharam na elaboração dessa lei. Em seu pré- projeto foram cinco pessoas que, desinteressadamente esperando uma eleição para presidência da República sem saber quem viria a ser o presidente da República, ficaram durante um ano se reunindo. Foi então elaborado um projeto de lei que adaptava a legislação brasileira ao sistema moderno de desenvolvimento do esporte em todo o mundo; já se buscava o chamado clube naquela época, e também facilitar as parcerias de investimento no esporte, onde se procurou dar esta autonomia. Com a Constituição Federal em 1988, e a abertura para o esporte em termos de organização e funcionamento, o inciso I do art. 217, que observados aqueles, o Estado proverá a autonomia de organização e funcionamento, onde encontra-se o nascimento em 1993 da chamada Lei Zico, que foi a lei que vigeu até a entrada em vigor da Lei Pelé. Com a Lei Zico, Lei nº. 8.672 de 1993, dava-se cumprimento ao que dispunha o art. 217, em seus incisos, da Constituição Federal. O primeiro inciso do art. 217, da Constituição Federal fala em autonomia das entidades dirigentes e associações quanto à sua organização; a expressão ‘sua’ é no sentido de ser dela, própria, interna ‘sua’; autonomia quanto a sua organização e funcionamento51. AIDAR 52 relata que a Lei Zico trouxe quatro importantes novidades, que foram: as entidades de prática esportiva e as entidades federais de administração do esporte devem manter a gestão de suas atividades sob a responsabilidade de sociedades com fins lucrativos, reconhecendo então o 50 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.25. 51 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.25. 52 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.20. 33 esporte como negócio; estabeleceu a faculdade de criação de ligas regionais e nacionais; previu o direito de arena, em que havia a autorização das entidades esportivas para a transmissão de seus eventos esportivos, e regulamentou a Justiça Desportiva, com seus procedimentos processuais e garantias. 1.3 DESTAQUE DA LEI 9.615/98 (LEI PELÉ) E SUAS ALTE RAÇÕES No período compreendido entre a Lei Zico (Lei nº. 8.672/1993) e a Lei Pelé (Lei nº. 9.615/1998) ocorreram grandes discussões na comunidade esportiva de rendimento, a partir da tentativa de estabelecer passe livre aos atletas profissionais do futebol. É evidente que a Lei nº. 9.615/1998 (Lei Pelé) não poderia ser uma mudança radical da Lei nº. 8.672/1993, pois ambas fazem parte do mesmo processo de transformação iniciado em 1985 e que ganhou força com a Constituição Federal de 1988. Dessemodo, uma grande parte da Lei Zico foi repetida na Lei Pelé, principalmente a parte inicial, que tratou dos conceitos, princípios e definições de referência. Por outro lado, a nova lei do esporte brasileiro diferenciou-se com algumas evoluções extremamente relevantes em relação à lei anterior53. Ressalta KRIEGER 54 que a partir de outubro de 1988, iniciou-se novo ciclo legislativo voltado ao desporto, sendo que a própria Constituição Federal trata da questão, em diversos dispositivos, a seguir apresentados em ordem cronológica: - Art. 5º, XVII , que assegura plena liberdade de associação para fins lícitos; - Art. 5º, XVIII , que dispensa a autorização para a criação de 53 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.25. 54 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p.10. 34 associações, vedando a interferência estatal em seu funcionamento; - Art. 5º, XXVIII , a, que assegura proteção à reprodução da imagem e voz humanas nas atividades desportivas; - Art. 24, IX , que prevê a competência legislativa concorrente da União, dos Estados e Municípios sobre questões desportivas; - Art. 217 , em seus quatro incisos, que determinam ser dever do Estado o fomento das práticas desportivas, observados: I – a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto à sua organização e funcionamento; II – a destinação de recursos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para desporto de alto rendimento; III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não-profissional; IV – a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional; - Art. 217, §1 º, estabelecendo que o Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei; - Art. 217, §2 º, dispondo que a justiça desportiva terá o prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão final; - Art. 217, §3º , determinando que o poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social. Legislação ordinária decorrente das normas constitucionais: - Lei nº. 8.028/90 , que trata da reforma administrativa do Poder Executivo. Em seu art. 33 determina que lei geral sobre 35 desportos disporá sobre Justiça Desportiva; - Lei nº. 8.672 , de 06/07/1993, que instituiu normas gerais sobre desportos. Chamada de Lei Zico, democratizou as relações entre dirigentes e atletas, criando condições para a profissionalização das diferentes modalidades de prática desportiva. Foi regulamentada pelo Decreto nº. 981/93; - Lei nº. 9.615/98 , que institui normas gerais sobre desportos e dá outras providências. Conhecida como a Lei Pelé, revoga a Lei nº. 8.672/93. Foi regulamentada pelo Decreto nº. 2.574, de 29 de abril de 1998. Para MELO FILHO55, o art. 1º da Lei nº. 9.615/98 estabelece a vinculação do desporto com os “fundamentos constitucionais do Estado Democrático de Direito”, o que exsurge não só dos princípios insculpidos no art. 217 da vigente Carta Magna, mas também porque em função de suas evidentes e profundas repercussões para o desenvolvimento integral do homem, para o pleno exercício da cidadania e para o fortalecimento da sociedade brasileira e de suas relações internas e externas, o desporto coloca-se com uma das vigas mestras do Estado Democrático de Direito 56. Fundamenta TUBINO57 que pouca coisa concreta aconteceu antes da Lei Pelé, apenas uma grande discussão depois da divulgação da Resolução nº. 01 de 17 de outubro de 1996 do Conselho Deliberativo do Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (Indesp), que fixou o valor, os critérios e as condições para o pagamento da importância denominada passe, cabendo ao referido Conselho revê-la sempre que necessário. Esta Resolução foi contestada pela comunidade do futebol em termos jurídicos, e teve fim com a chegada da 55 MELO FILHO, Álvaro. Lei Pelé: comentários à Lei nº. 9.615/98. p.19. 56 O desporto deve ser vislumbrado não apenas por sua vertente competitiva, mas também por seu caráter participativo e educacional que não tem a ambição do placar, não pretende quebrar record e nem se nutre com a volúpia do score (MELO FILHO, Álvaro. Lei Pelé: comentários à Lei nº. 9.615/98. p.20). 57 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.147. 36 própria Lei Pelé. Já para AIDAR58, a Lei Pelé, um pouco antes de ser editada, antes de passar pela Comissão Especial destinada a proferir parecer no projeto da Lei Pelé; o anteprojeto sofreu modificações no campo do Gabinete Civil da presidência da República, que emendou o anteprojeto. O texto que dele saiu foi à Câmara Federal, e na Câmara Federal essa Comissão Especial promoveu inúmeras modificações até que veio a ser editada a chamada Lei Pelé, a Lei nº. 9.615 de 24 de março de 1998, publicada no Diário Oficial de 25 de março de 1998. O objetivo fundamental da nova Lei nº. 9.615/98 é regular o marco jurídico em que deve desenvolver-se a prática desportiva no âmbito do Estado, rechaçando, por um lado, a tentação fácil de assumir um protagonismo público excessivo e, por outro lado, a propensão de abdicar de toda responsabilidade na ordenação e racionalização do sistema desportivo59. Alguns pontos de importância, quanto à prática desportiva profissional, podem ser destacados na Lei Pelé: • uma parte da Lei nº. 9.615 (1995) e referenciada ao futebol profissional, embora compreenda todas as práticas esportivas profissionais; • como na Lei nº. 8.672 (1993), Lei Zico, na Lei nº. 9.615 (1998), Lei Pelé, o atleta profissional é caracterizado, assim como as entidades que podem se responsabilizar pelo esporte profissional também são definidas; • sempre com referência ao passe do profissional de futebol, a nova lei garante o direito ao primeiro contrato, numa delimitação de dois anos; 58 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.25. 59 MELO FILHO, Álvaro. Lei Pelé: comentários à Lei nº. 9.615/98. p.24. 37 • outra novidade é a ausência de limite superior no contrato do atleta profissional. O limite inferior permaneceu nos três meses; • na nova legislação são oferecidas garantias profissionais aos atletas quanto ao não cumprimento de obrigações trabalhistas; • também os atletas semi-profissionais são caracterizados, assim como suas relações com as entidades de prática profissional formadoras; • a grande inovação da nova legislação é a liberdade do atleta profissional, ao terminar o contrato, de assumir outro contrato com qualquer entidade de prática esportiva (§ 2º do art. 28). Com isto, acaba o passe. Entretanto, essa liberdade somente entrará em vigor após três anos da data da Lei (art. 93); • também foram estabelecidas as diretrizes para os pagamentos de atletas, quando convocados por entidades de administração do Sistema Nacional do Desporto. Como a Lei foi referenciada ao futebol, certamente trará inúmeros conflitos nas outras modalidades esportivas; • a Lei Pelé manteve as regras de direitos de imagem nos eventos esportivos para as entidades de prática esportiva; • pelos artigos 43 e 44, foram colocadas as restrições quanto à prática esportiva profissional; • a Lei Pelé nº. 9.615 também tratou das questões de segurança que as entidades de prática esportiva devem oferecer a seus atletas profissionais, e ainda quanto à legalização trabalhista de atletas estrangeiros que venham a exercer atividade esportiva profissional no país. 38 Destaca AIDAR60 que a maior e mais importante alteração está no art. 27 da Lei Pelé. Diz o art. 27 da Lei Pelé: Art. 27. As atividadesrelacionadas a competições de atletas profissionais são privativas de: I – sociedades civis de fins econômicos; II – sociedades comerciais admitidas na legislação em vigor; e III – entidades de prática desportiva que constituírem sociedade comercial para administração das atividades de que trata esse artigo. Da análise dessas três características destacadas no art. 27, a primeira questão que se coloca é se remeter os clubes que têm prática profissional a se organizarem sob a forma de sociedade com fim lucrativo é legal, é legítimo, é constitucional, isso porque quem legislou foi a União e ela tem competência para isso. Quanto a segunda questão, não interfere na autonomia de organização e funcionamento interno, na sua autonomia e organização, de tal sorte que não se está obrigando todos os clubes a se transformarem em sociedade comerciais. Ou seja, o que se está determinando, é uma norma cogente imperativa, é que os clubes que praticam modalidade profissional tenham aquela prática profissional organizada sob forma de uma sociedade com fins lucrativos61. Assim, em relação ao terceiro item do art. 27, os clubes ou se tornam sociedades civis de fins econômicos, não precisa o clube todo, poderá ser aquela modalidade que precisa se estruturar e se organizar como uma sociedade civil de fim econômico, como diz a lei, ou sob uma sociedade comercial 60 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.31. 61 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.33. 39 admitida na legislação em vigor. As formas de sociedade comercial admitida na legislação em vigor são: uma sociedade por ações ou uma sociedade por cotas de responsabilidade limitada e a terceira, através de entidades de prática desportiva que constituírem sociedade comercial para a administração das atividades de que trata esse artigo. A segunda modificação muito importante é a figura da extinção do denominado passe. O passe é o vínculo que prende o trabalhador profissional a um determinado empregador depois de extinto o contrato de trabalho. Celebra-se um contrato de trabalho, prazo determinado, terminou o contrato de trabalho o trabalhador não pode ir para onde quiser, ele continua preso naquele clube sem trabalhar e sem receber, esse é o passe, o chamado instituto do atestado liberatório; e a carta de alforria que o trabalhador do esporte profissional não tem. Através da Lei Pelé foi realizada a extinção do passe. O art. 28, §2º, da Lei Pelé diz o seguinte: “A atividade de atleta profissional de todas as modalidades esportivas é caracterizada por remuneração pactuada em contrato formal de trabalho, firmado com entidade de prática desportiva, pessoa jurídica de direito privado que deverá conter obrigatoriamente cláusula penal para as hipóteses de descumprimento, rompimento com rescisão unilateral. §1º. Aplicam- se ao atleta profissional as normas gerais da legislação trabalhista e da seguridade social ressalvada as peculiaridades expressas nesta lei ou integrantes do respectivo contrato de trabalho. §2º. O vínculo desportivo do atleta com a entidade contratante tem natureza acessória ao respectivo vínculo empregatício, dissolvendo-se para todos os efeitos legais com término da vigência do contrato de trabalho”. Destaca AIDAR 62 que no §2º, do art. 28, encontra-se a chamada extinção do passe. Porém este dispositivo, §2º do art. 28, somente entrou em vigor em março de 2001. Houve uma carência de três anos entre a 62 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.37. 40 publicação da Lei Pelé e a vigência desse dispositivo, isso tem uma explicação: os clubes precisaram se estruturar e os próprios atletas precisam se estruturar para saber que eles agora dependem apenas deles ao término de um contrato de trabalho. A partir do ano 2000, houve uma profunda crise institucional no esporte brasileiro, só tomando sentido contrário a partir da chegada do ministro Calos Melles ao Ministério do Esporte e Turismo através da implementação de estratégias bem sucedidas, que podem ser resumidas em quatro fatos63: 1) Medida Provisória que alterou a Lei nº. 9.615/1998: a Lei Pelé, que já havia sido alterada pela Lei Maguito Vilela, recebeu novas mudanças por medida provisória governamental. Esta medida provisória foi o produto de uma arrumação nas questões pendentes do futebol brasileiro, que já estavam gerando grandes incômodos no país e nos clubes. No seu estilo, o ministro Carlos Melles, depois de ouvir os segmentos envolvidos diretamente no futebol, tratou de uma conciliação por aproximação que, sem atender aos interesses, ofereceu as possibilidades de uma convivência no futebol brasileiro. Aproveitou a medida provisória e criou um Conselho Nacional do Esporte para dirimir os conflitos esportivos do país, que surgem a cada dia. Essa Medida Provisória recebeu o nº. 2.141-3 e tem sido consolidada pelo Governo Federal desde a sua publicação inicial. Com a extinção do passe no futebol, pelo parágrafo 2º do art. 28 da Lei nº. 9.115/1998, com as alterações da Lei nº. 9.981/2000 e a Medida Provisória nº. 2.141/2001, terminou o vínculo esportivo do atleta, deixando-o livre para transferir- se, sem necessidade de pagamento pela sua liberação. Na Medida Provisória nº. 2.141/2001 ficou clara a intenção da defesa dos clubes formadores, pelo parágrafo 3º do art. 29. É lógico que somente o tempo vai mostrar os problemas advindos desta nova situação. De qualquer modo, o atual momento histórico resgatou a dignidade da força de trabalho do atleta profissional de futebol. 2) Criação da Câmara Setorial do Esporte e da Comissão do 63 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.267-273. 41 Esporte: essa Câmara tem por finalidade constituir-se num fórum de debates com o objetivo de discutir a formulação da Política Nacional do Esporte. Ela foi dividida em quatro grupos setoriais, denominados temáticos: (a) Esporte de Base; (b) Desenvolvimento do Esporte; (c) Esporte de Rendimento; (d) Esporte para Pessoas Portadoras de Deficiências. 3) Elaboração de uma Política Nacional para o Esporte Brasileiro: o Brasil teve muitos planos para o esporte, mas nunca teve uma política delineada em termos estratégicos, que ultrapassa a convivência entre Estado e sociedade, congregando as expectativas sociais em volta do esporte, estabelecendo os fundamentos axiológicos necessários para a formulação do sentido a ser buscado pelas ações públicas. O documento é dividido em partes, que são: Documentos de Referência; Contexto Esportivo Brasileiro; Premissas; Ações Operacionais. 4) Aprovação da Lei Piva: esta lei recebeu o apoio da comunidade esportiva em praticamente todos os seus segmentos, tendo o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nujzman, à frente. Este projeto foi aprovado no Poder Legislativo e pelo presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Esta Lei abre perspectivas para o esporte olímpico e paraolímpico brasileiro. A Lei nº. 9.981/2000 traz alterações na Lei Pelé quanto as seguintes questões64: a) A faculdade de a entidade de prática desportiva tornar-se sociedade de fins lucrativos, tema que já causara enorme controvérsia no texto anterior. b) As limitações sobre a atuação de investidores em mais de uma entidade desportiva. 64 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.13. 42 c) A questão dos atletas amadores, ou não profissionais. d) A questão do passe dos jogadores de futebol e sua substituição pela instituição de uma multa rescisória. A última alteração estabelecida a tratar o ordenamento jurídico-desportivo brasileiro é a Lei nº. 10.671/2003, com 45 dispositivos, conhecida como Estatutode Defesa do Torcedor. Estabelece, por exemplo, o sorteio de árbitros, com 48 horas de antecedência da partida, obriga que as súmulas tenham três vias, exige ‘sanitários limpos’, determina o número de ambulâncias, médicos e enfermeiros proporcional ao público presente65. 1.4 DISTINÇÃO ENTRE ATLETA PROFISSIONAL, NÃO PROFIS SIONAL E AMADOR A Lei Pelé acaba com o esporte amador no Brasil, isto é, o amador é um termo que terá de ser usado exclusivamente por quem não recebe dinheiro para praticar esporte, incluindo-se qualquer modalidade de esporte. Para AIDAR 66 , por atleta pode-se entender como toda pessoa que pratica esportes. Assim, atleta profissional é todo aquele que pratica esporte como profissão, entendida esta como o exercício de um trabalho como meio de subsistência do seu exercente. Na visão de MELO FILHO67, o não profissional é aquele que muitas vezes gasta dinheiro para praticar o desporto. 65 MELO FILHO, Álvaro. Direito desportivo: novos rumos. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p.67. 66 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.59. 67 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas alterações. Brasília: Brasília Jurídica, 2001. p.42. 43 Sobre o desporto praticado de modo profissional, caracterizou-se como aquele em que o desportista faz jus à ‘remuneração pactuada em contrato formal de trabalho’. Ou seja, a condição de profissional decorre da vinculação jurídica do atleta com um ente desportivo para a prestação de serviços consistentes na prática desportiva68. O adjetivo profissional refere-se a algo pertinente a uma profissão, significa a pessoa que faz alguma coisa por profissão. No Brasil, excetuando-se o atleta de futebol (Lei nº. 6.354/76), nunca se reconheceu, legalmente, a profissão de desportista, embora se saiba que este ‘empenha no exercício desportivo as muitas e melhores energias de sua verba produtiva’69. Assim, ao lado dos profissionais, prevê a legislação desportiva atual os não profissionais, que são identificados pela liberdade de prática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio. O desporto não profissional é comumente encontrado entre as modalidades pouco difundidas ou entre atletas de nível técnico muito inferior. Ainda entre os não profissionais existem os chamados amadores, ou seja, os desportistas de qualquer idade que, com liberdade, entregam-se à prática de qualquer modalidade sem qualquer forma de remuneração ou incentivos materiais, ou seja, aqueles que não recebem nenhuma compensação econômica como conseqüência da prática esportiva e não têm nenhum outro interesse que não seja o do simples revigoramento físico, euforia da saúde ou passatempo higiênico70. Significa que amador é aquele que exerce uma atividade desportiva por prazer, e não por profissão. 68 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas alterações. p.42. 69 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas alterações. p.95. 70 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas alterações. p.44. 44 Capítulo 2 CONTRATO DE TRABALHO NA CLT 2.1 CONCEITOS DE CONTRATO DE TRABALHO. Pode-se afirmar que o contrato de trabalho está diretamente relacionado a uma questão de trabalho. No entendimento de SILVA71, a denominação contrato de trabalho, hoje universalmente aceita, já sofreu objeções. Houve, por exemplo, quem preferisse a expressão ‘contrato de salário’ e os que ainda dão preferência à denominação ‘contrato de emprego’. E ainda explica que: Relativamente à primeira denominação proposta à retribuição salarial do trabalho, não é característica diferenciadora desse tipo de contrato. Outros contratos tratam da ‘retribuição’ por serviços prestados, bastando citar, entre outros, a locação de serviços. Quanto à segunda, afirma-se que a expressão ‘contrato de trabalho’ pode ser substituída com vantagem por ‘contrato de emprego’ porque só o empregado e o empregador podem ser sujeitos desse contrato e também porque dessa forma seria afastada a possível confusão desse contrato com o de locação de serviços e outras espécies do mesmo gênero. Ainda na doutrina brasileira há quem defenda a denominação proposta porque, além da distinção entre gênero e espécie, a própria lei, como é o caso do art. 442 da Consolidação das Leis do Trabalho, fala em ‘relação de emprego’. 71 SILVA, Carlos Alberto Barata. Compêndio de direito do trabalho. 4.ed. São Paulo: LTr, 1986. p.200. 45 Conceitua MARTINS72 que o contrato de trabalho: É o negócio jurídico entre uma pessoa física (empregado) e uma pessoa jurídica (empregador) sobre condições de trabalho. No conceito é indicado o gênero próximo, que é o negócio jurídico, como espécie de ato jurídico. A relação se forma entre empregado e empregador. O que se discute são condições de trabalho a serem aplicadas à relação entre empregado e empregador. De acordo com DELGADO7374, contrato é o acordo tácito ou expresso mediante o qual ajustam as partes pactuantes direitos e obrigações recíprocas. Para o autor, essa figura jurídica embora não tenha sido desconhecida em experiências históricas antigas e medievais, tornou-se, no período contemporâneo, um dos pilares mais significativos de caracterização da cultura sócio-jurídica do mundo ocidental. Relata ainda em relação ao contrato de trabalho que: Identificados seus elementos componentes e o laço que os mantêm integrados, define-se o contrato de trabalho como o negócio jurídico expresso ou tácito mediante o qual uma pessoa natural obriga-se perante pessoa natural, jurídica ou ente despersonificado a uma prestação pessoal, não-eventual, subrdinada e onerosa de serviços. 72 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 17.ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.116. 73 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. São Paulo: LTr, 1999. p.15. 74 A relevância assumida pela noção e prática do contrato, nos últimos séculos, deriva da circunstância de as relações interindividuais e sociais contemporâneas – à diferença dos períodos históricos anteriores – vincularem seres juridicamente livres, isto é, seres desprendidos de relações institucionalizadas de posse, domínio ou qualquer vinculação extravolitiva a outrem (como era próprio da escravidão ou servidão). Ainda que se saiba que tal liberdade muitas vezes tem dimensão extremamente volátil ou enganosa (basta lembrar-se dos contratos de adesão), o fato e que os sujeitos comparecem à celebração dos atos jurídicos centrais da sociedade atual como seres teoricamente livres. Nesse quadro, apenas o contrato emergiu como instrumento jurídico hábil a incorporar esse padrão específico de relacionamento entre os indivíduos, na medida em que essencialmente apenas o contrato é que se distinguia como veículo jurídico de pleno potencialmento ao exercício privado da liberdade e da vontade (DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. p.15). 46 Também pode ser definido o contrato empregatício como o acordo de vontades, tácito ou expresso, pelo qual uma pessoa física coloca seus serviços à disposição de outrem, a serem prestados com pessoalidade, não-eventualidade, onerosidade e subordinação ao tomador75. 2.2 ELEMENTOS DO CONTRATO DE TRABALHO Os elementos legais do contrato de trabalho se encontram previstos no art. 3º da CLT, que enfatiza “toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob dependência deste e mediante salário”. Na visão de DELGADO 76 , os elementosjurídicos-formais (elementos essenciais) do contrato de trabalho são aqueles classicamente enunciados pelo Direito Civil: capacidade das partes; licitude do objeto; higidez da manifestação da vontade (ou consenso válido); forma prescrita ou não vedada por lei (art. 82 do CCB). Esses clássicos elementos comparecem ao Direito do Trabalho obviamente com as adequações próprias a esse ramo jurídico especializado: a) Capacidade: ‘é a aptidão para exercer, por si ou por outrem, atos da vida civil’. Capacidade trabalhista é a aptidão reconhecida pelo Direito do Trabalho para o exercício de atos da vida laborativa. O Direito do Trabalho não introduz inovações no que concerne à capacidade do empregador; preserva, aqui, portanto, o padrão jurídico já assentado no Direito Civil. Desde que se trate de pessoa natural, jurídica ou ente despersonificado a quem a ordem jurídica reconheça aptidão para adquirir e exercer, por si ou por outrem, direitos e obrigações na vida civil, tem-se como capaz esse ente para assumir direitos e obrigações trabalhistas. Já em relação à figura do empregado há claras 75 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. p.16. 76 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. p.25. 47 especificidades normativas na ordem justrabalhista. Em primeiro lugar, fixa o Direito do Trabalho que a capacidade plena para atos da vida trabalhista inicia-se aos 18 anos (e não 21, como CCB). A maioridade trabalhista começa, pois, aos 18 anos (art. 402 da CLT). Ressalte-se que o preceito celetista que anteriormente lançava certa cortina de dúvida sobre esse termo inicial da maioridade (o art. 446 dispunha que entre 18 e 21 anos presumia-se o trabalhador autorizado a trabalhar, por seu responsável legal) encontra-se, hoje, expressamente revogado (Lei nº. 7.855/89). Mesmo antes de sua revogação expressa, o preceito já estava esterilizado, por incompatibilidade, em vista do parâmetro etário constitucional firmemente acolhido em 1988 (art. 7º, XXXIII, e 227, caput e §3º, da CF/88). b) Objeto: a ordem jurídica somente confere validade ao contrato que tenha objeto lícito (art. 145, II, do CCB). O Direito do Trabalho não destoa desse critério normativo geral. Enquadrando-se o labor prestado em um tipo legal criminal rejeita a ordem justrabalhista reconhecimento jurídico à relação socioeconômica formada, negando-lhe, desse modo, qualquer repercussão de caráter trabalhista. Não será válido, pois, contrato laborativo que tenha por objeto trabalho ilícito. Contudo, há uma distinção fundamental a ser observada no tocante a esse tema. Trata-se da diferença entre ilicitude e irregularidade do trabalho. Ilícito é o trabalho que compõe um tipo legal penal ou concorre diretamente para ele; irregular é o trabalho que se realiza em desrespeito a norma imperativa vedatória do labor em certas circunstâncias ou envolvente de certos tipos de empregados. Embora um trabalho irregular possa também, concomitantemente, assumir o caráter de conduta ilícita, isso não necessariamente se verifica. A doutrina e a jurisprudência tendem também a chamar o trabalho irregular de trabalho proibido, pela circunstância de ele importar em desrespeito a norma proibitiva expressa do Estado. É exemplo significativo de trabalho irregular (ou proibido) aquele executado por menores em período noturno ou em ambientação perigosa ou insalubre. Na mesma direção, o trabalho executado por estrangeiro sem autorização administrativa para prestação de serviços. c) Manifestação da Vontade: a ordem jurídica exige a 48 ocorrência de livre e regular manifestação de vontade, pelas partes contratuais, para que o pacto se considere válido. A higidez da manifestação da vontade (ou consenso livre de vícios) é elemento essencial aos contratos celebrados. Os contratos empregatícios também se caracterizam pela internalização desse elemento jurídico-formal. Contudo, a aferição de sua presença no cotidiano trabalhista é menos relevante do que percebido no cotidiano regulado pelo Direito Civil. d) Forma: forma, no direito, é a instrumentalização mediante a qual um ato jurídico transparece; é, pois, a instrumentalização de transparência de um ato jurídico. De maneira geral, o direito não exige forma específica para os atos jurídicos contratados na vida privada, no suposto de que as partes podem eleger mecanismos eficientes e práticos para enunciação de sua vontade conjugada. Mesmo no Direito Civil, portanto, o formalismo é exigência excepcional colocada pela ordem jurídica (arts. 82 e 129 do CCB). No Direito do Trabalho, essa regra também se manifesta: a princípio, não há qualquer instrumentalização específica obrigatória na celebração de um contrato empregatício. O contrato de trabalho é pacto não solene é, portanto, contrato do tipo informal, consensual, podendo ser licitamente ajustado até mesmo de modo apenas tácito (art. 442, caput, da CLT). Ressalte-se, por fim, que o elemento formal vincula-se diretamente ao tema da prova do contrato. Se a forma é a instrumentalização de transparência de um ato jurídico, obviamente que ela surge como uma das modalidades centrais de comprovação da existência desse ato e de seu conteúdo obrigacional. Desse modo, o instrumento escrito tende a ser um meio privilegiado de prova do contrato e suas cláusulas. Não obstante isso, na medida em que se sabe que o contrato empregatício é essencialmente consensual (isto é, não formal), é inquestionável que também poderá ser provado por quaisquer meios probatórios lícitos existentes, mesmo que distintos da instrumentalização escrita (arts. 442, caput, e 456, caput, da CLT; art. 332 do CPC). 49 Fundamenta MAGANO 77 que o contrato de trabalho é o “negócio jurídico pelo qual uma pessoa física se obriga, mediante remuneração, a prestar serviços não eventuais, a outra pessoa ou entidade, sob a direção de qualquer das últimas”. Segundo DELGADO78, o contrato de trabalho, que viabiliza a concretização da relação jurídica empregatícia tipificada pelos arts. 2º e 3º da CLT, assume modalidades distintas, segundo o aspecto enfocado em face do universo de pactos laborais existentes79. Diversas tipologias de contratos empregatícios podem ser construídas, elegendo-se para cada uma delas um tópico de comparação e diferenciação entre eles. Segundo o autor, possuem as seguintes características: a) Os contratos de trabalho podem, desse modo, ser expressos ou tácitos, conforme o tipo de expressão da manifestação de vontade característica do pato efetivado. b) Podem ser, ainda, individuais (contrato individual de trabalho) ou plúrimos, conforme o número de sujeitos ativos (empregados) componentes do respectivo pólo da relação jurídica. c) Podem ser por tempo indeterminado ou por tempo determinado, conforme a previsão de sua duração temporal. Em outra obra, DELGADO 80 afirma que, no Direito do Trabalho, a figura do contrato desponta com toda sua faceta enigmática. É que, de um lado, está-se diante talvez do mais eloqüente exemplo de contrato de adesão 77 MAGANO, Octavio Bueno. ABC do direito do trabalho. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p.18. 78 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito de trabalho. 5.ed. São Paulo: LTr, 2006. p.514. 79 Diz o art. 2º em seu caput que ‘considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. 80 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. p.16. 50 fornecido pelo mundo contemporâneo, onde o exercício da liberdade e vontade por uma das partes contratuais – o empregado – encontra-se em pólo extremado de contingenciamento. De outro lado,
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