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Ética 02 1. Ética, Moral e Moralidade 4 Conceito de Ética 4 A Ética e a Moral 5 Reflexões sobre a Moralidade 8 2. A Ética no Pensamento Ocidental, o Mundo do Trabalho e a Ética Empresarial 11 A Ética no Pensamento Ocidental 11 O Mundo do Trabalho e a Globalização 14 A Ética Empresarial 21 Capitalismo, Comércio, Indústria e a Ética do Interesse Particular e a Globalização 25 3. A Ética Profissional em um Mundo Globalizado, Responsabilidade Social, a Atuação Profissional e os Dilemas Éticos 30 A Ética Profissional 30 Os Pilares do Relacionamento Profissional 31 Relacionamento Interpessoal Profissional 33 4. Ética e Moral 41 O Problema da Ação e dos Valores 41 Distinção entre Moral e Ética 42 Moral e Direito 42 Moral e Liberdade 43 Liberdade e Responsabilidade 44 Transformações da Moral 44 5. Referências Bibliográficas 47 03 4 APOSTILA DE ÉTICA 1. Ética, Moral e Moralidade Conceito de Ética Iniciaremos nossa jornada estudando o conceito de ética e sua evolução ao longo de nossa história. A origem da palavra é derivada do grego “ethos”, significando aquilo que pertence ao caráter, ou melhor, traduzido, o modo de ser da pessoa. Diversas são as suas conceituações. De início, SIMPLICIO (2.013) assim a conceitua: A ética pode ser conceituada como o estudo do senso, em que se refere à conduta humana, avaliando o ponto de vista do bem e do mal de uma determinada sociedade. De acordo com Srour (2005), a ética tem por objeto de estudo a moralidade; possui conhecimento sobre os fundamentos históricos da moral; torna adaptáveis os códigos morais divulgados pela coletividade; dá ênfase às escolhas realizadas em situações cotidianas, evitando que estas transgridam os padrões morais, elaborando regras de análise aplicadas universalmente. Segundo Sá (2010), o ser humano vai construindo sua conduta, discernindo entre o certo e o errado por meio de respostas aos estímulos mentais comandados pelo cérebro. A ética teve sua origem na 5 APOSTILA DE ÉTICA Antiguidade Grega através dos estudos de Sócrates, Platão e Aristóteles, que se preocuparam em refletir sobre as ideias do bem e da virtude ética. De acordo com Vázquez (2006, p. 270), “Resumindo, para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçam estreitamente”. Para ele, a ética é a felicidade, mas para alguém ser feliz é necessário ser bom e para ser bom é preciso ser sábio. Aristóteles mencionava que a virtude era o hábito do homem agir em conformidade com o dever e que se manifestava por meio do conhecimento, do amor e do esforço voluntário, adquiridos ao longo de sua existência. Não adiantava o homem ter virtudes se não as praticasse. Para agir de maneira virtuosa, deve-se conhecer o dever e o amar. Em outras palavras, respeitar, acatar de maneira incondicional, e, talvez o mais difícil, agir com esforço voluntário. A ética abrange uma vasta área, podendo ser aplicada à vertente profissional. Existem códigos de ética profissional que indicam como o indivíduo deve se comportar no âmbito da sua profissão. Na filosofia, a ética não se resume à moral, que geralmente é entendida como costume ou hábito, mas busca a fundamentação teórica para encontrar o melhor modo de viver. É a busca do melhor estilo de vida. O tema da ética no serviço público está diretamente relacionado com a conduta dos funcionários que ocupam os cargos públicos. Tais indivíduos devem agir conforme um padrão ético, exibindo valores morais como a boa fé, a honestidade, a transparência, a humanidade, legalidade, a impessoalidade, a razoabilidade, a eficiência, a educação e outros princípios necessários para uma vida saudável no seio da sociedade. Feitas essas considerações iniciais, vamos agora à distinção entre ética e moral. A Ética e a Moral Vistos alguns conceitos sobre ética, vamos ampliar um pouco mais a nossa visão. Os valores morais de uma sociedade vão sofrendo alterações ao longo dos anos. O que em épocas passadas era um comportamento reprovável, por exemplo o uso de uma minissaia na década de 30, hoje é visto de maneira natural. Um beijo em público entre um casal apaixonado, naquela mesma época, 6 APOSTILA DE ÉTICA era também considerado uma conduta inaceitável. Notem que não estamos tratando de condutas delituosas. Um homicídio sempre foi tratado como crime, ou seja, uma conduta delitiva e antissocial, sempre reprovável. SIMPLÍCIO (2.013) menciona que na filosofia existem algumas diferenças entre a ética e a moral em seus conceitos. A ética é a parte da filosofia que extrai do comporta- mento humano o conhecimento sobre as noções e princípios que fundamentam a vida moral. A moral é o conjunto de regras de conduta que são estabelecidas dentro dos preceitos de cada sociedade. Ambas são muito importantes e têm a responsabilidade de conduzir e a ensinar a melhor maneira de agir e de se comportar em sociedade. Muitos mencionam que, ao longo dos anos, perdemos valores morais em nossa sociedade, como o respeito pelos professores, pelas autoridades, pelos idosos e pelos próprios pais. Esses valores são essenciais na formação e no comportamento do ser humano. A noção do certo e do errado vão formando o caráter de uma pessoa. O respeito às normas, as leis, ao meio ambiente são aspectos relevantes da vida em sociedade. É interessante mencionar que alguns valores ainda são mantidos de forma rígida em nossa sociedade. Um advogado ao participar de uma audiência no âmbito do poder judiciário deve estar trajado socialmente, com terno e gravata. Um desembargador em audiência está com a sua famosa toga. O próprio indivíduo tem os seus limites definidos em princípios legais e morais. A lei deve refletir o valor moral da sociedade. Nesse viés, pode-se citar que uma pessoa não pode andar nua pelas ruas, não pode urinar nos espaços públicos, não pode cortar árvores plantadas nas ruas da cidade, nem tampouco jogar lixo em rodovias, ruas e estradas. Por outro lado, notem que interessante, em praias de natu- ralistas, as pessoas, naquele local, podem ficar nuas. Bernardes (2.019) menciona que a ética é uma reflexão sistemática sobre o comportamento moral. Ela investiga, analisa e explica a moral de uma determinada sociedade. • Ética = Caráter/Reflexão; • Moral = Costume. Define a moral como o conjunto de normas, princípios e costumes que orientam o comportamento humano, tendo como base os valores próprios de uma comunidade ou grupo social. A 7 APOSTILA DE ÉTICA moral é normativa, isto é, um conjunto de regras, valores, proibições e tabus que provêm de fora do ser humano, ou seja, que são cultivados ou impostos pela política, costumes sociais, religiões ou ideologias. Como as comunidades ou grupos sociais são distintos entre si, inclusive no tempo, os valores também podem ser distintos, dando origem a códigos morais bastante diferentes. A moral é mutável e está diretamente relacionada com práticas culturais. Por exemplo: o homem ter mais de uma esposa é moral em algumas sociedades, mas em outras não. A ética é um estudo reflexivo das diversas morais, no sentido de explicitar os seus pressupostos, ou seja, as concepções sobre o ser humano e a existência humana que sustentam uma determinada moral. Desse modo, a ética pensa a moral. A ética é uma reflexão sistemática sobre o comportamento moral, pois investiga, analisa e explica a moral de uma determinada sociedade. Para o professor Mário Sergio Cortella: “Ética é o conjunto de valores e princípios que nós usamos para decidir as três grandes questõesda vida: ‘Quero?’, ‘Devo?’, ‘Posso?’. Tem coisa que eu quero, mas não devo, tem coisa que eu devo, mas não posso e tem coisa que eu posso, mas não quero.” Compete à ética, por exemplo, o estudo da origem da moral, da distinção entre comportamento moral e outras formas de agir, da liberdade e da responsabilidade e de questões tais como a prática do aborto, eutanásia e da pena de morte. A ética não diz o que deve e o que não deve ser feito em cada caso concreto, pois isso é da competência da moral, de modo que, a partir dos fatos morais, a ética tira conclusões, elaborando princípios sobre o comportamento moral. Cita ainda, a referida autora, dez exemplos de ética e moral. São exemplos de debates éticos na atualidade: • Reflexões sobre a legalidade do aborto • Estudos sobre o uso de células-tronco na Medicina, • Observações sobre o ato da eutanásia • Pena de morte São exemplos de conduta moral no nosso cotidiano: • Não jogar lixo na rua • Ajudar ao próximo • Não maltratar animais • Não cometer atos ilícitos • Não ser corrupto • Não usar drogas 8 APOSTILA DE ÉTICA Reflexões sobre a Moralidade COSTA (2.019) destaca que, atualmente, moralidade indica um fenômeno social e ética designa uma disciplina filosófica. Nesse sentido, a ética apresenta-se como uma re- flexão sobre a moralidade, o que faz com que ela também receba o nome de filosofia moral. Segue o referido autor que, por exemplo, falamos de ética profissional e nunca de moral profissional para nos referirmos aos códigos de conduta de cada profissão. De toda forma, um processo de moralização da política parece melhor descrito como um incremento da ética na política e não da moral na política. Essas diferenças apontam para um uso preferível do termo ética para questões da vida pública e moral para questões das relações privadas. Tal linha demarcatória não funciona bem, pois faz sentido falar tanto de uma moralidade pública quanto de uma moralidade privada. Cada cultura ou grupo social tem uma moralidade, que envolve uma série de padrões morais, que são um dos principais elementos integradores da vida social. Continua o referido autor, citando que esses elementos são criados dentro da história e, portanto, não existe no mundo um único modelo abstrato de moralidade, mas uma série de padrões de moralidade socialmente definidos. O Bem, a Virtude e a Moral não existem em abstrato, mas apenas como elementos de realidades culturais concretas. Apesar disso, falamos da Virtude, da Moral e do Bem como se eles tivessem uma existência em si, como se fossem algo além de conceitos abstratos que inventamos para dar sentido às nossas próprias experiências. Dessa forma, a moral antecede a ética. A pergunta sobre o que devo fazer é um questionamento moral relevante e presente em todas as culturas. Porém, a resposta a essa questão normalmente é dada por meio de um discurso interno, que esclarece os padrões de comportamento obrigatórios dentro da tradição. Somente quando a moralidade é posta em questão é que a ética encontra seu espaço. Isso ocorre 9 APOSTILA DE ÉTICA normalmente em momentos de crise, quando a recusa dos critérios tradicionais impele os homens e mulheres com pendores filosóficos a inventar novos conceitos, mais capazes de mediar suas relações consigo mesmos e com o mundo que os cerca. Assim, a ética não envolve tipicamente a afirmação de uma relatividade absoluta, mas sim a elaboração de critérios objetivos de validade, que podem ser utilizados para avaliar os padrões morais existentes. Para a filosofia ocidental, o critério fundamental de objetividade é a razão. Somos herdeiros do logos grego, dessa capacidade que os homens têm de diferenciar o ver- dadeiro do falso. Assim, se somos capazes de criticar as tradições culturais que nos envolvem, é porque existe em nós esse elemento racional que nos iguala e nos permite escapar da caverna de sombras para observar o mundo como ele realmente é. Como vimos, podemos definir moralidade como “princípios que nos fazem distinguir, diferenciar entre o certo e o errado, o bom e o mau comportamento, o justo e o injusto, o verdadeiro e falso, o legal do ilegal”. 10 11 APOSTILA DE ÉTICA 2. A Ética no Pensamento Ocidental, o Mundo do Trabalho e a Ética Empresarial A Ética no Pensamento Ocidental Como citado, os princípios éticos só podem ser compreendidos no seio de uma comunidade, na complexidade de suas relações, de suas aspirações etc. A história revela que as discussões sobre a ética remontam o chamado período clássico. O berço da civilização ocidental, isto é, o modo de compreender a realidade que cerca o homem, é a Grécia. Foram os gregos que cunharam e moldaram os termos, os conceitos e as palavras nos seus significados, aos quais fa- zem referência os estudos do mundo ocidental. A vida é um exemplo, e hoje a preocupação com a sua proteção vai até os limites da experiência intra uterina, de modo que uma gestante pode pedir em juízo uma pensão para o filho que está gerando a um pai que lhe tem negado amparo. A concepção ética do mundo ocidental tem origem na Grécia. A ética é uma orientação interna que se preocupa com a harmonia das relações humanas. A ética penetra a 12 APOSTILA DE ÉTICA ordem moral, mas dela independe, a fim de regê-la com padrões seguros e autenticamente humanos. A ética se materializa no diálogo entre o público e o privado. BARBOSA (2.015) afirma que nem sempre paramos para pensar de onde vieram nossos costumes, nossos hábitos e a nossa moral. Ao contrário de pensarmos a morali- dade, bradamos que nosso tempo é de uma inversão moral, de falta de valores, tempos de decadência. Por vezes, somos saudosistas por áureos tempos em que a vida era mais, di- gamos, “moralmente correta”, e desconsideramos veementemente os avanços dos últimos séculos. Os defensores da moral e dos bons e velhos costumes, como se diz popularmente, são os mais exímios seguidores dela. Desse modo, o que pode ser moral, pode ao mesmo tempo passar longe da ética, entendida como o bem viver em sociedade. Os moralistas, defensores da moral, nem sempre são pessoas com virtudes éticas, tais como a generosidade, a confiança, a bondade e a compaixão. Contudo, esta mesma verdade que nos vinculamos e, por vezes, usamos como abrigo da moralidade já, outrora, ou não existia ou não fazia sentido algum. As verdades que nos abrigam podem ter sido construídas, criadas, inventadas desdobrando-se de princípios diversos. É neste sentido que o filósofo alemão Friedrich Nietzsche escreveu um livro chamado Genealogia da Moral. A genealogia quer contar uma história sobre diversos valores que acreditamos ser moralmente corretos. Nietzsche, ao nos contar tais histórias, nos faz rever nossas estruturas ao descobrirmos surpreendentemente que nossa moral nem sempre surge das virtudes que pregamos, mas podem ser frutos do ressentimento, da inveja, da falta de confiança em si. Sócrates leva o sujeito a encontrar a verdade que habita no seu interior, dissipando-os das contradições que envolvem suas crenças. Nietzsche leva seu interlocutor a uma revisão profunda de seus valores morais, buscando uma hipótese que explique o modo pelo qual nossa consciência foi formada. BARBOSA (2.015) diz que, enquanto Sócrates encaminha o indivíduo para uma coerência valorativa, Nietzsche provoca uma conversão de afetos. Agora mencionaremos como os valores legais e morais vão mudando ao longo dos séculos. SAHÃO (2.014) cita que, há mais ou menos 5.000 anos, na Mesopotâmia (então consideradoo berço da civilização no Ocidente), havia em 13 APOSTILA DE ÉTICA suas leis que se uma criança dissesse a seu pai ou a sua mãe que eles não eram seus pais, eles poderiam fazer da criança uma escrava, vendê-la por dinheiro ou levá-la para longe de casa. Portanto, uma rebelião do filho contra os pais poderia colocá-lo à escravidão. Por outro lado, se um pai dissesse ao seu filho que ele não era seu filho, a lei dizia que mesmo assim o filho deveria sofrer e deixar a casa. Na mesma cultura, se uma mulher fosse infiel ao marido e dissesse: “Você não é meu marido”, ela poderia ser jogada no rio. Se um marido dissesse para a esposa: “Você não é minha esposa”, ele deveria pagar uma multa. Então, se você fosse uma mulher traída nesse período de tempo, era legal (implicando ética) que você pudesse ser jogada no rio – para ser morta. Se você fosse um homem, você teria apenas que pagar uma multa. Se alguém fosse acusado de algo ilegal naquela época, teria sido dada a opção de pular no rio e, se a pessoa não se afogasse, ela seria declarada livre – não culpada. Aparentemente, a natação não era uma grande habilidade naquela época, ou talvez os rios fossem muito assustadores. Os gregos antigos (3.000 anos atrás ou mais) não eram muito melhores quando se trata de derramamento de sangue. A maneira como eles lidavam com o assassinato era deixando a família da vítima fazer sua própria justiça, o que levava a vendetas sangrentas. Inicialmente, eles não tinham leis escritas, mas confiavam em “regras” passadas oralmente que podiam ser inventadas a qualquer hora. Eventualmente eles começaram um sistema de leis escritas e um notável conjunto de leis foi criado por Draco (um legislador). As leis escritas de Draco ficaram conhecidas por sua rigidez, e seu nome se tornou o adjetivo “draconiano”, que significa “severo” ou “rigoroso”. Suas leis eram tão drásticas que você poderia ter sido morto ao ser pego roubando apenas um único repolho. O mundo antigo está cheio de leis semelhantes, que consideramos cruéis e grotescas hoje. Algumas coisas que se destacam a partir desta época são os castigos físicos (cortar a orelha, enforcar, decapitar, tortura), castigos materiais (multas e impostos, tais como pagamentos em moeda e/ou materiais raros, como ouro ou prata) e o fato das leis serem aplicadas de forma diferente pelas classes sociais (mulheres e escravos eram mais drasticamente punidos, por exemplo). Essas leis banalizaram os códigos morais da 14 APOSTILA DE ÉTICA época. Era algo absolutamente moral possuir um escravo (ou muitos) ou matar alguém que tinha roubado um repolho. A pena de morte, ou de execução, tem sido uma normalidade entre todas as tribos (países) nos últimos 2.000 anos, quando se trata de conceito da justiça. Para ficar ainda mais grotesco, a maioria das execuções eram públicas. Em 1820, na Grã-Bretanha, havia 160 crimes puníveis com morte, incluindo furtos, roubos, roubar gado ou, ainda, o corte de árvores em um lugar público. O século XX também foi um período violento. Dezenas de milhões foram mortos em guerras entre Estados- nação, bem como em genocídios perpetrados por Estados-nação contra adversários políticos (tanto percebidos quanto reais), minorias étnicas e religiosas: o ataque turco aos Armênios, a tentativa de Hitler de exterminar os judeus europeus, dentre outros. Vimos, de forma sucinta, que, ao longo dos últimos séculos, o sistema penal e jurídico foi sofrendo profundas alterações. Importante frisar e deixar bem sedimentado que no Brasil o que vigora é o estado democrático de direito. Existe o Código Penal e outras legislações que definem as condutas delituosas. A polícia, o ministério público e o poder judiciário têm o dever de investigar e propiciar ao acusado um julgamento justo, contemplado com a ampla defesa e o contraditório e ao sistema prisional de punir e recuperar. O Mundo do Trabalho e a Globalização Sem dúvida a globalização e o uso das tecnologias de comunicação aproximaram as pessoas e as organizações que, outrora, estavam distantes geograficamente. ALBUQUERQUE (2.019) assim trata tão importante questão: “O fenômeno da globalização é um processo em curso, complexo e desafiador, no qual estamos imersos e, que, portanto, torna árdua a tarefa de delimitá-lo.” O discurso da globalização, nessa esteira, promete romper fronteiras em prol do desenvolvimento de todos os povos 15 APOSTILA DE ÉTICA com base na auto regulação do mercado. Na perspectiva de Faria, a crise do padrão monetário mundial e os choques do petróleo na década de 1970 levaram ao esgotamento do potencial de expansão do modelo produtivo, industrial e comercial até então vigente, exigindo respostas extremamente rápidas e eficazes para contorná-la e que definem hoje as peculiaridades da globalização. Dentre as respostas está a desregulamentação dos mercados financeiros, a revogação dos monopólios estatais, a abertura do comércio mundial de serviços e informações, que acarretou a rápida integração mundial do sistema fi- nanceiro; a ênfase à racionalização das organizações produtivas, criando as corporações transnacionais; e, por fim, a conversão das ciências em técnicas produtivas. A globalização, entretanto, não é fruto imediato de um fato isolado, e sim o resultado de uma longa evolução da sociedade capitalista moderna. O fenômeno, portanto, não é estanque: é um processo dinâmico e multidimensional. A globalização não encerra um conceito unívoco. As diversas linhas teóricas procuram explicá-la sob perspectivas distintas, o que acarreta a insuficiência de conceitos mais abrangentes. Beck expressa bem a complexidade do fenômeno e a dificuldade de sua apreensão quando refere que globalização é, com certeza, a palavra mais usada e a menos definida nos últimos tempos. Desde o advento do capitalismo, com a separação da propriedade dos meios de produção e da força de trabalho, que engendrou uma verdadeira revolução econômica, o processo de acumulação do capital vem forjando novas técnicas cada vez mais eficientes, a fim de maximizar os lucros e minimizar os custos. Alguns anos após a Revolução Francesa, formam-se as condições necessárias para a Primeira Revolução Industrial, que incorpora ao processo produtivo as primeiras máquinas capazes de executar tarefas antes atribuídas exclusivamente ao homem, acarretando, como consequência, o aumento da produtividade. Com esta revolução, a apropriação da força de trabalho se completa com a transferência do domínio humano sobre os processos produtivos para as máquinas. A utilização da ciência como técnica produtiva sustentou a Segunda Revolução Industrial no início do século XX. Ao contrário da primeira – caracterizada pela adoção da máquina a vapor –, desta 16 APOSTILA DE ÉTICA vez não houve a adoção de uma nova tecnologia, mas um conjunto de alterações técnico-científicas decor- rentes da cooptação do conhecimen- to científico pelo capital. Nesse contexto, Frederick Taylor, no final do século XIX, concebeu a denominada organiza- ção científica do trabalho, ou seja, a racionalização do trabalho baseada na separação entre concepção – engenheiros e técnicos – e execução – operários. Ele propunha a racionalização das tarefas dos operários, combatendo o desperdí- cio de tempo. Uma das formas de racionalização, com o objetivo de eliminar os movimentos inúteis e diminuir o tempo na execução das tarefas, é o parcelamento das tarefas: cada operário faz apenas um determinado número, diga-se limitado, de gestos iguais, repetidos durante sua jornada de trabalho. Com isso, torna-se responsávelapenas por uma pequena parte do processo produtivo, não neces- sitando de qualificação específica. Henry Ford, por sua vez, proprietário da indústria au- tomobilística que leva seu nome, criou uma nova estratégia de organização da produção utilizando os métodos tayloristas de gerencia- mento. O fordismo – nova organiza- ção da produção concebida por Ford – para responder ao aumento da demanda, utiliza a produção em massa, o que reduz o custo de produção e, em decorrência, o preço de venda do automóvel. Enquanto o taylorismo decompõe as tarefas, o fordismo as recompõe através da linha de montagem. Ford ainda padroniza as peças, com a intenção de reduzir o tempo de adaptação dos componentes ao automóvel, combatendo o desper- dício. Feitas estas transformações no plano organizacional, Ford introduz novas tecnologias. Com as linhas automatizadas o tempo de produção do veículo é reduzido ainda mais, obtendo ganhos inimagináveis com os novos métodos de produção. Nesse contexto, as empresas concorrentes são obrigadas a seguir o novo modelo, sob pena de serem expulsas do mercado. O fordismo torna-se dominante. Mas quando todas as empresas o adotam, já não há vantagens essenciais no nível da organização. A competição torna-se mais acirrada e as empresas já não podem destinar recursos à melhoria das condições de trabalho. Ao contrário, conquista maiores fatias do mercado quem impõe custos mais baixos de produção, incluindo a remuneração dos trabalhadores. Os operários, destarte, são submetidos a condições degradan- 17 APOSTILA DE ÉTICA tes, desencadeando, nos anos 70, a crise do fordismo. A partir da década de 80, alguns fatores de ordem política e econômica alteraram a cena mundial: o advento da “sociedade informacional” como decorrência dos avanços na microeletrônica, na robótica, na telemática; a globaliza- ção econômica; a disseminação do neoliberalismo, impulsionado pelas mudanças políticas internacionais desencadeadas com o desaparecimento, no final dos anos 80, do bloco comunista, solapando a ameaça socialista. Tais fatores contribuíram para desencadear a Terceira Revolução Industrial que, novamente, acarretará mudanças no mundo do trabalho. Esta, sob diversos aspectos, difere das anteriores. Além da substituição do trabalho humano pelo computador, parece provável a crescente transferência de uma série de operações das mãos de funcionários que atendem ao público para o próprio usuário, muitas atividades desconectadas do grande capital monopolista passam a ser exercidas por pequenos empresários, trabalhadores au- tônomos, cooperativas de produção etc., o que transforma certo número de postos de trabalho de “empregos” formais em ocupações que deixam de oferecer as garantias e os direitos habituais e de carregar os custos correspondentes. O que dá para admitir com razoável segurança é que ela afeta profundamente os processos de trabalho e, com toda certeza, expulsa do emprego milhões de pessoas que cumprem tarefas rotineiras, que exigem um repertório limitado de conhecimentos e, sobretudo, nenhuma necessidade de improvisar em face de situações imprevistas. Com o emprego da ciência como técnica produtiva, novas formas de organização produtiva surgem. Dentre as experiências mais expressivas, pode-se citar o “toyotismo” ou “modelo japonês” ou “pós-fordismo”. O toyotismo, modelo forjado no Japão, foi implantado progressivamente na Toyota nas décadas de 1950 a 1970 e se disseminou pelo mundo na década de 1980. Neste novo modelo produtivo, a “produção é puxada pela demanda e o crescimento, pelo fluxo.”. Nessa esteira, a “empresa só produz o que é vendido e o consumo condiciona toda a organização da produção”. Em razão disso, os estoques são mínimos. Todo o desperdício é combatido na Toyota. Nesse contexto, a flexibilidade do aparato produtivo, de forma a atender às exigências mais individualizadas do mercado no 18 APOSTILA DE ÉTICA menor tempo e com maior qualidade possíveis, acarreta a flexibilização da organização do trabalho. Os trabalhadores atuam em equipe e está substitui o parcelamento das tarefas, típico do fordismo. A relação um homem/uma máquina é rompida: em média, um trabalhador na Toyota opera cinco máquinas. Para poder operar várias máquinas diferentes, o trabalhador tem de tornar-se polivalente, que mais do que maior qualificação, significa a execução de várias tarefas simplificadas no decorrer de sua jornada, ensejando maior exploração do trabalho. A equipe de operários, por outro lado, substitui a figura da autoridade típica da hierarquia vertical fordista. Agora, a falha de um membro prejudica toda a equipe, que controla, portanto, a atuação de seus membros, criando uma forma de controle invisível e extremamente eficiente. Diferentemente do modelo fordista, onde ocorre uma integração vertical na linha de produção, com a aquisição das empresas que fabricam as peças, no toyotismo há uma integração horizontal, com redução do âmbito de produção da montadora, repassando às subcontratadas a produção das peças necessárias à confecção do produto final. No novo sistema de organização da produção intensifica a exploração do trabalho: ele exige bem mais do trabalhador que o sistema fordista. Além da exigência de que os operários trabalhem simultaneamente com várias máqui- nas, há o “gerenciamento por tensão” através do sistema de luzes. Os sinais luminosos são implantados em toda a cadeia de produção: o verde indica que está tudo em ordem; o laranja aponta intensidade máxima; e o vermelho indica que há um problema e é necessário parar a produção para resolvê-lo. As luzes devem alternar sempre entre o verde e o laranja para atingir uma elevação constante do ritmo de produção, pois, oscilando os sinais entre estas cores, a direção pode, antecipadamente, descobrir os problemas e acelerar o ritmo até que o próximo apareça. Além disso, assim como o aparato produtivo, as relações de trabalho também precisam ser flexibilizadas. A força de trabalho é explorada em razão da demanda. Evita-se, a todo custo, a ociosidade da força de trabalho. Há um número mínimo de empregados “estáveis”. Se o mercado melhora, contratam- se trabalhadores temporários ou os operários são obrigados a fazer horas extras. Todavia, “a política 19 APOSTILA DE ÉTICA básica é usar o mínimo de operários e o máximo de horas extras.” As empresas automobilísticas, “que adquiriram uma sólida liderança no setor, impulsionaram esse formidável aceleramento da rotação de capital graças a uma reestruturação completa da organização da produção”. Não resta alternativa às empresas concorrentes, nesse contexto, senão adotar os métodos de produção da empresa líder. Estas novas formas de organização do trabalho, não se pode deixar de enfatizar, estão plenamente ligadas ao neoli- beralismo e à globalização. A Terceira Revolução Industrial, nesse contexto, provocou drásticas mudanças no universo do trabalho. Todas as revoluções industriais desencadearam o aumento da produtividade, trazendo, como con- sequência, o desemprego tecnológico. Todavia, a Terceira Revolução Industrial foi mais além: desencadeou, além do desemprego tecnológico, o que Singer denomina de “descentralização do capital”. Com os avanços na telemática, as grandes empresas verticalmente integradas têm sido forçadas pelo mercado, em nome da diminuição dos custos e aumento da produ- tividade, a desintegrarem-se, terceirizando diversos setores produtivos, formando uma espécie de rede. Com isso, atividades antes desempenhadas por empregados dessas empresas agora passam a ser exercidas por trabalhadoresautônomos, temporários, pequenos empresários, sem as garantias e os direitos sociais e trabalhistas que antes possuíam, diminuindo os postos de emprego formais. A Terceira Revolução Industrial também opera mudanças protagonizadas pelo Estado, no sentido de flexibilizar direitos, desregulamentar a economia, privatizar empresas estatais. O que se verifica, pois, no capitalismo contemporâneo, é a precarização das relações de trabalho. Os novos postos de trabalho que surgem em virtude da divisão internacional do trabalho e das inovações tecnológi- cas não mais oferecem, na sua grande maioria, as garantias sociais e trabalhistas conquistadas pelos trabalhadores ao longo de anos de luta operária. Isto porque, decorrente da estratégia empresarial de eliminar o ócio do trabalhador, introduziu-se a flexibilidade da organização produtiva e, por consequência, do próprio trabalhador. Outrora, a empresa contratava o empregado. Hoje, ela contrata a prestação de serviços, forçando os antigos operários a jogarem-se na 20 APOSTILA DE ÉTICA arriscada tarefa de constituírem pequenas empresas prestadoras de serviços. Com esta estratégia, as empresas diminuem o custo do trabalho, porquanto não têm de pagar o tempo morto e, ao mesmo tempo, aumentam a produtividade, pois os prestadores de serviço, em razão da competitividade, trabalham à exaustão para atrair a clientela. Todas estas transformações afetam a “forma de ser” da classe trabalhadora. A desconcentração da classe operária, com o abismo existente entre o núcleo “estável” e a periferia precarizada e descartável, reduz drasticamente o poder sindical, historicamente ligado aos empregados estáveis, que hoje é incapaz de aglutinar o exército de trabalhadores a tempo parcial temporários, subcontratados, precários, pertencentes à economia informal. Os trabalhadores já não se identificam mais como classe. Perdem a sua consciência de classe, dada à extrema heterogeneidade e fragmentação existente no mundo do trabalho. Surge uma nova pobreza, a new poor, formada por indivíduos que pertenciam à classe média e que perderam seus empregos em razão da automação ou da divisão internacional do trabalho. Como decorrência desse quadro, emerge uma crescente desigualdade e polarização social levando um número cada vez maior de indivíduos à exclusão social. Postos de trabalho foram destruídos com a Terceira Revolução industrial em decorrência do desemprego tecno- lógico que incrementou a produtividade. Esta mão-de-obra excedente não foi reabsorvida porque os novos empregos exigem uma qualificação maior e são em menor número, se comparados com os que desapareceram. Estes indivíduos descartados formam as vítimas da pobreza e da exclusão social. A Terceira Revolução Industrial, com a introdução de novas tecnologias e a adoção de novas técnicas produtivas mais flexíveis, aliada à globalização e ao neoliberalismo, contribuiu para a queda nos níveis de emprego formal, elevando os níveis de trabalho precário e informal. Como con- sequência, o indivíduo que é afastado do mercado de trabalho formal não consegue mais se reinserir. O acesso ao trabalho (em condições dignas), nessa perspectiva, é condicionante dos demais direitos, visto que é capaz de assegurar ao trabalhador a manutenção do vínculo social, 21 APOSTILA DE ÉTICA principalmente pelo acesso à rede de proteção social, o que resulta em o trabalho formal colocar-se como uma das principais formas de emancipação social. De forma brilhante, ALBUQUERQUE (2.019) tratou esse tema, nos levando a uma série de reflexões. Ao ver que o Brasil conta atualmente com milhares de desempregados, nota-se que esse fenômeno atingiu a grande maioria das organizações. É comum cada trabalhador comentar que nos últimos anos seu setor sofre rígidos cortes. Onde havia três funcionários, as tarefas, além de ampliadas, fica hoje sob a responsabilidade de apenas um. É cediço que os encargos trabalhistas e a crise que afeta boa parte dos países também colaboram para esse quadro. Além da perda salarial, muitos estão se aventurando em vendas pela internet, usando essa plataforma como forma de se reinserir no mercado de trabalho. Em síntese, as pessoas também estão reinventando-se para se adaptar à nova realidade. Empresas e funcionários buscam novos processos para sobreviverem, aguardando essa fase turbulenta passar e vão adequando-se às regras impostas, procurando cumprir os princípios éticos e legais. A Ética Empresarial Feita essa breve exposição sobre o mercado de trabalho e a globalização, vimos que o trabalhador, em especial, sofreu uma série de prejuízos no que se refere às conquistas trabalhistas. A própria legislação trabalhista e a Justiça do Trabalho foram intensamente modificadas recentemente. Sem dúvida, homens e mulheres estão readequando-se às novas exigências do mercado de trabalho e boa parte dos profissionais estão sendo contratados como pessoa jurídica, em face, principalmente, dos encargos trabalhistas. A busca por concursos públicos tornou-se o sonho de consumo de muitos profissionais. No ingresso à carreira de policiais, por exemplo, é muito comum ver candidatos que se inscrevem nos cursos de formação de soldados, com qualificação muito além da exigida, ou seja, com nível superior 22 APOSTILA DE ÉTICA em diversas áreas: fisioterapia, psicologia, letras, pedagogia, administração, dentre outras, com fluência em idiomas como inglês, alemão espanhol etc., por um salário em torno de R$ 1.900,00, para ter a estabilidade de emprego. Como o objetivo precípuo de nosso trabalho é a ética e o relacionamento interpessoal, calha agora mencionar, no outro lado dessa relação, a ética empresarial. Em que pese todas essas mudanças no mercado de trabalho, que atingiu a classe trabalhadora, é imprescindível para um relaciona- mento salutar a estrita observância dos preceitos morais e éticos no ambiente de trabalho. Vamos então aprender sobre o que vem a ser a ética empresarial. MARQUES (2.019), assim conceitua: “A ética empresarial envolve os valores de uma empresa e seus princípios morais dentro da sociedade. Esse conceito é fundamental para uma organização que pretende construir uma boa imagem perante seus clientes internos e externos, parceiros e concorrentes.” Nesse sentido, uma empresa ética é aquela que pratica os preceitos coletivos e se preocupa com as demandas da população, tendo sua conduta orientada pela responsabilidade social e ambiental. Prezar pela ética empresarial é importante para qualquer empresa, independentemente do seu porte ou se é do setor público ou privado. Ao demonstrar que é uma organização transparente, esta será reconhecida por todos pela sua credibilidade e responsabilidade. Assim, essa postura ajudará a companhia a ser apontada como referência no merca- do, atraindo clientes, investidores e bons profissionais. A ética empresarial deve estar presente nas atividades internas e externas de uma organização, sendo que as empresas devem prezar pela boa conduta de todos os seus funcionários. Quando o relacionamento interpessoal é ba- seado em atitudes e valores positivos, há a construção de um ambiente de trabalho agradável para todos, já que os colaboradores passam a respeitar as regras e normas da organização e ficam mais abertos a cooperar uns com os outros. Todos esses fatores influenciam no aumento da produtividade. Mas, em nenhum outro campo, a ética empresarial está tão envolvida quanto na obtenção do lucro. Ter uma boa rentabilidade é objetivo de praticamente todas as organizações, mas os ganhos devem ser baseados emum trabalho 23 APOSTILA DE ÉTICA honesto e que satisfaça as necessidades dos clientes, sem prejudicar as pessoas ou o meio ambiente. Além das atitudes morais que devem nortear todas as suas atividades, a empresa pode demonstrar que é ética à sociedade por meio de ações que promovam o bem-estar da comunidade em que está inserida ou que ajudem a preservar o meio ambiente. Esse senso de responsabilidade social e ambiental revela que a companhia não está alienada aos problemas que a rodeiam e se interessa em contribuir para os combater. Em tempos em que os valores humanos estão cada vez mais sendo colocados de lado em nome de maiores lucros, a ética no ambiente corporativo tem se tornado um grande diferencial competitivo. Isso porque as empresas referências de boa conduta no mercado conseguem agregar valor à sua marca e imagem e usufruem de maior credibilidade ao pautar suas ações em princípios éticos e socioambientais, principalmente. Já os profissionais que têm uma conduta ética destacam-se por ajudarem a construir bom relacionamento interpessoal em seu ambiente de trabalho, uma vez que sabem assumir seus erros e têm uma postura flexível, tolerante e humilde com seus colegas. Antes de tudo, é sempre bom compreender a ética empresarial e profissional como forma de manter a consciência positiva ao exercer suas atividades sem prejudicar os demais ao seu redor. Esse fator é indispensável para o nosso desenvolvimento enquanto seres e empresas em constante evolução. Sendo assim, para que tenhamos resultados cada vez mais expressivos e alcancemos o sucesso tanto empresarial quanto em nossas carreiras, é importante pensarmos e agirmos de forma ética antes de tudo. Há de se mencionar também a ética na administração pública que, além da observância dos preceitos aqui citados, deve ser dirigida pelos princípios constitucionais e legais que a norteiam. Nessa vertente destacam-se os princípios da moralidade, da legalidade, da impessoalidade, razoabilidade, proporcionalidade, eficiência e publicidade. A responsabilidade social será tratada em um tópico à parte ainda no presente trabalho, mas de plano tanto a administração pública quanto a privada devem ter a preo- cupação nas questões ambientais. A preservação do meio ambiente é a responsabilidade desta geração, motivo pelo qual os pais 24 APOSTILA DE ÉTICA devem educar seus filhos na coleta do lixo seletivo, no respeito à fauna e à flora, em manter as praias, rios, lagos e mananciais sempre limpos, em não jogar lixos nas ruas, dentre outros. Os empresários e administradores públicos devem tomar as medidas necessárias para que sua empresa, seus funcionários e colaboradores também tenham essa consciência e adotem medidas práticas como a coleta seletiva, a economia de água e energia elétrica, a utilização de equipamentos com o selo PROCEL, a economia na impressão de documentos etc. Outro aspecto a se mencionar é como deve ser a gestão de pessoas. Para atingir e alcançar esses objetivos éticos e morais, inserindo- os na política empresarial, é importante mencionar que a Gestão de Pessoas auxilia nesse processo. Nesse viés, a gestão de pessoas compila todas as atividades da Administração de Recursos Humanos em seis principais processos, que estão interligados entre si. Esses processos foram desenvolvidos por Chiavenato (1999). Vamos a eles: • Agregar pessoas: Esse processo consiste em incluir novas pessoas para a empresa, conforme a necessidade de mão de obra e o planejamento de RH. Aqui a Gestão de Pessoas incluiu as atividades de RH, como o recrutamento e a seleção para integrarem o quadro de funcionários da empresa. • Aplicar Pessoas: Aqui se encontra o processo de ensinar o novo funcionário conforme o perfil esperado da empresa, acompanhando a sua integração e orientando o seu desempenho. Nesse processo foram compiladas as ativida- des da antiga administração de pessoal desde a integração do novo funcionário, análise de cargos e salários e avaliação de desempenho. • Recompensar Pessoas: Nesse processo, o principal objetivo é incentivar e motivar as pessoas, satisfazendo dessa forma as suas necessidades individuais. Aqui estão agregadas as atividades de remuneração de pessoal e a política de benefícios. • Desenvolver Pessoas: Os processos de desenvolver pessoas servem para capacitar os colaboradores, ou seja, treiná-los para desenvolver as suas funções. Nesses proces- sos utilizam-se as rotinas de treinamento e de capacitação da administração de recursos humanos. • Manter Pessoas: O principal objetivo desse processo é fornecer condições ambientais agradáveis e programas motivacionais e psicológicos que estimulem os 25 APOSTILA DE ÉTICA funcionários a dar o melhor de si e a alcançarem os objetivos desejados. • Monitorar Pessoas: São processos que acompanham e controlam o desempenho dos funcionários, analisando resultados. Também são utilizados processos de sis- temas de informações gerenciais para a tomada de decisões e a consulta ao banco de dados. Capitalismo, Comércio, Indústria e a Ética do Interesse Particular e a Globalização Como vimos, na ética empresarial, as organizações, em que pese a busca pelo lucro nas atividades do comércio e da indústria, devem estar comprometidas com os legais e éticos, buscando agregar valores a sua marca. Um funcionário ou um empresário, agindo de forma ética, com respeito aos ditames legais, com honestidade de propósitos e transparência, influencia inegavelmente no ambiente de trabalho de forma positiva, contagiando os outros a agirem da mesma maneira. O lucro não deve ser a meta principal de qualquer organização empresarial. Não se admite mais a máxima de se lucrar a qualquer preço ou a qualquer custo. Os valores morais e éticos devem permear as organizações e incentivar todos a fazerem o certo pelo certo, afastando-se de práticas costumeiras eivadas de vícios e ilegalidade. Mesmo em práticas desportivas, precisa ser rechaçada a hipótese de um torcedor ficar contente porque o seu time ganhou com um gol aos 47 minutos do segundo tempo, sendo que o jogador estava impedido. As licitações das empresas públicas devem ser regidas dentro da legalidade, impessoalidade, eficiência, razoabilidade, proporcionalidade, publicidade, observando-se rigorosamente as condições estabelecidas no edital, sem favorecimento de quem quer que seja. MATOS (2.014) nos explica que o fenômeno da globalização trouxe o mundo para um estágio sem precedentes em sua história. Jamais foi presenciado um desenvolvimento tão acelerado quanto esse iniciado na Revolução Industrial e que perdura até os dias de hoje. O capitalismo, principal motor do avanço tecnológico e do fenômeno denominado globalização, é, também, o responsável pelas maiores crises já enfrentadas pela humanidade, sejam elas ambientais, econômicas 26 APOSTILA DE ÉTICA e, sobretudo, sociais. No mundo de hoje, onde predomina a busca pelo poder, consumo, desigualdade e individualismo, o indivíduo está envolto pela dúvida sobre como ser ético em um contexto com tantas desigualdades. Dessa forma, o bem e o mal, o certo e o errado, a justiça e a injustiça, são sentimentos intrínsecos à humanidade e inevitáveis dentro de um corpo social. Uma leitura descritiva sobre o sentimento predominante nos indivíduos dos tempos modernos pode ser verificada na obra de Marx. O sociólogo alemão resume a lógica do capitalismo na busca pelo lucro e argumenta que à sociedade está imposta a obrigação de seguir as leis desse sistema. Na abordagem de Marx sobre o mundo moderno, é possível perceber que a sociedade gira em torno docapitalismo. O objetivo dos indivíduos resume-se, exclusivamente, na busca pelo capital, com a sociedade dividida em duas classes, burguesia e proletariado, onde a primeira detém o poder das ferramentas de produção e à outra resta unicamente sua força de trabalho para pôr à venda: a desigualdade é predominante. Não há a reflexão sobre a moral ou, se há, é a de uma moral subordinada às relações de mercado, também chamada de “ética do mercado”. Acima de tudo, para os burgueses, está a busca insaciável pelo lucro, e, para os proletários, a luta pela sobrevivência. Na concepção clássica, de Sócrates e Aristóteles, o sujeito ético ou moral é regido apenas pela sua consciência e não se submete aos vícios e às vontades de outros. A ética é obtida em ações que considerem o melhor para o indivíduo e para o corpo social do qual ele faz parte. Entretanto, na modernidade, esse conceito é cada vez mais difícil de ser aplicado. Dentro da sociedade capitalista, vestida pela liberdade de mercado, as pessoas são escravas do consumo. Jean-Paul Sartre, um dos expoentes do Existencialismo, apresenta uma reflexão sobre a ética partindo do princípio de que os homens são fadados a viver em liberdade. Dessa forma, não importa se as forças externas são mais poderosas do que a vontade subjetiva, sempre há uma opção. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Essencialmente 27 APOSTILA DE ÉTICA livres, segundo a concepção de Sartre, os valores morais são subjetivos para os homens. Ser ético, para o filósofo, significa agir no mundo consciente de sua ação e das consequências proveniente delas, pois o homem tem liberdade para fazer todo tipo de escolhas. Nesse sentido, a ética é sempre uma possibilidade, depende de cada indivíduo. A reflexão de Sartre aponta para um cenário revelador sobre o conceito de liberdade e ética. No entanto, de acordo com a perspectiva marxista, a emancipação humana e a realização plena da moral apenas serão possíveis quando a sociedade romper com o sistema vigente, e isso só será alcançado quando os homens conseguirem enxergar o mundo como ele realmente é e o quanto eles são explorados, ou seja, quando a sociedade deixar de ser alienada. Conclui a autora que, na era do capitalismo, a moral da história é a moral do sistema. PEQUENO (2019), outro autor que trata da ética e da cidadania, nos ensina que a ética trata do comportamento do homem, da relação entre a sua vontade e a obrigação de seguir uma norma, do bem e do mal, do que é justo e injus- to, da liberdade e da necessidade de respeitar o próximo. É comum afirmar que ser cidadão significa possuir direito ao voto, à liberdade de expressão, à saúde, à educação, ao trabalho, à locomoção, à alimentação, à habitação, à justiça, à paz, a um meio-ambiente saudável, à felicidade, dentre outros. A cidadania é a condição social que confere a uma pessoa o usufruto de direitos que lhe permitem participar da vida política e social da comunidade no interior da qual está inserida. A esse indivíduo que pode vivenciar tais direitos chamamos de cidadão. Ser cidadão, nessa perspectiva, é respeitar e participar das decisões coletivas, a fim de me- lhorar sua vida e a da sua comunidade. O desrespeito a tais direitos, por parte do Estado, de Instituições ou pessoas, gera exclusão. Nessa perspectiva, é somente quando cada homem tiver seus direitos efetivados e sua dignidade reconhecida e protegida que poderemos dizer que vivemos numa sociedade justa. Até porque, sem o princípio de justiça, não pode haver sociedade, pois nela deixariam de existir a confiança e o respeito mútuo entre os indivíduos. A justiça é a maneira de reconhecer que todos são iguais perante a lei (igualdade) e que todos devem receber de acordo com seus méritos, qualidades e realizações (equidade). A justiça é, 28 APOSTILA DE ÉTICA desse modo, representada pelos princípios de igualdade e equidade. Assim, quando a sociedade revela-se justa, torna-se possível instituir um clima de confiança nas Instituições e de liberdade entre os indivíduos. A justiça é a condição de um viver solidário, responsável, fraterno. Quando a mesma deixa de ser praticada, os indivíduos ficam sujeitos ao arbítrio, à violência e à barbárie. A justiça é, antes de tudo, um valor moral, podendo ainda ser concebida como o principal fundamento da vida em sociedade. Portanto, é uma virtude que deve ser praticada por todo sujeito moral, já que sem ela torna-se impossível o exercício dos direitos fundamentais e de cidadania. Eis o grande desafio do ser humano, dos empresários e dos administradores: buscar o lucro com responsabilidade social, dentro dos padrões éticos e morais, cumprindo os preceitos legais e as normas que regem a sociedade. Ou seja, fazer o certo pelo certo, cumprir a sua missão, a sua tarefa da melhor maneira possível, se posicionando contrário quando algo se aproxima da ilegalidade, não concordando com práticas ilícitas, que ferem os princípios morais e éticos. É o dizer simples de nossos antepassados: “Deitar e dormir com a consciência tranquila”. 30 APOSTILA DE ÉTICA 3. A Ética Profissional em um Mundo Globalizado, Responsabilidade Social, a Atuação Profissional e os Dilemas Éticos A Ética Profissional Após tão importante explanação sobre a parte conceitual e filosófica da ética e da moral, abrangendo o mercado de trabalho, a globalização e seus efeitos no mundo em que vivemos, vamos agora a uma parte mais prática de nosso estudo. A ética profissional, sem dúvida, é extremamente importante e afeta toda a sociedade. Além do código de conduta de cada profissão, há os valores éticos e morais que devem ser observados por todos. A palavra profissão vem do latim “professione” e possui diversos significados nesse idioma. Na atualidade, profissão representa a prática constante de um ofício, de um labor (SÁ, 2009). De acordo com Masiero (2007, p. 455), “ética profissional reúne um conjunto de normas de conduta, exigida no exercício de qualquer atividade econômica”. No papel de “reguladora” da ação, a ética age no desempenho das profissões, levando a respeitar os 31 APOSTILA DE ÉTICA semelhantes no exercício de suas funções. Ela envolve o rela- cionamento de profissionais, a fim de resgatar a dignidade humana e a construção do bem comum. A atuação profissional e consequentemente as profissões possuem um grande valor para a sociedade, seja na área da saúde, lazer, habitação, educação, administrativa, entre outros. A seus profissionais são concedidas responsabilidades no campo social que trazem benefícios através de seus trabalhos, gerando satisfação para a comunidade e interagindo com essa. Para Camargo (2008, pp. 31-32), “ética profissional e a aplicação da ética geral no campo das atividades profissionais; a pessoa tem que estar imbuída de certos princípios para vivê-los nas suas atividades do trabalho”. Para que o profissional conduza seu trabalho com eficiência, eficácia e efetividade, é preciso ter responsabilidade individual perante seu grupo. De acordo com Sá (2009, p. 163), “nem sempre a escolha coincide com a vocação, mas feita a eleição, inicia-se um compromisso entre o indivíduo e o trabalho que se propõe a realizar”. Quando o ser humano elege seu trabalho, ele compromete-se com todos os deveres éticos deoferecer com satisfação e qualidade suas atividades. Sá (2009) relaciona uma série de virtudes chamadas de valores necessários e compatíveis à prática dos serviços profissionais. Algumas delas são: abnegação, atitude, benevolência, coerência, disciplina, eloquência, fidelidade, gratidão, honestidade, idealismo, respeito, educação, entre outras. Quando as virtudes são realizadas com qualidade, é possível identificar o caráter do profissional e o exercício de sua profissão. Assim como as atitudes virtuosas garantem o bem, a ética tem sido um caminho para o benefício de todos. Os Pilares do Relaciona- mento Profissional No desempenho de suas funções, seja na esfera pública ou privada, todo o profissional se relaciona com pessoas. Para nos ajudar melhor a entender como deve se desenvolver os nossos relacionamentos 32 APOSTILA DE ÉTICA profissionais dentro dessa visão ética, vamos mencionar os cinco pilares, segundo a consultora GIANETE (2014): • Autoconhecimento: A diversidade comportamental no ambiente de trabalho é muito rica, e antes de conhecer os demais, você precisa saber como você mesmo funciona. A partir do momento que conhece as suas características positivas, você vai ter boas referências na hora de buscar que os colegas também as tenham. “Além disso, o autoconhecimento ajuda a elaborar estratégias para mini- mizar conflitos na hora do relacionamento com os colegas”. • Cordialidade: A característica que foi mais recentemente adicionada à lista, aparentemente, trata de algo óbvio: é preciso ser cordial na hora de se relacionar. “É simples e óbvia a necessidade de ser cordial, mas nem sempre estamos atentos a isso. A cordialidade se revela em pequenos gestos que vão nos fazer ser vistos como simpáticos”, alerta a educadora. Segundo ela, porém, é comum deixar de lado a cordialidade em situações corriqueiras, como o envio de mensagens de trabalho. “Ao enviar um e- mail, por exemplo, muitas vezes as pessoas deixam de desejar ‘bom dia’ ou ‘boa tarde’”. Pela forma como o e- mail é usado como ferramenta de trabalho, muitas vezes são enviadas mensagens secas, sem mesmo um “por favor” ou um “obrigado”. • Empatia: “Esta é a habilidade de colocar-se no lugar dos outros”, afirma Regina. Segundo a educadora, é preciso considerar as opiniões e sentimentos dos colegas. Caso contrário, não é possível um relacionamento realmente proveitoso para os dois lados. “É preciso se colocar no lugar do outro para entender o ponto de vista dele”. Ouvir, entender o colega. Situações de trabalho nos colocam juntos, e se não tiver consciência disso, tudo fica mais difícil. • Assertividade: Para o sucesso de um relacionamen- to, saber ouvir é essencial, mas também é preciso saber falar. Por isso, um dos pilares listados pela educadora é a assertividade. “Ser assertivo é se expressar, dizer o que pen- sa, mostrar o ponto de vista, sentimento”. Algumas pessoas têm tendência a ser mais retraídas, isso é natural. • Ética: De nada adianta se conhecer bem, ser cordial, ter empatia e ser assertivo se faltar um dos pilares: a ética. “Se você não é ético, não conseguirá ter bons 33 APOSTILA DE ÉTICA relacionamentos. Em algum momento vai ter problemas. Essa máscara vai cair”. Cabe, também, citar os três tipos de relacionamento interpes- soal, segundo a mesma autora: Relacionamento Interpessoal Profissional As habilidades de relacionamento interpessoal geral- mente costumam ser trabalhadas e exigidas no ambiente profissional, ou seja, no conceito do relaciona- mento interpessoal profissional. Esta habilidade no mundo business é cada vez mais relevante, por isso vem crescendo o número de empresas e organizações que investem em palestras sobre esse assunto para os seus colaboradores. Prezar pela forma como os funcionários reagem às conexões estabelecidas com os colegas de trabalho mais próximos ou como eles lidam com os clientes traz lucro tanto para a instituição como para o funcionário. Isso acontece porque em um ambiente de trabalho mais harmonioso e fluído, onde os funcionários têm uma boa comunicação, há menores chances de erros e maiores chances de crescimento. Este tipo de relacionamento também está muito ligado à cultura organizacional que a empresa possui. Normalmente, o setor de recursos humanos cria critérios de compatibilidade entre a empresa e o funcionário antes dele ser contratado. Se a empresa valoriza o dinamismo entre hierarquias de trabalho, preza pelo lado criativo de seus colaboradores, novidade e empreendedorismo, as pessoas que serão contratadas terão perfis semelhantes: serão eficazes, práti- cas, dinâmicas e procurarão estabelecer um ambiente mais competitivo. Conhecendo o perfil predominante entre seus colabo- radores, fica mais fácil de gerir e estabelecer práticas que facilitem o convívio entre eles. Se há um consenso entre a equipe de como lidar com essas conexões, o processo de como o empregador irá lidar com seu time é facilitado. Relacionamento Interpessoal Pessoal O relacionamento interpessoal pessoal envolve a forma como lidamos com as pessoas mais próximas a nós. Familiares, cônjuges, amigos, namorado ou namorada, enfim, como encaramos as situações que se revelam nessas relações. 34 APOSTILA DE ÉTICA Relacionamento Interpessoal Virtual Já o relacionamento interpes- soal virtual é visto como algo mais recente. Mesmo que não estejamos presentes fisicamente, diretamente ao lado das pessoas, no momento de criar uma conexão virtual com alguém precisamos lembrar que, ainda assim, devemos seguir algumas regras das normas comportamentais que rege nossa sociedade. No ambiente de trabalho ou pessoalmente, as consequências de utilizarmos mal uma ferramenta digital pode ser altamente prejudicial, por isso ainda devem predominar o uso do respeito, empatia, responsabilidade, dentre outras diversas características morais que conduziriam a uma re- lação agradável e coerente. Nesse sentido, procure ser simpático também nos meios digitais e sempre leia o que escreveu antes de enviar. Responsabilidade Social A importância da Responsabi- lidade Social nas empresas é uma das maiores preocupações, inclusive, pelo impacto que tem na sociedade em geral e nas comunidades mais necessitadas. Após a Segunda Guerra Mundial, tiveram início mani- festações de preocupação com questões sociais, ambientais e o futuro das organizações no mundo. No Brasil, o discurso sobre as questões sociais cresceu a partir da reforma do Estado, no final dos anos 80, descentralizando ao mercado a responsabilidade pelo crescimento econômico e atendimento às necessidades sociais (ESTIGARA, 2009). O processo econômico decorrente da globalização, as transformações políticas e sociais mundiais, a inovação tecnológica e científica e os impactos das 35 APOSTILA DE ÉTICA mudanças climáticas têm ressaltado a necessidade de revisão dos atuais padrões insustentáveis de produção e consumo e dos modelos eco- nômicos adotados pelos países desenvolvidos e economias emergentes, como é o caso do Brasil. Este cenário tem conduzido Inúmeros debates sobre o papel dos indivíduos, das empresas e das instituições na promoção de práticas e atitudes que conduzam ao desen- volvimento sustentável. No âmbito das instituições (públicas, privadas ou do terceiro setor), o conceito utilizado é o de responsabilidade social ou responsabilidade socioambiental, visando a identificar e estruturar ações para atender as demandas da sociedade (TAVARES, 2012). As questões relacionadas à responsabilidade socioambiental são globais e, dependendo do contexto, sua compreensão por parte das empresase demais instituições pode acontecer de formas diferentes, levando-se em consideração os impactos e influências dos desafios econômicos, sociais e ambientais a serem enfrentados, e dos padrões in- ternacionais e nacionais adotados como referência para o desenvolvimento nos diferentes países (BRASIL, 2009). Empresas que investem em práticas de responsabilidade socioambiental elevam os níveis de desenvolvimento social, proteção ao meio ambiente e respeito aos direitos humanos, os quais se traduzem em uma gestão responsável. As cooperativas, assim como todas as organizações, se caracterizam como sistemas abertos, que interagem com o meio onde estão inseridas e que, com o decorrer do tempo, adotam práticas para se adaptar à realidade e manter a competitividade no mercado. A responsabilidade social e a ética estão presentes nos negócios desde o século XIX, mas foi a partir de 1919 que esses conceitos ganharam maior atenção como o caso Dodge versus Ford. O presidente e acionista majoritário da Ford, Henry Ford, contrariou os interesses dos demais acionistas John e Dodge, alegando objetivos sociais. Ele defendia a não distribuição de uma parte dos 36 APOSTILA DE ÉTICA dividendos, os quais reverteriam para uma série de ações, como investimentos na produção e aumentos de salários. No entanto, o julgamento foi favorável a Dodge, justificado pelo fato de que a organização existia para beneficiar os acionistas, e que o lucro não deveria ser utilizado para outros fins que não fosse em benefício dos mesmos. Nesse caso, o investimento em filantropia e na imagem da organização só poderia ser feito se beneficiasse o lucro dos acionistas. Barbieri (2011) menciona que as primeiras manifestações de gestão ambiental foram estimuladas pelo esgotamento de recursos, como a escassez de madeira para a cons- trução de moradias, fortificações, móveis, instrumentos ecombustível, cuja exploração havia se tornada intensa desde a era medieval. Nos anos de 1980, as indústrias começaram a ter uma mudança de pensamento e com isso entendeu que era preciso uma mudança nos seus processos de produção. Um dos pontos principais estava na minimização de resíduos e na reciclagem. Pode-se dizer que naquela década o empresariado começava a ver o tema Meio Ambiente com outros olhos. Nos anos de 1990, uma nova onda veio para mudar o cenário ambiental no mundo. Os códigos voluntários de conduta da família ISO 14000 tornava-se um diferencial para as empresas, não só no cenário nacional, mas também no internacional, além da responsabilidade com uma pro- dução mais limpa. Para minimizar os impactos, procuravam identificar as falhas e trabalhar pela melhoria contínua. O termo sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável trata, basicamente, de algo que devemos preservar aqui e agora, para garantir um futuro de qualidade às gerações que estão por vir. Nesse sentido, vejam algumas providências que são sugeridas pelo autor Marques, disponíveis em http:// marcusmarques.com.br/estrategias -de-negocio/10-praticas- sustentaveis-empresas/, para mini- mizar os impactos no meio ambiente: • Nada de copos descartáveis: Empresas sustentáveis incentivam seus colaboradores a eliminarem o uso de copos ou qualquer tipo de material descartável, pois, quanto mais eles são utilizados, mais lixo eles geram. • Economize papel, água e energia: Lembre-os de sempre pensarem duas vezes antes de fazerem uma impres- são, de fecharem a torneira quando não estiverem usando 37 APOSTILA DE ÉTICA a água e de desligarem as luzes e os equipamentos todos os dias ao final do expediente. • Invista na reciclagem: Espalhar pela empresa lixeiras para facilitar a separação do lixo orgânico do reciclável. • Utilize equipamentos econômicos: Ar condicio- nado, geladeira, impressora, computadores, entre outros equipamentos, podem ajudá- lo a economizar energia e tor- nar a sua empresa ainda mais sustentável. • Incentive o uso de transportes alternativos: Incentive o uso de transporte coletivo ou a irem trabalhar de bicicleta, caso seja possível. • Invista em treinamentos sobre sustentabilidade: Promova treinamentos sobre sustentabilidade para todas as suas equipes de trabalho, mostrando a elas a impor- tância de adotar práticas sustentáveis, não só no ambiente empresarial, mas também em casa e nas ruas das cidades onde cada um reside. • Crie projetos de preservação do meio ambiente: Crie dentro de sua empresa, com a ajuda de seus colaboradores, projetos de preservação do meio ambiente. Esta é uma maneira eficiente de ser ainda mais sustentável e de agregar valor diante de seus clientes e stakeholders. • Respeite as leis ambientais: Muitos países têm leis ambientais que precisam ser cumpridas não só por empresas, mas também pela sociedade como um todo. Neste sentido, é primordial que você conheça a lei, como ela funciona, bem como quais são suas obrigações enquanto empresário e empreendedor, para não ferir qualquer uma de suas normas. • Não polua: Essa é uma das formas que mais degrada o meio ambiente e que impacta diretamente no nosso modo de viver, pois, a partir do momento que uma empresa lança produtos químicos nos rios, por exemplo, ela está poluindo o lugar em que muitos animais vivem e, consequentemente, tiram o sustento de muitas famílias. • Utilize fontes de energia renováveis: Nos processos de produção da sua empresa, verifique a possibilidade de utilizar fontes de energia renovável, como energia solar, por exemplo, que já é uma realidade em muitas orga- nizações ao redor do mundo, e sua instalação deixou de ter um alto custo para a empresa que adota esta medida. • Deve se mencionar também as cores representativas da coleta seletiva de lixos: a. Azul: Papel E Papelão 38 APOSTILA DE ÉTICA b. Vermelho: Plástico c. Verde: Vidro d. Amarelo: Metal e. Preto: Madeira f. Laranja: Resíduos Perigosos g. Branco: Resíduos Ambulatoriais E De Serviços De Saúde h. Roxo: Resíduos Radioativos Para melhor compreensão, segue uma figura ilustrativa contendo as lixeiras recicláveis: Cabe ressaltar que na relação entre a ética privada e a ética pública, a organização não deve admitir comportamentos ilegais ou antiéticos, primando por um ambiente onde deve permanecer a ordem jurídica e o tratamento com urbanidade a todos. A responsabilidade social dos empre- gadores perante os empregados deve ser permeada por um tratamento digno, remunerando bem e cumprindo com todas as obrigações trabalhistas. As empresas, na medida do possível, devem apoiar as artes, os museus, a ópera, a orquestra sinfônica, os desportos, dentre outras, além de contribuir, financeiramente, com as causas filantrópicas e comunitárias. A afirmação mais radical da responsabilidade social das empresas talvez tenha sido a do prefeito da cidade de Nova Iorque, John Lindsay, na década de sessenta. Ele exortou as maiores empresas da cidade de Nova Iorque a adotar um gueto negro, garantindo aos habitantes da área condições mínimas para satisfazer as necessidades básicas, a educação e a conseguir emprego aquela comunidade. É importante ressaltar o Sistema de Gestão Integrado, também conhecido como SGI, que é basicamente um software que organiza as operações da empresa, tornando possível a execução de tarefas e processos internos. (fonte: www.magistech.com.br) É aplicado a organizações de todos os portes e não carece de certificação, tendo aplicabilidade no mais amplo 39 APOSTILA DE ÉTICA espectro setorial, indo desde o setor governamental até ONG’s e empresas privadas. Tem os se- guintes objetivos: • Redução de custos. • Controle das informações de dados. • Reduçãodo trabalho funcional. • Informações mais confiáveis. • Aumento de produção. • Controle à distância. • Total segurança. • Melhor comunicação interna. 40 41 APOSTILA DE ÉTICA 4. Ética e Moral O Problema da Ação e dos Valores Na vida diária, nos deparamos com situações em que temos de fazer escolhas e tomar decisões. Geralmente elas dependem daquilo que consideramos bom, justo ou correto. Quando isto acontece estamos diante de uma decisão que envolve um julgamento moral, a partir do qual vamos orientar nossa ação ou ações de outras pessoas. Aristoteles A característica especifica do homem em comparação com os outros animais é que somente ele tem o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e de outras qualidades morais. (Política, p.15) Sendo assim, o ser humano age no mundo de acordo com valores, isto é, a partir daquilo que tem maior importância ou é prioridade para ele segundo certos códigos morais. Isto significa que as coisas e as ações que um individuo realiza podem ser hierarquizadas conforme as noções de bem e de justo compartilhadas por um grupo de 42 APOSTILA DE ÉTICA pessoas em determinado momento histórico. Em outras palavras, o ser humano é um ser moral: um ser capaz de avaliar sua conduta a partir de valores morais. Distinção entre Moral e Ética Embora os termos moral e ética por vezes sejam usados como sinônimos, é possível fazer uma distinção entre eles. A palavra moral vem do latim mos, mor, “costumes”, e refere-se ao conjunto de normas que orientam o comportamento humano tendo como base os valores próprios a uma comunidade ou cultura. Como as comunidades humanas são distintas entre si, tanto no espaço quanto no tempo, os valores também podem ser distintos de uma comunidade para outra, o que origina códigos morais diferentes. A palavra ética por sua vez, vem do grego ethikos, “modo de ser”, “comportamento”. Portanto, etimologicamente os dois termos querem dizer quase a mesma coisa. No entanto, ética designa mais especificamente disciplina filosófica que investiga o que é a moral, como ela se fundamenta e se aplica, ou seja, a ética ou filosofia moral estuda os diversos sistemas morais elaborados pelos seres humanos. Busca compreender a fundamentação das normas e interdições (proibições) próprias a cada um e explicitar seus pressupostos, isto é, as concepções sobre o ser humano e a existência humana que os sustentam. Moral e Direito Eis uma pergunta que talvez você esteja se fazendo: “normas morais e normas jurídicas são a mesma coisa? Há diferença entre elas? Sabemos que as normas morais e jurídicas são estabelecidas pelos membros da sociedade e que ambas se destina a regulamentar as relações nesse grupo de pessoas. Há, então, vários aspectos comuns entre normas morais e jurídicas: • São imperativas, ou seja, devem ser seguidas por todos. • Buscam promover um 43 APOSTILA DE ÉTICA convivência melhor entre os indivíduos. • Orientam-se por valores culturais próprios de uma sociedade. • Tem caráter histórico, isto é, se modificam de acordo com as transformações historico- sociais. Existem , no entanto, diferenças fundamentais entre a moral e o direito: • Normas morais são seguidas a partir de convicções individuais e grupais enquanto normas jurídicas são cumpridas sob pena de punição. • Punição no campo do direito esta prevista na legislação enquanto no campo moral a eventual sanção varia por que depende da consciência moral do sujeito que infringe o código moral vigente da sociedade em que vive. A esfera da moral é mais ampla e abrange diversos aspectos da vida humana, enquanto a esfera do direito restringe-se a questões especificas nascidas da interferência de condutas sociais. O direito costuma ser regido pelo principio de que tudo é permitido, exceto aquilo que a lei expressamente proíbe. A moral não se traduz em um código formal, enquanto o direito sim. O direito mantém um relação estreita com o Estado, enquanto a moral não apresenta necessaria- mente essa vinculação. Moral e Liberdade Parece estranho vincular a ideia de norma moral com liberdade. Existe, no entanto, uma relação intima entre ambas. A consciência talvez seja a melhor característica que distingue o ser humano dos outros animais. Ela permite o desenvolvimento do saber e da racionalidade, que se empenha em separar o falso do verdadeiro. Além dessa consciência racional, lógica, o ser humano possui também consciência moral, isto é, a faculdade de observar a própria conduta e julgar (isto é, formular juízos) sobre os atos passados, presentes e as intenções futuras. Observemos que a palavra julgar vem do latim judicare, “avaliar”, “ponderar” – ou seja, 44 APOSTILA DE ÉTICA julgar é atribuir um valor, um peso para cada coisa que se apresenta. Nota-se ainda que é somente depois de julgar que a pessoa tem condições de escolher, entre as circunstancias possíveis, suas ações e seu próprio caminho para a vida. E é justamente essa possibilidade que cada individuo tem de escolher seu caminho, de construir sua maneira de ser e sua historia que chamamos liberdade. Liberdade e Responsabili- dade Sendo assim, se a consciência moral e a liberdade estão intimamente relacionadas, só tem sentido julgar moralmente a ação de uma pessoa se essa ação foi praticada em liberdade. Quando não se tem escolha(liberdade), quando se é coagido a praticar uma ação, é impossível decidir entre o bem e o mal (que é o que faz a consciência moral). A decisão, nesse caso, é imposta pelas forças coativas, isto é, que determinam uma conduta. Quando, porém, estamos livres para escolher entre esta ou aquela ação e fazemos uma escolha, tornamo-nos responsáveis pelo que praticamos e podemos ser julgado moralmente por isso. Observemos que o termo responsabilidade vem do latim respondere “responder”, e significa estar em condições de responder pelos atos praticados, isto é, de justificá-los e assumi-los. É essa responsabilidade, enfim, que pode ser julgado pela consciência moral do próprio individuo ou do seu grupo social. Transformações da Moral Dissemos que o sistema moral de cada grupo social é elaborado ao longo do tempo de acordo com os valores reconhecidos por aquele grupo como significativos para a convivência social. Num primeiro momento, esses valores são adquiridos pelos indivíduos como uma herança cultural. Cada pessoa assimila, desde a infância, as noções do que e bom e desejável, assim como do que e ruim, desa- conselhável ou repugnante. De acordo com esses valores, passará a 45 APOSTILA DE ÉTICA julgar como bom ou mau seu próprio comportamento e o dos outros. No entanto, é importante notar que, apesar desse caráter social, a moral tem também um aspecto pessoal, como salientaram vários filósofos. Ou seja, embora herdemos um conjunto estabelecido de normas morais, chega um mo- mento em nossas vidas em que podemos refletir sobre elas, aceita- las consciente e livremente ou rejeitá-las. Por isso dissemos anteriormente, na comparação entre normas morais e jurídicas, que o comportamento moral caracteriza- se essencialmente pela livre escolha do indivíduo. Isso significa que a liberdade é a base, a condição de possibilidade de conduta verdadeiramente moral. Em sua relação com a sociedade, o indivíduo pode reafirmar e consolidar a moralidade existente. Mas pode também negá-la e, dessa forma, contribuir para a transformação dessa moralidade. Assim, podemos caracterizar essa relação entre sociedade e indivíduo como dialética, ou seja, de