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Copyright © 2022 por Isabella Hypólito
Todos os direitos reservados.
 
Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios,
sem o consentimento do(a) autor(a) desta obra. Esta é uma obra de ficção.
Todos os nomes, lugares, acontecimentos e descrições são fruto da mente da
autora. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Texto
revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
 
Revisão
Evelyn Fernandes
 
Capa & Diagramação
Larissa Chagas
@lchagasdesign
 
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
PLAYLIST
EPÍGRAFE
PRÓLOGO
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
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20
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2
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33
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39
40
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
 
 
 
Seria essa uma história de amor impossível?
Hanna Carson acabou de entrar na faculdade de literatura, amante
dos livros e escritora assídua, ela sonha em viver um romance como os que
lê e escreve. Mas tem um porém. Seu mocinho dos sonhos é nada mais nada
menos do que o melhor amigo do seu irmão.
Liam Emerson tem um segredo, ele é apaixonado pela irmã mais
nova do seu melhor amigo. E agora que está estudando na mesma faculdade
que ele, frequentando os mesmos lugares e adentrando cada vez mais no seu
mundinho, será mais difícil do que antes esconder tudo o que sente.
Ela é irmã do seu melhor amigo!
Ele é apaixonado por ela há muito tempo e agora que a tem ao seu
lado, ele não a deixará escapar.
 
 
 
“Sempre Foi Você” foi um livro que apareceu pra mim em um
momento em que eu não sabia se realmente estava seguindo pelo caminho
certo.
Mesmo sendo um livro mais leve do que os meus outros
lançamentos, ele não foi o mais fácil de escrever.
Liam e Hanna tinham o seu jeito de contar sua história e até mesmo
de vivê-la. Muitas das vezes, quis colocar o que eu achava que iria agradar
a todos, mas esse foi o meu grande erro. Travei em muitas partes que eram
“fáceis” de se escrever, tudo porque não estava dando ouvidos a eles. Mas
assim que parei de colocar meu querer acima do deles, tudo fluiu.
Tem uma frase que Liam dirá a Hanna, que expressa tudo o que eu
sinto por esse casal.
Eles me salvaram de dias sozinha em uma cama, me fizeram rir
quando eu só queria chorar, e me fizeram amar cada segundo dessa
experiência nova.
Não esperem um livro com plots mirabolantes, porque isso não irá
acontecer.
Hanna e Liam têm uma história fácil e gostosa, e assim como
aconteceu comigo, espero que eles encantem cada um de vocês.
Boa Leitura!
 
 
 
 
 
Sempre Foi Você, tem uma playlist no Spotify, para acessá-la, posicione a
câmera do aplicativo no QR CODE abaixo.
 
 
 
 
 
“Mas confesso que a mim nada disso me encanta.
Prefiro infinitamente um livro.”
 
— JANE AUSTEN.
 
 
 
 
 
 
 
Para aquela que me deu coragem e
acreditou que eu poderia chegar até aqui.
 
 
 
 
 
— Parabéns para você...
Meus pais junto do meu irmão mais velho e seu melhor amigo,
Liam, bateram palmas e cantaram em um coro alto e desafinado demais,
formando uma algazarra pela casa.
— Viva a Hanna! — meu pai grita e assopra uma cornetinha que
solta um barulho bem alto e agudo.
Hoje estou completando meus 16 anos de vida, e esse ano eu acabei
escolhendo uma coisa diferente. Ao invés de uma festa gigante e super
elaborada como minha mãe queria, meu presente de aniversário será uma
viagem para um dos parques mais amados do mundo.
Disney World é meu destino.
Em uma semana, meus pais, eu e meu irmão mais velho, curtiremos
o dia mais mágico de toda a minha vida.
— Faça um pedido, meu anjo — mamãe pede, saindo do lado do
meu pai, e me envolvendo pelos ombros.
Olhando para a luz brilhante da vela espetada em cima do bolo de
morango, penso em algo que eu queira muito e não tenha conquistado
ainda.
Fico alguns segundos olhando para a pequena velinha branca, sem
saber o que pedir, quando a voz de meu irmão me chama a atenção.
— Peça logo, Bonequinha. Liam e eu temos uma partida de
videogame esperando a gente lá em cima — Aaron me apressa por conta da
minha demora.
— Não me apresse, Aaron — respondo irritada.
— Apresso, sim. — Cruza os braços com um largo sorriso em seu
rosto. — Parece uma lesma. É só um pedido de aniversário, Bonequinha.
Por que tem que demorar tanto assim? — Se finge de indignado.
— Irei me lembrar disso quando for a sua vez de assoprar as
velinhas. — Arqueio minha sobrancelha.
— Você não teria essa coragem.
— Ah, eu teria, sim — ameaço, olhando para as minhas unhas. —
Agora, para de me atrapalhar. — Volto minha atenção para o bolo.
— Vamos logo, que quero comer bolo — me interrompe mais uma
vez.
— Deixe-a fazer seu pedido em paz. 
Escuto o barulho seco de um tapa.
Levanto meus olhos do bolo, e ali está ele. Com seus lindos cabelos
bagunçados, olhos tão azuis e brilhantes, que tenho certeza de que o céu se
sente ofendido por não ter uma cor tão intensa assim.
Ah, e ainda tem as tatuagens que cobrem boa parte do seu braço
esquerdo.
Ele é lindo demais.
Um pequeno segredo sobre mim, eu sou completamente apaixonada
pelo melhor amigo do meu irmão desde os meus dez anos de idade, e ele
salvou o meu dia.
Uma menina tinha derrubado meu sanduíche no chão de propósito, e
Liam acabou dividindo o seu comigo.
Acabei me apaixonando por ele ali, e esse amor só foi crescendo ao
longo do tempo.
— Ai, seu cuzão! Isso dói — Aaron reclama, passando a mão em
sua nuca.
— Só tem um cuzão aqui, e pode apostar que não sou eu — Liam
rebate e abre um sorriso de canto.
— Filho da... — Antes que possa continuar sua frase, mamãe o
adverte.
— Aaron Black Carson, é melhor você melhorar seu linguajar,
mocinho, ou rasparei sua língua com a minha lixa de unhas. — Mamãe
espreme os olhos em sua direção, e já sinto minha língua arder em
solidariedade.
— Desculpe, mamãe, não irá se repetir.
E como um lindo anjinho que ele não é, bate os cílios em direção a
nossa mãe.
Mamãe ainda o encara por alguns segundos, antes de se voltar em
minha direção.
— Vamos querida, faça um pedido — Dona Jenny pede, apontando
para as velinhas.
— Isso, bebê da mamãe. — Aaron flexiona seus joelhos e repousa
as mãos ali. — Assopra as velinhas — afina a voz como se estivesse
falando com um bebê.
— Mãe, posso desejar ser filha única?
— Não, meu amor, infelizmente. — Minha mãe faz uma cara triste.
— Acha que já não tentei? — pergunta, prendendo o riso.
  — Vocês falam isso, mas sei que não vivem sem mim. — Aponta
para si mesmo. 
Isso eu tenho que concordar com ele.
Aaron é o melhor amigo que eu poderia ter em toda a minha vida.
Sem meu irmão ao meu lado, eu não sei o que seria de mim.
 Onde começa Hanna Julie Carson, termina Aaron Black Carson. 
— Será? — Sorrio.
— Sabe que sim. — Sorri de volta.
Volto meus olhos para o bolo e tento pensar em algo que eu tanto
queria para finalmente fazer esse pedido.
— Está com dificuldade esse ano, querida? — Papai perguntou,
sentando-se na cadeira à minha frente.
Assenti com a cabeça.
— Peça aquilo que mais quer na sua vida, Moranguinho. — Meu
coração dispara só de escutar sua voz.
Olho em sua direção e Liam abre um sorriso ladino, me fazendo
derreter debaixo da mesa.
Eu amo quando ele me chama assim.
Moranguinho...
— Certo. — Engulo em seco.
Fecho meus olhos, encho meus pulmões de ar e assopro as dezesseis
velinhas amarelas com espirais lilás, pedindo o que desde os meus 14 anos,
se tornou o que mais desejo na vida.
Eu desejo que Liam Davis Emerson me beije.
 
Pegamos nossos corações partidos, colocamos em uma gaveta
Todo mundo aqui era outra pessoa antes
E você pode querer quem você quiser
Meninos e meninos e meninas e meninas
Bem-vindo a Nova York
Ela estava esperando por você
Welcome to New York - Taylor Swift
 
 
 
 
— Hanna, querida. Anda logo ou vamos nos atrasar! — minha mãe
grita da ponta da escada.
— Já estou indo — respondo, olhando meu reflexo no espelho do
meu armário.
Hoje começa uma nova etapa na minha vida.
Em poucas horas, estarei me mudando para Yale University. Uma
das faculdades mais renomadas do país. Localizada em New Haven,
Connecticut, onde farei Literatura Inglesa.Sempre fui apaixonada por livros, não importava se eram os
clássicos ou os mais contemporâneos. Ler sempre foi minha paixão, assim
como escrever. Desde os meus quinze anos, eu crio mundos e personagens e
os publico em uma plataforma, usando um pseudônimo.
H. J Smberry
Bem sugestivo, não?
Desde que lancei meu primeiro livro, ganhei leitoras fiéis e alcancei
a marca de 10 mil seguidores em meu Instagram.
Escrevo sobre o amor de todas as formas possíveis. Adoro descrever
a relação amorosa deles com uma pitada de drama e bastante cenas quentes
para nos alegrar.
Sou completamente apaixonada pela escrita, então na hora de
escolher qual curso eu gostaria de fazer, eu não tive dúvidas.
Meus pais, meu irmão e minha melhor amiga, são os únicos que
sabem sobre minha vida de escritora.
Estou perdida em pensamentos, quando Follow You do Imagine
Dragons começa a tocar, indicando que minha melhor amiga está me
ligando.
Vou em direção a minha cama, pego o celular e atendo a ligação.
Antes que eu consiga dizer alguma coisa, Holly me cumprimenta.
— Como está minha garota preferida?
Gargalho com sua saudação.
— Nervosa, mas ao mesmo tempo animada — respondo, colocando
o celular no alto-falante, me livro do meu edredom branco e me levanto da
cama.
— Ah, sim! Eu sei o porquê desse nervosismo todo. — Sinto um
tom sugestivo em sua voz.
— Não começa, Holly — peço, me espreguiçando e juntando meus
cabelos formando um rabo de cavalo no alto da cabeça.
— Eu já comecei, minha querida. — Escuto o barulho de cobertas
se mexendo.
— Espera. — Solto meus cabelos. — Você ainda está deitada?! —
grito com ela, puta da vida.
— No momento, sim — responde na maior cara de pau.
— Holly Marie Saunders! — digo seu nome todo, já sabendo que
brigará comigo por conta disso. — Levante essa bunda gostosa da cama
agora mesmo e vá arrumar suas coisas. — Levo minhas mãos à cintura,
brigando como se ela estivesse na minha frente.
— Eu odeio quando me chama pelo nome todo — resmunga.
— Eu sei. É por isso mesmo que eu faço — digo, voltando a juntar
os fios dos meus cabelos em um rabo de cavalo e os prendendo.
— Enfim — suspira. — Estou me sentindo bem confortável nesse
momento para levantar. 
Escuto mais barulho de edredom.
— Holly, você me estressa tanto — respiro, apertando o dorso do
nariz, e desistindo de mandá-la levantar.
— Te amo também — responde.
Acabo sorrindo com suas palavras.
Conheci Holly Saunders há dois anos, quando estávamos prestes a
começar nosso segundo ano no colegial.
Ela tinha acabado de se mudar para a cidade e estávamos no nosso
segundo dia de aula, quando tivemos que fazer um trabalho juntas sobre
Shakespeare. Desde aquele dia, nos tornamos inseparáveis. Ela me ajudou
muito com a falta que meu irmão fazia por estar na faculdade.
Vivemos momentos incríveis uma com a outra.
E aqui estamos nós. Indo para a mesma faculdade, depois de
decidirmos que não poderíamos viver mais uma sem a outra.
— Mas você não me disse. Ansiosa para ver o seboso? — pergunta,
se referindo ao Liam.
— Por que insiste em chamá-lo assim? — Sigo até meu armário e
escolho uma roupa.
— Porque cai bem nele. — Mesmo que não esteja ao seu lado, sei
que deu de ombros. — Ele ficou dois anos sem falar com você, Hanna —
comenta.
— Eu sei — suspiro. — Ele só deve estar ocupado demais ou sei lá
— tento amenizar.
Holly é a única pessoa que sabe que ainda sou completamente
apaixonada pelo melhor amigo do meu irmão e do que aconteceu na noite
do meu aniversário.
— Ele poderia ter mandado ao menos uma mensagem, e você sabe
disso — rebate docemente.
Sem saber o que responder, acabo não dizendo nada.
Desde que Liam entrou na faculdade, eu não sei mais nada sobre
ele. Como Holly disse, não recebi uma mísera mensagem que seja. Eu tento
amenizar sua barra com Holly, colocando a culpa nos afazeres da faculdade
— o que pode ser verdade — mas nem nos Natais, Réveillons e meus
aniversários, ele diz algo.
Me pego pensando se o que aconteceu há dois anos atrás, o fez
recuar.
Vendo que fiquei sem argumentos, Holly muda o assunto.
— Como anda o novo livro? — pergunta, soltando um bocejo.
Essa vaca deve ter acordado agora.
— Estou dentro do prazo. Dois capítulos por dia é a meta —
respondo, pegando um vestido lilás simples e o estendendo na cama.
— Perfeito — comemora. — Precisamos conversar sobre a
publicidade dele depois.
— Sim, senhora — respondo como um soldado ao seu superior.
Holly é como se fosse minha empresária. Ela que dita o melhor
momento para se lançar um livro, como ele precisa ser divulgado e o que
devo fazer para alcançar novos leitores. Nada funciona sem a Holly dar o
seu aval, ela é como um anjo da guarda enviado para me guiar.
Ficamos jogando conversa fora enquanto me arrumo, quando a voz
de minha mãe nos corta.
— Hanna, venha logo tomar seu café.
— Já estou indo, mãe! — grito de volta e volto minha atenção para
Holly. — Preciso desligar. Minha mãe está prestes a me matar se eu não
descer logo — comento, tirando meu pijama com a estampa igual a que a
Taylor Swift usou no clipe de You Belong With Me.
— Beleza, nos vemos em poucas horas.
— Amo você. Até lá — me despeço
— Amo você. — Desliga.
Pego meu celular, abro no aplicativo de música, procuro minha
playlist preferida, e os acordes de Everything Has Changed onde a Taylor
canta com Ed Sheeran começa a ecoar pelo meu quarto, e sigo em direção
ao meu banheiro, antes que minha mãe me mate.
 
 
Admiro meu reflexo no espelho, e gosto do que vejo refletido à
minha frente, e aprovo a roupa que escolhi para o dia de hoje.
Perfeito. Estou quase pronta, só falta uma coisinha.
Abro a primeira gaveta da minha cômoda, à procura do meu
amuleto da sorte, que se encontra em meu porta-joias prata com flores
entalhadas. Assim que o encontro entre um emaranhado de brincos, colares
e pulseiras está ele, meu amuleto da sorte.
Achei você.
Puxo a pequena corrente de ouro branco, com um pingente de
morango e o fecho em volta do meu pescoço. E saudosa, fico admirando-o
por longos segundos.
Desde que eu o ganhei no meu aniversário de dezesseis anos, nunca
mais o tirei de meu pescoço. A não ser para tomar banho ou dormir.
Lembro do dia em que o ganhei, como se fosse hoje.
Era o meu aniversário, e eu estava sentada no balanço, que papai
pendurou para mim quando eu tinha sete anos, na árvore atrás da nossa
casa. Liam estava ali, sentado na grama gelada, perto de mim.
Se eu fechar os olhos, é possível voltar para aquele exato momento.
— Animado para a faculdade? — pergunto, sentindo meu coração
se apertar só de lembrar que não o verei todos os dias.
— Pode-se dizer que sim. — Arranca algumas graminhas do chão.
— Aaron não para de falar disso. — Dou um impulso maior. — De
todas as festas e mulheres que encontrará por lá.
Minha garganta se fecha só de imaginar Liam com alguma mulher a
tiracolo.
— É o sonho de todo garoto universitário. — Larga as graminhas
que arrancou e limpa as mãos no jeans preto.
Liam fica magnífico com qualquer roupa que vista, mas hoje ele
está do jeito que eu mais gosto, blusa do Red Hot Chile Pepper e uma calça
preta. Um bad boy completo.
— E o seu não?
Liam sorri, se levanta do seu lugar e eu repito seu movimento sem
pensar.
— Tenho uma coisa para você. — Pesca alguma coisa no bolso de
trás do seu jeans, mudando de assunto.
— O que é? — Fico na ponta dos pés, tentando olhar o que tem em
suas mãos.
— Você irá descobrir, mas só se virar de costas — pede, mas reluto
um pouco. — Por favor.
Assinto, me virando de costas para ele.
Não demora muito e sinto meus cabelos serem afastados para o lado
e o geladinho de uma joia tocar meu pescoço.
— Liam — ofego, olhando para baixo e segurando o pingente de
morango entre os dedos.
— Feliz aniversário, Moranguinho — deseja.
Me viro em sua direção e se eu já não fosse perdidamente
apaixonada pelo melhor amigo do meu irmão, eu me apaixonaria nesse
momento.
— Obrigada, ele é lindo — agradeço, com o pingente ainda entre os
dedos.
— Para não esquecer de mim quando eu estiver longe. — Leva seu
indicador até minha testae desce pelo meu nariz.
— Isso seria impossível.
Lembro que meu coração disparou tão forte em meu peito, que me
perguntei se ele podia escutar o quanto estava feliz e nervosa com aquele
momento, mas o que veio depois, foi o que fez meu coração explodir.
— Hanna, posso te perguntar uma coisa?
— Você acabou de perguntar — solto uma risada seguida dele. —
Mas pode fazer outra.
— Qual foi seu pedido de aniversário?
Sinto minhas bochechas arderem com sua pergunta.
— Por que quer saber? — Olho para o chão e chuto a grama de leve.
— Vai que eu posso te ajudar a realizá-lo.
Escuto o barulho da sua roupa mexendo ao dar de ombros.
Engulo em seco e penso em uma saída para isso.
— Bom... — Olho para tudo à procura de uma luz.
— Se não quiser me dizer — diz cauteloso.
— Não, está tudo bem. — Fecho meus olhos, respiro fundo e falo de
uma vez.
— Euqueriaumbeijoseu — falo tão rápido, que nem eu mesma me
entendo.
Meu coração parece que vai explodir dentro do peito de tanto
nervoso.
— O quê? Desculpa, Moranguinho, eu não entendi.
Fecho meus olhos mais uma vez, tentando acalmar meus batimentos
cardíacos, e repito o que disse antes:
— Eu queria um beijo seu como presente. — Não olho para cima
com medo de ser humilhada.
— Olha para mim, Moranguinho — pede docemente, mas não
levanto meu rosto em sua direção.
Sinto seus dedos gelados em meu queixo, levantando meu rosto em
sua direção, e ao focar meus olhos nos seus, encontro-os calmos e doces
direcionados a mim.
— Liam? — sussurro seu nome, quando vejo seus lábios vermelhos
descerem em minha direção e tocarem minha testa.
Apoio minhas mãos em seu peitoral malhado e fecho meus olhos
para aproveitar o momento. Não era o beijo que eu estava esperando, mas
está se saindo melhor do que o esperado.
Meu coração bate mais rápido do que as asas de um beija-flor. Seus
lábios são precisos e macios em minha testa e desejo que esse momento não
acabe nunca.
Agora com Liam tão perto de mim, consigo sentir seu cheiro
gostoso de bala de laranja, que sei que chupou antes de vir aqui para casa.
É meu cheiro preferido da vida toda.
Cheiro de Liam.
Como começou, o beijo termina e Liam levanta seu corpo voltando
para sua postura normal. Nós dois temos uma diferença de 15 centímetros
um do outro, e para beijar minha testa, Liam teve que se abaixar para me
alcançar.
— Feliz aniversário, Moranguinho — felicita e antes que eu possa
dizer alguma coisa, ele se vai.
O beijo não foi como eu queria, mas tinha sido tão mágico quanto.
E agora estou prestes a encontrá-lo novamente, depois de um longo
período sem vê-lo.
Como será que ele está?
Será que sente minha falta?
Bom, eu sinto e muita a falta dele, e mal posso esperar para
encontrá-lo.
 
 
— Esse lugar é maior do que pensei — Papai comenta, sentado no
banco da frente de sua picape.
— Minha nova casa — sussurro, deitando minha cabeça em meus
braços apoiados na janela.
Estamos na primeira semana de agosto, minhas aulas só começam
amanhã, mas o campus se encontra cheio com os novos e velhos estudantes,
que estão chegando para mais um ano letivo.
Tudo parece tão mágico.
A expectativa de começar uma nova etapa em minha vida, está
fazendo com que borboletas voem desgovernadas em meu estômago por
conta do nervosismo.
Ter entrado para Yale, é a maior realização da minha vida, e algo me
diz que esses quatro anos aqui, serão mágicos.
Estou perdida em meus pensamentos quando meu celular vibra em
meu bolso, sinalizando o recebimento de uma mensagem. Tiro meu celular
do bolso da minha jaqueta jeans, e ao destravá-lo, vejo uma mensagem de
Holly.
 
Holly Mo:
Onde você está??
 
Eu:
Estou no carro dos meus pais, chegando nos dormitórios.
E você?
 
Deito minha cabeça no encosto do banco, à espera de sua resposta, o
que não demora a acontecer.
 
Holly Mo:
Estou no nosso novo dormitório te esperando.
 
Eu:
Como você conseguiu chegar primeiro que eu, sendo que saiu
depois?
 
Holly Mo:
Só taquei minhas coisas na mala e vim.
Mas com certeza eu esqueci alguma coisa em casa e terei que
comprar depois.
 
Jogo a cabeça para trás, rindo de sua mensagem.
Minha melhor amiga não muda nunca.
 
Eu:
Você não muda.
Já estou chegando aí. Tenta não transformar nosso quarto em uma
zona de guerra.
 
Holly Mo:
Você acha mesmo que me atreverei a abrir essa mala?
Está arriscado de você me encontrar soterrada.
 
Não aguento com seu drama e começo a gargalhar.
— Está tudo bem, querida? — Papai segura uma risada contagiada
pela minha.
— Tudo, pai. É só a Holly sendo a Holly.
Já sabendo o que quero dizer, ele ri e volta sua atenção para a
estrada.
— Ela já chegou, querida? — minha mãe pergunta, se virando em
minha direção.
— Sim, já está nos esperando no dormitório — respondo, travando o
celular e o guardando no bolso.
— Nós também — papai volta a dizer, parando em frente a um
prédio de cinco andares com tijolos aparentes.
Saio do carro e fico admirando a construção à minha frente.
Meu sonho está só começando.
— Então… feliz? — mamãe pergunta, envolvendo seu braço em
volta dos meus ombros.
— Demais. — Viro meu rosto sorridente em sua direção.
— E eu estou por você estar realizando seu sonho. — Faz um
carinho em minha bochecha e a beija em seguida.
Minha mãe, Claire, é uma confeiteira de mão cheia que criou a mim
e a meu irmão com todo o amor que uma mãe pode oferecer a seus filhos.
Ela e meu pai se conheceram na faculdade quando ela tinha 21 e ele 23 em
uma festa qualquer.
Disseram que a amizade nasceu logo de cara, mascarando o amor de
casal que os dois sentiram um pelo outro.
Meu pai, Joseph, diz que sempre soube que era apaixonado por ela,
e quando se formou em mecânica automobilística, ele soube que não
poderia mais viver sem ela. Da amizade, veio o namoro, logo em seguida o
casamento e anos depois nasceu o primeiro filho do casal, para três anos
depois, eu nascer e fechar essa linda família que somos hoje.
Meus pais, assim como meu irmão, são tudo para mim. Eu não
existo sem eles.
— Vamos subir? — Papai se aproxima com minhas duas malas
grandes na mão.
— Certo — afirmo, me desprendendo de minha mãe e indo até o
carro pegar minha última bagagem.
Assim que pego tudo, fecho o porta-malas e vamos em direção ao
meu dormitório.
— Qual o número? — Dona Claire pergunta, subindo as escadas na
nossa frente.
— 18B, no segundo andar — respondo.
— Ainda bem que não precisamos subir mais degraus — meu pai
ofega pelo esforço, colocando minhas malas no chão.
Olho para ele e escondo uma risadinha.
— 18B, 18B. — Minha mãe procura meu dormitório, olhando para
as portas do lado direito. — Ah! 18B. — Se vira para a nossa direção. — É
essa aqui. —Mamãe aponta com o queixo para a porta à sua frente.
Meu pai e eu pegamos as malas do chão, e voltamos a caminhar até
lá. Estou fazendo um malabarismo para não deixar a caixa cair, enquanto
tento pegar minhas chaves, quando a porta se abre em um rompante.
— Achei que não chegaria nunca. — Minha melhor amiga me
recebe.
— Oi, Holly, que saudade de você também. Será que pode me
ajudar com essa caixa, antes que ela caia? — Aponto com o queixo para a
caixa em meus braços.
— Pareço sua empregada? — minha melhor amiga pergunta,
franzindo o cenho — zoeira. — Abre um enorme sorriso e pega a caixa dos
meus braços.
— Vaca — sussurro.
— Eu ouvi isso.
— Era para ter escutado mesmo — respondo, vendo-a colocar a
caixa em cima da cama vaga no lado direito do quarto.
Entro no quarto e vou direto em sua direção, abraçando-a forte, tem
duas semanas que não vejo essa garota. Ela estava de férias com os pais em
algum lugar com praia, não sei ao certo onde era.
— Sabe que odeio abraços, não sabe? — pergunta, dando leves
tapinhas nas minhas costas.
— Sabe que não dou a mínima, né? — pergunto, soltando-a.
— Por que sou sua amiga mesmo? — Inclina a cabeça para o lado.
— Sabe que ainda não sei.
Holly abre um grande sorriso.
— Senti sua falta.
— E eu a sua.
Temos nossas implicâncias, mas eu não vivo sem essa menina à
minha frente.
— Olá, Holly, como está, querida? — mamãe pergunta, entrando no
quarto.
— Oi, tiaClaire. Muito bem, obrigada. E a senhora?
— Bem, querida.
Minha melhor amiga e minha mãe começam a conversar sobre a
viagem que minha amiga fez e minha mãe diz a ela que mandou alguns
brownies para ela comer depois.
— São os meus preferidos — Holly responde.
— Por isso os mandei, querida. — Mamãe sorri em sua direção.
Termino de ajeitar minhas malas no meu cantinho do quarto, quando
papai chama minha mãe para ir embora.
— Temos que ir, meu bem — mamãe comenta.
— Mas já? — Sinto uma vontade gigante de chorar.
Não imaginei que me sentiria assim quando me visse longe dos
meus pais.
— Sim, Bonequinha, senão ficará muito tarde — papai diz.
Me jogo nos braços deles e os abraço fortemente.
— Eu amo vocês. — Escondo minhas lágrimas no peito do meu pai.
— E nós a você, meu amor — mamãe responde pelos dois.
— Eu não queria que fossem tão cedo.
Vou sentir tanta saudade deles.
Nunca fiquei mais do que dois dias longe dos meus pais, e agora
ficarei meses sem vê-los.
— Estaremos a uma ligação de distância. — Papai coloca o dedo em
meu queixo e levanta meu rosto. — Se precisar de algo, chame seu irmão,
está bem?
— Está bem — afirmo.
— E fique de olho nele para mim e o avise que não podemos ficar
para vê-lo por conta do horário.
— Aviso, sim. — Assinto com a cabeça.
— Sentirei saudades, querida — mamãe diz, beijando minha testa.
— Divirta-se, conheça pessoas novas, saia com alguns garotos, estude
bastante, mas não fique presa dentro desse quarto para sempre. Você é
jovem, e precisa viver tudo o que essa faculdade tem para oferecer.
Faz um carinho gostoso em meu rosto, e com a garganta embargada,
fecho meus olhos para sentir melhor, gravando seu toque e seu cheiro
comigo.
— Concordo com tudo o que sua mãe disse. — Abraça minha mãe
pelos ombros. — Menos a parte dos meninos.
A vontade de rir acaba sufocando a vontade de chorar.
— Pare com isso, Joseph. A faculdade tem que ser aproveitada de
todas as maneiras — mamãe rebate, apoiando as mãos no quadril.
— Ela pode aproveitar de outra maneira. Minha bebê não precisa de
meninos em volta dela. — Me puxa para seus braços, e seu cheiro de café e
açúcar me embriaga.
Vou sentir falta desse cheiro todas as manhãs. 
— Não se preocupe, papai. Ficarei longe dos garotos — digo, vendo
um grande sorriso crescer em seus lábios.
— Essa é a minha menina.
Comemora com minha fala, enquanto discretamente olho para
minha mãe e pisco um dos olhos, enquanto ela balança a cabeça levemente
e sorri em nossa direção.
Mais uma coisa que sentirei falta.
As provocações deles.
— Eu amo vocês.
Volto a abraçá-los mais uma vez, sentindo meu coração apertar, e as
lágrimas voltarem a se empoçar em meus olhos.
— Nós também amamos você, querida.
Respondem em coro.
— Tchau, papai.
— Tchau, Bonequinha, cuide-se.
Só assinto com a cabeça.
— Tchau, Holly — se despedem dela.
— Tchau, senhor e senhora Carson.
Enxugo minhas lágrimas e respiro fundo.
Assim que eles fecham a porta, me jogo na cama, e me imitando,
Holly faz o mesmo ao meu lado.
— Não chore, eles ficarão bem sem vocês. — Me abraça pelos
ombros.
— Eu sei. — Minha voz sai um pouco embargada. — É que nunca
ficamos tanto tempo longe.
— Vai ficar tudo bem — garante. — Que tal um filme? — pergunta.
— Pode ser — repondo, um pouco mais animada. — O que quer
assistir? — Mal me deixa falar e já grita.
— Marvel!
Nunca conheci uma pessoa tão apaixonada pela Marvel quanto
Holly.
— Perfeito. Enquanto você escolhe, eu vou até a máquina de
salgadinho, que vi no corredor do primeiro andar — aviso, já indo em
direção a porta.
— Eu quero M&M — pede, sem olhar em minha direção.
— Está bem — alongo as palavras, já fora do quarto.
Desço o lance de escadas, indo até o hall do prédio, onde a máquina
fica. Paro à sua frente, coloco quatro moedas para formar o valor necessário
para a compra dos salgadinhos e digito o valor equivalente aos produtos que
quero.
A mola preta que prende o pacote gira lentamente, me fazendo bufar
com a espera.
Estou à espera da boa vontade da máquina, quando meu celular
vibra no bolso do meu casaco.
— Alô? — pergunto quando atendo.
— A bonequinha já esqueceu do seu irmão preferido.
— Aaron. — Me apoio na máquina. — Você é meu único irmão e eu
nunca esqueceria você.
— Certo, Certo. Como você está, Bonequinha, chegou bem? —
pergunta preocupado.
— Estou ótima — conto a ele. — Já me instalei no meu dormitório
com a Holly — comento.
— Papai e mamãe já foram? — pergunta.
— Sim. Eles pediram desculpas, mas se ficassem para te ver, iam
pegar a estrada tarde demais — digo a ele.
— Tudo bem, maninha, depois eu ligo para eles — responde por
cima do barulho.
— Está certo — afirmo com a cabeça, mesmo que não possa ver. —
Onde você está? Está uma barulheira tremenda.
— Ah! O técnico chamou o time para um treino surpresa —
comenta.
— Mas os jogos não começam só em fevereiro — pergunto, vendo
minha batatinha caindo e parando na abertura da máquina.
— Sim, mas ele achou melhor começarmos mais cedo os treinos —
me conta.
Aaron faz parte do time de hóquei da faculdade, os Arctic Fox. Meu
irmão joga na posição de defesa. Nunca consegui assistir a um jogo dele ao
vivo, mas ele sempre deu um jeito de gravar e nos mandar seus melhores
momentos.
— Sinto muito, eu acho — jogo as palavras por falta do que dizer.
— Tudo bem. — Mesmo que eu não o veja, sei que está dando de
ombros. — Queria te ver, Bonequinha, estou com saudades.
— Quanto a mamãe te pagou para dizer isso? — Me abaixo para
pegar o pacote de batatinhas e os chocolates.
— Não o bastante — gargalha.
— Idiota — respondo, me virando em direção as escadas.
— Mas, então. O que acha de me encontrar amanhã na cafeteria da
faculdade? — pergunta, depois da sua crise de riso. — Quero te ver antes
das suas aulas amanhã.
Pondero um pouco. Terei que acordar bem mais cedo amanhã do
que eu pretendia, mas pelo meu irmão, tudo vale.
É então que  acabo aceitando o convite.
— Está ok, eu topo — confirmo, entrando no meu quarto.
— Beleza, nos vemos amanhã às 7:15, Bonequinha. Vou mandar o
endereço por mensagem — comenta.
— Está bem. Te amo, irmão — me despeço.
— Também te amo, Bonequinha. — E desliga em seguida.
Coloco meu celular na cama e entrego os chocolates a Holly, que
abre espaço para mim em sua cama.
— Estava combinando algo com seu irmão? — Enfia vários
chocolates coloridos na boca.
— Sim. Vamos à cafeteria às 7:15. — Abro minhas batatinhas. —
Quer ir? — Coloco uma batata na boca.
— Não, esse momento é de vocês.
Assinto com a cabeça e começo a prestar atenção no novo filme do
Doutor Estranho.
 
Amor, eu estou dançando no escuro
Com você entre meus braços
Descalços na grama
Ouvindo nossa música favorita
Perfect - Ed Sheeran
 
 
 
 
— Aaron, estou livre! — grito para o meu melhor amigo, que olha
para mim, e joga o pequeno disco em minha direção.
Paro o disco com o taco e impulsiono meu corpo em direção ao gol
adversário. O frio da arena é tão intenso, que parece que mil agulhas
pequenas e fininhas espetam o meu rosto.
Estou a poucos metros do gol, quando um corpo dá um encontrão
com o meu, me fazendo derrapar um pouco no gelo e acabar perdendo o
disco.
— Porra, Ryan — grito com meu companheiro de time, que está
jogando no lado contrário hoje.
— Disponha, Emerson — rebate o disco para a frente e não vejo
onde vai parar.
Mostro o dedo do meio e o desgraçado sai rindo de mim.
Estou começando meu penúltimo ano na faculdade de Yale e meu
segundo ano no time de hóquei da faculdade. Jogo na lateral, basicamente
sou um dos caras que tem a responsabilidade de fazer os gols e levar o time
dos Arctic Fox para a vitória.
— Essa foi por pouco, Emerson — o treinador, Tom Foster, grita em
minha direção. — De novo, meninos. — Apita e patina para o final da
arena.
Respiro fundo, tentando acalmar meu coração da adrenalina de
correr de um lado para o outro, me preparo para começar tudo de novo, e
quando solto o ar, uma fumacinha branca sai dos meus lábios.
— Sem moleza, Emerson — o treinador fala em minha direção.
— Já estou indo — sussurro.
Sem esperar por maisuma bronca, impulsiono o corpo para a frente
e volto para o treino.
Esse ano, nosso treinador prometeu nos levar a exaustão completa, e
eu acho que ele já está começando a fazer isso. As aulas ainda nem
começaram, e esse já é nosso segundo treino depois das férias. Tudo isso
porque perdemos o campeonato ano passado.
A vitória era para ser nossa, mas o nosso capitão Thomas Creevey,
perdeu a cabeça quando o babaca do outro time disse umas merdas sobre
sua namorada para irritá-lo. É claro que ele acabou conseguindo o que tanto
queria, que nosso capitão se descontrolasse e partisse para cima dele. Sua
expulsão nos fez perder de 3x2 para a NYU.
Horas depois, o apito do treinador ecoa por toda a arena, nos
avisando do final do treino de hoje.
— Cara, ele vai arrancar a minha bunda fora. — Simon, um dos
meus melhores amigos, vem caminhando ao meu lado para o vestiário.
— Não só a sua. — Começo a tirar meus protetores. — Tenho
certeza de que a pancada, que o Ryan me deu na altura da costela, ficará
roxa e dolorida por um bom tempo.
Minhas costelas estão latejando para um cacete. Nem quero ver o
estrago que o filha da puta fez aqui.
— Para de reclamar, Emerson. — Ryan se pendura em meus ombros
e entra no vestiário comigo. — Foi só um encontrão. — Me solta e se senta
em um dos bancos, rindo.
— Filho da puta. — Jogo minha joelheira nele, rindo.
Jogar hóquei é isso. Sair todo fodido do rinque e ainda rir com o
babaca que te fodeu.
Vou em direção ao meu armário, me jogo no banco que fica ali na
frente e começo a tirar meus patins.
— Parecia que tinha um cacto no rabo do treinador hoje. — Aaron
se joga no banco ao meu lado e começa a tirar seu equipamento de
proteção.
— Me pergunto se ele não está todos os dias com ele enfiado na
bunda. — Desamarro os patins e os tiro dos meus pés. — Que alívio! —
Mexo meus dedos para fazer o sangue circular por ele.
— Estou todo dolorido, cara. — Movimenta os ombros para cima e
para baixo, tentando aliviar a tensão.
— Eu só quero me enfiar na minha cama e não sair mais dela. —
Simon Kipling, outro de meus melhores amigos, passa nu em direção aos
chuveiros.
— Esqueceu que nossas aulas começam em quarenta minutos? —
Olho em sua direção.
— Quem disse que precisamos estudar mesmo? — pergunta
indignado. — Eu só quero jogar hóquei, cara.
Dou de ombros sem dizer nada.
Simon é um cara negro com mais ou menos 1,88 de altura. Seu
cabelo é cortado no estilo pompadour[1], o que acaba deixando o cara mais
bonito do que ele já é. Simon é estudante de direito, não por sua vontade, é
claro. Seu pai o obrigou a isso e mesmo a contragosto, ele aceitou, mas seu
verdadeiro sonho é se tornar um jogador profissional, e eu tenho plena
certeza de que ele conseguirá. Simon é o melhor jogador que já tive o
prazer de jogar.
Que ele não me escute dizendo isso, ou vai se sentir até a próxima
reencarnação.
— É por isso mesmo que tem que estudar — Brian, um ruivo que
está sendo treinado para entrar no lugar dos jogadores que se formaram ano
passado, comenta. — E se der merda e você acabar se machucando? —
Levanta uma hipótese.
— Sou gostoso demais para me machucar. — Encara Brian, abrindo
um sorriso de lado.
— E o que você ser gostoso tem a ver com a conversa, Simon? —
Brian pergunta, inclinando sua cabeça para o lado.
— Nada, só é bom sempre relembrar desse fato — responde, e todos
presentes no vestiário, começam a tirar uma com a sua cara.
Querendo me livrar logo da tensão por conta do treino, levanto e
vou me arrastando até o chuveiro, abro o mesmo, e acabo gemendo em
contentamento quando a água bate nos meus músculos tensionados.
Essa é a melhor sensação do mundo.
Meus ombros tensos começam a relaxar em contato com a água, e
fecho os olhos para aproveitar melhor cada segundo.
— O que vai fazer depois daqui? — Ainda com a cabeça na água,
viro meu pescoço em direção a Aaron.
— Preciso ir até a secretaria ver umas coisas. — Pego o sabonete e
começo a passar pelo meu corpo. — E você? — pergunto, devolvendo a
barra de sabonete para o seu lugar.
— Irei encontrar a Hanna na cafeteria. Ela chegou ontem de tarde.
Meu coração dispara ao saber que Hanna está aqui.
Aaron não me disse nada que ela estaria vindo para Yale.
Da última vez que perguntei por ela, ele me contou que ela estava
bastante animada e ainda estava esperando as respostas das faculdades.
Nosso ano letivo foi tão tumultuado, que esqueci de perguntar para
onde ela iria.
E agora ela está aqui, a uma virada de esquina de mim.
Um segredo sobre mim?
Eu sou completamente louco pela irmã do meu melhor amigo.
Tentei por muito tempo, sufocar o sentimento que vinha nascendo
dentro de mim.
Até tentei me afastar não mantendo contato.
Bem idiota essa atitude. Eu sei, mas acabou que não adiantou de
nada. Quando vi que não estava mais surtindo efeito algum, eu
simplesmente desisti e comecei a sentir.
Me lembro exatamente como e quando comecei a olhar diferente
para Hanna.
Faziam três meses que eu e minha namorada da época, tínhamos
terminado nosso relacionamento de dois anos. Percebemos que naquele
momento em que estávamos prestes a nos formar no colegial e entrar na
faculdade, nossas vidas iriam seguir caminhos diferentes.
Então, um dia, Aaron me pediu para acompanhar Hanna até uma
loja de roupas, para que ela comprasse algo para ir a alguma festa qualquer.
Me lembro de ela ter entrado no provador como nossa pequena
Hanna, mas quando aquelas cortinas se abriram, percebi o quão linda ela
estava, e o quão rápido meu coração estava batendo ao vê-la daquela
maneira.
Fiquei com aquela imagem na minha cabeça por dias.
Achei que estava enlouquecendo.
Até que finalmente admiti para mim mesmo que estava apaixonado
por ela. O que foi uma grande merda se parar para pensar.
O porquê? Bom, número um, ela tinha dezesseis anos e eu estava a
poucos passos de fazer dezoito e ir para a faculdade. Número dois — e o
mais importante deles — não sei se ela sente o mesmo por mim. E para
fechar, ela é a irmã mais nova de Aaron, e no manual do melhor amigo, está
escrito em letras maiúsculas e em negrito, que você não deve desejar a irmã
do melhor amigo, nunca na sua vida.
Vida fodida.
— Que saudades da minha Moranguinho — sussurro.
— Disse alguma coisa? — Aaron pergunta, desligando o chuveiro.
— Nada demais — desconverso. — Não sabia que ela viria para cá. 
— Acabei me esquecendo. — Dá de ombros, desligando o chuveiro
e saindo do box.
Seguindo seu exemplo. Desligo o chuveiro e saio do box com uma
toalha enrolada na cintura, outra em meus ombros, e vou em direção ao meu
armário.
— Quer dizer então que sua irmãzinha está na área? — Levanta as
sobrancelhas sugestivamente.
Lá vem merda.
Abro meu armário e começo a me arrumar o mais rápido que
consigo.
— Ela não é para o seu bico, Kipling? — Aaron aponta o dedo em
riste para ele. — Na verdade, para nenhum de vocês. — Olha em volta.
— Me apresente para ela, Aaron. — Brian abre um sorriso que
convence todas as garotas daqui a tirarem as calcinhas em segundos. — Ela
nunca achará um homem tão gostoso quanto eu. — Desce a mão pela
barriga malhada.
A raiva pelos comentários começa a crescer em mim.
Eu sei que eles estão zoando com a cara de Aaron, mas só de
imaginar minha Moranguinho nos braços de algum desses babacas, a raiva
vai tomando conta do meu corpo como uma doença.
— Eu acho melhor ficarem longe da Hanna, seus cuzões. — Estou
com tanta raiva dos comentários desses idiotas, que minha voz sai mais
parecendo um rosnado.
— Estou sentindo cheiro de ciúmes, Emerson? Sabe que irmã de
melhor amigo é proibido — Oliver, um dos caras que mais detesto,
comenta. — Tome cuidado, Carson, ou seu melhor amigo pegará sua
irmãzinha para ele. — Como eu detesto esse cara.
— Vai se foder. — Viro em sua direção.
— Quem sabe eu não faça isso com a novata? Ela ainda não passou
na minha cama. — Abre um sorriso asqueroso e segura o pau em um gesto
sugestivo.
— Seu desgraçado!
Tudo acontece rápido demais.
Em um segundo, Aaron está do meu lado e no outro ele está
socando a cara do playboyzinho demerda com vontade.
Aaron não dá chance de Oliver se recuperar do soco que dá em seu
olho e já está desferindo outro que acaba pegando em sua boca e fazendo
seu lábio inferior abrir e sangrar.
— Retira o que você disse agora mesmo, caralho! — Aaron grita
tanto que as veias de sua garganta pulsam.
— Me solta, seu filho da puta! — Oliver grita, tentando se
desvencilhar e acertar um soco no rosto do meu melhor amigo.
Querendo evitar que o técnico entre aqui e sobre para o Aaron, vou
até eles e tento — mesmo que a contragosto — tirá-lo de cima de Oliver.
— Aaron, já chega. — Tento apartar, mas com a raiva que meu
amigo está sentindo é quase impossível.
— Bennett, Simon, me ajudem aqui, porra — grito para nossos dois
melhores amigos, que vem até mim, e conseguem tirá-lo de cima do
desgraçado.
— Chega, Aaron! — Bennett grita, prendendo-o contra o armário.
— Deixa esse babaca para lá, cara. Você vai acabar se ferrando por isso. —
Ele tenta se soltar, mas Bennett o segura no lugar.
— Essa merda não vale isso  — Simon diz para ele.
Aaron bufa como um animal bravo, olhando em direção a Oliver.
Se não fosse por nós três na sua frente, já estaria atracado com ele
mais uma vez.
Meu melhor amigo é a pessoa mais calma que conheço. Sempre
rindo de tudo e todos. É sempre difícil vê-lo estressado, mas parece que o
otário do Oliver conseguiu. Sabe aquele babaca de faculdade que fica se
vangloriando de quantas meninas já ficou ou deixou de ficar? Que consegue
nudes delas e mostra para os amigos para se exibir mais ainda? Ele é
exatamente assim.
Infelizmente, não podemos tirar esse escroto do time. Filho de um
dos patrocinadores desse lugar, Oliver faz o que quer.
— Isso tudo por que disse que pegaria sua irmã? — Oliver levanta
sorrindo e mostrando os dentes cheios de sangue. — Não está mais aqui
quem falou. — Pega uma toalha branca e limpa o sangue do supercílio. —
Mas se ela quiser. Quem sou eu para negar?
O ódio que cultivo desse babaca cresce em mim e quando percebo,
meu punho já acertou seu rosto em cheio e o vejo cair no chão em seguida.
— Liam! — Simon grita por mim.
Não dou ouvidos a ele e vou em direção a Oliver, paro à sua frente e
com o dedo em riste, digo:
— A próxima vez que falar ou sequer pensar na Hanna, essa surra
que levou, vai ter sido brincadeira de criança. 
— Que porra está acontecendo aqui? — O treinador abre a porta
gritando, e olhando para todo o caos que fizemos.
Tem algumas toalhas espalhadas pelo chão, há alguns bancos caídos,
outros arrastados, mochilas e equipamentos misturados. O vestiário está um
verdadeiro caos.
— Então, posso saber o que aconteceu aqui? — o treinador pergunta
mais uma vez.
Ninguém o responde e todo o lugar cai em um silêncio
ensurdecedor.
— Não foi nada, treinador. — Thomas, nosso capitão, toma à frente.
— Oliver disse umas besteiras. — Olha com repreensão para o colega de
time. — Mas já está resolvido.
O treinador olha para Oliver e para Aaron que ainda está preso por
Bennett.
— Parece que o senhor Mackenzie não fez isso sozinho. — O
técnico olha para ele.
— Mas ele provocou — Brian responde.
— Eu não quero saber quem começou o quê. — Se vira para todos
nós. — Só deem um jeito nesse vestiário agora mesmo.
— Certo, treinador.
Respondemos em um coro, vendo-o sair do vestiário.
— Pode me soltar, Bennett. — Escuto Aaron pedir, quebrando o
silêncio.
Bennett vai se afastando devagar, e quando percebe que não tem
mais perigo de ele partir para cima de Oliver, o liberta de vez.
Meu melhor amigo vai até o banco virado ao contrário, coloca-o no
lugar e começa a juntar as roupas sujas, levando até o cesto de roupas.
Seguindo seu exemplo, começamos a arrumar tudo juntos, e em poucos
minutos, o vestiário está completamente arrumado.
Ainda sem falarmos nada, volto até meu armário para me vestir.
Primeiro, fecho o botão da calça que deixei aberto, visto uma blusa preta de
mangas compridas e coloco minha jaqueta — branca com detalhes em azul
— do nosso time.
— Vamos embora, cara — sussurro no ouvido de Aaron, que está
lavando o pequeno corte no canto esquerdo do seu lábio inferior, na pia ao
lado dos armários. — Hanna está te esperando — lembro-o.
Meu amigo assente com a cabeça, vai até seu armário, veste uma
blusa vermelha e sua jaqueta do time por cima.
— Espero vocês lá fora — aviso a Bennett e Simon, que estão à
nossa espera.
Seguimos em direção a saída e ficamos os esperando — perto da
minha picape preta — e eles não demoram a aparecer.
— Como você está? — Simon pergunta a Aaron.
— Tranquilo. — A raiva em sua voz, já se abrandou um pouco.
— Você se livrou de uma — Bennett comenta, pegando um cigarro
de sua jaqueta.
— Ele bem que mereceu — respondo.
Só de imaginá-lo chegando perto da Hanna, eu perco a cabeça.
— Ele é um idiota — Simon fala de braços cruzados. — Desculpe,
se minha brincadeira desencadeou isso tudo. — Coça a cabeça sem graça.
— Está tudo bem, cara, você é meu irmão. Sei que era só zoação  —
Aaron o tranquiliza, e ele assente com a cabeça.
— Prometo que cuidarei dela como se fosse minha irmãzinha —
Simon afirma.
— Já estou vendo-a mandando e desmandando em nós quatro. — O
irmão de Hanna cai na gargalhada.
Ela nos terá na mão, fácil, fácil.
— Estamos ferrados — Bennett entra na brincadeira. — Aaron, que
horas vai encontrá-la?
— 7:15 — responde, olhando no relógio.
— Então, vamos logo, ou você irá se atrasar. — Bennett envolve seu
pescoço com o braço e sai o puxando.
Assim como Simon que chegou do nada em nossa vida. Bennett
chegou para completar nosso quarteto de amizade.
A história de Bennett e Simon é bem parecida com a minha e do
Aaron. Melhores amigos que estudaram a vida inteira juntos e acabaram
passando para a mesma faculdade.
Bennett é um homem de 1,90 com cabelos e olhos negros e uma
seriedade que só é amenizada quando está conosco.
A amizade desses três babacas acabou fazendo com que minha vida
acadêmica tenha se tornado mais tolerável.
Estou prestes a começar meu terceiro ano do curso de música. Um
curso que meu pai não acha digno o suficiente para o filho de um médico
renomado e conhecido por todos, como o senhor Mace Emerson é. 
— Então, quando conheceremos sua irmã? — Simon pergunta, me
acordando de meus pensamentos.
— Eu estou indo encontrá-la agora. Querem ir? — Ele oferece.
— Não — Simon discorda, estendendo a palavra não. — Esse é um
momento de irmãos.
— Mas terá uma festa hoje na Gamma Nu. Você poderia levá-la —
Bennett sugere.
— Não sei se ela vai aceitar. Hanna é muito reservada, mas posso
tentar. — Aaron pega o celular, digita algo e o guarda no bolso da jaqueta
em seguida.
— Beleza. — Bennett assente com a cabeça.
Uma excitação gostosa nasce dentro de mim, só de imaginar revê-la.
Como será que você está, Moranguinho?
Simon, Bennett e Aaron mudam de assunto para nosso jogo de
hóquei, quando recebo uma mensagem de minha melhor amiga Genevieve.
 
Genna:
Onde você está?
Vamos ao instituto hoje?
 
Eu:
Saindo do treino.
Sim, mas hoje chegarei um pouco mais tarde.
Sem tempo vago hoje.
 
Conheci Genevieve no final do meu primeiro ano de faculdade.
Estava andando distraído pelos corredores, quando acabei
esbarrando em alguém e derrubando o suco que estava na sua mão, em sua
roupa.
No primeiro momento, quis me matar por sujá-la toda, logo quando
estava atrasada, mas consegui me desculpar, e convencê-la a aceitar outro
suco no dia seguinte.
Nossa amizade é daquelas que começou do nada, mas acabou se
tornando indispensável.
 
Genna:
Encontro você lá, então.
Beijos.
 
Eu:
Até mais tarde.
Beijos
 
Bloqueio o celular, e o guardo no bolso da minha calça jeans,
voltando minha atenção para eles.
— Esse ano nós conseguiremos o campeonato — Bennett garante,
jogando o cigarro no chão e o pisando em seguida.
— Se depender do treinador e seus treinos antecipados — Simon
responde, alongando o pescoço, e o virando de um lado para o outro.
— Ele detona nossas bundas se perdermos esse também — Aaron
responde em um suspiro cansado.
— Bom, eu sei que esse campeonato está no papo — garanto,
olhandopara cada um deles. — Preciso ir para casa pegar meus materiais,
nos vemos depois. — Começo a andar de costas.
— Não aguento mais essa faculdade, cara. — Os braços de Simon
recaem em desânimo. — Eu quero ser jogador, nada mais do que isso.
Bennett responde algo que não escuto e começa a andar em minha
direção, sendo seguido pelos outros.
 
Diga-me que você confia em mim e
Me beije e me abrace, sim
Eu faria qualquer coisa por você
Você só precisa me amar
Nervous - The Neighbourhood
 
 
 
 
Meu despertador toca exatamente às seis e meia em ponto, mas seus
serviços acabaram se tornando inúteis para mim no momento.
Depois que nos entupimos de besteiras, assistimos a coletânea
completa do Doutor Estranho. Holly apagou em sua cama. Já eu, não
consegui pregar meus olhos a noite todinha.
Não sei se pela ansiedade de começar uma nova etapa em minha
vida ou por conta do meu reencontro com o Liam.
Um reencontro que mesmo que ele não queira, acabará acontecendo
em algum momento.
Será que esse afastamento quis dizer isso?
Liam não quer mais saber de mim?
Oras, pare com isso, Hanna. Ele é melhor amigo do seu irmão, só te
deu a porcaria de um cordão, o qual você não tira desde que o ganhou, e
beijou sua testa em seu aniversário.
Nem para ser um selinho. 
Penso desanimada.
Por que sou assim? Penso em mil e uma situações e a que se
concretiza é a única que não imaginei.
Eu tenho é que me acalmar, levantar, tomar meu banho e ir ao
encontro do meu irmãozinho.
Só de pensar em Aaron, meu coração já se aquece e se abranda de
uma maneira inexplicável. Meu irmão e eu somos muito ligados. Um fato
curioso para dois irmãos de idades diferentes e com gostos diferentes, mas é
assim que somos. Só eu sei a saudade que senti dele quando se mudou para
a faculdade. Não tê-lo ao meu lado na hora que eu queria e precisava, foi a
pior parte daquele ano.
Eu sempre fui uma menina reservada, que não tinha muitos amigos
e Aaron acabava suprindo essa necessidade para mim. Até o dia em que
uma garota completamente oposta a mim apareceu para completar minha
vida.
Olho para Holly, que ainda está dormindo, mesmo depois do
despertador ter tocado, e sorrio em agradecimento.
Cansada de enrolar, afasto as cobertas de cima de mim e vou em
direção ao pequeno armário que divido com Holly e começo a procurar por
uma roupa confortável para o dia de hoje.
Fico na dúvida entre uma calça jeans de lavagem escura, com uma
blusa lilás e uma jaqueta — também jeans — e um macacão lilás com
estampa de nuvens.
Fico parada na frente do armário por um tempo e acabo optando
pelo macacão. Com a roupa já escolhida, vou em direção ao banheiro e
começo minha higiene matinal. Primeiro, prendo meus cabelos em um
coque alto no topo da cabeça, e parto para minha sessão de skin care —
ninguém quer uma espinha no seu primeiro dia na faculdade — depois
escovo meus dentes e quando término essa parte, tiro meu pijama azul-
marinho com estampa de nuvens e entro no box para enfim tomar um banho
relaxante.
A água quente cai em meus ombros, me fazendo relaxar, então
aproveito esse tempo gostoso, e pego meu sabonete com essência de
morango e começo meu banho.
Assim que termino, começo a vestir primeiro minhas lingeries, meu
macacão e saio do banheiro acompanhada do vapor que se formou lá dentro
pela água quente.
— Meu Deus, parece que estou no desenho dos ursinhos carinhosos.
— Holly olha em minha direção, ainda com cara de sono.
— Bom dia para você também. — Vou até a pequena cômoda que
fica no meio de nossas camas e pego minha escova para pentear meu
cabelo.  — Não é porque o seu armário é todo preto, que o meu tem que ser
sem graça. — Olho para ela.
— Preto não é sem graça. — Senta-se na cama.
— Eu acho. — Dou de ombros, soltando meus cabelos e começo a
penteá-los.
— Você não sabe de nada. — Se levanta, indo em direção ao banho
e se trancando em seguida.
Gargalho levemente de sua resposta e continuo a desembaraçar
meus cabelos até que fiquem bem soltinhos. 
Estou terminando de me arrumar quando Holly sai do banheiro
enrolada em uma toalha — adivinhem a cor? Sim, preta — e vai em direção
a sua parte do guarda-roupa.
— Já está saindo? — Começa a procurar algo para vestir em seu
armário monocromático.
— Irei tomar café com meu irmão. — Pego minha bolsa, que fica
pendurada em um guarda-chapéu ao lado da porta. — Te avisei ontem.
— Ah, verdade! O irmão gostoso que não conheço. — Tira uma
calça jeans preta e a joga na cama.
— Como sabe que ele é gostoso? — Contraio as sobrancelhas.
— Bom, a junção do seu pai com a sua mãe só faria um espécime
rara de pessoa absurdamente gostosa — comenta, se virando para mim. —
Você já olhou para si mesma? — Me olha de cima para baixo.
— O que tem eu? — Desço o olhar, analisando o que consigo.
— Você é gostosa, Hanna Carson, e se eu não te amasse como uma
irmã, eu tentaria a sorte. — Abre um sorriso sarcástico.
Essa é minha melhor amiga sem nem um pingo de filtro, e esse é um
dos motivos pelo qual eu a amo tanto.
— Você é impossível. — Dou um tapinha de leve em seu ombro,
rindo.
Rindo para mim, Holly dá de ombros e começa a procurar uma
blusa para vestir.
— Bom, como sei que odeia café. — Começo a mexer na minha
mochila, à procura da minha carteira e a encontrando. — Eu irei logo, antes
que me atrase.
— Beleza. — Se vira de novo com uma blusa de manga comprida
na cor preta. — Nos vemos mais tarde — se despede, pegando sua roupa e
entrando no banheiro novamente.
— Até mais tarde! — me despeço também e vou de encontro ao
meu irmão.
 
 
O sino toca anunciando minha chegada na cafeteria e começo a
estudar o lugar.
À primeira vista, o que posso dizer desse lugar, é que ele é
magnífico, as mesas estão espalhadas uniformemente, dando um ar
aconchegante e acolhedor. Os proprietários fizeram uma
cafeteira/biblioteca, com um pequeno espaço para tomar seu café e ler um
bom livro, coisa que farei muitas e muitas vezes. O lugar é incrível e o
cheiro de café torrado que exala no ar é o toque final para deixar tudo
perfeito.
Acho que encontrei meu lugar preferido nesse campus.
Olho em volta à procura do meu irmão e o encontro sentado numa
mesa perto da janela.
Meu coração se enche de saudade e sem esperar mais, vou em
direção a ele pé ante pé, e como ele não me viu ainda, decidi voltar a nossa
velha brincadeira do quem é?
Tampando seus olhos com minhas mãos, pergunto:
— Quem é a única menina que você deixa jogar vídeo game?
Quando éramos pequenos, gostávamos de brincar de adivinha quem
é, mas depois de um tempo, as charadas foram ficando chatas, então
começamos a incrementar.
— É a minha Bonequinha. — Segura minhas mãos com as suas e
deita sua cabeça para trás para me ver.
— Olá, irmão. — Sinto meus olhos marejarem de saudades.
— Olá, minha Bonequinha. — Abre um lindo sorriso em minha
direção.
Sem esperar mais, dou a volta na cadeira, me jogo em seus braços, e
o abraço com toda a minha força, matando a saudade de um mês inteiro sem
vê-lo.
Mamãe e eu tivemos que viajar no final das minhas férias para que
ela cuidasse do meu avô que quebrou a perna quando subia a escada para
trocar uma lâmpada. Nossa avó materna morreu há três anos por conta de
um câncer no útero, que se espalhou por todo seu pequeno corpo. Fizemos
de tudo para que ele viesse para cá ou pelo menos nos deixasse contratar
uma enfermeira, mas ele foi irredutível quanto a isso, e quando acabou se
acidentando, mamãe e eu fomos para cuidar dele.
Quando eu voltei para casa há uma semana atrás, Aaron já tinha
vindo para a faculdade.
— Que saudades, irmãzinha. — Me aperta mais forte, me fazendo
sentir o quanto ele está cheiroso hoje.
— Eu digo o mesmo. — Me afasto e encaro seus olhos castanhos
iguais aos do nosso pai.
Diferente de mim, que puxei os cabelos loiros de minha mãe, Aaron
tem os cabelos castanhos que ele mantém em um corte despojado, com as
laterais bem baixinhas e o topo mais comprido e arrumado com uma boa
pomada.
Um segredo sobre ele.
Aaron odeia que mexam em seus cabelos.
Meu irmãozinho pode estar indo para qualquer lugarque for, que
seu precioso cabelo estará impecavelmente arrumado. Sem falar em suas
roupas, sempre alinhadas e estilosas. Aaron sempre tem um estilo para cada
lugar que ele vá.
Fazer o quê? Meu irmãozinho gosta de se vestir bem.
Encaro meu irmão dos pés a cabeça, e quando olho para o seu rosto,
percebo um hematoma em seu lábio inferior.
— O que aconteceu com você? — pergunto, um pouco preocupada e
apontando para seu lábio.
— Nada demais. Me machuquei nos treinos. – Olha para os lados, e
percebo na hora que está mentindo.
O que você andou aprontando, hein, irmãozinho?
Estou pronta para perguntá-lo, quando muda de assunto.
— Como foi na casa do vovô? — pergunta, me mandando sentar e
sinalizando para um garçom.
— Foi bom. — Me sento no banco acolchoado à sua frente. — Você
conhece o vovô. — Dou de ombros. — Sempre teimoso demais e querendo
fazer tudo sozinho.
— Ele não aprende nunca. — Sorri, sacudindo a cabeça de um lado
para o outro. — Mas e você? — Se recosta no encosto atrás de si. — Como
você está? Está mais bonita desde a última vez que te vi.
— Só tem um mês, Aaron. — Pego um guardanapo, transformando-
o em uma bolinha e jogo em sua direção.
— E ficou mais linda do que antes. Estarei ferrado para afastar todos
os urubus de cima de você. — Solto um suspiro.
— Como se eu desse bola para algum menino.
— Ainda apaixonada por ele? — pergunta, e só assinto com a
cabeça.
Uma semana antes de ele vir para a faculdade, acabei contando que
estava apaixonada por um garoto qualquer. Claro que não disse que era seu
melhor amigo, Liam, mas desde que meu irmãozinho observador percebeu
que eu estava — palavras dele, não minhas — sonhadora. Imaginou que
meu pequeno coração de adolescente tinha sido enlaçado.
Bom, ele foi.
— Ele é um idiota — xinga.
— Não fale assim dele — peço. — Você nem o conhece.
— E nem preciso. — Dá de ombros. — Só preciso saber que ele é
um idiota por rejeitar você.
Ah! Esqueci de dizer. Meu irmãozinho acha que o garoto em
questão quebrou meu coração e que fiquei arrasada demais com o ocorrido,
e por isso prefiro não falar sobre ele.
Essa é a primeira mentira que conto para ele, e eu me sinto traindo
Aaron de alguma maneira.
Um bolo incômodo cresce em minha garganta.
— Vamos deixar isso para lá — muda de assunto ao ver minha
expressão.
Assinto com a cabeça, ainda me sentindo mal.
— Animada para a faculdade?
Estou prestes a responder, quando o garçom para ao nosso lado.
— Bom dia, já sabem o que vão escolher?
— Eu quero um frappuccino de morango e dois muffins de mirtilo,
por favor — peço.
— Certo, e o senhor? — pergunta, se virando para Aaron.
— Um café preto, uma porção de panquecas, ovos mexidos com
bacon e um suco de laranja. — Fecha o cardápio.
Olho para ele surpresa com o tamanho do seu pedido.
— Certo, se precisarem de mais alguma coisa, é só me chamar.
— Qual é o seu nome mesmo? — pergunto.
— Sam — responde, sorrindo.
— Obrigada, Sam. — Sorrio em sua direção.
— Fiquem à vontade. — Nos deixa e vai em direção a cozinha.
Volto meu olhar para Aaron.
— Para onde toda essa comida vai?
— Sou grande e treino muito. Preciso me manter de pé. — Sorri de
lado.
— Isso mesmo. Você é atleta, Aaron — lembro a ele. — Não pode
comer um terço do que você pediu.
Meu irmãozinho suspira.
— Minha dieta para o campeonato começa semana que vem. — Só
estou aproveitando o último dia de liberdade sem ter o Simon enchendo
meu saco para manter a dieta em dia.
— E você como uma boa formiga que é, adora viver de comida
regrada? — pergunto com sarcasmo.
— Exatamente. — Aponta o indicador em minha direção.
Acabo rindo dele.
— Pobre Aaron. — Faço carinho em sua mão. — Mas me conta
sobre como é sua vida aqui no campus — peço.
— Ah, o que posso dizer? — Pensa um pouco e começa a contar sua
rotina.
Aaron está fazendo faculdade de arquitetura. Desde muito pequeno,
ele gosta de construir estruturas. Sempre foi muito habilidoso com
ferramentas, e para provar isso, acabou construindo uma casa de bonecas
para mim com quinze anos de idade.
Depois de dizer como seu curso está indo, começa a contar sobre os
jogos de hóquei, e como é apaixonado por estar no rinque com os amigos,
sentindo a adrenalina do momento. Aaron disse que mesmo amando o
hóquei, não é uma profissão que ele seguiria como carreira.
— Simon é o melhor jogador que já vi — termina de contar.
— Mal posso esperar para conhecê-lo — comento. — Ele parece ser
maravilhoso.
— Ele é um porre, isso sim. — Sorri e eu o acompanho.
— E o Bennett?
— O Bennett é bem sério e acaba assustando as pessoas por conta
disso, mas é um cara incrível. Você vai gostar dele, ele quer ser escritor
também — conta.
— É sério? — pergunto animada.
— Sim, mas é complicado.
— Por quê?
— Algo relacionado ao pai dele, não sei ao certo.
Assinto com a cabeça, me preparando para perguntar sobre ele.
— E o Liam, como ele está?
— Perturbando meu juízo como sempre. — Sorri e eu o acompanho.
Tomo coragem para perguntar mais sobre ele, mas antes que eu o
faça, nossa comida chega.
— Bom apetite. — O garçom oferece, depois de nos servir e nos
deixar comer.
— Obrigado — agradecemos em um coro e começamos a comer.
Pego meu frappuccino, dou um grande gole e fecho meus olhos para
aproveitar o gosto de cada um dos ingredientes.
— Mas e você? — Abro meus olhos. — Animada para o seu
primeiro dia na faculdade? — Bebe um gole de café.
— Me sinto um pouco nervosa, mas ao mesmo tempo, estou
bastante ansiosa — conto a ele, sentindo minha barriga revirar só de me
lembrar.
— Espero que arrume bastante amigos.
— Já eu, não. — Nego com a cabeça.
— Hanna — me adverte.
— Estou falando sério. Não quero passar pela mesma coisa que no
ensino médio. — Me ajeito na cadeira, sentindo um bolo se formar em
minha garganta pelas lembranças do passado. — Além disso, eu tenho a
Holly. — Foco minha atenção no canudo fincado em meu copo, um pouco
chateada.
Meu irmão ainda se preocupa com esse meu jeito reservado com as
pessoas, mesmo eu dizendo a ele que estou bem e feliz com o jeito que
vivo. Bom, pelo menos é o que eu tento passar a ele.
— E como ela é? — Levanto minha cabeça em sua direção. — A
Holly.
Fico aliviada com a mudança de assunto.
Assinto com a cabeça.
— Ela é incrível. — Mordo meu muffin e quando termino de
mastigar, continuo a contar: — Você vai gostar de conhecê-la.
— Ela é bonita? — pergunta interessado.
— Aaron — advirto, rindo dele.
— O que foi? Se você não tivesse fobia de redes sociais, eu não
precisaria perguntar isso para você. — Pega um bacon e o come.
— Idiota. — Chuto de leve sua canela por de baixo da mesa. — Mas
sim, ela é bonita.
— Já gostei dela. — Abre um sorriso cafajeste e voltamos a comer,
e eu aproveito esse tempo bom com meu irmão.
 
 
Estamos no caixa pagando nossa conta quando Aaron chama minha
atenção.
— Hoje terá uma festa na fraternidade Gamma Nu. Que tal você e
sua amiga darem uma passada lá? — pergunta, recebendo o troco e o
guardando em sua carteira.
— Eu ia pagar — aviso.
— Deixa disso — rejeita com a mão. — Então, vocês vão? —
pergunta de novo, caminhando em direção a saída.
— Falarei com Holly e mandarei uma mensagem para você
avisando.
— Perfeito.
Saímos da cafeteria e paramos a poucos passos da saída. O
movimento à nossa volta já está intensificado agora que o horário para as
aulas está próximo.
— Adorei tomar café com você, Bonequinha.
— Digo o mesmo. — Abraço meu irmão e beijo abaixo do seu
queixo.
— Não esqueça de me mandar mensagem mais tarde. — Se afasta
depois de beijar minha cabeça.
— Tá bom.
— E por favor, vá a essa festa. Não quero você reclusa em casa —
pede.
— Pode deixar.
— Certo, agora tenho que ir. — Belisca minha bochecha de leve.
— Até mais — me despeço de Aaron e vou em direção ao prédio de
literatura para mais um dia de aula.
 
Estou sentado na minha cama, conversando com telas o dia todo
Mas eu não consigo dizer o que está na minha mente
Mas eu me pergunto, eu me pergunto
Se você sentiria o mesmo
Face to Face - Ruel
 
 
 
 
 
Toco os acordes de Baby do cantor Justin Bieber e olho para ascrianças que dançam alegremente à minha frente.
— De novo, tio Liam, de novo! — Julliet, uma linda garotinha negra
com trancinhas, pede animada.
— Prometo cantar na próxima, pestinha. — Coloco o violão preto
de lado e faço um carinho em seu rosto bochechudo.
— Ah, mas vai demorar demais. — Faz um bico fofo e cruza os
braços em frente ao pequeno corpo.
— Não seja uma bebê chorona, Julliet — Thomas, um garotinho
loiro de sete anos, argumenta. — O tio Liam sempre volta.
— Eu não sou um bebê! — fala.
— Mas está parecendo. — Thomas leva a pequena mão em frente a
boca e esconde uma risada.
Julliet faz menção de ir para cima de Thomas, mas a impeço.
— Thomas não provoque a Jude. — Me viro para a pequena cópia
do meu melhor amigo. — E a senhorita. — Agora viro para ela. — Não
pode bater em seus amigos.
— Desculpa, tio Liam.
Os dois pedem em um coro, com suas bochechas coradas, e olhos
tristes pela pequena bronca.
— Não fiquem assim. — Puxo os dois para um abraço e começo a
fazer cócegas neles.
As outras crianças à nossa volta, vendo a bagunça que estamos
fazendo, correm em nossa direção e se jogam em meu colo.
Sempre fui um cara que ama crianças, e depois que Genna me
mostrou esse lugar, meu amor por eles só aumentou de tamanho.
Conheci esse lugar há oito meses atrás, quando Genna disse que
estavam precisando de pessoas para fazer gincanas com algumas crianças
no lugar onde por muito tempo fora sua casa. Genna não precisou insistir
muito, e em menos de uma semana, eu era um dos voluntários que ajudam a
fazer com que a estadia dessas crianças aqui, não seja tão traumática pelo
abandono de seus progenitores.
— Que bagunça é essa que vocês estão fazendo aqui, hein? — A
voz da coordenadora do instituto soa atrás de mim.
— O tio Liam estava fazendo cosquinhas.
Samantha, uma pequena ruivinha sem os dois dentinhos da frente, se
desprende da gente e vai até Amanda.
— Parece que a brincadeira está boa aqui, então. — Entra na sala
sorrindo.
— É o que parece. — Me levanto, ajeitando minha blusa.
— O senhor vem brincar na próxima semana? — Julliet puxa a
barra da minha camisa.
— E vai cantar mais Justin Bieber? — Uma outra garotinha se junta
a amiga no interrogatório.
— Ah, não. Chega dessas músicas de meninas — Thomas reclama
um pouco e uma pequena discussão sobre o que cantarei na próxima vez
começa.
— Tá bom, sem briga, crianças — Amanda tenta acalmar os
ânimos. — O Liam vai cantar músicas para todos da próxima vez.
Olha em minha direção, esperando uma confirmação.
— É isso aí, crianças — confirmo com a cabeça, e gritos eufóricos e
infantis ecoam pelo lugar.
— Certo, certo. Que tal vocês irem até a cantina comer alguma
coisa? — Amanda sugere e as crianças saem em disparada para comer algo,
e começo a arrumar minhas coisas para ir embora.
— Como vai, Liam?
— Bem, e você, Amanda?
— Muito trabalho pela frente, mas está tudo bem. — Sinto um tom
cansado em sua voz.
— Está acontecendo alguma coisa, Amanda? — Ajeito a alça da
capa do meu violão no ombro.
— Estamos precisando de contadores de histórias para nossos idosos
— comenta.
— Ninguém aceitou o convite? — pergunto.
— Não. — Nega com a cabeça.
Esqueci de comentar. O instituto não é só um lugar para as crianças,
mas também para os idosos, que suas famílias ou não tem tempo ou não
querem cuidar. Amanda e sua esposa Sara, montaram esse lugar para que
fosse um refúgio para eles, e cada uma fica em uma ala do prédio de dois
andares na periferia de Nova York.
O lugar vive a base de doações e dos voluntários — assim como eu
— que ajudam como podem.
— Você não conhece alguém que aceite ser voluntário? — pergunta,
me tirando de meus pensamentos.
— Não. — Peço desculpas através do olhar. — Mas se quiser, posso
perguntar na faculdade, não sei — sugiro, mesmo sabendo que um bando de
universitários não vão aceitar “perder” seu tempo aqui.
— Obrigada, Liam. Se você conseguir, será de grande ajuda.
— Prometo que procurarei — respondo e me despeço de Amanda.
Saio do instituto e vou em direção ao meu carro, que deixei no
estacionamento.
Estou quase chegando em frente a minha picape preta, quando
Genna me grita da porta do prédio.
— Já está indo para casa? — pergunta, se aproximando.
— Sim. Vai rolar uma festa na Gamma Nu e o Aaron está me
enchendo o saco para ir a tarde toda. — Mostro a tela do celular com várias
notificações não lidas do meu melhor amigo. — Quer ir? — pergunto, já
entrando no carro e fazendo um gesto para que Genna faça o mesmo.
— Pode ser. Não tenho nada mais interessante para fazer mesmo. —
Dá de ombros, entrando no carro e já mexendo no som.
— Odeio quando faz isso — digo, saindo do estacionamento e indo
em direção ao seu dormitório.
— O quê? — Se faz de desentendida, ainda mexendo no som.
— Mexer no meu som. — Olho rapidamente para os seus dedinhos
nervosos e volto minha atenção para a estrada.
— Você sabe que eu não estou nem aí pra isso. — Dá de ombros e
continua a trocar de música.
Suspiro puto da vida.
— Dá para deixar em uma música logo? — mando, assim que ela
muda a música pela terceira vez.
— Ah, tá bom, seu chato — se rende, e deixa Outside do Zyan tocar.
— Obrigado — agradeço, voltando minha atenção para o trânsito.
— Então? — Se ajeita no banco.
— Então, o quê?
— Já viu sua Moranguinho? — pergunta, e só a menção do nome de
Hanna, faz meu coração disparar.
— Ainda não.
— E posso saber por quê?
— Não tive tempo e nem motivos para ir até ela, ainda. —
Aquiesço. — Aliás, ela acabou de chegar à universidade.
— Mas já faz uma semana que ela está aqui.
— E o que isso tem a ver? — pergunto.
— Já deu tempo suficiente de ir vê-la.
— E dizer o quê? Oi, Hanna, desculpe esses dois anos que não
mandei uma mensagem sequer, mas eu acabei fazendo uma coisa que não
devia. Me apaixonar por você.
— Não seria nada mal. — Coça a pontinha do nariz. — Sinceridade
em primeiro lugar.
— Eu nem sei se ela sente alguma coisa por mim, que não seja
fraternal, Genna.
— Conquiste-a, ué. Um cara gato que nem você? Duvido que ela
resista.
— Como se fosse fácil — sussurro, mantendo minha atenção focada
na estrada.
Genevieve descobriu que sou apaixonado por Hanna quando eu
estava caindo de bêbado chamando por ela, no dia do seu aniversário de
dezessete anos no banheiro de um bar. No dia seguinte, eu tinha uma
ressaca fodida e uma melhor amiga curiosa me esperando.
— Não fuja dela e do sentimento que tem por ela, Liam. Sabe que
não adiantará de nada — comenta, depois do meu silêncio.
Não digo nada e só continuo a dirigir.
 
 
Estaciono o carro um pouco distante da fraternidade da Gamma Nu
e sigo em direção a entrada da fraternidade feminina.
Radioactive do Imagine Dragons está tocando nas alturas quando
piso no jardim do casarão pintado de branco e azul. O gramado já está
lotado de pessoas bebendo e fumando, e pelo cheiro enjoativo, eu deduzo
que seja maconha.
Nada de novo para universitários.
Trago uma última vez o cigarro preso entre meus dedos, o descarto
na rua e piso para apagá-lo de uma vez, indo em direção ao casarão. Entro
na casa e se lá fora já estava cheio, aqui está completamente lotado. O calor
dos corpos juntos uns aos outros, é tão sufocante e abafado que começo a
transpirar. É então que decido ir à procura de algo para beber.
Vou caminhando em direção a cozinha, sou cumprimentado por
alguns caras do time e algumas meninas pelo caminho, retribuo com um
aceno de cabeça e aproveito para pegar uma das minhas balas preferidas no
bolso da minha calça.
Chego à cozinha e diferente dos outros cômodos, ela está mais
vazia. Caminho em direção a bancada — que está lotada de copos e
garrafas vazias de cerveja e alguns salgadinhos em pratos de plástico na cor
branca, que eu não me atreveria a pegar — e pego uma cerveja no cooler
vermelho que deixaram ali, assim que engulo minha bala sabor laranja.
Bebo um gole da minha cerveja, e quando vou dar outro, uma voz
conhecida me chama.
— Olha só quem apareceu. — Madison envolve meu pescoço com
seu braço. — Achei que não apareceria, garotão. — Planta um beijo
estalado emminha bochecha.
— Por que achou isso? — Envolvo sua cintura com meu braço.
— Estava demorando demais para seu lindo corpinho aparecer por
aqui.
— Vou pensar que está apaixonada por mim, Maddy. — Sorrio,
puxando um fio do seu cabelo de leve.
— Você teve sua chance, garotão. — Abre um lindo sorriso de
dentes alinhados e brancos. — E a jogou fora sem hesitar.
Madison é uma linda ruiva com pequenas sardas espalhadas por seu
lindo rosto.
Maddy e eu fazemos o mesmo curso. Nossa química foi instantânea
e até rolou de ficarmos algumas vezes, mas nunca conseguia chegar aos
finalmentes. O interesse sexual foi embora, mas nossa amizade acabou
nascendo e se fortificando.
Desde então, não vivo mais sem essa garota me perturbando por aí.
— Você está maravilhosa hoje — elogio, olhando-a dos pés à
cabeça.
Maddy está usando um vestido vermelho sangue justo ao corpo, que
vai moldando seus seios pequenos e seu quadril largo que deixam qualquer
cara completamente maluco por ela e destaca sua pele branca e seus cabelos
ruivos.
— Você também não está nada mal. — Me olha da mesma maneira.
Estou usando uma calça jeans escura e uma blusa de manga
comprida na cor preta com os punhos puxados até meu cotovelo, deixando
minhas tatuagens à mostra para todos verem.
— São seus olhos, querida. — Dou mais uma golada na cerveja em
minha mão. — O que tem pra fazer hoje por aqui? — pergunto, olhando em
volta.
Todas as festas que tem aqui, as meninas fazem algum tipo de jogo.
— Ouvi dizer que tem beer pong.
— Que tal uma partida? — pergunto.
— Claro, só não vá chorar quando perder pra mim. — Raspa sua
unha em meu queixo.
— Vai sonhando.
Maddy olha em minha direção, sorrio e vamos para o jardim.
— Viu o Aaron? —  pergunto, olhando para todos os lados.
— Ele está lá fora jogando também — conta, me puxando em
direção ao jardim.
Maddy e eu saímos pelas portas duplas, no fundo da cozinha, e
quando pisamos no jardim, Aaron está gritando e obrigando o time
perdedor a virar as doses de tequila restantes.
— Quem está a fim de jogar agora!? — grita, olhando para todos os
lados à procura de possíveis vítimas.
— Nós vamos! — Maddy levanta a mão e me leva em direção a
mesa azul de pingue-pongue.
— Você vai beber, lindinho? — Aaron pergunta, espremendo os
olhos em minha direção.
— Deixarei na conta da Maddy hoje.
— Ei! Isso não estava combinado. — Cruza os braços emburrada.
— Não confia na minha mira, doçura? — pergunto, bebendo o
último gole da minha cerveja.
— Confio — afirma, assentindo com a cabeça.
— Certo, vocês agora só precisam achar os adversários de vocês —
Aaron comenta, pegando uma garrafa de tequila e enchendo os copos
vermelhos à nossa frente com a bebida.
— Beleza, quem serão nossos adversários? — Maddy pergunta,
olhando em volta
— Nós duas — uma voz rouca e sensual diz atrás de mim.
Quando me viro, uma linda morena vestida de preto dos pés a
cabeça me lança um olhar de desafio. É uma bela mulher que está à minha
frente, mas o que realmente chama a minha atenção, e faz meu coração
parar, é a mulher ao seu lado.
— Moranguinho — ofego.
— Oi, Liam — me cumprimenta, abrindo um lindo sorriso.
Não imaginei que a veria tão cedo assim. A surpresa foi tão grande,
que meu coração bate enlouquecido dentro do peito, e acabo tendo a certeza
de que me manter longe dela esses dois anos, não adiantou de nada para
meu coração tolo.
Ela está belíssima, vestida com um casaco de lã lilás, uma calça
jeans de lavagem clara, tênis da mesma cor da blusa e os cabelos caindo
como ondas douradas por seu colo, mas o que realmente detém a minha
atenção nela, é o pingente de morango que está em seu pescoço.
Cara, eu estou tão ferrado.
— É melhor fechar a boca, garotão, ou vai acabar entrando uma
mosca — Maddy sussurra em meu ouvido, me acordando dos meus
pensamentos.
— Não estou de boca aberta. — Endireito minha postura, tossindo
para tirar o pigarro da minha garganta.
— Estava, sim. — Passa o polegar em meu queixo, como se
limpasse minha baba.
— Não sei do que está falando — desconverso.
— Se você diz. — Bate no meu ombro e vai para a frente da mesa
de pingue-pongue.
Acompanho minha amiga com o olhar, que pisca um dos olhos pra
mim.
— Então, podemos jogar?
Pergunta a mulher ao lado de Hanna.
— Holly, eu não vou jogar essa coisa. — Se vira para a amiga de
braços cruzados.
— O que eu disse sobre curtir sua época de faculdade, hein? —
pergunta de volta. — Beber até passar mal e transar com homens gostosos.
Essa é a regra, Hanna Mo.
Passa seus braços em cima do ombro da minha Moranguinho.
Não conheço essa garota, mas não gostei nem um pouquinho do
jeito que ela quer corromper minha Hanna.
— Cara, eu acho que estou apaixonado.
Olho para o lado e vejo nosso goleiro, Jesse, babando e olhando em
direção a amiga de Hanna.
— Pode tirar o olho, seu cuzão. — Aaron para ao meu lado,
encarando Holly. — Essa já é minha.
A sem-vergonha olha de um para outro e sorri.
— Não precisam brigar por mim. — Pisca um dos olhos. — A gente
até poderia fazer um ménage. — Dá de ombros.
Tento segurar a risada, mas não consigo, e para disfarçar, finjo uma
tosse.
— Eu sou ciumento demais para dividir, meu belo Karma. — Aaron
vai até elas.
— Karma? — A menina que ainda não sei o nome, pergunta.
— Sim, Karma — comenta. — Algo me diz que você vai ser o meu.
Sorrindo, ela se aproxima do meu melhor amigo.
— Eu sempre achei os tatuados mais atraentes. — Devora-o com o
olhar. — Eu posso abrir uma exceção pra você.
— Meu Deus, eu quero morrer. — Hanna tampa o rosto e reclama
um pouco.
Olho para meu melhor amigo e vejo seus olhos brilharem em
admiração.
Esse aí já foi enlaçado.
— Aaron Carson, a seu dispor. — Faz uma reverência, como um
lorde inglês.
— Holly Saunders — se apresenta.
— Então você é a famosa, Holly. — Aaron a olha dos pés à cabeça.
— Parece que fui esquecida. — Hanna olha dos dois pra mim e abre
o sorriso mais lindo de todo o lugar.
— Acho que nós dois fomos — brinco, rindo em sua direção.
Suas bochechas ficam vermelhinhas, e a vontade de tê-la em meus
braços é gritante.
— Estou sentindo ciúmes no ar? — Aaron pergunta, indo em
direção a Hanna e a tirando do chão com seu abraço. — Sabe que você é e
sempre será minha preferida, Bonequinha.
— Você que é o irmão? — Holly pergunta, quando meu melhor
amigo desfaz o abraço que dá em Hanna.
— O próprio. — Lança um sorriso cafajeste.
— Parece que se interessar pelo irmão da melhor amiga é de família,
Hanna Mo. — Passa seus olhos por mim e os foca em Hanna.
Sinto um frio em minha espinha com sua insinuação, e olho em
direção a Aaron à procura de alguma reação, mas, aparentemente, ele não
percebeu nada.
Será que meu interesse por Hanna está tão na cara assim?
— Holly! — Olho para Hanna e suas bochechas estão pegando
fogo.
Olho em direção a Aaron
— Tudo bem, não está mais aqui quem falou — Holly responde,
pegando um dos shots da mesa e o virando de uma vez. — Então, vamos
jogar ou não?
— Só se for agora — Aaron se anima e vai para perto de Holly. —
Jogaremos juntos, meu belo Karma.
Bebe um shot de tequila e sorri em direção a Holly.
Parece que a noite será animada e longa. Bastante longa.
 
Por que você não pode me abraçar na rua?
Por que eu não posso te beijar na pista de dança?
Eu queria que pudesse ser assim
Por que não podemos ser assim?
Porque eu sou sua
Secret Love Song - Little Mix feat. Jason Derulo
 
 
 
 
Meu coração pulsa no peito por ter Liam tão perto assim.
Quando aceitei o convite para vir a essa festa, não imaginei que logo
ele seria a primeira pessoa que eu veria ao chegar.
Claro que esse momento chegaria, mas não esperava que fosse tão
cedo assim.
Ora, Hanna, o que você imaginou? Que ele não viria a uma festa?
Suspirando, foco meus olhos nele e começo a estudá-lo. O tempo foi
seu maior aliado. Liam sempre foi um cara que chamava a atenção de todos
por onde passava, mas agora, mais velho, ele estava de tirar o fôlego de
qualquer uma.
Seus fios negros, que antes eram mantidos curtos, agora estão
maiores e mais cheios. Estaria mentindo se dissesse quenão tenho vontade
de envolver meus dedos ali e passar horas o acariciando. Seus olhos azuis
estão mais brilhantes e fazem com que eu me perca através do seu olhar,
fascinada. E ainda tem seus lábios vermelhos e convidativos, que só fazem
a vontade de me perder neles se tornar maior.
— Moranguinho, está me ouvindo?
Acordo de meus pensamentos com sua voz grave e deliciosa.
Foco meus olhos nele.
— Desculpe, não ouvi me chamar. — Sinto minhas bochechas
queimarem um pouco. — O que dizia?
— Se gostaria de jogar? — Aponta com o polegar em direção aos
nossos amigos, que estão arrumando a mesa.
— Nem pensar. Não gosto
— Bom, já que é assim. — Vem em minha direção. — Ficarei aqui
te fazendo companhia.
Liam para ao meu lado e seu cheiro tão característico de bala de
laranja e cigarro fica mais evidente do que antes.
Como senti falta desse cheiro.
Fecho meus olhos e respiro fundo para aproveitar o melhor cheiro
de todos. Cheiro de Liam
— Você se importa?
Abro meus olhos atordoada, e me viro em sua direção.
— O quê?
— Perguntei se tem problema eu ficar com você. — Solta uma
risadinha como se achasse engraçado esse meu momento avoado.
— Não, não tem problema nenhum. Pode ficar aqui, quer dizer, se
quiser também, mas se quiser jogar com eles, está tudo bem também — falo
uma coisa atrás da outra.
— Então ficarei aqui com você. — Abre um lindo sorriso em minha
direção.
Meu Deus, Hanna, acalme-se.
Respiro fundo e tento acalmar meu coração disparado.
— Então, como passou esses dois anos que estive fora?
Que você me deixou sem notícias.
— Tenho certeza que não foi tão emocionante quanto a vinda à
faculdade. — Dou de ombros.
— Tem certeza que não tem nada para me contar? — insiste,
pegando um pacotinho de balas de laranja no bolso de sua calça e jogando
uma na boca.
— Bom, eu conheci a Holly. — Viro em direção a minha amiga que,
pela cara, está apostando alguma coisa com meu irmão.
Eu sabia que juntar esses dois seria um desastre.
Sorrio só de pensar no que esses dois vão aprontar daqui pra frente.
— Ela parece ser uma pessoa incrível — comenta, olhando para os
dois, que dão as mãos, como se estivessem fechando um negócio. — Menos
quando ela está te incentivando a ficar com alguém — sussurra.
— O que disse? — pergunto, me voltando em sua direção.
— Nada, só disse que ela parece ser bem legal.
— Ela é, sim. — Viro meu rosto para Holly novamente, que pega o
copo da mão de Aaron e bebe de uma vez, o que quer que tenha no copo. —
Ela me salvou de mim mesma.
— O que quer dizer com isso? — Franze o cenho.
— Você sabe que sempre fui muito solitária na escola — conto,
batendo o pé no chão de nervoso por tocar nesse assunto.
— Sim, eu sei.
Pode ser loucura da minha cabeça, mas percebo um tom de tristeza
em sua voz.
— Enfim, ela estava lá naquele momento e me trouxe vida — digo a
ele. — Não me vejo mais sem ela.
— Serei grato a ela por isso.
Me viro em direção a ele, nossos olhos se prendem, e uma vontade
de abraçá-lo para sufocar essa saudade gritante em meu peito começa a
crescer dentro de mim.
— Liam, só falta você.
Nossa troca é finalizada pelo chamado da ruiva para ele.
Quem será ela? Seria sua namorada? Meu coração se apaga só com
a possibilidade de isso ser verdade.
Olho para ela, e fico encantada com a mulher à minha frente. Ela se
parece com uma princesa dos filmes da Disney. Não ficaria surpresa se ela e
Liam formassem um casal, eles ficam muito bem juntos, e constatar isso faz
meu coração doer no peito. 
— Hoje não, Maddy. Ficarei aqui com a Hanna. — Aponta pra mim
com a cabeça.
— Nada disso, garotão. — Caminha em nossa direção. — Você me
prometeu que jogaria.
— Maddy — protesta.
— Sem Maddy, garotão. — A ruiva pega em sua mão e o puxa. —
Você vai jogar comigo, nem que seja só uma partida.
Liam olha em minha direção como em um pedido de desculpas e vai
com Maddy jogar.
É errado eu sentir ciúmes dela por ter essa liberdade de tocá-lo
assim?
Não gosto nem um pouco do sentimento de posse que sinto quando
eles chegam a mesa de pingue-pongue, e ela bagunça os fios de seu cabelo e
sorri para ele.
— Bonequinha, vem ficar de olho no jogo para que eles não roubem
de nós. — Aaron sorri em direção ao melhor amigo.
— Você sabe que não preciso roubar para vencer você — Liam
rebate, sorrindo de canto.
Eu já disse o quanto amo quando ele sorri desse jeito?
— Antes você não tinha que enfrentar nós dois. — Meu irmão passa
seu braço por cima do pescoço de Holly. — Somos como uma dupla
dinâmica.
— Vocês acabaram de se conhecer. — Maddy leva as mãos a
cintura. — Se tem uma dupla dinâmica aqui, sou eu e Liam. — Agarra seu
braço direito. — Não é garotão?
— Isso mesmo, ruiva. — Sorri em sua direção.
Um bolo me sobe à garganta de vê-los assim tão próximos, e a
certeza de que eles estão juntos se firma a cada segundo que os vejo.
— Vocês até podem se conhecer há mais tempo, mas Holly e eu nos
tornamos uma dupla logo de cara. — Direciona seu olhar a minha melhor
amiga. — Certo, meu querido Karma?
— Você é emocionado demais. — Holly se desprende do abraço do
meu irmão, rindo dele.
Minha melhor amiga não é muito de abraços.
— Assim você maltrata meu pobre coração. — Aaron leva as mãos
ao peito e amassa a camisa em uma cena dramática.
— Nós vamos jogar ou não? — Maddy pergunta do outro lado da
mesa.
— Vamos. — Aaron assente. — Bonequinha, vem ficar como juíza
— pede, apontando para a mesa.
Ver Liam e Maddy tão perto assim, me deixou um pouco
desanimada, mas como não quero ser estraga prazeres, e não posso
demonstrar que sinto ciúmes do melhor amigo do meu irmão. Eu vou até
eles.
— O que preciso fazer? — pergunto, chegando perto da mesa.
— Só obrigar o time perdedor da rodada a beber os shots. — Aponta
para os copos vermelhos à sua frente.
— Certo. Quem começa? — Olho de uma dupla para a outra.
— Que tal a novata como boas-vindas? — Maddy sugere.
— Beleza, lá vou eu então. — Holly aceita, pegando a pequena bola
branca e jogando em um dos copos. — Uhul! — comemora, depois de
acertar em cheio um dos copos do adversário.
— Parece que temos alguém boa de mira aqui — Liam diz, pegando
o copo, tirando a bolinha de dentro e virando o copo de uma vez.
— Você ainda não viu nada. — Cruza os braços em frente ao corpo.
— Eu realmente estou apaixonado — Aaron diz, olhando pra mim e
apontando com o polegar para Holly.
Solto uma gargalhada de sua brincadeira e digo a Liam que é sua
vez de jogar.
Liam mira no copo e acaba acertando o que estava bem em frente a
minha melhor amiga.
— Você até pode ser boa, mas não é melhor de mira que eu — Liam
desafia, se apoiando na mesa.
Holly o encara, pega o copo e vira a bebida de uma vez só.
— É o que veremos.
Se bem me lembro, Liam é bem competitivo, e agora, nesse
momento, ele acaba de achar alguém a altura.
O jogo corre bem. O time de Liam vira mais três doses, e o do meu
irmão vira mais dois.
Estamos na última rodada, e Holly está a um passo de ganhar esse
jogo.
— Eu disse que você tinha encontrado uma jogadora melhor do que
você — Holly alfineta Liam.
— É o que veremos — Liam repete a mesma frase que minha amiga
disse antes. — Aaron não é muito bom de mira.
— Ele só não tinha o incentivo certo. — Holly mexe no cabelo.
— Pode se preparar para fazer o que eu quiser, querida. — Aaron
joga a bolinha pra cima e a pega quando ela está caindo.
— Ainda revisaremos esse trato — Holly protesta.
— Trato é trato, meu belo Karma. — Joga a bolinha e acerta o
último copo de Liam. — E agora você terá que fazer o que eu quero.
É impressão minha ou os olhos do meu irmão estão queimando só
de olhar para Holly?
Minha melhor amiga olha para a bolinha e sem dizer nada, sorri e
morde o lábio inferior.
Eu sabia que juntar esses dois não daria certo.
— Parece que temos os ganhadores — digo, olhando para Liam.
— Tenho que admitir que ela é boa. — Liam bebe o último copo. 
Sorrio, olhando pra ele.
—  Então, sou ou não sou a melhor? — Holly se aproxima de nós.
— Parece que tenho que dar o braço a torcer — Liam admite.
Holly sorri, assentindo com a cabeça.
— Licença,meninas. — Maddy chega perto de nós. — Liam, o
Jesse está te chamando. — Aponta para o garoto negro de cabelos trançados
atrás de nós.
— Tá bom. — Assente. — Nos vemos depois, meninas — se
despede e vai em direção ao que penso ser um de seus colegas de time.
— Acha que eles estão juntos? — pergunto a Holly, apontando para
Liam e Maddy que saem abraçados.
— Não sei dizer. — Olha para eles como se estivesse estudando os
dois. — Mas se estiver, arrumaremos um homem muito mais gostoso e
disponível para você.
— Holly, sabe que não tenho olhos para ninguém além do Liam —
digo com pesar.
Todo esse tempo, e meus sentimentos por ele não diminuíram em
nada.
— Mas passará a ter. — Para a minha frente e segura em meus
ombros.
— Holly — protesto.
— Estou falando sério, Hanna. — Aperta meus ombros de leve. —
Eu não vou deixar você perder a diversão de se estar em uma faculdade por
conta dele. — Aponta com a cabeça em direção a Liam.
Eu sei que ela está fazendo isso pelo meu bem. Holly se anulou
muito por conta de um namorado escroto, e agora tudo o que ela quer é
curtir a liberdade que tem.
— Certo. — Sorrio.
— Agora, vamos deixar esse assunto de lado e vamos rodar por essa
festa. — Holly pega na minha mão e vamos em direção a casa.
Assim que entramos, sinto a diferença de temperatura. O lugar está
abafado por causa dos corpos que se mexem e dançam animados.
— Quer beber alguma coisa? — Holly pergunta, quando paramos
em frente a um bar improvisado que estavam terminando de montar quando
chegamos.
— Um refrigerante está bom — digo, olhando em volta.
Há pessoas se pegando perto das escadas e na pista de dança
improvisada que fizeram na sala.
— Aqui está. — Holly me oferece o copo vermelho de plástico.
— Obrigada. — Pego o copo de sua mão e bebo o líquido gasoso de
uva.
Estamos jogando conversa fora, quando Thunder do Imagine
Dragons começa a tocar no mais alto volume.
— Minha música, Hanna Mo! — grita, me puxando em direção a
pista de dança.
— Holly! — chamo-a, largando o copo, que está em minha mão, no
balcão da cozinha.
— Nós vamos cantar essa música a plenos pulmões, Hanna Mo. —
Para no meio da pista, se vira em minha direção e começa a cantar a canção
da sua banda preferida.
Por conta da minha timidez, começo a cantar bem baixinho para não
chamar atenção, mas a felicidade da minha melhor amiga vai me
contagiando, e aos poucos vou me soltando.
Levantamos os braços acima da cabeça e começamos a dançar
embaladas pela voz rouca de Daniel Coulter.
Holly e eu cantamos tão alto, que sinto minha garganta arder, mas é
quando chega no refrão que perdemos o controle e gritamos como se não
houvesse amanhã. 
— Thunder, feel the thunder. Lighting and the thunder.
Aqui e agora, cantando com a minha melhor amiga, é o melhor
momento da minha vida.
A música acaba, e estamos ofegantes, suadas e com sorrisos que não
cabem em nossos rostos.
— Isso foi incrível — digo eufórica.
— O poder da minha banda preferida — responde, saindo da pista
de dança comigo logo atrás.
— Sabe o que eu estava pensando? — Vamos em direção ao bar
improvisado para pegar algo para beber.
— O quê? — pergunta, depois de pedir dois copos de refrigerante.
— Você e meu irmão têm mais em comum do que pensam. — Dou
de ombros.
— Interessante — responde, escondendo seu sorriso pelo copo.
— O que é interessante?
— Nada, não.
— Holly — peço que fale logo.
— Seria muito errado eu querer seu irmão? — pergunta, com a
maior cara de paisagem.
Me engasgo com o refrigerante e começo a tossir.
— Espera, o quê? — pergunto, recuperando o ar.
— Ah, é que seria interessante ter um gostoso como ele na minha
cama. — Dá de ombros. — É errado no código das melhores amigas achar
o irmão da amiga gostoso? — pergunta.
— Nem um pouquinho, você pode me achar gostoso sempre que
quiser — Aaron fala atrás dela e eu só quero me enfiar em algum buraco
bem fundo.
— Gostei de saber disso. — Holly vira em direção a Aaron,
sorrindo.
— Depois a gente conversa. — Pisca em direção a ela.
— Meu Deus, vocês me matam de vergonha.
— Relaxa, Bonequinha, só estamos nos provocando. — Me abraça
pelos ombros.
— Até quando?
Aaron não faz nada a não ser sorrir.
— Até não ser mais brincadeira — responde, bebendo de seu
refrigerante.
— Holly, Holly. Você está se tornando minha pessoa preferida nesse
momento — meu irmão comenta.
— Eu sou apaixonante. — Abre um sorriso cativante.
— Ok — interrompo os dois, antes que isso vá longe demais.
— Como está sendo sua primeira festa universitária? — muda de
assunto.
— Está sendo melhor do que eu esperava.
— Fico feliz que está se divertindo, pequena. — Beija minha
cabeça.
— Eu também. — Encosto minha cabeça em seus ombros.
— Vou deixar você curtir com sua amiga em paz, mas antes, quero
saber se lembra das regras? — pergunta, me soltando e ficando na minha
frente.
— Aaron — protesto.
— Nada de Aaron, pequena. Lembra ou não das regras? — Cruza os
braços em frente ao corpo.
— Lembro.
— E quais são elas?
Suspiro e começo a enumerar nossas regras.
— Tomar cuidado com o meu copo, sempre prestar atenção à minha
volta, não beber muito, gritar por ajuda se algum babaca passar dos limites
comigo e te ligar imediatamente — termino de dizer, mostrando meu
polegar para ele.
— Boa menina. — Assente, beijando minha testa.
— Está faltando uma, Hanna Mo — Holly comenta.
— Está? — pergunto confusa.
— Está, a mais importante delas.
— Qual? — pergunto, tentando me lembrar de qual regra esqueci.
— De pegar o homem mais gostoso desse lugar. — Faz um gesto
sugestivo com as sobrancelhas.
— Meu Deus, Holly — digo, vendo minha melhor amiga dar de
ombros.
— Mas aí daria merda. — Aaron fecha a cara.
— Posso saber por quê? — Holly pergunta, um pouco indignada.
— O mais gostoso daqui sou eu. — Aponta para si. — E nós somos
irmãos. — Aponta pra mim. — Desculpa estragar seus planos, Bonequinha.
Coloco a mão na boca, segurando uma risada.
— Está tudo bem. — Sorrio.
— Eu gostaria de ficar mais, mas preciso encontrar os caras do time
— se despede e sai de perto de nós.
— Parece que você encontrou alguém a sua altura — comento,
assim que percebo Holly acompanhando os passos do meu irmão.
— Parece que sim — diz, ainda olhando em sua direção.
Estou terminando de tomar meu refrigerante quando a música para e
o DJ pega o microfone para anunciar alguma atração.
— E agora, o momento do karaokê surpresa, onde escolho alguma
vítima para cantar aqui em cima. — As pessoas começam a gritar. Algumas
animadas e pedindo para serem escolhidas e outras tentando se esconder
dos olhos do DJ. — Certo. Você aí todo tatuado. É você mesmo, não se faça
de tímido e suba aqui.
Olho para onde o DJ aponta, mas tem muita gente em volta,
impossibilitando minha visão do escolhido.
— É isso, aí! Ainda trouxe uma gata para cantar também.
Viro minha atenção para o patamar da escada – onde o DJ tocava
suas músicas — e vejo Liam, subir de mãos dadas com uma linda menina
negra e pegar dois microfones, entregando um para ela e ficando com o
outro.
— Que isso? Liam está montando um mini-harém agora? — Holly
pergunta indignada.
— Holly — advirto.
— Uma negra e antes uma ruiva — comenta. — Pelo menos ele tem
bom gosto.
Liam diz algo para o DJ atrás de si, que assente com a cabeça e vai
até seu notebook, e Liam se vira em nossa direção.
Os acordes de Secret Love Song do Little Mix com participação de
Jason Derulo, começam e a linda mulher ao lado do Liam começa a cantar.
 
Quando você me abraça na rua
E me beija na pista de dança
Eu queria que pudesse ser assim
Por que não pode ser assim?
Porque eu sou sua.
 
Sua voz é aveludada e serena, traz uma paz inexplicável. E acabo
fechando meus olhos para aproveitar mais. Estou completamente
apaixonada pela apresentação, mas quando Liam começa a cantar, eu sinto
meu corpo todo arrepiar.
É óbvio, você está destinado para mim Cada pedaço seu,
simplesmente se encaixa perfeitamente A cada segundo, cada pensamento
Eu estou tão envolvida Mas eu nunca vou demonstrar.
Eu tinha esquecido o quanto ele cantava bem. Muitas vezes ele ia láem casa para jogar com Aaron e acabava levando seu velho violão preto.
Um dos momentos que eu mais amava, era quando cantava alguma música
da Taylor Swift pra mim.
Posso estar vendo coisas, mas quando canta essa parte específica da
música, ele olha fixamente em meus olhos e meu coração bate
enlouquecedor no peito
— Parece que alguém está mais apaixonada que antes — Holly
sussurra no meu ouvido.
Você tem toda razão amiga.
Nesse momento, eu acabei de me apaixonar mais um pouco por
Liam Emerson.
 
Ela é uma, ela é uma dama, e eu sou apenas um menino
Ele está cantando: Ela é uma, ela é uma dama, e eu sou apenas uma linha sem anzol
Line Without a Hook - Ricky Montgomery
 
 
 
 
Eu não estava acreditando no que acabo de fazer.
Eu realmente cantei uma música para Hanna?
É, parece que sim.
Quando Max me chamou para cantar, eu paralisei no lugar, um
músico que não gosta de cantar em público? É, esse sou eu. Não é medo
nem nada, é só timidez, talvez? É, pode ser.
Minha melhor amiga foi minha salvação.
Assim que Genevieve passou ao meu lado, eu só agarrei em sua mão
e a puxei em direção ao palco improvisado.
Por um momento, fiquei indeciso sobre o que cantar, mas quando
foquei meus olhos em Hanna, a música do grupo Little Mix caiu como uma
luva, e acabei dedicando a ela — mesmo que ela não saiba — E agora estou
aqui, colocando todos os sentimentos proibidos que devoto a irmã do meu
melhor amigo. Canto o refrão que nos descreve tão bem, olhando em seus
olhos sem desviar um único segundo.
 
Por que você não pode me abraçar na rua?
Por que eu não posso te beijar na pista de dança?
Por quê?
Por que tem que ser desse jeito?
 
Os olhos de Hanna brilham a cada estrofe cantada. Será que ela sabe
que essa música é dedicada a ela?
Não.
Isso é impossível.
Canto, passando meus olhos por toda a sala, mas sempre acabo
voltando meus olhos para os dela. Mesmo que por míseros segundos.
Tudo o que eu mais queria nesse momento, é tê-la em meus braços
para poder cantar bem baixinho em seu ouvido tudo o que essa pequena
mulher me faz sentir. Talvez esse seja mais um dos meus sonhos
impossíveis.
Emocionado demais?
Talvez.
Termino de cantar, com meus olhos ainda direcionados a ela, e a
salva de palmas toma conta do lugar.
Genna e eu agradecemos a todos, dou o microfone a Max e
descemos do patamar da escada.
— Você se superou — Genna comenta, pegando uma cerveja assim
que chegamos à cozinha.
— Posso dizer o mesmo de você. — Roubo sua garrafa e bebo um
gole.
— Cantar é um dos meus talentos além da dança. — Dá de ombros.
— Você é uma bailarina incrível, Genna.
— Obrigada pelo elogio, grandão — agradece.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, quando não aguenta mais
de curiosidade. Pergunta:
— Acha que ela percebeu?
— O quê? — me faço de desentendido.
Olho para trás à procura de Hanna e a vejo sozinha.
— Que a música que você escolheu era para ela? — questiona,
chamando minha atenção.
Me viro tão rápido em sua direção, que sinto meu pescoço estalar.
— O que quer dizer com isso?
— Acha que não percebi? — Levanta a sobrancelha em sugestão. —
Aquela música falava de vocês. — Dá um último gole em sua bebida.
Fico pensando no que Genna acaba de dizer, e um receio começa a
crescer dentro de mim.
Será que Hanna percebeu que cantei olhando para ela a todo
momento?
Droga, Liam. Por que tinha que cantar aquela merda de música?
— Ficou tão na cara assim?
— Só um pouquinho. — Quase junta o polegar e o indicador.
Suspiro.
— Droga.
— Por que você não conta de uma vez o que está sentindo? —
Genna questiona.
— Porque não posso, você sabe disso.
— Como não pode, Liam? Eu não entendo esse medo que tem —
diz indignada.
— Genna, ela é irmã do meu melhor amigo. — Volto ao assunto
mais uma vez.
— E daí?
— E daí, que ele nunca iria querer que um dos seus melhores
amigos chegasse perto da irmãzinha dele.
— Ele disse isso para você? — pergunta, cruzando os braços.
— Não precisou. Eu sei. — Tento encerrar o assunto. — Além
disso, nem sei se ela sente alguma coisa por mim.
— Liam...
Tenta continuar o assunto, mas eu a corto, logo quando vejo Hanna
vir em nossa direção.
— Esquece isso. Hanna está vindo aí.
Genna não gosta que eu mude de assunto, mas acaba aceitando e se
vira na direção de Hanna, que acabou de chegar.
— Desculpe atrapalhar vocês, mas, Liam. Você viu o meu irmão por
aí? — pergunta, olhando para todos os lados.
— Desculpa, Moranguinho. Mas não — respondo.
— Droga! — pragueja.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto preocupado.
— Eu só gostaria de ir para casa. — Finaliza sua busca em vão pelo
paradeiro do irmão.
Olho em volta à procura do cuzão do meu melhor amigo.
— O Liam pode te levar se você quiser — Genevieve sugere,
olhando de mim para Hanna. — Prazer, sou a Genna, melhor amiga desse
cara aqui — se apresenta.
— Me desculpe por chegar assim como uma mal-educada. Acabei
nem me apresentando — Hanna pede com as bochechas coradas. — Me
chamo Hanna.
— Sem problemas. — Abana a mão como se não fosse nada. — Eu
já sei seu nome. Ouvi muito sobre você. — Genna olha de relance pra mim.
Arregalo os olhos e sinto uma vontade de esganar a Genna nesse
momento.
Melhores amigos, não tenha, ou você sempre passará vergonha.
— Verdade? Quem contou sobre mim? — pergunta curiosa.
Genna me lança um rápido olhar e sorrindo ela responde:
— Conheço seu irmão. — Dá de ombros.
— Ah, sim — Hanna responde.
Um silêncio se forma à nossa volta.
— Bom, já que meu irmão sumiu. Eu vou procurar a Holly.
— Eu acho que ela está um pouco ocupada nesse momento —
respondo.
— Como sabe disso? — Hanna pergunta.
Sem dizer nada, aponto para perto da escada, onde Holly e Jesse se
pegam com vontade.
— Droga, Holly — resmunga.
— Bom, se quiser eu levo você sem problemas — sugiro.
— Eu não quero atrapalhar sua festa.
— Não atrapalha, Moranguinho. Eu já estava querendo ir embora
mesmo — comento.
— Bom, se for assim, eu aceito. — Abre um lindo sorriso em minha
direção.
— Certo, podemos ir então. — Tiro as chaves do bolso traseiro da
calça e mostro a ela.
— Beleza. — Assente com a cabeça. — Foi um prazer te conhecer,
Genna. Espero vê-la de novo.
— Digo o mesmo — Genna se despede com um aceno de cabeça.
— Vejo você depois. — Beija minha bochecha e nos deixa a sós.
— Vamos?
— Vamos. — A gente vai em direção a saída.
Parece que meu plano de nos manter afastados não dará muito certo.
Penso, suspirando e a seguindo até a saída.
Caminhamos até meu carro sem pressa, e quando o ar fresco da
noite me abraça. Sinto um alívio tremendo da sensação de sufocamento que
estava sentindo lá dentro.
Olho de relance para Hanna e percebo o quanto ela cresceu e
amadureceu.
Minha Moranguinho se desenvolveu muito e se transformou na bela
mulher que está ao meu lado agora.
Chegamos ao meu carro, destravo a porta, entramos, e quando
fechamos as portas, meu cheiro preferido começa a tomar conta do lugar.
Tem cheiro de morangos frescos e suculentos como a pessoa que o
usa.
Será que Hanna é doce como um?
Sinto uma fisgada no meu pau, só de imaginar provar sua pele com
a devoção que tanto necessito.
Merda. Pare com isso agora mesmo, Liam.
Tenho uma briga interna comigo mesmo, e para acabar com esse
tormento, abro um pouco os vidros, e o vento dá uma aliviada na minha
tortura particular.
— Quer colocar alguma música? — pergunto, ligando o carro e indo
em direção aos dormitórios.
— Não quero ser intrometida — responde, olhando para fora.
— Não seria — sorrio. — Aliás, se eu me lembro bem. Você tem
um bom gosto musical. — Olho em sua direção.
Hanna sorri, já pegando seu celular para conectar com meu som.
— Colocarei uma do seu cantor preferido com a minha cantora
preferida — começa a procurar a música no celular.
Não demora muito para que a melodia de Everything Has Changed
do Ed Sheeran com a cantora Taylor Swift ecoe por todo o carro.
— Como sabe que meu cantor preferido é o senhor Sheeran?
Hanna não responde nada, só dá de ombros sorrindo e começa a
curtir a música.
Olho em direção a ela, nesse momento, curtindo cada estrofe da
música, com os olhosfechados, Hanna é completamente encantadora.
— Eu amo essa música. — Abre os olhos depois de um tempo.
— É uma música muito boa mesmo.
— Vamos concordar que estamos falando dos maiores músicos
desse momento? — se entusiasma.
— Realmente, eu preciso concordar com isso. — Acabo rindo da
sua alegria.
— A Taylor sempre sabe o que dizer — diz, olhando para mim e
sorrindo.
— Sim, ela sabe. — Olho em sua direção.
Nosso olhar se prende e é como se todo o ar existente na Terra
deixasse de existir. Aos poucos, o sorriso de Hanna vai morrendo. Seus
olhos brilham com algo que não entendo, ela está tão linda nesse momento,
mas tudo o que é bom tem que acabar, e infelizmente, tenho que
interromper essa ligação e voltar minha atenção para a estrada.
Escuto o barulho do couro do banco quando Hanna se ajeita nele.
Um silêncio constrangedor recai pelo lugar.
— O que está achando da faculdade? — pergunto a primeira coisa
que me vem à mente.
— Melhor do que eu esperava. — Mexe na barra de seu casaco.
— Que bom. — Balanço minha cabeça em confirmação.
E mais uma vez, o silêncio recai pelo lugar.
— Liam, posso te perguntar uma coisa? — pergunta sem me
encarar.
— Claro, Moranguinho. Sempre que quiser.
Hanna fica em silêncio por vários segundos, e me pergunto o que ela
gostaria de saber.
Quando acho que não vai mais perguntar nada, ela me surpreende.
— Você já se apaixonou, Liam? — Brinca com seus dedos.
Por um momento, paraliso com sua pergunta.
Meu coração parece que vai explodir no peito a qualquer momento.
Minhas mãos suam em contato com o volante e passo uma de cada vez em
minha calça jeans para secá-las.
— Desculpe por perguntar algo tão pessoal assim. Não era minha
intenção. — Tenta se desculpar.
— Não, está tudo bem — pigarreio. — Só me pegou desprevenido.
Foco meus olhos na entrada do campus da faculdade. Mais alguns
minutinhos e estarei nos dormitórios.
— Se não quiser responder.
— Não, está tudo bem — afirmo. — Sim, Hanna. Eu já me
apaixonei.
— Sério? — Se vira de supetão em minha direção.
— Sim. — Confirmo com a cabeça, virando na esquina e parando
em frente ao seu dormitório. — Na verdade, ainda me encontro apaixonado.
— Olho em sua direção.
—  Eu a conheço? — Olha para todos os cantos do carro, menos
para mim.
— Pode-se dizer que sim.
Hanna assente com a cabeça, brincando com seus dedos.
— Por que a pergunta? — questiono.
— Curiosidade.
Sei que não estamos lidando com um episódio de curiosidade.
— E você?
— O que tem eu? — Volta a olhar pra mim.
— Está apaixonada? — Sinto um bolo se formar em minha
garganta.
— Não importa muito, ele não sente o mesmo por mim. — Dá de
ombros.
Eu já levei muitas porradas de tirar o fôlego jogando hóquei, mas
escutar Hanna dizer que está apaixonada por outra pessoa, com toda a
certeza é o soco que me doeu mais.
— Ele é um cara de sorte. — Sinto minha boca seca. 
— Se você diz. — Pega sua bolsa. — Obrigada pela carona, Liam.
Foi muita gentileza sua.
Antes que eu consiga me despedir. Hanna sai do meu carro em
disparada e entra no prédio dos seus dormitórios.
Fico um tempo parado olhando para o seu prédio, mas quando
percebo que pareço um louco. Decido sair dali e ir para minha casa.
Durante todo o trajeto, eu penso no que ela acabou de me dizer, e
quando estaciono o carro em frente a casa que divido com os meninos,
ainda estou pensando em suas palavras.
Não importa muito, ele não sente o mesmo por mim.
Saber que ela tem sentimentos por alguém, me deixa sem reação.
Mas não foi você mesmo quem queria mantê-la afastada?
Minha mente me faz lembrar da promessa que fiz a mim mesmo.
Acho que saber disso sobre Hanna foi o melhor. Chegaria o
momento em que Aaron perceberia meu interesse por ela. Eu sei que
mesmo querendo muito, eu não conseguiria esconder isso por muito tempo.
Agora, pelo menos, eu tenho um motivo para me esforçar mais.
Saio do carro, trancando-o e vou em direção a casa que se encontra
totalmente apagada.
Os caras ainda devem estar na festa.
Sigo em direção ao meu quarto no segundo andar da casa, e entro na
última porta à direita.
Como o restante da casa, meu quarto está com as luzes apagadas, e
prefiro que continue assim.
Sigo em direção ao banheiro que fica em meu quarto. Sem ligar a
luz do banheiro, entro no box e tomo um banho para tirar a tensão de meus
ombros. Deixo a água cair pelo máximo de tempo, e quando estou
satisfeito, saio do banheiro, vou em direção a minha cama que está
iluminada pela luz da lua, e sem me importar de molhar tudo, me jogo no
colchão.
Parece que meu plano de esquecer Hanna, foi por água abaixo,
porque nesse momento, tudo o que consigo fazer é me lembrar dela e de
seus olhos apaixonados direcionados a outra pessoa.
Hanna, Hanna. O que você está fazendo comigo, garota?
 
 
Oh, eu tenho estado atordoado e confuso
Desde o dia em que te conheci
Sim, eu perdi a cabeça
E eu faria de novo
Dazed and Confused - Ruel
 
 
 
 
— Então, o que ficou fazendo depois da apresentação do Liam? —
Holly pergunta, pegando uma batata frita do seu prato e comendo em
seguida.
— Nada demais — desconverso, brincando com o canudo do meu
milkshake.
— Você não estaria com essa cara se nada tivesse acontecido,
Hanna — insiste.
— Holly — digo seu nome em forma de pedido.
— Não venha com essa de Holly pra cima de mim, Hanna. —
Levanta o dedo em minha direção. — Sei quando não está bem.
Suspiro vencida.
Se tem alguém, tirando meu irmão, que me conhece como ninguém,
esse alguém é a Holly. Não adianta de nada eu manter segredo dela.
— Depois que você e meu irmão sumiram…
— Infelizmente, não estávamos juntos — me interrompe, fingindo
um  desânimo.
— Holly! — advirto.
— O quê? Só disse a verdade. — Dá de ombros. — Eu gostaria de
sumir com o Aaron por algumas horas.
Meu Deus do céu. Por que eu juntei esses dois?
— Eu sei que você não estava com ele. — Largo meu milkshake de
vez. — Aliás, onde você se meteu?
Eu já sabia onde ela estava, mas queria ganhar tempo e quem sabe
mudar o rumo da conversa.
— Estava aproveitando meu tempo de faculdade transando com um
gostoso do time de hóquei — conta, limpando as mãos em um guardanapo.
— Quem? O garoto do ménage? — Só de lembrar disso, já sinto
minhas bochechas queimarem.
— Ah, que bonitinha, ela com vergonha — brinca com a minha
cara. — E sim, ele mesmo — confirma, fazendo uma bolinha com o
guardanapo e jogando em sua bandeja. — O nome dele é Jesse e me rendeu
bons orgasmos, ontem.
— Me poupe dos detalhes, por favor — peço.
— Pode ficar tranquila que tudo o que aconteceu naquele quarto,
ficou lá — garante. — Agora, para de me enrolar e me conta logo o que
aconteceu.
Droga, achei que tinha conseguido tirar a atenção de mim.
— Você não desiste, não é?
— Nem um pouco. — Apoia os cotovelos na mesa e me olha.
Suspiro vencida e começo a contar.
— Eu não achava vocês, então o Liam me ofereceu uma carona. —
Me recosto no banco.
— E? — pede para eu continuar.
— E eu tive a brilhante ideia de perguntar se ele estava gostando de
alguém.
Só de lembrar da sua resposta, eu sinto meu coração ser esmagado
dentro do peito.
— Mentira. — Leva as mãos à boca, surpresa.
— É verdade.
— E o que ele disse? — Se ajeita na cadeira para me ouvir melhor.
— Que sim.
— Que sim, o quê?
— Que era apaixonado pela Maddy. — Um nó começa a nascer em
minha garganta.
— Pela Maddy? — duvida. — Ele disse que era por ela?
— Não, mas ele disse que estava apaixonado por alguém. A Genna,
que cantou com ele, não pode ser porque ela se apresentou como sua
melhor amiga. Só sobra a Maddy, que não desgrudou dele no começo da
festa — conto minha teoria. — Ele não estaria errado de se apaixonar por
ela. Já reparou na beleza daquela mulher? — comento, olhando para a mesa
em que Maddy está sentada com algumas meninas à sua volta.
— Pera, deixa eu ver se entendi — Holly chama minha atenção. —
Você criou uma história na sua cabeça por conta de uma frase que ele disse?
É isso?
— Eu não criei. Eu deduzi — mostro a diferença.
— Cabeça de autora é uma merda, hein. Cria mil e uma teorias.
— O que você pensaria? — pergunto.— Eu não pensaria em nada, eu sondaria para descobrir tudo. —
Holly olha para algo atrás de mim.
— O que quer dizer com isso? — pergunto, vendo-a se levantar. —
Onde você vai?
—  Você vai ver. — Me puxa pela mão. — Vem comigo.
— Para onde estamos indo? — Sem me dar uma resposta, Holly me
puxa em direção a mesa deles. — Não, nem fodendo. — Tento me soltar,
mas é tarde demais.
— Oi, gente. — Holly para em frente a mesa em que meu irmão e
Liam estão sentados.
— Olá, Pequeno Karma — meu irmão a cumprimenta.
— Podemos nos sentar com vocês? — pergunta, já se sentando ao
lado de Aaron.
— Claro. Na verdade, eu estava indo chamar vocês agora —
comenta. — Senta aqui, Bonequinha. — Meu irmão indica o lugar à sua
frente.
Lanço um olhar em advertência para Holly, e me sento no único
lugar vago. Que é ao lado do Liam.
— Então, como foi o final de festa de vocês? — Holly pega o copo
do meu irmão, bebe um gole e faz uma careta em seguida. — Sabia que
estava perfeito demais para ser verdade.
— Meu gosto por café te desagrada? — Aaron bebe um gole do seu
café e sorri por cima do copo.
— Detesto café — Holly reclama.
— Aposto que adoraria sentir o sabor dele na minha boca. —
Aproxima seu rosto do dela em um desafio.
— Eu o mandaria escovar os dentes. — Levanta sua mão aberta em
direção ao rosto dele e o empurra para trás.
— E eu como um bom menino, obedeceria. — Tira a mão de Holly
de seu rosto, leva em direção a boca e morde a pontinha do seu dedo
indicador.
— Ai — reclama, dando um tapinha em seu ombro.
Aaron lança mais um sorriso em sua direção e pega um palitinho de
cenoura de seu prato.
— Vocês se encontraram um no outro, não é? — Liam pergunta para
eles.
— Sim — concordam, assentindo com a cabeça.
— Até falar juntos eles estão falando. — Liam tira o boné preto da
cabeça, passa as mãos no cabelo novamente e o coloca de novo.
Só de escutar sua voz ao meu lado e presenciar esse pequeno gesto
dele, meu corpo tensiona completamente e meu coração dispara como
louco.
Até quando me sentirei assim com uma única palavra sua?
— Parece que criei dois monstros ao juntar esses dois. — Pego a
garrafa de água do meu irmão e bebo um gole para me livrar do
nervosismo.
— Ainda não acredito que nunca tinha visto seu rosto até ontem de
noite. — Holly se vira para Aaron.
— Por foto você não teria a dimensão do quanto sou gostoso e
incrível. — Passa as mãos pelos cabelos negros e pisca em sua direção.
— Sempre preferi ao vivo e a cores, mesmo — Holly provoca. 
— Meu Deus — sussurro, querendo me esconder embaixo da mesa.
— Vocês querem parar? — peço, e os dois começam a rir da minha cara.
É oficial, eles dividem o mesmo neurônio.
— Você juntou duas pessoas sem um pingo de vergonha na cara. O
que você queria? — Liam chega perto de mim sussurrando em meu ouvido.
Um arrepio me sobe a espinha com o som rouco da sua voz.
Será sempre assim?
Todas as vezes que Liam falar comigo, meu corpo irá estremecer?
Tentando disfarçar as sensações que Liam me faz sentir. Estico
minha mão em direção ao prato do meu irmão e roubo um palitinho de
cenoura.
— Ei! Meus palitinhos! — protesta, olhando de mim para seu prato
com uma cenoura a menos.
— Não posso pegar seu palitinho, mas a Holly pode pegar seu café?
— Aponto a cenoura em sua direção.
O cara de pau não faz nada a não ser sorrir e bebe o resto do seu
café.
— Parece que temos uma preferida — Holly brinca, rindo da minha
cara.
Mostro meu dedo do meio para ela e como o palitinho em minha
mão.
— Hum, gostoso. — Mastigo e mordo mais um pedaço.
— Alguém disse gostoso?
Olho para trás e um lindo homem negro com um lindo sorriso
branquinho está parado atrás de mim.
— Cara, se o seu pau fosse do tamanho do seu ego. Ele seria enorme
— comenta um homem moreno, dando a volta e se sentando ao lado de
Holly.
— Nunca escutei reclamações. — Dá de ombros e se senta ao meu
lado. — Oi, gatinha. — Lança mais um de seus sorrisos charmosos em
minha direção.
— Pode guardar esse seu charme barato para você, Simon — Aaron
manda, jogando a bolinha de papel em direção ao amigo. — Ela não é para
o seu bico.
— Assim você magoa meu coração. — Leva as mãos ao peito como
se sentisse dor.
— Como você é desnecessário, Simon — resmunga o moreno ao
lado de Holly.
— Podemos ser apresentadas aos últimos integrantes do grupo? —
Holly olha para todos os garotos à mesa.
— Esse é o Simon. — Aponta para o menino ao meu lado. — E esse
é o Bennett. — Aponta para o sentado ao lado de Holly. — São nossos
amigos de casa, time, e vida.
Conta um pouco sobre eles.
— Que bonitinho! São os quatro patetas — Holly comenta, olhando
para todos eles.
— Meu Deus, Holly. Se controle. — Tento falar e tossir ao mesmo
tempo.
Por conta do que essa linguaruda disse, acabei me engasgando com
um pedacinho de cenoura.
— Respire, Moranguinho — Liam pede, fazendo uma massagem em
minhas costas e ao invés de me ajudar, a tosse piora.
— Ela está ficando roxa. É melhor dar água pra ela — o cara que
descobri se chamar Bennett, sugere.
— Aqui, Bonequinha. — Meu irmão me oferece sua garrafinha de
água.
Pego a garrafinha de sua mão e bebo o líquido sem gosto até que
sinto o pedacinho de cenoura descendo junto.
— Obrigada! — Minha voz sai rouca pelo esforço.
— Está melhor? — Holly pergunta com a maior cara de sonsa.
— Graças a você, não.
— Eu não disse nada demais. — Dá de ombros e me encara com
olhos inocentes.
— Sonsa. Me fazendo passar vergonha com desconhecidos —
sussurro.
— Eu gostei. É das minhas — Simon comenta alegre. — Podemos
adotar? — Olha para Holly como se ela fosse um filhote de Golden.
— Já foi adotada — Aaron começa. — Infelizmente, veio no pacote
junto com a minha irmãzinha. — Termina de comer e afasta sua bandeja
para longe.
— Essa aqui que é a pequena Hanna? — Simon aponta para mim.
— Ela mesma. — Aaron olha para mim e consigo ver o amor
transbordar ali.
— Seu irmão já nos apresentou, mas irei me apresentar de novo. —
Se vira de frente para mim. — Olá! Eu sou o Simon. O cara mais gostoso e
engraçado desse quarteto.
Estende sua mão em minha direção.
— Prazer. — Aperto sua mão.
— Se tiver entediada e quiser sair, é só me chamar. — Solta minha
mão e pisca em minha direção.
— Pode parando com esse papinho barato, Simon — Aaron pede.
— Ela é território proibido para você.
— Não sabia que era ciumento — Holly alfineta.
— Só em casos específicos. — Meu irmão ri, desmentindo o que
disse.
— Espero que seu ciúme seletivo não afete sua irmã, Gibi. — Olha
para suas unhas como quem não quer nada. — Porque sua irmãzinha tem
um encontro hoje.
— O quê!? Como assim um encontro?
Um grito ecoa pela cafeteria e não foi do meu irmão.
— Algum problema, Liam? — pergunto, me virando em sua
direção.
— É. Algum problema, Liam? — Holly pergunta, sorrindo e
apoiando seu queixo na mão.
— Não, quer dizer. — Liam se mexe desconfortável no banco. —
Só não acho que você deva sair com ninguém por agora.
Espera, o quê?
Junto minhas sobrancelhas ainda o encarando.
— Por que não? — Cruzo os braços.
— É. Por que não? — Holly me imita, ainda com um sorriso no
rosto.
— Ora… — Fica sem palavras. — Porque você começou a
faculdade agora e acho que não deve sair com ninguém por agora.
Fico o encarando sem entender aonde ele quer chegar com tudo isso.
— Deixa disso, Liam — Aaron começa a dizer. — Hanna está aqui
para se divertir. — Foca seus olhos em mim. — Mas que seja com
responsabilidade.
— Gibi, eu sabia que tinha escolhido o homem certo quando bati
meus olhos em você. — Holly olha para meu irmão. — Obrigada por não
me decepcionar.
— Gibi? — pergunta curioso.
— Suas tatuagens. — Aponta para os desenhos nos braços do meu
irmão.
— Gosta delas, é?
— Fazer o quê? Gosto dos tatuados — responde.
Aaron fixa seus olhos na minha melhor amiga, e pode ser loucura,
mas parece que começa a nascer uma admiração pela mulher à sua frente.
— Voltando a minha vida social. — Interrompo a troca de olhares.
— Eu tenho responsabilidade.
Meu irmão volta seu olhar em minha direção.
— Isso, eu sei que você tem. — Estica sua mão em minhadireção,
envolvendo nossos dedos.
— E camisinhas também.
Holly comenta, olhando para as unhas com uma expressão tranquila
em seu rosto, enquanto sinto meu rosto esquentar em vergonha.
— Holly! — Lanço um olhar divertido em sua direção.
— É o quê?! — Liam vira em minha direção, com seus olhos
arregalados.
— Não dê ouvidos a ela — peço, enquanto belisco a perna de minha
amiga por debaixo da mesa, e acabo ganhando um tapa na mão pelo ato.
— Enfim — ainda me olha desconfiado — Eu não acho isso certo
— Liam resmunga ao meu lado.
Ele está brincando comigo?
Mesmo que eu não vá sair com ninguém. Quem ele pensa que é para
dizer o que devo ou não fazer?
— Está dizendo que vocês podem pegar quantas quiserem, mas eu
tenho que me manter casta? — pergunto, puta da vida.
— Eu não disse isso. Só achava que você deveria se acostumar
primeiro com a vida da faculdade.
— E por qual motivo, Liam? — Holly pergunta.
É impressão minha ou ela está sorrindo como o coringa?
— Não preciso de motivos — corta o assunto.
— Você sabe que não está fazendo sentido nenhum, não é? —
Bennett comenta, depois de muito tempo calado.
Já percebi que ele é o mais calado do grupo.
Gostei dele.
— Não preciso fazer sentido — Liam rebate e bebe sua água.
— Ele está assim porque não percebe que minha Bonequinha
cresceu — Aaron comenta, dando de ombros.
— Isso aí. Ela é muito nova ainda — Liam concorda. — Ainda acho
que esse encontro não é uma boa ideia.
Estou prestes a respondê-lo quando Holly se levanta.
— Que bom que não ligamos para o que acha. — Se levanta. —
Rapazes, o assunto estava muito bom, mas sinto em dizer que temos que ir.
— Se levanta e pede para que eu me levante com um gesto de cabeça. —
Vamos fazer compras para o encontro dela. — Para ao meu lado e segura na
minha mão. — Até uma próxima.
Antes que eu consiga me despedir de meu irmão e dos meninos.
Holly me puxa para longe.
— Por que saímos correndo? — pergunto, tentando acompanhar
seus passos.
— Se eu tinha dúvidas de que ele era caído na sua — gargalha. —
Essas dúvidas foram sanadas — resmunga.
— O que você disse?
— Nada — desconversa. — Vamos deixar esse assunto para outra
hora — pede. — Mas te digo uma coisa, Hanna Mo, você nunca esteve tão
enganada em toda a sua vida. — E me puxa para fora da cafeteria.
Olho para Holly que tem um enorme sorriso no rosto, como se
tivesse descoberto como fazer flores virarem ouro.
Eu não sei o que ela quis dizer com isso, mas eu espero que ela não
esteja aprontando uma das suas.
 
Liam Emerson
 
— O que foi aquilo tudo?
Levanto minha cabeça em direção a Aaron, depois de sua pergunta.
— Aquilo o quê? — Dou uma de desentendido.
— Não se faça de bobo, Liam. Você sabe do que estou falando.
Suspiro e me sinto sem escapatória.
— Não foi nada — desconverso.
— Não pareceu nada para nós. — Simon me empurra com o braço e
bebe sua meleca verde matinal.
— Não foi nada, já disse — insisto. — Eu só dei uma sugestão de
que seria melhor ela focar nos estudos. — Dou de ombros como se não me
importasse.
Estudo as expressões dos meus amigos, mas elas não dizem muita
coisa.
Simon está pouco se fodendo para o que está acontecendo à sua
volta. Bennett como sempre, está observando tudo sem dizer uma palavra,
já Aaron me lança um olhar tranquilo.
— Bom, foi legal da sua parte se preocupar assim. — Aaron se
levanta de sua cadeira. — Mas que foi estranho sua reação, isso você não
pode negar.
Me levando também.
— Só foi uma preocupação desnecessária — assumo.
— Deixa a garota ser feliz com o encontro dela — Simon termina de
beber seu suco verde e se levanta também seguido de Bennett. — Sabe o
que você precisa? — Aponta o dedo em minha direção.
— Não faço a mínima ideia — respondo de saco cheio desse
assunto.
— Transar — responde.
— Sabia que ele diria isso. — Bennett para ao meu lado com uma
cara de tédio.
— Estou falando sério. Se ele tivesse ocupado transando por aí, não
estaria dando uma de irmão mais velho.
— Ele só estava dando uma de irmão mais velho. — Aaron para do
meu outro lado e passa os braços em cima do meu ombro. — Ele a conhece
desde pequena e não viu que ela amadureceu e virou uma mulher. Deem um
desconto. — Dá dois tapinhas no meu peito. — Certo?
— Isso aí. — Assinto.
Quero tanto encerrar esse assunto e não dar mais bola fora, que
concordo com Aaron sem pensar.
— Ainda acho que você deveria chamar alguma garota pra sair. —
Acena para uma morena que passa ao nosso lado.
— Não, obrigado. Estou bem, sem encontros — respondo, tirando o
boné, passando as mãos no cabelo e o colocando de volta.
— Você quem sabe. — Dá de ombros.
— Chega desse assunto — Aaron interrompe. — Vamos logo antes
que a gente se atrase para o treino. — Começa a andar e a conversar com
Simon sobre nosso treino logo à minha frente.
Nosso técnico pediu para que a gente fosse até a arena hoje, mas ao
invés de treinar no gelo, vamos ter o treino teórico, onde iremos assistir a
jogos antigos dos nossos adversários.
— Essa foi por pouco — Bennett sussurra ao meu lado.
— O que quer dizer com isso? — Sinto meu sangue gelar no corpo.
— Eu sei que essa cena de ciúmes foi por outro motivo. — Olha pra
frente.
Droga.
Será que está tão na cara assim?
— Bennett, olha… — Tento me explicar.
— Você não precisa me explicar nada, Liam. Essas coisas
acontecem. — Pega um cigarro do bolso da sua jaqueta preta e me oferece,
mas eu recuso. — Você só tem que tomar mais cuidado, já que não quer que
as pessoas percebam. — Pega seu isqueiro prata e acende o cigarro. —
Principalmente, se não quer que certo alguém descubra. — Aponta para
Aaron com a cabeça.
Olho para as costas do meu melhor amigo, e um medo de
decepcioná-lo cresce em meu interior como um parasita.
Uma ansiedade começa a tomar conta de mim e penso que seria uma
boa eu ter aceitado aquele cigarro.
— Isso é coisa da sua cabeça — respondo, olhando para os meus
pés.
— Se você acha. — Leva o cigarro à boca e a ponta fica laranja
quando Bennett puxa o fumo para seus pulmões.
Continuamos andando e minha cabeça ferve em pensamentos se
devo ou não contar a Aaron o que sinto por Hanna.
Merda.
Tudo isso é uma merda.
O que eu faço?
 
 
Segredos que tenho mantido em meu coração
São mais difíceis de esconder do que pensei
Talvez eu só queira ser seu
I Wanna Be Yours - Arctic Monkeys
 
 
 
 
— Certo, pessoal — o professor chama nossa atenção na frente da
sala. — Eu disse que passaria um trabalho para vocês que valeria metade da
nota final.
Um burburinho começa na sala, mas é interrompido pela voz do
professor que pede silêncio.
— O trabalho é para ser entregue daqui a dois meses. — Começa a
andar em frente a sua mesa. — O que quero que vocês façam é uma música
autoral. — Levanta as sobrancelhas em sugestão.
A algazarra só aumenta depois de suas palavras.
— Sei que ficaram felizes com isso — o professor brinca.
Alguns alunos começam a rir empolgados.
— Professor? — Um cara levanta a mão direita, pedindo a fala, mas
não consigo identificar quem seja.
— Sim — o senhor Novaz consente, apontando uma caneta branca
na direção do aluno.
— Teremos que usar instrumentos específicos?
— Para esse trabalho, eu gostaria que vocês usassem os
instrumentos de corda — sugere.
O aluno — que descobri se tratar de Daniel, depois que virou o rosto
para trás —, confirma com a cabeça e começa a escrever algo em seu
caderno.
— Professor Novaz? — Uma menina levanta a mão na frente da
sala.
— Sim, Ava?
— Qual seria o tema da música?
Boa pergunta.
— Boa pergunta. — Se recosta na frente da sua mesa. — O tema
será livre. — A sala volta a se animar com a notícia. — Parece que
gostaram disso. — Abre um sorriso um pouco diabólico se assim posso
dizer.
— E como temos que entregar a música para o senhor? — pergunto.
— De duas formas. — Levanta dois dedos. — Escrita e cantada.
Protestos são ouvidos por toda a sala.
— Calma, pessoal. — Levanta as mãos pedindo silêncio. — Só eu
terei acesso a música de vocês. Fiquem tranquilos.
Melhor.
Não gosto de cantar na frente de ninguém.
Aquele meu pequeno show com Genna foi só ummomento isolado
e único.
A conversa rola por mais um tempo, até que o professor dá a aula
como finalizada.
— Por hoje é isso pessoal. — Aumenta o tom de voz e faz um
movimento com as mãos para que diminuam o barulho. — Nos vemos na
semana que vem. — Pega sua pasta e sai da sala.
Saio da sala, e os corredores estão lotados como sempre.
Querendo me livrar de uma vez de todo esse tumulto. Sigo em
direção a saída o mais rápido que consigo.
Estou a poucos passos da minha picape, quando vejo Hanna passar
por mim um pouco mais à frente e ser parada por uma colega de turma.
Então me lembro do meu pequeno ataque de ciúmes que tive por ela há seis
dias atrás.
Sei que foi desnecessário aquele comportamento de homem das
cavernas, mas quem disse que eu estava pensando no certo ou errado
naquele momento?
Meu único pensamento era que Hanna estava prestes a sair com
alguém, alguém sem rosto, alguém que eu não conhecia. Imaginar alguém
ao seu lado, com as mãos em cima dela, se insinuando para ela, estava
fazendo uma raiva incontrolável subir minha cabeça.
E para encerrar. Ainda teve Holly com seus comentários
desnecessários.
Ela realmente é um Karma. Mas até que gosto do seu jeito louco de
ser, menos, é claro, quando ela incentiva Hanna a conhecer outras pessoas.
Aaron acha que ela é o karma da sua vida, mas na verdade ela está
se mostrando ser o meu.
Suspiro.
Foco meus olhos em Hanna mais uma vez, e como ela está linda
hoje.
Seus cabelos estão soltos com alguns cachos nas pontas, deixando
os fios dourados um pouco volumosos. Está usando uma calça jeans
simples e uma blusinha de alças finas na cor lilás — sua cor preferida — e
nos pés está calçando um par de tênis brancos.
Perfeita.
Hanna está se despedindo de sua amiga, então sem pensar muito,
vou atrás dela.
— Hanna — chamo, dando uma corridinha até ela.
— Oi, Liam — me cumprimenta e um leve rubor toma conta de suas
bochechas.
Foco meus olhos nela e em como está linda hoje. 
Seus cabelos estão soltos  com alguns cachos nas pontas, deixando
os fios dourados um pouco volumosos. 
Ela está perfeita hoje.
—  Deseja alguma coisa? — pergunta, me encarando e percebo
que fiquei tempo demais olhando para ela.
— Sim. — Passo  a mão no cabelo. — Eu queria pedir desculpas
pelo que fiz no sábado na cafeteira  — me  desculpo.  — Não deveria ter
feito aquele estardalhaço todo.
Hanna assente com a cabeça.
— Você foi bem babaca naquela hora.
— Eu sei.  — Olho para um ponto além  dela, me sentindo
envergonhado. 
— Pode não parecer, Liam, mas eu não sou mais a adolescente
que abandonou há dois anos — argumenta.
— Eu sei — repito minha fala. 
— Sei que me vê como uma irmã, mas nem meu próprio irmão se
importou daquela maneira. 
Minha irmã? 
Hanna?
Ah, se ela soubesse.
— Sei que peguei pesado, por isso vim até aqui pedir desculpas. —
Foco meus olhos nos seus.
Hanna fica me encarando por alguns segundos quando responde: 
— Desculpo. Não precisa chorar. — Tira uma com a minha cara.
Rindo junto com ela, levo meu indicador e empurro sua testa de leve
para trás. 
Quando Hanna tinha sete anos, Aaron e eu fazíamos isso nela. Ela
sempre detestou, mas a carinha de brava que ela faz, era e ainda é tão linda,
que muitas vezes não resisto e acabo fazendo. 
— Amigos? — sugiro.
— Se fizer isso de novo, pode ter certeza que não. —  Bate em
minha mão, emburrada. — Odeio quando faz isso.
Sorrio e pergunto de novo.
— Amigos? — Estico minha mão em sua direção.
Ser apenas amigos não era bem o meu desejo, mas teria que ser o
suficiente.
Hanna olha pra minha mão por alguns segundos e suspirando um
pouco desanimada, ela junta nossas mãos.
— Amigos — afirma. 
Suas mãos pequenas e macias em contato com a minha calejada
pelos treinos de hóquei faz um arrepio me subir pela lombar até a nuca.
— Bom, já que nos entendemos. Eu tenho que ir. —  Solta minha
mão e a falta que seus dedos entrelaçados aos meus fazem não me agrada
nem um pouco.
— Está indo a algum lugar? Posso te dar uma carona se quiser. —
Aponto para o carro atrás de mim. 
— Na verdade, eu ia ficar lendo na cafeteria — comenta. — Holly
não está em casa agora, então. — Dá de ombros.
Escuto o que Hanna me conta, querendo aproveitar mais um tempo
com ela e tenho uma ideia.
— Você viria comigo a um lugar especial? — pergunto.
— Lugar especial? 
— Isso. Topa? Prometo que vai gostar muito — afirmo.
Hanna pensa por alguns segundos, mas logo está aceitando o
convite. 
— Tá bom. 
— Então, vamos —  peço, levando-a até meu carro e quando
paramos em frente a porta do passageiro, antes que possa abri-la. Me
adianto e abro para ela. 
— Obrigada. — Sorri. 
— A seu dispor, Moranguinho. — Faço uma reverência exagerada e
Hanna cai na  gargalhada e acabo de descobrir mais uma coisa que amo
nessa garota.
Sua gargalhada.
Fecho a porta, dou a volta pela frente do carro, entro, coloco o cinto
de segurança e dou partida para meu lugar preferido da vida.
Estou alguns minutos dirigindo, quando Hanna quebra o silêncio. 
— Então, para onde estamos indo? — Olho para a paisagem à sua
direita.
— Não irei contar. — Ligo o rádio baixinho  e  Perfect  do
Ed Sheeran ecoa.
— Me deixará curiosa até chegarmos lá? — pergunta indignada.
— Sinto lhe informar que sim. — Olho rápido em sua direção.
— Liam. — Tenta beliscar minha perna, mas consigo me esquivar.
— Sabe que odeio quando faz isso. 
— Eu sei. — Dirijo, rindo dela.
Se tem uma coisa que Hanna Carson odeia é que façam surpresa ou
não contem as coisas para ela. 
E como já disse antes. 
Eu amo ver minha Moranguinho irritada, porque quando ela está
assim, seu pequeno nariz se enruga todinho.
— Você faz de propósito, não é possível. 
— Como adivinhou? — Cutuco sua cintura com o indicador. 
— Seu idiota, eu te odeio. — Ri por conta das cosquinhas.
— Mentindo a essa hora, Moranguinho? 
— Onde está a mentira? — pergunta. 
— Na parte em que me odeia. — Viro o carro na curva e entro na
estrada principal em direção ao orfanato. — Eu sei que me  ama,
Moranguinho. — Viro meu rosto em sua direção.
Após minhas palavras, as bochechas de Hanna ficam
extremamente vermelhas. 
— Engano seu. — Se vira para a frente e aumenta o rádio.
O que houve aqui? 
Será que eu disse alguma besteira? 
 
 
 
Sei que me ama, Moranguinho. 
Não, Liam, você não sabe. 
Mas gostaria tanto que soubesse meus verdadeiros sentimentos.
Por que é tão difícil, hein? 
Irmã.
Ele me vê como uma mísera irmã. 
É pedir muito para que Liam Emerson me note? Perceba que não
sou mais a adolescente bobinha e que eu nutro sentimentos verdadeiros por
ele? Que eu o enxergo como um homem e não como um irmão mais velho? 
— Está tudo bem, Moranguinho? 
— Tudo. — Assinto com a cabeça. — Por quê? 
— Porque ficou silenciosa de repente. 
— Bobagem minha — desconverso.
— Se tratando de você, nunca será uma bobagem.  — Foca seus
olhos em minha direção.
Meu coração dispara no peito como louco. 
Às vezes me pergunto se é patético tudo isso o que sinto por ele.
É intenso demais.
Desesperador demais.
Como pode um único olhar mexer tanto assim comigo? 
— Não é nada. Só me lembrei que tenho que entregar um trabalho
amanhã e não tenho certeza se ele está pronto — mudo de assunto, fazendo
um gesto com a mão.
— Te conhecendo como conheço. Tenho certeza de que você o fez
no mesmo dia em que seu professor ou professora o passou. — Sorri. —
Nossas partidas de videogame sem você, que o diga.
Isso é uma coisa que não deixa de ser verdade.
Desde a minha época no colegial, eu sempre fui muito estudiosa e
certinha com todas as minhas tarefas de casa. 
Eu recusava as partidas de videogame — quando Aaron deixava —,
para poder estudar para as provas ou simplesmente para fazer um trabalho
comum.
— Não sabia que se lembrava disso.
— Lembro tudo a seu respeito, Moranguinho.  — Vira pra mim
rapidamente, mas volta sua atenção a estrada. 
— Ah, é? Tipo o que, posso saber? — Cruzo os braços, me virando
para ele. 
— Sei que você é a maior fã da Taylor Swift. 
— Essa é fácil. Até quem não me conhece sabe o quanto eu amo
essa mulher. 
— Seu quarto é cheio depôster, você tem um violão, mesmo sem
saber tocar.
— Em minha defesa, você disse que iria me ensinar. — Aponto o
indicador em sua direção.
— Quem sabe um dia.
— Sei.
Sorri, olhando para a frente.
Desde que descobri que Liam tocava violão, um pequeno sonho de
criança de me tornar a nova Taylor Swift e tê-lo como meu professor
nasceu. Claro que isso estava longe de acontecer. Minha voz está mais para
dois gatos brigando por uma lata de atum – palavras do meu irmão – não
minhas. Comprei um violão e estava certa de que conseguiria, mas claro
que não deu certo. Uma semana depois, eu estava com outro sonho novo e
Liam acabou que nunca conseguiu me ensinar.
— Prometo que quando puder a ensinarei.
— Irei cobrar.
— Eu sei que irá. — Olha pra mim novamente, focando seus lindos
e brilhantes olhos azuis.
Droga, por que ele tem que ser tão bonito assim?
Por que tenho que ficar toda desconcertada perto dele?
— O que mais sabe de mim? — pergunto, pigarreando e me
ajeitando no banco.
— Deixa eu ver. — Se concentra. — Ah! — Seu rosto se ilumina.
Se tivéssemos em um desenho animado, com certeza acenderia uma
lâmpada em cima da sua cabeça.
— O quê? — pergunto. 
— Você ama ler, mas não tanto quanto escrever. 
Definitivamente, ele está certo. 
Sempre amei ler, mas os universos que minha mente criavam eram e
ainda são muito mais emocionantes.
— Como sabe que prefiro a escrita à leitura?
— Você sempre andava para cima e para baixo escrevendo em uma
agenda azul — conta, dando de ombros.
— Só por isso tem a certeza de que prefiro escrever? —  Arqueio
uma sobrancelha em sua direção.
— Sou só um bom observador.  — Mexo a cabeça em
confirmação. — Aliás. O que tanto escrevia naquele caderno? 
Meu corpo gela com sua pergunta.
— É... B-bom — pigarreio. — Nada demais — desconverso.
— Sei. — Olha pelo canto dos olhos. — Deixarei passar se me
prometer que poderei ler um dia — sugere.
— Quem sabe um dia — confirmo sem saída.
No dia de São Nunca talvez.
Como direi a ele que escrevia sobre nós dois? 
Em minhas histórias, é ele quem eu imagino quando estou criando
meus protagonistas.  Liam já teve profissões que nem imagina. Como:
um striper gostoso que se apaixona pela dona do bar em que trabalha. Um
mafioso perigoso que é frio com todos, menos com sua mocinha. E temos o
meu preferido. Um vocalista de uma banda famosa.
Claro que cantar muito bem e tocar guitarra como ninguém, acabou
ajudando bastante.
— Mas então — mudo de assunto. — Só sabe isso sobre mim? 
Ele se volta para mim, levantando as sobrancelhas como se estivesse
aceitando um desafio.
— Sei que ama ler tomando chocolate quente no inverno. Que chora
vendo filme, mas nunca lendo um  livro. Ama animais, especificamente,
cachorros e patos. — Começamos a rir juntos, lembrando da época em que
queria um pato de bichinho de estimação.
— Eu tinha oito anos — argumento.
— Você chorou por dias por não ter ganhado seu patinho.
— E você acabou me dando um de pelúcia de aniversário. —
Lembro que desde que ele me deu aquele bichinho, eu não o larguei por
nada.
— Até o cachorro da vizinha invadir o  seu quintal e destroçar o
coitado. 
— Ele era só um  bebê querendo brincar — comento. — Mas
assumo que senti raiva dele naquele momento.
— Você não quis ver um cachorro na sua frente por três semanas,
Hanna. — Aperta minha perna e uma sensação gostosa me sobe e faz minha
vagina pulsar.
Olho para sua  mão grande em minha perna, e me pergunto como
seria senti-la sem as roupas para atrapalhar. 
— Eu estava chateada. — Me ajeito  no assento para diminuir
o incômodo.
— Você tinha seus direitos. — Tira a mão da minha perna e a leva
ao volante.
Como eu queria que sua mão estivesse em volta de alguma parte do
meu corpo nesse momento.
Penso, mas trato de afastar esses pensamentos o mais rápido
possível, antes que ele perceba algo.
— Tem algo mais que saiba sobre mim? — puxo assunto.
— Lógico que sim. Posso ficar aqui o dia todo enumerando cada um
deles.
— Parece que você me conhece muito bem. — Dou uma tapinha de
leve na sua mão que está na marcha. — Não sabia que seus olhos estavam
voltados para mim. — Sorrio.
—  Entenda uma coisa, Moranguinho. Eu sempre  estive e
sempre estarei com meus olhos voltados para você. 
Foco meus olhos nele e meu coração bobo e apaixonado dispara no
peito. 
Pode parecer besteira,  mas neste momento. Eu acabo de me
apaixonar um pouco mais por Liam Emerson.
 
 
Tanto tempo nunca enxergando
As coisas do jeito que são
Ela, aqui, à luz das estrelas
Com ela aqui, vejo quem eu sou
Ela que me faz sentir que eu sei pra onde vou.
Vejo enfim a luz brilhar — Enrolados
 
 
 
 
Assim que estaciono  o carro em frente
ao  instituto  Little  Daisies,  Hanna se debruça na frente do painel para ver
melhor o prédio à sua frente. 
— Que  lugar é esse? — Vira em minha direção ainda apoiada
no painel.
— Você verá. — Desligo o carro, tiro a chave e saio. 
Estou parado em frente ao carro, quando escuto outra porta bater. 
Em poucos segundos, ela já está ao meu lado. 
— Vamos? — Ofereço minha mão.
Hanna olha para minha mão por alguns segundos, e quando acho
que não vai pegá-la, ela entrelaça nossos dedos. 
Não sei o porquê de estar fazendo isso agora, mas desde que nossas
mãos se tocaram mais cedo, eu me vejo sedento pelo seu toque.
Entramos no prédio e a recepção está  vazia. Sara  —  a esposa de
Amanda e uma das  fundadoras do  lugar — deve estar resolvendo alguma
coisa lá dentro.
— Venha, quero te apresentar a algumas pessoas. — Puxo sua mão
de leve.
— Não tem problema entrarmos sem avisar a alguém. — Olha em
volta preocupada. 
— Fique tranquila, Moranguinho. Eu trabalho aqui — tranquilizo-a.
— Sério? — Olha para todos os lados encantada.
Sara e Amanda fizeram um ótimo trabalho por aqui. Transformaram
um antigo galpão em um lugar de esperança para pessoas rejeitadas pelas
famílias. As crianças que vivem aqui, estão à procura de um recomeço, já
os idosos, um lugar para que possam curtir seus últimos anos de vida.
Esse lugar é incrível, e eu não o trocaria por nada.
— Por aqui. — Aponto para o corredor da esquerda e vamos para a
ala das crianças.
O barulho das risadas das crianças nos busca antes mesmo de
chegarmos até a sala de brinquedos.
Assim que abro a porta, três pares de braços me recebem e
desprendem minha mão de Hanna. A surpresa foi tanta, que tenho que me
recostar na parede para não cair.
Olho para a frente e vejo o restante das crianças – que estavam
brincando e pintando algo – acenarem e sorrirem mais discretas pra mim.
Sorrio e aceno para eles e volto minha atenção aos pestinhas que
estão tentando me esmagar com seus bracinhos finos.
— Ei, seus pestinhas. — Me abaixo para ficar na altura deles. —
Isso tudo é saudade?
— Muita, muita, tio Liam. — Juillet se afasta.
— Pelo visto foi só você. — Faço uma cara de triste.
— Eu também senti. — Samantha se afasta de mim. — Ainda mais
das músicas. — Aperta seu coelhinho de pelúcia nos braços.
— Ainda mais das músicas, né? Sua pestinha. — Puxo-a pela
cintura pequena e começo um ataque de cosquinhas.
Samantha começa a se desmanchar em risadas nos meus braços e
suas bochechas começam a ficar vermelhinhas por conta do esforço.
— Para, tio Liam, para — pede, rindo.
Gargalhando com ela, eu a solto e toco seu pequeno nariz com meu
indicador.
— Quem é ela? — Thomas pergunta parado, olhando para trás de
mim.
Olho para trás e me levanto.
— Essa é a Hanna — apresento a eles. — Minha...
— É sua namorada? — pergunta, antes que eu os apresente.
Fico sem fala e uma coisa que nunca tinha acontecido comigo antes,
acaba acontecendo.
Eu fico corado.
Minhas bochechas estão tão quentes, que acho ser possível alguém
se queimar.
Pigarreio pronto para responder o garotinho à minha frente, quando
Hanna toma as rédeas das coisas.
— Não! Somos só bons amigos. — Solta nossas mãos, nervosa.
Olho em sua direção e Hanna está olhando para o chão, um pouco
envergonhada.
Meu coração se aperta com suas palavras.
— Sua amiga é bonita — o menino comenta, olhando para ela e
abrindo um sorriso banguela.— Ela é, sim, mas não é para o seu bico, pequeno galã. — Bagunço
os fios de seus cabelos.
Me levanto e paro ao lado de Hanna.
— Moranguinho, esses aqui são, Thomas, Julliet e Samantha. —
Aponto de um a um ao dizer seus nomes.
— Prazer, crianças. Eu sou a Hanna. — Acena para eles.
— Você parece a princesa Elsa. — Samantha para em frente a minha
amiga e a encara.
— E você se parece com a princesa Ariel, com esses cabelos lindos.
— Se abaixa para ficar da altura da pequena garotinha.
— É sério? — Seus olhinhos brilham em encantamento.
— Já viu uma princesa mentir? — pergunta, fazendo um carinho na
bochecha da menininha.
Sam fica encantada com Hanna e não desgruda dela até irmos
embora.
— Eu sou uma princesa também? — Jude se aproxima acanhada.
— Claro, princesinha linda. — Hanna aperta sua bochecha de
levinho.
— Qual delas? — pergunta empolgada.
— Deixe-me ver. — Leva a mão ao próprio queixo como se
estivesse estudando a pequena garotinha à sua frente. — Linda desse jeito,
só posso estar na presença da princesa Moana — sugere.
— É a minha princesa preferida. — Pula no mesmo lugar
animadíssima.
Hanna abre um lindo sorriso.
— E não pense que me esqueci de você. — Se volta para Thomas.
— Eu? — Aponta com o dedinho para o próprio peito.
— Você mesmo. — Ainda abaixada, chega mais perto dele. — Qual
seu desenho preferido? — Apoia o queixo na mão.
— Eu gosto do Batman — conta animado. — Ele é muito corajoso,
enfrentando todos aqueles caras maus.
— E aposto que você é corajoso como ele, não é?
— Isso mesmo. — Tommy estufa o peito todo orgulhoso.
Fico olhando para Hanna completamente encantado com o jeito
carinhoso com que ela trata as crianças. E acabo me apaixonando um pouco
mais por ela nesse momento. Se é que isso é possível.
E olhando para as crianças que estão olhando para ela abobalhadas,
tenho a certeza de que não sou o único afetado.
Ela é tão viva e alegre, que não tem como não ser contagiado.
Hanna, com simples palavras, faz você acreditar que consegue fazer o
impossível, como ser uma linda princesa ou um grande justiceiro e, por que
não dizer um grande músico?
— Tio Liam, pode cantar uma música de princesa hoje? — Sam
chama minha atenção.
— Claro. — Me levanto e vou até o velho violão que fica guardado
em uma prateleira alta. — O que quer que eu cante? — Me sento no chão.
Vendo que começarei a cantar. As outras crianças que estavam
afastadas, largam o que estão fazendo e se sentam à minha frente.
— Frozen.
— Moana.
— Bela e a Fera.
— Justin Bieber.
— Não queremos música de menina.
Gritam todos de uma vez e a algazarra começa com força total.
— Ei, ei, ei — chamo a atenção de todos. — Por que não deixam
nossa convidada escolher? — Aponto para Hanna que se sentou perto de
Samantha, Jude e Tommy.
Todas as crianças se viram para trás em direção a ela.
— Então, Moranguinho? O que vai ser? — pergunto, dedilhando
uma melodia qualquer.
— Hã... Eu não sei. — Olha incerta para os pestinhas à sua frente.
— Que tal da Ariel?
— Pequena Sereia? Achei que escolheria sua princesa preferida. —
Ajeito melhor o violão no colo.
— Como você...?
— Sempre te observando, lembra?
Foca seus olhos em mim e assente com a cabeça, rindo.
— Vamos de A Pequena Sereia? — As meninas se animam, mas os
meninos não gostam muito. — Ah, vamos lá. Essa é bem legal — digo,
começando a dedilhar as notas da música do caranguejo Sebastião.
 
O fruto do meu vizinho
Parece melhor que o meu
Seu sonho de ir lá em cima
Eu creio que é engano seu.
 
Começo a cantar e aos poucos eles vão se soltando e começam a
cantar um pouco contidos. Tento fazê-los dançar como sempre, mas eles
estão com vergonha por conta da presença de uma estranha.
 
Você tem aqui no fundo
Conforto até demais
É tão belo o nosso mundo
O que que você quer mais?
 
Hanna olha em minha direção e entende o que quero dizer só pelo
olhar, ela pisca seu olho esquerdo, se levanta, puxa Jude e Sam pelas
mãozinhas e começa a dançar e cantar com as duas.
O restante reluta, mas acabam sendo contagiados e começam a
dançar também.
Ela roda, dança, sorri com as crianças as levando à loucura.
Como ela está linda e feliz, hoje.
Parece que tomei a decisão certa ao trazê-la aqui.
 
 
 
Me jogo exausta no sofá da secretaria.
— Aceita refrigerante? — Liam pergunta, enfiando duas moedas na
máquina de comida.
— Aceito, obrigada — respiro fundo para acalmar minha respiração
e meus batimentos cardíacos.
— Então, o que achou? — Se senta ao meu lado e me oferece a
latinha e quando eu a pego, sinto um leve arrepiar pelo contato da lata
gelada com minha pele quente e suada.
— Maravilhoso, Liam! — Abro minha lata de refrigerante e bebo
um gole. — Estou completamente encantada com todos eles.
Quando Liam me chamou para um passeio, eu nunca ia imaginar
que ele estaria me trazendo para cá.
— Que bom que gostou. — Se vira no sofá, ficando com uma coxa
apoiada nele, se sentando virado para mim.
— Como conheceu esse lugar? — pergunto, imitando-o e me
sentando de frente para ele.
— Minha melhor amiga, Genna, viveu aqui até seus 15 anos de
idade, que foi quando foi adotada pelos pais dela. — Toma um gole de sua
água. — Então ela me trouxe aqui em um dia que eu tinha brigado com meu
pai.
— Ele ainda não aceita que você trabalhe com a música? — Ele não
responde verbalmente, só balança a cabeça em negação. — Mas você é tão
talentoso, Liam. — Me aproximo mais dele e pego em sua mão.
— Para o senhor Mase Emerson, o que eu estou fazendo não é nada
mais do que vagabundear e gastar o dinheiro dele com um curso que não
me levará a nada — conta com os olhos distantes e sem perceber, começa a
fazer carinhos circulares com seu polegar em meu pulso.
Um arrepio gostoso começa a subir pela minha mão e se perde em
meu ombro.
— Você tem um dom que não pode se perder dentro de um
escritório, Liam. — Viro minha mão e entrelaço nossos dedos. — Você
ainda vai provar para o seu pai.
Nunca imaginei que estaríamos assim algum dia.
— Eu não tenho tanta certeza assim. — Levanta seus olhos em
minha direção. — Para meu pai, eu só tenho serventia se puder seguir seu
caminho como diretor do T.E General Hospital — suspira. — E sou nada
mais do que uma cópia para ele.
— Você é muito mais do que um herdeiro ou uma cópia, Liam. —
Me aproximo mais, encostando nossos joelhos. — E você mostrará isso a
ele, não ligando para o que ele diz e seguindo em frente com o seu sonho
como tem feito nesses dois anos que está aqui.
— Obrigado por confiar em mim quando eu mesmo não confio. —
Foca seus lindos olhos azuis brilhantes nos meus.
— Eu estarei aqui sempre que precisar — asseguro.
Mantemos nossos olhos focados um ao outro, não desviando nem
por um segundo. Consigo sentir melhor o cheiro de laranja que vem dele,
agora que estamos próximos um do outro.
Ofego.
Meu coração bate enlouquecido no peito quando ele desce seus
olhos dos meus e os foca em meus lábios. Seguindo seu exemplo, encaro
seus lábios vermelhos e um desejo incontrolável de beijá-lo começa a
crescer no meu interior.
Sem que percebamos, nossos rostos começam a se aproximar um do
outro e uma expectativa faz meus batimentos se descontrolarem de vez e
minha respiração descompassar.
Nossos narizes estão quase se tocando, quando somos interrompidos
por alguém e nos separamos rapidamente.
— Ah, me desculpa! Não sabia que tinha alguém aqui. — Uma
linda mulher negra – que não me é estranha – entra na sala.
— Está tudo bem, Genna — Liam assegura. — Estávamos só
conversando.
Genna olha de mim para ele, como se não comprasse o que seu
amigo acabou de dizer e eu foco minha atenção na lata – agora quente – em
minhas mãos.
— Sei. — Entra na sala e vai até a máquina de bebida e comida.
Ficamos nos encarando e acabamos caindo em um silêncio
ensurdecedor e desconfortável.
Liam e eu íamos mesmo nos beijar, ou foi tudo coisa da minha
cabeça? Mas e se acontecesse? O que nós dois faríamos depois?
Minha cabeça está rodando em várias possibilidades, quando Genna
me cumprimenta. 
— Olá, Hanna! É bom vê-la de novo.
— Genevieve, não é? — Me levantoe sigo em sua direção. —
Estava na festa da fraternidade.
— Isso mesmo. — Abre um lindo sorriso em minha direção.
— Foi uma linda apresentação, a de vocês — comento.
— Obrigada por isso, Hanna — agradece. — Não canto tão bem
quanto o senhor próximo Ed Sheraan, mas até que dou para o gasto. — Dá
de ombros. — Mas prefiro dançar do que cantar.
— Se você dança como canta, então tenho certeza de que deve ser a
coisa mais linda desse mundo — afirmo.
— Dou para o gasto — faz a modesta.
— Você é a melhor bailarina que já conheci, Genna. Você sabe disso
— Liam entra na conversa.
— Você conhece quantas dançarinas pra dizer isso? — Sua amiga
pergunta, bebendo um gole de sua água, que pegou na máquina.
— Só você. — Faz um gesto com a mão. — Mas eu sei reconhecer
um talento quando vejo um. — Levanta as sobrancelhas em sugestão.
— Minha professora discorda.
— Ela está errada e só a minha opinião importa — Liam comenta,
botando um ponto final na pequena discussão deles.
— Como você o aguenta? — pergunta, olhando pra mim.
— Passamos dois anos sem nos ver e ele perturba mais o meu irmão
— comento, rindo da cara de falsa indignação dele.
— Me lembrarei disso no seu aniversário.
— Isso é uma ameaça? — Espremo meus olhos.
— Pode apostar que sim, Moranguinho. — Sorrio.
— Vocês são tão bonitinhos juntos, que dá vontade de vomitar arco-
íris só de olhar. — Genna olha de mim para Liam. — Formariam um belo
casal.
Sinto minhas bochechas queimarem em vergonha.
— Somos apenas amigos — digo.
— Mas não pode negar que são lindos juntos, olhem só para vocês.
— Genna — Liam adverte.
— Pare com isso — pede.
— Que foi? Não disse nada demais — conta. — Amanda, vê se não
concorda comigo — fala com a mulher, que acaba de entrar na sala.
— Concordo com o quê? — Uma linda mulher com traços latinos
entra na sala.
— Que eles formam um belo casal juntos.
A mulher olha de mim para Liam.
— Não são namorados?
Meu Deus! Que vergonha.
Genna e meu irmão Aaron podem dar as mãos e saírem dando
pulinhos juntos, por conseguirem me constranger do mesmo jeito.
— Não! — Liam se apressa em dizer. — Por que sou seu melhor
amigo mesmo? — Cruza os braços em frente ao peito.
— Porque você me ama e não vive sem mim. — Bebe mais um gole
de sua água, rindo e piscando em direção ao melhor amigo.
— Pareciam ser — a coordenadora do instituto desconversa. —
Bem, Genna e Liam, a Sara gostaria de falar com vocês agora — avisa,
pegando um caderno em cima da mesa.
— Sabe do que se trata? — Liam pergunta, já se levantando.
— Sim, mas prefiro que ela conte a vocês. — Folheia o caderno. —
Acho que irão gostar.
— Certo, vamos, Liam? — Genevieve pergunta, já na porta.
— Vamos — concorda e se vira em minha direção. — Me espera
aqui? Eu volto rápido.
— Tudo bem, pode ir. Vou ficar bem — asseguro.
— Beleza, já volto — se despede e sai da sala.
Me sento no sofá novamente e pego o celular para esperar Liam e
sua melhor amiga voltarem.
— Então, gostou do lugar? — Amanda chama minha atenção.
— É magnífico. — Olho para toda a sala como se estivesse
desvendando todos os segredos que ainda não descobri desse lugar. —
Vocês fizeram um trabalho lindo aqui.
— Obrigada por isso. — Foca sua atenção a um mural de fotos que
não tinha percebido antes. — Eu e minha esposa compramos e demolimos o
lugar antigo que nos trouxe tanta dor e o transformamos em algo bom —
conta, olhando para a foto das duas com crianças e idosos em volta delas.
— Vocês fizeram um ótimo trabalho — afirmo. — Tive o prazer de
conhecer as crianças hoje, e elas são incríveis. — Me lembro de como amei
cada segundo do dia de hoje. — Se eu soubesse cantar ou dançar, eu
adoraria trabalhar aqui — comento baixinho, quase inaudível.
Amanda se vira pra mim e fica me encarando.
— Você deve ser muito importante para ele.
— O quê? — pergunto um pouco confusa.
— Liam. Ele nunca trouxe ninguém aqui antes.
— Somos bons amigos. — Desvio o olhar um pouco sem graça.
— Eu sei o que vi estampado nos olhos dele. — Encosta na mesa.
— Só se eu estiver muito enganada.
— Enganada com o quê?
Amanda me encara por alguns segundos, mas desconversa.
— Vou deixar que descubra sozinha. É muito mais emocionante. —
Se desencosta da mesa e volta a mexer em seus papéis.
O que será que ela quis dizer com isso, hein?
Estou quase perguntando, quando Liam e Genevieve entram na sala.
— Um recital para as crianças e os idosos? — Genna entra pulando
na sala.
— Eu falei que iria gostar. — Solta o caderno aberto em cima da
mesa. — E então, topam?
— Mas é claro! — Genna grita animada. — Vou fazer aqueles
pirralhos fazerem sucesso — garante. — O que acha, Liam?
— Eu topo, mas não entendi onde entro.
— Gostaria que tomasse conta das músicas se possível, Liam —
sugere. — Será uma festa para arrecadar fundos para o instituto e
aproveitando tudo, iremos comemorar os vinte e três anos, que fundamos
esse lugar.
— Bom, se for assim. — Confirma com a cabeça. — Pode contar
comigo.
Eles estão terminando de tratar de alguns assuntos, quando Liam me
chama para ir embora.
— É Hanna, não é? — Amanda me chama.
— Sim? — Estaco ao lado de Liam em frente a porta.
— O que disse sobre querer trabalhar aqui era verdade? — pergunta
e eu me surpreendo por ter me escutado. Achei que tinha murmurado.
— Hã... — Olho para Liam, que surpreso assente com a cabeça e
segura em minha mão. — Sim.
— Você gosta de ler?
— É o que eu mais amo no mundo — respondo com entusiasmo.
— O que me diz de ler e ajudar alguns idosos que amam ler, mas
desaprenderam ou não sabem, e ainda ajudá-los na apresentação para esse
recital?
— Seria incrível! — grito animada. — Quando começo?
Amanda, Liam, Genna, e eu, começamos a rir do meu entusiasmo.
— Você pode vir nos mesmos dias que ele. — Aponta com o queixo
para o homem ao meu lado. — O que acha?
Olho para Liam, esperando sua aprovação, e vem em segundos,
seguido de um enorme sorriso.
— Fechado. — Estico minha mão em direção a de Amanda.
— Bom, se é assim. — A coordenadora aceita minha mão. — Seja
bem-vinda ao time, Hanna.
— Obrigada, você não vai se arrepender.
Agradeço, fechando nosso acordo com um balançar das nossas mãos
entrelaçadas.
Ajudar as pessoas a ler e de quebra passar um tempo com o garoto
que sou apaixonada? Eu não podia desejar coisa melhor.
 
Você é boa demais para ser verdade
Não consigo tirar meus olhos de você
Te tocar seria como tocar o céu
Eu quero tanto te abraçar
Can’t Take Me Eyes of You - Frankie Valli
 
 
 
 
— Onde você estava?
Holly pergunta, assim que entro em nosso dormitório.
— Liam me levou em um lugar, depois da aula — conto, largando
minha bolsa no chão e me jogando na minha cama. — Desculpe por não ter
avisado.
— Pera o quê? — Se levanta de supetão. — Repete o que acabou de
dizer.
— Desculpe por não ter avisado — peço novamente.
— Não essa parte. — Se senta na sua cama, virada pra mim. — A
parte em que você e o Liam saíram juntos.
— Ah, isso — me faço de desentendida. — É, nós saímos. — Dou
de ombros, como se não fosse nada de mais, mas por dentro, ainda estava
surtando.
— Me conta como foi. Onde foram? Vocês transaram?
— O quê? Não. — Nego com a cabeça também. — Tudo se resume
a isso para você? — Franzo meus olhos em sua direção.
— O que queria que eu pensasse? Você some o dia todo
praticamente e quando volta, diz que estava com o cara que você é caidinha
desde sempre. — Faz um gesto sugestivo com as sobrancelhas.
— Desculpe decepcioná-la, minha querida amiga, mas não
transamos.
— Droga — resmunga. — O que foram fazer então?
— Ele me levou ao trabalho dele. Acho que posso chamar assim.
— Trabalho? — Se ajeita na cama, sentando-se de pernas cruzadas.
— Que tipo de trabalho?
— Ele toca e ensina música para algumas crianças de um orfanato.
— Hum. Além de gato, tocar e cantar, ele ainda gosta de crianças.
— Enumera nos dedos. — Parece que é o par perfeito para a romântica
Hanna Carson. — Joga uma de suas almofadas em minha direção, que
acaba acertando meu rosto em cheio.
— Pare com isso. — Jogo a almofada de volta, mas ela a segura
antes que pare em seu rosto.— Vai dizer que não sentiu nada, vendo-o com crianças em volta. —
Espreme os olhos em minha direção.
— Bom... — gaguejo um pouco.
— Sabia. Eu te conheço como a palma da minha mão. — Levanta a
mão em frente ao rosto.
— Assumo que mexeu comigo, sim — comento, me lembrando de
Liam com Samantha, Julliet e Thomas. — Ele foi incrível.
Volto a pensar em como foi nosso dia.
De todos os lugares que ele poderia me levar, eu nunca imaginei que
seria para um orfanato e que eu acabaria me apegando tanto assim àquele
lugar, mas o ponto alto do meu dia, foi ter andado de mãos dadas com ele.
— Como ele não percebe que você está de quatro por ele? — Holly
me acorda de meus pensamentos.
— O quê? — Passo a mão nos cabelos para tirá-lo da frente do meu
rosto.
— Seus olhos brilham só de pensar nele. — Aponta para meus
olhos. — Ou ele é um idiota cego ou é burro.
— Ele não é um idiota cego — defendo-o.
— Ótimo, então é burro.
— Holly!
— Que foi? Só disse a verdade. — Dá de ombros.
— Você é impossível. — Começo a rir.
— O que seria de você sem mim?
— Nada — afirmo e nós duas rimos.
— Assim como eu — conta. — Mas me conta. Onde foram e o que
estavam fazendo? — pergunta.
Começo contando sobre o pedido de desculpas, e Holly diz que ele
ganhou pontos com ela por conta disso. Conto sobre as crianças de lá e o
quanto elas são maravilhosas e carinhosas, e que ela amaria conhecê-las e
minha melhor amiga me faz prometer levá-la um dia lá. Conto também
sobre Genevieve, a menina que ela viu cantar com Liam e sobre o trabalho
dela no orfanato, ensinando dança para todos. Conto também sobre Amanda
e sua esposa Sara.
— Gostei dessa Amanda — Holly comenta.
— Mas você nem a conhece.
— Ela é inteligente. Já é o suficiente pra mim.
— O que quer dizer? — pergunto.
Holly está prestes a me responder, quando batem em nossa porta.
— Está esperando alguém? — questiono.
— O entregador de pizza. — Se levanta, indo até a bolsa pegar sua
carteira. — Pedi uma pizza para nós duas. — Vai em direção a porta. —
Espero que a pizza seja gostosa — grita, abrindo a porta.
— A pizza eu não garanto que seja gostosa. Já eu, você pode ter
certeza — meu irmão responde, abrindo um sorriso cafajeste. — Olá, meu
belo Karma.
— Eu já tenho certeza. — Olha meu irmão de cima a baixo. — Oi,
Gibi.
Eles ficam se olhando por alguns segundos e a certeza de que esses
dois ainda vão se envolver de alguma maneira, começa a se concretizar. Dá
para sentir através do olhar que eles lançam um ao outro.
— Vocês vão ficar aí na porta ou vão entrar? — pergunto, me
recostando na cabeceira da cama.
— Se sua amiga me der passagem — comenta, sem desviar os olhos
de Holly.
— Não estou impedindo sua passagem, garotão. — Se vira de lado,
ficando com as costas no batente da porta.
Sem dizer nada. Aaron fica de lado também e passa por Holly
lentamente, fazendo seu peitoral roçar nos seios da minha melhor amiga.
Espera. Holly suspirou depois que Aaron passou por ela?
Interessante.
— O que está fazendo aqui, Pequeno Príncipe? — pergunto.
— Não posso visitar minha Bonequinha de vez em quando? 
— Lógico que pode. Só fiquei surpresa. — Olho para minhas unhas.
— Ficou quase uma semana sem me ver. — Dou de ombros, fazendo
drama.
— Sentiu saudades do irmão, foi? — Se deita em cima de mim e
começa a me apertar.
— Aaron, me solta. Está me esmagando. — Minha voz sai
engasgada.
— Só estou dando amor para a minha ciumentinha preferida. —
Beija minha bochecha bem forte.
Sua barba por fazer me faz cosquinha.
— Está me fazendo cócegas, Príncipe. Vai me deixar vermelha. —
Tento segurar a risada ao máximo. — Holly, tira ele de cima de mim.
— Saia de cima dela, Gibi, ou ela ficará igual a um morango —
Holly pede, rindo da minha cara, seguida de Aaron que me larga rindo, se
deitando na outra cama.
— Idiota. — Me ajeito na cama e me obrigo a afastar os
pensamentos sobre Liam. — Me deixou toda vermelha. — Olho no espelho,
meu rosto marcado pelo esforço.
Olho para a cara do sem-vergonha e ele está rindo relaxado e
puxando Holly pela cintura para se deitar na cama com ele.
— O que está fazendo? — Minha amiga se afasta um pouco para
olhá-lo melhor.
— Estou abraçando você. — Passa o braço por debaixo da cabeça
dela. — Por quê?
Ela o encara por alguns segundos, e quando acho que vai fazer seu
pequeno discurso de que não gosta de abraços e que ele deve se levantar o
mais rápido possível. Holly se aconchega mais ao abraço de Aaron e me
encara.
Levanto minha sobrancelha a questionando e recebo um olhar de
cala a boca.
É, Holly Mo, parece que não sou só eu quem está afetada pelos
garotos da faculdade.
— Então, Príncipe. Ao que devo a honra de tê-lo em meu humilde
quarto? — Me levanto e faço uma reverência exagerada.
— Venho trazer um convite real. — Floreia com a mão livre. — Me
daria a honra de irmos a um baile, oh, princesa de nada. — Olha para mim e
começamos a rir.
— Idiota. — Jogo uma almofada de leve nele.
— O que você mais ama.
— Sabe que sim. — Me sento na cama e abraço uma das almofadas
restantes na minha cama.
— Qual é essa de vocês de príncipe e princesa? — Minha amiga
pergunta, estudando as tatuagens que meu irmão tem no braço, passando os
dedos em cada uma delas para não perder nenhuma.
— Sempre fomos eu e Hanna a maior parte do tempo. Quando ela
queria brincar de princesas ou ver algum filme, víamos juntos. — Pega a
mão de Holly e começa a brincar com os dedos dela. — Então viramos o
príncipe e a princesa um do outro. — Certo, Princesa Jujuba? — Levanta
um pouco o rosto e olha pra mim.
— Isso aí, Pequeno Príncipe — concordo.
— E como veio os apelidos? — Holly se aconchega mais no abraço
do meu irmão, que se ajeita na cama para ficarem mais confortáveis.
— Bonequinha, porque quando ela nasceu parecia uma boneca de
porcelana, de tão linda e perfeita. — Abre um lindo sorriso e seus olhos
desfocam por alguns segundos como se estivesse voltando ao dia do meu
nascimento. — Princesa Jujuba é porque Hanna só comia jujubas quando
pequena. Não importava quantos doces, mamãe fizesse. Ela sempre ia
preferir as jujubas.
— Fazer o quê? Eram minhas preferidas. Na verdade, ainda são. —
Aponto o dedo em direção ao meu irmão. — Você sempre as trazia para
mim depois da escola.
— Melhor irmão do mundo, lembra?
Ficamos nos encarando e volto lá no passado, onde nós dois
comíamos jujubas vendo filmes da Disney madrugada adentro. Só
parávamos quando nossa mãe entrava no meu quarto gritando que estava
tarde e nos mandava para a cama.
Durante muitos anos, Aaron foi o único amigo que eu tive, éramos
nós dois contra o mundo. Até que Liam chegou para completar nossa dupla
e formar um trio de um jeito diferente. Enquanto eles brincavam de bola ou
jogavam videogame, eu lia meus livros perto deles.
Para Aaron, eu nunca era um empecilho. Ele não se importava se eu
estava ali junto com eles, mesmo que de longe. Meu irmão me salvou de
uma infância sem amigos, e eu o amo muito mais do que o normal por isso.
Onde começa Hanna Julie Carson, termina Aaron Black Carson.
— Mas e o seu apelido? — Holly me acorda dos meus pensamentos.
— Eu acho que tinha uns quatro anos? — pergunto para ele.
— Isso — afirma, fazendo cafuné nos cabelos de Holly, que
estranha um pouco, mas acaba deixando.
Rendida, e nem tenta mascarar.
— Meu sonho era ler o livro do O Pequeno Príncipe, mas eu só
sabia ler nossos nomes e dos nossos pais, então ao invés de ler para mim,
ele me ensinou a ler — conto.
— E agora temos uma das maiores autoras à nossa frente, graças a
mim. — Bota o braço atrás da cabeça. — Não precisam agradecer. — Faz
gracinha.
— Isso me lembra. — Se levanta. — Que você precisa me entregar
mais capítulos até sábado que vem. — Holly espreme os olhos em minha
direção.
— Eu vou entregar. Estava só me adaptando à faculdade.
— Sei. — Espreme ainda mais os olhos, quase os fechando de vez.
— Pare de brigar com ela, pequeno Karma. Deixe-a aproveitar a
faculdade um pouco. — Puxa ela para se deitar novamente. — E não saia
dos meus braços sem eu deixar. 
— Você está começando a me irritar.
— Não estounada. — Acomoda minha amiga melhor em seus
braços. — Agora fique quietinha que estou confortável.
— Por que eu dei atenção para ele? — Aponta o polegar para
Aaron, olhando para mim.
— Eu disse que era um caminho sem volta. — Pego meu celular
quando vejo que recebi uma mensagem de Liam em resposta a minha.
 
Eu:
Obrigada pelo dia de hoje.
Foi maravilhoso.
 
Liam Emerson:
Não precisa agradecer.
O dia realmente foi incrível.
 
— Por que está sorrindo como uma boba? — Holly pergunta, me
lançando um olhar sugestivo.
— É o Liam — respondo, ainda com os olhos no celular
 
Hanna:
Desculpe eu já ter aceitado o convite de Amanda sem falar com
você.
Nem sei se poderá me levar até lá todos os dias.
 
Sem pensar muito, aperto em enviar.
Que mensagem foi essa, Hanna? Meu Deus, como você é patética.
Estou brigando internamente comigo, quando Aaron chama minha
atenção.
 
 
Liam Emerson:
Não precisa se desculpar.
Quando Amanda me contou sobre o projeto, eu acabei
dizendo que não conhecia ninguém, mas…
Na verdade, eu tinha pensando em chamar você.
Mas estava sem coragem.
 
Ele pensou em mim?
 
Hanna:
É sério?
Você estava mesmo pensando em me chamar?
 
 Aperto em enviar e fico aguardando sua mensagem que não demora
a chegar.
 
Liam Emerson:
Quem melhor do que você para isso?
Isso mesmo.
Ninguém.
 
Sem que eu quisesse, um sorriso nasce em meus lábios.
— O que ele queria? Se tiver me procurando, diga que já estou indo.
— Aaron pega seu celular e começa a mexer em alguma coisa.
— Não é sobre você, irmão.
— Ah, não? O que ele quer então? — Olha em minha direção.
— É... nó...nós fomos a um lugar hoje — conto um pouco nervosa
de ele estranhar Liam e eu saindo juntos do nada.
— Ah, é? Foram pra onde? — pergunta desinteressado.
— Ele me levou ao orfanato que trabalha.
— Sério? Ele tem o maior ciúme daquele lugar. Já pedi várias vezes
para me levar, mas ele nunca levou — conta despreocupado.
— Parece que temos uma preferida — Holly provoca.
— Parece que sim. — Faz beicinho. — Estou magoado. — Pega o
celular e destrava de novo. — Poxa, docinho, achei que o seu Carson
preferido era eu. — Larga o celular, depois de mandar um áudio.
— Você é impossível. — Sinto meu coração acelerar em expectativa
pela resposta de Liam.
Aaron não faz nada além de rir e pega seu celular que recebe uma
nova notificação.
— O porquê disso?
A voz de Liam ecoa pelo quarto quando meu irmão coloca o áudio
para tocar.
— Levou Hanna para o orfanato, mas nunca me levou lá. — Grava
com uma voz de falsa raiva e o envia.
Liam não demora a responder.
— Ela é mais bonita do que você, mais legal e uma ótima
companhia. Coisa que você não é, seu cuzão. — Há um tom brincalhão em
sua voz.
— Essa magoou. — Aaron leva a mão livre ao peito como se
estivesse com dor. — Eu sou muito bonito, tá legal. — Envia outro áudio e
larga o celular na cama de Holly.
Espera, ele disse que eu sou bonita?
Meu coração erra uma batida.
Se em algum momento, eu pensei ter problema de coração, a dúvida
está sendo sanada ao ter Liam ao meu lado.
— Vem cá. Até agora não nos disse o que veio fazer aqui. — Holly
se levanta e dessa vez, meu irmão deixa.
— Ah, verdade. — Se levanta também.
— Então? — Holly insiste quando ele não fala nada.
— Um amigo do Simon abriu uma casa noturna e mandou um
ingresso pra gente. Querem ir?
— Hoje? Mas é quinta-feira — protesto.
— E o que que tem? — Holly pergunta.
— Amanhã temos aula, ou já se esqueceram? — Me levanto da
cama.
— Que mal tem? — Holly insiste.
— A gente volta cedo — Aaron tenta me convencer. — E não
vamos beber. Eu acho — sussurra a última parte.
— Aaron! — protesto.
— Ah, por favor, irmãzinha. — Levanta da cama e vem em minha
direção. — Estamos na faculdade. Por que não aproveitar um pouco?
— Isso aí, Hanna Mo, viemos aqui para além de estudar, mas
também nos divertir. — Para ao lado do meu irmão.
— Por favor, irmãzinha — pede, juntando as mãos como em uma
oração. — Todos nós vamos.
— E se você quiser ir embora, eu venho com você — Holly
promete.
— Jura? — pergunto, olhando para minha amiga.
— Juradinho. — Cruza e descruza os dedos em frente aos lábios e
os beija.
Pondero um pouco, mas, no final, acabo aceitando.
— Tá bom, eu vou.
— Isso aí, Bonequinha — comemora. — Eu venho buscar vocês
com o Liam, Beleza?
Duas vezes no dia na companhia dele?
Tá bom, então.
— Pode ser — Holly aceita por nós. — Que horas vocês vão
chegar?
— Ah, umas oito horas. — Olha no celular. — Vocês têm duas horas
e meia para se arrumarem.
— Só isso?! — Holly grita nervosa. — Acha que fico gostosa com
míseras duas horas?
— Você já é gostosa, Holly. Não precisa de muito.
Minha melhor amiga fica o encarando sem fala.
Espera.
Holly está sem fala?
A minha melhor amiga, sem filtro e papas na língua está sem filtro?
Procurem lugares seguros porque a terra vai desabar sob nossos pés
pessoal.
— Ok, Aaron, acho melhor você ir. Temos que nos arrumar.
— Beleza, vejo você depois. — Vem até mim, beija minha testa e
quando eu acho que ele já surpreendeu Holly o suficiente, ele vai atrás dela
e dá um beijo estalado em sua bochecha. — Até mais, Pequeno Karma. —
Vai até a porta e sai.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Abraços, carinhos, beijinhos e te deixando sem fala? Não sei, não
— quebro o silêncio.
— O que quer dizer com isso? — pergunta, olhando para mim.
— Nada — desconverso. — Só que você está caidinha por ele.
— Não estou nada — protesta.
— Se você diz. — Vou até meu guarda-roupa procurar algo para
hoje. — Quem sou eu para discutir?
— Eu só gosto da companhia dele, ué — dá uma desculpa.
— Eu dizia o mesmo sobre o Liam. — Tiro um vestido curto azul-
claro de saia rodada e vou com ele até o espelho.
— Diferente de você, eu não quero me apaixonar mais uma vez e
você sabe muito bem o porquê. — Vai em direção ao banheiro.
— Holly, eu sei sobre tudo o que te aconteceu, mas não seria legal
você conhecer alguém novo? — Coloco o vestido em cima da cama.
— E eu estou conhecendo. — Entra no banheiro. — Já fiquei com
duas pessoas.
— Não estou falando disso, amiga, estou falando de se apaixonar,
sentir um frio na barriga em expectativa para ver a pessoa desejada —
sugiro.
— Assim como você com o Liam?
— Isso — afirmo.
— Não, obrigada. — Fecha a porta do banheiro na minha cara e liga
o chuveiro.
— Garota teimosa — falo para a porta fechada.
Eu sei sobre tudo o que ela passou, e entendo o porquê desse medo,
mas nem sempre os homens são como aquele escroto.
Só torço para que ela supere isso logo.
 
Você faz parecer que é mágica
Porque eu não vejo mais ninguém, ninguém além de você
Earned It - The Weeknd
 
 
 
 
Holly está passando seu batom vermelho, sentada no banco traseiro
ao meu lado, quando Bennett estaciona seu carro a poucos metros da boate.
Liam acabou indo buscar Genna e Maddy, e Simon acabou pegando
uma carona com ele já que meu irmão queria nos pegar no dormitório.
Sobrando para Bennett nos dar uma carona.
— Prontas para a melhor noite de vocês meninas? — Meu irmão
sentado no banco da frente, se vira para nos olhar melhor.
— Eu espero não me decepcionar, Gibi. — Guarda o batom na
pequena bolsa preta em suas mãos.
— Isso é uma coisa que nunca irá acontecer, pequeno Karma.
— O quê? — pergunta, arqueando a sobrancelha.
— Eu decepcionar você. — Foca seus olhos nela e estuda cada
pedaço da minha amiga. — Aliás, você está espetacular hoje — elogia.
— Sempre o melhor para você. — Pisca e abre um enorme sorriso.
Holly escolheu um vestido preto que abraça suas curvas da melhor
maneira possível, valorizando seus lindos par de seios, sua cintura fina e
sua bunda maravilhosa.
— Vocês estão se pegando? — Bennett pergunta, olhando para a tela
do seu celular sem muito interesse.
— Não, nossa relação está mais para uma amizade com
provocações. — Holly responde. — Por que a pergunta?
— Nada em especial —  desconversa, ainda mexendo no celular.
— Hum. — Aceita a resposta. — Vamos ficar aqui por muito
tempo? Eu quero beber alguma coisa.
— Estamos esperando os meninos chegarem para entrarmos juntos
— digo aela, olhando para a fila para a entrada da festa crescendo mais a
cada segundo que se passa.
— Eles vão demorar muito? — Bate o pé no chão na batida da
música que toca no rádio.
— Eles acabaram de chegar — Bennett avisa, já desligando o carro.
— Olha ali a picape do Liam. — Meu irmão aponta para a picape
preta que acaba de estacionar a dois carros de distância de nós. — Vamos
— pede e começamos a sair do carro.
Fecho a porta e me viro para verificar como estou.
O vestido azul clarinho com estampa de mini dentes de leão, uma
manga longa, pouco volumosa e transparente com decote quadrado foi o
escolhido da vez.
Olho para o meu reflexo por alguns segundos, e gosto do que vejo
no espelho improvisado. Meus cabelos estão soltos e com alguns cachos nas
pontas, e diferente de Holly que usa uma maquiagem marcante que destaca
seus olhos claros, eu escolhi só um rímel e um batom clarinho — nunca fui
muita fã de muita coisa no rosto — e para finalizar minha produção, o colar
com pingente que Liam me deu.
É, parece que fiz um bom trabalho.
— Boa noite, pessoal! — Simon chega com seu tão característico
sorriso e passa o braço pelo pescoço do melhor amigo. — Prontos para
virarem alguns shots de tequila? — pergunta e todos gritam e aceitam.
— Vamos logo que não quero perder nem mais um segundo. —
Maddy entrelaça seu braço no de Genna e Liam, e sai andando na frente.
Assumo que sinto uma pontinha de ciúmes ao vê-los juntos e
minhas suspeitas de eles terem alguma coisa, se torna mais forte.
Paramos em frente a entrada e há dois seguranças do tamanho de
armários, verificando os bilhetes e as identidades.
Espera.
Somos menores de idade. Como vamos entrar nesse lugar?
Vou até Holly que está mexendo nos cabelos do meu irmão.
— Holly — chamo-a. — Como vamos entrar se somos menores de
idade? — sussurro um pouco nervosa.
— O primo do Simon avisou que não precisa pegar nossas
identidades para podermos entrar — meu irmão conta.
— Sério isso? — Holly olha em sua direção, parando de mexer nos
cabelos dele.
— Sim, como achou que entraríamos? — meu irmão questiona.
— Sei lá. — Dá de ombros. — Vai que o caladão aí, tinha algumas
falsas perdidas no bolso.
— Meu Deus, Holly! — exclamo. — Isso é errado.
— O quê? Acha que seu irmãozinho aqui não tem uma na carteira?
— Aponta com o polegar para Aaron atrás de si.
— É sério? — Encaro-o.
— Dois anos de faculdade, irmãzinha. Eu tinha que arrumar um
jeito de encher a cara e desestressar — fala como se o que ele fez não fosse
errado.
— Sua sorte é que não somos aqueles irmãos que gostam de se
sacanear. — Cutuco seu peitoral musculoso com dois dedos. — Se não
mamãe e papai estariam sabendo disso.
— Te amo. — Vem em minha direção, me segurando pela cintura e
tentando me beijar.
— Para, Aaron, vai me desarrumar toda. — Empurro seu rosto para
longe de mim e começo a desamarrotar meu vestido. — Olha só, amarrotou
meu vestido. — Bato em seu peito com a bolsinha que estava carregando.
— Você continua linda, Moranguinho. — Seu cheiro de laranja e
cigarro chega até mim, antes de suas palavras. — Aliás, você sempre está
linda.
Um arrepio gostoso sobe do meu umbigo até minha nuca e termina
em minhas bochechas, deixando-as dormentes e quentes.
— Obrigada. — Olho para ele, e santo Deus, como ele está gostoso
essa noite. — Você também está incrível hoje.
O homem à minha frente está usando calça jeans, uma blusa do Bon
Jovi, coturnos e uma jaqueta, tudo na cor preta. A única cor em seu visual
são os anéis de prata que está usando e seus magníficos olhos azuis.
Estudo ele por completo, desde os pés até os olhos que percebo
estarem focados em mim.
— Vamos, pessoal! Liberaram nossa entrada — Simon comunica, já
entrando na casa noturna e cortando meu contato visual com Liam.
Bennett é o segundo a entrar, seguido por Genna e Maddy.
— Vamos, Gibi. Quero beber algumas doses de tequila. — Holly
pega a mão tatuada de meu irmão e o puxa para dentro.
— Serei sua cobaia hoje, Linda? — pergunta, já entrando e não
consigo escutar a resposta de Holly.
— Vamos entrar, Moranguinho? — Traga uma última vez seu
cigarro, joga o resto no chão e apaga com a pontinha do coturno.
— Vamos — concordo com a cabeça e passo à sua frente.
Estamos quase na entrada, quando ele leva sua mão grande e forte
até a base da minha lombar e a repousa ali.
Olho para sua mão em minha cintura e depois para ele.
— Desculpe, mas achei que assim as chances de nos perdermos lá
dentro seria mínima — justifica.
— Está tudo bem — afirmo e seguimos em frente.
Uma sensação gostosa e de reconhecimento ganha vida.
Assim que entramos, a atmosfera se modifica completamente. O
lugar está bem cheio, fazendo com que fique um pouco sufocante, mas nada
que seja insuportável.
— Esse lugar é incrível — grito para Liam por cima da música para
que possa me ouvir.
— Verdade. — Olha tudo em volta assim como eu.
O primo de Simon, escolheu as cores roxa e dourado para a
decoração do lugar, dando uma vibe meio dark, mas ao mesmo tempo
chique e aconchegante.
Há algumas mesas e cadeiras altas espalhadas por todo o lugar para
quem quiser ficar sentado. No canto esquerdo tem alguns sofás que mudam
de cor quando uma luz de cor diferente bate em cima. O bar — onde Holly
e Aaron já estão bebendo algo — fica ao lado direito. O balcão é grande e
espaçoso, há alguns banquinhos ali para aqueles que preferem curtir o lugar
e ter acesso rápido a bebidas.
— Quer pedir alguma coisa? — pergunta bem perto do meu ouvido
e seu cheiro fica mais evidente.
Como eu amo esse cheiro, eu amo o dono desse cheiro.
— Aceito — pigarreio quando sinto minha voz falhar.
Sem esperar mais, Liam me leva até onde nossos amigos estão
sentados no bar.
— Vai querer o que, Princesa Jujuba? — Meu irmão pergunta e vira
uma dose de tequila.
— Acho que um refrigerante. — Olho para as bebidas no bar.
— Ah, não! — Holly protesta, se levanta do seu lugar e vem até
mim. — Hoje você beberá alguma coisa, Hanna, ou não me chamo Holly
Saunders. — Coloca um copo de tequila na minha frente. — Pode virar.
Olho para o copo à minha frente e decido se será ou não uma atitude
sensata beber hoje, sendo que temos aula amanhã e eu não sou acostumada
a beber.
— Você não precisa beber isso, Moranguinho. — Apoia a mão em
meu braço e sussurra em meu ouvido. — Eu sei que você não quer fazer
isso.
Olho por cima do ombro, e ali estão eles de novo, azuis brilhantes e
encantadores.
— Não meta o nariz aqui, Garotão. Eu sei o que é melhor para ela.
— E me tira dos braços de Liam. — Agora, Hanna, vire de uma vez. —
Pega um copinho igual ao que está à minha frente. — Ao nosso primeiro
ano de faculdade e aos homens gostosos que vamos pegar hoje — brinda.
— Está querendo levar minha irmã para o lado negro da força,
pequeno Karma? — meu irmão questiona, olhando para Holly por cima da
boca do copo de cerveja em sua mão.
— Sempre, gatinho. — Pisca, rindo em sua direção.
Meu irmão só balança a cabeça em negação, rindo e toma sua
cerveja.
— Não enrola, Hanna, temos que ir à caça de um gatinho pra você
curtir hoje.
— Mas eu não quero ficar com ninguém — protesto, pegando o
copinho.
— Repita isso mais tarde, Hanna Mo. — Bate o copinho no meu e o
vira de uma vez. — Essa foi boa. — Coloca o copinho no balcão.
Olho para o que está ainda intacto na minha mão.
Por que não? Só uma vez não vai matar.
É com esse pensamento que viro o líquido transparente de uma vez.
A queimação na língua é a primeira coisa que sinto assim que a
bebida toca minha língua, para depois o gosto amargo vir com força para
em seguida vir a dormência.
— Como vocês podem gostar de tomar isso? — Faço careta por
conta do gosto.
— Fica melhor depois de mais algumas doses — Holly afirma e
Aaron ri das caras e bocas que estou fazendo.
— É horrível.
— Eu disse que você não iria gostar — Liam comenta, mexendo no
bolso do seu casaco. — Aqui, vai tirar o gosto ruim da sua boca — me
oferece uma bala da cor laranja.
Sem pensar, abro minha boca à espera de que ele me sirva a bala.
Os olhos de Liam se arregalam por alguns milésimosde segundos e
descem para os meus lábios que estão levemente abertos à espera de um
próximo movimento.
Os segundos vão passando e estou começando a achar que não foi
uma boa ideia, quando ele leva a pequena e redonda bala até meus lábios e
a coloca na minha boca.
Seus dedos acabam encostando em meus lábios e eu os chupo de
leve pescando a bala de uma vez e descansando na bochecha.
Seus olhos ficam nos meus e posso estar muito enganada, mas os
azuis de seus olhos estão tão brilhantes, como gelo derretido. Meu coração
bate forte no peito com a sensação dos seus dedos calejados em contato
com os meus lábios.
O gosto de laranja anula o gosto amargo da bebida que acabei de
tomar e me faz pensar se seria esse o gosto dos lábios dele.
— Obrigada — agradeço sem desviar nossos olhos um do outro e
percebo que minha voz está mais rouca que o normal.
— Não precisa agradecer. — É impressão minha ou ele ficou um
pouco afetado com o nosso pequeno contato?
— Você... — Antes que eu termine, Maddy chega se pendurando no
ombro dele.
— Ei, bonitão! Está me devendo uma bebida e uma dança. —
Belisca a bochecha dele de leve.
— É sério que vai cobrar uma dança? — Puxa a garota para sua
frente e apoia o braço em sua cintura como fez comigo mais cedo.
Um gosto amargo me sobe à garganta e nem a bala é capaz de inibi-
lo.
— Mas é claro. — Cruza os braços em frente ao corpo. — Promessa
é dívida.
Liam pensa um pouco, mas acaba aceitando.
— Já volto, pessoal — comenta, dando a mão para Maddy, eles vão
em direção a pista de dança e somem entre os corpos que mexem à nossa
frente.
Um desânimo começa a bater em mim ao pensar no que os dois
estão fazendo na pista de dança, e a teoria de que eles tem algo fica mais
forte ainda.
— Pode parando com isso. — Holly me acorda dos meus
pensamentos autodestrutivos. — Você veio para se distrair e é o que vamos
fazer.
— Eu não estou muito no clima. — Me recosto no banco atrás de
mim.
— Se não está, vai entrar agora mesmo. Não vou ficar vendo você
sabotar sua noite por conta dele. — Aponta em direção para onde Liam foi.
— Acho que eles estão juntos. — Olho para um ponto que
reconheço ser os cabelos de Liam
— Se você prestasse um pouco mais de atenção — murmura.
— O quê? — Não consegui escutar direito por conta da música alta.
— Nada — desconversa. — Só quero que me prometa que hoje
você irá curtir a noite e amanhã quando a ressaca bater, você volta a pensar
no bonitão — sugere. — O que você me diz? — Estica a mão em minha
direção.
Olho para o lugar que meu irmão estava, mas ele se encontra vazio.
— Cadê o Aaron? — Olho em volta.
— Deve ter ido jogar o charme dele em alguém. — Se faz de
desinteressada. — Não mude de assunto. —  Levanta o dedo em minha
direção. — Vamos?
Pondero um pouco, mas acabo aceitando e pegando na mão dela.
— Vamos logo. — Aceito.
— É isso aí! — comemora, me puxando em direção a pista de
dança.
A pista está completamente lotada de corpos dançantes e felizes.
Neste momento, não tem problemas com o trabalho, um chefe chato, um
professor que te deu nota baixa, um crush que está dançando com uma
pessoa que não seja você.
Curtir.
Hoje era dia de curtir.
Quando chegamos na pista de dança. Bad Girl do Usher está
tocando em um volume alto o bastante para que meus pensamentos em
relação a Liam sejam abafados.
Paramos uma de frente para a outra e Holly começa a dançar no
ritmo da música contagiante.
Fico a olhando um pouco constrangida de estar bem no meio da
pista.
Olho para todos os lados ainda sem me mexer, me sentindo um
pouco desconfortável e tímida.
— Não pense! — Holly grita, segurando minhas mãos. — Só sinta.
— Começa a rebolar ao som da música.
Com movimentos lentos e contidos, eu começo a dançar levemente.
Olho para os lados à procura de olhares em cima de mim, mas eles não
existem. As pessoas à minha volta estão só curtindo, então vou relaxando
mais e mais e começo a dançar com mais vontade.
— É isso aí, garota! — Minha amiga levanta os braços acima da
cabeça e dança livremente. — Se solta.
Sorrio em sua direção e me solto mais ainda.
Usher e sua voz envolvente ajudam para que eu me solte mais e
curta cada batida da música rápida e ao mesmo tempo sensual, mas quando
o refrão chega, é que eu me solto de vez.
 
Aah, me anime, querida
Balançando da maneira que eu gosto
Eu estou pronto para ser mau
Eu preciso de uma menina má
Diga: Sim!
Venha até mim, menina má
Que dama sensual
 
Levanto meus braços acima da cabeça e desço os braços pela
cabeça, seios, tronco e repouso minhas mãos nos meus quadris e os balanço
de acordo com a melodia.
Nunca me senti tão bem quanto agora.
Música após música, Holly e eu dançamos e cantamos até ficarmos
roucas. O suor escorre por minha têmpora e meu cabelo gruda em algumas
partes do meu pescoço e rosto por conta do suor. Meu coração bate
enlouquecido no peito e traz uma sensação muito boa.
Estou dançando minha quarta música, quando a sede e o cansaço
batem com força total em mim.
Olho em volta à procura de Holly e a encontro a poucos passos de
mim, dançando sensualmente com uma linda mulher negra de tranças.
Penso se devo ou não atrapalhar as duas, mas se eu sumir sem avisar
a ela, quando me encontrar, acabarei sendo morta. Então com esse
pensamento, vou até às duas e chamo a atenção de Holly.
— Vou até o bar beber alguma coisa! — grito em seu ouvido.
— Eu vou com você. — Vira de volta para a garota, se despedindo
dela que fala algo no ouvido da minha amiga e some na multidão.
— Não precisa. Só vim te avisar — digo.
— Está tudo bem — afirma. — Estou morrendo de sede também —
afirma, pegando na minha mão e me levando de volta ao balcão do bar.
Assim que saímos da multidão, o calor dá uma amenizada e consigo
respirar e nos mexer um pouco melhor. Chegamos em frente ao bar e todos
os nossos amigos estão parados ali bebendo algo.
— Onde estavam? Procuramos vocês em toda a parte — Simon
comenta, jogando algo em sua boca.
— Dançando. — Holly se adianta, procurando um lugar para se
sentar. — Por quê?
— Tenho algo a dizer a vocês.
— Pode dizer — Genna pede, bebendo algo de cor azul.
— Estamos esperando Maddy voltar do banheiro — meu irmão
comenta. — Vem aqui, Linda, tem um lugar pra você aqui. — Bate em sua
coxa direita.
Sem pensar muito, Holly vai até ele e senta em seu colo.
— O que está bebendo? — minha amiga pergunta, olhando para o
copo à sua frente.
— Água. — Oferece o copo a ela que o entorna de uma vez.
Paro de prestar atenção neles e vou até o balcão, mas o barman está
do outro lado, o que torna impossível que ele possa me escutar.
— Aqui, beba isso — Liam me oferece um copo de refrigerante bem
gelado.
— Obrigada. — Pego o copo e o viro de uma vez. O líquido gelado
desce, esfriando todo o meu corpo. — Como sabia que era isso que eu
precisava? — Bebo mais um gole.
— Eu já disse. Sempre estou de olho em você. — Me olha de cima a
baixo e afasta uma mecha de cabelo molhada do meu rosto e a coloca atrás
da minha orelha. — Aliás, você estava linda dançando. Parecia um lindo
anjo
Engasgo um pouco com o refrigerante e sinto minhas bochechas
esquentarem por completo.
— Está tudo bem? — pergunta preocupado.
— Está sim — respondo sem fôlego e tossindo mais uma vez. — Só
bebi rápido demais — tranquilizo-o.
Ele estava me vendo esse tempo todo? Mas ele não estava dançando
com Maddy?
Olho em volta e a ruiva está conversando animadamente com
Bennett e Genna, agora que voltou.
E me pergunto qual é a relação dos dois mais uma vez.
É a segunda vez que Liam diz que seus olhos estão voltados em
minha direção, me sinto confusa com sua afirmação.
Por que seus olhos estão em mim?
O que quer dizer com isso?
Droga, Emerson! Por que você me confunde desse jeito?
Estou pronta para perguntar o porquê de suas palavras, quando
Simon chama nossa atenção.
— Já que todos estão aqui, agora posso falar. — Simon chega perto
para que todos possam ouvir. — Meu primo disse que podemos ficar em um
dos camarotes. — Olha para cada um de nós. — O que acham?
— Eu topo.
— Eu também.
Todos confirmam.
— Teremos bebidalá em cima? Aaron e eu ainda não batemos nossa
meta — Holly pergunta, se levantando do colo dele.
— Terá um barman só pra gente lá em cima — confirma.
— Mas não ficará muito caro? Os ricos do grupo são só você,
Simon, Logan, e Bennett. — Maddy aponta para cada um deles.
— Holly também é herdeira. — Vou em direção a minha amiga.
— Quer dizer que eu tenho a minha própria milionária? — Aaron
festeja.
— Eu não sou rica. Meus pais são. — Se vira em direção a ele.
Aaron não diz nada, só sorri em direção a Holly e a puxa para seus
braços.
Ai, esse dois.
— Não precisam se preocupar. Meu primo deixou liberado.
— Se for assim — Genna se manifesta. — O que estamos fazendo
aqui?
Pagamos a conta do que consumimos ali no bar e seguimos em
direção ao camarote.
— Sabe o que podemos fazer? Brincar de verdade ou desafio —
Maddy sugere, subindo as escadas à nossa frente.
— Isso é brincadeira de ensino médio, Maddy — Bennett comenta.
— Não do jeito que eu jogo — a ruiva sugere. — E aí, topam?
— Eu topo. Tenho umas perguntas boas para fazer. — Holly olha
em direção a mim e a Liam que sobe atrás de mim.
— Que comecem os jogos, meninas! — Simon comemora, passando
pelo segurança da área vip e entrando no camarote.
Isso não vai prestar.
 
Está tudo embaçado
Mas tenho certeza que arrasamos
Droga!
Na última sexta à noite
Sim, nós dançamos em cima de mesas
E bebemos muitas doses
Acho que nos beijamos, mas eu esqueci
Na última sexta à noite
Last Friday Nigth — Kate Parry
 
 
 
 
Começo a subir as escadas para a área vip com Hanna à minha
frente e o balanço que sua bunda faz a cada degrau que sobe, entra em
contato direto com o meu pau.
Eu te entendo, colega. Ela é uma tentação, mas não é para o nosso
bico.
Tento acalmar meu parceiro de vida, mas fica difícil. Ainda mais
quando as lembranças dela dando um show na pista de dança começam a
passar como um filme em minha cabeça.
Hanna estava incrivelmente sexy com os cabelos grudados no rosto
por conta do suor. Suas bochechas estavam vermelhas pelo esforço e calor
humano à sua volta.
A vontade que tive naquele momento, era de ir até ela, tirar suas
roupas, e a comer na frente de todos ali presentes e mostrar que a gostosa
que estava dando um show para todos eles, era minha. Toda minha.
Magnífica.
Ela estava magnífica.
— Pode deixar todos entrarem. — A voz de Simon falando com o
segurança, me tira dos meus pensamentos com Hanna.
Entramos na área vip, a atmosfera do lugar mudou completamente.
O ar aqui em cima não é tão sufocante quanto lá embaixo e o ar-
condicionado é mais potente, secando em questão de segundos o suor que
escorria pelo meu pescoço e terminava em minha blusa.
— Por que não colocaram a gente aqui antes? — Maddy olha em
volta encantada.
— Esse lugar é a minha cara. — Genna se senta em um dos sofás
que tem ali. — Confortável e chique. — Se acomoda melhor.
O lugar é amplo, e diferente da parte inferior, aqui em cima é todo
decorado em dourado e preto, dando um ar sofisticado ao lugar.
Olho em volta, estudando o lugar e constato que o primo de Simon
fez um bom trabalho por aqui.
Há um banheiro do lado oposto à entrada para o camarote, e um
balcão de tamanho médio onde um barman está a nossa disposição para
fazer nossas bebidas.
— Vão querer beber algo antes de jogar? — Maddy pergunta,
olhando para todos.
— Genna e eu vamos pegar alguma coisa. — Holly vai até minha
amiga e a puxa em direção ao bar.
— Ainda vamos brincar desse jogo bobo? — Bennett pergunta,
sentado ao lado de Simon com os cotovelos apoiados no joelho.
— Se não quiser brincar bonitinho, é só não se sentar conosco. —
Maddy retruca.
Meu amigo encara a ruiva por alguns segundos e se recosta no
encosto do sofá sem dizer nada.
— Acho que não precisamos de bebidas agora. — Genna volta com
uma bebida qualquer e se senta no chão da área vip. — Podemos beber ao
longo do jogo — Sugere.
— Isso aí, meu povo! Vamos jogar. — Holly vem em nossa direção
rodando a garrafa vazia na mão e um copo de bebida na outra. — Quem for
participar, sente-se em uma roda. — Pede e todos nós nos sentamos.
A ordem fica assim:
Começando por Holly, que vem seguida de Aaron ao seu lado
esquerdo, seguido de Simon, Bennett, Genna, Maddy, eu e Hanna.
— Quem vai começar? — Aaron pergunta.
Todos ficam calados por alguns segundos sem vontade de começar o
jogo.
— Certo, eu começo já que dei a ideia. — Maddy pega a garrafa de
Holly, posiciona no chão e roda.
A garrafa rodou por alguns segundos até parar em Simon.
— Verdade ou consequência? — a ruiva pergunta animada.
— Consequência. — Pensa um pouco, mas acaba se decidindo.
— Desafio você a mostrar esse lindo bumbum para todos nós —
pede em tom de desafio.
— Já vamos começar assim, bonitinha? — Espreme os olhos em
direção a sua desafiante.
— Com medo? — Maddy levanta uma sobrancelha.
— Eu? Medo? Não conheço essa palavra — dizendo isso, meu
amigo se levanta, vira de costas e abaixa as calças mostrando a bunda.
— É isso aí, Simon! — Maddy grita e gargalha ao mesmo tempo.
— Ele fez mesmo. — Segura sua barriga enquanto gargalha.
— Você não vai olhar, Holly! — Aaron grita, colocando a mão nos
olhos dela.
Os gritos de todos se misturam, formando um grande caos, mas nem
uma reação me chama atenção a não ser a de Hanna. — Ah, meu Deus! Ele
mostrou mesmo. — Hanna grita ao meu lado e tampa o rosto.
— Achou que ele não mostraria, Moranguinho? — pergunto, rindo
de sua reação.
— Tinha dúvidas que sim. — Olha para mim pelas frestas dos
dedos.
— Você não conhece o Simon — comento, rindo do meu amigo.
— Pelo visto, não. — Ri um pouco de nervoso e por achar graça.
Uma coisa sobre Simon, ele é sem escrúpulos algum e nunca desiste
de um desafio.
— Então, o que acharam? — Rebola o quadril de um lado para o
outro, enquanto levanta as calças.
— Uma bunda de dar inveja, hein, Simon. Toda redondinha —
comento e todos caem na risada.
— Realmente é uma bela bunda, Kipling — Bennett elogia.
— Obrigado, Emerson, Ryan. — Olha para mim, volta seus olhos
em direção a Bennett, e se senta em seu lugar. — Eu sei que minha bunda,
assim como eu, é espetacular.
— Pronto, Karma. Agora você pode olhar. — Aaron tira a mão dos
olhos de Holly.
— Por que fez isso, seu idiota? — pergunta com falsa raiva.
— Não queria que tivesse pesadelos, Linda.
— Sei — Holly responde, voltando sua atenção para a garrafa. —
Sua vez, Simon.
— Beleza. — Pega a garrafa e a roda no chão.
Como da primeira vez, ela roda por alguns segundos e para em mim
e Holly.
Por que sinto que deu merda?
— Verdade ou consequência, Liam? — pergunta, me olhando por
cima da boca do copo.
Não gosto do olhar que ela me lança. Tenho certeza de que se pedir
desafio, ela vai fazer pior do que Maddy fez com Simon.
Pensando nisso escolho…
— Verdade — respondo.
— Está apaixonado por alguém que está nesse grupo? — Vira seu
copo de uma vez e abre um sorriso sacana.
Filha da mãe.
Era melhor eu ter escolhido desafio.
Mas por que ela fez essa pergunta? Está tão na cara assim?
— Então, Liam? Não vai responder. — Tira onda com a minha cara.
Olho em volta e Genna está com a atenção voltada para o copo em
sua mão. O que essa garota contou para Holly quando estavam no bar, hein?
Olho em direção a Aaron que me olha com expectativa.
Mal sabe ele.
— Pelo silêncio dele, acho que está, hein — Simon zoa, rindo de
mim.
— Podemos aceitar que quem cala consente, Liam? — Maddy
pergunta, me empurrando com seu ombro.
Respiro fundo e respondo de uma vez.
— Sim.
— Sim, o que, bonitão? — Holly insiste.
— Eu gosto de alguém do grupo. — Tusso para desfazer o bolo na
minha garganta. — Feliz? — pergunto para ela.
— Muito — afirma, olhando para Hanna com triunfo em seu olhar.
— Próximo. — Pego a garrafa e a rodo no chão.
Ela gira, gira e acaba parando em…
— Parece que a garrafa gosta de você — Bennett comenta, olhando
da garrafa para Holly.
— Eu faço as melhores perguntas — se valoriza.
— Isso eu não posso negar — Simon concorda.
—  Vamos lá, então. — Bate palminhas. — Verdade ou
Consequência? — pergunta para Maddy.
— Verdade — a ruivaresponde com certeza.
— É isso aí, garota! — Genna comemora.
— Gosta de descobrir os podres das pessoas, Genna-Genna? —
pergunto.
— Sabe que amo uma confissão. — Ri.
— Se amam uma fofoca, deixem eu fazer a pergunta para vocês
terem o que falar. — Holly nos corta e volta seus olhos para Maddy. —
Certo… O que eu quero saber é. — Pensa um pouco. — Se você e o Liam
tem algo? — Olha para nós dois.
— De uma vez só para não doer, não é? — Maddy pergunta.
— O melhor jeito — Holly responde.
— Holly! — Hanna a adverte.
— O quê? Só queria saber. — Dá de ombros, olhando para Hanna. 
— Curiosidade, só. — Volta sua atenção para Maddy. — Então, namoram?
— Não, a gente não namora. — Olha para mim. — E antes que você
pergunte. Sim, nós já ficamos, mas optamos pela amizade — minha amiga
responde, já pegando a garrafa.
Holly entrega a garrafa para Maddy, e por eu ainda estar olhando
para a amiga de Hanna, consigo ver a troca de olhares das duas.
Estranho.
— Beleza, vamos lá. — Maddy gira a garrafa e para em Holly.
— Pelo menos agora quem vai responder serei eu — comenta.
— Verdade ou Desafio? — Maddy pergunta, já passando a garrafa
para Genna.
— Verdade — escolhe.
— Só eu fui corajoso de escolher desafio? Vocês são muito fracos
— Simon retruca.
— Calma, gatinho, que teremos consequências ainda — Genna
garante, olhando pra mim.
O que você está aprontando, sua maluca?
Pergunto com o olhar assim que vira em minha direção.
Genevieve não fala nada, só sorri e volta sua atenção ao jogo.
— Verdade, então. — Maddy pensa. — Acho que vou retribuir a
pergunta.
— Pode mandar — Holly pede.
— Quem você pegaria do grupo? — Manda de uma vez.
— Eu, eu. Me escolhe, Holly. — Simon levanta a mão e começa a
quicar no mesmo lugar. — Eu sou gostoso demais para você não me
escolher.
— Isso é verdade, gatinho. — Dá uma boa olhada nele. — Mas eu
gosto dos tatuados. Desculpa.
— Eu sabia que devia ter feito uma com você, Bennett — Simon,
comenta em uma falsa frustração.
— Esqueceu que tem medo de agulha? — relembra o amigo,
arqueando uma sobrancelha.
— Não é medo, só não gosto que tenha algo dentro de mim,
sugando meu precioso sangue.
— Sei — Bennett responde.
Então ele acaba fazendo uma coisa que ele quase não faz. Ele sorri
achando graça de Simon.
— Certo, pessoal. Prestem atenção aqui — Maddy pede. — Então,
Holly, qual é sua resposta?
— Com certeza seriam Aaron e Genna. — Olha para os citados.
— Saiba que você também seria minha escolha. — Genna pisca em
direção a amiga de Hanna.
Holly sorri de volta como uma promessa de algo.
— Que história é essa, Holly? Me traindo assim na minha cara? —
Aaron cruza os braços em falsa indignação.
— Desculpe, mas já olhou para essa mulher? — Faz um movimento
com os braços como se estivesse apresentando alguém. — Não tem como
não pensar umas coisinhas.
— Vocês formariam um belo casal, amiga — Hanna apoia.
— Ei, Bonequinha. Você deveria estar do meu lado, não do dela —
o irmão protesta.
— Desculpe, só disse a verdade. — Faz uma cara inocente.
— Traíra.
— Amo você — Hanna devolve.
— Sei, próximo a rodar a garrafa — Aaron pede olhando para todos.
— Vamos mesmo continuar brincando disso? — Bennett resmunga.
— Não está gostando, Fofinho? —  Genna pega a garrafa, gira no
chão e ela acaba parando nele. — Verdade ou desafio?
— Pede logo desafio, ele não vai responder nem uma verdade —
Simon sugere.
— Certo, então será desafio — Genna concorda.
— Como quiser — Bennett aceita.
— Ok… eu te desafio a… — Olha em volta à procura de algo. — Já
sei. — Seu rosto se acende com a ideia. — Desafio você a pegar alguém
nessa balada em trinta segundos — desafia.
— É sério, isso? — pergunta entediado.
— Uhum. — Minha amiga assente com a cabeça.
— Beleza — Bennett suspira cansado, se vira em direção a Simon,
segura em seu pescoço e beija o melhor amigo com vontade.
— Ah, meu Deus! Por essa eu não esperava — Genna grita, com os
olhos arregalados.
— Meu Deus! Acho que molhei a calcinha — Holly comenta com
os olhos fixos nos dois homens que se beijam na sua frente.
— Molhar? Acho que a minha derreteu. — Maddy diz com os olhos
vidrados nos dois. — Aceitam um ménage? — pergunta, ainda encarando
os dois.
Simon se ajeita melhor em seu lugar, entranha as mãos nos cabelos
grandes de Bennett e o beija com vontade. Não é um simples beijo, os
lábios dos dois já se conhecem, como se já tivessem se beijado outras vezes
mais, e agora só estão matando a saudade um do outro.
Ora, ora, Simon e Bennett.
Eu já sabia que os dois são bissexuais, mas não que já tinha tido
algo em algum momento.
O beijo vai perdendo a velocidade aos poucos. Bennett segura o
maxilar de Simon, puxa seu lábio inferior com os dentes e o solta devagar, e
se afasta.
Os dois se olham e seus olhos estão em chamas, mas a troca de olhar
não dura muito e eles voltam a atenção para o jogo.
— Acho que agora minha calcinha se desintegrou — Holly comenta
vidrada nos dois.
— Aham — Hanna sussurra ao meu lado e quando olho para ela,
suas bochechas estão coradas.
Devo admitir que até eu que me reconheço como hétero, me senti
abalado.
Eles são quentes, tenho que admitir.
— Eles são intensos — Aaron admite.
— Aham — respondemos em um coro.
— Mais alguém quer jogar? — Simon pergunta, ofegante e
passando a língua no lábio inferior.
— Eu quero! — Aaron levanta a mão animado.
Pegando a garrafa, colocando-a no chão, ela começa a girar.
— Em quem será que vai parar? — Genna cantarola.
A garrafa gira mais algumas vezes, até que para em Hanna e em
Genna.
Isso não vai prestar.
Encaro minha melhor amiga, e ela está com um sorriso triunfante no
rosto.
Essa filha da mãe vai aprontar alguma. Tenho certeza, só não sei o
que é.
Genna me encara por mais alguns segundos, até que sorrindo, ela se
vira em direção a Hanna e pergunta:
— Verdade ou desafio?
— Desafio. — Sua voz sai um pouco incerta.
— É isso aí, Hanna Mo, mostra como se faz — Holly comemora.
Hanna a encara, ri nervosamente e depois volta sua atenção para
Genna.
— Certo, já que escolheu desafio. Eu quero que você e o Liam
fiquem sete minutos no céu. — Abre um sorriso igual ao do gato de
Cheshire.
Meu coração dispara em nervoso e expectativa de ficar preso em um
lugar com Hanna.
Olho em sua direção e seu rosto está completamente vermelho de
vergonha. Olha de mim para Aaron e decido olhar para ele também. Seu
rosto é neutro como se não ligasse para o que foi proposto.
Ele não pensaria assim se soubesse o que penso sobre a irmã dele.
— Então... Vai realizar o desafio? — Genna insiste.
Olho para Aaron novamente.
— O quê? Por mim tudo bem — diz sem preocupação alguma. —
Ela está mais segura com você do que com qualquer outra pessoa — afirma.
Sinto uma pontada em meu peito depois de suas palavras, e acabo
me sentindo mais culpado ainda pelos sentimentos que tenho pela irmã
dele.
— Posso botar o relógio pra contar? — Holly pergunta.
Respiro fundo, me levanto e paro em frente a Hanna, oferecendo
minha mão a ela.
— Vamos?
Hanna olha da minha mão para o meu rosto, hesita um pouco, mas
acaba entrelaçando nossos dedos um no outro.
— Não façam nada que eu não faria, hein, crianças — Simon
alfineta, rindo.
Sem olhar para ele, mostro o dedo do meio e vou em direção ao
banheiro com Hanna logo atrás de mim, com nossas mãos ainda
entrelaçadas.
— Vou começar a contar agora. — Escuto o grito de Holly, antes de
fechar a porta.
Seja o que Deus quiser.
 
Eu sou louco pelo seu toque
Menina, eu perdi o controle
Eu vou fazer isso durar para sempre
Infinity - James Young
 
 
 
 
Liam fecha a porta atrás de si, e um silêncio ensurdecedor toma
conta do lugar.
Meu coração bate tão forte que parece que vai sair da caixa torácica.
Que ideia foi essa de nos manter presos aqui por sete minutos?
Com certeza isso é ideia da Holly. Tenho certeza de que tem o dedo
daquela maluca nisso tudo. Genna não teria essa ideia sozinha.
Chegar a essa conclusão só me faz lembrar delas juntas rindo e
concordando com algo, depois que saíram do bar.
Não sei o que elas acham que vai acontecer com a gente preso nesselugar.
Cansada do silêncio que nos abraça, decidi estudar um pouco o
lugar em que ficaríamos presos por mais cinco minutos.
Olho em volta, e o banheiro é bem amplo e arejado, com enormes
janelas que dão para os fundos da boate. Chego perto das janelas e que linda
vista está à minha frente. É como uma praça particular, com muitas árvores
e banquinhos e mesa para fazer um piquenique.
Será que o primo de Simon sabe da existência desse espaço
magnífico bem atrás da sua propriedade?
— É lindo!
— O que é lindo? — pergunta e percebo que pensei em voz alta.
— O jardim que tem nos fundos da propriedade. — Aponto com o
queixo sem olhar em sua direção.
— É realmente incrível — Escuto seus passos até mim.
— Me lembra o que temos em nossa casa — conto saudosa.
— Claire fez um ótimo trabalho naquele lugar. Me lembro que
amávamos os dias de verão.
— Corríamos como loucos por aquele espaço todo.
— Você e seu irmão corriam como loucos, eu ficava curtindo a paz
de não ser cobrado o tempo todo — comenta desanimado.
— Desde aquela época, ele já te cobrava? — Me viro em sua
direção, perguntando de seu pai.
— Acho que ele me cobrava de ser como ele desde que nasci. —
Continua olhando para as árvores que dançam junto ao vento fresco lá fora.
— O senhor Mase Emerson sempre quis uma cópia idêntica a ele, Hanna. E
quando ele não conseguiu. — Dá de ombros. — Bom, isso não é assunto
para agora.
Me aproximo mais dele e coloco minha mão sobre a sua, repousada
no parapeito da janela, e entrelaço nossos dedos. Liam olha para nossas
mãos unidas e aperta de leve os dedos em volta dos meus, em um gesto de
agradecimento.
Eu sabia que o senhor Emerson era duro demais com o filho. Escutei
uma conversa entre Liam e meu irmão, onde ele contava sobre a última
briga que ele teve com seu pai. Lembro que Aaron perguntou o motivo da
discussão, mas Liam acabava dizendo que não era nada demais.
Ele estava sofrendo algo que nem mesmo Aaron – seu melhor amigo
– sabia o que era.
Olhando nossas mãos entrelaçadas, mudo de assunto.
— Lembra quando fizemos um pequeno acampamento?
Rindo, ele confirma com a cabeça.
— Não aguentamos nem duas horas depois do jantar por conta dos
mosquitos.
— Quem imaginaria que teria mosquito ao ar livre, hein? — Acabo
rindo junto com ele.
— Fiquei com minhas pernas vermelhas e coçando por uma semana.
— Tudo culpa de vocês.
— Nossa? — Aponta para o próprio peito com os olhos arregalados.
— De vocês.
— Posso saber como os mosquitos quase comerem a gente foi culpa
minha e do seu irmão?
— Vocês ficaram obcecados que iriam participar dos escoteiros, que
já queriam treinar como seria acampar na selva.
— Ah, verdade! — Seu olhar fica longe e saudoso. — Nos
preparamos o ano inteiro.
— E eu sofria como cobaia das esperanças de vocês.
— Você era nossa mascote. — Faz um carinho com o polegar com
nossas mãos ainda unidas.
— Às vezes me pergunto se não preferiria que meu irmão fosse
normal, daqueles que detestasse ter a irmã mais nova metida nas
brincadeiras com os melhores amigos.
— E não termos nossa mascotinha conosco? Nem pensar.
— Eu ficava mais lendo do que tudo.
— Sua presença já era o bastante.
Meu coração bate tão forte em meu peito, que levo minha mão de
encontro ao peito — como se impedisse que meu coração escapasse da
caixa torácica — e acabo tocando em meu amuleto da sorte com o pingente
escondido pelo vestido.
— Sabe uma lembrança que tenho viva em minha memória?
— Não.
— Lembra do meu aniversário de dezesseis anos?
— Lembro. Você estava superanimada para sua viagem a Disney
pra finalmente conhecer o seu lugar preferido da vida.
— Exatamente, mas se lembra do momento em que me deu meu
presente de aniversário?
— Também. Passei semanas procurando o presente perfeito.
Puxo a cordinha e o pingente aparece. A luz do lustre que enfeita o
banheiro reluz no pingente de ouro branco, fazendo-o brilhar como uma
pequena estrela em minhas mãos.
— Não acredito que o tenha ainda. — Segura o pingente junto
comigo.
— Desde que você o colocou em mim, eu só tiro para tomar banho.
— Parece que acertei no presente. — Foca seus olhos em minha
direção.
— Acertou mesmo. — Sorrio, sentindo minha boca secar. — Ele se
tornou meu amuleto da sorte. — Passo minha língua nos lábios secos e vejo
seus olhos acompanharem cada movimento.
Ficamos encarando um ao outro por tempo indeterminado. Liam não
tira os olhos dos meus lábios e eu percorro seu rosto com os meus.
Seus olhos azuis estão mais brilhantes e quentes do que antes, sua
respiração está um pouco descontrolada, desço meus olhos para o seu pomo
de Adão que se mexe quando engole a saliva, subo um pouco para sua
mandíbula marcada e uma vontade de beijar aquele lugar, começa a crescer
em mim.
Levanto meus olhos para seus lábios vermelhos e chamativos, e todo
o meu corpo se arrepia com a ideia de ter meus lábios colados a qualquer
parte de Liam.
Como seria o sabor dos seus lábios?
Laranja.
Muito provavelmente o beijo de Liam, teria gosto de laranja, como
as balas que fazem da sua boca uma morada.
Sem perceber, levo minha mão até seu rosto e faço um carinho bem
rente aos seus lábios.
— Hanna — sua voz rouca faz com que um arrepio suba pelas
minhas pernas e pare entre elas.
— Oi? — Minha voz não passa de um sussurro.
— O que está fazendo?
— Não sei. — Me enchendo de uma coragem que não sei de onde
vem, fico na ponta dos pés e selo nossos lábios.
Nossos lábios estão encostados em um simples selinho, e o meu
corpo reage como se mil borboletas estivessem voando em minha barriga.
Laranja.
Ele tem gosto de laranja, cigarro, álcool e Liam. Uma mistura
perfeita para mim.
O corpo de Liam fica duro como uma pedra em meus braços, pela
surpresa. E me pergunto se foi uma boa ideia tê-lo beijado assim.
Estou prestes a me afastar, mas ele não me dá escapatória, colando
nossas bocas e invadindo meus lábios com sua língua. Liam segura meu
pescoço com uma mão e com a outra segura minha cintura e a aperta de
leve, me fazendo gemer em aprovação em seus lábios.
Imitando seus movimentos, seguro em seus cabelos, e junto nossos
corpos o máximo que consigo, sentindo seu pau endurecido em contato com
minha boceta, cravo minhas unhas em seu couro cabeludo e o arranho.
Liam treme em meus braços e puxa meu lábio inferior para si.
— Liam — gemo seu nome e ele aperta minha bunda com suas
mãos grandes e fortes.
Nunca me senti tão excitada em toda a minha vida. Minha boceta
está completamente encharcada só com essa troca de beijos.
— Deus, como você é gostosa. — Afasta, desgrudando nossos
lábios e leva sua mão em direção a barra da saia do meu vestido e a sobe
um pouco. — Agora que provei você, não sei se serei capaz de ficar longe.
— Segura minha outra perna e me coloca sentada em uma mesinha que tem
ali.
Antes que eu consiga perguntar o que quer dizer com isso, ele ataca
minha boca mais uma vez em um beijo sedento e desesperado. Meus lábios
ardem por conta do contato afoito e desesperado. Liam me beija como se
precisasse disso para respirar, e eu me entrego de bom grado.
Desço minha mão pelo seu peitoral forte e definido pelos treinos de
hóquei e na academia, até chegar a barra de sua camisa. Estou quase
enfiando minhas mãos por dentro de sua blusa, quando um baque na porta
nos chama a atenção e nos faz separar.
— Ei, casal! A conversa está boa aí? Estão aí dentro há quinze
minutos. — A voz de Genna ecoa lá fora.
— Já estamos saindo, Genna. Não vimos a hora passar — Liam a
responde, ofegante com sua testa colada à minha.
— Percebi. — Escuto sua risada pela porta. — Estamos esperando
vocês pra pedir algo para comer.
— Beleza, já estamos saindo — responde de novo.
Alguns segundos se passam e não escutamos mais a voz de Genna lá
fora.
Encaro Liam e seus cabelos estão desgrenhados por conta dos meus
dedos e seus lábios vermelhos pelos beijos que trocamos.
Um silêncio toma conta do lugar e se não fosse pelas nossas
respirações ofegantes, ele seria ensurdecedor.
Não sei o que dizer a ele.
Peço desculpa?
Para esquecer tudo?
Para repetirmos mais vezes?
Estou perdida sobrequal passo devo dar, mas também não posso
ficar sem dizer nada, mesmo que eu não saiba o que dizer.
— Liam.
— Agora não, Moranguinho. — Me desce da mesa. — Vamos
conversar depois, tá bom?
Um pouco nervosa, assinto com a cabeça.
Sem dizer mais nada, ele pega minha mão e vamos em direção a
porta do banheiro.
Meu corpo o segue no automático.
Será que fiz algo errado?
O que será que se passa na cabeça dele agora?
Será que ele está arrependido?
Um turbilhão de coisas se passa em minha cabeça, mas acabam
sendo abafadas pela música alta quando Liam abre a porta.
— O que estavam fazendo todo esse tempo lá dentro? — Simon é o
primeiro a perguntar. — Estão se pegando, não é?
— Claro que não — Liam o responde rápido demais, fazendo meu
coração se apertar no peito. — Estávamos conversando e acabamos
perdendo a hora.
— E sobre o que conversavam? — Genna pergunta, bebendo de seu
copo.
Antes que Liam a responda, eu tomo sua frente.
— Tem uma janela que dá para um lindo jardim lá dentro.
Acabamos lembrando dos acampamentos que fazíamos quando crianças,
lembra, Aaron? — Me viro em direção ao meu irmão.
— E como lembro. Você ficou toda picada de mosquitos uma vez —
comenta, rindo ao lado de Holly que me encara fixamente.
— O que foi? — pergunto com o olhar.
— Depois a gente conversa — fala sem sair som algum.
Suspirando, aceito com a cabeça.
— Bom, eu já vou embora — Liam volta a falar. — Alguém quer
carona?
— Mas já? Fica só mais um pouco — Genna pede.
— Já, sim. Estou bem cansado e amanhã temos aula e treino ainda.
— O senhor Foster vai nos foder amanhã — Simon reclama. — Vou
beber mais pra valer a pena ele encher o nosso saco. — Sai dali e vai até o
bar.
— Certo, alguém vai comigo ou não?
— Leva a Hanna com você — Holly sugere. — Ela não queria vir
mesmo.
— Quer ir para casa? — Olha pra mim depois de minutos que
saímos lá de dentro.
— Não precisa. Eu pego um Uber.
— Que Uber o quê? Você vai comigo.
— Não quero te atrapalhar.
— Hanna. — Foca seus olhos em mim. — Você nunca me atrapalha.
Mais uma vez, meu coração idiota começa a acelerar no peito.
Nos despedimos de todos e sigo com Liam até a saída, com o nosso
beijo ainda vivo em minha mente e lábios.
 
 
 
Paro o carro em frente ao seu alojamento e ficamos em silêncio.
Ainda consigo sentir o gosto azedinho da bala de laranja que comeu
e do açúcar do refrigerante que tomou há poucas horas atrás.
Seus lábios são convidativos e macios demais. Passaria a noite
beijando a mulher ao meu lado sem reclamar um segundo.
Nosso beijo aconteceu de modo inesperado e gostoso. Não esperava
aquela atitude de Hanna.
Se fechar meus olhos, ainda consigo sentir todas as sensações que
ela despertou no meu corpo quando suas mãos estavam entranhadas em
meus cabelos e suas unhas grandes arranharam meu couro cabeludo.
Sinto meu pau latejar com a lembrança do quanto ela estava quente
e receptiva.
Essa garota ainda será minha ruína.
Estou com as mãos apoiadas no volante, quando sua voz serena e
um pouco rouca, me desperta dos meus sonhos.
— Me desculpe.
Me viro para ela com o cenho franzido.
— Pelo quê?
— Por ter beijado você — brinca com os dedos das mãos, nervosa.
— Hanna... — Tento falar, mas sou interrompido.
— Não, Liam. Me deixe falar. — Toma fôlego. — Eu sei que acabei
misturando as coisas, que você muito provavelmente não sente o mesmo
que eu, e que deve estar me achando uma louca por ter te beijado daquela
maneira inesperada. Mas eu gosto de você há tanto tempo, Liam, que já
perdi a noção dele. E estávamos lá, juntos, e eu não resisti.
Ela fala uma coisa atrás da outra e eu só consigo pensar no “gosto
de você há tanto tempo”
— Se quiser fingir que nada aconteceu, nós podemos fingir. Mas por
favor, diga alguma coisa — continua seu monólogo.
A voz de Hanna vai ficando cada vez mais distante. Meu coração
bate acelerado no peito, minhas mãos geladas começam a suar, e a única
coisa que consigo fazer, é repetir como mantra o que ela disse.
Gosto de você há tanto tempo.
Gosto de você há tanto tempo.
Há tanto tempo.
TANTO TEMPO.
Foco meus olhos em Hanna e segurando seu rosto com minhas duas
mãos, eu digo:
— Não iremos esquecer o que aconteceu naquele banheiro,
Moranguinho. E sabe por quê? — pergunto, fazendo um carinho em seu
rosto com meu polegar.
— Não. — Balança a cabeça em negação.
— Porque eu queria ter você em meus braços desde os seus
dezesseis anos, Hanna.
Vejo seus olhos ficarem rasos pelas lágrimas não derramadas.
— O qu... O que quer dizer com isso? — Sua voz sai embargada.
Encosto nossas testas e tomo fôlego para contar tudo a ela. Chega de
esconder que sou apaixonado por ela.
— Quer dizer que eu sou completamente apaixonado por você,
Hanna.
Ela sorri e chora ao mesmo tempo e chega perto de mim o máximo
possível.
— E eu por você.
Sem esperar mais, junto nossos lábios mais uma vez e a beijo com
fome e vontade como sempre quis fazer.
Mais uma vez, consegui sentir o gosto de laranja em seus lábios.
Nunca pensei que minha bala preferia poderia ficar melhor do que ela já
era. A combinação dela com os lábios de Hanna, era magnífica demais, e
me deixava completamente louco.
Diferente do beijo na boate, esse beijo agora é calmo e tem um
sabor de conquista. De, finalmente, estarmos nos braços um do outro.
Genna tinha razão, Hanna realmente sentia algo por mim.
Minha melhor amiga iria surtar quando eu contasse para ela o que
aconteceu hoje.
Por falar em melhor amigo...
Tento afastar os pensamentos nocivos que tomam conta da minha
mente, e aproveito cada segundo que posso, me entregando ao beijo de
Hanna que morde meu lábio inferior, fazendo com que eu aperte sua cintura
e feche os olhos fortemente pelo tesão que sinto nesse momento.
— Por que ficou tanto tempo sem falar comigo? — pergunta. —
Foram dois anos, Liam.
Sinto meu peito ser esmagado pela culpa.
— Porque eu sou um idiota que queria sufocar o que estava
sentindo, e achei que se te mantivesse longe, isso iria acontecer. — Suspiro,
fazendo um carinho em sua mão.
Hanna fica em silêncio por alguns segundos.
Acho que está absorvendo o que acabei de dizer.
Sei que foi infantil da minha parte, mas aquela era minha única
opção no momento.
— Eu não acredito que isso está acontecendo — sussurra com os
lábios rentes aos meus.
— Pode acreditar, Linda. Porque é a verdade.
Abro meus olhos e a encontro de olhos fechados e com um lindo
sorriso no rosto.
Magnífica.
Ela se distancia um pouco e me encara com aqueles lindos olhos
azuis brilhantes, que aos poucos vão perdendo o brilho.
— O que foi, Moranguinho? — Afasto uma mecha de seu cabelo
para o lado.
— O que faremos agora?
— Com relação a quê?
— A nós dois.
— Bom... — Penso um pouco antes de falar. Outra coisa sobre mim,
não sou muito bom com as palavras. — Vivendo um dia de cada vez.
— Um dia de cada vez? — Pega minha mão e começa a brincar com
meus anéis.
— Um de cada vez.
Meu coração acelera no peito mais uma vez e segurando em seu
rosto novamente, eu a beijo. Matando toda a vontade que sufoquei dentro
de mim por tanto tempo assim.
— Contaremos aos nossos amigos?
Sua pergunta me deixa um pouco receoso por conta da resposta que
darei a ela.
Tenho medo de que Hanna pense que quero escondê-la de todos,
coisa que não quero nunca.
— Podemos manter entre a gente? — pergunto, vendo seus olhos
perderem o brilho aos poucos. — Não peço isso pelo motivo que imagina,
Moranguinho. — Faço um carinho em seu rosto. — Prometo que é só até
entendermos o que está acontecendo entre nós dois. Nos conhecemos há
muito tempo, Hanna e não quero que as pessoas achem que você é mais
uma em minha vida — digo, ainda fazendo carinho em seu rosto.
— Eu entendo o que quer dizer. — Leva as mãos até meus cabelos,
fazendo um carinho gostoso em meu couro cabeludo. — Tudo bem, Liam.
Será nosso segredo.
Sorrio com sua confirmação e a puxo para mais um beijo.
Beijar Hanna é como estar no paraíso.
Nunca pareceu tão certo assim ter alguém nos meus braços.
Aprofundo nosso beijo, envolvendo minhas mãos entre seus cabelos
da nuca, e peço que a felicidade queestou sentindo nesse momento, não
seja momentânea.
 
Estou tão afim de você
Que eu mal posso respirar
E tudo que eu quero fazer
É me jogar com tudo
Into You - Ariana Grande
 
 
 
 
Estou sentado no fundo da sala de projeção esperando Simon,
Bennett e Aaron chegarem.
Hoje o nosso treino será teórico.
Que morte lenta e horrível.
O senhor Foster, nos obrigará a ver e rever os lances do nosso
primeiro adversário, até cansarmos.
Como ele mesmo disse:
Esse ano a taça vem para nossa faculdade. Nem que a bunda de
vocês fique congelada de tanto tempo no gelo ou quadrada pelo tempo que
vão ficar assistindo lance a lance do nosso adversário.
Isso porque os jogos oficiais só começam daqui a alguns meses.
A gente vai se foder tanto.
Por isso estou aqui agora, vendo meus amigos entrarem na sala
quase deserta. Tive que sair mais cedo que eles hoje porque tive que ir até
uma loja comprar cordas novas para minha guitarra. Estava tão destruído
ontem que acabei arrebentando duas cordas de uma vez só.
Também pudera, não é?
Quem teria atenção dobrada depois do que aconteceu ontem?
Ainda me pego incrédulo por tudo o que vivi com Hanna.
Quem diria que ela sentiria o mesmo que eu, não é?
Ontem, depois que cheguei do seu dormitório. Fui para o meu
quarto pensar em tudo aquilo, e na decisão que tomamos. Íamos nos – se
assim posso dizer – conhecer melhor.
Lembrar dela me faz ter vontade de mandar uma mensagem para
saber como ela está.
Então sem esperar mais, pego meu celular no bolso.
 
Eu:
Bom dia, Moranguinho. ��
Aperto o enviar e espero sua resposta, que não demora a chegar.
 
Moranguinho:
Bom dia! ❤ 
 
Como um bobo apaixonado, meu coração erra uma batida.
 
Eu:
Como você está?
Dormiu bem essa noite?
 
Por que minhas perguntas estão sendo tão rasas e idiotas assim?
Fala sério, Liam. Você consegue fazer melhor do que isso.
Estou me batendo mentalmente, quando meu celular acende mais
uma vez, ao receber uma notificação.
 
Moranguinho:
Tive um pouco de insônia.
Espero que sua noite tenha sido melhor do que a minha.
 
Responde e manda um meme do cachorrinho com a cabeça apoiada
na beira da piscina, triste, e acabo rindo um pouco, mesmo que esteja
preocupado com ela.
 
Eu:
Até que minha noite de sono foi boa.
Mas o que houve para não ter conseguido dormir direito?
 
Minha cabeça sabotadora começa a imaginar mil e uma coisas.
Será que ela se arrependeu do beijo?
Mas ela admitiu sentir algo por mim há bastante tempo.
Olho para a tela do celular e abaixo do seu nome aparece e some
digitando várias vezes.
Já estou pensando em desistir de receber uma mensagem contando o
que aconteceu, e marcando um encontro entre nós dois, quando sua
mensagem chega.
 
Moranguinho:
Não consegui parar de pensar em você e em nosso beijo ontem à
noite.
Como se eu nunca tivesse feito isso.
 
E mandou um gatinho com bochechas vermelhas.
Espera...
Eu li isso certo?
Releio a mensagem e descubro que sim, eu li certo.
Hanna acabou de admitir que já perdeu noites de sono pensando em
mim outras vezes?
É... parece que sim.
Estou prestes a mandar uma resposta para ela, quando os caras
chegam chamando a minha atenção.
— E aí, cara. Por que saiu mais cedo de casa? — Simon me
cumprimenta, se sentando na cadeira em frente a minha e virando para trás.
Bennett me cumprimenta com um aceno de cabeça e se senta ao
lado de Simon se virando para trás para ouvir a conversa, mesmo que não
vá falar nada.
Uma coisa sobre ele:
Odeia acordar cedo e socializar.
Como ele mesmo disse uma vez:
Minha alma ainda não voltou para o corpo para eu estar falando com
vocês logo cedo.
E já que não quero morrer, só aceno a cabeça e volto minha atenção
para Simon.
— Bom dia. — Me ajeito na cadeira. — Tive que sair pra comprar
corda para minha guitarra.
— Mas você não comprou novas semana passada? — Aaron senta
ao meu lado.
— Arrebentei elas ontem. Acabei apertando demais.
— Estava tão distraído assim depois do jogo de ontem? — Simon
joga piadinha para cima de mim.
Encaro meu amigo com os olhos espremidos em fendas.
— Por falar em jogo ontem — Aaron começa e sinto meu corpo
gelar. — Deixou minha irmã em casa direito?
— Lógico, seu cuzão. — Bato em sua nuca.
— É isso aí. Sendo um bom chofer. — Alisa o lugar em que bati. —
Vai ganhar promoção se continuar assim. — Começa a rir da minha cara,
massageando o lugar atingido.
— Vai se foder. — Levanto o dedo do meio em direção a eles. —
Mas e aí? O que fizeram quando saímos de lá? — pergunto, mudando o
rumo da pergunta.
— Aaron e Holly ficaram bebendo e acho que os vi se beijando em
uma certa hora — conta, olhando em direção ao amigo e levantando as
sobrancelhas em sugestão.
— Espera… — Viro meu rosto tão rápido em sua direção, que o
sinto estalar. — Você e a Holly ficaram?
— Sim — conta sem muito interesse, mas acabo percebendo um
pequeno sorrisinho crescer em seus lábios.
— Do nada? — pergunto de novo.
— Estávamos sentados, bebendo, e quando percebemos, estávamos
nos beijando.
— Eu sabia que você não iria resistir a ela. — Cruzo os braços,
esticando minhas pernas e escondendo meus pés embaixo da cadeira de
Simon.
— Eu gostei dela desde a primeira vez que a vi. — Dá de ombros.
— Mas não vai rolar mais nada entre nós.
— Por quê? — Simon pergunta o que eu iria perguntar.
— Porque Holly e eu somos amigos, e ela não quer estragar nossa
amizade. — Mexe nos cabelos os jogando para trás. — Segundo ela,
podemos ficar quando tivermos em alguma festa e nenhum de nós dois
pegar alguém.
— E você aceitou? — pergunto.
— É cômodo e fácil. Por que eu não aceitaria? — Dá de ombros.
Olho para ele e não falo mais nada.
Essa história dos dois ainda vai para a frente, e algo me diz que
esses beijos estepes irão evoluir para algo maior.
— Mas e vocês, o que ficaram fazendo? — Aponto para Bennett e
Simon pegando minha garrafinha de água ao meu lado e bebendo um gole.
— Tivemos uma noite bem produtiva com a Maddy — Simon conta,
sorrindo.
— O quê?! — Me engasgo com o líquido e começo a tossir sem
parar.
Porque meus amigos tem que ser tão sem filtro assim?
— Calma, cara. Vai morrer sufocado assim. — Aaron ri, batendo
nas minhas costas com um pouco de força desnecessária.
— Já está bom, seu filho da puta. — Empurro seu braço das minhas
costas. — Era pra me desengasgar, não surrar.
— Só retribuindo o tapa que me deu. — Sorri e se recosta na
cadeira.
— Cuzão. — Tusso mais algumas vezes e me viro em direção a
Simon. — Vocês fizeram o quê?
— Lembra do desafio que fizeram ao Bennett...?
— De beijar alguém na balada em trinta segundos e ele acabou te
beijando como um dementador[1], sugando sua alma pela sua boca? Sim,
lembramos — Aaron afirma.
— Quer um beijo assim também, Aaron? — Bennett pergunta,
olhando para meu melhor amigo sob os óculos escuros.
— E se o Simon ficar com ciúmes, e pensar que vai largar ele para
formar uma dupla comigo e acabar com meu lindo rostinho? Você é gostoso
com esse cabelo grande, olhos azuis e marra de bad boy, mas não vale o
risco. — Se desculpa.
— Ele nunca me trocaria por você, Carson. — Simon abre um
sorriso cafajeste.
— Por que não? Sou gostoso e tatuado. Quem não quer tirar uma
casquinha minha? — Passa as mãos na franja mais uma vez.
— Eu — digo, levantando a mão. — Você não faz o meu tipo.
— Desdenhando de mim, entendi. — Finge um choro.
Bennett balança a cabeça em negação e o amigo ao seu lado começa
a rir.
— Enfim. — Chama a atenção. — Quando estávamos nos beijando,
ela perguntou se aceitávamos um ménage. E depois que você foi embora,
ela chegou em nós e acabamos conversando. E quando vimos, estávamos os
três embolados em uma cama — termina de contar.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até Aaron abrir a boca.
— Será que a Holly topa um ménage? — sussurra quase inaudível.
– Sério? — Olho para ele, que se vira em minha direção e sorri
quando franzo meus olhos em sua direção.
Tudo agora é a Holly.
Esse filho da mãe está caidinho pela melhor amiga de Hanna e acha
que me engana.
Só quero ver quando ele se der conta disso.
Estou pensando em como meu melhoramigo é péssimo em
esconder as coisas, quando Bennett me acorda dizendo:
— Obrigado, Simon, por compartilhar nossa vida sexual ontem.
— Disponha. – Faz uma reverência com a cabeça.
Ficamos jogando piadinhas, até que Simon abre a boca:
— Parece que todos nós nos divertimos ontem, menos você e
Hanna.
Se ele soubesse.
— Como assim? — Me faço de desentendido.
— Não ficaram com ninguém e nem encheram a cara — Simon
pontua. — Vocês poderiam ter ficado. Sabe? Igual o Aaron e a Holly que
ficam quando não encontram ninguém.
— Hanna não é de beber — Aaron entra no assunto. — E o Liam
nunca ficaria com a Hanna. Ela é como uma irmã pra ele. Não é, Liam? —
pergunta, virando em minha direção.
Abro um sorriso forçado e tento engolir o bolo que me sobe à
garganta ao escutar isso.
— É — respondo com dificuldade.
Não, Aaron. A Hanna é tudo para mim, menos minha irmãzinha.
É o que eu gostaria de dizer a ele nesse momento.
Seu comentário agora, só é mais um lembrete de que eu não deveria
me aproximar de Hanna de outra maneira.
Droga. Por que não podia ser tudo mais fácil?
Estou perdido em pensamentos, quando o treinador chega na sala.
— Vamos lá, meninos! Temos muito trabalho a fazer — chama
nossa atenção. — Vocês sabem que temos pouco tempo até os amistosos
começarem. Então, a partir de agora, teremos quatro treinos ao longo da
semana e um no sábado de manhã.
Após seu aviso, a sala vira uma grande baderna.
— Está brincando com a gente, treinador? — Jesse protesta.
— Eu tenho cara de bobo da corte, senhor Ward? — pergunta,
cruzando as mãos atrás do corpo.
— Não senhor — responde desanimado.
Até eu fiquei desanimado agora.
Treinos aos sábados?
Ele só pode estar de brincadeira.
— Então por que acha que estou brincando? — volta a perguntar.
Jesse se ajeita na cadeira e não interrompe mais o treinador.
— Nosso primeiro amistoso será contra Crownford — conta e
alguns jogadores comemoram.
— Será moleza vencer esses caras. Eles têm um jogo medíocre — o
bosta do Oliver começa a menosprezar o jogo deles.
— Não fale assim, Oliver. Você não sabe como será a temporada
deles esse ano  — Brian pontua.
— Se depender de mim, irei levar vocês nas costas — se vangloria.
Como eu queria meter a mão na cara desse idiota.
— Você se acha, não é, Oliver?
Posso sentir o tom de raiva na voz do meu melhor amigo.
— Eu não me acho, Aaron. Eu sei que sou o melhor. — Olha para
meu amigo com arrogância.
— É tão o melhor jogador que acabou perdendo dois lances que
estavam na sua cara — Aaron rebate.
— O que você disse? — Os olhos de Oliver queimam de ódio,
— É isso mesmo que você ouviu. — Impulsiona seu corpo para a
frente, apoiando seus cotovelos nos joelhos.
Coloco minha mão no ombro de Aaron, em um pedido mudo para
que ele se acalme.
Antes que uma briga comece, o treinador bate na mesa chamando a
atenção deles.
— Vocês dois podem parar com essas briguinhas idiotas antes que
eu deixe você dois sem jogar duas partidas. — O técnico olha de um para o
outro.
Oliver olha com ódio para Aaron e se vira para a frente.
— Como eu odeio esse cara — Simon sussurra, virando a cabeça
para trás.
— Por mim ele seria expulso do time — Bennett comenta, virando
para a frente pra prestar atenção a explicação do técnico.
— Só esqueça que ele exista, para não perder a razão — sussurro
para Aaron.
— É difícil, mas vou tentar não cair na dele — promete e pega o
celular.
Seguindo seu exemplo, pego o meu e vejo a mensagem de Hanna
ainda não respondida.
Olho para Aaron que ri para algo em seu celular, e a culpa de estar
escondendo algo dele faz minha barriga se revirar, mas logo essa sensação é
substituída pela imagem de Hanna, com as bochechas coradas sentada na
minha frente em meu carro.
Sem esperar mais, começo a digitar uma simples mensagem.
 
Eu:
Eu faço isso sempre...
 
Envio a mensagem e guardo o celular no bolso para prestar atenção
nas jogadas do time de Crowford.
Essa manhã será bem longa.
 
Você é o único amigo que eu preciso
(Você é a único amigo que eu preciso)
Dividindo camas como criancinhas
(Dividindo camas como criancinhas)
Ribs - Lorde
 
 
 
 
Holly e eu estamos entrando na cafeteria da faculdade, quando meu
celular toca, informando que chegou uma mensagem.
 
Liam:
Eu faço isso sempre...
 
Sinto minhas mãos ficarem suadas com essas simples palavras que
acabo de receber.
Ainda me sinto um pouco fora do ar depois de ontem.
Quem diria que eu acabaria tomando coragem para beijar o Liam?
Nem mesmo sei de onde veio tudo isso. Ele só estava ali na minha
frente, lindo como sempre. Me olhando como se esperasse pelo mesmo que
eu.
“Eu também gosto de você, Hanna.”
Só de lembrar da sua voz rouca sussurrando isso no meu ouvido,
meu corpo inteiro treme, como se tivesse ligado a uma força elétrica
constante.
Olho para a mensagem de novo, e ela se sobressai como se estivesse
saindo da tela do celular.
Um sorriso acaba nascendo em meu rosto por conta disso.
— Se esse sorriso for indicativo de que alguma coisa aconteceu
ontem à noite. Pode abrindo o bico  — Holly pede quando entramos na fila.
Levanto a cabeça e guardo meu celular em minha bolsa.
— Não sei do que está falando — tento desconversar até chegarmos
às mesas e podermos conversar em paz.
— Não se faça de desentendida.
Suspiro, apontando para a fila à nossa frente que andou alguns
passos.
— Quando sentarmos eu conto — prometo.
Holly fica me encarando por alguns segundos, mas acaba aceitando
e se virando para a frente, e fazendo seu pedido:
— Um milkshake de chocolate e um hambúrguer, por favor —
finaliza seu pedido e sai da fila para me esperar.
— Bom dia! Um frapuccino de morango e um croissant.
— Certo — digitaliza tudo no computador à sua frente. — Aguarde
ao lado o seu pedido ser finalizado.
Assinto com a cabeça, terminando de pagar a conta e vou para o
lado de Holly.
— Sabe... — Guardo minha carteira na bolsa e volto minha atenção
para ela. — Você não me contou o que ficaram fazendo depois que fui
embora.
— Ah, você sabe. — Dá de ombros, indo pegar seu pedido que
acabou de sair. — Coisas que fazemos em baladas. — Se esquiva e sei que
essa cara de pau quer me contar algo, mas espera que eu não grite por aí.
— Que tipo de coisas? — Vou até a atendente com meu pedido,
agradecendo, eu o pego e vamos até uma mesa vaga no fundo da cafeteria e
ao lado da janela.
— Bom... Simon e Bennett sumiram com Maddy depois de um
tempo. Seu irmão e eu fizemos uma competição de shots e acabamos nos
beijando...
Me engasgo com minha bebida.
— Espera... o quê? — pergunto um pouco alto demais.
— Aaron e eu nos beijamos. — Morde seu hambúrguer como se não
fosse nada demais.
— E você fala assim?
— Assim como?
— Com essa calma toda. — Aponto para ela.
— E você queria que eu dissesse como? — Larga seu hambúrguer e
apoia o queixo nas mãos. — Hanna, eu beijei o Aaron e agora estou
apaixonada por ele, vamos nos casar e ter duas lindas filhas. — Pisca os
olhos em deboche.
— Pare com isso. — Dou um tapinha de leve em seu braço. —
Mas... você está? — Levanto e desço meu canudo repetidas vezes.
— O quê? — Engole sua bebida gelada de chocolate.
— Gostando dele?
Holly para um segundo olhando para o nada e abre um sorriso.
— Acho que sim. Nunca tive um amigo homem, sabe? Posso até
dizer que ele está me conquistando para se tornar o melhor deles. Depois de
você, é claro. — Pisca em minha direção.
Suspiro fundo.
— Você sabe que não estou perguntando sobre gostar dessa
maneira.
Empurrando o corpo um pouco para a frente, ela se recosta no
encosto acolchoado do sofá.
— Hanna, você sabe que não vou me apaixonar dessa maneira
nunca mais. — Faço ânsia de dizer algo, mas ela levanta a mão me
interrompendo. — Estamos nos tornando amigos — afirma. — E nosso
beijo foi mais por conveniência.
— Conveniência? — Inclino minha cabeça em dúvida.
— É. Olha só o que combinamos. — Se ajeita na cadeira. —
Quando estivermos em alguma festa e acontecer de não ficarmos com
ninguém, e quisermos ficar com alguém, nós vamos ficar. — Dá de ombros.
— Como em uma amizade colorida?
— Pode-se dizerque sim, só que sem a parte boa do sexo. — Volta a
comer seu hambúrguer.
Espero que nem um deles saia ferido desse acordo.
Desde o seu último namorado, Holly tem pavor a relacionamento e
não gosta de se envolver seriamente com ninguém. Já meu irmão, não tem
medo algum de se entregar, e tenho medo de que ele entre de cabeça e
acabe saindo machucado disso tudo.
— Mas, então? — Chama a minha atenção. — Não pense que
esqueci de você.
Pego meu milkshake e bebo um longo gole.
— Beijei o Liam no banheiro — sussurro.
— O quê? Não ouvi direito. — Leva a mão para trás de sua orelha
como se para escutar melhor, rindo de mim, e sei que essa cara de pau
escutou tudinho o que eu acabei de dizer.
— Beijei o Liam — digo mais alto dessa vez com os olhos
espremidos.
— Pensei ter ouvido isso mesmo. — E gargalha. — Já não era sem
tempo. Como foi?
— O beijo? — Me faço de sonsa.
— Não, a história para dormir que contou para ele. É claro que é o
beijo, sua sonsa. — Faz uma bolinha de papel e joga na minha cara.
— Foi incrível, Holly. — Só de contar já volto para aquele banheiro
e começo a sentir todas as sensações.
— Você está rendida mesmo por ele.
— Sou apaixonada por ele desde sempre. — Me recosto na cadeira.
— E ontem só me fez ficar mais ainda. — Me lembro de seu carinho em
meu rosto. — Ele disse que gosta de mim.
— Estão se pegando agora?
— Estamos vivendo um dia de cada vez. — Mordo meu croissant e
mastigo devagar.
— E seu irmão? Já contou pra ele? — Dá uma última dentada em
seu hambúrguer.
— Sobre o quê?
— Liam e você estarem juntos.
Estou prestes a respondê-la, quando alguém chama por mim.
— Hanna!
Olho para trás e Maddy está acenando para mim acompanhada de
Genevieve. Aceno de volta para elas e as convido para se sentarem
conosco.
— Um segundo. — Mexe a boca sem sair nem um som e aponta
para o pedido em sua mão.
Assinto com a cabeça e espero por elas.
— Bom dia, meninas! Como estão nessa linda manhã de sexta-feira?
— a ruiva pergunta, já se sentando ao lado de Holly. — Respirando por
aparelhos? — Mexe em sua bandeja que contém um suco verde e uma
salada.
— Eu estou muito bem. — Chego para o lado, dando espaço para
Genna se sentar. — Só fiquei no refrigerante, então...
— Já eu, sinto como se um caminhão tivesse passado por cima de
mim — Genna geme e ajeita os óculos escuros no rosto.
— Você bebeu tanto assim? — pergunto, olhando para ela.
— Digamos que fui produtiva e não pensei no amanhã. No caso hoje
— Pega seu copo grande de Coca-Cola e toma metade dele.
— Viram o porquê não bebo nada alcoólico? — Aponto para uma
Genna quase falecida ao meu lado. — Essa é a fase da bebida que não
quero passar nunca, obrigada.
— Mas algum dia você terá que tomar um porre, fofinha. Você é
uma universitária agora. — Aponta para mim com o copo na mão. — Pelo
menos uma vez você tem que ir para a aula sentindo que seu corpo ficou na
cama quando levantou e sua cabeça virou morada de cavalos sapateadores.
— E ficar desse jeitinho aqui? — Aponto para Genna que colocou
seu copo na mesa e deitou sua cabeça no encosto do sofá. — Não, obrigada.
— Tento fazê-la tomar um porre digno de uma menina grande, mas
ela nunca aceita. — Holly espreme os olhos para mim como se eu fosse a
vergonha do grupo por nunca ter tomado um porre.
— Estou ao seu lado para conseguir isso — Maddy a avisa.
— Por que vocês querem me ver bêbada? — Cruzo os braços em
frente ao corpo.
— Eu quero conhecer seu lado louco e bêbado — Holly conta como
em um desafio.
— Pode esquecer — já aviso.
— Eu não quero nada, fofinha. — Genna se ajeita no banco. — Só
quero curar a minha ressaca — Geme quando alguém atrás de nós arrasta
sua cadeira ao se levantar.
— Você é um amor. — Faço um carinho em seu ombro.
— Sim, eu sei. — Vira o rosto em minha direção, abrindo um lindo
sorriso sofrido.
Me penalizando de sua dor. Abro minha bolsa à procura de uma
aspirina.
— Aqui. Irá ajudar a passar essa dor rapidinho — ofereço o remédio
a ela.
— Você é a melhor — agradece, levando o remédio à boca e o
engolindo com a ajuda de sua Coca-Cola.
— Bom, enquanto nossa amiga tenta fazer sua alma voltar ao corpo.
Me contem como foi a noite de vocês. — Bebe seu suco verde.
— Como você consegue beber isso? — Holly olha com uma cara
enjoada para o suco verde e grosso nas mãos de Maddy. 
— Finjo que é um milkshake delicioso de baunilha — responde,
voltando a beber o suco.
— E por que você toma isso? — pergunto.
— Minha mãe diz que é bom para a ressaca. — Dá de ombros.
— Isso é verdade? — Genna levanta a cabeça interessada.
— Olha, isso é tão ruim que acho que cura até resfriado. — Maddy
olha para o copo em sua mão.
— Passe isso para cá. — Se estica, pegando o copo da mão da
amiga, e suga uma grande golada do líquido. — Meu Deus! Isso aqui é
horrível. — Coloca a língua para fora como se o gosto fosse sumir e
consigo ver que sua língua está verde. — Mas acho que meu corpo está
começando a reiniciar aqui.
— Cura a ressaca, baby. — Pega o copo de Genna e o coloca em
cima da mesa.
— Não sabia que estava de ressaca. Na verdade, nem parece que
está com uma — pontuo.
— Sei me fingir de plena muito bem. — Pisca um olho em minha
direção.
Sorrio para ela e me acomodo no sofá.
— Mas me contem. Como foi o final de festa de vocês? — puxa
outro assunto.
— Apesar da ressaca, foi maravilhosa. — Genna se endireita no
banco.
— Sério? Me conte mais sobre isso. — Maddy apoia os cotovelos
na mesa e a mão no rosto.
— Eu também quero saber. — Holly se aproxima mais.
Genna olha em minha direção e dou de ombros sorrindo para ela.
— Certo, eu conto. — Faz um mini suspense. — Terminei minha
noite com uma linda garota que conheci na pista de dança. — Tira um
cacho, que acabou se soltando do coque, do seu rosto.
— Ah rá! — Holly grita, apontando o dedo em direção a Genna. —
Então sua ressaca não é só pela bebida.
— Pode-se dizer que setenta por cento é por conta da bebida e os
outros trinta é porque fiquei acordada praticamente a madrugada inteira. —
Abre um sorriso sacana.
— É disso que estamos falando, garota. — Maddy levanta a mão
aberta para Genna que bate na dela.
— Mas e você? Vi que saiu acompanhada de Simon e Bennett? —
Genna questiona.
— Bom... — Sorri, olhando para o lado como se se lembrasse de sua
noite. — Terminei nos braços de Simon e Bennett — conta, se jogando no
encosto do sofá.
— Você o quê? — gritamos em um coro, chamando a atenção de
algumas pessoas à nossa volta.
— Xiu! Falem baixo. — Leva o indicador à boca, pedindo silêncio.
— Foi isso mesmo o que ouviram.
— Você transou com aqueles dois gostosos? — pergunto, me
apoiando na mesa para escutar melhor.
— Deixa o Liam ouvir isso — Holly sussurra para que só eu possa
ouvir.
Chuto sua canela por debaixo da mesa e escuto um vadia em
resposta ao meu ato.
— Sim, e foi o melhor sexo da minha vida. — Chama minha
atenção de volta para ela.
— Sortuda — Holly resmunga. — Eu quase chorando para que uma
única pessoa me coma e você conseguindo dois de uma vez só. — Joga a
cabeça na mesa teatralmente.
— Você e o Aaron não estavam se pegando ontem? — Maddy
pergunta, se sentando de frente para Holly.
— Foi só um beijo. Nada demais.
— Do jeito que vocês estavam se beijando ontem. Aquilo foi tudo,
menos um beijo normal. — Maddy levanta a sobrancelha em desafio.
— Pode acreditar. Foi só um beijo — Holly garante.
— E não vai acontecer mais? — Genna pergunta.
— Eles fizeram um acordo de se pegar quando tivessem a fim —
conto e Holly olha em minha direção com uma cara engraçada.
— Já vi tudo — Maddy comenta sem dizer mais nada.
— Como assim? — Holly pergunta.
— Vocês começam com beijos sem qualquer importância e depois
estarão embolados em uma cama — Genna responde por Maddy.
— Bom... se os dois quiserem. — Dá de ombros.
— Meu Deus, Holly! — exclamo.
— Que foi? Você sabe que seu irmão é gostoso.
— Verdade — Maddy confirma. — As duas vezes que ficamos foi
bem interessante.
— Espera... O quê?! — Olho em direção a Maddy.
— Foi no nosso primeiro ano — conta. — Ficamos em duas festas
de fraternidade, mas foram sóbeijos inocentes e não significou nada, Holly.
— Olha para Holly como se dissesse que não teve importância nenhuma.
— Por que está se explicando?
— Porque vocês ficaram ontem... — Dá de ombros.
— É como você disse, Maddy. Nós ficamos ontem, nada demais.
Aaron e eu somos solteiros e podemos ficar com ou até mesmo namorar
com quem quisermos. — Mexe no cabelo.
Mentirosa.
Quer saber quando minha melhor amiga está mentindo? É só ver se
ela vai mexer no cabelo. E olhando bem para ela nesse momento, parece
que ela sente um pouco de ciúmes do meu irmãozinho.
Ah, Holly! Você como sempre, me surpreendendo.
— E outra, nunca que vou virar a cara para alguém por conta de
macho — Holly afirma com sinceridade.
— Bom, se é assim. — Maddy fica mais tranquila. 
— Estou com dúvida em uma coisa — Genna chama nossa atenção.
— Em quê? — pergunto.
— Como que a Maddy foi parar na cama do Simon e do Bennett? 
— Genna faz a pergunta de milhões.
— É verdade. — Holly se ajeita no banco e olha para Maddy. —
Como você foi de humilhada para a preferida dos céus?
Maddison começa a rir.
— Lembram quando eles estavam se beijando? — Olha para todas
nós e confirmamos com a cabeça. — Então eu perguntei se eles queriam um
ménage.
— Lembro disso — afirmo. — Aquele beijo foi uma surpresa.
— Foi uma delícia, isso sim — Holly comenta e Genna e eu
assentimos com a cabeça.
— Então, depois que Hanna e Liam foram embora, acabamos indo
para o bar e o Simon chegou perto de mim perguntando se era verdade
sobre o sexo a três.
— Como ele é direto — comento.
— Pensei que ele não tinha escutado — Holly comenta. — Eu não
teria se o Bennett estivesse me beijando — diz e a lanço um olhar
questionador. — O que foi? Você reparou no quanto aquele garoto é
gostoso?
Pensando por esse lado, eu tenho que concordar com ela.
Liam é e sempre será o homem mais bonito para mim, mas temos
que ser sinceras quanto a beleza do Bennett. Aquele cara chega a ser surreal
de tão gostoso. Ele deveria ser proibido de andar por aí.
— Tenho que assumir que ele é de tirar o fôlego mesmo — admito.
Nós quatro nos olhamos e concordamos com a cabeça.
— Até eu que só tenho olhos para mulher, tenho que admitir que o
bi panic bate as vezes quando olho para ele — Genna assume.
— O Simon não fica para trás — Maddy comenta.
— Maddison, você quem fez o teste de qualidade, pode afirmar que
os quatro são uma delícia? — Holly pergunta.
— Sim — afirma com convicção.
— Ótimo. Já que a escolhida de Deus, que pegou os quatro. —
Coloca ênfase no quatro. — Aprovou com o selo de qualidade, então está
decretado.
Só de lembrar que Maddy já ficou com Liam, me dá uma reviravolta
no estômago.
Mesmo que eu não queira sentir ciúmes, é meio inevitável.
— Então é isso, meninas! Assumimos aqui que Bennett Ryan é um
gostoso — Maddy declara, chamando minha atenção.
— Podemos concordar então? — Genna pergunta, e concordamos
com ela, rindo e chamando um pouco de atenção para nós.
Limpo as lágrimas que caem com o esforço que fiz.
Ainda bem que não passo maquiagem para ir à faculdade ou estaria
toda borrada.
— Estamos nos tornando aquele tipo de amigas que falam de
homens gostosos vendo filme e comendo pipoca? — Solto depois que nossa
crise de risos para.
— Pode-se dizer que sim — Maddy confirma.
— E de mulheres também, por favor — Genna avisa.
— É isso aí, garota. — Holly bate na mão de Genna.
— Bocetas e paus sempre estarão em nossas conversas — Maddy
avisa e pega seu copo com o suco verde pela metade. — Pela amizade
estranha que formamos hoje e pelas conversas de paus e bocetas bonitas.
Rindo mais do que antes, pegamos nossos copos e fazemos um
brinde a essa amizade maluca que nasceu entre nós quatro.
 
Mas quando ele me ama, eu sinto que estou flutuando
Quando ele me chama de bonita, eu sinto que sou alguém
Mesmo quando finalmente desaparecemos
Você sempre será minha forma favorita de amar
Cloud 9 - Beach Bunny
 
 
 
 
— E para terminar a aula de hoje, eu separei cinco livros que
debateremos na sala de aula, e o primeiro deles será Orgulho e Preconceito
de Jane Austen — conta empolgada.
Perfeito. Orgulho e Preconceito é um dos meus livros de época
preferidos de todos. Já me perdi nos braços do Mr. Darcy e na mente
corajosa e fascinante de Lady Elizabeth um milhão de vezes.
Não será sacrifício nenhum reler esse livro por sei lá quantas vezes.
— Devemos ler o livro agora, senhora Taylor? — pergunto, já
querendo reler minhas partes preferidas marcadas com post it lilás e azul.
Ela assente com a cabeça e diz:
— Isso, senhorita Carson. Leiam o livro de Jane Austen para
podermos debatê-lo semana que vem — avisa.
Alguns alunos comemoram, já os outros nem tanto assim. Não é
porque estudamos literatura que todos os alunos amam ler o que e quando
não estão a fim.
A senhora Taylor está prestes a dizer alguma coisa, quando o sinal
toca, indicando o final da aula e arrumando suas coisas, ela sai da sala se
despedindo.
— Nos vemos na próxima aula pessoal. — E vai embora.
Imitando seus passos, junto minhas coisas, saio da sala e vou ao
encontro de Holly. Hoje de manhã combinamos de comer alguma coisa fora
com nossas novas amigas.
Lembrar daquelas duas malucas que entraram em minha vida, me
faz rir sozinha.
Estou quase na saída da sala, quando acabo tropeçando no último
degrau e derrubando a pessoa na minha frente e dois cadernos que eu
carregava na mão.
— Ah, meu Deus! Me desculpe — peço, já me levantando.
— Não, tudo bem. Eu estava no caminho. — Começa a juntar suas
coisas.
— Tudo bem, não. Eu que sou uma desastrada que não olha por
onde anda. — Me abaixo para ajudá-lo. — Você se machucou? — pergunto
quando percebo que ele caiu de bunda no chão.
— Não, está tudo bem. — Se levanta e olha para o chão como se
procurasse algo.
— Está faltando alguma coisa?
— Meus óculos, acabei os perdendo na queda. — Continua a olhar
para eles. — Você poderia me ajudar? Sem eles, eu não enxergo quase nada.
— Claro — confirmo, colocando meus livros na mesa atrás de mim
e começo a olhar para o chão e torcendo para que não tenha quebrado.
Vou até perto da mesa da professora e acho os óculos de armação
preta embaixo da mesa, um pouco longe de onde caímos.
Parece que nosso esbarrão foi mais violento do que ele quer
demonstrar.
— Aqui está. — Me abaixo para pegar a armação e comemoro
quando percebo que não aconteceu nada com eles.
— Obrigado — agradece, pegando a armação preta das minhas
mãos e a colocando no rosto.
— Bem melhor, não? — pergunto quando o vejo olhando para os
lados como se estivesse testando os óculos.
— Agora, sim — confirma, pegando seus livros e os guardando em
sua mochila.
Ficamos alguns minutos quietos, quando decido quebrar o silêncio.
— Bom... que bom que não quebrou.
— Sim, minha mãe me mataria. — Abre um sorriso fofinho com
lindas covinhas aparecendo.
Aliás, ele é bem fofinho. Um típico nerd que queremos ter como
amigo e apertar bastante.
— Me desculpe mais uma vez — peço.
— Não esquente com isso.
— Bom, então se está tudo bem, eu vou indo nessa — aviso,
pegando meus livros em cima da mesa. — Nos vemos por aí — me
despeço, já saindo da sala.
Os corredores já estão mais vazios por conta do tempo que fiquei lá
na sala, mas o campus está completamente lotado neste momento.
Alguns estudantes gritam animados com os planos para o final de
semana, escolhendo qual será a festa do momento, tornando assim o pátio
da faculdade, uma grande zona.
Caminho por mais alguns segundos e paro ao lado de um banquinho
de parque na cor branca, me sento nele e decido abrir o arquivo do livro que
estou escrevendo, enquanto espero por Holly.
Estamos no final de agosto, e o clima está ameno. O sol não está tão
forte assim e o calor está moderado.
O clima hoje está perfeito.
Estou passando a história de Alexie Dolorov, um dos mafiosos mais
sinistros e perigosos de toda a Sicília, mas um grande rendido por sua
mocinha, quando meu celular começa a tocar.
Pego o celular na bolsa, e assim que vejo o nome de minha mãe
brilhar na tela, percebo o quanto senti falta dela.
— Oi,mamãe — cumprimento.
— Como está a minha bonequinha linda? — Só de escutar sua voz,
já sinto a saudade apertar no peito.
— Estou muito bem. E a senhora como tem passado? E o papai?
— Estamos muito bem, querida. Seu pai está trabalhando nesse
momento, e  estamos com muita saudade dos meus lindos bebês. —
Consigo sentir o tom saudoso em sua voz. — Me conta, como você está?
Gostando da faculdade? Fez amigos novos? E os namorados? Alguém
chamou sua atenção?
Pergunta tudo de uma vez só, me deixando tonta.
— Meu Deus, mamãe! Uma pergunta de cada vez — peço, tirando
uma mecha de cabelo que insiste em cair em meus olhos.
— Desculpe por isso, querida. Mas estou bastante animada com
tudo isso, e querendo saber tudo.
Se pudesse estar ao seu lado nesse momento, estaria vendo minha
mãe pular animada como uma criança que ganhou um presente.
Rindo de sua animação, começo a contar para ela como está sendo
minha nova vida de universitária:
— Estou muito bem e amando todas as minhas aulas nesse
momento. — Tiro uma linha solta da minha blusa. — Conheci os amigos do
Aaron, e posso dizer que eles se tornaram os meus também…
— Fico tão feliz em escutar isso, querida — me interrompe.
— Sim, é sim — concordo.
Pela primeira vez na vida, meu círculo de amigos não se resume só
ao meu irmão e seu melhor amigo.
— E namorado? Achou algum gatinho por aí?
Sua pergunta me faz voltar no tempo.
Mais precisamente para o banheiro em que Liam e eu nos beijamos
pela primeira vez.
Pondero um pouco se devo ou não contar para minha mãe o que
aconteceu entre nós dois, mas acabo decidindo por manter segredo.
— Não estou pensando nisso, mamãe. Só quero focar nas minhas
aulas nesse momento — desconverso, olhando em volta e vendo o campus
esvaziar aos poucos.
— Hanna… — protesta um pouco.
— Mamãe, por favor — peço, suspirando.
— Tudo bem, então — concorda por fim.
Ficamos conversando bobagens por mais alguns minutos, até que
ela avisa que tem que desligar.
— Tenho que ir agora, meu amor. Não demore tanto para me ligar
— pede, e eu me despeço dela com a promessa de ligar mais vezes.
Mais uma vez, o sentimento saudoso volta a tomar conta de mim.
Sinto tanta a falta de ter meus pais sempre ao meu lado. Por muito
tempo, eles foram meus melhores amigos da vida toda, e ficar longe assim
ainda me é estranho.
Estou perdida em pensamentos, quando uma sombra impede que o
sol continue me esquentando.
— Ha... Ha-Hanna, posso fa-falar com você?
Olho para cima e percebo que é o menino que acabei derrubando.
— Hã... claro, esqueci alguma coisa lá dentro? — pergunto, dando
espaço para que ele se sente ao meu lado.
— Ah, não. É que me lembrei que não nos apresentamos —
comenta. — Meu nome é Harry — se apresenta e se senta ao meu lado.
— Que cabeça a minha. — Bato na testa. — O meu é Hanna, mas
isso você já sabe. — Tiro uma mecha de cabelo que vai no meu olho.
Abre um sorriso ladino e sinto que ele quer me dizer alguma coisa.
Ah, droga! Será que quebrei alguma coisa cara dele? Mas ele disse
que não tinha danificado nada. E se ele só percebeu isso agora e está com
vergonha de me contar?
Ora, Hanna! Você não irá descobrir nada se ficar especulando várias
coisas.
Minha mente briga comigo mesma e decido perguntar:
— Hã... posso te ajudar em alguma coisa?
— Ah… eu espero muito que sim. — Olha para seu tênis branco e
chuta algumas gramas.
— E o que seria?
Ele fica alguns segundos em silêncio, como se tomasse coragem
para dizer o que quer.
— Eu fiquei observando você na sala de aula e queria saber se você
gostaria de ler Orgulho e Preconceito comigo? — Suas bochechas ficam
vermelhas como o vestido que estou usando hoje.
Olho para ele um pouco surpresa com seu pedido e acabo não
dizendo nada para ele.
— De-desculpe. Eu não deveria ter vindo aqui. — Se levanta
apressado, querendo fugir. — Acho que foi uma péssima ideia.
— Ei, espere. — Me levanto e seguro seu pulso.
Harry olha para minha mão o prendendo, sobe os olhos em minha
direção e libero seu pulso do meu aperto rapidamente.
— Eu adoraria ler com você — confirmo.
— É sério? — Seus olhos castanhos brilham.
— É claro, por que não?
— Ah! As pessoas não gostam muito de chegar perto de mim. —
Aponta para si mesmo. — Muito nerd.
— Sei como é. — Tiro o cabelo do rosto que o vento insiste em
bagunçar. — As pessoas também não querem muito chegar perto de mim.
— Aponto para o meu rosto. — Muito quieta na minha. — Dou de ombros.
— Idiotas.
— Muito idiotas — concordo e começo a estudar o garoto à minha
frente
Começo estudando Harry pelo rosto, e não entendi o porquê de não
quererem ele por perto. O garoto parece ser uma pessoa tão legal. E ainda é
bonito de um jeito especial.
Seus cabelos são de um preto tão escuro que quando refletidos pelo
sol, acabam ficando azulados. Seus olhos verdes e brilhantes, ficam
escondidos atrás da armação quadrada do óculos preto de grau.
Olhando para ele de cima a baixo, percebo que é uns bons
centímetros mais alto do que eu. Harry está vestindo uma calça jeans e uma
blusa do Senhor dos Anéis.
Gostei dele e do seu estilo.
— Podemos...? — Mostra o celular com uma capinha de Star Wars.
— Gostei da capinha. — Aponto para o celular e pego o meu na
minha bolsa.
— E eu da sua. — Aponta para a minha capinha da Bela e a Fera,
meu desenho preferido da vida.
Trocamos nossos números, e combinamos de nos mandar mensagem
para marcar o encontro na biblioteca.
Me despeço dele e quando Harry está a bons passos de mim. Uma
mão grande envolve minha cintura, fazendo todo o meu corpo arrepiar.
— O que aquele cara queria? — pergunta quando me viro para ele.
— Oi, pra você também.
— Oi, Moranguinho! Como foi seu dia? — Se inclina e sela nossos
lábios em um beijo rápido, mas o suficiente para que eu sinta o gosto de
laranja e cigarro em seus lábios.
— Liam! — advirto. — Alguém pode ver.
— Não tem ninguém aqui. — Olha em volta. — E o prédio do
Aaron é ao lado do meu. Fique tranquila.
Suspiro e concordo.
— Tudo bem. Meu dia foi normal e o seu? — pergunto, suspirando
como uma adolescente boba e apaixonada.
Bom... adolescente eu não sou mais, mas apaixonada? Ah, isso eu
sou e muito. Ainda mais pelo homem à minha frente.
— Chato, com o treino teórico e aulas intermináveis. — Me segura
pela cintura. — Mas não mude de assunto. Quem era o cara que saiu daqui
agora?
— Ciúmes, Emerson? — Cruzo os braços, sorrindo para ele.
— Sim — admite de uma vez, fazendo meu bobo coração pulsar no
peito.
Olho para os lados vendo o movimento à minha volta, e vendo que o
fluxo de pessoas circulando diminuiu drasticamente, envolvo meus braços
em seu pescoço.
— Ciúmes é uma coisa que não precisa ter de mim. — Fico na ponta
dos pés e Liam nega com a cabeça. — Você continua sendo meu preferido.
— Tomando coragem, puxo-o para um beijo lento e gostoso, aproveitando
cada segundo em seus braços.
Liam afunda os dedos em minha cintura e me puxa para mais perto
de si, sua língua na minha e sinto minha boceta melar em questão de
segundos.
Como pode um simples beijo causar todas essas sensações em meu
corpo?
Entranhando minhas mãos em seus cabelos e puxando alguns fios
perto da nuca, eu sugo seu lábio inferior para dentro da minha boca e o
mordo em seguida.
— Não se esqueça que estamos em um lugar público, Linda —
sussurra com os lábios colados aos meus.
Sorrio com os lábios ainda colados aos dele e dou selinhos pelo
menos umas três vezes antes de soltá-lo de vez.
— Desculpe, mas não consigo resistir. — Me afasto um pouco e
percebo que sujei sua boca com um pouco do meu batom. — Acabei te
sujando de batom. — Limpo seus lábios com meus dedos.
Liam lambe meu dedo e uma parte dos seus lábios.
— Morango… meu preferido.
Sinto minhas bochechas queimarem pela vergonha.
— Assim você me deixa sem graça.
— Minha parte preferida é ver você assim, toda vermelhinha.. —
Faz um carinho em minha bochecha.
Algumas vezes me pergunto se estou sonhando ou realmente
vivendo tudo isso com ele.
Deito meu rosto em sua mão para receber melhor o seu carinho.
— O que faz aqui? O prédio de música fica do outrolado do
campus.
— Vim te fazer um convite.
— Que tipo de convite?
— Queria que conhecesse um lugar especial pra mim.
— Mais um? — pergunto, me referindo a um além do orfanato.
Liam assente com a cabeça.
— O que me diz? — Oferece a mão para mim.
Confirmo com a cabeça, seguro em sua mão, ele a pega e me puxa
em direção a minha bolsa no banco embaixo da árvore, pega o objeto e
seguimos em direção ao estacionamento do campus.
— Ah! Não ache que me esqueci. — Para em frente ao seu carro e o
destrava. — Quem é o cara que saiu daqui? — pergunta mais por
curiosidade.
— Um menino da minha sala. — Entro no carro e coloco o cinto de
segurança. — Me chamou para fazermos um trabalho juntos.
— Entendi. — Liga o carro e saímos do campus.
Olho para ele e pergunto:
— Ainda com ciúmes? Eu acabei de conhecê-lo.
— Mas parecia que ele já te conhecia.
— Ele é da minha sala, então me conhece das aulas de literatura —
conto a ele. — Parece ser um cara legal.
— Com tanto que ele não fique mais legal do que eu aos seus olhos
— resmunga e começo a rir.
Solto o cinto e ficando de joelhos no banco do carro, beijo sua
bochecha, marcando-a com meu batom rosa clarinho.
— Isso nunca vai acontecer — garanto.
Liam olha pra mim e abre um lindo sorriso em minha direção.
— Certo. — E continua a dirigir para sabe-se lá onde.
Olhando a paisagem em volta, pergunto:
— Afinal, para onde estamos indo? — Tento descobrir nosso
destino.
— Um lugar especial.
— Especial como? — Volto minha atenção para ele.
— Você vai ver. — Me olha rapidamente e volta sua atenção para a
estrada.
— Sabe que detesto ficar curiosa.
Rindo, ele responde:
— Sim, eu sei. Mas dessa vez valerá a pena. — Repousa sua mão
em minha coxa e a aperta de leve.
Sinto uma fisgada em minha vagina só pela sua mão estar tão perto
assim.
Me ajeitando no banco para disfarçar as sensações que ele me faz
sentir. Concordo com a cabeça, entrelaço nossos dedos, deito minha cabeça
no banco e curto a viagem até nosso destino.
 
Quando eu vejo o seu rosto
Não há nada que eu mudaria
Porque você é incrível
Do jeito que você é
Just The Way You Are - Bruno Mars
 
 
 
 
— Chegamos — aviso, fazendo um carinho em seus cabelos a
despertando do cochilo de cinco minutos que tirou.
Hanna, se espreguiça no banco e olha para os lados se situando de
onde está
— Onde estamos?
— No meu lugar de paz — conto a ela, me esgueirando para trás,
pego meu violão e uma cesta com algumas comidas que separei para nós
dois.
— Você veio equipado, hein. Está tentando impressionar alguém?
— pergunta, olhando para as coisas em minha mão.
— Estou conseguindo?
— Com certeza. — Abre um lindo sorriso.
Sou apaixonado por muitas coisas em Hanna, mas o seu sorriso…
ele me tira totalmente de órbita.
— Vamos, quero te mostrar uma coisa. — Saio do carro e corro para
o seu lado para abrir a porta.
De mãos dadas, entramos mata adentro.
Encontrei esse lugar no meu primeiro ano de faculdade. Tinha
acabado de ter mais uma das inúmeras brigas com meu pai sobre o curso
que decidi fazer, e estava dirigindo sem rumo, quando avistei esse lugar, e
adentrando no meio das árvores, encontrei meu lugar de equilíbrio e paz.
— Demora muito para chegarmos? — pergunta, olhando para baixo
e passando por cima de um grande galho de árvore.
— Acabamos de chegar. — Paro de andar, olhando rapidamente
para o deck e o grande lago à nossa frente e volto meus olhos para Hanna
que levanta a cabeça.
— Meu Deus, Liam! — Leva as mãos em concha em direção aos
lábios vermelhos. — É incrível.
— Sabia que gostaria também. — Puxo-a em direção ao deck e
coloco nossa cesta e meu violão no chão. — Bem-vinda ao meu lugar
preferido no mundo.
Hanna olha para todos os lados, como se quisesse guardar cada
detalhe em sua memória.
Meu pequeno paraíso na Terra é um lugar tranquilo, que venho
muitas vezes para colocar meus pensamentos no lugar, compor e até mesmo
relaxar.
Hanna está na ponta do deck, olhando para o movimento que a água
faz por conta da leve brisa que nos abraça.
— Obrigada por me trazer aqui, Liam. — Olha pra mim por cima do
ombro.
— Não foi nada. — Dou de ombros. — Quer comer alguma coisa?
— Aponto para a cesta em meus pés, já me agachando.
— Quero, estou morta de fome. — Vem em minha direção e se
ajoelhou à minha frente.
— Não preparei uma coisa muito elaborada, mas espero que goste.
— Pego um pote com sanduíche de pasta de amendoim com geleia.
— Não se preocupe com isso. — Pega um dos sanduíches e dá uma
boa mordida, se sujando toda com o recheio. — Está uma delícia. —
Mastiga bem e depois engole.
— Que bom que gostou. — Estico minha mão limpando o canto de
sua boca e lambendo o dedo em seguida.
Hanna fica me encarando e passa a língua no lábio inferior.
— Por que fez isso? — pergunta em um sussurro.
— Estava suja. — Aponto para o canto de sua boca. — Aliás, eu
sempre irei aproveitar as oportunidades de sentir seu gosto.
Os olhos de Hanna queimam de desejo e minha vontade é de deitá-
la nesse deck e me enterrar bem fundo em sua boceta.
Essa mulher à minha frente, ainda será a minha ruína.
Ela olha mais uma vez para meu dedo – que ainda está um pouco
melado de doce – olha para o lago em seguida, e abre um sorriso travesso.
— O que está aprontando?
Sem me responder. Hanna começa a se livrar do seu vestido
vermelho, ficando parada só de calcinha e sutiã em renda branca bem na
minha frente.
Meu pau desponta rapidamente nas calças, latejando como louco.
— O-o que está fazendo, Hanna? — Engasgo um pouco.
— Já que estou suja. — Começa a andar de costas. — Pensei em
cair no lago. — Prende o cabelo em um coque desarrumado em cima da
cabeça.
— Eu acho uma ótima ideia — afirmo, olhando cada parte do seu
corpo, desde a cintura fina, o quadril não tão largo, os seios na medida certa
para que minhas mãos consigam esmagá-los na hora do sexo.
— Sempre tenho ótimas ideias.
E sem esperar mais, se vira de costas me mostrando sua linda bunda
engolindo a pequena calcinha branca e se jogando na água.
Rapidamente, tento me levantar, mas é uma tarefa difícil. Meu pau
está tão duro que chega a doer. Consigo sentir a cabeça sendo esmagada
pelo fecho éclair, e se eu não resolver essa situação agora mesmo, acabarei
com uma linda marca no meu pau.
Imitando Hanna, tiro minhas roupas rapidamente, e antes que ela
volte, pulo também.
O contato com a água é instantâneo, e meu grande amigo vai
perdendo as forças a cada braçada que dou dentro da água gelada.
Percebendo que consegui manter – mesmo que um pouco – o
controle, dou algumas braçadas e subo a superfície, dando de cara com
Hanna.
— A água está uma delícia. — Joga a cabeça para trás e seus
cabelos dourados formam um travesseiro de ouro sobre sua cabeça.
Ela é uma linda visão.
— Está magnífica — sussurro, falando sobre ela.
Hanna levanta a cabeça, me encara por alguns segundos. A água
bate a altura dos seus ombros, e por conta da coloração verde escura, não
consigo ver nada.
— O que tanto você olha?
— O quanto você é linda — respondo.
  Sorrindo e nadando em minha direção, ela para bem perto de mim,
envolve seus braços em meus ombros e seguindo seu exemplo, seguro-a
pela cintura.
— Oi.
— Oi.
Olho para cada pedacinho do seu rosto.
Seus cílios estão molhados e pequenas gotas pingam dele, seus
olhos azuis estão mais brilhantes do que nunca e seus lábios clamam por
mim. Sem esperar mais, puxo-a em minha direção e a beijo com vontade.
Sem mostrar resistência, Hanna entranha seus dedos nos meus
cabelos e retribui meu beijo com afinco. Seu gosto de água e framboesa me
deixam louco e meu pau desperta mais uma vez na cueca.
Pego suas pernas e as coloco em volta da minha cintura e mesmo
com a água gelada à nossa volta, eu consigo sentir o quanto sua boceta está
quente e sedenta por mim. Aposto que se colocar minhas mãos nela, estará
completamente molhada pra mim.
Só de pensar nisso, meu pau pulsa endurecendo mais ainda e minha
boca se enche de saliva querendo sentir seu gosto doce e tão dela.
Desço minha mão por sua cintura, aliso sua bunda e a aperto com
tanta força queHanna pula em meu colo e acaba sarrando no meu pau.
— Droga — xingo entre os dentes e a puxo para mais perto.
— Liam — geme, me deixando completamente maluco.
Desço meus lábios pelo seu queixo, até chegar em seu pescoço.
Beijo e dou algumas mordidinhas na altura de sua mandíbula, enquanto
Hanna crava suas unhas em minhas costas e a arranham com força, eu
tensiono o músculo quando a ardência toma conta. Com uma das mãos –
ainda na nunca de Hanna – puxo os seus cabelos, fazendo-a deitar a cabeça
e quase encostar na água.
— Esperei tanto por isso. — Beijo sua garganta e vou descendo até
o vale dos seus seios.
— Pe-pelo quê? — Sua voz é quase inexistente.
— Ter você assim — beijo. — Rendida e completamente entregue
em meus braços. — Abocanho seu seio direito por cima do sutiã e raspo
meus dentes até chegar em seu bico arrebitado e o mordo de leve.
— Meu Deus — suspira.
— Droga — murmuro entre os dentes, esfregando meu pau com
vontade em sua boceta.
Hanna se contorce em meus braços de olhos fechados, seus dentes
castigam os lábios macios, seu corpo treme quando brinco com a barra de
sua calcinha.
Já eu...
Meu corpo treme por ela em um arrepio que me sobe a coluna e
termina na altura do pescoço, onde suas mãos pequenas e delicadas fazem
um carinho constante. Meu pau lateja tanto dentro da cueca que chega a
doer, estou tão excitado que acho que gozarei nas calças como um garoto
virgem de quinze anos.
Não sou mais virgem desde os meus quatorze anos de idade, e nunca
desde que minha vida sexual começou, me senti assim. Parece que vou
explodir ao menor toque de Hanna.
Nunca imaginei que meu corpo responderia tão rápido e com tanto
afinco assim para uma pessoa.
Olho para ela, e nunca esteve tão linda. Com os cabelos molhados,
os lábios vermelhos pelos nossos beijos e pelas mordidas que deu em si
mesma. Hanna é uma visão e tanto.
Beijo seus lábios de leve, prendo entre os dentes – puxando em
minha direção – e a vejo convulsionar nos meus braços, aperta as pernas em
volta da minha cintura e sei que ela está a um passo de gozar nos meus
braços.
Olho para ela tão entregue em meus braços, com os olhos cerrados e
a boca levemente aberta pelo tesão, que me enlouquece. Hanna não para de
esfregar sua pequena boceta no meu pau por cima das roupas íntimas, à
procura de alívio.
— Hanna?
— Sim. — Levanta a cabeça e foca seus olhos cerrados em minha
direção.
— Posso fazer você gozar nos meus dedos? — pergunto, passando
meus dentes por sua orelha e mordo seu lóbulo.
— Si... — Tenta dizer com dificuldade, me apertando em seus
braços quando a excitação cresce cada vez mais.
— Posso, pequena Hanna? — pergunto, enfiando a ponta do meu
indicador em sua calcinha e começo a fazer um carinho, um palmo abaixo
do seu umbigo.
— Meu Deus! — geme mais uma vez, escondendo o rosto em meu
ombro.
— Você só terá o que quer se me pedir, Moranguinho. — Planto
meus beijos por sua bochecha até chegar em seu queixo e o mordo de leve.
Desço minha mão de encontro a sua boceta e começo a fazer um
carinho de leve por cima da pequena calcinha.
— Liam — suspira, juntando nossas testas.
— Sim, Pequena.
— Me faz gozar. — Fricciona sua boceta em meu pau latejante mais
uma vez.
— Seu pedido é uma ordem. — Enfio minha mão em sua calcinha e
ela me olha com expectativa.
Toco sua abertura, e consigo sentir uma leve penugem ali, vou
descendo um pouco mais e já consigo sentir o quanto está melada pra mim.
Sinto minha boca salivar só de imaginar o seu gosto, e querendo matar um
pouco dessa fome que sinto dela, grudo nossos lábios em um beijo cheio de
desejo, desço mais meus dedos – que acabam escorregando por conta de
todo o seu creme – e começo uma massagem lenta e contínua em sua
boceta.
— Como você está melada, pequena — sussurro com nossos lábios
ainda colados.
Hanna não consegue fazer nada a não ser gemer e se contorcer em
meus braços.
Volto a beijá-la, saboreando cada canto de sua boca, chupando sua
língua para dentro da minha própria e com meus dedos – agora em seu
clitóris – a masturbo com vontade, elevando sua excitação ao nível máximo,
mas é quando desço meu dedo até sua entrada e forço sua barreira, que
Hanna perde todo o controle.
— Ah, Liam! — grita, fincando suas unhas nos meus ombros.
— Vê como você engole meus dedos, pequena? — Enfio mais um
dedo até o seu limite, fazendo movimentos de vai e vem bem lentos para
torturá-la um pouco e prolongar sua excitação.
— Ma–mais.
— O quê? — Tiro meus dedos lentamente de sua boceta, sentindo
cada parte dela melada.
— Eu… — Sua voz sai esganiçada, quando aproveitando sua
excitação, fazendo um movimento de tesoura com os dedos, prendo os
lábios entre eles e começo a massageá-la.
— Você o que, pequena? — Continuo com o carinho lento e
torturante.
— Eu quero vo-você dentro de mim — pede com os olhos focados
nos meus.
Sorrio para ela.
— Com prazer. — Sem dizer mais nada, enfio meu dedo em sua
boceta e recomeço o vai e vem mais uma vez.
— Como isso é bom. — Seu quadril começa a se mexer de acordo
com os movimentos que faço com os dedos.
Sem dizer mais nada, junto nossos lábios mais uma vez quando
sinto seu corpo tremer e sua boceta apertada contrair meus dedos, avisando
que está muito perto de gozar.
— Liam! — Desgruda nossos lábios.
— Isso, pequena. Geme pra mim — peço, fazendo movimento de
vai e vem e com meu polegar estimulo seu clitóris.
— E-eu vou... — Finca seu calcanhar em minha bunda e eu
alimento a velocidade das investidas, já sabendo o que vem aí.
— Eu sei, Moranguinho — digo, quando a sinto tremer em meus
braços, fincar suas unhas neles e rebolar em minha mão com mais vontade,
roçando em meu pau o estimulando também.
Meu pau está tão duro, que sou capaz de gozar com uma única
carícia, e tê-la se esfregando com tanta vontade, está me fazendo perder a
cabeça.
— Estou perto. — Sarra mais e mais em meus dedos e pau ainda
dentro da cueca.
—  Deixe vir — peço a ela.
Hanna estremece em meu colo e goza com força, e eu acabo
seguindo seu exemplo e gozo na cueca como um adolescente.
Nunca pensei que Hanna poderia ficar mais linda do que ela já é,
mas aqui, gozando em minhas mãos e gemendo como nunca, ela é a criatura
mais linda desse mundo.
Com seus olhos fechados, Hanna repousa sua cabeça em meu ombro
e vai relaxando aos poucos. Sinto seus braços e pernas se desprenderem do
meu corpo, e a única coisa que a mantém em pé, são os meus braços em
volta de sua cintura.
Ainda com a cabeça no meu ombro, ela abre seus olhos lentamente e
os foca em mim.
— Oi — repito o que disse, quando entramos na água.
— Oi — responde em um sussurro.
— Como você está?
— Muito bem — abre um lindo sorriso. — E satisfeita.
Sorrio em sua direção e tiro minha mão lentamente de dentro da sua
calcinha.
— Me dediquei muito para isso. — Com os dedos ainda melados
com seu orgasmo, eu os levo à boca e chupo tudo o que estava ali. — Como
imaginei, sua boceta é tão doce quanto você.
Hanna me encara e suas bochechas ficam vermelhas em questão de
segundos.
— Liam! — protesta.
— Só disse a verdade. — Seguro sua cintura com minhas duas
mãos.
Revirando os olhos, ela junta nossos lábios mais uma vez e me beija
com vontade, sentindo o seu próprio gosto nos meus lábios.
— Você não existe. — Remexe nos meus braços.
Ainda abraçados, aproveitamos um pouco mais da calmaria da água.
Ficamos mais alguns minutos na água, quando decidimos sair de
uma vez.
— Vista isso. — Dou a ela uma blusa branca minha e um casaco que
trouxe mais cedo.
— Obrigada. — Pega a blusa e a veste.
— Quer comer alguma coisa? — pergunto, depois de vestir minha
roupa.
— Quero. — Assente com a cabeça. — Por algum motivo, estou
morrendo de fome. — Tira o sutiã molhado, ainda usando a blusa e veste o
casaco que dei a ela.
— Nadar realmente dá fome — brinco, indo até nossa cesta e
pegando um cacho de uvas verdes.
— Isso mesmo — concorda, vindo em minha direção e se sentando
perto do meu violão. — Agora me dá. — Aponta para as uvas em minha
mão.
— Certo. — Sento atrás do seu corpo, destaco uma uva do cacho e a
ofereço.— Comida na boca?
Dou de ombros e a ofereço mais uma vez.
Hanna me encara por alguns segundos e acaba aceitando a uva e
começa a mastigar lentamente.
— Muito gostosa.
— Deixa eu ver. — Seguro seu queixo com o polegar e o indicador
e planto um selinho longo em seus lábios. — Tem toda razão.
Hanna me encara por alguns segundos antes de dizer:
— Pareço estar vivendo um sonho.
— Por que acha isso? — pergunto.
— Nunca imaginei que seria possível eu e você vivermos tudo isso.
— Dá de ombros. — Eu gosto de você de um jeito diferente há muito
tempo, Liam. Não imaginava que você um dia olharia para mim e me
enxergaria.
— Mas por que achava isso?
— Ah, sei lá. Sou a irmã mais nova do seu melhor amigo, quieta na
minha. Nunca demonstrou nada que o fizesse me olhar — conta, olhando
para suas mãos pintadas com um lilás bem clarinho.
— Mas foi exatamente o seu jeito de ser que me fez enxergá-la,
Hanna. — Faço um carinho em seu rosto.
— Quando isso aconteceu?
— O quê?
— Quando me enxergou?
Desço minha mão de seu rosto e suspiro.
— Você estava precisando de um vestido, e o Aaron não podia te
levar porque tinha o exame de direção no mesmo dia e seus pais ficaram
presos no trabalho, lembra? — pergunto e ela assente com a cabeça. —
Você estava tão linda naquele dia, Hanna. Que algo se acendeu em mim e
percebi que não era mais aquela garotinha que ficava lendo e escrevendo
enquanto eu e seu irmão brincávamos pelo quintal.
— Há tanto tempo assim?
Assinto com a cabeça.
— Em um primeiro momento, eu tentei sufocar o que sinto por
você, mas nunca consegui. — Dou de ombros.
— E pensar que Holly percebeu isso bem antes de mim — comenta,
rindo.
— Holly já sabia? — pergunto um pouco assustado.
— Ela é muito boa em ler as pessoas.
Assinto com a cabeça, olhando para o nada.
Se Holly e Bennett já perceberam sobre os meus sentimentos por
Hanna, é questão de tempo para Aaron descobrir.
Droga!
Tenho que perder esse medo do meu melhor amigo ficar puto
comigo por conta dos meus sentimentos, e contar logo a ele.
— Ei, o que foi? Ficou quieto de repente.
— Não é nada. — Puxo-a e a coloco no meio de minhas pernas.
Ficamos abraçados um ao outro por algum tempo, quando ela se
vira em minha direção.
— Sabe o que eu acabei de perceber?
— Não. O que seria?
— Que você nunca tocou uma música pra mim. — Se desprende dos
meus braços e se vira de frente.
— Não seja por isso. — Me estico um pouco para pegar o violão do
outro lado do deck e o tiro da capa de proteção. — O que a bela moça quer
que eu toque essa noite? — pergunto cheio de graça, dedilhando as cordas
do violão.
— Você escolhe. — Se ajeita e espera que eu faça minha mágica.
— Está bem — afirmo, já sabendo o que vou tocar. — Essa foi uma
das primeiras músicas que aprendi a tocar.
Começo a dedilhar os primeiros acordes no violão e começo a
cantar.
 
Lindas garotas ao redor do mundo
Eu poderia estar atrás delas, mas o meu tempo seria desperdiçado
Elas não são nada comparadas a você, amor
Nada comparadas a você, amor
(Na-na-nada comparadas a você, amor, n-nada comparadas a você), sim
 
Levanto meus olhos do violão e canto olhando para ela uma música
que aprendi há algum tempo e que diz tudo o que sinto por ela.
Hanna começa a dançar um pouco à minha frente, me hipnotizando
e me fazendo errar algumas notas bobas.
 
Elas podem dizer oi (oi), e eu posso dizer olá (olá)
Mas você não deve se preocupar com o que dizem (por quê?)
Porque elas não são nada comparadas a você, amor
(Na-na-nada comparadas a você, amor, n-nada comparadas a você)
Nada comparadas a você, amor
(Na-na-nada comparadas a você, amor, n-nada comparadas a você), sim
 
Canto essa parte da música, e Hanna assente com a cabeça como se
estivesse concordando com tudo o que Bruno Mars e B.o.B estão dizendo.
Canto cada frase desse parágrafo com vontade. Vontade de fazer
Hanna entender que o que sinto por ela é muito mais do que um simples
gostar. Eu poderia dizer a ela com todas as letras? Poderia, mas ainda é
cedo demais. Então, eu decido cantar.
 
Estou rendido, nunca haverá uma outra (não)
Eu estive por aí e nunca vi outra (nunca)
Porque o seu estilo, eu realmente não tenho chance com isso (nada)
E eu vou à loucura quando você não está usando nada (haha)
Querida, você é o pacote completo
Além disso, você paga seus impostos
E você se mantém verdadeira enquanto as outras ficam sendo de plástico
Você é a minha Mulher Maravilha, me chame de Sr. Fantástico
 
Quando chego a essa parte da música, Hanna canta comigo e sua
voz desafinada em coro com a minha, faz um dueto perfeito.
Como pode uma única pessoa fazer você sentir um misto de
sensações? É tão estranho e ao mesmo tempo tão gratificante.
Toco os últimos acordes da música e Hanna me acompanha, até que
o violão soa sua última nota e tudo à nossa volta se torna silencioso.
Hanna sorri em minha direção e tenho certeza de que esse dia ficará
marcado para sempre em minha memória.
 
Sempre que estou sozinha com você
Você me faz sentir em casa de novo
Sempre que estou sozinha com você
Você me faz sentir inteira de novo
Lovesong - Adele
 
 
 
 
— Você é incrível — elogio Liam, encantada em como sua voz
rouca se encaixa muito bem com qualquer música que ele se desafia a
cantar.
— Fico feliz que tenha gostado. — Ajeita o violão no colo. —
Cantei ela para você — assume e sinto minhas bochechas corarem.
Olhando em volta, me pego incrédula com tudo o que fizemos hoje.
Quando aceitei o convite dele para um passeio, nunca imaginei que viveria
e sentiria tanta coisa ao mesmo tempo, como senti mais cedo.
Se fechar meus olhos, ainda sinto seus toques e beijos, e todo o
tesão que explodiu por todo o meu corpo.
Esse vivendo um dia de cada vez está sendo incrível.
— É uma das minhas preferidas — assumo, engatando rapidamente
em sua direção.
— Bruno Mars e Taylor Swift... Você tem bom gosto musical.
— Eu tenho um ótimo gosto musical. — Tiro o violão do seu colo e
me sento. — Oi — repito a palavra que nos acostumamos.
— Oi. — Faz um carinho leve em minha bochecha e tira alguns fios,
já secos, do meu rosto. — Podemos entender isso como: Hanna é uma
pessoa com um ótimo gosto para músicas.
— Isso mesmo. — Selo meus lábios com os seus mais uma vez.
— Nem um pouco convencida. — Faz algumas cosquinhas em
minha cintura, fazendo com que eu me contorça em seu colo.
— Pare com isso agora mesmo. — Mexo meus braços, tentando
afastá-lo de mim com o cotovelo.
— Agora que abriu o sorriso mais lindo de todos? Nem pensar. —
Continua com as cócegas e eu me remexo mais e mais tentando me livrar
dele e já ficando quase sem ar.
— Liam, pare agora mesmo! — grito, me remexendo tanto que
acabo encaixando minha boceta com o seu pau e consigo senti-lo duro
embaixo de mim e acabo gemendo baixinho sendo seguida por ele.
Parando na hora com as cócegas por conta do nosso contato. Liam
foca os olhos em mim, e eles parecem gelo derretido que queima tudo o que
toca.
Sinto o tesão tomar conta do meu corpo mais uma vez e querendo
reviver tudo o que senti no lago mais cedo, prendo seu rosto entre minhas
mãos e o beijo com vontade, fazendo nossas línguas se entrelaçarem em
uma dança sensual e única.
Esses momentos com ele, estão tomando o lugar de primeiro lugar
na minha lista de coisas preferidas a se fazer.
Sua mão sobe por toda a minha coluna, mexendo com cada
terminação nervosa minha, e me enlouquecendo por completo. Me ajeito o
melhor que posso em seu colo e me entrego mais uma vez ao amor e ao
desejo que sinto por ele.
 
 
Liam estaciona em frente ao meu dormitório e o céu lá fora já
mostra a noite avançada chegando.
— Está entregue, pequena — comenta, desligando o carro e vira seu
corpo de frente para o meu.
— Pequena, Moranguinho, Linda... Quantos apelidos mais irá me
dar? — pergunto, imitando-o e virando no banco como ele.
— Quantos mais combinarem com você. — Faz um carinho em meu
nariz com o seu.
— Eu os amo — afirmo. — Menos, pequena. Ele não condiz
comigo — sentencio.
— Tem certeza que não? — Franze as sobrancelhas como em um
desafio.
— Eu bato noseu queixo, Liam?
— Queixo, Hanna, sério? Você bate no meu peito e olhe lá. — Pega
no meu queixo e o balança de leve.
— Tá bom! Eu assumo que sou baixinha. — Encosto minha cabeça
no banco atrás de mim.
— Minha baixinha. — Chega perto, fazendo carinho em meu nariz
usando o seu.
Acabo rindo por conta da cosquinha que seu nariz gelado faz no
meu.
Ficamos um tempo conversando bobagens, como o treino dela, suas
aulas, as minhas, como estou me sentindo na faculdade, se estou gostando
do curso e besteiras a mais, quando ele avisa que precisa ir.
Nos despedimos com um último beijo e saio do seu carro com a
promessa de que me mande uma mensagem quando chegar.
Estou entrando no alojamento quando escuto Liam dar partida no
seu carro, olho para trás pra ter um último vislumbre dele, e subo para o
meu quarto.
Paro na frente da porta e consigo escutar Demons do Imagine
Dragons tocando do outro lado.
Abro a porta e a imagem a me receber é da minha melhor amiga de
blusa preta de mangas compridas e uma calcinha – também preta – que
aparece quando ela levanta os braços, segurando uma escova de cabelos
pelo cabo e cantando a plenos pulmões.
— When you feel my heat look into my eyes it's where my demons
hide[2] — canta e dança como uma estrela do rock.
Fecho a porta atrás de mim sem fazer barulho algum e ando pé sobre
pé, paro bem ao seu lado e canto junto com ela.
— Don't get too close it's dark inside it's where my demons hide.
Holly se vira em minha direção e passamos a cantar toda a música,
proporcionando um belo show para nosso armário, camas e espelho.
Quando a música acaba, estamos deitadas na cama cansadas de tanto
dançarmos e o sorriso grande e bobo que não sai do meu rosto, aumenta
consideravelmente.
— Onde você estava? — pergunta, virando seu rosto em direção ao
meu. — Te esperei o dia todo.
— Mandei uma mensagem dizendo aonde ia.
— Um “Liam está me levando para algum lugar, nos falamos
depois” não diminuiu minha curiosidade em nada. — Se vira de lado,
apoiando a mão na bochecha. — Anda, me conta como foi? — Empurra
minha barriga.
Me encolho rindo por conta da cosquinha.
Minha barriga é um local sensível pra mim. Sinto cócegas ao menor
toque nesta área.
— Ah, Holly! Foi incrível — suspiro.
— Estou vendo pelo sorriso idiota que não sai do seu rosto por nada.
— Idiota. — Empurro seu ombro, fazendo-a se desequilibrar.
Ela acaba rindo de mim e se endireita novamente.
— Anda, para de me enrolar — pede, me cutucando. — O que
vocês fizeram, onde foram? Quero detalhes.
Suspiro, fechando os olhos para lembrar de todos os detalhes do dia
de hoje.
— Fomos a uma floresta e... — Antes que eu termine de contar, sou
interrompida.
— Floresta?! Ele é Edward Cullen por um acaso? Quem leva
alguém a uma floresta no primeiro encontro? — pergunta indignada, e se
senta na cama.
Não me aguento com a comparação e acabo tendo uma crise de risos
descontrolada.
— Me-meu Deus, Holly! De o-onde você tira essas coisas? —
pergunto com dificuldade por conta da gargalhada que não quer passar.
— Vai me dizer que estou errada? Tantos lugares para te levar e ele
vai para uma floresta? Tem algo errado aí.
— Não era você mesma que amava o vampiro brilhante? — Sento
na cama, me acalmando aos poucos.
— Sim, eu era, quando tinha quatorze anos.
— Vai me dizer que não pegaria o Robert Pattinson? — Franzo as
sobrancelhas a desafiando.
— Tenho que assumir que pegaria — Volta a se sentar na cama. —
Viu como ele está um gostoso como Batman? A Marvel surra a DC sem
pena nos filmes, mas temos que concordar que ele fica lindo de morcego.
— Tenho que concordar. — Confirmo com a cabeça. — Já percebeu
que ele tem uma relação antiga com chupadores de sangue? Primeiro um
vampiro e agora um morcegão.
— Eu deixaria ele chupar meu pescoço sem problema nenhum,
ainda mais se estivesse me comendo.
— Informação demais, Holly Mo.
— Só disse a verdade. — Dá de ombros. — Ei, mocinha! Eu sei o
que está querendo fazer.
— Sério? O que estou fazendo?
— Tirando o foco de você para não me contar o que rolou. —
Aponta o dedo em minha direção.
Pior que ela está certa.
Não que eu não queira contar a ela, não é isso. É só que queria mais
alguns minutos sonhando com o dia de hoje.
Infantil? Pode até ser, mas para alguém que esperou anos por um
único beijo do garoto que gostava, gozar na mão dele é algo a se pensar e
relembrar por bastante tempo.
— Certo, irei contar. — Me sento na cama mais uma vez e começo a
contar a ela como foi meu dia com Liam, desde o momento em que ele
sentiu ciúmes do Harry, um menino da minha sala, o momento no lago, a
música que ele tocou, até a hora que decidimos ir embora.
— Meu Deus! Quer dizer que você não é mais virgem?!
— O quê? Não! Lógico que não.
— Não é mais virgem?! — grita, pulando da cama.
— Não! Quer dizer, sim. — Me embolo toda. — Espera, eu ainda
sou virgem, Holly.
— Ah! — Senta desanimada na cama. — Bom, pelo menos ele te
fez gozar. Não foi uma viagem perdida.
— Eu não ligaria se não tivesse gozado.
— Claro que não. Você é apaixonada pelo cara da boy band desde
sempre.
— Cara da boy band, Edward Cullen. Tem mais algum apelido para
ele? — pergunto, segurando a risada.
— Não... Acho que minha criatividade só chega até aqui agora. —
Se senta na cama e começa a pentear o cabelo e colocando Bones do
Imagine Dragons pra tocar.
— Parece que o Dan te pegou de jeito hoje — comento, me
referindo ao vocalista da banda.
— Terá um show deles daqui a cinco meses em Nova York. —
Prende o cabelo em um coque alto. — Receber essa notícia me deu gatilho
para escutá-los.
— Quando começa a venda de ingressos?
— Dois meses antes do show.
— Ficar acordadas a madrugada toda para comprar?
— A pipoca e os chocolates já estarão preparados — confirma.
— Beleza. — Também concordo com a cabeça. — Bom... Vou
tomar um banho agora — comento, indo até meu armário pegar uma toalha
limpa.
— Vai lá. — Aumenta um pouco o volume e vou em direção ao
banheiro.
Fecho a porta do banheiro, me livro de toda a minha roupa, me olho
no espelho — vendo algumas marcas leves que Liam deixou em meus seios
— e é impossível não lembrar de tudo o que fizemos depois que cantou
para mim.
Eu estava em seus braços mais uma vez, sentindo seu membro duro
como uma rocha bem embaixo de mim, e uma vontade louca de dar prazer a
ele como me dera há pouco cresceu dentro de mim, inibindo minha timidez.
Lembro de olhar nos olhos dele, beijá-lo com vontade, fazendo
nossas línguas dançarem uma música que só elas sabiam quem era e
acompanhando os seus movimentos, ordenei que meu quadril fizesse o
mesmo, bem em cima do pau duro do homem embaixo de mim.
— Hanna, você vai me fazer perder o controle assim — sussurra
com nossas bocas coladas uma à outra e voltando a me beijar novamente.
— Mas é exatamente isso o que eu quero. — Desgrudo nossos
lábios, sentindo seu pau pulsar bem rente a minha boceta e sinto uma
vontade gritante de tê-lo pulsando entre os meus dedos.
Rebolo mais um pouco, e Liam aperta minha cintura como em um
pedido para que eu pare.
— Hanna, acho melhor pararmos por aqui.
— Eu acho que não — rebato, empurrando-o para trás e o deitando
no deck molhado.
Abaixo a cabeça e começo a beijar toda a extensão do seu pescoço e
fazê-lo vibrar embaixo de mim.
Repito cada movimento que Liam fez comigo há pouco. Beijo atrás
de sua orelha, pescoço, peitoral e raspo meus dentes por cima do seu
pequeno mamilo, fazendo-o ficar duro em questão de segundos.
Liam tensionou abaixo de mim e sem que eu esperasse, nos virou
ficando por cima.
— Você gosta de brincar, não é?
— Com você? Muito.
Liam me lança um sorriso ladino e seu canino um pouquinho mais
pontudo do que os outros se destaca no sorriso cafajeste dele.
— Bom, que tal se queimar um pouco? — Abaixou a cabeça em
minha direção, me beijando com desejo.
Voltando de minhas lembranças entro no box e ligo o chuveiro. O
jato de água quente relaxa mais ainda os meus músculos e me acolhe em
um gostoso abraço.
Quando vejo que estou molhada o suficiente, pego meu sabonete
com essência de morango,começo a ensaboar todo o meu corpo,
começando pelos braços e acaba sendo impossível não me lembrar da
segunda vez em que estive nos braços de Liam e ele me fez desmanchar em
segundos.
— Olha como você está pronta pra mim. — Os movimentos dos
seus dedos são constantes. — Mal posso esperar para ter você gozando na
minha boca. — Estoca mais um dedo, me fazendo jogar a cabeça para trás.
— E eu de sentir seu pau duro em minhas mãos — ofego.
Lembro que ficamos um bom tempo nos provocando e tocando.
Só de lembrar de tudo, sinto minha boceta se contrair e sem pensar
muito, desço minha mão ao ponto de prazer que pulsa enlouquecido em
minha mão. Meu tesão pelas lembranças é tanto, que um simples toque meu
me faz jogar a cabeça para trás e morder os lábios para evitar que um
gemido saia.
Me encosto na parede e começo a massagear meu clitóris, fazendo
os movimentos que gostaria que a língua de Liam fizesse em mim, e como
em um passe de mágica, eu sinto suas mãos envolverem minha cintura
molhada e escorregadia pelo sabonete, e as lembranças do que vivemos
hoje começam a se misturar com o desejo de tê-lo aqui, ao meu lado,
tomando banho comigo e ensaboando meu corpo.
— Ora, vejam só, como você precisa de mim. — Entrelaça suas
mãos grandes e calejadas – pelas cordas do violão – cheias de sabonete de
morango nas minhas, e acompanho cada um dos seus movimentos.
— Liam — gemo, apoiando minha cabeça em seu ombro.
— Antes eu não consegui ter minha boca em você, Moranguinho.
Mas agora eu provarei cada pedacinho seu. — Rodeia meu corpo parando à
minha frente, e sem dizer mais nada, abocanha meu seio direito como um
homem faminto.
— Ah, meu Deus! — Mordo os lábios fortemente.
— Isso, minha pequena. Eu quero ouvir seus gritos de prazer. — Se
agacha na minha frente, segura minha cintura e me lança um olhar
malicioso.
— O que você...
Antes que eu termine minha pergunta, Liam levanta uma de minhas
pernas – apoiando-a em seu ombro – começa a beijar a parte interna de
minha coxa lentamente até ficar bem rente a minha virilha.
— Liam — sussurro.
Já ele não emite nenhum som.
Liam beija e morde minha virilha e minhas pernas tremem, me
deixando com medo de cair. Estou prestes a avisar a ele, mas sou impedida
por um grito que fica preso em minha garganta quando ele abocanha minha
boceta de uma só vez, me fazendo ver estrelas.
Gemo enlouquecida e puxo seu cabelo quando sua língua rodeia
meu clitóris.
Estou tão excitada que não será necessário muita coisa para me fazer
desmanchar em seus lábios.
Liam me chupa com vontade, como se estivesse provando de um
fruto proibido. Os únicos barulhos existentes no lugar são da água caindo e
da sua língua percorrendo cada cantinho da minha boceta.
Segurando na minha bunda com as duas mãos, ele me puxa mais
para a frente, enterrando seu nariz em meu clitóris e sua língua em minha
entrada. A estimulação em pontos estratégicos me deixa enlouquecida e não
demora muito para que eu me desmanche em sua boca, mordendo a mão
para não gritar no banheiro.
Com a respiração ofegante, me recosto na parede do banheiro e
começo a respirar lenta e constantemente, para assim meus batimentos
cardíacos e minha respiração desregulada ficarem controlados.
Já mais calma, abro os olhos e percebo que estou sozinha no
banheiro e com as mãos no meio das pernas.
Sentindo que minhas pernas estão mais firmes, me endireito e
começo a me lavar mais uma vez para enfim terminar meu banho, agora
mais relaxada e cansada do que antes.
Três orgasmos em um único dia, tira as forças de qualquer pessoa.
Termino meu banho, desligo o chuveiro, pego minha toalha e
começo a me secar.
Assim que termino, visto meu pijama lilás de nuvens e saio do
banheiro.
Olho para a cama de Holly e por incrível que pareça, ela já está
dormindo.
O que uma faculdade não faz com a pessoa, não é?
Sigo em direção a minha cama, afasto as cobertas e me deito para
enfim poder dormir.
Estou quase pegando no sono, quando o barulho de notificação
chegando soa pelo quarto, e me estico para pegar meu celular em cima da
cômoda.
 
Liam:
Cheguei em casa há alguns minutos
Já tomei banho e agora estou deitado na minha cama.
 
Meu coração bobo se alegra por ele ter cumprido a promessa de me
avisar quando chegasse em casa.
 
Eu:
Acabei de tomar banho também e já estou pronta para dormir.
 
Conto, sentindo minhas bochechas queimarem só de lembrar o que
acabei de fazer.
 
Liam:
Gostaria de estar aí com você.
 
Não duvido nada.
Penso e acabo sorrindo.
 
Eu:
Você seria uma ótima companhia.
Com toda a certeza.
Mas para dormir na mesma cama comigo, precisa saber que sou
espaçosa demais.
 
Envio, me cobrindo melhor e me aconchegando na cama.
 
Liam:
Já eu, fico parado no mesmo lugar.
Isso quer dizer que somos perfeitos para dormir na mesma cama.
 
Eu:
Isso seria um convite, senhor Emerson?
Liam:
Se você for aceitar...
 
Apoio o celular em cima do meu peito, e começo a idealizar como
seria dormir ao seu lado.
Estou pensando em como me sentiria ao acordar nos braços de
Liam, quando meu celular acende indicando uma nova mensagem.
Pego o celular e o nome dele aparece na tela.
 
Liam:
Bom... não irei mais atrapalhar seu sono.
Vá dormir, Moranguinho. Descanse.
Uma boa noite ��
 
Eu:
Boa noite, Liam.
Durma bem ♥ 
 
Estou prestes a colocar meu celular na cômoda, quando acende mais
uma vez.
 
Liam:
Sonhando com você, é impossível ter uma noite ruim.
 
Sem que eu possa controlar, um sorriso idiota nasce nos meus lábios
com essa mensagem.
Sem terminar de responder para ele, coloco meu celular na cômoda,
me ajeito na cama e fecho meus olhos, com a sensação de que nunca fui tão
feliz assim.
 
Os seus problemas, você deve esquecer!
Isso é viver, é aprender!
Hakuna matata!
Hakuna Matata - O Rei Leão
 
 
 
 
Passo pela roleta na entrada do prédio, e vou em direção a biblioteca
e ao encontro de Harry.
Recebi uma mensagem sua hoje de manhã, quando ainda tomava
café da manhã, perguntando se nos encontraríamos hoje. E aqui estou eu,
prestes a encontrá-lo.
Entro na biblioteca, e ainda não me acostumei com o quanto esse
lugar é enorme e amplo, um sonho de consumo para uma leitora assídua
como eu. Estar neste lugar, é como estar no paraíso. As paredes são grandes
e intercaladas com janelas que vão do chão ao teto, fazendo com que a luz
seja constante por aqui. Há algumas mesas com computadores espalhadas
estrategicamente para aqueles que querem estudar.
Vou caminhando por entre as mesas e não encontro Harry por aqui
ainda. O local está bem tranquilo. São dez horas da manhã de um sábado,
qual estudante perderia seu tempo em uma biblioteca?
Acabo olhando para o meu reflexo em uma janela e rindo.
Eu sou uma estudante maluca que está estudando em uma biblioteca
no sábado, mas cá entre nós? Eu até prefiro.
Passo por mais duas mesas e decido pegar meu exemplar de
Orgulho e Preconceito e reler algumas das minhas anotações enquanto
espero Harry chegar.
Puxo a cadeira, sento e coloco minha bolsa em cima da mesa
pegando meu livro e abrindo em uma página aleatória e quando a
reconheço, acabo sorrindo. O primeiro encontro do Mr. Darcy e da
senhorita Elizabeth é onde abro.
Jane Austen foi simplesmente genial quando criou esse casal. Da
antipatia, acabou nascendo um amor lindo e forte o bastante para passar por
cima do preconceito pela classe social e alguns acontecimentos que fizeram
com que os dois se mantivessem afastados.
Mesmo sem saber, Austen acabou criando uma das tropes mais
famosas no mundo literário com esse romance. O enemies to lovers.
Estou perdida no século XVIII quando uma voz chama a minha
atenção.
— Me desculpe pelo atraso, não estava achando as minhas chaves.
— Empurra o óculos com a ponta do dedo, ajeitando-o no rosto.
— Sem problemas. Nem vi o tempo passar. — Balanço o livro em
minhas mãos.
Harry sorri e puxa a cadeira para se sentar.
— Em que parte você está? — Se senta à minha frente.
— Estava lendo o primeiro encontro deles, agora estou na
declaração mais icônica deste mundo.
— Essa é uma das minhas partes preferidastambém — conta,
mexendo em sua bolsa.
— Quer dizer então que já leu Orgulho e Preconceito? — questiono,
me ajeitando na cadeira.
— Culpado! — Levanta a mão em rendição e com as bochechas
vermelhas de vergonha. — Já perdi as contas de quantas vezes já o li. —
— Sério? Então teremos um debate fácil entre nós dois.
— Creio que sim. — Olha para a mesa, brincando com a orelha de
seu livro. — Decorei praticamente todas as cenas desse livro.
— É sério? — Inclino um pouco minha cabeça de lado. — Qual é a
sua preferida?
— A declaração de Darcy com toda a certeza — começa a dizer e
sei exatamente de qual parte do livro está falando.
— Você enfeitiçou meu corpo e alma, e eu amo, amo, amo você,
nunca mais quero estar longe de você de hoje em diante — recito o trecho,
olhando para ele.
— Decorei esse trecho na primeira vez que o li.
— Ele é magnífico. — Me ajeito na cadeira. — A maneira com que
ele se declara para Elizabeth, é de tirar o fôlego.
— Esse é um dos poucos livros que minha mãe leu.
— Jura?
Assente com a cabeça.
— Minha mãe só chegou perto do filme e olhe lá — conto a ele.
— Até que estava bom o filme, não acha?
— Sim! Fiquei impressionada. Quer dizer, sabemos que quando um
filme é baseado em um livro, as coisas não saem iguais, mas eu gostei
muito. Na verdade, está na minha lista de filmes preferidos da vida.
— Não me diga que você também faz uma lista dos seus filmes
preferidos? — Se anima.
— Não só dos filmes, mas de livros também — conto a ele. — Na
verdade, minha melhor amiga e eu fazemos isso. Temos uma lista de livros
e filmes que nós duas gostamos muito.
— Eu tenho com a minha mãe — conta e fecho meu livro o
guardando na mochila. — Ela fez uma lista e a colocou na porta da
geladeira, então quando é seu aniversário ou o meu, pegamos a lista, e
assistimos todos os dez até de madrugada.
— Eu amo fazer maratona de filmes, mas depois da faculdade, não
consegui ver quase nada.
— Tem um tempo que não faço também. — Começamos a
conversar, até que aponto para o seu livro.
— Parece que Orgulho e Preconceito, ficou esquecido. — Aponto
para o exemplar rindo.
— Me desculpe por fazê-la levantar tão cedo — se desculpa. —
Falamos mais sobre tudo do que do próprio livro.
— Não tem problema nenhum — garanto. — Aliás, eu acordo cedo
porque… — Paro de falar, antes que eu solte sobre meu emprego "secreto".
— Por quê? — pergunta, prolongando um pouco a última palavra.
— Costume — desconverso. — Mas me conte um pouco sobre
você. Estamos há horas falando e não nos apresentamos formalmente.
— Me apresentar? Não sei o que contar.
— Ah, qualquer coisa. — Passo a mão no cabelo, tirando-o do meu
rosto.
— Por que você não começa? Assim saberei o que dizer. Aliás, eu
só sei o seu nome e sobrenome.
— Hã, certo. — Penso um pouco no que dizer a ele. — Beleza. Meu
nome é Hanna Julie Carson, tenho dezoito anos, estou cursando meu
primeiro ano de literatura. Meus pais são casados há sei lá quantos anos,
tenho um irmão de vinte anos, que eu amo e estuda marketing nessa
faculdade. Acho que é isso. — Termino de dizer, esperando a vez dele. —
Sua vez.
— Ah, certo. Bom, não sei se tem muito o que saber de mim, mas…
meu nome todo é Harry Kennedy, tenho dezenove anos, estou cursando o
segundo ano de literatura. Meus pais ainda são casados desde os vinte e
cinco anos. Minha mãe, trabalha em um escritório de advocacia, e meu pai
trabalha em casa fazendo quadros e esculturas. Filho único e um nerd de
carteirinha que prefere a DC a Marvel. — Aponta para sua blusa do
Batman.
— É um prazer, Harry — cumprimento. — Você estava perfeito até
dizer uma blasfêmia dessa.
— Que blasfêmia?
— Você prefere DC a Marvel — finjo decepção. — Infelizmente,
não tem como ser perfeito.
— O que posso fazer se a DC tem os melhores heróis?
— É o quê?! Você quer comprar a Liga da Justiça com Os
Vingadores?
— Não se pode comparar sendo que a Liga é a melhor. — Se gaba
rindo.
— Nós temos o Homem de Ferro. — Espremo meus olhos em sua
direção.
— E nós o Batman.
— Um herói apelão bilionário.
— Está descrevendo o Tony Stark.
Ele tem um bom ponto.
— Não importa. Em menos de meia hora de amizade, você já me
irritou ao falar mal do melhor herói que existe — Cruzo os braços
emburrada.
— Não falei mal, só disse que era apelão.
— E o Superman, não é? Um alienígena e seu ponto fraco é uma
pedra verde.
— Você sabe que a pedra verde é pra mostrar como ele foi
modificado por dentro ao viver em nosso mundo desde bebê, não é? Para
mostrar que ele não pode mais voltar pra casa senão morre.
— Não importa, me irritei. — Inflo as bochechas com ar em uma
atitude bem infantil. — Onde já se viu, DC melhor do que Marvel —
murmuro e escuto a risada de Harry.
— Bom, no quesito heróis não combinamos…
— Porque você escolhe mal — interrompo-o.
— Certo. — Sorrio. — Será que no quesito fantasia vamos
combinar?
— Harry Potter.
— O Senhor dos Anéis.
Comentamos juntos.
— Vai dizer que não gosta de Harry Potter?! — Me ajeito indignada
na mesa.
— Gosto muito, mas ainda prefiro O Senhor dos Anéis.
— Meu Deus, Harry. Estou vendo que terei que ajudar você em suas
escolhas pops.
— Mas por quê?
— Preferir O Senhor dos Anéis a Harry Potter? Não, tudo errado.
— E qual é o problema nisso? — pergunta, ainda sem entender. —
O Senhor dos Anéis é o melhor filme já feito de todos os tempos.
— Harry Potter é conhecido mundo afora. J.K fez história ao criar
aquele mundo todo e todos aqueles personagens complexos. Até hoje as
pessoas não sabem se amam ou odeiam Severo Snape e ainda tem o
Dumbledore, o maior bruxo de todos.
— Você sabe que o Gandalf e muitas das coisas que tem em O
Senhor dos Anéis, serviu de inspiração para a J.K fazer Harry Potter, não é?
Droga! Tinha me esquecido disso.
— Além disso, o Tolkien ainda criou todos os idiomas que existem
na saga.
— Tudo bem, então. As duas sagas são maravilhosas — afirmo.
— Isso aí. Harry Potter foi importante na minha vida assim como O
Senhor dos Anéis.
— Como conheceu as duas sagas?
— O Senhor dos Anéis foi com a minha madrinha que comprou o
primeiro livro pra mim quando minha família e eu ainda morávamos no
Canadá — conta saudoso.
— E Harry Potter?
— Meu pai me deu de presente quando completei dez anos e
ninguém apareceu para o meu aniversário. — Me conta e sinto meu coração
apertar no peito.
Por que algumas crianças são tão cruéis com as outras, hein?
— Eu sinto muito.
Harry balança a cabeça.
— Não foi nada demais. Eu até ganhei um Playstation novo e comi
tanto sorvete que acabei passando mal.
— Um mal que acabou vindo para o bem.
— Exatamente.
— Eu sou assim com os filmes da Disney — conto a ele, mudando
de assunto.
— Meus preferidos são Toy Story e Vida de Inseto.
— Fico me perguntando se as formigas na vida real saem para beber
gotas de cerveja em folhas e reclamar sobre como a rainha pegou pesado no
comando do formigueiro.
— Nunca tinha pensado por esse lado. — Leva as mãos à boca,
tampando sua risada e escondendo suas covinhas de mim. — Quais são os
seus preferidos?
— Princesas, filmes em 2D, 3D ou live action.
— Meu Deus! Você viu todos?
— Aham — afirmo com a cabeça, guardando meu livro de Orgulho
e Preconceito na mochila de uma vez, já que não usaremos mais.
— Hã... vejamos — pensa um pouco. — Live action.
— Certo — penso um pouco. — Ah! Eu amo Malévola e Cinderela.
Aliás, aquele vestido azul dela é maravilhoso — comento, apoiando meu
queixo na mão. — E o seu?
— Princesa eu não tenho, mas o live action mais perfeito pra mim
até hoje foi Dumbo.
— O Rei Leão, não?
— Não tem pessoas vivas, então não é considerado um live action.
— Verdade, tinha esquecido dessa. — Prendo meu cabelo em um
coque alto. — Agora desenho em 2D.
— O Rei Leão é meu preferido da vida, perdi as contas de quantas
vezes já o vi.
— Isso é viver — começo a cantar.
— É aprender — continua
— HAKUNA MATATA! — cantamos juntos um pouco alto demais
e recebemos advertência de algumas pessoas que estão por ali.
Nos jogamos na mesa escondendo o riso e tentando não fazer muito
barulho.
— Nós vamos ser expulsos daqui.
— Quenada — tranquilizo-o. — Mas então, têm algum filme que
poucos conheçam e você ame?
— Irmão Urso não tem a devida importância que deveria ter.
— Nossa, sim. Achei que só eu gostava desse filme. Nunca vejo
ninguém falando dele.
— É um filme mais espiritual e feito para o público adulto.
— É o desenho preferido do meu pai — conto.
— Meu pai prefere Sprit – O Corcel Indomável.
— A melhor trilha sonora é a desse filme, vamos combinar?
— Me arrepio todo só de lembrar. — Me mostra seu braço com
alguns pelinhos levantados.
— DreamWorks sempre dando um soco em nossa cara. — Acabo
me lembrando da cena em que o pobre cavalo foi capturado.
— Nem me fale. — Seu olhar vai longe como se lembrasse de
alguma coisa. — Meu pai assistia todos comigo. —  Volta sua atenção para
mim.
— Meu irmão assistia todos comigo, mesmo quando ele não queria
— acabo rindo ao me lembrar da vez em que ele se vestiu de Tinker Bell e
fingimos estar no refúgio das fadas.
— Sempre quis um irmão, mas meus pais disseram que um filho já
era o bastante.
— Os meus também. Acabei sendo uma surpresa para eles.
— Uma surpresa e tanto.
— Nem me fale. Papai me disse que quando mamãe contou para ele
sobre a gravidez, ele ficou congelado uns cinco minutos.
— Deve ser legal ter alguém para brincar a todo tempo.
— Eu tive sorte com o meu irmão, mas conheço pessoas que
preferiam ser filhos únicos.
— Bom, você pode ter passado a maior parte do seu tempo sem
companhia, mas agora tem a mim. — Passo a mão pela cabeça até meus
quadris, me apresentando como uma obra de arte.
— É, eu tenho. — E lá estão as covinhas mais uma vez.
Harry me lança um sorriso de agradecimento.
Parece que acabei fazendo uma boa escolha ao aceitá-lo na minha
vida.
Algo me diz que seremos bons amigos e que a amizade que está
crescendo hoje, só ficará mais forte com o tempo.
Estamos conversando sobre nossos personagens preferidos do
mundo bruxo, quando meu celular acende com a chegada de uma
mensagem de Holly.
 
Holly Mo:
O que acha de comer alguma coisa?
 
Olho na direção de Harry — que está mexendo em algo no seu
telefone — e mando uma resposta a Holly.
 
Eu:
Topo, mas estou acompanhada de alguém.
Posso levá-lo?
 
Holly Mo:
É homem?
Se for o Liam, não pode não.
Quero aproveitar um pouco minha melhor amiga.
 
Prendo meus lábios com os dentes, prendendo uma risada por conta
do ciúmes dela.
 
Eu:
Não se preocupe que não é o Liam.
E eu tenho certeza de que você vai gostar dele.
 
Garanto, apertando a tecla enviar e olho sorrindo em direção a
Harry, que me encara um pouco desconfiado.
— Topa ir a um lugar comigo?
 
 
Chegamos à lanchonete — que fica fora do campus — e encontro
minha amiga sentada em uma mesa um pouco afastada da entrada do lugar.
— Ela está ali. — Indico onde ela está.
— Tem certeza de que está tudo bem eu vir pra cá, Hanna? —
pergunta um pouco acanhado.
— Claro que sim — garanto, indo até Holly, que acabou de me ver.
— Vamos. — Indico o caminho e vamos andando até ela.
— Por que demorou tanto? — pergunta daquele jeitinho que só ela
tem, antes que eu consiga dizer alguma coisa.
— Oi, pra você também. — Me sento à sua frente, indicando o
lugar ao meu lado para Harry se sentar. — Esse é o Harry, nosso mais novo
amigo — apresento.
— O-oi! — se apresenta um pouco acanhado.
Já percebi que Harry se retrai um pouco quando conhece pessoas
novas, mas depois que se enturma, fala sem parar.
Olho de um para o outro e Holly o encara por algum tempo. Foco
meus olhos nele e percebo que as bochechas de Harry vão ficando
avermelhadas há cada segundo que passa
— Gostei dele — diz, depois de um tempo.
— Sabia que iria gostar. — Olho de um para o outro. — Gostei do
lugar. — Olho em volta e começo a reparar em cada cantinho.
Não é um lugar muito grande, mas é arejado. Janelas de vidro que
vão do chão até o teto, rodeiam todo o lugar. Há mesas espalhadas por todo
o lugar, um jukebox em um canto mais reservado e uma mesa de sinuca,
onde quem quiser pode jogar enquanto espera seu pedido ficar pronto.
— O que vamos comer? — pergunto depois de olhar todo o lugar.
— Eu quero um hambúrguer maior que a minha cabeça e um
milkshake de chocolate. — Holly olha o cardápio.
— Eu vou pedir uma porção de batata com queijo e uma Coca-Cola.
— Já sinto minha boca salivar só de pensar na comida gordurosa e uma
coca bem gelada descendo pela minha garganta.
— Beleza. — Holly sinaliza para que a garçonete venha até nós.
— E você Harry, o que vai pedir? — pergunto.
— Só u-uma á-água está bom — responde acanhado.
— Água? Não, nem pensar — Holly interfere assim que a garçonete
para ao nosso lado.
— Boa noite! Já estão prontos para pedir? — pergunta, já pegando
seu bloquinho.
— Já, sim. — Holly começa a fazer nossos pedidos e quando chega
na vez de Harry, olha para ele o questionando.
— O me-mesmo que a Hanna es-está bom.
Holly termina de fazer os pedidos e a garçonete sai para mandar
nossos pedidos para a cozinha.
— Amiga, sabia que ele prefere a DC do que a Marvel? — Puxo
assunto para enturmar Harry e fazer com que ele se acalme.
— É o quê?! — grita indignada. — Achei que você era uma boa
pessoa Harry, mas estou vendo que me enganei.
— Qual é o problema de vocês com DC? — Se solta um pouco
mais.
— Os heróis apelões? — Holly rebate.
Se tem uma pessoa que é apaixonada pela Marvel mais do que eu,
esse alguém é Holly Saunders, só perdendo talvez para meu irmão.
— Ah, e a Marvel não tem apelões? — Harry rebate e eles começam
um debate sobre o universo dos quadrinhos até que nosso lanche chegue e
começamos a comer e a curtir o clima gostoso que se formou entre nós três.
Parece que a faculdade me trará mais momentos memoráveis do que
eu imaginava.
 
Eu disse: Eu nunca me apaixonaria, a menos que seja por você
Eu estava perdido na escuridão, mas então eu a encontrei
Until I Found You - Em Beihold and Stephen Sanchez
 
 
 
 
Entro no instituto e vou à procura de Amanda.
Amanhã é o dia do recital das crianças e vim até aqui para
acompanhar os últimos ajustes de tudo, e ver se as músicas que escolhi
estão separadas para o momento certo.
Estou quase chegando a sua sala, quando meu celular vibra no bolso
avisando sobre a chegada de uma nova mensagem, e assim que pego o
aparelho e o destravo, um sorriso bobo nasce em meu rosto ao ver que é
uma mensagem de Hanna.
 
Moranguinho:
Bom dia, lindo. Já chegou?
 
Eu:
Bom dia, pequena. Acabei de chegar.
 
Aperto a tecla enviar e guardo o celular no bolso da calça, assim que
entro na sala de Amanda.
Já se passaram duas semanas desde que Hanna e eu estamos nos
conhecendo mais profundamente, e desde o dia no lago, arrumamos tempo
entre nossas aulas e os meus treinos para ficarmos juntos. Estou achando
incrível cada segundo que passo com ela. Desde sair para comer alguma
coisa, vir ao instituto ou conversar baboseiras por mensagem.
Por falar em Hanna e instituto, Amanda e Sara me contaram que
estão amando o trabalho que ela está fazendo com os idosos ao ler para eles.
Muitos deles tinham perdido o hábito da leitura ou até mesmo nunca tinham
tocado em um livro. A ajuda de Hanna acabou devolvendo um mundo para
o qual eles poderiam sonhar sem sair do lugar.
Olho em volta e vejo Amanda perto da grande janela no fundo da
sala, olhando para as crianças que estão brincando no pátio.
— Como anda os preparativos para amanhã, tudo certo? —
pergunto, me aproximando dela.
— Está quase tudo pronto, só falta terminar alguns enfeites nas
roupas e estaremos prontos para amanhã. — Volta sua atenção pra mim. —
Eu só gostaria que você olhasse os alto-falantes depois e confirmasse se
está tudo certo para a saída de som.
— Ok, verei isso assim que sair daqui — afirmo.
Desde que Amanda sugeriu essa pequena apresentação, as crianças
têm se dedicado arduamente no ensaio para a apresentação delas. Não é um
evento que arrecadará muito dinheiro — mesmo que elas precisem muito —
mas o que entrar será de muita ajuda.
Todos os meses eu faço uma doação para cá, mesmo que Amanda
não saiba. Por ela, eu não ajudaria em nada, já que faço tantopor eles —
palavras dela, não minhas. — Mas eu gosto de ajudar de alguma maneira
além da que já ajudo com meu trabalho voluntário.
Para isso, Mase Davis serve de alguma coisa.
Usei seu primeiro e segundo nome para fazer algo útil para alguém.
Então, todos os meses, o empresário Mase Davis faz um depósito na
conta do instituto para que a maioria das despesas sejam pagas.
Infelizmente, por eu ser o único doador, não surte tanto efeito assim,
mas já ajuda em algo.
Me aproximo do sofá dizendo:
— Certo. — Me sento no sofá. — E como estão as crianças? —
pergunto, olhando em volta.
— Todos estão bem animados com tudo, mas Julliet e Samantha são
as que mais demonstram isso — abre um sorriso ladino. — Queriam dormir
com o figurino e tudo.
— São nossas pequenas artistas. Samantha disse que quer seguir o
caminho das grandes telas depois que viu High School Musical. — Acabo
rindo só de lembrar em como ela ficou animada com todas aquelas músicas
e danças.
Eu detestei cada segundo que Troy e Gabriela paravam a vida das
pessoas para cantarem e dançarem como se não houvesse amanhã.
Imagina se alguma namorada de um dos caras do time parasse todo
um jogo para cantar e dar força para ele? Seria morte, na certa.
— Não seria cantora? — Amanda sai de perto da janela e vem em
minha direção.
— Segundo ela, sua voz não é boa o bastante para que ela siga a
carreira cantando.
Sem que eu espere, ela tem uma crise de risos que acaba me
contagiando.
— Temos aqui uma menininha muito certa do que ela quer, não é?
— Com toda a certeza. — Assinto com a cabeça.
Ficamos conversando por mais algum tempo, até que decido ir ver
como está a aparelhagem de som.
— Irei lá agora para verificar tudo antes que fique muito tarde —
digo, olhando para o céu já escuro pelo avançar da noite. — Até amanhã.
— Até, Liam — se despede e eu saio de sua sala.
Assim que chego no pátio — onde acontecerá todo o espetáculo —
há alguns homens terminando de montar a estrutura que será usada como
palco para todas as crianças e idosos que farão um pequeno show.
As apresentações estão separadas da seguinte maneira:
Primeiro, os idosos começarão a ler pequenas poesias que Hanna
separou para eles. Depois, teremos duplas e trios de crianças cantando o que
escolheram e fecharemos com todos eles cantando e fechando o pequeno
show com chave de ouro.
Passo pelas cadeiras que estão armadas para os poucos convidados e
sigo até o palco para ver se está tudo certo.
Assim que confirmo que os microfones e as caixas de som estão ok,
eu saio do instituto, me despedindo de Sara que passava perto da saída,
prometendo a ela voltar amanhã antes de todos chegarem.
 
 
Estou terminando de me arrumar quando Aaron entra no meu
quarto.
— Onde vai bonitão desse jeito?
— No orfanato. Hoje é o dia daquela apresentação que te falei. —
Termino de vestir minha jaqueta e me viro para ele. —  E você, vai aonde?
— Aponto para ele com o queixo.
— Vai ter uma festa na casa do Brad, o quarterback daqui. — Vai
em direção a minha cama e se senta nela, amarrotando o edredom. —
Estava vindo te convidar.
— Foi mal, já tinha planos. Além disso, você sabe que não sou
muito de festa.
— É, eu sei, mas achei que seria legal você ir. Achar umas gatinhas
talvez. Faz quanto tempo que você não transa ou simplesmente beija
alguém?
— Não faz tanto tempo assim. — Me viro de costas ao lembrar o
que fiz com sua irmã.
— Ficou com alguém depois da Maddy que eu não estou sabendo?
— É, pode-se dizer que sim.
— E quem é ela, eu a conheço?
Ah, conhece.
Conhece até bem demais.
Era o que eu gostaria de dizer. Na verdade, eu gostaria de contar
logo de uma vez que sua irmã e eu temos ficado desde o dia da boate, mas
me falta coragem para isso.
— Acho que não, ela é uma caloura.
— Ela é legal? — Abre um sorriso sacana. — Bonita?
— Sim, ela é maravilhosa e é a garota mais bonita que já conheci —
respondo, me lembrando de Hanna.
— Ah, não. Eu conheço esse olhar. — Levanta da cama e aponta o
dedo em minha direção. — Está apaixonado.
— O quê?
— Não se faça de desentendido. Conheço você como a palma da
minha mão, Liam. Você está caidinho por essa menina.
Quando Genna disse que meus sentimentos por Hanna eram nítidos,
eu não quis acreditar, mas depois do comentário do meu melhor amigo, que
mesmo não sabendo de quem está falando, agora tenho certeza.
— Eu gosto muito dela — assumo, me sentindo um traidor por
mentir assim.
— Fico feliz por você, irmão. — Apoia a mão em meu ombro
esquerdo. — De verdade.
— Obrigado, irmão. — Abro um sorriso sem força e sem graça.
A notificação de uma mensagem chegando quebra o momento.
— Um segundo — digo, indo em direção a minha cama e pegando o
meu celular.
Assim que destravo a tela, uma mensagem de Hanna aparece ali.
 
Moranguinho:
Já estou pronta. Vou esperar você na frente do prédio.
Ah! E estou com uma surpresa aqui. Espero que não fique bravo.
 
Leio sua mensagem com um sorriso no rosto.
 
Eu:
Eu?
Bravo com você?
Isso nunca irá acontecer.
 
Aperto enviar.
Como posso ser tão cadela assim?
Uma simples mensagem de Hanna e já fico igual a um palerma.
— É ela? — pergunta, me despertando.
— Ela quem?
— Como assim quem? A sua garota, ué.
Estou prestes a dizer que sim quando me faz lembrar de quem ele
está falando. Ou melhor, de quem ele acha que está falando.
— Não, estou falando com a Hanna. — Travo o celular e o jogo na
cama mais uma vez.
— Com a minha irmã? — Levanta as sobrancelhas curioso. — O
que ela queria?
— Irei levá-la ao orfanato comigo hoje.
— Segunda vez já, hein. — Cruza os braços em frente ao corpo.
— O quê? Eles gostaram dela lá e pediram para ela voltar — conto.
— Aliás, Hanna está trabalhando lá agora.
— Sério? — Levanta as sobrancelhas. — Com o que ela trabalha?
— Está lendo para os idosos. Amanda estava doida à procura de
uma pessoa para fazer isso e sua irmã acabou se voluntariando.
— E como ela…?
Interrompo-o antes que ele pergunte.
— Genna! Hanna escutou uma conversa minha e dela e acabou se
interessando. — Mexo em meus dedos, odiando as mentiras que estou
contando.
— Ah, que bom! Pelo menos ela não fica enfurnada naquele
dormitório dia e noite.
— Uhum. — Só balanço a cabeça sem dizer mais nada.
— Vai buscá-la agora?
— Ah... Sim. Combinamos de nos encontrarmos em trinta minutos
— conto a ele com os olhos no relógio em meu pulso.
Preciso correr antes que ela me mate por me atrasar.
— Bom, não vou mais tomar o seu tempo. Vai logo buscar Hanna
porque se demorar muito, ela mata você. — Põe em palavras o que acabei
de pensar.
— Exatamente — concordo, vendo-o ir até a porta e parando no
batente.
— Liam?
— Oi?
— Obrigado por se importar com ela. Agora ela tem dois irmãos
para cuidarem dela.
E sai do quarto, me deixando com uma sensação horrível de traição.
 
 
Estaciono minha picape na frente do dormitório de Hanna e vejo que
Holly está parada ao seu lado, e elas vêm em minha direção.
— Será que essa é a surpresa que Hanna tem pra mim? — falo
sozinho, sussurrando.
Hanna dá a volta na frente do carro e entra para sentar ao meu lado,
já sua amiga, abre a porta de trás e se senta atrás de mim.
— E aí, bonitão? — Se ajeita no banco, se sentando no meio de
Hanna e eu. — Gostou da surpresa? Quando Hanna me contou para onde
iria, eu me auto-convidei. Me desculpe se estraguei a transa no carro na
volta de vocês, mas eu prometo que arrumarei outro jeito de vir.
— Holly, você prometeu não falar besteiras. — Hanna se afunda no
banco ao meu lado
Lanço para ela um olhar questionador, que é respondido com um
balançar de ombros.
— Não tem como segurar a língua dessa aí, Moranguinho. — Dou
partida no carro. — É da mesma panela que o Simon.
— O que quer dizer com isso? — Holly pergunta, virando o rosto
em minha direção.
— Que filtro é uma das coisas que você não tem quando se trata de
perturbar seus amigos. — Saio do campus e pego a estrada para o orfanato.
— Gostei da comparação. — Encosta no banco. — Somos gostosos
iguais também.
— Deixa o Aaron saber que você fica elogiando um dos melhores
amigos dele por aí. — Olho paraela pelo retrovisor e vejo sua cara risonha
mudar para confusa.
— Mas o que ele tem a ver com esse assunto?
— Não era vocês que estavam agarrados na boate? — pergunto.
— Ou agarradinhos no nosso dormitório? — Hanna entra na
provocação comigo.
— Opa! Agarradinhos em uma cama? — Prendo minha risada. —
Quer dizer que vocês são aqueles que se beijam uma vez e já estão
apaixonados? — pergunto, me referindo ao acordo deles.
— Em primeiro lugar. — Começa, levantando um dedo para
enumerar. — Não fui eu que beijei meu crush a primeira vez e já estava
enfiada no meio da floresta fazendo sexo.
Olho em direção a Hanna, que dá de ombros, pedindo desculpas e
me lança um olhar de “é minha melhor amiga, não tive como esconder”.
Balanço a cabeça para que ela não se preocupe com isso e volto
minha atenção a Holly.
— Espera aí. — Paro no sinal e olho para ela. — Quer dizer que o
Aaron é seu crush? — Olho para Hanna, que sorri quando entende onde eu
quero chegar.
— Quem falou em crush?
— Você mesma amiga. — Vira no banco também. — Você disse
exatamente assim. — Pigarreia como se fosse dizer algo bem sério e não
aguentando, começo a rir, me virando para a frente e voltando a dirigir: —
Não fui eu que beijei o crush a primeira vez e blá blá blá.
— Tudo bem, eu assumo que ele é um dos meus crushes. E vamos
combinar que também é um puta de um gostoso, quem não sentir tesão nele
e tenha vontade de ter uma noite de sexo com ele, está morto por dentro.
— Informação demais — advirto.
— Você me atiçou, agora aguenta — mostra um ponto. —
Continuando. Sentir tesão por ele não significa nada.
— Se você diz. Quem somos nós para discordar — digo, virando em
uma esquina e seguindo até nosso destino.
 
………..
Assim que chegamos no instituto, seguimos em direção ao jardim
onde a festa está acontecendo.
— E eles são adoráveis amiga. — Escuto Hanna comentando com a
melhor amiga. — A senhora Benedita é a melhor de todas. Ela adora todos
os livros que trago para ler, até me ajuda a escolher as próximas leituras.
Essas três semanas aqui com eles, foram mágicas.
— Gostei disso. Será que a dona daqui não está precisando de mais
alguém para ajudar? — pergunta interessada.
— Tenho certeza de que sim — afirmo, chamando a atenção das
duas. — Se quiser, posso falar com ela sobre você depois.
— Contanto que fale bem, bonitão. — Mexe nos cabelos com um
sorriso ladino em seus lábios e volta sua atenção para Hanna, que sorri em
minha direção e volta a olhar para a frente.
Estamos quase no jardim, quando uma ideia me passa pela cabeça.
Pego meu celular no bolso da minha calça jeans preta, abro na
câmera, tiro uma foto das costas de Holly — pegando o ombro de Hanna —
e envio para Aaron com a seguinte mensagem.
 
Eu:
Olha quem está aqui...
 
Não demora nem cinco segundos para ele visualizar, mas ele acaba
não respondendo.
Acho estranho sua atitude, mas não ligando muito — e pensando
que ele possa estar ocupado — guardo meu celular no bolso novamente e
sigo até elas que já estão paradas em frente a porta que dá para o jardim.
— Isso está incrível, Liam! — Hanna olha encantada para todos os
lados.
— Amanda e Sara capricharam mesmo — afirmo com a cabeça,
olhando tudo também.
As mesas — que ontem só estavam posicionadas — agora estão
arrumadas e enfeitadas com quadros e desenhos das crianças. Amanda e
Sara usaram eles como decoração, mas ao final de tudo, eles serão vendidos
em um leilão.
— Que lugar mais lindo! Parece um bom lugar para essas crianças e
idosos viverem. — Holly admira tudo à sua volta.
— Depois de tudo o que eles passaram, merecem um lugar calmo
para viverem — digo.
— Concordo. — Balança a cabeça em confirmação e se vira pra
mim. — Eu disse a Hanna que gostaria de ajudar com a leitura aqui, mas
queria saber se tem como ajudar financeiramente.
Suas palavras fazem com que eu goste dela um pouco mais.
— Obrigada por isso, amiga. Será de grande ajuda — Hanna
agradece.
— Com quem posso resolver isso?
— Com a Amanda ou sua esposa Sara que devem estar… — olho
em volta à procura de uma das duas e acabo encontrando Sara perto da
mesa com um lindo bolo de glacê branco. — Ah! Ela está ali. — Faço
menção de levar Holly até ela, mas Hanna me interrompe.
— Pode deixar que eu a levo lá. Parece que tem alguém querendo
falar com você. — Aponta em direção a Julliet e Samantha que me olham
acanhadas.
— Tudo bem, vejo vocês na hora da apresentação. — Me despeço
de Hanna pegando de leve em sua mão, mas o que eu queria mesmo era
matar a saudade dos seus lábios.
— Até. — Aperta minha mão como se entendesse o que quis dizer
com o aperto de mão.
— Até mais, bonitão — Holly se despede e segue com Hanna até
Sara.
Quando as duas estão a uma boa distância, me viro em direção às
duas garotinhas acanhadas e vou até elas.
— O que duas lindas princesas estão fazendo aqui que não estão se
arrumando com a Genna? — Me abaixo na frente delas para ficar na altura
de seus olhos.
— Tia Genna está arrumando as outras crianças — Julliet começa.
— E vimos as pessoas pela janela — Samantha continua.
— Viemos ver como estava. — Volto meu rosto para Jude.
— E ficamos nervosas com todas essas pessoas — Samantha
termina, me fazendo virar para ela mais uma vez, ficando um pouco tonto
de ficar olhando de uma para a outra.
— Vocês estão com medo da apresentação de hoje? — Apoio meus
braços nos joelhos e entrelaço meus dedos.
— Não! Não estamos com medo — Jude começa.
— Não temos medo, né, Jude? — Sam se vira para a amiga.
— Isso mesmo. Não temos, tio Liam.
— Então por que o nervosismo? — Tento fazer elas falarem.
— É que tem pessoas novas aqui e… — Jude começa a mexer em
sua saia cor de rosa.
— E…? — Insisto.
— Um menino mais velho do que a gente disse que talvez um de
nós encontrasse um papai ou uma mamãe hoje — Sam toma a fala.
Sinto um desconforto na garganta com suas palavras.
— Sam… — Tento falar, mas Julliet acaba me interrompendo.
— É verdade, tio Liam. Um papai ou uma mamãe nova podem estar
aqui em algum lugar? — pergunto, olhando para todos os lados.
Suspirando, me ajeito melhor para conversar com elas.
— E se eu disser que sim, o que vocês diriam?
— Que não queremos — falam juntas.
Arregalo meus olhos surpreso.
— É sério, mas por quê?
— Porque vão separar a gente e eu não quero isso. Quero ficar aqui
com a tia Amanda, Sara, Genna, e você, tio Liam. — Os olhinhos de Jude
enchem de água e fazem meu coração se apertar no peito.
— Mas não seria legal ter papais novos? — Tento animá-la.
— Não. — Balança a cabeça em negação. — Os papais machucam.
Os meus me machucavam muito quando colocavam açúcar no nariz — Jude
conta, olhando bem fundo nos meus olhos e o bolo que estava entalado em
minha garganta, aumenta mais e mais.
— Isso — Sam concorda, chamando minha atenção. — A minha
mamãe fazia barulho estranho no quarto dela com os meninos. Eu não
gostava dos barulhos, e não gostei quando um deles quis pegar aqui. —
Aponta para o próprio braço.
Julliet, assim como muitos daqui, tinha pais problemáticos demais.
Seu pai era um viciado em heroína que acabou viciando a namorada de
dezessete anos e a engravidando.
Desde muito pequena, Jude era tirada dos pais por alguns dias, mas
acabava voltando para casa. Até que um dia, uma vizinha escutou seu choro
e quando entrou na casa com a polícia, a mãe de Jude estava morta por
conta de uma overdose e o pai fugiu com medo de ir para a cadeia.
A pequenina ficou um mês em um orfanato local, mas ele estava
lotado e ela estava prestes a ir para um lar temporário com outras crianças,
quando Amanda a achou e a trouxe para cá.
Já Samantha, tinha uma mãe prostituta que não ligava nem um
pouco para a menina. Se tivesse que fazer seus programas com a menina ao
seu lado, ela não pensaria nem duas vezes.
Sara quem estava no dia em que a polícia com a assistente social
tiraram a garotinha de lá.
Desde então, nossas pequenas guerreiras não sabem mais o que é
apanhar, ficar com fome ou quase sofrer um abuso.
— Não se preocupem com isso, tá bom? Vocês não vão sair daqui se
não quiserem.
— Verdade? — Seusolhos brilham em expectativa.
Terei que conversar com Amanda sobre isso depois, mas acabo
concordando com a cabeça e elas se jogam nos meus braços, me abraçando
bem forte.
— Obrigada, tio Liam.
— De nada, meninas. — Faço um carinho na cabeça de cada uma.
— Agora vão lá, antes que a Genna venha atrás de vocês.
— Tá bom! Até mais, tio Liam! — Saem correndo.
Me levanto do chão e sinto meu corpo pesar cinquenta quilos a mais
do que o normal.
Me pego imaginando o que seria da vida dessas crianças sem
Amanda e Sara.
Estou perdido em pensamentos, quando uma voz conhecida me
chama.
— É aqui que você se esconde a maior parte do tempo?
Olho para trás e a surpresa de vê-lo aqui é enorme.
— O que está fazendo aqui?
— Isso é jeito de tratar seu melhor amigo? — Aaron caminha em
minha direção, sorrindo.
— Desculpa não te receber com fogos, mas os meus acabaram —
digo e o babaca começa a rir.
— Me contento com um: esse lugar não é o mesmo sem você.
— Cuzão. — Acabo rindo do seu jeito. — Não me disse o que está
fazendo aqui.
— Ah, pensei melhor e decidi vir para cá. — Dá de ombros.
— Sei… sua decisão não tem nada a ver com uma certa foto que te
mandei mais cedo?
— Foto, que foto? — Se faz de desentendido. — Não recebi foto
alguma.
— Tá bom. Vou fingir que acredito no que diz.
— Você quem sabe. — Dá de ombros, olhando em volta. — O que
teremos de bom para hoje?
— As crianças vão se apresentar — conto.
— Legal! — Olha em volta como se estivesse procurando algo?
— Vem cá — chamo sua atenção. — Como você chegou aqui? Eu
nunca disse onde ficava esse lugar.
— Genna. — Balança o celular na frente do meu rosto.
— Entendi — afirmo com a cabeça. — Bom, já que está aqui.
Vamos conhecer tudo. — Envolvo meu braço em seu pescoço e sigo em
direção ao palco improvisado.
— Só pedir que estou à disposição. — Anda alguns passos ainda
olhando para o lado. — Cadê minha irmã e a Holly?
— Ué, não foi você mesmo que não viu mensagem nenhuma? —
questiono e o cretino sorri de lado. — Foram à procura da administradora
do lugar, depois levo você até lá — prometo. — Agora venha, vou te
mostrar o lugar.
— Beleza — concorda e começo a apresentar a ele todo o lugar.
 
Eu costumava ouvir uma simples canção
Isso foi até você chegar
Você pegou a minha melodia partida
E agora eu ouço uma sinfonia
I Hear A Symphony - Cody Fry
 
 
 
 
— Tem certeza disso? — pergunto, olhando para a quantia que
Holly está doando para o instituto.
— Tenho. — Termina de assinar o formulário com suas
informações. — Eles precisam muito mais do que meus pais e eu. —
Entrega os papéis para a mulher da secretaria e se vira em minha direção.
— Obrigada, amiga! Você não sabe o quanto isso está fazendo a
diferença para eles. — Me aproximo e envolvo meus braços em seu
pescoço.
— Não precisa agradecer. Não fiz por isso, fiz para ajudá-los. —
Envolve os braços em volta das minhas costas em um abraço rápido.
Desde que Holly disse que iria doar alguma coisa para o lugar, eu
não imaginava que seria tanto assim.
Tudo bem que sua mãe é a CEO de uma multinacional no ramo do
marketing, que seu pai trabalha como advogado da firma e que um dia ela
irá herdar tudo — não que ela vá assumir a empresa e ficar sentada em um
escritório o dia todo — e ela não liga em ajudar aqueles que precisam dela,
mas mesmo assim.
— Agora que essa parte está resolvida. Por que não vamos até lá
fora comer alguma coisa? Vi que tinha uma mesa com bastante coisa —
sugere, já me puxando lá para fora.
— A comida daqui é maravilhosa — garanto.
— Está vindo aqui há quanto tempo? — Caminhamos pelos
corredores vazios do instituto até os fundos da propriedade.
— Três semanas e já estou completamente rendida por eles. —
Saímos no jardim e o local se encontra bem mais cheio do que antes.
— Poderia ter me avisado, sabe que gosto de ler. E seria
maravilhoso ajudar esses velhinhos. — Aponta com o queixo para um
grupo de velhinhos que estão sentados com duas cuidadoras ao lado deles.
— Você já tem muito trabalho com seu Instagram, Holly. Imaginei
que não teria tempo.
— Realmente, tempo é uma coisa que eu não tenho, mas eu
arrumaria um jeito de ajudar de alguma maneira.
— Você ajudou hoje, pode ter certeza disso — garanto.
— Mas eu não queria ajudar só financeiramente
— Você não ficou de tirar folga dos seus afazeres de bookgram aos
finais de semana? — pergunto, parando à sua frente.
— Sim, estou pensando isso há um tempo já.
— Se você quiser e conseguir conciliar tudo, talvez você possa vir
aos finais de semanas, ou pelo menos aos sábados.
— Irei me programar da melhor maneira possível.
— Certo, quando você acertar tudo, podemos falar com a Amanda.
— Enlaço meu braço no seu e seguimos em direção a mesa de comida.
Estamos a poucos passos do nosso destino, quando vejo uma pessoa
conhecida se servindo.
— Mas o que ele está fazendo aqui? — pergunto para ninguém em
específico.
— Quem? — Holly olha em volta à procura de quem estou falando.
— Ele. — Aponto com meu queixo para meu irmão ao lado de
Liam, já caminhando em direção a eles. — O que está fazendo aqui? —
pergunto, parando em frente a eles.
— Olá, Bonequinha. Isso são modos de se tratar seu irmão
preferido? — Larga seu prato em cima da mesa e vem me abraçar.
— Você é meu único irmão, Aaron. — Envolvo meus braços em
volta dele. — Mas você não me disse o que veio fazer aqui.
— Ah! Só não estava a fim de ir para outra festa universitária. —
Repousa seu braço no meu ombro. — Além disso, algo me dizia que aqui
seria muito mais interessante. — Foca seus olhos em Holly que também o
encara. — Oi, pequeno Karma.
— Olá, Gibi. Assume que veio porque estou aqui.
— O que posso fazer? — Dá de ombros. — Você é irresistível. —
Vai até ela e planta um beijo em sua bochecha.
E olhem só. Holly nem está fazendo escândalo pelo meu irmão estar
agarrado a ela.
— Isso porque ele não tinha vindo por ela — Liam sussurra em meu
ouvido, arrepiando meu corpo todo.
— Foi você quem chamou ele aqui? — Viro meu rosto em direção
ao seu, ficando bem colada a ele.
— Avisei a ele que ela estava aqui. Queria ver o que ele iria fazer,
mas nunca pensei que ele viria até aqui. — Chega seu rosto bem perto do
meu e começa a encarar meus lábios.
— Bom… agora já sabemos. — Não falo coisa com coisa quando
meus olhos se focam em seus lábios e uma vontade gritante de beijá-lo bem
aqui, cresce em mim.
Minha garganta e lábios estão secos por conta da expectativa de algo
que não irá acontecer.
Estamos mais perto do que antes, quando Aaron chama nossa
atenção ao falar com Holly.
—  Por quê? Se a minha melhor companhia está aqui? — Encara
minha amiga.
— Em quanto tempo acha que eles vão se pegar? — Liam pergunta,
encarando os dois. — Não dou duas semanas.
— Eu acredito na força de vontade e na cabeça dura da minha
amiga. Não que ela siga alguma regra que ela mesma criou para si com o
Aaron, mas acredito que ela vai resistir um pouco mais.
— Não esqueça o acordo que eles têm.
— Ah, mas isso ela já fez com outras pessoas.
— Amizade colorida? — Liam sussurra em minha direção.
— Ficadas sem compromissos. Ela nunca fica com amigos, em
hipótese nenhuma.
— Então o Aaron é diferente?
— Aham. — Confirmo, balançando a cabeça e olhando pra eles
mais uma vez, vendo a maneira que eles estão juntos. — Dou dois meses
para ela perceber.
Seria legal ter minha melhor amiga como cunhada. Eles fariam
muito bem um para o outro, mas para isso acontecer, Holly tem que superar
o passado.
Ficamos jogando conversa fora, até que Sara sobe no palco,
pegando um microfone para começar a apresentar o instituto para todos os
presentes no local.
— Vamos nos sentar. — Liam indica uma mesa com seis lugares.
Estamos nos sentando, quando Sara começa seu breve discurso.
— Boa tarde a todos os que estão aqui presentes. — Olha para
todos. — Quando minha esposa e eu decidimos montar esse lugar, não
imaginávamos que realizaríamos tantas coisas boas...
O discurso de Sara é breve, mas muito marcante.
Assim que ela termina, um grupo com cinco idosos — os que se
sentiram confiantes em lerna frente de todos — sobem no palco, abrindo e
carregando um caderno cheio de trechos de Emily Brontë, e começam a ler.
É a vez de dona Benedita ler, e já sabendo de qual trecho se trata,
levo minha mão para debaixo da mesa e seguro a de Liam, que está
repousada em cima de sua perna, e o vejo virar seu rosto em minha direção
e me lançar um magnífico sorriso.
— Nunca lhe confessei o meu amor com palavras, mas se os olhos
falam, o último dos tolos poderia verificar que eu estava totalmente
apaixonado.
Tudo o que Brontë disse nesse verso, é o que sinto por ele.
Há anos eu venho dizendo a Liam tudo o que ele significa para mim,
e como o meu coração bate por ele. Não com palavras, não... palavras
muitas das vezes podem ser vazias ou até mesmo não expressar o que
realmente sentimos. Eu me declaro usando meus olhos, não há nada mais
sincero do que um olhar cheio de ternura e amor.
— Foi você quem escolheu todos esses trechos, Bonequinha? —
Aaron pergunta, virando em minha direção e me acordando dos meus
pensamentos.
— Como sabe?
— Você lê em voz alta, esqueceu? Já escutei você lendo alguns
desses trechos várias vezes.
— Quer dizer que além de escrever seus livros falando alto, você
também lê alto? — Holly pergunta, bebendo um gole de sua Coca e sinto
meu sangue gelar com sua comparação.
— Espera. — Liam se ajeita na cadeira de uma maneira que possa
olhar em minha direção. — Você escreve livros?
— É... — fico sem saber o que dizer e olho em direção a Holly com
uma ameaça declarada.
Eu vou matar você.
Lanço a ela uma ameaça pelo olhar que é retribuída com um
assustado pedido de desculpas.
E depois dizem que não se pode falar só pelo olhar.
A maior prova disso somos Holly e eu.
— Escreve, Hanna? — Liam pergunta mais uma vez interessado.
— Sim, mas não é nada demais — desconverso.
— Se você fez, tenho certeza de que não é um simples nada demais.
Meu rosto queima por conta de suas palavras.
— Obrigada.
— Só disse a verdade. — Faz um gesto com a mão. — Mas me
conta o que você anda escrevendo?
Engulo em seco, e começo a pensar em uma maneira de contar a ele
sobre meu trabalho.
Com o nervoso que estou, até parece que trabalho como matadora
de aluguel e não escrevendo livros, mas é que não é tão simples assim.
Trabalho escrevendo livros de romance e em todos eles — os dois
publicados, mais os que mantenho engavetados — eu usei Liam como
referência física para montar os meus mocinhos.
Todos eles o lembram de alguma maneira. Sendo nas características
físicas, emoções, ser músico, ter os olhos azuis mais incríveis desse mundo.
Liam já deu vida a um mafioso que faz de tudo para salvar sua
mocinha, um músico que é mandado para uma fazenda por conta dos
problemas com drogas, um melhor amigo que virou um grande e famoso
jogador de basquete e acaba reencontrando a mocinha anos depois, e por aí
vai.
Se ele ler algum dos meus livros um dia, ele vai perceber que
sempre esteve em meus pensamentos.
E mesmo agora, conosco nos dando tão bem assim, e vivendo tudo o
que estávamos vivendo. Eu me sinto um pouco insegura em demonstrar a
profundidade dos meus sentimentos a ele.
Então, respirando fundo, eu decido contar uma meia-verdade.
— Não é nada demais — diminuo a importância do que faço. —
São só coisas que vem na minha cabeça.
— Coisas maravilhosas, diga-se de passagem — Holly comenta.
— Você já leu? — Liam pergunta.
— Mas é claro. Qual seria minha vantagem de ser a melhor amiga
se eu não lesse tudo o que ela escreve antes de todos? — Usa do duplo
sentido com ele.
Além de cuidar da mídia do meu perfil de autora, Holly também lê
tudo o que escrevo antes mesmo da revisão e do lançamento do livro.
— Já quero ser o próximo a ler o que sua brilhante mente pensa. —
Liam aponta para minha testa.
— Duvido ela deixar. Nem eu consigo ler o que ela escreve — meu
irmãozinho se pronuncia, depois de um tempo.
— Mas a mim ela irá deixar. — Liam apoia o braço no encosto da
minha cadeira.
— E por que acha isso? — meu irmão pergunta, espremendo os
olhos.
— Sou mais legal e a Hanna me ama mais.
— Nem fodendo. Diga a ele, Bonequinha, que eu sou o que você
ama mais.
— Não vou entrar nesse mérito. — Tiro o meu da reta, antes que
acabe falando demais.
— Está tentando não magoá-lo, Moranguinho? — E me puxa para
os seus braços.
— Pode tirando os dedinhos dela, seu cuzão. — Joga um canudo no
amigo, rindo. — Está querendo roubar a minha irmã.
— Eu já a roubei há tempos. Não é, Moranguinho? — pergunta.
Por que acho que essa sua pergunta tem um duplo sentido?
Antes que eu responda alguma coisa para eles, uma salva de palmas
a nossa volta nos mostra que a apresentação acabou, e Sara está subindo no
palco mais uma vez, pega um microfone e fala:
— Foi linda a apresentação de vocês, meus queridos. Obrigada a
todos por isso, mas principalmente a Hanna, pelo trabalho lindo que ajudou
a eles a realizarem. — Aponta em minha direção e sinto um suor nervoso e
as batidas do meu coração se descontrolarem.
Sem que ela peça, as pessoas começam a bater palmas, olhando em
minha direção.
— Levanta, Hanna. — Holly me empurra e meio a contragosto, eu
me levanto para que as pessoas possam me ver.
— Essa é a minha irmã! — Aaron grita e assobia com os dedos na
boca, me deixando mais sem graça ainda.
— Para com isso agora mesmo — peço, assim que me sento
novamente, mas ele não me dá ouvidos e continua a bater palmas até que
todos tenham parado.
— Agora — Sara chama a atenção mais uma vez. — Teremos uma
linda apresentação de ballet que uma de nossas voluntárias, Genevieve
preparou com nossas lindas meninas. — Mais uma salva de palmas ecoou
pelo lugar quando as meninas entram no palco.
— Elas estão lindas! — Bato palma encantada com a roupa de Bella
que Genna está usando.
— Depois que as meninas viram o filme da Bela e a Fera, elas
bateram o pé para que Genna as ensinasse a música do baile para elas
dançarem e se apresentarem hoje — Liam conta, e eu me vejo encantada,
olhando para todas as crianças com roupas lindas de mini aldeãs. — Claro
que os meninos não gostaram muito da música, mas Genna acabou os
convencendo com seu jeitinho de ser.
Os acordes da música A Bela e a Fera começam a tocar e meus
olhos já se enchem de lágrimas pela beleza e a delicadeza do número e por
ser uma das minhas histórias preferidas de toda a vida.
Nunca conheci uma bailarina de verdade, só em televisão ou
espetáculos em teatro, mas com toda a certeza nunca vi alguém dançar tão
lindamente quanto Genevieve.
Ela dançava com sua alma.
Cada passo dela nos contava uma coisa diferente. É encantador e ao
mesmo tempo emocionante.
Os últimos acordes da música tocam e as meninas estão reunidas em
volta de Genna que representa a Flor que salvará a Fera do seu terrível
destino.
Assim que sumiram, a nota é tocada, levantamos batendo palmas
para elas que estavam belíssimas lá em cima.
Sara sobe mais uma vez ao palco, mas agora ela tem um buquê de
rosas amarelas nas mãos e entrega a nossa amiga, que a agradece super
emocionada.
Genna e as meninas descem do palco deixando Sara lá em cima,
dando alguns recados sobre uma pequena pausa para que o banquete seja
servido e que depois teremos um leilão com algumas obras que as crianças
fizeram para arrecadar fundos.
Depois dos avisos, o jantar é servido e Genna vem em nossa
direção.
— Você estava incrível, amiga. — Vou até ela e a abraço.
— Obrigada. — Retribui o abraço com um lindo sorriso no rosto.
— Estava linda mesmo. — Aaron a cumprimenta.
— Nunca vi alguém dançar tão lindamente assim — Holly comenta.
— Eu nem preciso dizer nada. — Liam vai até a melhor amiga e a
abraça forte. — Linda como sempre.
— Obrigada, pessoal. Foi maravilhoso ter vocês aqui — agradece
mais uma vez. — Vão fazer alguma coisa depois que saírem daqui?
— Não pensei em nada — Holly diz.
— Eu ia para uma festa antes de vir para cá. Se vocês quiserem ir —
meu irmão sugere.
— Ah, pode ser então — Genna e Holly concordam.
— Eu vou furar, pessoal. Não estou muito a fim de festas — digo, já
negando o pedido.
— Ah, vamos! Só um pouco — Hollypede.
— Hoje não vai rolar. Quero ficar vendo filme no meu quarto —
continuo.
— Você quem sabe — Holly dá de ombros.
— E você, Liam? — meu irmão pergunta.
— Não sei ainda. Decido depois — desconversa.
— Bom, já que resolvemos para onde vamos depois daqui. Vamos
aproveitar o resto da festa — Genna pede, se sentando em uma das cadeiras
vagas e voltamos a curtir o resto de festa do instituto.
 
Querido, eu nem estou usando vestido
Estou apenas de camiseta no sofá
O jeito que você me quer, faz eu te querer agora
A única coisa que você tem que dizer é (uau)
Wow - Zara Larsson feat. Marshmello
 
 
 
 
Paramos em frente ao prédio de Hanna e ficamos nos encarando por
alguns segundos.
Desde que ela chegou nessa faculdade, eu só sei fazer isso.
Manter meus olhos presos a ela.
— O que vai fazer agora? — Hanna pergunta.
— Nesse momento, eu estava pensando em finalmente beijar você.
— Me ajeito no banco do carro, chegando meu rosto bem perto do dela. —
E você?
— Estava prestes a te convidar para subir pra assistir um filme
comigo. — Faz um carinho em meu nariz com o seu.
— Um filme? Gosto da ideia, mas só se eu puder escolher o filme e
beijar você a hora que der vontade. — Selo nossos lábios e puxo seu lábio
inferior com os dentes.
Sorrindo, ela concorda com a cabeça.
— Por mim está mais do que aceito — murmura, colando nossos
lábios mais uma vez.
— Então vamos subir, mas antes... — Seguro em sua nuca e
finalmente a beijo do jeito que queria beijá-la desde a primeira vez que eu a
vi hoje.
Desde que entendi meus sentimentos por Hanna, meu maior desejo
era conhecer o gosto e a textura dos seus lábios.
E agora, finalmente eu posso fazer isso.
Seus beijos são delicados e doces, me viciando em questão de
segundos.
Quando sua língua toca na minha, todo o meu corpo se arrepia e
meu pau pulsa dentro das calças em um desejo enlouquecido.
É isso o que essa mulher faz comigo.
Ela me enlouquece.
— O que acha de subirmos agora? — pergunta, se distanciando de
mim.
— Uma ótima ideia. — Tiro a chave da ignição e saio do carro.
Antes que eu possa correr até o lado de Hanna, ela já desce do carro
e pegando a minha mão, me puxa em direção ao prédio.
Subimos as escadas, e Hanna abre a porta de seu quarto para
entrarmos em seguida.
Assim que entramos no 18B, vejo que apesar de ser um lugar
pequeno, é bem aconchegante e arejado.
Olho em volta, e começo a estudar cada cantinho do lugar.
Há duas camas posicionadas uma ao lado da outra e separadas por
duas mesas de cabeceiras brancas posicionadas na parede de frente à porta
do quarto. Elas também têm um pequeno frigobar onde guardam algumas
garrafas de água e refrigerante. Do lado da porta, tem um pequeno armário
e seguindo a porta que deve ser do banheiro.
É um quarto pequeno, mas bem arrumado e dividido.
Se olhar atentamente, dá pra saber quem é a dona da metade do
quarto.
Enquanto o lado direito é bem arrumado com as colchas dobradas, a
cama bem esticada e a mesinha de cabeceira bem minimalista. A da
esquerda é totalmente o oposto. Há roupas e lençóis espalhados em cima da
cama, maquiagens em cima da mesinha e dois ou mais pés sem par de
sapatos na ponta da cama.
Com toda a certeza o lado de Hanna é o direito. Desde pequena, ela
é metódica com suas coisas, acho que ela não teria mudado nesses dois anos
que não nos vimos.
— Pode se sentar. Vou só trocar de roupa e já venho colocar o filme.
— Aponta para a cama da direita e faço uma boba comemoração por ter
acertado o seu lado.
— Perfeito. Eu escolho o filme. — Tiro meus tênis e meias e me
deito em sua cama, já pegando seu notebook que estava em cima da cama.
— Menos de terror.
— Ainda tem medo?
— Não tenho medo. Só tenho ranço dessas pessoas idiotas que
sabem que não podem entrar em um lugar mal-assombrado, mas acabam
entrando e morrendo no final.
— Mas qual seria a graça de achar um lugar mal-assombrado e não
poder entrar?
— Hã… continuar vivo e com todos os seus membros?
— Você tem um ponto inteligente.
— Eu sou muito inteligente. — Vai em direção ao banheiro.
— Tem mais algum filme que você é contra? — pergunto, abrindo o
computador e o ligando.
— Não, eu gosto de todos os gêneros — responde, já dentro do
banheiro.
O computador acende em meu colo e a tela com o pedido de senha
aparece.
— Moranguinho, está pedindo a senha — conto a ela e o quarto cai
em silêncio. — Pequena, me escutou? — pergunto mais uma vez, mas ela
não me responde.
Estou quase me levantando para ver se aconteceu alguma coisa
quando ela sussurra:
— Moranguinho041102
Entendendo o porquê do seu silêncio repentino, digito a senha e a
tela inicial aparece depois de segundos.
041102
Dia 4 de Novembro de 2002. Mais conhecido como o dia em que
nasci.
Como o bobo apaixonado que sou, meu coração se aquece dentro do
peito ao saber que essa é a senha do seu computador.
— Gostei da senha — falo alto o suficiente para ela escutar.
— Escolha logo um filme, Liam — pede ainda do banheiro.
É possível saber que a pessoa está com as bochechas coradas só pela
voz? Porque eu consigo visualizar certinho ela envergonhada, olhando para
o espelho à sua frente.
Ainda com um sorriso idiota no rosto, vou até o aplicativo de
streaming e começo a busca de um bom filme para assistirmos.
— Então, já escolheu alguma coisa?
— Veremos Amizade Colorida. — Viro meu rosto em sua direção e
minha boca seca com a visão à minha frente.
— Sugestivo, não? — Se aproxima e consigo ter uma melhor visão
do seu baby-doll lilás com pequenas flores.
— Essa é a ideia. — Foco meus olhos nela, estudando cada
pedacinho do corpo exposto pelo tecido leve e pequeno.
— Podemos começar então? — Senta ao meu lado.
— Agora mesmo.
Dou play no filme e em pouco segundos, Justin e Mila estão
contando como uma amizade com benefícios acabou se tornando amor.
Estamos alguns minutos assistindo a história se desenrolar, quando
Hanna decide pegar uma barra de chocolate para nós.
— Quer um pouco? — pergunta, colocando um quadradinho na
boca.
— Só se me der — abro a boca, esperando que coloque o chocolate.
Sorrindo, Hanna quebra um quadradinho do doce e o aproxima da
minha boca.
Estou prestes a pegar o quadradinho quando Hanna o passa pelo
meu nariz, vai descendo pela minha boca e queixo, rindo e me melando
todo.
— Desculpa, escorregou da minha mão. — Lambe o que sobrou do
doce em seu dedo com um sorriso travesso nos lábios.
— É mesmo, sua espertinha? Agora você vai ver. — Puxo-a pela
cintura, deito seu corpo na cama e sento em suas pernas, não colocando
todo o meu peso sobre o seu corpo.
— O que você vai fazer? — pergunta, rindo e se debatendo.
— Me vingar. — Sorrio.
Pego a barra de sua mão e prendo seus braços acima de sua cabeça
com uma de minhas mãos e com a outra pego um pedaço do chocolate que
está amolecido e repito o mesmo gesto que fez comigo, sujando seu
pequeno nariz, lábios e queixo.
— Ah, não! — protesta, rindo mais e mais e sinto uma sensação
gostosa por conta da sua risada espontânea e contagiante.
— Ah, sim! — Pego mais doce e sujo toda sua bochecha fazendo
um L em um lado e um coração do outro.
— O que você está fazendo? Está me melando toda. — Tenta mexer
a cabeça, mas eu a impeço.
— Não se mexa. Preciso marcar o dia em que venci Hanna Carson
em uma briga de chocolate. — Pego meu celular e bato uma foto do seu
lindo rosto sujo. — Ficou linda a foto. — Admiro-a.
Nela, Hanna está com os olhos fechados por conta do lindo sorriso
que está estampado no rosto. Seus cabelos – brilhantes e dourados como
ouro – estão espalhados pelo travesseiro.
Ela está magnífica.
— Deixa eu ver — pede, tentando pegar o celular na minha mão.
— Nem pensar. Essa foto será só para os meus olhos.
— Mas sou eu que estou na foto.
— Mesmo assim. — Coloco o celular na sua mesinha de cabeceira e
volto minha atenção para ela mais uma vez.
— Você está todo melado.
— Você não está diferente.
— Precisamos nos limpar. — Passa o dedo no queixo e o lambe em
seguida. — Pode sair de cima de mim pra eu lavar esse doce todo do rosto?
— E desperdiçar tudo? Nem pensar.
— O que quer...?Antes que termine sua pergunta, desço meu rosto em direção ao seu,
e lambo todo o chocolate existente em seu queixo, boca e nariz.
— Hum... morango com chocolate. — Subo meu rosto em direção a
sua orelha e dando uma mordida em seu lóbulo, sussurro: — Meu preferido.
Sinto as pernas de Hanna se mexerem embaixo de mim e seu corpo
tremer em um espasmo.
Sorrindo, desço beijando e lambendo cada pedacinho da pele macia
do seu pescoço.
— Liam — geme, se contorcendo e seu movimento reflete
diretamente no meu pau que endurece em questão de segundos.
Sem dizer uma palavra sequer. Sigo o caminho de sua clavícula até
o meio dos seios e planto um beijo neles.
— Huuum — Hanna geme e quando olho por cima dos cílios, seus
olhos estão focados nos meus.
Com nossos olhos presos um ao outro, subo minha mão por sua
barriga até chegar em seu seio, afasto a sua blusa, revelando-o, e sem
esperar muito, abocanho o mamilo com fome e vontade.
Passo minha língua em volta de sua auréola rosada, chupo todo,
deixando-o mais duro e arrebitado. Raspo meus dentes por todo ele e volto
a abocanhá-lo e mordê-lo com força.
— Ah! — geme, enfiando as mãos nos meus cabelos e os puxando
com vontade.
Olho em direção a ela, e vejo o exato momento em que ela fecha os
olhos para aproveitar mais e jogar a cabeça para trás.
Passo para o outro seio, tratando-o da mesma maneira que o outro.
— Li-liam — geme mais e se contorce embaixo de mim.
Largo seu seio e subo em direção aos seus lábios e colo aos meus.
— Isso, pequena. Geme pra mim. — Minha voz sai mais rouca do
que o comum.
Sem que eu perceba, começo a fazer movimentos de vai e vem com
meu quadril, e começo sentir o calor de sua boceta quando se contorce de
encontro ao meu pau.
Hanna envolve minha cintura com sua perna, encaixando
perfeitamente sua boceta no meu pau que pulsa e baba dentro da cueca, e
começa a movimentar o quadril, junto ao meu em uma dança erótica
deliciosa.
Meu pau pede por libertação a cada investida que nossos quadris
dão um no outro.
— Isso, querida. Assim. — Beijo o vão dos seus seios mais uma vez
e vou descendo lentamente até que chegue em seu umbigo.
Levanto sua blusa expondo a barriga lisa, e a enrolo — formando
um bolo — em cima de seu peito.
Desço minhas mãos, seguro seus quadris no lugar que quero, e
começo uma deliciosa tortura.
Com meu nariz quase encostando em sua pele, assopro bem de
levinho em cima do seu umbigo, e vejo sua pele se arrepiar por completo e
Hanna continua se contorcendo embaixo de mim.
— I-isso é tor-tortura — fala ofegante, tentando se soltar.
— Não, pequena. Isso é prolongar o prazer — respondo, descendo
meu rosto até a barra de seu pequeno short e já consigo sentir o cheiro de
sua excitação.
Sorrio em sua direção e começo a passar meu dedo indicador na
barra do seu short, brincando com seu prazer, começo a sentir os espasmos
em sua pelvis.
— Merda — pragueja, levantando o quadril em direção a minha
mão.
Massageio seu clitóris por cima da calcinha, masturbando-a e
fazendo com que ela gema e se contorça a cada investida dos meus dedos.
Ela está tão excitada e sensível, que sua calcinha fica encharcada em
questão de segundos.
— Liam... po-por favor. — Enlaça nossas pernas e começa a fazer
um carinho descoordenado em minha panturrilha.
— Por favor o que, pequena? — Enfio os polegares no short do seu
pijama junto com sua calcinha, e vou os tirando lentamente.
— Eu...
— Você o quê? — Desço mais, revelando os grandes lábios com
uma leve penugem aloirada.
Minha boca enche d’água quando sua boceta fica completamente à
mostra pra mim, e meu pau duro é esmagado pelo colchão, e pulsa só de me
imaginar dentro dela. Vou abaixando a peça cada vez mais, e aproveito para
deixar beijos, lambidas e mordidas em suas coxas lisas e torneadas.
— E-eu... — Sua voz trava na garganta quando passo meu nariz
bem perto de sua virilha.
— Se você não pedir, não tem como eu saber o que você quer,
Moranguinho — digo quando desço seu short até seu tornozelo e beijo cada
um deles.
Hanna aperta os lençóis tão forte, que acho ser possível rasgá-los
com suas unhas afiadas.
— Vamos, Moranguinho. — Passo meu nariz na fenda de sua boceta
e melando meu nariz no processo.
— Me be-beija — suplica em um sopro.
Sorrindo, desço meu rosto em direção a sua boceta, distribuo beijos
leves em seus lábios inchados e sedentos por atenção. Então sem esperar
mais, eu dou a ela o que tanto deseja.
Quando seu gosto entra em contato com minha língua, perco
totalmente o controle.
Hanna grita quando chupo seu clitóris e devoro sua boceta com
vontade. Seu gosto é maravilhoso e me deixa alucinado à procura de mais.
Então, querendo um contato maior, levo meu braço para debaixo de sua
cintura, impulsionando-a, e quando tenho um acesso melhor, eu a chupo tão
forte que os únicos sons a ecoarem pelo quarto são dos seus gemidos e da
minha língua.
Paro de chupá-la, levo dois dos meus dedos à boca e a penetro
devagar, torturando-a lentamente.
— Olha como você come os meus dedos, Moranguinho — digo,
enquanto vejo meus dedos serem sugados pela sua boceta sedenta. — Está
sentindo como você estrangula meus dedos? Mal posso esperar para sentir o
meu pau ser estrangulado assim.
— Ah, meu Deus! — Seus gemidos ficam mais altos quando levo
meu polegar ao clitóris inchado e começo uma carícia leve.
— Isso, pequena. Lambuza meus dedos — sussurro e volto a chupá-
la.
Tiro-os lentamente de dentro dela e com eles melados com sua
excitação, começo a rodear seu cuzinho latejante.
Ameaço enfiar a ponta do indicador, mas Hanna se contrai e volto a
rodeá-lo com a ponta do dedo.
— Liam! — grita meu nome quando a chupo com mais força. — E-
eu vou. — Enfia as mãos nos meus cabelos, forçando meu rosto em sua
boceta.
Meu pau lateja dolorido na cueca pedindo liberdade. Me afundo
mais no colchão e a dor do aperto é bem-vinda.
Pego as pernas de Hanna e as coloco em cima do meu pescoço,
quando a sinto tremer abaixo de mim, avisando que seu orgasmo está perto.
— Eu sei, pequena. Deixa vir — peço e volto a chupar sua boceta.
Sinto seu corpo estremecer e gritando meu nome e apertando seus
calcanhares em minhas costas, Hanna goza na minha boca.
— Liam! — grita, afundando a cabeça no travesseiro e cravando as
unhas em minhas costas.
Bebo cada gota de seu gozo como um homem sedento e só largo seu
quadril quando seus espasmos vão diminuindo até terminarem.
Subo até ela, e nunca presenciei uma imagem tão linda quanto essa.
Hanna está suada, com o rosto vermelho pelo esforço e os cabelos
bagunçados espalhados pelo travesseiro.
É uma visão e tanto.
Sem dizer nada, me aproximo dela e colando nossos lábios mais
uma vez, faço-a sentir seu próprio gosto.
Beijo seus lábios e passo a chupar sua língua, eroticamente. É um
beijo molhado, safado, gostoso demais.
Hanna geme como uma gatinha manhosa que acabou de receber
muito carinho.
Vou diminuindo o ritmo até que finalizo com um selinho em seus
lábios inchados.
Deito com metade do meu corpo na cama e outra em cima dela, e
me desfaço um pouco, fazendo um carinho de leve em seu rosto.
— Oi — sussurro, sorrindo.
— Oi. — Leva a mão ao meu rosto, fazendo um carinho.
— Como você está se sentindo?
— Melhor do que nunca — garante. — Mas não satisfeita. — Me
pegando de surpresa ela vira nossos corpos, ficando em cima de mim.
— O quê…?
— Eu tive o meu orgasmo. Agora falta você — comenta, se livrando
da minha camisa.
— Você não precisa fazer isso — digo a ela, mesmo que meu pau
esteja a ponto de explodir na calça.
— Eu sei que não. Mas eu quero. — Joga minha camisa no chão. —
Já disse o quanto amo suas tatuagens? — Passa o dedo em uma frase que
tenho tatuada na costela.
— Na verdade, não. — Entro na dela.
— Eu as acho sexy demais. — Passa a língua na que tenho em meu
peito esquerdo.
— Bom saber disso. — Me contorço quando Hanna desce suas
mãozinhas até o botão da minha calça e o abre em seguida.
Meu pau está tão duro que sua cabeça inchada e melada está para
fora da cueca.
— Parece que ele precisa de atenção agora — dizendo isso, ela
abaixaminha cueca o suficiente para que meu pau pule para fora com as
veias sobressalentes de tão inchado que ele está, e quando Hanna o toca
com seus dedos magrinhos e gelados, eu vou ao céu e vejo estrelas.
— Puta que pariu! — Enterro minha cabeça no travesseiro e me
controlo para não gozar rapidamente quando ela começa a me masturbar
lentamente.
— Está gostoso? — pergunta, fazendo movimentos de vai e vem.
— Aperta um pouco mais, você não irá me machucar. — Minha voz
sai estrangulada.
— Assim? — pergunta, firmando mais sua mão em volta do meu
pau.
— Isso — afirmo e fecho meus olhos para prolongar mais o
momento.
Quando sinto o pré-gozo sair da ponta, abro meus olhos e os foco
em Hanna que olha para o meu pau como se o quisesse em sua boca.
— Você quer chupá-lo?
Levanta seus olhos em minha direção, dizendo:
— Você terá que me ensinar.
— Só o coloque na boca e faça o que seu instinto mandar — digo.
Assentindo com a cabeça, Hanna abaixa o rosto em direção ao meu
pau, lambe a cabeça sem precisão nenhuma, e me leva a loucura.
Ela começa tímida, colocando só a cabeça inchada em sua boca e o
lambendo com vontade, mas aos poucos ela vai ganhando confiança e acaba
o enfiando na boca.
— Caralho, como isso é bom — urro, quando Hanna leva meu pau
até o seu limite.
Levo minha mão até seu cabelo, enrosco nela e empurro meu eixo
em sua boca, indo até onde ela aguenta. Lágrimas começam a encher seus
olhos e eu mordo meus lábios com força. Minhas bolas apertando pelo
prazer de entrar em sua boquinha quente. Fodo sua boca, com seus cabelos
ainda enroscados em meu punho, movo sua cabeça de encontro ao meu pau,
obrigando-a a tomar cada vez mais de mim.
— Hanna, eu vou gozar — aviso, soltando seus cabelos quando
sinto meu pau crescer em seus lábios, mas ela não se move em momento
nenhum e continua a me engolir com fome.
Tirando meu pau da boca ela fala:
— Quero sentir seu gosto. — E volta a me mamar.
Sem aguentar mais, eu gozo em sua boca.
Hanna não deixa escapar nada.
Ela engole até a última gota da minha porra, até que meu pau pare
de pulsar.
Hanna me tira de sua boca, chupando meu pau até que ele saia
limpo, e sobe em minha direção, deitando em meu peito e descansando a
mão embaixo do rosto.
— Linda. — Passo meu polegar em seu lábio inchado e vermelho.
— Você nunca esteve tão linda quanto agora, pequena.
Sem deixar que ela diga alguma coisa, seguro seu queixo e junto
seus lábios aos meus, e mesmo que eu tenha acabado de gozar, sinto meu
pau pulsar ao sentir meu próprio gosto em seus lábios.
Sugo seus lábios e meu corpo treme quando Hanna morde os meus
de leve.
Vou diminuindo o ritmo, até parar de uma vez, sugando seu lábio
inferior e mordendo depois.
Sinto Hanna estremecer em meus braços, e sorrio por conta das
sensações que causo nela.
— Vem aqui, minha pequena. — Envolvo seu ombro e ficamos
deitados até recuperarmos o fôlego.
Já mais calmos, Hanna é a primeira a dizer algo:
— Você gostou?
Viro meu rosto em sua direção.
— Foi incrível — garanto, beijando sua lábios e sentindo o gosto
salgado da minha porra em sua boca.
— Pra mim também. — Se aconchega mais em mim. — Parece que
perdemos nosso filme — conta e começamos a rir.
Olho para o chão, onde o computador de Hanna foi parar e as
letrinhas do final do filme estão subindo na tela preta.
— Eles vão nos perdoar. — Aperto-a mais em meus braços e a trago
para mais perto de mim, fazendo um carinho em sua cabeça.
Em poucos segundos, sinto a respiração de Hanna mais contida e
quando olho para ela, vejo que está dormindo.
Viro de frente para ela, envolvo sua cintura com meu braço, me
acomodo em seu pescoço, sentindo seu cheiro gostoso de morango, e fecho
os olhos relaxando cada vez mais, até que seguindo seu exemplo, eu acabo
pegando no sono.
 
O reflexo no espelho
Me diz que é hora de ir para casa
Mas eu não estou pronto
Porque você não está ao meu lado
Why Do You Only Call Me When Your High? – Arctic Monkeys
 
 
 
 
Acordo por conta do barulho de passos e risadas escandalosas lá
fora.
Passo a mão em meu rosto, tentando espantar o sono, e quando me
espreguiço, braços fortes me prendem no lugar.
Olho por cima do ombro e visualizo o rosto sereno de Liam, que
dorme um sono pesado ao meu lado.
Meu viro lentamente de frente para ele, e começo a fazer um carinho
leve com as pontas dos dedos no contorno de seus olhos, nariz e boca, e
acabo revivendo tudo o que fizemos hoje.
Ainda consigo sentir cada toque, beijo e carinho que fez em mim e
um sorriso bobo nasce em meu rosto.
Quem poderia imaginar que depois de tanto tempo guardando meu
sentimento por ele, nos encontraríamos assim, um nos braços do outro.
É tão boa essa sensação.
Parece que meu coração está recebendo pequenos afagos dele.
Olho para a janela e a lua está bem alta e brilhante no céu.
É uma linda noite, a de hoje.
Estou admirando a noite, quando Liam se mexe ao meu lado,
fazendo minha atenção voltar para ele.
Desço meus olhos para seu rosto, e o vejo me encarando com seu
rosto amassado e os olhos pesados de sono.
— Oi — digo, acariciando sua bochecha.
— Oi. — Sela nossos lábios em um selinho demorado. — Como
você está? — Enfia sua perna entre as minhas.
— Melhor do que nunca — respondo, sabendo o sentido de sua
pergunta.
Assentindo com a cabeça, ele passa seu nariz no meu, em um
carinho só dele, que eu amo, e me beija.
Sua língua busca a minha e quando elas se tocam, sinto minha
boceta pulsar.
Enfio minha mão direita em seus fios grossos e macios, e faço um
carinho contínuo da sua nuca até o meio de sua cabeça.
Gemo quando Liam suga meus lábios para si, e os solta lentamente,
deixando selinhos, até parar de me beijar de vez.
Ainda com os olhos fechados, encostamos nossas testas uma na
outra e ficamos trocando carinhos, até que ele se afasta e eu abro meus
olhos para olhá-lo.
—  Que horas são? — pergunta, tentando olhar para o relógio.
Levanto minha cabeça e me apoio em cima de Liam, pra procurar
meu celular ao nosso lado.
Pego o aparelho, e quando o desbloqueio, a luz incomoda meus
olhos e tenho que fechá-los por alguns segundos até me acostumar, e olhar
para a tela mais uma vez.
— Três e quarenta e cinco — digo, largando o celular na cômoda
mais uma vez.
— Merda! Tenho que ir. — Se vira na cama, ficando de barriga para
cima.
— Jura? — Passo meu indicador em uma tatuagem de notas
musicais em seu braço, na altura do cotovelo e sinto quando sua pele se
arrepia ao meu toque leve. — Não quer dormir aqui hoje? — Levanto
minha cabeça em sua direção.
— Queria muito, Moranguinho. Mas tenho treino daqui a três horas.
— Pega minha mão que está em cima do seu peito e beija cada um dos
meus dedos.
— Em um domingo?
— Sim. — Apoia a cabeça no braço livre. — O treinador está
comendo nosso couro esse ano. Ou a gente ganha ou a gente ganha. Não
tem meio termo com ele, nessa temporada.
— Aaron disse que ele ficou assim depois que perderam o
campeonato no ano passado — comento, sentindo-o se mexer um pouco
embaixo de mim.
— Ele ficou meio fissurado com isso. — Sua voz está um pouco
longe, como se tivesse com a cabeça em outro lugar.
— Bom, se essa for uma oportunidade de ver você de uniforme. Não
irei encrencar de você ir embora agora — mudo de assunto para ver se ele
volta de seus pensamentos.
Rindo, Liam vira o rosto em minha direção.
— Quer me ver de uniforme, é?
— Eu amo homens de uniforme. — Me viro para ele, me apoiando
no cotovelo. — Eles são sexys. — Beijo seu queixo e sinto sua barba por
fazer espetar meus lábios.
— Homens de uniforme? — Dá ênfase nos homens. — Não seria,
eu de uniforme.
— Ciúmes, Emerson?
— Com o que é meu? — Tira o braço de trás da cabeça e desce em
direção a minha cintura, apertando-a e em meu corpo sobe um espasmo em
contato com o metal gelado do seu anel. — Sempre.
Depois de suas palavras, sinto como se milhões de borboletas
estivessem fazendo uma pequena festa em minha barriga.
Com o que é meu.
O que é meu.
Meu.
Repetindo sua fala, várias e várias vezes em minha mente, subo em
seu colo, sinto seu pau despertando abaixo demim e beijo seus lábios, com
vontade. 
Desço minha mão pelo seu peito definido e tatuado, até chegar em
seu pau semiereto — que ainda está para fora da cueca — enquanto Liam
desce as mãos até minha bunda e a aperta tão forte, que seria possível ficar
marcada.
— Já está pronta pra mim mais uma vez, linda?
— Digo o mesmo de você.
Sorrindo para ele. Abaixo minha cabeça em direção ao seu pescoço
e o chupo ali, mas sem muita força para não marcar sua pele branca.
Liam geme, sinto seu corpo estremecer e seu pau pulsar bem
embaixo da minha boceta.
Sem pensar muito, começo a rebolar em cima do seu pau.
— Hanna, você vai me fazer perder a sanidade.
— Gosta quando faço assim? — Rebolo mais uma vez e sua reação
é apertar minha bunda com vontade.
— Amo — afirma.
Levanto meu rosto, para ver sua expressão, que está a coisa mais
linda desse mundo, com os lábios separados, olhos fechados e cabeça
levemente inclinada para trás.
— Parece que você não sairá daqui agora. — Vou descendo minha
mão pelo seu peito.
— Parece que sim. — Sobe sua mão quente pelas minhas costas
tensionadas.
Sorrio em sua direção e desço mais minha mão.
Estou quase chegando ao seu pau, quando a porta atrás de mim se
abre em um rompante, me fazendo cair de cima de Liam pelo susto que
tomei, não sem antes puxar o lençol comigo.
— Eu estou bêbada demais ou está passando pornô na televisão?
Me cubro rapidamente dizendo:
— Merda, Holly! — Levanto do chão, com a ajuda de Liam que
ajeitou a cueca rapidamente no lugar, e massageio o lado da bunda, que está
latejando por conta do tombo que tomei. — Por que não bateu na porta?
— Eu lá sabia que ia encontrar sua bunda nua na minha frente? —
Entra no quarto e fecha a porta. — Aliás... — Vai em direção a sua cama.
— Bela bunda, Carson. Será que a do seu irmão é bonita assim? — Se joga
no colchão de braços abertos.
— O que você está falando? — pergunto, não entendendo nada do
que quer dizer.
— Bundas, Hanna. Estou falando sobre bundas bonitas, várias delas.
— Se apoia nos cotovelos. — A sua também é bonita, Liam. Ainda mais 
em uma cueca box.
Olho para Liam, que está de costas terminando de vestir sua calça
jeans.
— Hã... valeu? — pergunta meio incerto, vestindo sua blusa. —
Moranguinho, eu vou nessa. Está ficando tarde e parece que você terá um
pequeno trabalho agora. — Aponta para minha melhor amiga, que voltou a
deitar na cama mais uma vez.
Acabo rindo do seu estado caótico.
— Tudo bem. Eu te levo até a porta — ofereço
— Não precisa — recusa. — E você ainda está assim. — Aponta
para mim.
Olho para baixo e percebo que ainda estou enrolada no lençol.
— Verdade.
— Então, eu vou nessa. — Faz um carinho em meu rosto.
— Me mande uma mensagem para dizer que chegou?
— Mando. — Beija meus lábios rapidamente.
— Meus Deus! Como vocês são melosos — Holly resmunga.
— Cala a boca, sua vadia. — Pego meu travesseiro de cima da cama
e taco nela.
— Não jogue nada que estiver na sua cama em mim, Hanna Mo.
Não sei onde o pau do Liam passou. — Desvia do travesseiro e quando ele
cai em sua cama, o pega com os dedos formando uma pinça e o joga no
chão. — Aliás, vocês usaram camisinha? Titia ama e cuida, mas só daqui a
cinco anos, Hanna. — Aponta o dedo em minha direção.
— Meu Deus, Holly, cala essa boca — peço, vendo Liam se
desmanchar de rir. — E você, não dê trela para ela.
— Des-desculpe — tenta se controlar. — Mas é impossível com ela
desse jeito.
— Vai rindo, garotão. Meu Gibi está mais bêbado do que eu —
conta. — Espero que ele vomite seu banheiro todo.
— Mas por quê? — Liam pergunta surpreso.
Holly não o responde porque começa a cantar uma música que ela
acabou de inventar.
— FUCK ME, FUCK ME AARON BLAAAAAACK — e
movimenta a mão na melodia da música.
— Ela está cantando Lilly Allen? — pergunto para Liam com
minhas sobrancelhas arqueadas.
— Eu acho que sim.
Ficamos alguns segundos parados, olhando para Holly, que repete a
música sem parar, quando Liam chama minha atenção.
— Enfim. — Liam vira em minha direção com os olhos um pouco
arregalados. — Tenho que ir, pequena. — Me dá um beijo rápido e segue
em direção a porta.
— Tchau. — Me despeço antes que ele feche a porta atrás de si.
Me viro em direção a minha amiga, corro até o banheiro, tomo o
banho mais rápido que já tomei em toda a minha vida, pego outra calcinha e
conjunto de pijama e quando estou arrumada, vou até sua cama, e a
encontro meio acordada.
— Parece que amanhã você vai se sentir uma merda — digo,
chegando perto dela pronta para cuidar da sua bunda bêbada.
 
 
 
Caminho até a entrada de casa, lembrando da noite que passei com
Hanna.
Foi incrível cada momento que passamos juntos.
Se fechar meus olhos agora, consigo sentir o cheiro de sua boceta
sedenta por mim e escutar seus gemidos implorando para que eu faça ela
gozar.
Por um tempo, me perguntei se não estava preso em um sonho. Mas
minhas costas ardidas por conta dos arranhões que fez com suas unhas, são
uma prova de que tudo o que aconteceu, foi real.
Abro a porta e estou jogando as chaves em um pote de vidro que
colocamos na entrada da casa com essa finalidade, quando braços tão fortes
quantos os meus, me abraçam pela cintura.
— Mas o quê…?
Olho para baixo e Aaron está me abraçando e me encarando com os
olhos desfocados.
— Liam, meu amigo. Você chegou. — Sua fala está enrolada.
Ótimo, mais um bêbado maluco.
— É, eu cheguei.
— Onde você estava? — Chega seu rosto perto do meu e seu bafo
de cerveja queima os pelos de meu nariz de tão forte.
— Por aí. — Seguro em sua cintura.
— Estava com alguém, é? — Sua voz sai mole.
— É, eu estava. — Começo a puxá-lo em direção a cozinha. —
Vamos, vou fazer um café bem forte pra você. — Chegamos na cozinha e o
coloco sentado em uma das cadeiras dali.
— Não quero café. Eu quero mais uma tequila — pede, encostando
a testa na mesa.
— Sem tequila pra você, amigão. — Abro o armário e pego o pó de
café para colocar na cafeteira. — O treinador vai comer sua bunda daqui
algumas horas — digo, despejando uma colher de café no filtro.
— Minha bunda? Sem chance. — Levanta a cabeça em um
rompante. — Minha bunda é só da Holly. — Se levanta e quando percebo,
ele está parado ao meu lado me abraçando pelos ombros. — Ela é incrível,
cara.
— Sua bunda? — pergunto, tentando me soltar dele.
— Não! — Se afasta como se eu tivesse queimado seus braços. —
Quer dizer. Ela é bonita também. Linda, na verdade, mas estou falando da
Holly. — Se recosta na bancada atrás de nós e escorrega até o chão.
— Meu Deus do céu — resmungo, voltando minha atenção para a
cafeteria.
— Sabe? Eu estou apaixonado — manda na lata.
— O quê? — Olho tão rápido para ele que quase desloco meu
pescoço.
— Eu estou apaixonado — repete, tentando levantar do chão. —
Holly é o amor da minha vida.
— Verdade, é? — Prendo uma risada quando ele tenta levantar do
chão mais uma vez, mas acaba caindo de bunda nele.
— Sim, eu vou casar com aquela mulher. Escreve o que estou
dizendo. Teremos dois filhos, um cachorro e uma casa com grama. —
Pontua cada uma das coisas que vai falando. — Ah, e milkshake de
chocolate, porque ela odeia café.
— E ela já sabe que você vai pedi-la em casamento? — pergunto,
ajudando-o a levantar.
— Não. — Segura meu rosto com suas mãos e me olha com os
olhos arregalados. — Vou ligar pra ela agora — diz, me largando e indo
atrás do seu celular.
— O quê? Nem fodendo. — Corro atrás dele em direção a sala e o
seguro pelo ombro. — Acho melhor não fazer isso, amigão. Amanhã você
vai se arrepender.
— Eu não vou me arrepender, porra. Ela é a mulher da minha vida.
— Cutuca meu peito com seu dedo indicador.
— Ai, seu cuzão. Essa porra dói. — Afasto sua mão do meu peito.
— Só estou te dando um conselho de amigo.
Aaron para à minha frente e espremendo os olhos, ele me encara por
alguns segundos, até que seu rosto se ilumina como se uma luz aparecesse
para ele.
— Você está gostando dela — acusa.
Meu coração dispara no peito com sua fala.
Como ele descobriu?
— Aaron… — Tento falar, mas ele me empurra.
— É isso, não é? Você gosta dela. — Aponta o dedo em minhadireção.
Sinto meu rosto gelar, o suor descer frio em minha têmpora e uma
vontade de vomitar me subir a garganta.
— Aaron, cara. Me deixe explicar.
— Não tem nada que explicar, seu talarico duas caras, traíra, me
apunhalando pelas costas! — grita.
Esse era um momento que eu não queria que chegasse tão cedo. Eu
queria prepará-lo, contar para ele com calma sobre o que sinto pela sua
irmã, mas de algum jeito ele descobriu. Mesmo bêbado como um V8.
— Aaron… — tento mais uma vez falar com ele, mas não adianta.
— Por que mais você quer me impedir de ligar para a Holly e pedi-
la em casamento, hein? — acusa.
— Eu tenh… peraí, o quê? — Lanço a ele um olhar questionador. —
De quem você está falando, porra? — me exalto.
— Da Holly, seu grande cuzão. De quem mais? — Aaron bambeia
nos próprios pés.
— Eu não gosto da Holly, porra. De onde tirou isso? — Querendo
ou não, um alívio se apossa do meu corpo.
— Não quer deixar eu ligar pra ela. — Sua voz sai embargada.
— Peraí, você está chorando? — pergunto surpreso.
— Eu só quero a Holly, cara. E você não deixa. — Funga e limpa o
nariz na manga da camisa.
Meu Deus, que humilhante.
— Tá bom, eu vou deixar você ligar pra ela, mas antes tem que
tomar um café bem forte e um banho. Não vai pedi-la em casamento desse
jeito, não é?
— É. Ela merece o melhor. Vou me recompor. — Limpa as lágrimas
do rosto e endireita a postura ao se levantar.
Quer dizer… ele tenta, né?
— Então, vamos lá, cara. — Seguro Aaron pela cintura e o levo de
volta à cozinha.
Quando chegamos lá, Bennett está encostado na bancada, vestindo
só uma calça de moletom preta e tomando uma xícara de café.
— Acordei com a barulheira. — Leva a xícara à boca mais uma vez.
— Temos um bêbado romântico na casa — aponto com o queixo
para Aaron.
— O técnico vai comer o rabo dele.
— Eu disse isso para ele, mas, no momento, ele não está ligando
muito. — Sento Aaron na cadeira da mesa de jantar mais uma vez e vou até
a cafeteira pegar uma xícara para ele.
— Dê as aspirinas. Esse cuzão vai acordar com uma dor de cabeça
horrível. — Aponta para o armário em que guardamos os remédios de casa.
Com a xícara de Aaron na mão, vou até o armário do lado esquerdo,
e pego duas aspirinas para ele.
— Aqui — digo, empurrando o café e o remédio em sua direção. —
Toma isso pra espantar essa bebedeira.
— Aí eu vou poder ligar para a Holly? — pergunta com os olhos
mais nublados do que antes.
— Vai, vai poder — suspiro, vendo-o levar o remédio à boca e
matar o café em uma golada só.
— Por que ele quer ligar pra melhor amiga da Hanna? — Bennett
pergunta, colocando sua caneca na pia.
— Nem pergunte. — Abano as mãos. — Onde está Simon?
— Dormindo — responde, já saindo da cozinha. — E é o que
tentarei fazer também.
— Até daqui a pouco — me despeço, voltando meus olhos para
Aaron que apagou em cima da mesa da cozinha. — Que ótimo. Agora terei
que levar seu rabo bêbado lá pra cima — reclamo, levantando-o, passando
um braço por sua cintura e saindo da cozinha com ele em direção as
escadas.
Espero que amanhã ele acorde com uma ressaca daquelas, por me
dar todo esse trabalho.
 
Eu te conheço há 20 segundos ou 20 anos?
Posso ir aonde você vai?
Podemos ser próximos assim para todo o sempre?
E ah, me leve pra sair, e me leve para casa
Você é meu amor
Lover - Taylor Swift
 
 
 
 
Patino em direção ao outro lado do rinque, levando o disco comigo.
O clima gelado faz meu nariz arder quando curvo meu corpo mais para a
frente, aumentando minha velocidade.
Já perdi a sensibilidade do rosto há tempos desde que entrei para
treinar.
Estou na metade do rinque, quando um dos caras que está jogando
no meu grupo de hoje, grita por mim.
— Estou livre, Emerson — Jesse grita por mim e quando olho para
ele, vejo que tem uma abertura para fazer um gol.
Me preparo para lançar o disco para ele, quando vejo Oliver avançar
à minha frente com velocidade.
Sem pensar muito, corro com o disco para o outro lado e lanço para
Simon que apareceu na minha frente, retém o disco com seu taco e patina
rapidamente até o gol, acompanhado de Bennett que vai impedindo
qualquer um que venha pelo lado do amigo. Simon patina rápido, mas
quando percebe que vai ser interceptado por Thomas, lança o disco para
Jesse, que o seguiu há todo momento, e marca nosso segundo ponto no
treino de hoje.
— É isso aí! — os caras do nosso grupo gritam em comemoração
por mais um gol marcado na partida de hoje.
— É isso aí, rapazes! — O treinador bate palmas, animado com os
feitos de hoje. — Emerson, Kipling, Ryan e Daniels. Saiam do campo e
entrem... — o treinador Foster vai dizendo o nome dos próximos jogadores
a entrarem no rinque, enquanto eu, Simon, Bennett e Jesse saímos.
Passamos para a área dos reservas, e Aaron está sentado lá com um
par de óculos escuros e fones nos ouvidos para abafar os barulhos à nossa
volta.
— E aí, cara. Está melhor a dor de cabeça? — Afasto um dos fones
e grito em seu ouvido.
— Cara, eu espero que você fique broxa por toda a sua vida. —
Chuta minha canela, colocando os fones e afundando mais e mais no banco.
Rindo dele, sem ligar para a dor em minha canela, passo por ele e
sento ao seu lado recuperando o fôlego pelo treino pesado.
— O que foi, Aaron? Não teve uma noite muito agradável ontem?
— Simon senta ao seu lado esquerdo e envolve seus ombros. — Me lembro
de ontem quando chegamos, você estava bem animadinho.
— Ah, mas ele estava. — Bennett para à nossa frente, se recostando
em uma parede atrás de si e cruzando os braços.
— Estava até pedindo Holly em casamento. — Prendo o riso,
tirando meu capacete e passando as mãos nos cabelos para desgrudá-los da
cabeça.
— É verdade isso? — Simon olha de Aaron para mim e Bennett. —
Teremos casório na nossa turma? Eu quero ser o padrinho — pede animado,
rindo da cara de Aaron.
— No máximo, você vai ser aquele que joga flores, seu cuzão —
Aaron rebate, socando o ombro de Simon.
— Que sejam amarelas para combinar com meu lindo tom de pele.
— Leva a mão ao rosto, fazendo carinho em suas bochechas e piscando os
olhos afetado.
Não aguento e acabo rindo da cara de puto que Aaron faz. Até
Bennett que não é muito de rir, acaba rindo deles.
— Por que vocês são meus melhores amigos mesmo? — pergunta,
massageando a testa. 
— Porque somos ótimos — Simon responde.
— Eu ainda não sei por que me juntei a vocês — Bennett responde
com um sorriso de lado.
Dou de ombros, rindo da cara de Aaron.
Ficamos pentelhando Aaron mais um pouco sobre seu pequeno
show ontem à noite. Quando o treinador aparece à nossa frente.
— Você está bem verde, Black. — Vem em nossa direção, depois de
apitar o final do jogo. — O que acha de duas voltas pelo rinque? O vento
gelado vai fazer bem pra você. — Levanta a sobrancelha em desafio para
Aaron.
— Se o senhor não se incomodar de mandar alguém limpar os meus
restos no gelo depois. — Leva a mão à boca como se impedisse o vômito de
vir.
— Ei, vira essa cara pra lá, porra. — Simon levanta em um
rompante do banco.
— Isso, Carson. É pra você nunca mais encher o seu rabo de
cachaça, sabendo que tem treino no dia seguinte.
— Irei me lembrar disso, treinador. — Meu melhor amigo leva a
mão ao estômago e seu rosto se contorce um pouco.
Mesmo não sendo eu a passar mal, eu consigo sentir a azia e a
queimação em meu estômago só de olhar para ele.
— Claro que vai. Até porque teremos um treino extra amanhã à
noite por sua causa.
— É o quê?! — Oliver grita, freando os patins assim que chega do
lado do treinador. — Treino amanhã por causa desse bêbado? — Aponta o
dedo em direção a Aaron e fecho minha cara na hora para ele.
Eu nunca fui com a cara desse desgraçado e só piorou depois
daquela gracinha que ele disse sobre Hanna.
Tudo bem que já tem um tempo que isso aconteceu, mas não me
desceu ainda.
Achei pouco as porradas que ele ganhou de Aaron e eu.
— Vai treinar porque eu estou mandando. — Olha em direção a
Oliver. — Tem algum problema com isso?
— Não, treinador.
— Que bom. Agora vai para o vestiário e para de reclamar, senão
vou botar você para limpar todos os equipamentos— sentencia e vejo
Oliver se afastar nos olhando com ódio. — Bom, Carson. — Volta sua
atenção para Aaron. — Espero que isso não aconteça mais, ou arranco sua
cabeça fora e a faço de disco. Entendeu? — ameaça-o, usando um tom mais
preocupado do que intimidador.
— Prometo que foi a primeira e última vez — garante.
Nosso treinador assente com a cabeça e vai em direção a sua sala.
— Sabe, uma coisa que estou pra te perguntar desde que levantou
com essa cara de cu é… — Simon chama nossa atenção quando estamos
indo em direção ao vestiário. — Por que ficou tão bêbado daquele jeito? —
Faz uma pergunta que eu também gostaria de saber a resposta.
— Verdade — digo, quando entramos no vestiário. — Você não é de
beber desse jeito. — Sento em um banco e começo a tirar meus patins.
— Holly e eu estávamos jogando beer pong  — conta, se sentando
ao meu lado. — Depois fomos dançar e começamos a virar algumas
tequilas que estavam distribuindo por aí, e quando percebi estava em casa
mais bêbado do que nunca.
— Então lembra das declarações que fez para ela ontem? — Bennett
pergunta, já sem a parte de cima de sua roupa. — Você me acordou com seu
showzinho, ontem.
— Não lembro. — Vira o rosto para o outro lado.
Olho bem para a cara dele, e sei que está mentindo. Ele só não quer
assumir que foi enlaçado pela Holly.
— Vamos relembrar pra ele então, gente?— Me levanto só com a
calça do uniforme.
— Ah, Holly! Eu quero me casar com você — Bennett começa.
— Eu quero ter três filhos com a Holly. — Abraço Simon, imitando
Aaron ontem.
— E não se esqueça dos cachorros — Simon relembra.
— Como você sabe disso, porra. Você não estava dormindo? —
Aaron pergunta com os olhos arregalados.
— Bennett me contou — Simon responde com um sorriso sacana no
rosto.
— Ué, não era você mesmo que não lembrava o que tinha falado?
— Bennett o questiona de braços cruzados e sorriso debochado.
— Ah, vão tomar no cu. — Aaron se estressa e começamos a rir da
cara de idiota que ele está fazendo.
— Vou jogar uma ducha. Aceitam comer algo depois daqui? Estou
morrendo de fome — pergunto quando nossa crise de risos diminui.
— É, pode ser. Também estou morto de fome — Simon aceita, já
indo em direção ao chuveiro com a toalha enrolada em sua cintura.
— Tanto faz. — Bennett dá de ombros e vai atrás de Simon.
— Você, eu nem vou perguntar — digo, olhando para Aaron que
deitou no banco com o braço direito apoiado na testa.
— Só vai tomar banho pra gente sair daqui logo. — Abana a mão,
me mandando ir rápido.
Balançando a cabeça em negação, sigo em direção aos boxes.
 
 
Chegamos em uma lanchonete que sempre vamos, e fica a poucos
minutos do campus e entramos em seguida.
— Uma mesa perto o suficiente do banheiro, por favor. — Aaron é o
primeiro a se manifestar.
— Eu acho que o que está pesando mais, é a ressaca moral. —
Simon levanta o dedo indicador, com um braço para trás, fazendo graça.
— Vamos sair logo da frente. Estamos atrapalhando as pessoas que
querem entrar — Bennett manda, já saindo em busca de uma mesa.
Olhamos em volta, à procura de uma mesa perto o suficiente do
banheiro, caso Aaron precise sair correndo, mas ao mesmo tempo ao lado
da janela.
— Tem uma mesa ali. — Simon aponta para uma mesa vaga e
seguimos até lá.
Estamos quase chegando, quando uma risada delicada e conhecida
ecoa pelo lugar.
Olho em volta, à procura dela, e a encontro sentada do lado oposto
ao que nós nos sentaremos, acompanhada por uma menina, que percebo ser
Holly e um garoto que não consigo identificar quem é.
Só de saber que ela está a poucos metros de mim, meu coração bobo
e apaixonado já dispara no peito.
Sinto minhas mãos suarem, minha garganta ficar seca e um nervoso
incômodo, mas ao mesmo tempo gostoso, tomar conta da minha barriga.
Sintomas de uma pessoa apaixonada?
Temos.
— Aquela ali é a Hanna? — Simon pergunta, apontando para a
mesa deles com o queixo me tirando dos meus pensamentos.
— Onde? — Aaron olha para onde Bennett aponta sem muito
interesse. — Aquela ali deitada no ombro de um cara é a…?
— Sim, é a Holly — respondo a pergunta, antes que ele termine.
— Quem é aquele cara, e por que ela está abraçando ele? — Franze
o cenho e cruza os braços.
— Ciúmes, Black? — Simon alfineta.
Aaron não responde nada, só fecha a cara e continua a encarar as
pessoas à nossa frente.
Olho melhor para a mesa deles, e vejo que Hanna está sorrindo em
direção a ele e segurando em sua mão.
A sensação de cócegas na barriga passa instantaneamente, e dá lugar
a um gosto amargo tomar conta da minha boca e um desconforto
desagradável em meu peito e começo a sentir uma leve dor em minha
têmpora.
O que será isso que estou sentindo?
Ciúmes. Você está com ciúmes.
Minha consciência apita como um alarme, em minha cabeça.
— Já que ninguém está com ciúmes aqui. Por que não vamos sentar
com eles? — Simon sugere.
Quem disse que não tem ninguém com ciúmes aqui?
Porque eu estou e não é pouco.
— Tanto faz. Eu só quero comer alguma coisa logo. — Bennett
como sempre, não liga para nada.
— Vamos logo. — Aaron sai na frente e eu o sigo.
Estamos a poucos passos da mesa deles, quando Hanna — que
estava de frente para nós — levanta a cabeça e dá de cara comigo, e sem
demora, um lindo sorriso se abre em seu rosto angelical.
E lá está a sensação de reconhecimento mais uma vez.
Como posso ser tão rendido por ela, assim?
— E aí, gente! Podemos sentar com vocês? — Simon pergunta, já
puxando uma cadeira e se senta do lado esquerdo de Hanna.
— Pra que pedir se você já sentou? — Bennett comenta, pegando
uma mesa vaga e juntando com a das meninas. — Vão me ajudar a pegar as
cadeiras ou o quê? — pergunta meio irritado.
Percebi que seu humor mudou desde que recebeu uma mensagem.
— Eu te ajudo — digo, seguindo até ele e pegando duas cadeiras de
uma vez só. Colocando uma ao lado de Hanna e outra ao lado de Holly.
— Valeu — Aaron agradece e volta seus olhos, ainda escondido
pelos óculos escuros, para Holly.
—  Olá, Moranguinho. — Pego em sua mão por debaixo da mesa
como um adolescente.
Minha mão, que antes estava suada, agora encontra-se gelada pelo
contato com a mão de Hanna.
Estremeço um pouco quando seus dedos gelados tocam meu pulso.
— Oi, Liam. — E mais um dos seus sorrisos aparece.
Droga, como eu queria beijar sua boca agora.
Hanna está tão linda nesse momento. Estamos em meados do outono
e ela veste uma blusa de mangas compridas na cor branca e por cima, um
vestido xadrez na cor marrom e mostarda, com alças finas e colado ao seu
belo corpo.
Ela está magnífica hoje.
Estamos nos encarando, quando Simon chama nossa atenção.
— Ela está morta? — Aponta para Holly que não se mexeu nenhum
centímetro do lado do cara à minha frente.
— E-ela está de re-ressaca — o menino à minha frente gagueja, e
suas bochechas ficam vermelhas.
— Olha só que bonitinhos. Além de recém-casados, ficam bêbados
juntos — Simon zoa.
— Recém-casados? — Hanna pergunta, virando em direção a
Simon.
— É! Não sabia? Seu irmão ia pedir sua melhor amiga em
casamento ontem — começa a gargalhar alto.
— É o quê? — Hanna leva a mão livre à boca para tampar sua
risada.
— Não é nada, Bonequinha. Eles que estão enchendo o meu saco
desde cedo. — Se recosta na cadeira.
— É que não podemos deixar aquela cena épica morrer — Simon
gargalha mais ainda.
— Você nem estava lá, seu puto. — Aaron pega uma das batatas
fritas de Hanna e taca no amigo.
— Ei! Minhas batatas, não. Compre uma para você e aí poderá fazer
o que quiser com elas. — Puxa seu prato mais para si.
— Que horror, Bonequinha. Não sabia que era egoísta comigo. —
Faz um beicinho ridículo.
— Se for para jogar minhas batatinhas nele, eu sou, sim. — Pega
uma batata e come olhando para o irmão.
— Cara, vocês querem calar a porra da boca? Minha cabeça está
estourando aqui. — Holly puxa mais o capuz de seu casaco e ajeita os
óculos escuros.
— Olha só. O senhor e a senhora Black estão combinando hoje —
comento, apontando de um para outro com o indicador.
— Ressaca, mau humor e óculos escuros — Simon conduz.
— Feitos um para o outro — finalizo.

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