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Mauricio Pizzolatto Brustolin

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS 
CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA 
COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA 
 
 
 
 
 
 
 
CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL 
 
 
 
 
 
 
 
MAURÍCIO PIZZOLATTO BRUSTOLIN 
 
 
 
 
 
 
Itajaí (SC), novembro de 2008
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS 
CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA 
COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA 
 
 
 
 
 
CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL 
 
 
MAURÍCIO PIZZOLATTO BRUSTOLIN 
 
 
Monografia submetida à Universidade 
do Vale do Itajaí – UNIVALI , como 
requisito parcial à obtenção do grau 
de Bacharel em Direito. 
 
 
 
Orientador: Professor Msc. Wanderley Godoy Júnior 
 
 
 
 
Itajaí (SC), novembro de 2008 
 ii 
 
 
 
 
 
 
 
Meus Agradecimentos: 
A Deus, por ter sido um amigo fiel em 
todas as horas. 
Ao Professor Msc. Wanderley Gody 
Júnior por ter me orientado nesse 
trabalho. 
Aos colegas e amigos que fiz no 
período da faculdade. 
 iii 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho dedico: 
Ao meu pai Valdoci Luiz Brustolin, 
minha mãe Marise Pizzolatto Brustolin e 
minha irmã Maiara Pizzolatto Brustolin, 
pela compreensão e companherismo 
nesta fase da minha vida. 
 
 
 
 
 
 iv 
PÁGINA DE APROVAÇÃO 
 
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito 
da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduando 
Maurício Pizzolatto Brustolin , sob o título CONTRATO DE TRABALHO DO 
ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL, foi submetida em ___ de 
___________ de 2008 à Banca Examinadora composta pelos seguintes 
Professores:_____________________________________________________
_______________________________________________________________
e aprovada com a nota ________ (____________). 
 
Itajaí (SC), ____ de ____________ de 2008. 
 
 
 
Professor Msc. Wanderley Godoy Junior 
Orientador e Presidente da Banca 
 
 
 
 
Msc. Antonio Augusto Lapa 
Coordenação da Monografia 
 v 
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
 
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total 
responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, 
isentando a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso 
de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer 
responsabilidade acerca do mesmo. 
 
Itajaí (SC), ____ de ______________ de 2008. 
 
Maurício Pizzolatto Brustolin 
Graduando 
 vi 
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
a.C Antes de Cristo 
Art. Artigo 
CBF Confederação Brasileira de Futebol 
CDB Confederação Brasileira de Desportos 
CLT. Consolidação das Leis do Trabalho 
CND Conselho Nacional de Desportos 
STJD Superior Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol 
§ Parágrafo 
 
 
 vii
ROL DE CATEGORIAS 
 
Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à 
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. 
Atleta Amador 1 - Os desportistas de qualquer idade que, 
com liberdade, entregam-se à prática de qualquer modalidade sem qualquer 
forma de remuneração ou incentivos materiais, ou seja, aqueles que não 
recebem nenhuma compensação econômica como conseqüência da prática 
esportiva e não têm nenhum outro interesse que não seja o do simples 
revigoramento físico, euforia da saúde ou passatempo higiênico. 
Atleta não-profissional 2 - São identificados pela 
liberdade de prática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendo 
permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio. 
Atleta Profissional 3 - É todo aquele que pratica esporte 
como profissão, entendida esta como o exercício de um trabalho como meio de 
subsistência do seu exercente. 
Contrato 4 - É o acordo tácito ou expresso mediante o 
qual ajustam as partes pactuantes direitos e obrigações recíprocas. 
Contrato de Trabalho 5 - Acordo de vontades, tácito ou 
expresso, pelo qual uma pessoa física coloca seus serviços à disposição de 
outrem, a serem prestados com pessoalidade, não-eventualidade, onerosidade 
e subordinação ao tomador. 
Subordinação Jurídica 6 - É tudo o que o empregador 
 
1 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas 
alterações. p.44. 
2 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas 
alterações. p.44. 
3 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.59. 
4 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. São 
Paulo: LTr, 1999. p.15. 
5 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. p.16. 
6 FONSECA, Ricardo Marcelo. Modernidade e contrato de trabalho: do sujeito de Direito à 
Sujeição Jurídica. p.137. 
 viii 
determinar ao empregado que esteja dentro dos limites da atividade econômica 
da empresa, que não seja crime, não o humilhe e não o coloque em situação 
de risco físico. 
 
 
 
 ix 
SUMÁRIO 
 
RESUMO ................................................................................................................ XI 
INTRODUÇÃO.....................................................................................................XIII 
Capítulo 1 ................................................................................................................ 15 
O FUTEBOL COMO PROFISSÃO ...........................................................................15 
1.1 HISTÓRICO ..................................................................................................... 15 
1.1.1 SURGIMENTO DO FUTEBOL NO MUNDO ................................................... 15 
1.1.2 SURGIMENTO DO FUTEBOL NO BRASIL ..................................................... 22 
1.2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DESPORTIVA NO BRASIL ............................... 25 
1.3 DESTAQUE DA LEI 9.615/98 (LEI PELÉ) E SUAS ALTERAÇÕES ....................... 33 
1.4 DISTINÇÃO ENTRE ATLETA PROFISSIONAL, NÃO PROFISSIONAL E 
AMADOR ............................................................................................................. 42 
Capítulo 2 .............................................................................................................. 444 
CONTRATO DE TRABALHO NA CLT ......................................................................44 
2.1 CONCEITOS DE CONTRATO DE TRABALHO ................................................. 44 
2.2 ELEMENTOS DO CONTRATO DE TRABALHO .................................................46 
2.3 A SUBORDINAÇÃO JURÍDICA ...................................................................... 57 
Capítulo 3 ................................................................................................................ 61 
CONTRATO DE TRABALHO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL ..................61 
3.1 ATLETAS PROFISSIONAIS DE FUTEBOL ........................................................... 61 
3.2 TERMINAÇÃO DO CONTRATO E PASSE LIVRE ............................................. 83 
3.3 JURISPRUDÊNCIAS .........................................................................................84 
 
 x 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................91 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 96 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 xi 
RESUMO 
 
A presente monografia trata do Contrato de Trabalho do 
Atleta Profissional de Futebol. O homem está interligado e correlacionado ao 
esporte desde os primatas, quando fugiam de animais predadores, lutavam por 
áreas e regiões e disputavam domínios no início das coletividades. Acredita-se 
que depois da alimentação, a mais antiga forma de atividade humana é a que 
hoje se conhece por esporte. Da mesma formaque a prática de esportes, o 
futebol não tem registros exatos em sua origem, sendo o seu surgimento muito 
discutido. Historiadores, na busca da origem do futebol, mencionam jogos com 
bola de bambu nos quais se usavam pés e mãos desde 5.000 a.C, e 4.500 a.C. 
No Brasil o surgimento do futebol é atribuído a Charles Muller, brasileiro, 
descendente de ingleses, na Inglaterra onde conheceu o foot-ball, por ele se 
encantou e praticou, De volta ao Brasil em 1984, trouxe consigo bolas, 
uniformes e chuteiras. A primeira lei que tratou o regulamento no Brasil, foi 
editada em 1941, na ditadura de Getúlio Vargas. Essa Lei era uma cópia do 
modelo nazista que existia na época, quando o esporte era uma maneira de ser 
aferir a hegemonia de uma raça sobre a outra. Com o passar dos tempos, com 
a chegada da Nova República, o Brasil começou a eliminar a defasagem com o 
renovado conceito de esporte, já aceito nos países de grau civilizatório. Em 
1993 foi sancionada a Lei 8.672, chamada de Lei Zico, onde verificou-se no 
corpo da nova lei, toda uma preocupação com o homem. Passado cinco anos, 
foi sancionada a Lei Pelé (Lei 9.6015/ 1998) onde trouxe alterações, 
principalmente com a extinção do passe. Trás a distinção entre atleta 
profissional, não-profissional e amador. No segundo capítulo, conceitos de 
contrato de trabalho na CLT (consolidação das leis do trabalho) e subordinação 
jurídica. Em fim o contrato de trabalho do atleta profissional de futebol. Onde o 
ordenamento jurídico destaca regimes diferenciados para alguns empregados, 
em razão do tipo de atividade profissional que desempenham ou da condição 
que ostentam. Estes contratos especiais regulam as razões de trabalho de 
atletas profissionais. Destaca-se a Lei nº. 9.615/98 que “a atividade do atleta 
profissional, de todas as modalidades desportivas, é caracterizada por 
remuneração pactuada em contrato formal de trabalho firmado com entidade 
 xii
de prática desportiva, pessoa jurídica de direito privado, que deverá conter, 
obrigatoriamente, cláusula penal para as hipóteses de descumprimento, 
rompimento ou rescisão contratual”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 xiii 
INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho tem como objeto o Contrato de 
Trabalho do Atleta Profissional de Futebol e, como objetivos:institucional é 
produzir uma monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela 
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; abordando o contrato de trabalho do 
atleta profissional no mundo do futebol. 
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na 
Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de 
Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na 
presente Monografia é composto na base lógica Indutiva. 
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as 
Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa 
Bibliográfica. 
A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as 
seguintes hipóteses: 
a) existem diferenças entre atleta profissional, atleta não-
profissional e atleta amador; 
 b) o instituto do passe ainda existe no contrato de 
trabalho do atleta profissional de futebol; 
c) o contrato de trabalho do atleta profissional de futebol 
apresenta particularidades diferentes do contrato de trabalho previsto da CLT. 
O trabalho foi dividido em três capítulos. O primeiro com o 
histórico do surgimento do futebol no mundo e no Brasil, histórico da legislação 
desportiva no Brasil, destaques da Lei Pelé e suas alterações e distinção entre 
atleta profissional, atleta não-profissional e amador. 
O segundo, tratando do Contrato de Trabalho na CLT. 
(Consolidação das Leis do Trabalho) e a subordinação jurídica. 
 xiv 
O terceiro e último capítulo, Contrato de Trabalho do 
Atleta Profissional de Futebol e a terminação do contrato e passe livre. 
Nas considerações finais apresentam-se breves sínteses 
de cada capítulo e se demonstra se as hipóteses básicas da pesquisa foram ou 
não confirmadas. 
 
 
 15
Capítulo 1 
O FUTEBOL COMO PROFISSÃO 
 
1.1 HISTÓRICO 
 
1.1.1 SURGIMENTO DO FUTEBOL NO MUNDO 
 
O homem está interligado e correlacionado ao esporte desde 
os primatas, quando fugiam de animais predadores, lutavam por áreas e regiões e 
disputavam domínios no início das coletividades. Acredita-se que depois da 
alimentação, a mais antiga forma de atividade humana é a que hoje se conhece 
por esporte. 
Verifica-se que a prática desportiva teve início remoto, onde 
já havia monumentos de vários estilos dos antigos egípcios, babilônios, assírios e 
hebreus com cenas de luta, jogos de bola, natação, acrobacias e danças. Entre os 
egípcios, a luta corpo-a-corpo e com espadas surgiram por volta de 2.700 a.C. e 
eram exercícios com fins militares. Os outros jogos tinham caráter religioso. 
Para relatar os antecedentes históricos do futebol, torna-se 
necessário uma viagem pelas civilizações antigas, para buscar inicialmente a 
origem da prática de esportes. 
As origens do jogo com a bola são remotíssimas. Conforme 
levantamentos feitos por historiadores e arqueólogos, no Egito e na Babilônia há 
notícias que dão a esses primeiros centros de civilização na Antigüidade a 
condição de pioneiros na prática de algo semelhante ao futebol7. 
 
7 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 
2002. p.11. 
 16
ZAINAGUI8 destaca que os registros não são exatos: 
Há evidências importantes da existência da prática de esportes 
nas civilizações antigas, mas seus registros não são exatos. As 
civilizações primitivas (maias, incas, egípcios etc.) praticavam 
jogos com caráter esportivo, muitas vezes com intuito religioso. 
A própria natação encontra sua origem numa prática “esportiva” 
que consistia em afogar o adversário, sagrando-se vencedor 
aquele que conseguisse sobreviver. 
 
Porém, as atividades esportivas ganharam destaque na 
Grécia antiga, com realce no momento em que o corpo do homem é mais 
valorizado. 
Da mesma forma que a prática de esportes, o futebol não 
tem registros exatos em sua origem, sendo o seu surgimento muito discutido. Não 
existe qualquer fonte que comprove a origem deste esporte, tendo os 
pesquisadores, apenas indícios de que seu surgimento ocorreu muitos séculos 
a.C. 
De acordo com LEAL9, historiadores, na busca da origem do 
futebol, mencionam jogos com bola de bambu nos quais se usavam pés e mãos 
desde 5.000 a.C, e 4.500 a.C., no Japão, portanto, há mais de sete mil anos. 
Durante o reino de Yang-Tsé (atribui-se a ele a invenção do 
futebol), cerca de 2.500 a.C., oito jogadores disputavam jogos 
num campo de 14 m2, com duas estacas ligadas por um fio de 
seda em cada extremo do campo, bola redonda de 22cm de 
diâmetro, feita de couro e recheada de cabelo e crina10. 
 
Havia indícios de sistemas e táticas, sendo os jogadores 
 
8 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os Atletas Profissionais de Futebol no Direito do Trabalho. p.17. 
8 DUARTE, Orlando. Futebol histórias e Regras. São Paulo: Makron Books, 1997. p.3. 
9 LEAL, Júlio César. Futebol: arte e ofício. Rio de Janeiro: Sprint, 2000. p.23. 
10 LEAL, Júlio César. Futebol: arte e ofício. p.23. 
 17
divididos em: corredores, sacadores, dianteiros e defensores. Era jogado pela elite 
da sociedade e pelos altos oficiais da Igreja. Sabe-se que os Papas Clement VII, 
Leon X e Urbain VII foram campeões no futebol florentino. 
De outra sorte, destaca AQUINO 11 que informações mais 
precisas revelam que na China, por volta de 2.300 anos atrás, jogava-se o tsutchu, 
palavra chinesa que significa “golpe na bola com o pé”. Baixos-relevos mostram 
cenas desse jogo praticado desde a dinastia Han (202 a.C. -226 d.C.). Outros 
baixos-relevos referentes à dinastia Ming (1368-1644) registram particularidades 
do tsutchu, queera praticado em três modalidades. Em uma delas, havia a 
participação de um único jogador fazendo malabarismos com a bola. Outra 
modalidade envolvia a competição entre duas equipes empenhadas em lançar a 
pelota sobre uma rede no meio do campo. Aos adversários cabia evitar que a bola 
tocasse o solo antes de ser devolvida à outra metade do campo. A terceira 
modalidade opunha duas equipes empenhadas em arremessar a bola em algo 
parecido com gols colocados em cada canto do campo. Registros indicam que seu 
inventor, Yang-Tsé, pertencia à guarda do jovem imperador Huang-Ti, que foi 
talvez o primeiro nobre a se interessar pelo futebol 
Também são encontrados registros quanto à prática do 
futebol no Japão, chamado de kemari12, e que fora praticado há mais de 2.000 
anos. Assim como o chinês tsutchu era muito mais uma exibição de habilidade 
com a bola do que uma efetiva competição esportiva. 
Por volta do final do primeiro milênio antes de Cristo, o 
kemari deixou de ser um esporte da aristocracia, passando a ser praticado pelas 
classes populares. Era jogado em um campo quadrado e a equipe vencedora 
 
11 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.11 
12 O kemari, jogado em torno de uma cerejeira, árvore plantada repleta de simbolismos para os 
japoneses, era semelhante ao tsutchu. A princípio era praticado como treinamento militar, 
tornando-se, mais tarde, um esporte de nobres, sendo jogado com oito jogadores em cada equipe. 
A bola era redonda, com cerca de 22 centímetros de diâmetro, sendo recheada com crinas de 
cavalo. 
 18
poderia ser premiada com flores ou lingotes de prata13. 
Já na Grécia: 
Entre os gregos, o chamado epyskiros era muito popular, e 
incluía-se entre outros jogos com a pelota, sendo classificado – 
juntamente com o aporaxis, a fênida e o epiceno – na categoria 
chamada de sphairomachia, que englobava esportes em que a 
pelota era jogada com as mãos ou com os pés. Do epyskiros, 
jogado com os pés, pouca coisa se sabe. São muito escassas 
as informações relativas ao número de jogadores de cada 
equipe, dimensões do campo e até mesmo sobre como se fazia 
a contagem de pontos14. 
 
No entendimento de DUARTE15, para os gregos, o epyskiros 
possuía regras desconhecidas, perdidas no tempo. Os romanos adotam a bola e 
detalhes do jogo e fazem o harpastum. 
Após verificar o esporte praticado pelos gregos, os romanos 
criaram o harpastum, que coexistiu com o trigon e a pila pagânica, praticados com 
as mãos e os pés. No harpastum, popular entre os legionários romanos, o jogo era 
com uma bola de couro semelhante à atual, inclusive em dimensões. Uma capa 
de couro – chamada de follis – envolvia uma bexiga de boi cheia de ar. O campo 
tinha forma retangular, com uma linha divisória no meio e duas linhas de meta nas 
extremidades. A bola tinha de ser passada de jogador a jogador, cabendo a um 
deles arremessá-la através da linha de meta adversária, marcando assim um 
ponto. 
Da mesma forma, também são encontrados registros de 
jogos com bola no continente americano, conforme relata AQUINO16: 
 
13 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.12. 
14 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.12. 
15 DUARTE, Orlando. Futebol: histórias e regras. p.3. 
16 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.14. 
 19
Existem informações de que a prática do jogo da bola também 
era conhecida das populações indígenas do continente 
americano. Entre os araucanos, que viviam no atual Chile, era 
chamado de pirimatum, ao passo que os tehuelches da 
Patagônia denominavam-se de tchoekah. Não somente as 
populações aborígenes da América do Sul jogavam suas 
peladas: em Copán, importante cidade da civilização maia, na 
América Central, disputava-se o pok-tai-pok. O campo tinha 490 
pés de comprimento e media 100 pés de largura. Pela primeira 
vez na evolução do futebol, o jogo era realizado com bolas de 
borracha maciça. 
 
Na Europa, durante a Idade Média, a bola rolava na cidade 
de Florença, na Península Italiana, onde se disputavam o calcio, denominação 
que ainda hoje é usada pelos italianos para designar o futebol. Segundo AQUINO, 
a primeira partida foi disputada em 17 de fevereiro de 1529, onde vinte e sete 
jogadores atuavam em cada time, com camisas brancas ou verdes. A peleja foi a 
forma encontrada por dois grupos políticos rivais para solucionar suas diferenças 
políticas17 18. 
Mas, verificavam-se nestas disputas muita violência, e o rei 
Eduardo I proibiu sua realização em 1297. Apesar disso, a lei não foi respeitada, 
sendo que continuaram a ocorrer verdadeiras batalhas campais entre os 
participantes das equipes, que eram formadas por centenas de jogadores cada 
uma. Na disputa de pelotas, socos e pontapés eram válidos e a equipe vencedora 
era aquela que conseguia arremessar a pelota através da meta adversária. Já em 
1314, o jogo foi mais uma vez proibido, desta vez pelo Rei Eduardo II. 
Itália, França, Inglaterra e Escócia continuavam animando o 
 
17 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.14. 
18 Antes de chegar à Península Italiana, o harpastum teria sido levado pelos romanos em sua 
campanha contra os celtas, que vivia na Britânia, atual Inglaterra, e o mais antigo documento a ele 
relacionado é o livro Descriptio nobilissimae civitatis londinae, de William Fitztephen, escrito em 
1175. O jogo, disputado com uma bola de couro, tinha caráter festivo: celebrava-se o fim da 
denominação dinamarquesa, em 1047. 
 20
calcio, soule, futebol, que se transformava, principalmente na Escócia e na 
Inglaterra, em esporte violento. Roupas rasgadas, pernas quebradas, dentes 
arrancados e críticas ao ‘esporte’. Muitos achavam que era um esporte bárbaro 
que estimulava a violência e o ódio. Na França, o esporte chegada aos jardins 
aristocráticos. Surge também o ‘futebol de massa’, onde chegavam a jogar 500 de 
cada lado. Surgiram proibições e manifestações das autoridades contra o 
massfootball que resistia19. 
De acordo com AQUINO20, foi no século XVIII, quando a 
Inglaterra consolidou o governo parlamentar e a Revolução Industrial, 
representando a vitória do capitalismo na sociedade inglesa que começaram a 
ocorrer mudanças no jogo da bola. Nesta época, surgia uma aristocracia integrada 
principalmente por famílias cuja riqueza provinha do dinheiro, e não mais de 
propriedades rurais, onde os filhos dessas famílias ricas começaram a freqüentar 
as escolas. Destaca ainda o autor: 
Aos dirigentes dessa aristocracia interessava reformular a 
educação então dominante no país. O futebol, esporte que 
pressupunha companheirismo e disciplina, poderia 
perfeitamente servir para esse propósito. Para isso, no entanto, 
deveria ser regulamentado mediante uma organização 
submetida a regras fixas. Além disso, os educandos poderiam 
canalizar suas energias para uma prática desportiva 
disciplinada, o que os desviaria de atividades capazes de 
ameaçar a estabilidade política da sociedade capitalista 
inglesa21. 
 
Em 1823, na Rugby School, houve uma séria divisão entre 
os que defendiam regras disciplinando o jogo da bola praticado nas escolas 
particulares inglesas. A controvérsia girava em torno da permissão ou não de se 
usar pés e mãos durante as pelejas. William Welbb Ellis defendia a validade do 
 
19 DUARTE, Orlando. Futebol: histórias e regras. p.4. 
20 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.17. 
21 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.17. 
 21
uso também das mãos, tendência que acabou prevalecendo no chamado ‘futebol 
americano’, ou ‘rúgbi’. 
Fundamenta DUARTE22 que: 
As regras começam a por ordem. Jovens das famílias ricas da 
Inglaterra começam a deixar de lado o tiro, a esgrima, a caça, aequitação, alguns dos seus esportes preferidos, passando para 
o futebol. No século XIX, o futebol está mais organizado. 
 
Em 1848, houve uma unificação das regras com a 
participação de Cambridge, Harrow, Westminster, Winchester e alunos de Elton. 
Eram, então, catorze regras. Depois vieram acréscimos: impedimento, árbitro, 
goleiro podendo usar as mãos, arremesso lateral, escanteio, pênalti e troca de 
lado na metade do tempo (antes trocava-se de lado após cada gol)23. 
Relata ainda DUARTE24 que: 
Em 1868, surge a figura do árbitro. Ele anunciava as decisões 
aos gritos. Foram surgindo o apito, o travessão superior etc. Em 
1891 apareceram as redes. O pênalti foi criado. Estabeleceu-se 
o número de 11 jogadores, o tamanho do campo, o tamanho da 
bola. Em 1901 surge o limite das áreas. Em 1907 surge a Lei do 
Impedimento, mudando-se em 1926. O futebol como é hoje 
chegou à França em 1872; à Suíça em 1879; à Bélgica em 
1880; à Alemanha, Dinamarca e Holanda, em 1889; à Itália em 
1893; aos países da Europa Central, em 1900. Em 1904 surge 
a FIFA. 
 
Segundo o pesquisador BALLOUSSIER25, acredita-se que o 
futebol com 11 jogadores se firmou pelo fato de as turmas de Cambridge terem 
 
22 DUARTE, Orlando. Futebol: histórias e regras. p.5. 
23 LEAL, Júlio César. Futebol: arte e ofício. p.27. 
24 DUARTE, Orlando. Futebol: histórias e regras. p.5. 
25 Apud AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.18. 
 22
dez alunos e um bedel (inspetor de classe). Para outros, o número 11 foi escolhido 
porque foram 11 os times e escolas que fixaram o código único de regras 
uniformizando essa prática desportiva. 
Em dezembro de 1863, o futebol foi codificado em apenas 14 
regras, tornadas públicas em livros e cartilhas distribuídas pelo país. Dentre as 
regras estabelecidas, proibia-se chutar ou agarrar o adversário, fixava-se a troca 
de campo ao fim do primeiro tempo, a validação de um tento somente quando a 
bola ultrapassasse a linha do gol, a dimensão da largura e da extensão do campo, 
o controle das chuteiras e a padronização da bola. A partir de 1875, os juízes 
passaram a arbitrar as pelejas usando um apito e depois de 1881 começaram a 
atuar dentro das quatro linhas26. 
 
1.1.2 SURGIMENTO DO FUTEBOL NO BRASIL 
 
Pouco referencial se encontra na literatura em relação à 
origem do futebol no Brasil antes de Charles Miller. 
Ainda assim, DUARTE27 relata que: 
No Brasil, o futebol chegou por intermédio de marinheiros 
ingleses, holandeses e franceses, na segunda metade do 
século passado. Eles jogavam em nossas praias, na parada 
dos navios. Iam embora e levavam as bolas. Para os nossos 
brasileiros só restava admirar o esporte, sem saber que esse 
seria o nosso esporte nacional, que anos depois seríamos 
campeões do mundo. Fala-se também que funcionários da São 
Paulo Railway, de Jundiaí, teriam aprendido a jogar em 1882. 
Também se comenta que os funcionários da Leopoldina 
Railway, do Rio, no mesmo ano, também teriam experimentado 
o futebol. Comenta-se o sensacional que foi o jogo de 
 
26 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.18. 
27 DUARTE, Orlando. Futebol histórias e Regras. p.5. 
 23
marinheiros ingleses, em 1874, nas praias do Rio, exatamente 
onde é o Hotel Glória. 
 
Já na obra de LEAL 28 , no Brasil, destaca-se que o 
surgimento do futebol é atribuído a Charles Miller, nascido em 1874, brasileiro, 
descendente de ingleses, educado na Banister Court School, na Inglaterra, onde 
conheceu o foot-ball, por ele se encantou e praticou, jogando no time do Condado 
de Hampshire. De volta ao Brasil, em 1894, trouxe consigo as duas primeiras 
bolas, uma delas logo apelidada de Peluda, por ainda conter pêlos no couro, 
uniformes e chuteiras. Organizou o primeiro jogo, do qual também participou, no 
São Paulo Atletic Club, clube de ingleses, fundado em 1888, onde se jogava 
principalmente o críquete. 
Neste sentido, relata AQUINO29: 
Ao retornar a São Paulo, em 1894, trazia em sua bagagem 
duas bolas de couro, camisas, chuteiras e calções. 
Constatando que essa modalidade de esporte era praticamente 
desconhecida no país, empenhou-se em divulgá-la. Ele passou 
a promover partidas, formar times e fundar clubes, aparecendo 
como o grande incentivador do futebol na capital paulista. 
Tornava-se assim, para muitos, o precursor do jogo no Brasil, o 
que lhe garantiria um lugar de destaque no panteão dos heróis 
do esporte nacional. 
 
A historiografia assinala a data de 14 de abril de 1895 para a 
realização da primeira partida de futebol no Brasil. Devido aos esforços de Charles 
Miller, enfrentaram-se no campo da Cia. Paulista de Viação as equipes de 
 
28 LEAL, Júlio César. Futebol: arte e ofício. p.28. 
29 AQUINO, Rubim Santos Leão. Futebol, uma paixão nacional. p.26. 
 24
trabalhadores do The Team Gaz e do The São Paulo Railway30. 
Relata ZAINAGHI31 que o futebol era praticado pela classe 
alta da sociedade, excluindo os operários e as pessoas que pertenciam às classes 
mais humildes. 
Em 1914, surge a Federação Brasileira de Sports, e em 1916 
a Confederação Brasileira de Desportos (CDB), que dedicou-se aos esportes 
amadores. Em 1923, foi criada a Federação Brasileira de Futebol para os adeptos 
do profissional. Somente em 1937, a Federação Brasileira de Futebol uniu-se à 
Confederação Brasileira de Desportos, dando início à fase profissional do futebol. 
O futebol de campo enquadra-se perfeitamente na categoria 
de esporte popular. É praticado por diferentes categorias sociais, 
predominantemente das classes C, D e E. 
As bases da prática desportiva no Brasil estão fundadas sob 
laços associativos, caracterizados pela união de pessoas para a realização de 
atividades físicas, envolvendo várias modalidades desportivas. 
Conforme CARLEZZO32, como qualquer outro setor social, o 
desporto evoluiu gradativamente com o passar dos anos, seja com relação às 
técnicas e equipamentos que auxiliam a prática desportiva, seja com relação à sua 
parte organizacional. 
O esporte, como um dos fenômenos sociais e culturais mais 
importantes do século XX, tanto em sua vertente de entretenimento como de 
 
30 No Brasil, os termos ingleses foram usados durante muitos anos, também aqui o futebol surgiu 
através dos ingleses. Charles Miller era brasileiro, foi estudar na Inglaterra e trouxe as bolas e as 
regras, mas as empresas de origem inglesa traziam o agradável hábito da prática do futebol. Muito 
se falou dos stopers, dos halfs, dos goals-keeper, dos forward, dos off-side, dos corners etc. Isso 
tudo veio da Inglaterra, a verdadeira ‘mãe do futebol’ e que soube, depois de muita luta, organizar 
o futebol. No dia 02 de junho de 1886, quatro Associações de Futebol britânicas fundaram, em 
Londres, a International Football Association Board que ainda é a guardiã das regras e da 
organização desse esporte mundial. 
31 ZAINAGHI, Domingos Sávio. Nova legislação desportiva: aspectos trabalhistas. São Paulo: LTr, 
2001. p.29. 
32 CARLEZZO, Eduardo. Direito desportivo empresarial. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004. p.30. 
 25
prática livre e voluntária do cidadão, desenvolve-se, fundamentalmente, através de 
entidades e organizações desportivas. 
 
1.2 HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO DESPORTIVA NO BRASIL 
 
TUBINO 33 inicia sua obra explanando que, no início da 
década de 30, a desorganização do esporte brasileiro, causada principalmente 
pelos conflitos decisórios por ocasião das deliberações sobre participações 
internacionais, levou o Governo brasileiro a buscar medidas que solucionassem os 
impasses que a cada momento surgiam. PERRY34 relata que: 
Fora de tais normas legais, o desporto regia-se pela sumária 
legislação das entidades dos diversos ramos desportivos, com 
obediência relativa aos preceitosinternacionais, sem a menor 
interferência do Governo, em qualquer sentido, com 
organização precária, circunstâncias que mais põem em relevo 
o esforço e o sacrifício dos dirigentes da época, plantando as 
sementes que frutificariam na potência esportiva em que se 
torna, aos poucos, o nosso país. 
Tal desorganização e a falta de preceitos legais estruturais do 
desporto ocasionaram, então, cisões que tantos malefícios 
causaram, sobretudo no futebol, onde se degladiaram 
entidades nacionais e entidades estaduais de direção, num 
desgaste de valores, de esforços e de trabalho, umas à 
margem da filiação internacional, outras desfrutando dela, mas 
desfalcadas pela luta. 
 
Com o início do profissionalismo, esses conflitos ocorriam 
com maior freqüência na área do futebol, o que obrigou o Estado a regulamentar 
 
33 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. Rio de Janeiro: 
Shape, 2002. p.25. 
34 Apud TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.25. 
 26
as atividades desportivas, estendendo essa normatização além do futebol, vindo a 
atingir todas as modalidades praticadas no Brasil. 
A primeira lei que tratou e regulamentou o esporte no Brasil, 
foi editada em 1941, na ditadura de Getúlio Vargas. Essa lei era uma cópia do 
modelo nazista que existia na época, quando o esporte era uma maneira de se 
aferir a hegemonia de uma raça sobre a outra. 
Neste sentido, destaca AIDAR35 que até o ano de 1941 não 
existia nenhuma legislação que regulamentasse o desporto, absolutamente nada, 
apenas um apanhado de pessoas que praticavam o esporte, mas não havia lei 
nenhuma que regulamentasse sequer a atividade esportiva, quanto mais a 
atividade administrativa ou a atividade jurídica da modalidade esportiva. 
O Decreto-lei nº. 3.199, de 14/04/1941, primeira legislação 
esportiva do país, além das normas gerais que organizariam e permitiriam uma 
burocratização ou cartorialização do esporte nacional criou, no seu Artigo 20, o 
Conselho Nacional de Desportos (CND), que daria prosseguimento a essa 
regulamentação esportiva brasileira. Pela primeira vez, no seu art. 53, reconhece 
implicitamente a existência de uma prática esportiva profissional36. 
Até a instituição deste decreto, foram criados vários 
instrumentos legais, que por si só explicam o desenvolvimento e a preparação do 
Estado para normatizar o esporte no Brasil, e foram37: 
- Decreto-lei nº. 526, de 01/07/1938 – Instituiu o Conselho 
Nacional de Cultura. No seu Art. 20, § único, alínea h, incluiu a 
Educação Física (ginástica e esportes) como atividade de 
desenvolvimento cultural. 
- Decreto-lei nº. 1.056, de 19/01/1939 – Instituiu a Comissão 
Nacional de Desportos, que ficou encarregada de desenvolver o 
 
35 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. Campinas: Editora Jurídica, Mizuno, 2000. 
p.18. 
36 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.25. 
37 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.26. 
 27
projeto para a futura lei base para o esporte nacional. 
- Decreto-lei nº. 1.212, de 07/04/1939 – Criou a Escola Nacional 
de Educação Física e Desportos, primeira escola civil de 
formação em Educação Física no país. Os conteúdos do 
esporte eram tratados conjuntamente com os da Educação 
Física. 
- Decreto-lei nº. 10.409, de 14/08/1939, do Governo do Estado 
de São Paulo – Primeiro ato legal que legislou sobre os 
esportes, baixando normas para orientar a prática esportiva, 
promovê-la, e fiscalizá-la. Tratou ainda das cobranças de 
ingressos, das organizações de competições, das construções 
de praças esportivas e estádios, da produção de material 
esportivo e da previdência contra acidentes esportivos. 
- Decreto-lei nº. 11.119, de 30/05/1940 – Instituiu benefícios 
fiscais às sociedades esportivas. 
O período que compreendeu os anos de 1945 e 1985 foi 
aquele que o esporte brasileiro foi normalizado primeiramente pelo Decreto-lei nº. 
3.199/1941 e pelas deliberações do Conselho Nacional de Desportos até 1975, e 
depois deste ano, pela Lei nº. 6.251/1975 e seu Decreto regulamentador, nº. 
80.228/1977, e pela continuação das deliberações do CND. O ponto comum é que 
todos esses documentos legais podem ser caracterizados como instrumentos 
autoritários que produziram uma tutela e uma cartorialização do esporte brasileiro 
por mais de quarenta anos38 39. 
Esse período durou até 08 de outubro de 1975, quando foi 
criada a Lei nº. 6.251, marcada pela posição forte do Estado sobre as sociedades 
esportivas. Os alvarás para funcionamento de entidades esportivas e registros, as 
 
38 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.39. 
39 Observa-se que a partir da década de 70 surgiram no contexto internacional e no próprio Brasil 
várias manifestações que se confrontavam com o arcabouço jurídico-esportivo vigente no país. A 
concepção mundial do movimento “Esporte para Todos” e a sua chegada ao Brasil, os manifestos 
dos organismos internacionais ligados à Educação Física e ao Esporte, o Diagnóstico de Educação 
Física/Desportos do Brasil em 1971, a criação da Comissão de Esporte e Turismo no Congresso 
Nacional e a respectiva promoção do ciclo de debates “Panorama do Esporte Brasileiro”, a 
reestruturação do Ministério da Educação e Cultura quanto ao setor responsável pela Educação 
Física/Esportes foram os registros de, por que não dizer, verdadeiras reações ao status quo. 
 28
aprovações de estatutos das entidades, a normatização dos passes no futebol 
profissional, as normas para transferência de atletas, as aprovações dos códigos 
disciplinares e muitas outras imposições constituem uma vasta folha de ações do 
CND no sentido do cumprimento do Decreto-lei nº. 3.199/41, então vigente40. 
Na visão de MELO FILHO41: 
Outrossim, acresça-se que a Lei nº. 6.251 condensava no CND 
funções legislativas, executivas e judicantes, tornando-o o 
órgão que fazia a norma, exercia atos de fiscalização e controle, 
e julgava matérias desportivas, reunindo em um só órgão todas 
as funções entregues na República Federativa do Brasil a três 
poderes distintos e inconfundíveis. 
 
Explica AIDAR42 que a Lei nº. 6.251 foi uma cópia do Decreto 
nº. 3.199, uma roupagem diferente é bem verdade, mas ainda prevalecia a mão 
forte do Estado a ditar regras e normas sob a forma de organização do esporte. 
Não era dado por exemplo, ao Corinthians ou ao São Paulo ou 
a um clube de menor expressão seja ele qual fosse, se 
organizar de acordo com a sua necessidade, todos tinham que 
se organizar da mesma maneira, todos tinham que ter a sua 
quantidade de sócios e todos tinham que ter no mínimo vinte 
conselheiros, no máximo trezentos em razão da quantidade de 
milhares de sócios, para cada milhar era um limite de vinte 
conselheiros, até o limite máximo de trezentos. De forma que, 
era muito difícil os clubes se organizarem livremente43. 
 
Nesta época, o esporte brasileiro precisava de uma 
modernização, o que veio a acontecer com a Lei nº. 6.251, apesar da continuação 
 
40 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.40. 
41 MELO FILHO, Álvaro. Lei Pelé: comentários à Lei nº. 9.615/98. Brasília: Livraria e Editora 
Brasília Jurídica, 1998. p.30. 
42 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.18. 
43 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.19. 
 29
da ação tuteladora do Estado no processo esportivo. 
Conceitua ainda AIDAR44: 
Essa lei distingue as diversas modalidades esportivas e as 
classifica como desporto comunitário, estudantil, militar e 
classista. O comunitário como sendo praticado por entidades 
esportivas, o desporto como nós conhecemos e já praticados 
em termos profissionais, o estudantil comodesporto de 
aprendizagem e lazer; o militar praticado pelas forças armadas; 
e por fim, o classista praticado no âmbito das empresas. 
 
Ressalta TUBINO 45 que, nesse período de 1941 a 1985, 
outros instrumentos legais contribuíram para a organização e o desenvolvimento 
do esporte brasileiro, oferecendo condições para as práticas esportivas dos 
estudantes universitários, para a implantação da loteria esportiva para o esporte 
militar e para o amparo do atleta profissional. Além disso, o CND continuou com 
suas deliberações no sentido de disciplinar as relações do esporte nacional, 
independentemente de estar referenciado no Decreto-lei nº. 3.199/1941 ou na Lei 
nº. 6.251/1975 e seu Decreto regulamentador nº. 80.228/1977. 
Já a partir de 1985, com a chegada da Nova República, o 
Brasil começou a eliminar a defasagem com o renovado conceito de esporte, já 
aceito nos países de grau civilizatório mais adiantado. 
No entender de TUBINO, foi pelo Decreto nº. 91.452, de 19 
de julho de 1985, por iniciativa do MEC, foi instituída a Comissão de Reformulação 
do Esporte Brasileiro. Essa Comissão apresentou um minucioso relatório com o 
título de “Uma nova política para o Desporto Brasileiro – Esporte Brasileiro 
Questão de Estado”, com 80 indicações de reformulações divididas em seis 
partes: 
 
44 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.19. 
45 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.85. 
 30
I – Da questão da reconceituação do esporte e sua natureza; 
II – Da necessidade de redefinição de papéis dos diversos 
segmentos e setores da sociedade e do Estado em relação do esporte; 
III – Mudanças jurídico-institucionais; 
IV – Da carência de recursos humanos, físicos e financeiros 
comprometidos com o desenvolvimento das atividades esportivas; 
V – Da insuficiência de conhecimentos científicos aplicados 
ao esporte; 
VI – Da imprescindibilidade da modernização de meios e 
práticas do esporte. 
 
Referencia ainda TUBINO46 que: 
O compromisso maior da Nova República exige, 
prioritariamente, seja resgatada a enorme dívida social, e, neste 
contexto não há como olvidar-se ou minimizar-se o Desporto, 
uma das forças vivas da Nação, seriamente comprometido na 
sua função social. Daí decorre a necessidade urgente de mudar, 
de promover a adequação das estruturas desportivas às 
exigências da vida nacional, de modo a que o modelo 
desportivo a ser implementado contribua de maneira eficaz para 
o desenvolvimento e democratização dos desportos, direito e 
objetivo comum de todos nós. 
 
No período de 1985 a 1989, o CND na sua ação renovadora, 
mexeu em profundidade no esporte brasileiro, com 93 resoluções, o que veio a 
criar um clima de mudança na ambiência esportiva nacional, que viria favorecer a 
 
46 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.92. 
 31
constitucionalização do esporte na Carta Magna de 1988. 
Enfatiza ainda TUBINO47 que o esporte brasileiro sempre 
teve como aspiração uma lei que oferecesse benefícios fiscais às organizações 
que investissem no esporte. Foi nessa perspectiva que toda a comunidade 
esportiva brasileira apoiou o projeto apresentado por Mendes Thame, que após 
longa tramitação no Congresso. A Lei Mendes Thame foi promulgada em 1989 e 
recebeu o nº. 7.75248. 
Apesar de todo empenho dos congressistas da época e do 
importante papel que o esporte ocupava na conjuntura da Nação, o governo Collor 
conseguiu destruir todo esse quadro favorável ao esporte, apesar de usá-lo para 
seu marketing pessoal e de ter criado uma Secretaria de Desportos ligada à 
Presidência. 
Neste sentido, destaca TUBINO49: 
É interessante acrescentar que os dois secretários, 
paradoxalmente, deixaram importantes contribuições ao esporte 
brasileiro. O primeiro, Artur Coimbra (Zico), deixou um belo 
projeto de reforma do esporte brasileiro, que viria a se 
consumar no governo seguinte. O segundo, Bernard Rajzman, 
inovou ao conseguir as parcerias das empresas estatais com as 
entidades esportivas. Ambos deixaram as suas marcas 
positivas no esporte brasileiro. 
 
A Lei Zico, nº. 8.672, foi sancionada no dia 06 de julho de 
1993, onde verificou-se no corpo da nova lei toda uma preocupação com o homem, 
utilizando-se este como meio, ao contrário da legislação anterior, que preocupava-
 
47 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.94. 
48 A Lei nº. 7.752/1989 criou uma grande ilusão no meio esportivo do país, pois com a chegada do 
governo Collor o sonho de uma lei de incentivos fiscais rapidamente acabou. Esta lei, conseguida 
com toda a mobilização da comunidade esportiva nacional, foi imediatamente suspensa, no 
primeiro conjunto de atos do Governo Collor, pela Lei nº. 8.034/1990. 
49 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.109. 
 32
se somente com a imposição de uma burocracia no sentido de disciplinar as 
atividades inerentes aos fatos esportivos. 
Referencia AIDAR 50 que o movimento que nasceu e que 
levou à direção de uma nova lei, a Lei Zico, nasceu do fruto de um trabalho de 
muitas pessoas, que realmente trabalharam na elaboração dessa lei. Em seu pré-
projeto foram cinco pessoas que, desinteressadamente esperando uma eleição 
para presidência da República sem saber quem viria a ser o presidente da 
República, ficaram durante um ano se reunindo. Foi então elaborado um projeto 
de lei que adaptava a legislação brasileira ao sistema moderno de 
desenvolvimento do esporte em todo o mundo; já se buscava o chamado clube 
naquela época, e também facilitar as parcerias de investimento no esporte, onde 
se procurou dar esta autonomia. 
Com a Constituição Federal em 1988, e a abertura para o 
esporte em termos de organização e funcionamento, o inciso I do art. 217, que 
observados aqueles, o Estado proverá a autonomia de organização e 
funcionamento, onde encontra-se o nascimento em 1993 da chamada Lei Zico, 
que foi a lei que vigeu até a entrada em vigor da Lei Pelé. 
Com a Lei Zico, Lei nº. 8.672 de 1993, dava-se cumprimento 
ao que dispunha o art. 217, em seus incisos, da Constituição Federal. O primeiro 
inciso do art. 217, da Constituição Federal fala em autonomia das entidades 
dirigentes e associações quanto à sua organização; a expressão ‘sua’ é no sentido 
de ser dela, própria, interna ‘sua’; autonomia quanto a sua organização e 
funcionamento51. 
AIDAR 52 relata que a Lei Zico trouxe quatro importantes 
novidades, que foram: as entidades de prática esportiva e as entidades federais 
de administração do esporte devem manter a gestão de suas atividades sob a 
responsabilidade de sociedades com fins lucrativos, reconhecendo então o 
 
50 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.25. 
51 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.25. 
52 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.20. 
 33
esporte como negócio; estabeleceu a faculdade de criação de ligas regionais e 
nacionais; previu o direito de arena, em que havia a autorização das entidades 
esportivas para a transmissão de seus eventos esportivos, e regulamentou a 
Justiça Desportiva, com seus procedimentos processuais e garantias. 
 
1.3 DESTAQUE DA LEI 9.615/98 (LEI PELÉ) E SUAS ALTE RAÇÕES 
 
No período compreendido entre a Lei Zico (Lei nº. 
8.672/1993) e a Lei Pelé (Lei nº. 9.615/1998) ocorreram grandes discussões na 
comunidade esportiva de rendimento, a partir da tentativa de estabelecer passe 
livre aos atletas profissionais do futebol. 
É evidente que a Lei nº. 9.615/1998 (Lei Pelé) não poderia ser 
uma mudança radical da Lei nº. 8.672/1993, pois ambas fazem 
parte do mesmo processo de transformação iniciado em 1985 e 
que ganhou força com a Constituição Federal de 1988. Dessemodo, uma grande parte da Lei Zico foi repetida na Lei Pelé, 
principalmente a parte inicial, que tratou dos conceitos, 
princípios e definições de referência. Por outro lado, a nova lei 
do esporte brasileiro diferenciou-se com algumas evoluções 
extremamente relevantes em relação à lei anterior53. 
Ressalta KRIEGER 54 que a partir de outubro de 1988, 
iniciou-se novo ciclo legislativo voltado ao desporto, sendo que a própria 
Constituição Federal trata da questão, em diversos dispositivos, a seguir 
apresentados em ordem cronológica: 
- Art. 5º, XVII , que assegura plena liberdade de associação 
para fins lícitos; 
- Art. 5º, XVIII , que dispensa a autorização para a criação de 
 
53 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.25. 
54 KRIEGER, Marcílio César Ramos. Lei Pelé e legislação desportiva brasileira anotadas. Rio de 
Janeiro: Forense, 1999. p.10. 
 34
associações, vedando a interferência estatal em seu 
funcionamento; 
- Art. 5º, XXVIII , a, que assegura proteção à reprodução da 
imagem e voz humanas nas atividades desportivas; 
- Art. 24, IX , que prevê a competência legislativa concorrente 
da União, dos Estados e Municípios sobre questões 
desportivas; 
- Art. 217 , em seus quatro incisos, que determinam ser dever 
do Estado o fomento das práticas desportivas, observados: 
I – a autonomia das entidades desportivas dirigentes e 
associações, quanto à sua organização e funcionamento; 
II – a destinação de recursos para a promoção prioritária do 
desporto educacional e, em casos específicos, para desporto 
de alto rendimento; 
III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o 
não-profissional; 
IV – a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de 
criação nacional; 
- Art. 217, §1 º, estabelecendo que o Poder Judiciário só 
admitirá ações relativas à disciplina e às competições 
desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça 
desportiva, regulada em lei; 
- Art. 217, §2 º, dispondo que a justiça desportiva terá o prazo 
máximo de 60 (sessenta) dias, contados da instauração do 
processo, para proferir decisão final; 
- Art. 217, §3º , determinando que o poder público incentivará o 
lazer, como forma de promoção social. 
Legislação ordinária decorrente das normas constitucionais: 
- Lei nº. 8.028/90 , que trata da reforma administrativa do Poder 
Executivo. Em seu art. 33 determina que lei geral sobre 
 35
desportos disporá sobre Justiça Desportiva; 
- Lei nº. 8.672 , de 06/07/1993, que instituiu normas gerais 
sobre desportos. Chamada de Lei Zico, democratizou as 
relações entre dirigentes e atletas, criando condições para a 
profissionalização das diferentes modalidades de prática 
desportiva. Foi regulamentada pelo Decreto nº. 981/93; 
- Lei nº. 9.615/98 , que institui normas gerais sobre desportos e 
dá outras providências. Conhecida como a Lei Pelé, revoga a 
Lei nº. 8.672/93. Foi regulamentada pelo Decreto nº. 2.574, de 
29 de abril de 1998. 
 
Para MELO FILHO55, o art. 1º da Lei nº. 9.615/98 estabelece 
a vinculação do desporto com os “fundamentos constitucionais do Estado 
Democrático de Direito”, o que exsurge não só dos princípios insculpidos no art. 
217 da vigente Carta Magna, mas também porque em função de suas evidentes e 
profundas repercussões para o desenvolvimento integral do homem, para o pleno 
exercício da cidadania e para o fortalecimento da sociedade brasileira e de suas 
relações internas e externas, o desporto coloca-se com uma das vigas mestras do 
Estado Democrático de Direito 56. 
Fundamenta TUBINO57 que pouca coisa concreta aconteceu 
antes da Lei Pelé, apenas uma grande discussão depois da divulgação da 
Resolução nº. 01 de 17 de outubro de 1996 do Conselho Deliberativo do Instituto 
Nacional de Desenvolvimento do Desporto (Indesp), que fixou o valor, os critérios 
e as condições para o pagamento da importância denominada passe, cabendo ao 
referido Conselho revê-la sempre que necessário. Esta Resolução foi contestada 
pela comunidade do futebol em termos jurídicos, e teve fim com a chegada da 
 
55 MELO FILHO, Álvaro. Lei Pelé: comentários à Lei nº. 9.615/98. p.19. 
56 O desporto deve ser vislumbrado não apenas por sua vertente competitiva, mas também por seu 
caráter participativo e educacional que não tem a ambição do placar, não pretende quebrar record 
e nem se nutre com a volúpia do score (MELO FILHO, Álvaro. Lei Pelé: comentários à Lei nº. 
9.615/98. p.20). 
57 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.147. 
 36
própria Lei Pelé. 
Já para AIDAR58, a Lei Pelé, um pouco antes de ser editada, 
antes de passar pela Comissão Especial destinada a proferir parecer no projeto da 
Lei Pelé; o anteprojeto sofreu modificações no campo do Gabinete Civil da 
presidência da República, que emendou o anteprojeto. O texto que dele saiu foi à 
Câmara Federal, e na Câmara Federal essa Comissão Especial promoveu 
inúmeras modificações até que veio a ser editada a chamada Lei Pelé, a Lei nº. 
9.615 de 24 de março de 1998, publicada no Diário Oficial de 25 de março de 
1998. 
O objetivo fundamental da nova Lei nº. 9.615/98 é regular o 
marco jurídico em que deve desenvolver-se a prática desportiva no âmbito do 
Estado, rechaçando, por um lado, a tentação fácil de assumir um protagonismo 
público excessivo e, por outro lado, a propensão de abdicar de toda 
responsabilidade na ordenação e racionalização do sistema desportivo59. 
Alguns pontos de importância, quanto à prática desportiva 
profissional, podem ser destacados na Lei Pelé: 
• uma parte da Lei nº. 9.615 (1995) e referenciada ao 
futebol profissional, embora compreenda todas as práticas esportivas 
profissionais; 
• como na Lei nº. 8.672 (1993), Lei Zico, na Lei nº. 9.615 
(1998), Lei Pelé, o atleta profissional é caracterizado, assim como as entidades 
que podem se responsabilizar pelo esporte profissional também são definidas; 
• sempre com referência ao passe do profissional de 
futebol, a nova lei garante o direito ao primeiro contrato, numa delimitação de dois 
anos; 
 
58 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.25. 
59 MELO FILHO, Álvaro. Lei Pelé: comentários à Lei nº. 9.615/98. p.24. 
 37
• outra novidade é a ausência de limite superior no 
contrato do atleta profissional. O limite inferior permaneceu nos três meses; 
• na nova legislação são oferecidas garantias 
profissionais aos atletas quanto ao não cumprimento de obrigações trabalhistas; 
• também os atletas semi-profissionais são 
caracterizados, assim como suas relações com as entidades de prática 
profissional formadoras; 
• a grande inovação da nova legislação é a liberdade do 
atleta profissional, ao terminar o contrato, de assumir outro contrato com qualquer 
entidade de prática esportiva (§ 2º do art. 28). Com isto, acaba o passe. Entretanto, 
essa liberdade somente entrará em vigor após três anos da data da Lei (art. 93); 
• também foram estabelecidas as diretrizes para os 
pagamentos de atletas, quando convocados por entidades de administração do 
Sistema Nacional do Desporto. Como a Lei foi referenciada ao futebol, certamente 
trará inúmeros conflitos nas outras modalidades esportivas; 
• a Lei Pelé manteve as regras de direitos de imagem nos 
eventos esportivos para as entidades de prática esportiva; 
• pelos artigos 43 e 44, foram colocadas as restrições 
quanto à prática esportiva profissional; 
• a Lei Pelé nº. 9.615 também tratou das questões de 
segurança que as entidades de prática esportiva devem oferecer a seus atletas 
profissionais, e ainda quanto à legalização trabalhista de atletas estrangeiros que 
venham a exercer atividade esportiva profissional no país. 
 
 38
Destaca AIDAR60 que a maior e mais importante alteração 
está no art. 27 da Lei Pelé. Diz o art. 27 da Lei Pelé: 
Art. 27. As atividadesrelacionadas a competições de atletas 
profissionais são privativas de: 
I – sociedades civis de fins econômicos; 
II – sociedades comerciais admitidas na legislação em vigor; e 
III – entidades de prática desportiva que constituírem sociedade 
comercial para administração das atividades de que trata esse 
artigo. 
 
Da análise dessas três características destacadas no art. 27, 
a primeira questão que se coloca é se remeter os clubes que têm prática 
profissional a se organizarem sob a forma de sociedade com fim lucrativo é legal, 
é legítimo, é constitucional, isso porque quem legislou foi a União e ela tem 
competência para isso. 
Quanto a segunda questão, não interfere na autonomia de 
organização e funcionamento interno, na sua autonomia e organização, de tal 
sorte que não se está obrigando todos os clubes a se transformarem em 
sociedade comerciais. Ou seja, o que se está determinando, é uma norma 
cogente imperativa, é que os clubes que praticam modalidade profissional tenham 
aquela prática profissional organizada sob forma de uma sociedade com fins 
lucrativos61. 
Assim, em relação ao terceiro item do art. 27, os clubes ou 
se tornam sociedades civis de fins econômicos, não precisa o clube todo, poderá 
ser aquela modalidade que precisa se estruturar e se organizar como uma 
sociedade civil de fim econômico, como diz a lei, ou sob uma sociedade comercial 
 
60 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.31. 
61 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.33. 
 39
admitida na legislação em vigor. As formas de sociedade comercial admitida na 
legislação em vigor são: uma sociedade por ações ou uma sociedade por cotas de 
responsabilidade limitada e a terceira, através de entidades de prática desportiva 
que constituírem sociedade comercial para a administração das atividades de que 
trata esse artigo. 
A segunda modificação muito importante é a figura da 
extinção do denominado passe. O passe é o vínculo que prende o trabalhador 
profissional a um determinado empregador depois de extinto o contrato de 
trabalho. Celebra-se um contrato de trabalho, prazo determinado, terminou o 
contrato de trabalho o trabalhador não pode ir para onde quiser, ele continua 
preso naquele clube sem trabalhar e sem receber, esse é o passe, o chamado 
instituto do atestado liberatório; e a carta de alforria que o trabalhador do esporte 
profissional não tem. 
Através da Lei Pelé foi realizada a extinção do passe. O art. 
28, §2º, da Lei Pelé diz o seguinte: “A atividade de atleta profissional de todas as 
modalidades esportivas é caracterizada por remuneração pactuada em contrato 
formal de trabalho, firmado com entidade de prática desportiva, pessoa jurídica de 
direito privado que deverá conter obrigatoriamente cláusula penal para as 
hipóteses de descumprimento, rompimento com rescisão unilateral. §1º. Aplicam-
se ao atleta profissional as normas gerais da legislação trabalhista e da 
seguridade social ressalvada as peculiaridades expressas nesta lei ou integrantes 
do respectivo contrato de trabalho. §2º. O vínculo desportivo do atleta com a 
entidade contratante tem natureza acessória ao respectivo vínculo empregatício, 
dissolvendo-se para todos os efeitos legais com término da vigência do contrato 
de trabalho”. 
Destaca AIDAR 62 que no §2º, do art. 28, encontra-se a 
chamada extinção do passe. Porém este dispositivo, §2º do art. 28, somente 
entrou em vigor em março de 2001. Houve uma carência de três anos entre a 
 
62 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.37. 
 40
publicação da Lei Pelé e a vigência desse dispositivo, isso tem uma explicação: os 
clubes precisaram se estruturar e os próprios atletas precisam se estruturar para 
saber que eles agora dependem apenas deles ao término de um contrato de 
trabalho. 
A partir do ano 2000, houve uma profunda crise institucional 
no esporte brasileiro, só tomando sentido contrário a partir da chegada do ministro 
Calos Melles ao Ministério do Esporte e Turismo através da implementação de 
estratégias bem sucedidas, que podem ser resumidas em quatro fatos63: 
1) Medida Provisória que alterou a Lei nº. 9.615/1998: a Lei 
Pelé, que já havia sido alterada pela Lei Maguito Vilela, recebeu novas mudanças 
por medida provisória governamental. Esta medida provisória foi o produto de uma 
arrumação nas questões pendentes do futebol brasileiro, que já estavam gerando 
grandes incômodos no país e nos clubes. No seu estilo, o ministro Carlos Melles, 
depois de ouvir os segmentos envolvidos diretamente no futebol, tratou de uma 
conciliação por aproximação que, sem atender aos interesses, ofereceu as 
possibilidades de uma convivência no futebol brasileiro. Aproveitou a medida 
provisória e criou um Conselho Nacional do Esporte para dirimir os conflitos 
esportivos do país, que surgem a cada dia. Essa Medida Provisória recebeu o nº. 
2.141-3 e tem sido consolidada pelo Governo Federal desde a sua publicação 
inicial. Com a extinção do passe no futebol, pelo parágrafo 2º do art. 28 da Lei nº. 
9.115/1998, com as alterações da Lei nº. 9.981/2000 e a Medida Provisória nº. 
2.141/2001, terminou o vínculo esportivo do atleta, deixando-o livre para transferir-
se, sem necessidade de pagamento pela sua liberação. Na Medida Provisória nº. 
2.141/2001 ficou clara a intenção da defesa dos clubes formadores, pelo parágrafo 
3º do art. 29. É lógico que somente o tempo vai mostrar os problemas advindos 
desta nova situação. De qualquer modo, o atual momento histórico resgatou a 
dignidade da força de trabalho do atleta profissional de futebol. 
2) Criação da Câmara Setorial do Esporte e da Comissão do 
 
63 TUBINO, Manoel José Gomes. 500 anos de legislação esportiva brasileira. p.267-273. 
 41
Esporte: essa Câmara tem por finalidade constituir-se num fórum de debates com 
o objetivo de discutir a formulação da Política Nacional do Esporte. Ela foi dividida 
em quatro grupos setoriais, denominados temáticos: (a) Esporte de Base; (b) 
Desenvolvimento do Esporte; (c) Esporte de Rendimento; (d) Esporte para 
Pessoas Portadoras de Deficiências. 
3) Elaboração de uma Política Nacional para o Esporte 
Brasileiro: o Brasil teve muitos planos para o esporte, mas nunca teve uma política 
delineada em termos estratégicos, que ultrapassa a convivência entre Estado e 
sociedade, congregando as expectativas sociais em volta do esporte, 
estabelecendo os fundamentos axiológicos necessários para a formulação do 
sentido a ser buscado pelas ações públicas. O documento é dividido em partes, 
que são: Documentos de Referência; Contexto Esportivo Brasileiro; Premissas; 
Ações Operacionais. 
4) Aprovação da Lei Piva: esta lei recebeu o apoio da 
comunidade esportiva em praticamente todos os seus segmentos, tendo o 
presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nujzman, à frente. Este projeto 
foi aprovado no Poder Legislativo e pelo presidente da República, Fernando 
Henrique Cardoso. Esta Lei abre perspectivas para o esporte olímpico e 
paraolímpico brasileiro. 
 
A Lei nº. 9.981/2000 traz alterações na Lei Pelé quanto as 
seguintes questões64: 
a) A faculdade de a entidade de prática desportiva tornar-se 
sociedade de fins lucrativos, tema que já causara enorme controvérsia no texto 
anterior. 
b) As limitações sobre a atuação de investidores em mais de 
uma entidade desportiva. 
 
64 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.13. 
 42
c) A questão dos atletas amadores, ou não profissionais. 
d) A questão do passe dos jogadores de futebol e sua 
substituição pela instituição de uma multa rescisória. 
 
A última alteração estabelecida a tratar o ordenamento 
jurídico-desportivo brasileiro é a Lei nº. 10.671/2003, com 45 dispositivos, 
conhecida como Estatutode Defesa do Torcedor. Estabelece, por exemplo, o 
sorteio de árbitros, com 48 horas de antecedência da partida, obriga que as 
súmulas tenham três vias, exige ‘sanitários limpos’, determina o número de 
ambulâncias, médicos e enfermeiros proporcional ao público presente65. 
 
1.4 DISTINÇÃO ENTRE ATLETA PROFISSIONAL, NÃO PROFIS SIONAL E 
AMADOR 
 
A Lei Pelé acaba com o esporte amador no Brasil, isto é, o 
amador é um termo que terá de ser usado exclusivamente por quem não recebe 
dinheiro para praticar esporte, incluindo-se qualquer modalidade de esporte. 
Para AIDAR 66 , por atleta pode-se entender como toda 
pessoa que pratica esportes. Assim, atleta profissional é todo aquele que pratica 
esporte como profissão, entendida esta como o exercício de um trabalho como 
meio de subsistência do seu exercente. 
Na visão de MELO FILHO67, o não profissional é aquele que 
muitas vezes gasta dinheiro para praticar o desporto. 
 
65 MELO FILHO, Álvaro. Direito desportivo: novos rumos. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p.67. 
66 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito desportivo. p.59. 
67 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas 
alterações. Brasília: Brasília Jurídica, 2001. p.42. 
 43
Sobre o desporto praticado de modo profissional, 
caracterizou-se como aquele em que o desportista faz jus à ‘remuneração 
pactuada em contrato formal de trabalho’. Ou seja, a condição de profissional 
decorre da vinculação jurídica do atleta com um ente desportivo para a prestação 
de serviços consistentes na prática desportiva68. 
O adjetivo profissional refere-se a algo pertinente a uma 
profissão, significa a pessoa que faz alguma coisa por profissão. No Brasil, 
excetuando-se o atleta de futebol (Lei nº. 6.354/76), nunca se reconheceu, 
legalmente, a profissão de desportista, embora se saiba que este ‘empenha no 
exercício desportivo as muitas e melhores energias de sua verba produtiva’69. 
Assim, ao lado dos profissionais, prevê a legislação 
desportiva atual os não profissionais, que são identificados pela liberdade de 
prática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendo permitido o recebimento 
de incentivos materiais e de patrocínio. 
O desporto não profissional é comumente encontrado entre 
as modalidades pouco difundidas ou entre atletas de nível técnico muito inferior. 
Ainda entre os não profissionais existem os chamados 
amadores, ou seja, os desportistas de qualquer idade que, com liberdade, 
entregam-se à prática de qualquer modalidade sem qualquer forma de 
remuneração ou incentivos materiais, ou seja, aqueles que não recebem nenhuma 
compensação econômica como conseqüência da prática esportiva e não têm 
nenhum outro interesse que não seja o do simples revigoramento físico, euforia da 
saúde ou passatempo higiênico70. Significa que amador é aquele que exerce uma 
atividade desportiva por prazer, e não por profissão. 
 
68 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas 
alterações. p.42. 
69 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas 
alterações. p.95. 
70 MELO FILHO, Álvaro. Novo regime jurídico do desporto: comentários à Lei 9.615 e suas 
alterações. p.44. 
 44
Capítulo 2 
 
CONTRATO DE TRABALHO NA CLT 
 
2.1 CONCEITOS DE CONTRATO DE TRABALHO. 
 
Pode-se afirmar que o contrato de trabalho está diretamente 
relacionado a uma questão de trabalho. 
No entendimento de SILVA71, a denominação contrato de 
trabalho, hoje universalmente aceita, já sofreu objeções. Houve, por exemplo, 
quem preferisse a expressão ‘contrato de salário’ e os que ainda dão preferência à 
denominação ‘contrato de emprego’. E ainda explica que: 
Relativamente à primeira denominação proposta à retribuição 
salarial do trabalho, não é característica diferenciadora desse 
tipo de contrato. Outros contratos tratam da ‘retribuição’ por 
serviços prestados, bastando citar, entre outros, a locação de 
serviços. Quanto à segunda, afirma-se que a expressão 
‘contrato de trabalho’ pode ser substituída com vantagem por 
‘contrato de emprego’ porque só o empregado e o empregador 
podem ser sujeitos desse contrato e também porque dessa 
forma seria afastada a possível confusão desse contrato com o 
de locação de serviços e outras espécies do mesmo gênero. 
Ainda na doutrina brasileira há quem defenda a denominação 
proposta porque, além da distinção entre gênero e espécie, a 
própria lei, como é o caso do art. 442 da Consolidação das Leis 
do Trabalho, fala em ‘relação de emprego’. 
 
 
71 SILVA, Carlos Alberto Barata. Compêndio de direito do trabalho. 4.ed. São Paulo: LTr, 1986. 
p.200. 
 45
Conceitua MARTINS72 que o contrato de trabalho: 
É o negócio jurídico entre uma pessoa física (empregado) e 
uma pessoa jurídica (empregador) sobre condições de trabalho. 
No conceito é indicado o gênero próximo, que é o negócio 
jurídico, como espécie de ato jurídico. A relação se forma entre 
empregado e empregador. O que se discute são condições de 
trabalho a serem aplicadas à relação entre empregado e 
empregador. 
 
De acordo com DELGADO7374, contrato é o acordo tácito ou 
expresso mediante o qual ajustam as partes pactuantes direitos e obrigações 
recíprocas. Para o autor, essa figura jurídica embora não tenha sido desconhecida 
em experiências históricas antigas e medievais, tornou-se, no período 
contemporâneo, um dos pilares mais significativos de caracterização da cultura 
sócio-jurídica do mundo ocidental. Relata ainda em relação ao contrato de 
trabalho que: 
Identificados seus elementos componentes e o laço que os 
mantêm integrados, define-se o contrato de trabalho como o 
negócio jurídico expresso ou tácito mediante o qual uma pessoa 
natural obriga-se perante pessoa natural, jurídica ou ente 
despersonificado a uma prestação pessoal, não-eventual, 
subrdinada e onerosa de serviços. 
 
72 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 17.ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.116. 
73 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. São 
Paulo: LTr, 1999. p.15. 
74 A relevância assumida pela noção e prática do contrato, nos últimos séculos, deriva da 
circunstância de as relações interindividuais e sociais contemporâneas – à diferença dos períodos 
históricos anteriores – vincularem seres juridicamente livres, isto é, seres desprendidos de relações 
institucionalizadas de posse, domínio ou qualquer vinculação extravolitiva a outrem (como era 
próprio da escravidão ou servidão). Ainda que se saiba que tal liberdade muitas vezes tem 
dimensão extremamente volátil ou enganosa (basta lembrar-se dos contratos de adesão), o fato e 
que os sujeitos comparecem à celebração dos atos jurídicos centrais da sociedade atual como 
seres teoricamente livres. Nesse quadro, apenas o contrato emergiu como instrumento jurídico 
hábil a incorporar esse padrão específico de relacionamento entre os indivíduos, na medida em 
que essencialmente apenas o contrato é que se distinguia como veículo jurídico de pleno 
potencialmento ao exercício privado da liberdade e da vontade (DELGADO, Maurício Godinho. 
Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. p.15). 
 46
Também pode ser definido o contrato empregatício como o 
acordo de vontades, tácito ou expresso, pelo qual uma pessoa 
física coloca seus serviços à disposição de outrem, a serem 
prestados com pessoalidade, não-eventualidade, onerosidade e 
subordinação ao tomador75. 
 
2.2 ELEMENTOS DO CONTRATO DE TRABALHO 
 
Os elementos legais do contrato de trabalho se encontram 
previstos no art. 3º da CLT, que enfatiza “toda pessoa física que prestar serviços 
de natureza não eventual a empregador, sob dependência deste e mediante 
salário”. 
Na visão de DELGADO 76 , os elementosjurídicos-formais 
(elementos essenciais) do contrato de trabalho são aqueles classicamente 
enunciados pelo Direito Civil: capacidade das partes; licitude do objeto; higidez da 
manifestação da vontade (ou consenso válido); forma prescrita ou não vedada por 
lei (art. 82 do CCB). Esses clássicos elementos comparecem ao Direito do 
Trabalho obviamente com as adequações próprias a esse ramo jurídico 
especializado: 
a) Capacidade: ‘é a aptidão para exercer, por si ou por 
outrem, atos da vida civil’. Capacidade trabalhista é a aptidão reconhecida pelo 
Direito do Trabalho para o exercício de atos da vida laborativa. O Direito do 
Trabalho não introduz inovações no que concerne à capacidade do empregador; 
preserva, aqui, portanto, o padrão jurídico já assentado no Direito Civil. Desde que 
se trate de pessoa natural, jurídica ou ente despersonificado a quem a ordem 
jurídica reconheça aptidão para adquirir e exercer, por si ou por outrem, direitos e 
obrigações na vida civil, tem-se como capaz esse ente para assumir direitos e 
obrigações trabalhistas. Já em relação à figura do empregado há claras 
 
75 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. p.16. 
76 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. p.25. 
 47
especificidades normativas na ordem justrabalhista. Em primeiro lugar, fixa o 
Direito do Trabalho que a capacidade plena para atos da vida trabalhista inicia-se 
aos 18 anos (e não 21, como CCB). A maioridade trabalhista começa, pois, aos 18 
anos (art. 402 da CLT). Ressalte-se que o preceito celetista que anteriormente 
lançava certa cortina de dúvida sobre esse termo inicial da maioridade (o art. 446 
dispunha que entre 18 e 21 anos presumia-se o trabalhador autorizado a trabalhar, 
por seu responsável legal) encontra-se, hoje, expressamente revogado (Lei nº. 
7.855/89). Mesmo antes de sua revogação expressa, o preceito já estava 
esterilizado, por incompatibilidade, em vista do parâmetro etário constitucional 
firmemente acolhido em 1988 (art. 7º, XXXIII, e 227, caput e §3º, da CF/88). 
b) Objeto: a ordem jurídica somente confere validade ao 
contrato que tenha objeto lícito (art. 145, II, do CCB). O Direito do Trabalho não 
destoa desse critério normativo geral. Enquadrando-se o labor prestado em um 
tipo legal criminal rejeita a ordem justrabalhista reconhecimento jurídico à relação 
socioeconômica formada, negando-lhe, desse modo, qualquer repercussão de 
caráter trabalhista. Não será válido, pois, contrato laborativo que tenha por objeto 
trabalho ilícito. Contudo, há uma distinção fundamental a ser observada no tocante 
a esse tema. Trata-se da diferença entre ilicitude e irregularidade do trabalho. 
Ilícito é o trabalho que compõe um tipo legal penal ou concorre diretamente para 
ele; irregular é o trabalho que se realiza em desrespeito a norma imperativa 
vedatória do labor em certas circunstâncias ou envolvente de certos tipos de 
empregados. Embora um trabalho irregular possa também, concomitantemente, 
assumir o caráter de conduta ilícita, isso não necessariamente se verifica. A 
doutrina e a jurisprudência tendem também a chamar o trabalho irregular de 
trabalho proibido, pela circunstância de ele importar em desrespeito a norma 
proibitiva expressa do Estado. É exemplo significativo de trabalho irregular (ou 
proibido) aquele executado por menores em período noturno ou em ambientação 
perigosa ou insalubre. Na mesma direção, o trabalho executado por estrangeiro 
sem autorização administrativa para prestação de serviços. 
c) Manifestação da Vontade: a ordem jurídica exige a 
 48
ocorrência de livre e regular manifestação de vontade, pelas partes contratuais, 
para que o pacto se considere válido. A higidez da manifestação da vontade (ou 
consenso livre de vícios) é elemento essencial aos contratos celebrados. Os 
contratos empregatícios também se caracterizam pela internalização desse 
elemento jurídico-formal. Contudo, a aferição de sua presença no cotidiano 
trabalhista é menos relevante do que percebido no cotidiano regulado pelo Direito 
Civil. 
d) Forma: forma, no direito, é a instrumentalização mediante 
a qual um ato jurídico transparece; é, pois, a instrumentalização de transparência 
de um ato jurídico. De maneira geral, o direito não exige forma específica para os 
atos jurídicos contratados na vida privada, no suposto de que as partes podem 
eleger mecanismos eficientes e práticos para enunciação de sua vontade 
conjugada. Mesmo no Direito Civil, portanto, o formalismo é exigência excepcional 
colocada pela ordem jurídica (arts. 82 e 129 do CCB). No Direito do Trabalho, 
essa regra também se manifesta: a princípio, não há qualquer instrumentalização 
específica obrigatória na celebração de um contrato empregatício. O contrato de 
trabalho é pacto não solene é, portanto, contrato do tipo informal, consensual, 
podendo ser licitamente ajustado até mesmo de modo apenas tácito (art. 442, 
caput, da CLT). Ressalte-se, por fim, que o elemento formal vincula-se 
diretamente ao tema da prova do contrato. Se a forma é a instrumentalização de 
transparência de um ato jurídico, obviamente que ela surge como uma das 
modalidades centrais de comprovação da existência desse ato e de seu conteúdo 
obrigacional. Desse modo, o instrumento escrito tende a ser um meio privilegiado 
de prova do contrato e suas cláusulas. Não obstante isso, na medida em que se 
sabe que o contrato empregatício é essencialmente consensual (isto é, não 
formal), é inquestionável que também poderá ser provado por quaisquer meios 
probatórios lícitos existentes, mesmo que distintos da instrumentalização escrita 
(arts. 442, caput, e 456, caput, da CLT; art. 332 do CPC). 
 
 49
Fundamenta MAGANO 77 que o contrato de trabalho é o 
“negócio jurídico pelo qual uma pessoa física se obriga, mediante remuneração, a 
prestar serviços não eventuais, a outra pessoa ou entidade, sob a direção de 
qualquer das últimas”. 
Segundo DELGADO78, o contrato de trabalho, que viabiliza a 
concretização da relação jurídica empregatícia tipificada pelos arts. 2º e 3º da CLT, 
assume modalidades distintas, segundo o aspecto enfocado em face do universo 
de pactos laborais existentes79. Diversas tipologias de contratos empregatícios 
podem ser construídas, elegendo-se para cada uma delas um tópico de 
comparação e diferenciação entre eles. Segundo o autor, possuem as seguintes 
características: 
a) Os contratos de trabalho podem, desse modo, ser 
expressos ou tácitos, conforme o tipo de expressão da manifestação de vontade 
característica do pato efetivado. 
b) Podem ser, ainda, individuais (contrato individual de 
trabalho) ou plúrimos, conforme o número de sujeitos ativos (empregados) 
componentes do respectivo pólo da relação jurídica. 
c) Podem ser por tempo indeterminado ou por tempo 
determinado, conforme a previsão de sua duração temporal. 
 
Em outra obra, DELGADO 80 afirma que, no Direito do 
Trabalho, a figura do contrato desponta com toda sua faceta enigmática. É que, de 
um lado, está-se diante talvez do mais eloqüente exemplo de contrato de adesão 
 
77 MAGANO, Octavio Bueno. ABC do direito do trabalho. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. 
p.18. 
78 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito de trabalho. 5.ed. São Paulo: LTr, 2006. p.514. 
79 Diz o art. 2º em seu caput que ‘considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, 
assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de 
serviço. 
80 DELGADO, Maurício Godinho. Contrato de Trabalho: caracterização, distinções, efeitos. p.16. 
 50
fornecido pelo mundo contemporâneo, onde o exercício da liberdade e vontade 
por uma das partes contratuais – o empregado – encontra-se em pólo extremado 
de contingenciamento. De outro lado,

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