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Citologia e histologia vegetal Apresentação O crescimento e o desenvolvimento dos seres vivos dependem do bom funcionamento celular e da sobrevivência dessas células – que, por sua vez, dependem das interações de uma variedade de elementos químicos. A diversidade das espécies vegetais é caracterizada por inúmeros compostos presentes em suas estruturas. Além de serem utilizados no metabolismo da planta, eles servem como alimento humano e animal, possuindo histórica importância medicinal. As substâncias de ação terapêutica, denominadas metabólitos secundários, são produzidas em sítios específicos, chamados estruturas secretoras. Entre elas, destacam-se os vacúolos, os idioblastos e os tricomas, que são imprescindíveis para entender as plantas medicinais. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender sobre as estruturas celulares vegetais que, ao se organizarem, formam elementos complexos e ativos, possibilitando identificar e classificar as espécies, bem como determinar sua qualidade para uso alimentício e terapêutico. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar as estruturas citológicas e histológicas de plantas medicinais.• Analisar a histologia e a histoquímica de plantas medicinais.• Reconhecer os componentes celulares presentes em diferentes espécies de plantas medicinais. • Desafio Estudos têm demonstrado o valor do açafrão verdadeiro (Saffron crocus) e de seus componentes, isoladamente ou em combinação com outros produtos farmacêuticos, para melhorar as habilidades de aprendizado e de memória, também para controlar convulsões. A planta, originária do Sul da Ásia, é utilizada desde a antiguidade como especiaria. Levando isso em conta, considere o seguinte cenário: Diante da situação exposta, no papel de analista do Departamento de Botânica da universidade, explique quais recomendações você daria ao pesquisador. Infográfico As células, em sua maioria invisíveis a olho nu, funcionam como fábricas minúsculas, obtendo e armazenando substâncias do meio ambiente, processando moléculas, transportando compostos, obtendo energia, além de outras funções. As atividades da célula não ocorrem aleatoriamente. Elas estão associadas a estruturas específicas que interagem de maneira altamente organizada. No Infográfico, conheça a função celular e sua organização em estruturas complexas, que originam metabólitos ativos característicos de plantas medicinais. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/7c5deaba-26ea-40ca-bb40-9ad82f53e8c2/131f9766-9e61-4f95-a681-e3098c6c78bf.png Conteúdo do livro Quando a fitoterapia é abordada, muitos pontos devem ser levados em consideração para atingir qualidade, eficácia e segurança. A unidade fundamental da fitoterapia é a planta medicinal. O conhecimento sobre ela é o ponto de partida para a utilização dessa prática na terapêutica. Para conhecer uma planta medicinal e sua composição química, é necessário entender sua anatomia e morfologia. Esses conhecimentos subsidiam a escolha da espécie para a ação farmacológica e determinam a questão do controle de qualidade da matéria vegetal. No capítulo Citologia e histologia vegetal, da obra Farmacognosia aplicada, você verá os elementos microscópicos das espécies vegetais e entenderá sua relação com a produção e o armazenamento dos compostos metabólicos nas plantas medicinais. Boa leitura. FARMACOGNOSIA APLICADA Angela Sperry Citologia e histologia vegetal Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as estruturas citológicas e histológicas de plantas medicinais. � Analisar a histologia e histoquímica de plantas medicinais. � Reconhecer os componentes celulares presentes em diferentes es- pécies de plantas medicinais. Introdução Neste capítulo você vai estudar a organização das estruturas celulares e dos tecidos nas espécies vegetais e sua relação com a produção de elementos químicos que as caracterizam como medicinais. As caracterís- ticas que levam ao conhecimento e à qualidade das plantas medicinais podem ser percebidas pelos sentidos humanos (cor, odor, sabor, textura) e são determinadas pela taxonomia (identificação, classificação pela nomenclatura botânica) e pela descrição macroscópica (morfologia) e microscópica (anatomia) dos vegetais. A caracterização microscópica contribui para dar autenticidade às drogas vegetais e facilitar seu controle de qualidade. Para tal é preciso conhecer os componentes celulares e a formação dos tecidos que com- põem espécies medicinais, bem como sua produção de metabólitos. 1 A célula vegetal A célula vegetal é tipicamente formada por uma parede mais ou menos rí- gida, denominada parede celular, e pelo protoplasma, que é constituído por citoplasma e do núcleo. A parede celular, entre outras características, distingue células vegetais das células animais. É o componente presente externamente à membrana plasmática que protege a célula contra danos mecânicos e ação de alguns patógenos, além de manter seu formato, determinando a estrutura celular. Sua constituição é variável nos diversos organismos, mas, na célula vegetal, é formada, principalmente, por celulose, proteínas e outros polissacarídeos. O núcleo, que está envolto pelo citoplasma, é onde se encontra a maior parte da informação genética da célula. O núcleo é responsável pela transmissão dos caracteres hereditários. O citoplasma é a região celular onde acontece diferentes reações bioquí- micas necessárias à vida da célula, a troca de substâncias dentro da própria célula, bem como entre as células adjacentes, e o acúmulo de substâncias do metabolismo primário e secundário da planta. Como pode ser visualizado na Figura 1, os componentes da célula vegetal e sua divisão são os seguintes (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2014): � parede celular; ■ lamela média; ■ membra secundária; ■ membrana primária; � protoplasma; ■ núcleo; – envoltório nuclear; – cromatina; – nucléolos; – nucleoplasma; ■ citoplasma; – citoesqueleto; – citosol; – complexo de Golgi; – corpos oleosos; – membrana plasmática; – mitocôndria; – peroxissomos; – plastos, plastídios ou cromatóforos; – retículo endoplasmático; – ribossomos; – vacúolos; – vesículas. Citologia e histologia vegetal2 Figura 1. Ilustração de uma célula vegetal. Fonte: Cooper e Hausman (2007, p. 11). Componentes citoplasmáticos Vejamos alguns componentes citoplasmáticos onde se encontram importantes elementos químicos que caracterizam as plantas medicinais. Vacúolos Os vacúolos são bolsas citoplasmáticas características da célula vegetal que contêm substâncias minerais e orgânicas em solução, constituindo o suco va- cuolar ou celular. São envoltos por uma membrana única, chamada tonoplasto. O componente principal do suco celular é a água, com os demais componentes variando com o tipo de planta, órgão e célula e seu desenvolvimento e estado fisiológico (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2014). Entre as substâncias minerais nos vacúolos ocorre, principalmente, a presença de cloreto de sódio, e entre as orgânicas existem os carboidratos, proteínas, lipídios e pigmentos. Além dessas substâncias, frequentemente encontramos no interior dos vacúolos compostos fenólicos, alcaloides e pig- mentos como as antocianinas e as flavonas (OLIVEIRA; AKISUE, 2007). 3Citologia e histologia vegetal Segundo Raven, Evert e Eichhorn (2014), muitas vezes os metabólitos não são sintetizados nos vacúolos, e sim incorporadas de vários outros locais do citoplasma. As plantas imaturas têm vários pequenos vacúolos, que aumen- tam de tamanho até a fusão em uma grande vesícula à medida que as células crescem. Nas células maduras ele ocupa cerca de 90% do volume celular. Sendo assim, os metabólitos secundários são armazenados, principalmente, nos vacúolos.Plastos Junto com os vacúolos e a parede celular, os plastos são componentes caracte- rísticos das células vegetais e estão associados com os processos de fotossíntese e armazenamento. São classificados de acordo com a presença de substâncias coloridas ou não. Os principais tipos de plastos são os seguintes: � Cloroplastos: é onde acontece a fotossíntese. Presentes em todos ve- getais verdes, são compostos, basicamente, por clorofila e, em menor proporção, por pigmentos carotenoides. São responsáveis por outras importantes ações, como a síntese de aminoácidos, lipídios e metabólitos secundários, além de servirem como local de armazenamento temporário do amido quando a planta está realizando fotossíntese. � Cromoplastos: também são plastos pigmentados; não têm clorofila, mas sintetizam e acumulam pigmentos carotenoides. São responsáveis pelas colorações amarela, laranja ou vermelha que ocorre em muitas flores, folhas velhas, alguns frutos e algumas raízes. � Leucoplastos: totalmente desprovidos de pigmentos. É no interior dessas organelas que são originados e armazenados os grãos de amido ou fécula, além de proteínas e lipídios. Corpos lipídicos São distribuídos amplamente em todo o corpo do vegetal, sendo mais abun- dantes nas frutas e sementes. Junto com os plastos, são o principal local onde ocorre a síntese de lipídios (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2014). Citologia e histologia vegetal4 Componentes químicos das plantas ou substâncias ergásticas As substâncias ergásticas são as substâncias resultantes de atividades químicas do protoplasma e costumam ser divididas em orgânicas e inorgânicas. Além de apresentarem inúmeras atividades biológicas servem como auxiliares importantes na identificação botânica e farmacológica de drogas vegetais. Componentes inorgânicos A formação inorgânica mais comum é o oxalato de cálcio. Provém da combi- nação de ácido oxálico, resultante do metabolismo da planta com sais de cálcio extraídos do solo pelo vegetal. As formas dos cristais de oxalato de cálcio, sua localização e frequência em que aparecem em certos órgãos vegetais são elementos essenciais no reconhecimento da identidade da droga vegetal. Componentes orgânicos Os organismos vivos são compostos por apenas seis elementos — carbono, hi- drogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre —, que, por meio de inúmeras ligações, formam as moléculas orgânicas. Elas são divididas em carboidratos, lipídios, proteínas e ácido nucleico. Carboidratos Os carboidratos são as moléculas orgânicas mais abundantes na natureza, e são responsáveis pelo armazenamento de energia na maioria dos organismos vivos. São formados por moléculas de açúcar que, de acordo com a quantidade, são classificados em monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos. Amidos e féculas, também denominados amilos, são carboidratos oriun- dos da condensação da glicose formada nas plantas durante a fotossíntese, sendo uma mistura de dois polissacarídeos: a amilose e a amilopectina. Essas substâncias são muito frequentes no reino vegetal, porém em poucas espécies consegue-se obter em larga escala. São sempre pós finos de colora- ção branquicenta, constituídos por grânulos de diferentes formas, tamanhos e estratificação. Essas características morfológicas podem ser analisadas microscopicamente, por exemplo, para identificar fraudes em alimentos. 5Citologia e histologia vegetal A palavra amilo serve para designar as substâncias amido e fécula sem fazer alusão a sua origem. São consideradas amidos as substâncias provenientes de partes aéreas (por exemplo, amido de milho) e féculas as que se originam em órgãos subterrâneos (por exemplo, fécula de mandioca). Proteínas As proteínas são polímeros nitrogenados formados por aminoácidos, estrutu- rados em uma sequência linear. Apresentam moléculas grandes e complexas, geralmente contendo centenas de aminoácidos, o que possibilita uma enorme variabilidade de moléculas proteicas. Nas plantas, inúmeras sementes e raízes apresentam uma grande concentração de proteínas. São formadas nos vacúolos pelo enriquecimento do suco vacuolar em protídeos. Com a diminuição do teor de água durante a maturação das sementes, as massas proteicas se solidificam, originando os grãos de aleurona (OLIVEIRA; AKISUE, 2007). Lipídios Os lipídios são fonte de energia e material estruturante para as células. São tipos de lipídios as gorduras, os óleos, os fosfolipídios, a cutina, a suberina, as ceras e os esteroides, geralmente insolúveis em água. Gorduras e óleos são conhecidos por triglicerídeos e armazenam energia. Os fosfolipídios são triglicerídeos modificados e são componentes importantes das membranas celulares. Cutina, suberina e cera formam barreiras para proteger o vegetal da perda de água. Os óleos podem ser fixos ou essenciais. Os óleos fixos são considerados produtos de reserva e são compostos por ésteres de ácidos graxos com gli- cerol. Alguns são utilizados na alimentação humana e outros são emprega- dos na fabricação de cosméticos e medicamentos. Os óleos essenciais estão relacionados com grande número de funções orgânicas, sendo constituídos por uma mistura complexa de substâncias terpenoides e fenilpropanoides. São armazenados especialmente em sementes e frutos. Citologia e histologia vegetal6 São exemplos importantes de óleos fixos utilizados na alimentação humana os óleos de oliva, de girassol, de soja, de amendoim e de algodão, entre outros. Os óleos de amêndoas e de rícino são exemplos de óleos fixos destinados à produção de cosméticos e medicamentos, respectivamente. Metabólitos secundários Quanto a sua distribuição, os metabólitos secundários (MS) são restritos a algumas regiões da planta bem como a algumas espécies. Existem três classes principais de metabólitos secundários encontrados em plantas: os alcaloides, os compostos fenólicos e os terpenoides. Esses compostos são princípios ativos que apresentam atividades biológicas de interesse terapêutico, alimentício, agroquímico, cosmético e como compostos aromáticos (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2014). 2 Os tecidos e a identificação de compostos vegetais Os tecidos vegetais são um conjunto de células de origem comum, adaptadas para desempenho de funções fisiológicas como sustentação e transporte de substâncias através do corpo da planta. Elas formam os tecidos vegetais, que são agrupados em sistemas. Os principais sistemas, segundo Raven, Evert e Eichhorn (2014), são: � sistema embrionário ou de formação (tecido meristemático); � sistema tegumentário ou de proteção (epiderme e seus anexos); � sistema de sustentação (colênquima e esclerênquima); � sistema de absorção (estudo das raízes); � sistema de condução ou vascular (xilema e floema); � sistema de arejamento (estômatos e lenticelas); � sistema se assimilação (parênquima clorofiliano); � sistema de reserva (parênquima amilífero); � sistema de excreção e secreção (vacúolos e hidatódios). 7Citologia e histologia vegetal A embriogênese é o começo do desenvolvimento do corpo vegetal, que é sequencialmente desenvolvido pela atividade dos meristemas. Esses tecidos ou populações de células se dividem constantemente e após a germinação da semente, dão origem aos tecidos que constituem as raízes, caules, folhas e flores da planta adulta (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2014). O tecido de revestimento primário das plantas é a epiderme, camada mais externa de células e que reveste o corpo primário da planta. Constitui o sistema de tecido dérmico de folhas, partes florais, frutos e sementes e de caules e raízes até o crescimento secundário. Nas partes aéreas da planta, a epiderme é revestida pela cutícula, que tem espessura variável, geralmente relacionada às condições do ambiente. Na epiderme são encontrados vários tipos celulares não especializados ou comuns e células especializadas, como tricomas, idioblastos, células estomáticas, bu- liformes, suberificadas e silicificadas (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2014).Aqui faremos um recorte das estruturas secretoras, de transporte e de reserva de nutrientes, dada a importância que elas têm nas espécies medicinais. Estruturas secretoras Várias substâncias são produzidas pelas células vegetais, separadas do pro- toplasto e depositadas em regiões ou estruturas específicas da célula, um fenômeno normalmente conhecido como secreção. A estruturas secretoras se dividem em internas (células secretoras, glândulas endógenas, canais secretores) ou externas (tricomas e nectários). Nesses locais são produzidas e armazenadas substâncias, algumas delas indispensáveis ao metabolismo das plantas, como os hormônios e as enzimas e outras que fazem parte do metabolismo secundário (OLIVEIRA; AKISUE, 2007). Células secretoras As células secretoras são parenquimáticas e têm capacidade de produzir e armazenar substâncias como alcaloides, compostos fenólicos, óleos essen- ciais, resinas, taninos e mucilagens. Frequentemente aparecem como células especializadas, que, quando ocorrem isoladas, são denominadas idioblastos e geralmente secretam e armazenam substâncias de natureza lipofílica, como óleos essenciais, resinas e mucilagens (OLIVEIRA; AKISUE, 2007). Citologia e histologia vegetal8 Glândulas endógenas Assumem forma de vesícula delimitada com um número variável de células secretoras produtoras de óleo essencial, gomas e resinas. Após elaboradas essas substâncias são depositadas no interior da vesícula. Nectários São estruturas glandulares existentes, especialmente, em flores. Secretam líquido rico em açúcares, aminoácidos, mucilagem, lipídios, ácidos orgânicos e enzimas. Tricomas glandulares São anexos epidérmicos, caracterizados pela presença de glândulas secretoras de óleos essenciais. De acordo com Fahn (1978), o mesmo tipo de estrutura secretora pode estar presente em todos os órgãos das plantas ou em apenas alguns deles, sendo possível ainda encontrar diferentes tipos dessas estruturas em diferentes partes da planta. Estruturas de transporte O floema compõe o tecido vascular, sendo responsável pelo transporte da seiva elaborada (rica em compostos orgânicos). É um tecido complexo, formado por elementos histológicos de natureza diversa. Pode conter em suas células substâncias ergásticas diversas, como taninos, amidos e cristais (OLIVEIRA; AKISUE, 2007). Estruturas de reserva O parênquima é um tecido vegetal constituído de células parenquimáticas e tem como função armazenar substâncias que serão utilizadas posteriormente pelas plantas. O amido, que corresponde à principal substância de reserva dos vegetais, encontra-se armazenado no parênquima amilífero. O amido tem um papel relevante na alimentação humana e animal, além de ser um importante excipiente para preparações farmacêuticas. Outras substâncias de reserva são os açúcares amidos, celulose, óleos e proteínas. 9Citologia e histologia vegetal As características morfológicas do amido são utilizadas como meio microscópico para a identificação de fraudes em alimentos. Histoquímica: uma visão geral Os métodos histoquímicos fazem parte da análise microscópica de plantas medicinas. São utilizados para identificar e quantificar compostos do meta- bolismo primário e secundário, distinguindo compostos de caráter lipofílico (lipídios, ácidos graxos, terpenoides, látex) e de caráter hidrofílico, como alcaloides, compostos fenólicos, ligninas, amidos e proteínas (PEARSE, 1960). Os testes histoquímicos estão fundamentados em reações cromáticas para o reconhecimento de substâncias nas diversas estruturas da planta (por exemplo, parede celular, epiderme, vacúolos, tricomas, etc.), podendo também auxiliar na determinação botânica de drogas e misturas vegetais, facilitando seu controle de qualidade. Segundo Oliveira e Akisue (2007), conforme a estrutura a ser analisada escolhe-se a solução reagente (corante). Para a realização dos testes, as amostras poderão estar pulverizadas, dis- pensando a realização de cortes histológicos, inteiras e ou grosseiramente rasuradas (folhas), nas quais se faz necessário realizar cortes adequados para cada estrutura (BRASIL, 2019). Vejas as práticas de histoquímica específicas para amidos, proteínas e lipídios. Reações para amido Os amidos apresentam-se como pós finos de coloração esbranquiçada, consti- tuídos por grânulos de tamanho, formas e estratificações variáveis. Na análise microscópica devem ser observadas características como forma, estrutura, tipo de hilo e quanto ao estado de agregação. Para a identificação histoquímica do amido, utiliza-se a glicerina iodada ou lugol (OLIVEIRA; AKISUE, 2007; BRASIL, 2019). Na presença de iodo os amidos adquirem coloração azul- -arroxeado, que ocorre pela formação de complexo com a amilose. Citologia e histologia vegetal10 Reações para proteínas As proteínas são amplamente distribuídas nas estruturas vegetais e sua iden- tificação é importante para verificar sua presença ou ausência em células e tecidos (FIGUEIREDO et al., 2007). A coloração histoquímica de proteínas é determinada, entre outros fatores, pela quantidade total de proteína, pela presença de grupos reativos e pela porcentagem desses grupos, acessíveis ao corante. Este teste deve ser realizado apenas com material fresco. Os passos são os seguintes (BRASIL, 2019): � Adicionar ninidrina a 0,5% (p/v) em etanol absoluto e manter a 37°C por 24 horas. � Lavar em etanol absoluto seguido de água destilada. � Adicionar reativo de Schiff SR e deixar em contato por 10 a 30 minutos. � Lavar em água e adicionar bissulfito de sódio a 2% (p/v). � Deixar em contato por um a dois minutos. � Lavar em água corrente por 10 a 20 minutos. As proteínas coram-se de vermelho púrpura. Reações para lipídios As reservas lipídicas encontram-se, em geral, sob a forma de gotículas disper- sas no citoplasma. Geralmente determinados por lipídios totais adicionando o corante Sudan, que cora os lipídios de amarelo-alaranjado ou vermelho. 3 Constituintes químicos nas espécies medicinais Como vimos, os componentes resultantes de atividades químicas das células vegetais estão espalhados por diversos tecidos e órgãos da planta. Os diferentes constituintes químicos em plantas medicinais têm atividades biológicas que podem contribuir com a saúde humana, apresentando-se como opção tera- pêutica, desde o chá medicinal até o desenvolvimento de novos medicamentos (medicamentos fitoterápicos ou fitofármacos). 11Citologia e histologia vegetal Muitas substâncias provindas do metabolismo secundário, como alcaloides, terpenoides e fenilpropanoides, são de interesse e relevância farmacêutica (Sanchita, 2018). O Quadro 1 apresenta as espécies de vegetais medicinais com seus respectivos constituintes químicos e órgãos onde se encontram. Fonte: Adaptado de Lorenzi e Matos (2002). Espécie vegetal Constituintes químicos Atividade farmacológica Partes da planta onde se encontram Trombeteira Datura stramonium Alcaloides, ácidos graxos e triterpenos Midriático e espasmolítico e alucinógeno Flores e sementes Erva-baleeira Cordia verbenacea Flavonoides e triterpenos Anti-inflamatório Folhas Açafrão-da-terra Curcuma zedoaria Óleo essencial, amido e sais minerais Digestivo Raiz Camomila Matricaria chamomilla Óleo essencial, polissacarídeos, flavonoides Anti-inflamatório, cicatrizante, digestivo Flores Guaco Mikania sp. Cumarinas Broncodilatador e expectorante Folhas Cavalinha Equisetum giganteum Alcaloides piridínicos, flavonoides Diurético Hastes Babosa Aloe vera Mucilagens, antraquinonas Cicatrizante Folhas Quadro 1. Espécies vegetais e seus constituintes químicos A utilização de plantas com finalidade terapêutica, seja na cura ou preven- ção, acompanha o desenvolvimento humano e a história da medicina. Segundo Sanchita (2018), muitas substâncias provindas do metabolismo secundário, como alcaloides, terpenoides e fenilpropanoides, são de interesse e relevância para a indústria farmacêutica,cosmética e alimentícia. Citologia e histologia vegetal12 Essa temática é constantemente revisitada e observa-se o aumento da preocupação e do interesse com o controle de qualidade dos produtos deriva- dos de plantas medicinais. Assim o conhecimento da estrutura morfológica e anatômica das espécies medicinais é uma ferramenta indispensável para atingir resultados positivos em fitoterapia. BRASIL. Farmacopeia brasileira. 6. ed. Brasília: ANVISA, 2019. Disponível em: http://portal. anvisa.gov.br/farmacopeia-brasileira. Acesso em: 25 fev. 2020. COOPER, G. M.; HAUSMAN, R. E. A célula: uma abordagem molecular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. FAHN, A. Anatomia vegetal. 2. ed. Madrid: H. Blume, 1978. FIGUEIREDO, A. C. da S. et al. Histoquímica e citoquímica em plantas: princípios e proto- colos. Lisboa: ULisboa, 2007. LORENZI, H., MATOS, J.A. Plantas Medicinais do Brasil: nativas, exóticas e cultivadas, 2. ed. São Paulo: 550, 2002 OLIVEIRA, F. de; AKISUE, G. Fundamentos de farmacobotânica. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 2007. PEARSE, A. G. E. Histochemistry: theorical and applied. 2. ed. London: Churchill Livin- gstone, 1985. RAVEN, P. H., EVERT, R. F., EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. 8. ed. Rio de Janeiro: Gua- nabara Koogan, 2014. SANCHITA, A.S., Gene Expression Analysis in Medicinal Plants Under Abiotic Stress Conditions. Plant Metabolites and Regulation Under Environmental, pp 407-414. 2018. https://doi.org/10.1016/B978-0-12-812689-9.00023-6. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 13Citologia e histologia vegetal Dica do professor A microtécnica vegetal é o preparo da planta para análise microscópica, iluminando os estudos de anatomia vegetal. A compreensão da estrutura microscópica da planta é a ferramenta utilizada em várias áreas do conhecimento nas Ciências Biológicas. No entanto, atualmente, nos currículos de Ensino Superior em Ciências Farmacêuticas no Brasil, a disciplina de botânica não está presente, deixando uma lacuna em profissionais que têm interesse em plantas medicinais e fitoterapia. Pensando nisso, nesta Dica do Professor, será apresentada uma visão geral de técnicas que propiciam a identificação de tecidos e substâncias metabólicas nos vegetais. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/f23d900238806d9cb6d460f2e364a08a Exercícios 1) Toda a matéria viva é composta de células, que são extremamente diversas, variando em estrutura e função. Podem ser desde organismos unicelulares independentes a tipos de células altamente especializadas, encontradas em plantas e animais. Nesse contexto, há componentes celulares que diferenciam as células animais das vegetais. Dos componentes citados a seguir, qual deles é responsável pela determinação da estrutura e pela proteção celular? A) Núcleo. B) Vacúolo. C) Parede celular. D) Cromoplasto. E) Leucoplasto. 2) Como visto, junto com os vacúolos e a parede celular, os plastos são componentes característicos das células vegetais. Eles são classificados com base nos tipos de pigmentos que contêm ou não, e alguns estão envolvidos na produção de metabólitos primários e secundários. Diante disso, qual tipo de plasto sintetiza apenas pigmentos? A) Cloroplastos. B) Leucoplastos. C) Cromoplastos. D) Corpos lipídicos. E) Vacúolos. Os lipídios são substâncias orgânicas, geralmente insolúveis em água. Tipicamente, servem como moléculas que armazenam energia, geralmente na forma de gorduras ou óleos, e são materiais estruturantes para as células. Os óleos podem ser fixos ou essenciais. 3) Das substâncias citadas a seguir, qual delas é um componente dos óleos essenciais? A) Cutina. B) Triglicerídios. C) Suberina. D) Terpenos. E) Fosfolipídios. 4) As plantas apresentam estruturas que garantem a secreção de substâncias diversas para o meio externo ou, ainda, para o interior delas, podendo ser secretadas por células individualizadas ou complexos multicelulares. Dessas estruturas secretoras, qual aparece de forma individualizada? A) Idioblasto. B) Nectário. C) Tricoma. D) Glândula endógena. E) Parênquima. 5) Os compostos químicos resultantes da atividade celular vegetal se encontram distribuídos por diversos órgãos das espécies vegetais. Alguns desses componentes são orgânicos, responsáveis por caracterizar as plantas como medicinais, por apresentarem propriedades farmacológicas. Dos componentes citados a seguir, qual deles apresenta essa característica? A) Amidos. B) Lipídeos. C) Pigmentos caratenoides. D) Oxalatos de cálcio. E) Cumarinas. Na prática A atividade farmacêutica consiste em um rol de ações e serviços que visam a assegurar a assistência terapêutica integral e a promoção, a proteção e a recuperação da saúde. Assim, um olhar cuidadoso do farmacêutico, em todos os processos do medicamento, é atestado de competência do profissional. Na Prática, veja um caso de atuação desejável do profissional farmacêutico frente à adulteração de medicamentos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/fad0c00a-5580-45f0-9f5a-0b8f195efe26/93f1c755-7858-48c5-a10f-cf4105df39d9.png Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Caracterização anatômica, histoquímica e de classes de metabólitos secundários de folhas de Guzmania lingulata Este artigo objetivou a caracterização anatômica e a identificação de classes de metabólitos secundários presentes em G. lingulata, por meio de análises anatômicas, histoquímicas e químicas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. http://www.scielo.br/pdf/rbpm/v16n1/a19v16n1.pdf