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METROLOGIA E ENSAIOS Jerry Adriani Capitani Mendelski SUMÁRIO Esta é uma obra coletiva organizada por iniciativa e direção do CENTRO SU- PERIOR DE TECNOLOGIA TECBRASIL LTDA – Faculdades Ftec que, na for- ma do art. 5º, VIII, h, da Lei nº 9.610/98, a publica sob sua marca e detém os direitos de exploração comercial e todos os demais previstos em contrato. É proibida a reprodução parcial ou integral sem autorização expressa e escrita. CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFTEC Rua Gustavo Ramos Sehbe n.º 107. Caxias do Sul/ RS REITOR Claudino José Meneguzzi Júnior PRÓ-REITORA ACADÊMICA Débora Frizzo PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Altair Ruzzarin DIRETOR DE ENSINO A DISTÂNCIA (EAD) Rafael Giovanella Desenvolvido pela equipe de Criações para o Ensino a Distância (CREAD) Coordenadora e Designer Instrucional Sabrina Maciel Diagramação, Ilustração e Alteração de Imagem Igor Zattera, Julia Oliveira, Thaís Munhoz Revisora Luana dos Reis HISTÓRICO E CONCEITOS 4 A METROLOGIA E SUA EVOLUÇÃO 5 SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES – SI. 9 ERROS DE MEDIÇÕES E SUAS CAUSAS 13 CERTIFICADOS DE LABORATÓRIOS 15 SINOPSE DA UNIDADE 21 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO, EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO E PADRÕES DE REFERÊNCIAS 25 TIPOS E CARACTERÍSTICAS DOS INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO. 26 TIPOS E CARACTERÍSTICAS DOS PADRÕES DE REFERÊNCIA 28 SINOPSE DA UNIDADE 31 EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO CONVENCIONAIS E ESPECÍFICOS 34 EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO ESPECÍFICOS 37 EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO CONVENCIONAIS 41 MÁQUINAS DE MEDIÇÃO POR COORDENADAS 63 CALIBRADORES E VERIFICADORES 69 SINOPSE DA UNIDADE 72 TOLERÂNCIAS, AJUSTES E INCERTEZAS 74 TOLERÂNCIAS E AJUSTES 75 INCERTEZA DE MEDIÇÃO 83 ENSAIOS 89 ENSAIOS MECÂNICOS DOS METAIS 90 ENSAIOS DESTRUTIVOS 93 ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS 95 SINOPSE 96 3METROLOGIA E ENSAIOS APRESENTAÇÃO Prezado, aluno! Seja bem-vindo à disciplina de Metrologia e Ensaios. O presente estudo busca enriquecer o estudo acerca das atividades e práticas docentes rela- tivas à disciplina de Metrologia e Ensaios na modalidade de educação a distância do UNITEC. Deste modo, preocupei-me em propor atividades autoinstrutivas, para auxiliar a aplicação da ação didática do professor, associando atividades práticas aliadas ao caráter teórico e reflexivo. Cada unidade foi desenvolvida pensando em retomar conceitos fundamentais da Metrologia e Ensaios, sendo enfatizado desde as definições do Sistema Internacional de Unidades, passando pelos tipos e as respectivas características dos instrumentos de medições e seus padrões de referência, to- lerâncias, ajustes, incertezas de medição e os possíveis erros de medições identificados com suas res- pectivas causas, além de abordar questões referentes aos laboratórios e suas certificações, bem como as características das máquinas de medições por coordenadas e os ensaios mecânicos dos metais. Os assuntos trabalhados estão divididos em capítulos, os quais, inicialmente, tratamos de uma apresentação e contextualização histórica da metrologia, sendo, após, apresentada uma abordagem, procurando estabelecer as características específicas dos instrumentos e os equipamentos utilizados na medição assim como os respectivos padrões de referência. Sequencialmente, trataremos de ana- lisar as características das especificações em metrologia, onde consideraremos as tolerâncias e ajus- tes, assim como as incertezas de medições e as características e especificações de ensaios mecânicos de metais. O último capítulo abrange a apresentação dos conceitos e especificações de certificações de laboratórios assim como uma avaliação e apresentação de máquinas de medição por coordenadas. Basicamente, o material foi elaborado com o intuito de poder auxiliar o corre- to entendimento e, assim, o consequente conhecimento das questões atreladas ao mundo metrológico, proporcionando o desenvolvimento das habilidades necessárias aos muitos profissionais que atuam ou convivem com questões relacionadas desde as simples atividades de realizações de avaliações dimensionais, bem como o profundo entendimento, desde a etapa de planejamento até a etapa de execução de processos de conformação, usinagem e consequente montagem, assim como profissionais que atu- am na gestão e controle de setores metrológicos. Neste sentido, a escolha e estruturação dos assuntos abordados foi realizada visando conciliar uma abordagem inicial, a qual busca resgatar um pouco do con- texto histórico dos conceitos de metrologia e sistemas de unidades, considerando para isso as questões que envolveram a própria evolução conceitual dos pesos e me- didas bem como suas utilizações. Adicionalmente a isso, foram abordados aspectos atuais, os quais definem as formas práticas, os respectivos meios, bem como as ca- racterísticas e funções de famílias de meios de medição encontrados e, usualmente, utilizados nas organizações. Desta forma, a disciplina de Metrologia e ensaios busca proporcionar ao es- tudante o conhecimento de um cenário real que possibilite ao mesmo desenvolver um correto entendimento das questões metrológicas, desde suas origens até as ca- racterísticas de tipos, meios e formas de medições, assim como as suas respectivas especificações e normatizações. 4 HISTÓRICO E CONCEITOS Quando nasceu, como nasceu e quais as especificações e definições estabelecidas para a metrologia, assim como os possíveis erros de medições e a certificação de laboratórios. 5METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO A METROLOGIA E SUA EVOLUÇÃO A palavra metrologia baseia-se na junção de duas palavras gregas “Me- tron – Medida” e “Logos – Ciência”, as quais representam a ciência da medi- ção e suas respectivas aplicações, considerando-se para isso todos os aspec- tos, tanto teóricos como práticos. Assim, conforme referenciado pelo IPQ (2012), a metrologia pode ser exemplificada como a ciência associada à medição e as suas respectivas aplica- ções, englobando, desta forma, todos os aspectos teóricos e práticos atrelados ao processo de medição, independente da incerteza de medição aplicada, bem como independentemente do campo de aplicação, onde poderá ser associada a qualquer grandeza determinável. Neste mesmo sentido, Neto (2012) acrescenta que a metrologia abrange todos os aspectos que asseguram a precisão exigida pelos processos produ- tivos instalados, permitindo o atendimento à garantia da qualidade esperada dos produtos e serviços baseados na calibração dos instrumentos de medição, podendo ser analógicos ou eletrônicos e na consequente realização de ensaios. Podemos evidenciar que a metrologia possa ser dividia em três catego- rias específicas de atividades e responsabilidades, as quais são especificadas por Guedes (2014) como : • a Metrologia Científica (aplicada): tem como objetivo principal a organização e o desenvolvimen- to de padrões de medição ou padrões primários e a sua manutenção ao mais elevado nível de qua- lidade, incerteza e exatidão; • a Metrologia Industrial: refere-se às atividades de controle de processos e produtos, mediante a integração em cadeias de rastreabilidade (hierarquizadas) de padrões existentes nas empresas, em laboratórios de calibração e outros organismos nacionais e internacionais de metrologia; • a Metrologia Legal: tem como objetivo garantir que o resultado de medição está dentro de valores especificados, tendo por base uma perspectiva de mercado para proteção dos consumidores. Está também relacionada com o controle metrológico dos instrumentos de medição usados para regula- mentação, quando estes têm influência em domínios, tais como a saúde, segurança, defesa do con- sumidor, proteção do ambiente, legislação, transações comerciais, entre outros. João Jornada, Presidente do Inmetro no período de 2012, definiu no prefácio do livro “O movimen- to da qualidade no Brasil”, de Fernandes (2012), que a normalização e a metrologia atuam como base da qualidade, sendo assim, não há qualidade se não houver especificaçãodos insumos, das metodologias de produção e de medição dos atributos-chave, assim como do produto final. Neste sentido, o autor traça uma correção positiva na origem e existência da metrologia com a origem e existência do conceito de qualidade. Para podermos falar respectivamente sobre qualidade ou definirmos os conceitos sobre quali- dade, não são questões novas e nem podem ser considerados pensamentos inovadores. Desde o início da humanidade, a palavra qualidade e seus respectivos conceitos vem sendo praticados por nós, seja 6METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO de uma forma direta e explícita ou, em alguns casos, de forma implícita. Vejamos al- guns exemplos históricos de ações ou práticas que poderemos associar aos conceitos de qualidade que conhecemos nos dias de hoje: • Em 2150 a. C. existia o código de Hamurabi, que trazia em seu conteúdo uma clara preocupação com a durabilidade e capacidade funcional das habitações da época, para tanto, o código especificava que, se um construtor negociasse um imóvel que não fosse sólido o suficiente para atender a sua finalidade e o mesmo viesse a de- sabar, neste caso, o construtor seria imolado (sacrificado). • Com o intuito de controlar as terras rurais incorporadas ao seu império, os romanos foram responsáveis pelo desenvolvimento de técnicas de pesquisa para o mapea- mento e a divisão territorial, dessa forma, foram desenvolvidas ferramentas especí- ficas de medição territorial, assim como métodos específicos e padrões de qualidade. • Com relação às especificações de produtos, os fenícios tinham como ação, a práti- ca de amputar a mão do fabricante de determinados produtos que estivessem fora das especificações estabelecidas pelo governo. • Ainda com relação à preocupação quanto à qualificação e seleção de fornecedo- res, a França, durante o reinado de Luiz XIV, estabelecia e detalhava critérios para escolha de fornecedores e instruções para supervisão do processo de fa- bricação de embarcações. 7METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Neste contexto, podemos perceber que, basicamente, todos os chamados Mestres da Qualidade derivam para menções que tratam de previsibilidade e possíveis variações, menções estas que ne- cessitam de meios, métodos e formas de mensuração. Definitivamente, não é possível que nós possamos conseguir dissociar a relação histórica existente entre a metrologia e os conceitos de qualidade, ao longo dos anos, a padronização dos pesos e medidas tornou-se uma meta que representava o consequente progresso social e econô- mico. Para Neto (2012), a metrologia também engloba o conhecimento dos pesos e medidas dos sistemas de unidades de todos os povos, sejam antigos ou modernos. Com a evolução das primeiras sociedades, o método simples de contagem, até então exis- tente, também necessitou passar por uma evolução, onde foi necessário agregar um elemento adicional aos números para que assim fosse possível descrever de uma forma mais clara, com certas quantidades, conforme salientado por Abertazzi (2018). Dessa forma, podemos perceber que o número de passos representava uma distância, bem como o número de cestos podia representar a quantidade de uma produção ou o número de barris representar a quantidade de vinho, ainda, segundo o autor, a incorporação destas unidades oca- sionou uma forma de facilitação e entendimento no momento da comercialização dos produtos, que foram consideradas as primeiras formas de medições. Assim sendo, podemos basicamente verificar que o sistema inicial de pesos e medidas era baseado na morfologia humana, onde os nomes das unidades eram relacionados a partes do corpo humano, os quais destacavam-se a polegada, o palmo, o pé e o cúbito, que foi o primeiro padrão Quando conhecemos, podemos observar os chamados Mestres da Qualidade, evidenciando as respectivas definições conceituais históricas sobre o que é qualidade: • Joseph M. Juran: qualidade é ausência de deficiências, ou seja, quanto menos defeitos, melhor a qualidade. • Kaoru Ishikawa: qualidade é desenvolver, projetar, produzir e comercializar um produto de qualidade que é mais econômico, mais útil e sempre satisfató- rio para o consumidor. • W. Edwards Deming: qualidade é tudo aquilo que melhora o produto do ponto de vista do cliente. • Philip B. Crosby: qualidade é a conformidade do produto às suas especificações. • Armand V. Feigenbaum: qualidade é a combinação das características dos produtos e serviços em uso. • Walter Shewhart: qualidade era um processo completo, que não ocorreu apenas na hora de monitorar as saídas, mas sim, ao longo dos processos estabelecidos. • Genichi Taguchi: a qualidade está associada desde a etapa de desenvolvi- mento do produto, passando pela confecção do mesmo até a entrega para o cliente, sendo a qualidade dimensionada em termos das perdas geradas para a sociedade. 8METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO conhecido, sendo estabelecido pela primeira vez como unidade padrão de comprimen- to pelo Faraó Khufu (2900 A.C.) durante a construção da Grande Pirâmide. Na prática, a medida era representada pela distância entre o cotovelo e a extremidade do dedo mé- dio. Inicialmente, o cúbito foi confeccionado em granito preto e batizado como “Cúbi- to Real” (equivalente a aproximadamente 0,5 m), ficando sob a custódia do arquiteto real e réplicas de madeira distribuídas entre os artesões e construtores para servirem de referência. A utilização desse padrão como referência proporcionou que a base da Grande Pirâmide fosse fabricada com uma forma perfeitamente quadrada, sendo que o comprimento de cada lado era apresentado com um desvio máximo não superior a 0,05% do seu valor médio estabelecido em 228,6 metros. Como vimos, normalmente, a definição destas unidades básicas eram relacio- nadas às medidas do corpo do rei, sendo que tais padrões deveriam impreterivel- mente serem respeitados por todas as pessoas que fizessem algum tipo de medição nos respectivos reinos. Neste sentido, nós percebemos que o maior desafio verificado na época estava relacionado à padronização destas medidas, uma vez que as mesmas não podiam ser consideradas medidas universais. Esta clara fragilidade existente em um sistema dito como “padronizado de medidas”, colocou um grande entrave na relação de comércio internacional, barrando o consequente desenvolvimento da ciência a nível mundial, uma vez que deu origem a erros e possíveis fraudes em algumas transações comerciais. Outro fator importante e que atuou como um limitante das possibilidades de continuidade de utilização das medições relacionadas a partes da anatomia humana, foi o consequente desenvolvi- mento tecnológico que, com seu surgimento, também englobou a necessidade do desenvolvimento de unidades de medição mais estáveis e mais bem definidas. Neste mesmo sentido, hoje em dia, o conhecimento humano existente elevou-se a um nível representativo científico e tecnológico que assim demanda muitas grandezas a serem dimensio- nadas e, com isso, uma grande quantidade de unidades para possibilitar exprimi-las. Assim também, com a clara evolução do comércio e da indústria, salientou-se uma neces- sidade eminente de harmonização dos pesos e medidas entre os diversos países, onde esta di- ferença foi solucionada como estabelecimento de um padrão de medida (distância ou peso) por comparação com um padrão retirado da Natureza. 9METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES – SI. Em virtude da consequente evolução do comércio e da indústria, da queda de barreiras e a con- sequente internacionalização dos mercados, a qual imputava cada vez mais a eminente necessidade de harmonização e padronização dos pesos e medidas, bem como do surgimento de novas deman- das, atreladas a necessidade de outras grandezas, devido a fragilidade e limitações de usos dos sis- temas atuais utilizados, surgiu o Sistema Internacional de unidades, identificado pela sigla SI. Sejado infinitésimo do espaço intra-atômico ao infinito do espaço sideral, tempos, grandezas geométricas, elétricas, magnéticas, mecânicas, térmicas, óti- cas, fotométricas e radiativas são determinadas, informadas e transmitidas de for- ma pessoal, por empresas e também países com velocidades cada vez maiores, em uma linguagem universalizada e precisa, onde o Sistema Internacional de unidades faz parte, conforme citado por Rozenberg (1998). Como primeiro passo para tentar estabelecer um sistema universal de unida- des, o qual fosse totalmente independente de características anatômicas humanas, surgiu, na França, no final do século XVIII, a proposta à utilização das dimensões do planeta Terra como referência, houve a proposição da utilização de uma fração de 10-7 do comprimento do meridiano terrestre, iniciando no Equador e chegando ao Polo Norte, passando pela França, mais precisamente Paris. No intuito de quan- tificar esse valor, entre os anos de 1792 e 1798, uma expedição percorreu a distância entre Barcelona (Espanha) e Dunquerque (França), medindo a distância entre essas duas cidades, as quais estão situadas no mesmo meridiano que passa por Paris e possuindo latitudes bem conhecidas. Fruto desse trabalho, em 10 de dezembro de 1799, uma barra produzida de platina, medindo a décima milionésima parte da distância entre as duas cidades di- mensionadas, definiu o padrão de comprimento dessa nova unidade, barra que foi guardada no Arquivo Nacional da França e batizada de metro. Na mesma data, foi produzido um cilindro de platina correspondente ao padrão do quilograma. 10METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Em 1983 chegou a versão definitiva, até então utilizada, onde ficou acentuado que o metro corresponde a distância que a luz percorre em 1/299.792.458 de segun- do, identificado como a velocidade da luz em 299.792.458 m.s-1, de forma geral. Esta nova definição não gera qualquer alteração dimensional no padrão atual, apenas o es- tabelece com uma maior exatidão. Tendo a medição do comprimento como base, para as demais grandezas existentes, foram adotadas respectivas unidades. Conforme Lira (2007), o SI é identificado como um conjunto de definições, onde os Laboratórios Nacionais realizam experiências para expressar as unidades tais como são definidas. Nós podemos perceber que nos dias atuais, o SI possui uma amplitude mundial, onde, na grande maioria dos países, o uso de suas especificações é regulamentado e, em alguns casos, onde países utilizam outro sistema de medida, o SI é o sistema ofi- cial de unidade. De forma abrangente, está especificado que todo país signatário da convenção do metro possui a incumbência de adotar o SI em seu território, bem como garantir a sua efetiva utilização. O SI foi estabelecido de forma que, independente da medição realizada de qual- quer quantidade física, o seu resultado pode ser expresso como um número em al- guma unidade previamente especificada, onde, para cada quantidade física, existe uma única unidade no SI, mesmo que essa unidade possa, em alguns casos, ser ex- pressa em diferentes formas. Em Paris, no ano de 1875, realizou-se a “Conferência Diplomática do Metro”, que teve a par- ticipação de 20 países - inclusive o Brasil, a qual com a assinatura da “Convenção Internacional do Metro”, padronizava o Sistema Métrico Decimal. Além disso, também foi criado o Bureau Interna- cional de Pesos e Medidas – BIPM, cujas as missões compreendiam garantir a unificação mundial das medidas físicas, estabelecendo padrões fundamentais e escalas das principais grandezas físicas. Atividades estavam atreladas a apreciação e decisão de futuras “Conferências Gerais de Pe- sos e Medidas - Conférence Générale des Poids et Mesures – CGPM que seriam reunidas de forma periódica ao menos uma vez a cada seis anos. Mais tarde, em 1889, os padrões de metro e quilograma foram substituídos por padrões mais exatos confeccionados de platina e irídio. De lá para cá, a definição do metro acabou sofrendo algumas alterações, sendo que em 1960 na 11º CGPM, ocorreu a ratificação do metro como o comprimento igual a 1.650.763,73 comprimentos de onda, no vácuo, da radiação correspondente à transição entre os níveis 2p10 e 5d5 do átomo de criptônio 86. A mesma 11° Conferência Geral adotou efetivamente a nomenclatura “Sistema Internacio- nal de Unidades”, o SI (Système international d’unités), para o sistema prático de unidades de medidas. Isso representou o resultado efetivo do progresso no estabelecimento de um sistema sólido de unidades de medidas correspondente a aproximadamente um século de progresso no estabelecimento de um sistema consistente de unidades de medida. 11METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Basicamente, o SI está estruturado com 03 subdivisões: unidades bases, unida- des derivadas adimensionais e unidades derivadas. • Unidades bases: são unidades de medidas das grandezas de base definidas cla- ramente e de forma universal, o que acaba permitindo a sua respectiva repro- dução com total exatidão, as quais por convenção - são consideradas de forma dimensional independentes – ver Tabela 01. • Unidades derivadas adimensionais: são unidades que possuem definições estri- tamente matemáticas e que, em conjunto com as unidades bases, podem compor as unidades derivadas – ver Tabela 02. • Unidades derivadas: as grandezas derivadas são exatamente estabelecidas em função das grandezas de base, onde as respectivas unidades derivadas são gera- das através da combinação das sete unidades base, conforme as relações algé- bricas de quociente ou produto, bem como da combinação entre outras unidades derivadas ou derivadas adimensionais – Ver Tabela 03. Nós podemos verificar que as unidades estabelecidas SI podem ser escritas por seus nomes ou representadas através de símbolos específicos, por exemplo, a uni- dade de comprimento metro é representada pela letra (m) e a unidade de tempo, o segundo pela letra (s), sendo também especificado que os respectivos nomes das unidades SI são escritos sempre utilizando-se a letra minúscula, exemplo: quilogra- ma, newton, metro cúbico. Com exceção, no início da frase, e para “grau Celsius”. Grandeza Nome Símbolo Definição Comprimento Metro m 1m representa o comprimento do trajeto percorrido pela luz, no vácuo, em um intervalo de tempo igual a 1/299.792.458s (1983). Massa Quilograma kg 1kg é a massa do protótipo internacional cilíndrico quilograma, confeccionado em de liga platina-irídio (1901). Tempo Segundos s 1s é a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação da transi- ção entre 2 níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133 (1967). Intensidade de Corrente Elétrica Ampere A 1A é a intensidade de uma corrente constante que mantida em 2 condutores paraelos, retilíneos, de comprimento infinito, de sec- ção circular desprezável e à distância de 1m no vazio produz uma força de 2x10-7 N/m (1948). Temperatura Kelvin K 1K é 1/273,16 temperatura termodinâmica do ponto triplo da água (1967). Quantidade de Matéria Mol mol A mol é a quantidade de matéria de um sistema contendo tan- tas entidades elementares quanto os átomos que existem em 0.012kg de carbono 12 (1971). Intensidade Luminosa Candela cd 1cd é a intensidade luminosa numa dada direção de fonte que emite radiação monocromática de frequência 540x1012Hz e cuja intensidade nessa direção é W/sr (1979). Grandeza Nome Símbolo Definição Ângulo plano Radiano rad 1rad representa ao ângulo central que subtende um arco de cír- culo com comprimento igual ao respectivo raio. Ângulo sólido Esterradiano sr 1sr representa ao ângulo sólido que possui vértice no centro de uma esfera, subtene na superfície uma área igual ao valor do quadrado do raio da esfera. Tabela 01 – Unidades bases Fonte: Autor. Tabela 02 - Unidades derivadas adimensionais Fonte: Autor. 12METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Grandeza Nome Símbolo Frequência hertz Hz Forçanewton N Pressão pascal P Trabalho, Energia, Quantidade de calor joule J Potência, fluxo de energia watt W Carga elétrica (quantidade de eletricidade) coulomb C Gradiente de potêncial, Intensidade de campo elétrico volt por metro V/m Resistência elétrica ohm Ω Condutância siemens S Capacitância farad F Indutância henry H Indução magnética tesla T Fluxo magnético weber Wb Temperatura Celsius grau Celsius °C Fluxo luminoso lúmen Lm Iluminamento lux Ix Atividade becquerel Bq Dose absorvida gray Gy Equivalente de dose sievert Sv Tabela 02 - Unidades derivadas – Algumas das principais Fonte: Autor. Com o crescimento e a evolução da metrologia em níveis mundiais, surgiu uma necessidade eminente de estabelecer uma harmonização e a consequente internacionalização de terminologias e definições. Neste sentido, a elaboração e implantação de um vocabulário internacional tornou- -se a melhor forma de gerar uma integração entre os mercados, fazendo com que a consequente definição de qualquer termo e unidade de medida possua o mesmo significado em qualquer país do mundo, desta forma, surgiu o chamado Vocabulário Internacional de Metrologia – VIM. 13METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Com relação aos tipos de erros de medição existentes, nós podemos citar: • Erro sistemático: erro ou tendência de um instrumento de medição a qual é identificado em mui- tos processos de medição, é a parcela previsível do erro. Devido a isso, o erro sistemático deve, necessariamente, ser determinado quando da realização de qualquer processo dimensional. Para poder estimar o erro sistemático de um sistema de medição, devemos realizar medições de forma repetitiva do componente ou peça dimensionada, onde devemos considerar que, quanto maior for o número de medições repetitivas, melhor será a estimativa do erro sistemático. Após a realização das medições, a equação abaixo representará o valor do erro sistemático: Onde: Es = Erro sistemático µ = Média de um número infinito de indicações VV = Valor verdadeiro dimensionado • Erro aleatório: o erro aleatório é classificado como sendo a respectiva parcela que não pode ser prevista do erro, desta forma, ele é o agente que faz com que repetições levem a resultados dife- rentes. Desta forma, o erro aleatório pode ser obtido pela equação: ERROS DE MEDIÇÕES E SUAS CAUSAS Quando nós efetuamos a medição de qualquer componente ou peça, es- tamos sempre suscetíveis a erros atrelados ao processo de medição, de certa forma, podemos considerar que nada nem ninguém possua uma característica de perfeição, dessa forma, os resultados de medições também podem não cor- responder a uma perfeição. Neste sentido, nós podemos considerar que o erro de medição sempre es- tará presente quando a respectiva indicação do sistema de medição não relacio- nar corretamente com o valor verdadeiro do mensurando. Sendo assim, definido como erro de medição como a real diferença do valor indicado pelo sistema de medição e o valor verdadeiro do componente ou peça dimensionada. A equação abaixo representa matematicamente o erro de medição: Onde: E = Erro de medição I = Indicação do sistema de medição VV = Valor verdadeiro dimensionado E = I - VV Es = μ - VV Ea = Ii - μ 14METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Onde: Ea = Erro aleatório µ = Média de indicações Ii = i-ésima indicação • Erro grosseiro: é originado pelo uso incorreto ou mau funcionamen- to de um sistema de medição assim como uma leitura errônea do sis- tema de medição, a definição de seu valor não pode ser calculada, mas sua existência pode ser facilmente percebida. Normalmente, o erro grosseiro é oriundo da falta de atenção, bem como do pouco treino sobre o conhecimento do operador e até mesmo a falta de perícia dele. Basicamente, nós podemos considerar que as imperfeições do sis- tema de medição, as respectivas limitações atribuídas ao operador e as consequentes influências das condições ambientais são exemplos reais de fatores que induzem e provocam os erros de medição. Devido a isso, relembramos que, por melhor que seja a qualidade do sistema de medição utilizado, assim como por mais cuidadoso e habilidoso que seja o opera- dor e também por mais bem controladas que sejam as condições ambien- tais existentes, todavia ainda existirá o erro de medição atrelado, sendo o mesmo em maior ou menor grau. Para que seja realizada uma leitura correta e fidedigna, e que possa representar a real medida da peça a ser dimensionada, é necessário que nossa atenção seja total, para não ocasionar, também, o erro de paralaxe. O erro de paralaxe é comum em paquímetros, originado quando os traços de uma escala principal e outra secundária estiverem localizados em planos diferentes, implicando valores de leitura diferentes do valor real dimensionado. A fim de evitar o efeito paralaxe, a leitura do paquímetro, necessariamente, deverá ser reali- zada quando a vista estiver posicionada em direção perpendicular à escala fixa e ao nônio, não podendo com isso ser realizada a chamada leitura em ângulo. 15METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Outro fator importante a ser considerado quando nós utilizamos o paquímetro é a pressão de me- dição a qual origina-se um jogo do cursor, a força com que acionamos a parte móvel. Com este tipo de erro, a qual podemos sempre estabelecer como um erro pessoal nosso, necessariamente ocorre uma indesejada inclinação do cursor em relação à régua, o que de forma significativa altera a medida. O deslocamento do cursor sobre a régua deve ser estabelecido de forma que haja um perfeito equilíbrio entre um deslocamento nem muito preso e nem muito solto. Para isso, o operador deve regular a mola, adaptando o instrumento a sua mão e, caso exista uma folga anormal, os parafusos de regulagem da mola deverão ser ajustados, girando-os até encostar no fundo e, em seguida, retornando ⅛ “de volta”, aproximadamente. Após este ajuste, o movimento do cursor deve ser suave, porém, sem folga. CERTIFICADOS DE LABORATÓRIOS Historicamente, quando nós analisarmos a movimentação das organizações fabris quanto a busca e a consequente necessidade do desenvolvimento de seus métodos de medição e da procura insistente por novas tecnologias, as quais possam sustentar a garantia da qualidade dos seus pro- dutos, bem como possibilitar a estruturação e implantação de processos de medição mais eficazes e mais rápidos, isso tudo representava a meta almejada às organizações. A consequente implantação de laboratórios metrológicos dentro das organizações, estruturados com a aquisição de máquinas e equipamentos que pudessem garantir a efetiva utilização dos meios de medição existentes nas linhas de produção e que permitissem também os processos de aferição e calibração desses instrumentos, bem com a qualificação dos seus profissionais, foram passos e ações buscados com o intuito de for- talecer, cada vez mais, o sistema de medição das empresas, buscando uma diferenciação de mercado e uma vantagem competitiva em relação ao mercado. 16METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Com o passar dos anos, este cenário modificou um pouco, as necessi- dades de obter-se um sistema de medições robusto e que pudesse garantir a qualidade de seus produtos e serviços permaneceu forte e quase intocável. Nós podemos dizer até que, nesta relação, houve um aumento das expecta- tivas e das necessidades das organizações, porém, aos poucos, elas começa- ram a perceber que, para algumas situações, o controle e o gerenciamento interno da realização de ensaios específicos é uma atividade a qual necessita de altos investimentos financeiros e um grande tempo de dedicação. Assim como este cenário observado para ensaios específicos, as orga- nizações começaram também a reavaliar a relação custo benefício de ter im- plantada e instalada em suas plantas fabris estruturas específicas de labora- tórios de metrologia para que pudesse ser realizado de forma interna toda a aferição, calibração,conservação e controle de seus equipamentos de medi- ção e controle assim como seus instrumentos de medição. Neste sentido, as organizações encontram nos laboratórios de ensaio e laboratórios metrológicos externos, uma saída real e garantida para a ter- ceirização do serviço, onde um laboratório autônomo, independente de in- teresses de grupos isolados, que em muitas situações também tenha como característica um contato direto com o mundo acadêmico científico, se torna uma solução excelente e de menor custo para atender as demandas existen- tes, bem como as que surgirão. 17METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Diante desse novo cenário, ficaram pequenas, mas ao mesmo tempo importantes, in- dagações a serem analisadas pelas empresas e organizações as quais buscavam prestadores desses serviços terceirizados onde podemos enumerar: qual a real validade desses ensaios, qual a real validade dos resultados que se obtém quando os produtos estão sendo avaliados e testados, como e de onde podemos garantir a confiabilidade de quem está executando estes ensaios, da mesma forma, qual o real significado de um resultado de ensaio, bem como tam- bém se o respectivo resultado é confiável. Nesta nova linha de atuação, O INMETRO, órgão federal que é responsável pelos padrões primários no Brasil, começava a ponderar o direcionamento de suas funções e responsabilida- des, as quais poderiam estar voltadas simplesmente para as questões burocráticas de medidas e autorizações, sendo que, cada vez mais, o mercado responsável pela metrologia prática já demonstrava uma elevação efetiva e um crescimento real e direcionado em serviços especia- lizados de ensaios, dificultando as ações do INMETRO quanto ao respectivo controle. Diante esta realidade, o INMETRO estabeleceu como meta, focalizar o seu próprio crescimento apenas como um órgão regulamentador e controlador, deixando de atuar di- retamente como laboratório de execução de ensaios, incentivando a maior participação de novas empresas e laboratórios de medidas interessadas em assumir este mercado, sendo estabelecida a real participação das mesmas em uma rede de laboratórios de calibração e ensaios, regulamentada pelo próprio INMETRO, desta forma, as empresas que fariam parte desta respectiva rede, passam efetivamente a emitir laudos, relatórios e certificados com um selo de aprovação do INMETRO. Desta forma, os laboratórios prestadores de serviços interessados por esta fatia de mercado e que desejam uma diferenciação com relação aos seus níveis de eficiência, aptidão e respeito em relação aos serviços realizado, deveriam integrar a RBLEP (Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaios), onde o laboratório em questão assegurava uma real demonstração de sua competência técnica e de gestão, a qual poderia ser eviden- ciada com a aplicação das respectivas normas adotadas, sejam essas normas técnicas, operacionais, éticas ou de gestão. Conforme Coutinho, a evidente necessidade de estabelecimento de um padrão com amplitude internacional para acreditação de laboratórios foi discutida na primeira Conferência Internacional de Acreditação de Laboratórios (ILAC), em 1977, a qual deu origem, no ano seguinte, ao ISO/IEC Guia 25 “Requisitos Internacionais para Compe- tência de Laboratórios de Ensaio”. Ainda, conforme o autor, o início efetivo do proces- so de padronização de atividades de laboratórios de ensaio e calibração ocorreu com a publicação do Guia, atualizado em 1982 e 1990, sendo que no ano de 1990 o seu escopo foi ampliado e o Guia 25 renomeado para “Requisitos Gerais para Competência de La- boratórios de Ensaio e Calibração”. Porém, no continente europeu, muito devido a não aceitação da ISO Guia 25, per- manecia em vigor a EN 45001 no papel de norma, com o objetivo de reconhecer a com- petência dos ensaios e calibrações realizadas pelos laboratórios. De uma forma real, as normas permitiam claras e evidentes diferenças de interpretações dos seus requisitos, dificultando o consenso entre os seus usuários. 18METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Podemos verificar que a ISO/IEC 17025:2001 foi produzida como resultado de am- pla experiência na implementação do ISO Guia 25 e da EN 45001, que foram canceladas e substituídas de modo que fossem utilizados textos idênticos nos níveis internacional e regional, sendo seus principais objetivos, conforme definido por BICHO e VALLE (2002): • estabelecer um padrão internacional e único para atestar a competência dos la- boratórios para realizarem ensaios e/ou calibrações, incluindo amostragem, uma vez que tal padrão facilita o estabelecimento de acordos de reconhecimento mútuo entre os organismos de acreditação nacionais; • facilitar a interpretação e a aplicação dos requisitos, evitando ao máximo opiniões divergentes e conflitantes, pois, ao incluir muitas notas que apresentam esclare- cimentos sobre o texto, exemplos e orientações, a 17025 reduz a necessidade de documentos explicativos adicionais; • extensão do escopo em relação à ISO Guia 25, abrangendo também amostragem e desenvolvimento de novos métodos; • estabelecer uma relação mais estreita, clara e sem ambiguidade com a ISO 9001. Assim sendo, nós evidenciamos que, no Brasil, a avaliação da respectiva compe- tência de laboratórios de ensaio e calibração é feita pela Coordenação Geral de Acre- ditação do Inmetro, em um processo a qual denominamos de processo de acreditação, sendo o mesmo baseado em auditorias com o intuito de determinar a conformidade do sistema de gestão do laboratório em questão com a NBR ISO/IEC 17025. Em virtude disso, surgiu a demanda da revisão do Guia 25, a qual proporcionou a publi- cação da norma ISO/IEC 17025 “Requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração”, publicada internacionalmente no início do ano 2000 e, no Brasil, em janeiro de 2001. Esta Norma possuía dois grandes capítulos que estabeleciam o fortalecimento da integra- ção, sendo o capítulo 4, responsável pelos atendimentos dos requisitos da ISO 9001, e o capítulo 5 a base do aprimoramento significativo nos requisitos técnicos provenientes do ISO/IEC Guia 25. Basicamente, a norma NBR ISO/IEC 17025 estrutura seus itens de forma que seja possível uma classificação dos requisitos, sendo utilizada uma abordagem gerencial e outra técnica, com o ob- jetivo de possibilitar uma fácil demonstração de sua capacidade de gerenciamento do sistema de gestão, assim como de sua capacidade técnica para realizar calibrações e/ou ensaios. 19METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Desta forma, percebemos que a provável acreditação da instituição, permite ao labo- ratório que ele seja reconhecido em âmbito nacional, habilitando-o a participar da Rede Brasileira de Laboratórios, e de forma internacional através de acordos de reconhecimento mútuo entre organismos de acreditação já pré-estabelecidos. Neto (2012) especifica que a acreditação é um reconhecimento formal, concedido por um organismo autorizado, de que a entida- de foi avaliada segundo guias e normas nacionais e internacio- nais, possuindo uma competência técnica e gerencial para a realização de tarefas específicas de avaliação da conformi- dade de terceira parte, onde o órgão acreditador dá crédito ao organismo de avaliação da conformidade, que, por sua vez, reconhece a conformidade de um sistema de gestão, produto, processo, serviço ou pessoal. Uma das consequências mais importantes do uso de serviços de um laboratório que adotou o ISO/IEC Guia 25 foi a facilidade proporcionada para a negociação e o livre comér- cio entre signatários de acordos bilaterais ou multilaterais (Nafta, União Europeia, Mercosul, etc.), beneficiando organizações e usuários que operam nesses mercados, por exemplo, eliminando barreiras técnicas ao comércio, reduzindo custos e eliminando a necessidade de duplicar ensaios em produtos por importadores e exportadores, conforme identificado por Coutinho (2004). A acreditaçãoé uma ferramenta de marketing eficaz, pois ela é um passaporte para a apresentação de propostas a grandes organizações, mesmo as que exigirão laboratórios in- dependentes e fiáveis, conforme considerado por Ilac (2010). O mais importante benefício da acreditação é o de que qualquer certificado de calibração ou ensaio emitido por um laboratório que esteja acreditado por um organismo de acreditação, que seja signatário do Acordo de Reconhecimento Mútuo – MRA, seja aceito em qualquer país signatário, assim como observado por Squirrell (2001). A acreditação de uma instituição realizada pelo IN- METRO, pode ser realizada nas seguintes modalidades: • acreditação de laboratórios (calibração e ensaios); • acreditação de organismos de certificação (engloba os ti- pos: sistemas de gestão, produtos e pessoas); • acreditação de organismos de inspeção; • acreditação de organismos de verificação de desempenho. 20METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Para que possamos realizar o processo de acreditação, é necessário executarmos algu- mas etapas, podemos citar: • solicitação formal da acreditação; • análise documental; • análise no local (sistema de gestão, pessoal e instalações); • avaliação de desempenho (auditorias); • decisão da acreditação (recomendação, comissão e coordenação). Algumas vantagens estabelecidas pelo INMETRO para organizações que passaram pelo processo de acreditação, das quais podemos citar, conforme especificado por Zago (20090): • para as organizações: disponibiliza valioso recurso através de um grupo de avaliadores da conformidade, independentes e tecnicamente competentes; fornece um processo de avaliação único, transparente e reproduzível, com o qual se evita a utilização de recursos próprios, se elimina o custo da reavaliação e se reforça a coerência; reforça a confiança do público nos serviços prestados; fomenta os esquemas confiáveis de autorregulação do próprio mercado, incrementando-se a competência e a inovação; • para os usuários: possibilita a tomada de decisões acertadas, diminuindo o risco da toma- da de decisões com base em avaliações incorretas ou, o que é pior, o risco de ter seu produto rejeitado pelo comprador que não aceita avaliações não acreditadas; garante a aceitação internacional dos produtos sem a necessidade de repetições das avaliações realizadas; • para os avaliadores/auditores: em alguns setores, é um requisito imprescindível para execução das atividades; para determinadas atividades, é um requisito de fato para poder vender os serviços de avaliação (por exemplo: calibração, certificação ISO 9000, etc.); é um marco de diferencial no mercado, sendo garantia de integridade e competência, au- mentando as oportunidades comerciais dos avaliadores; proporciona ao avaliador a pos- sibilidade prestar um serviço reconhecido internacionalmente; oferece garantias de sua competência e é um meio de conscientização sobre a necessidade de melhoria contínua; • para os consumidores finais: inspira confiança no provedor ao garantir que o produto tenha sido avaliado por um organismo independente e competente; aumenta a liberda- de de escolha e fomenta um mercado livre, porém confiável. Desta forma, nós podemos concluir que, praticamente, todas as normas possuem um grau de importância muito equivalente no quesito a laboratórios metrológicos, porém, a norma que estabelece e define a gestão do laboratório é considerada uma norma primor- dial para a execução das demais. Quando da necessidade de cumprimento e implantação, a norma NBR ISO/IEC 17025 (Requisitos Gerais para Competência de Laboratórios de Ensaio e Calibração) assume a sua importância real. 21METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Uma particularidade importante da norma ISO/IEC 17025 diz respeito a questão que a mesma, de forma clara, não apresen- ta nem muito menos propõe uma discussão em relação a forma ou modo de como operacionalizado o sistema para atendimento dos seus respectivos critérios, a mesma limita-se exigir o aten- dimento dos critérios especificados, de um lado tal postura pode ser considerada como positiva, pois possibilita o estabelecimen- to de sistemas distintos dentro de uma organização onde sempre estejam de acordo com a adequação do laboratório específico. Nos dias de hoje, nós podemos evidenciar uma grande quantidade de laboratórios certificados ou acreditados segun- do os referenciais ISO 9001 e ISO 17025 e, também, laborató- rios que possuem os dois reconhecimentos ao mesmo tempo. SINOPSE DA UNIDADE Basicamente, no decorrer deste capítulo, conseguimos apesentar as questões históricas e normativas da metrolo- gia, assim como conhecemos o sistema internacional de uni- dade e as peculiaridades para a certificação de laboratórios, além de referenciar quais os erros mais comuns cometidos em processos dimensionais. 22METROLOGIA E ENSAIOS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Com relação as categorias específicas da metrologia, cite quais são e defina as suas características: 2. O que é SI? 3. Quais as subdivisões do SI? 4. Como está estruturada a NBR ISO/IEC 17025? 5. Quais as modalidades de acreditação que podem ser realiza- das pelo INMETRO? 23METROLOGIA E ENSAIOS GABARITO SUMÁRIO 1. Com relação as categorias específicas da metrologia, cite quais são e defina as suas características: A Metrologia Científica (aplicada): tem como objetivo principal a organização e o desenvolvimento de pa- drões de medição ou padrões primários e a sua manutenção ao mais elevado nível de qualidade, incerteza e exatidão. A Metrologia Industrial: refere-se às atividades de controle de processos e produtos, mediante a integra- ção em cadeias de rastreabilidade (hierarquizadas) de padrões existentes nas empresas, em laboratórios de ca- libração e outros organismos nacionais e internacionais de metrologia. A Metrologia Legal: tem como objetivo garantir que o resultado de medição está dentro de valores espe- cificados, tendo por base uma perspectiva de mercado para proteção dos consumidores. Está também relacio- nada com o controle metrológico dos instrumentos de medição usados para regulamentação, quando estes têm influência em domínios tais como a saúde, segurança, defesa do consumidor, proteção do ambiente, legislação, transações comerciais, entre outros. 2. O que é SI? O SI foi estabelecido de forma que, independente da medição realizada de qualquer quantidade física, o seu resultado pode ser expresso como um número em alguma unidade previamente especificada, onde para cada quantidade física existirá uma única que corresponde à unidade no SI, mesmo que essa unidade possa, em alguns casos, ser expressa em diferentes formas. 3. Quais as subdivisões do SI? Unidades bases: são unidades de medidas das grandezas de base e são definidas claramente e de forma universal, o que acaba permitindo a sua respectiva reprodução com total exatidão, as quais por convenção - são consideradas de forma dimensional independentes. 24METROLOGIA E ENSAIOS GABARITO SUMÁRIO Unidades derivadas adimensionais: são unidades que possuem definições estritamente matemáticas e que em conjunto com as unidades bases, podem compor as unidades derivadas. Unidades derivadas: as grandezas derivadas são exatamente grandezas estabelecidas em função das gran- dezas de base, onde as respectivas unidades derivadas são geradas através da combinação das sete unidades base, conforme as relações algébricas de quociente ou produto, bem como da combinação entre outras unida- des derivadas ou derivadas adimensionais. 4. Como está estruturada a NBR ISO/IEC 17025? Basicamente, a norma NBR ISO/IEC 17025 estrutura seus itens de forma que seja possível uma classificação dos requisitos, sendo utilizada uma abordagem gerencial e outra técnica, com o objetivo de possibilitar uma fácil demonstração de sua capacidade de gerenciamento do sistema de gestão, assim como de sua capacidade técnica para realizar calibrações e/ou ensaios. 5. Quaisas modalidades de acreditação que podem ser realizadas pelo INMETRO? A acreditação de uma instituição realizada pelo INMETRO, pode ser realizada nas seguintes modalidades: • Acreditação de laboratórios (calibração e ensaios). • Acreditação de organismos de certificação (engloba os tipos: sistemas de gestão, produtos e pessoas). • Acreditação de organismos de inspeção. • Acreditação de organismos de verificação de desempenho. 25 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO, EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO E PADRÕES DE REFERÊNCIAS Conheça quais são as características dos instrumentos e equipamentos de medição, assim como a respectiva classificação dos padrões de referência. 26METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO O contexto de um processo produtivo está relacionado diretamente às ações que buscam confeccionar ou operar um produto, conhecidas como matéria-prima, através de máquinas e equipamentos disponibiliza- dos, podendo ser automáticos ou necessitar da ação humana através de uma mão de obra específica. Todo esse conjunto tem como objetivo principal satisfazer as especificações e tolerâncias estabelecidas por um projeto já definido, garantindo a chamada qualidade de aceitação para os clientes tanto internos quanto externos. A função de verificação e avaliação de todo o conjunto citado foi efetiva. Cabe ao sistema de me- dição estar disponível e implantado em todas as operações fabris de uma organização, devido a isso, este capítulo tratará das características e apresentação dos instrumentos e equipamentos de medição existen- tes e disponíveis para processos industriais. TIPOS E CARACTERÍSTICAS DOS INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO De forma sistêmica, em nosso dia a dia, são realizadas inúmeras medições, sendo que, para a execu- ção dessas atividades é necessário a combinação de quatro fatores: operador, instrumento, condições am- bientais e método de medição. Os instrumentos de medição possuem uma grande importância para uma correta interpretação das variáveis avaliadas e a consequente obtenção da variável resposta, englobada com a análise e interpretação dos resultados gerados. Vale lembrarmos que, medição consiste em obter um valor momentâneo de uma grandeza física es- tabelecida, de forma experimental. Determinado este valor momentâneo como um múltiplo ou uma fração de uma unidade específica. Tecnicamente, toda a medição é realizada com o objetivo de monitorar, con- trolar ou investigar um processo ou fenômeno físico. 27METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Conforme vimos no capítulo anterior, desde o início da humanidade existia uma gran- de lacuna na questão de meios e formas específicas, bem como apropriadas de medição, pois até então não havia instrumentos específicos, os quais fossem próprios e adequados para a realização dessas operações. Como vimos também, de certa forma, e até mesmo se demonstrando muito criativa, o homem começou a utilizar a anatomia humana como parâmetro, definindo padrões, como exemplo, o palmo, pés, passo, cúbito, etc. Tais especificações e métodos conseguiram durante um certo tempo preencher este vazio existente, porém, com o passar dos anos, fatos preponderantes como a ampliação de mercados, a expansão de fronteira, a ampliação das necessidades e o surgimento de novas demandas de medição demonstraram que a base de padrões dimensionais associada à ana- tomia humana, já não era mais tão eficiente. Dessa forma, gradativamente, começaram a surgir instrumentos padronizados, os quais permitiam uma maior exatidão de medidas. Com relação a sua exatidão, conforme Santana (2012), todo instrumento de medição possui uma capacidade limitada de exatidão, dessa forma, apresentaram-se erros que são transmitidos à medição. De forma histórica, podemos considerar que a chamada Revolução Industrial prestou um auxílio importante para a metrologia, pois, a partir dela, os considerados meios de me- dição (instrumentos) obtiveram um significativo desenvolvimento. Quando nós analisamos o conceito de sistema de medição, podemos observar que o mesmo menciona o meio com o qual respectivas medições são realizadas, de forma que seja possível comparar o resultado obtido da medição com a unidade de medição estabelecida. Basicamente, o processo de medição é executado por um operador, manuseando um instru- mento de medição ou um sistema de medição, onde é possível obter o valor indicado pelo instrumento em conjunto com a respectiva unidade indicada. O termo “sistema de medição” tem sido empregado para descrever, de forma mais abrangente, qualquer meio de medição, incluindo também os instrumentos de medição mais simples compostos por vários módulos interligados, como as máquinas de ensaios de tração de matérias e as máquinas de medição por coordenadas, sendo estes últimos sistemas clas- sificados como sistemas de grande porte, os quais são compostos de vários módulos fisica- mente individualizados, conforme definido por ABERTAZZI (2018). Sendo assim, ainda conforme o autor, podemos utilizar a denominação “instrumento de medição” para representar sistemas dimensionais de pequeno porte, individualizados, totalmente operacionais e normalmente encapsulados, dos quais é possível enumerar os paquímetros, micrômetros, termômetros, voltímetros, etc. Neste sentido, podemos observar que existe uma grande quantidade de instrumen- tos de medição, os quais realizam operações de monitoramento de processos, operações de experimentos em geral assim como o controle de processos e operações, considerando-se inúmeros princípios de trabalho para isso. 28METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO TIPOS E CARACTERÍSTICAS DOS PADRÕES DE REFERÊNCIA Conforme já verificamos e já descrito nos capítulos anteriores, o VIM es- pecifica que o conceito de “medir” está atrelado a uma ação que visa estabelecer um valor real para uma certa grandeza determinada. Ainda conforme o VIM, a “metrologia” nada mais é do que a chamada ciência da medição, compreenden- do os aspectos teóricos e práticos pertencentes aos processos de medições para quaisquer incertezas e quaisquer campos de abrangências. De uma forma prática, como já foi visto, a metrologia pode ser dividia em três categorias básicas: • metrologia industrial: a metrologia industrial busca atender as necessida- des existentes na área fabril da utilização de equipamentos e instrumentos de medição que possam ser avaliados e / ou calibrados de forma periódica, com o intuito de estarem disponíveis e aptos para a utilização e consequente realização de medições confiáveis; • metrologia legal: a metrologia legal está associada diretamente as questões que tangem as regulamentações nacionais ou internacionais, as quais refe- rem-se às exigências legais, técnicas e administrativas, neste sentido, a me- trologia legal busca estabelecer o maior nível de exatidão para medições que possam influenciar diretamente na transparência de negociações nas áreas econômica, saúde e segurança, onde tais procedimentos buscam estabelecer a conformidade do instrumento de medição com o regulamento específico. No Brasil, a Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade - (RBMLQ-I), conforme definido pelo site do INMETRO (2019), é a responsável pela execução das verificações e inspeções relativas aos instrumentos de medição e às medidas materializadas regulamentadas, e o respectivo controle da exatidão das indicações quantitativas dos produtos dimensionados, em concordância com as legislações estabelecidas e correntes; • metrologia científica industrial: findando as divisões da metrologia, a metrologia científica in- dustrial abrange a responsabilidade da realização das unidades de base do Sistema Internacional, fundamentando o tratamento e o respectivo controle dos padrões de medição, sejam eles nacionais ou internacionais, bem como do controle e tratamento de instrumentos laboratoriais e também atuando nas questões referentes a pesquisas e metodologias científicas. Ainda conforme o INME- TRO (2019),a metrologia científica e industrial é importante e decisiva para o desenvolvimento e o consequente crescimento de inovações tecnológicas, incentivando a competitividade e propor- cionando um cenário favorável ao desenvolvimento científico e industrial em todo e qualquer país. Como vimos acima, as divisões da metrologia atuam em uma ampla gama de atividades, as quais vão desde o controle dimensional de produtos em uma linha de produção até avalições e medições necessárias em pesquisas científicas existentes. Quanto as funções e objetivos da metrologia, não são possíveis os questionamentos em relação a sua respectiva importância para a garantia da qualidade dos mais variados produtos confeccionados, para tanto, os respectivos instrumentos de medição usa- dos para o controle de qualidade devem, impreterivelmente, ser calibrados, assim como armazenados, para que possam serem mantidos em perfeitas condições de uso e operacionalidade. 29METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Com relação ao quesito de calibração, algumas empresas estabelecem que esta operação seja realizada por laboratórios de calibração externos, não sendo necessário estruturar laboratórios internos e, em outras situações, algumas empresas optam por calibrar instrumentos específicos de sua linha produtiva em laboratórios externos enquanto instrumentos de menor complexidade sejam calibrados em laboratórios internos. Em ambas situações, a respectiva cadeia de calibração deve ser considerada pelos laboratórios externos de calibração, onde, em alguns casos, a mesma cadeia atinge também os padrões primários nacionais ou interna- cionais, para que a rastreabilidade metrológica seja estabelecida. Albertazzi (2018) define que calibração é a ope- ração que estabelece, dentro de condições controláveis e específicas, em uma primeira etapa a relação existente entre os valores e as incertezas de medição fornecidos pelos padrões e as respectivas indicações correspondentes às incertezas associadas, onde, em uma segunda etapa, esta informação é utilizada para estabelecer uma relação visando a obtenção do resultado de medição a partir da indicação. Ainda, conforme o autor, os respectivos valores de referência da calibração são estabelecidos por “padrões”, onde os mesmos são considerados de meios de me- dição de qualidade superior, cujo valor de referência é estabelecido com níveis excelentes de incerteza. Com origem no vocabulário inglês, a palavra “standard” pode ser traduzida para a Língua Portuguesa como uma norma ou padrão, onde, no âmbito metrológico comumente, utilizamos o termo “measurement standard” para designar o “padrão de medição”. O primeiro aspecto que devemos considerar sobre o conceito de padrão é a sua própria relatividade onde, qualquer equipamento de medição pode ser considerado um padrão, desde que ele obedeça a algumas regras bá- sicas. O autor ressalta que o fundamental é o entendimento que os chamados padrões não são perfeitos, conforme ressaltado por FIDELIS (2006). 30METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Para o VIM (2012), padrão de medição é definido como “realização da definição de uma dada grandeza, com um valor determinado e associado a uma incerteza de me- dição, tomado como referência”. Ainda, conforme o VIM (2012), os padrões podem ser classificados como: • padrão de medição internacional: é o padrão reconhecido pelos signatários de um acordo internacional, tendo como propósito a sua utilização mundial, exemplo - o protótipo internacional do quilograma; • padrão de medição nacional: é o padrão reconhecido por uma entidade nacional para servir dentro de um estado ou de uma economia, como base para atribuir va- lores a outros padrões de medição de grandezas da mesma natureza; • padrão de medição primário: é estabelecido com auxílio de um procedimento de medição primário ou criado como um artefato, escolhido por convenção, exemplo - padrão de medição primário de pressão, baseado em medições se- paradas de força e área; • padrão de medição secundário: é o estabelecido por intermédio de uma cali- bração com referência a um padrão de medição primário de uma grandeza da mesma natureza; • padrão de medição de referência: é o padrão estabelecido para a calibração de outros padrões de grandezas da mesma natureza numa dada organização ou num dado local; • padrão de medição de trabalho: é o padrão que é utilizado rotineiramente para calibrar ou con- trolar instrumentos de medição ou sistemas de medição, onde um padrão de medição de traba- lho é geralmente calibrado em relação a um padrão de medição de referência; • padrão de medição itinerante: algumas vezes de construção especial, destinado para ser transportado entre diferentes locais, exemplo - padrão de frequência de Césio 133, portátil e funcionando a bateria; • dispositivo de transferência: é o dispositivo utilizado como intermediário para comparar pa- drões, onde, algumas vezes, os padrões podem servir como dispositivos de transferência; • padrão de medição intrínseco: é o padrão baseado numa propriedade intrínseca e reprodutí- vel de um fenômeno ou de uma substância, exemplo - padrão de medição intrínseco de tem- peratura termodinâmica constituído de uma célula de ponto triplo da água. Para entendermos melhor um padrão de medição, é utilizado, necessariamente, como uma referência para a obtenção de valores medidos e as respectivas incertezas de medições as- sociadas para outras grandezas da mesma natureza, configurando um canal de rastreabilida- de metrológica através da respectiva calibração de outros padrões existentes, instrumentos de medição ou sistemas de medição. A rastreabilidade metrológica pode ser caracterizada como a propriedade do resultado de uma medição a qual pode ser relacionada a uma referência através de uma cadeia documentada ininterrupta de calibrações, cada uma contribuindo para a incerteza de medição. 31METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO O INMETRO (2019) classifica a Estrutura Hierárquica de Rastreabilidade conforme figura: A cadeia de padrões está representada de forma que exista a real possibilidade de rastre- amento dos meios responsáveis pelas medições nas indústrias, observando-se as unidades do Sistema Internacional de Unidades (SI), conforme definições do BIPM (Bureau International des Poids et Mesures) - localizado em Sévres, França. A respectiva relação de hierarquia é estabeleci- da considerando-se os respectivos níveis de incertezas envolvidos, partindo, primeiramente, das definições fundamentais das unidades de medidas do SI, passando pelos padrões internacionais regidos pelo BIPM, posteriormente, os padrões de referência de laboratórios de calibração e en- saios e aos padrões de trabalho, chegando às medições realizadas por usuários finais. De forma prática, podemos verificar que todos os equipamentos pertencentes e listados na hierarquia da rastreabilidade devem estar relacionados, sendo esta relação em qualquer ponto da pirâmide, para que seja possível retroceder aos padrões primá- rios existentes através de intercomparações contínuas e sistemáticas, onde os valores representativos dos padrões primários são disseminados para os padrões secundários, de trabalho e assim por diante. A rastreabilidade é uma característica fundamental dos padrões e dos sistemas de medição, pois o respectivo referencial de todos os sistemas de medição deve ser calibrado conforme os padrões internacionais, garantindo uniformidade nas medi- ções efetuadas em qualquer instante ou qualquer parte do mundo, conforme defini- do por ALBERTAZZI (2018). Além disso, devemos entender que, necessariamente, a rastreabilidade é conside- rada um requisito contratual ou legal estabelecido e a sua respectiva importância para sistemas de controle de qualidade é fundamental para atividades de calibração e ensaios. SINOPSE DA UNIDADE Neste segundo capítulo, nós conseguimos exemplificar as características que es- pecificam os instrumentos de medição,sendo possível conceituar os padrões de refe- rência, apresentando a respectiva classificação utilizada, atualmente, para os mesmos. 32METROLOGIA E ENSAIOS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Qual é o conceito básico de sistema de medição? 2. Qual é a definição do VIM para padrão de medição? 3. Qual é a classificação estabelecida pelo VIM para padrões de medição? 4. O que é rastreabilidade metrológica? 33METROLOGIA E ENSAIOS GABARITO SUMÁRIO 1. Qual é o conceito básico de sistema de medição? É o meio com o qual as respectivas medições são realizadas, de forma que seja possível comparar o resul- tado obtido da medição com a unidade de medição estabelecida, de forma mais abrangente, qualquer meio de medição, incluindo também os instrumentos de medição mais simples compostos por várias módulos interli- gados, como as máquinas de ensaios de tração de matérias e as máquinas de medição por coordenadas, sendo estes últimos sistemas, classificados como sistemas de grande porte, os quais são compostos de vários módulos fisicamente individualizados. 2. Qual é a definição do VIM para padrão de medição? O padrão de medição é definido como “realização da definição de uma dada grandeza, com um valor de- terminado e associado a uma incerteza de medição, tomado como referência”. 3. Qual é a classificação estabelecida pelo VIM para padrões de medição? Padrão de medição internacional, Padrão de medição nacional, Padrão de medição primário, Padrão de me- dição secundário, Padrão de medição de referência, Padrão de medição de trabalho, Padrão de medição itinerante, Dispositivo de transferência, Padrão de medição intrínseco. 4. O que é rastreabilidade metrológica? É a propriedade do resultado de uma medição a qual pode ser relacionada a uma referência através de uma cadeia documentada ininterrupta de calibrações, cada uma contribuindo para a incerteza de medição. 34 EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO CONVENCIONAIS E ESPECÍFICOS Saiba identificar as diferenças e quais as funções principais de uso dos instrumentos de medição convencionais e específicos. 35METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO De forma geral, cada vez mais a elevada produtividade das organizações juntamente com a crescente necessidade de atendimento e também em alguns casos, a adequação a normas e critérios estabelecidos pelos cientes, faz com que as organizações procurem aumentar e também aprimorar suas operações rela- tivas ao controle dimensional de suas respectivas peças ao longo de suas linhas de produção. Desta forma, a metrologia industrial absorve a tarefa de oferecer às organizações os meios mais adequados ao controle dimensional das peças pro- duzidas, podendo possuir uma diversidade geométrica considerável, desde geo- metrias mais simples até geometrias mais complexas e elaboradas. Diariamente, nos processos fabris, termos como sistema de medição, equi- pamento de medição e instrumento de medição são comumente utilizados em linhas de produção, estes conceitos são comumente abordados e tratados quando da aplicação da metodologia de Análise dos Sistemas de Medição (MSA). Confor- me o VIM, estes termos são definidos: • sistema de medição: conjunto de um ou mais instrumentos de medição e, frequentemente, outros dispositivos, compreendendo, se necessário, re- agentes e insumos, montado e adaptado para fornecer informações des- tinadas à obtenção dos valores medidos, dentro de intervalos especifi- cados para grandezas de naturezas especificadas; nota – um sistema de medição pode consistir em apenas um instrumento de medição; • instrumento de medição: dispositivo utilizado para realizar medições, individualmente ou as- sociado a um ou mais dispositivos suplementares; nota 1- um instrumento de medição que pode ser utilizado individualmente é um sistema de medição; nota 2 - um instrumento de medição pode ser um instrumento de medição indicador ou uma medida materializada, instrumento de medição, programa de computador, padrão de medição, material de referência ou dispositivos auxiliares, ou uma combinação deles, necessários para executar o processo de medição. A correta escolha de um instrumento de medição, a ser utilizado para o propósito que nós dese- jamos, não é uma tarefa simples e nem muito menos fácil, variáveis como a exatidão das medidas en- volvidas no processo em questão assim como o tipo e o respectivo tamanho das peças a serem dimen- sionadas são fatores que devemos considerar no momento de definição de cada equipamento ou meio de inspeção a ser utilizado, onde um sistema de medição eficaz deve, necessariamente, assegurar que o equipamento de medição e os processos envolvidos sejam adequados para seu uso estabelecido. Vale ressaltar que os processos que contém medições podem ser classificados como processos específicos, os quais procuram proporcionar um suporte efetivo para as atividades fabris, auxiliando a garantia máxima da qualidade dos produtos produzidos por qualquer organização. Neste sentido, todo sistema de produção existente deve obedecer a uma real interação entre a qualidade, normali- zação e metrologia. Para obtermos um controle eficiente dos processos fabris, necessitamos realizar previamente uma análise profunda dos equipamentos de medição utilizados, procurando uma garan- tia de que os equipamentos de medição produzam resultados condizentes e confiáveis. 36METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Ao analisarmos e entendermos claramente nossas demandas, as inovações tecnológicas existentes, nos dias de hoje, nos proporcionam uma alta diversidade de sistemas de medições disponíveis no mercado, onde os mesmos podem diferenciar-se com relação a alguns itens, tais como: • os princípios operacionais; • os níveis de incerteza de medição associada; • o grau de automatização e desenvolvimento operacional, à sua robustez; • as marcas de fabricantes; • os custos de operação iniciais; • os custos operacionais. Essa clara diversidade produz, de forma ambígua, entre um conforto e um total desconforto para os ne- frologistas, se por um lado a possibilidade de otimização e a consequente configuração de necessidades es- pecíficas pode ocorrer, por outro, com a abundância de opções disponibilizadas a simples escolha da melhor opção, o consequente melhor método acaba não tornando-se uma tarefa muito simples, conforme verificado por ALBERTAZZI (2018). Dentre as opções e características existentes para os meios de inspeção, podemos evidenciar que existem duas categorias distintas de equipamentos de inspeção, os quais possuem características bem particulares, sendo eles: • equipamentos de medição específicos; • equipamentos de medição convencionais. 37METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO ESPECÍFICOS Os equipamentos específicos podem ser instrumentos de medição, tais como termômetros, voltímetros, balanças, perfilometros, rugosímetro, microdurometros – ver Figura, dentre outros. Em processos produtivos, a decisão e a respectiva escolha sobre as formas mais adequadas para a inspeção e os meios utilizados para a verificação da conformidade dos produtos confeccio- nados tendem a sofrer influências quando analisadas as questões relativas às exigências de preci- são requeridas, assim como o respectivo tipo e as quantidades de peças, bem como os parâmetros geométricos a serem medidos em cada peça produzida. Em muitos casos, a melhor forma de con- ciliar as necessidades observadas em relação a qualidade e as especificações dos produtos, com os custos atrelados ao processo de inspeção (compra dos instrumentos, treinamento, armazenagem) e o ganho de tempo de inspeção, é a adoção e implantação de dispositivos de medição específicos. Cada vez mais as organizações estão percebendo que a racionalização, bem como a confia- bi1idade e a consequente simplicidade de seus processos de inspeção, está atrelada, em grande parte, no projeto e desenvolvimento de dispositivos de medição. Os dispositivos de mediçãotêm por finalidade fornecer à indústria, os meios de controle necessários, quando as mesmas ou seme- lhantes tarefas de controle de qualidade ou controle dimensional são realizadas frequentemente. A opção real pelo projeto, desenvolvimento e implantação de um sistema de medição basea- do em dispositivos de medição está associado a duas características específicas de cada operação: • a necessidade de que as medições das características a serem controladas sejam obtidas de maneira objetiva, e em segundo plano; • a necessidade de que cada medida tenha repetibi1idade para garantir a confiabilidade me- trológica necessária. 38METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO O projeto e a implantação de dispositivos de medição dependem necessariamente de alguns parâmetros que nós devemos avaliar para que a sua aplicação seja correta e atenda às necessidades do processo produtivo, dentre os parâmetros existentes podemos citar: • tipo de tarefa de medição - medição de diâmetros internos ou externos, afastamento, distância entre furos, etc.; • dimensão nominal do parâmetro de medição; • tolerância do parâmetro de medição; • método de medição - medição absoluta, diferencial, etc.; • frequência de medição necessária; • instrumentos de medição disponíveis. Uma vez verificadas as condições dos parâmetros citados, os dispositivos de medição são projetados para poder contemplar características específicas em função dos respecti- vos requisitos e condições de medição necessária para cada peça em operações específicas distribuídas ao longo do processo produtivo ou em postos de avaliação. Assim como ocorre com os micrômetros, o projeto de dispositivos de medição deve levar em consideração os princípios de Abbe e obter uma medição de forma mais correta, baseada no alinhamento da peça com a concepção do dispositivo de medição. Adicionalmente a isso, a respectiva determinação da posição da peça a medir é uma das etapas mais importantes no projeto de dispositivos de medição, uma vez que podem in- terferir diretamente com os requisitos referentes à estabilidade e repetibilidade em relação aos pontos de localização e os respectivos pontos de contato à inspeção. Conforme Fronober (1988), a consequente determinação da posição da peça a medir é realizada através de planos e superfícies da peça e do dispositivo de medição, onde esses planos são definidos pelo projetista como ponto de origem para o dimensionamento fun- cional do dispositivo. Ainda, conforme o autor, planos e superfícies para definição da loca- lização da peça, no dispositivo, são definidos por: • Planos (linhas ou pontos) de referência (Pr): são fixados pelo projetista, para defi- nição das condições funcionais e dimensionais relativas à peça a medir. Estes planos representam as superfícies básicas, servindo como base construtiva para a peça. • Planos de posicionamento (Pp): são os planos de definição da peça no dispositivo, ou seja, os planos de onde se originam os elementos de posicionamento do dispositivo. • Superfícies de posicionamento (Sp): são as superfícies da peça ou do dispositivo onde ocorre(m) o(s) ponto(s) de apoio para definição da posição. Estas superfícies dividem-se em Superfícies de posicionamento da peça (Spp) e Superfície de posicio- namento do dispositivo (Spd). 39METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO De forma prática, as respectivas localizações consideradas ideais são resultantes de contatos pontuais, onde, para casos que possam existir a necessidade de uma sustentação de carga, as respectivas áreas de contato são maiores, introduzindo erros de medição que possam estar atrelados com a forma geométrica das superfícies de localização. Neste sentido, para que possamos escolher o melhor posicionamento das peças nos dispositivos de medição, devemos necessariamente considerar: • a escolha prioritária das maiores superfícies da peça; • para casos de superfícies planas, que possuam acabamento bruto, deve haver o ancora- mento em três posições; • necessariamente, o respectivo posicionamento deve ser realizado na superfície da peça com a menor tolerância de fabricação. Ainda, considerando-se a funcionalidade, os dispositivos de medição proporcionam a simplicidade e facilidade operacional por parte do operador, assim como disponibilizam formas para que o próprio operador possa fazer a zeragem dos medidores como os respec- tivos padrões e, dessa forma, seja possível a melhor confiabilidade necessária. Basicamente, a função “medir a peça” de um dispositivo de medição pode ser descrita conforme a sequência: • 1º preparação do dispositivo de medição e peça: processo de acoplamento da peça a ser dimensionada, sendo necessário o correto posicionamento dela no corpo do dispositivo de medição e, quando houver qualquer fixador (manual ou automatizado), garantir que ele esteja efetivamente atuante e garanta a real fixação da peça; • 2º realização efetiva do processo de medição: quando o dispositivo de medição possuir instrumentos de medição, os mesmos deverão ter seus apalpadores retraídos, de forma que seja possível realizar a aproximação dos mesmos na peça a ser medida e, após esta apro- ximação, seja realizado de forma cuidadosa o contato dos respectivos apalpadores com a peça já acoplada no dispositivo. Para os demais dispositivos de medição, o respectivo pro- cesso de medição é realizado conforme a respectiva concepção do dispositivo de medição; • 3º retirada da peça: o processo consiste em possibilitar a retirada da peça a ser dimen- sionada, observando para peças acabadas, o cuidado necessário para não afetar o acaba- mento com arranhões ou avarias. Conforme a subdivisão para classificação dos meios de inspeção, assim como os ins- trumentos de medição vistos anteriormente, os dispositivos de medição também são classi- ficados como equipamentos de medição específicos, onde sua confecção pode ser realizada pela própria organização ou por uma empresa terceirizada e os mesmos podem utilizar aco- plados a sua estrutura, relógios comparadores ou apalpadores como forma de avaliação das condições dimensionais das peças por variável ou tão somente padrões que possam avaliar de forma por atributo as características das peças produzidas. 40METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Dispositivos de medição comerciais: Dispositivos de medição confecção interna na organização: Dispositivos de medição com instrumentos de medição acoplados: Dispositivos de medição por atributo: Fonte: http://www.larrywillis.com/RCBS%20casemaster.html Fonte: https://www.starrett.com.br/produtodetalhe.asp?codprod=738 Fonte: Site Sermec http://www.larrywillis.com/RCBS%20casemaster.html https://www.starrett.com.br/produtodetalhe.asp?codprod=738 http://www.sermec.net.br/produtos/dispositivos-de-medicao/dispositivos-de-medicao-dispositivo-de-medicao-de-diametros-693 41METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO CONVEN- CIONAIS Os equipamentos de medição convencio- nais são caracterizados como meios de medição que apresentam soluções convencionais de me- diação, ou seja, podem ser utilizados em diversas finalidades, não estando atrelados a tão somente uma única peça ou a um único processo produti- vo, pois possuem uma ampla gama de possibili- dade de utilização. Dentre os principais equipamentos conven- cionais, podemos citar o paquímetro e o micrô- metro, vistos no capítulo anterior, com suas ca- racterísticas e suas funcionabilidades. Além disso, podemos citar o altímetro com prisma, ogiva, re- lógios apalpadores, relógios comparadores, etc. Uma das combinações básicas de equipa- mentos de medição convencionais são os relógios apalpadores acoplados em bases magnéticas fixas ou bases magnéticas articuladas: 42METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO A versatilidade da utilização de relógios apalpadores montados em bases magnéticas, permite ao operadores a medição e a verificação das peças mesmo quando elas estiverem em suas respectivas máquinas de usinagem,da mes- ma forma, estes equipamentos permitem que os operadores realizem o ajuste das máquinas e a correta programação em operações de início de produção, assim como substituição de modelos através do setups. Assim como acontece com os relógios apalpadores, as bases magnéticas fixas e articuladas nos permitem a montagem de relógios comparadores, possibilitando que o conjunto também possa ser utilizado em operações de me- dições e controle de processos. 43METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO TRENA, METRO ARTICULADO E RÉGUA GRADUADA A trena, o metro articulado e a régua graduada são considerados dentre todos os ins- trumentos existentes, como os instrumentos de medição mais elementares existentes, onde a sua função está baseada na verificação de medidas lineares quando não há exigên- cia de grande precisão, onde cada um dos instrumentos possui características específicas. Apesar da simplicidade do uso e suas funções elementares, os cuidados que devemos ter durante o manuseio, bem como os cuidados de conservação são: • devemos evitar quedas ou que a escala fique em contato com as ferramentas, quando hou- ver, devemos sempre levar o equipamento para o laboratório de metrologia para ser rea- lizada a avaliação; • devemos evitar riscos nas graduações; • não devemos flexionar ou torcer; • não devemos utilizar como objeto para bater em outros objetos; • devemos sempre limpar após o uso, removendo a sujeira, aplicando uma leve camada de óleo fino ou vaselina; antes de guardar – lubrificar também as articulações do metro articulado; • devemos sempre cuidar e abrir o metro articulado de maneira suave. PAQUÍMETRO Dentre os instrumentos de medição existentes, o paquímetro é considerado um dos ins- trumentos com maior versatilidade, onde suas características específicas proporcionam com que ele seja utilizado em uma grande escala de aplicações. O nome “paquímetro” vem do vocabulário Grego “paqui” que representa “espessura” e “metro”, que representa “medida”, ou seja, conse- guir medir a distância existente entre dois pontos simetricamente opostos de um mesmo objeto. Instrumentos Características Trena Fabricada em aço (podendo ser pode ser convexa ou plana - convexa tem maior rigidez), tecido ou fibra, montada em um estojo na qual a fita fica en- rolada; possui graduação em uma ou ambas as faces em milímetros e po- legadas fracionadas com traços transversais; comprimentos variando de 5 até 50 metros. As trenas pequenas possuem um gancho na extremidade, o que possibilita o uso por apenas um operador; algumas apresentam, na ex- tremidade livre, uma chapa metálica dobrada em ângulo de 90º, chamada encosto de referência ou gancho de zero absoluto. Atualmente, o mercado já oferece modelo de trenas a laser para medições superior a 50 metros. Metro articulado Fabricado em madeira, alumínio ou fibra; possui graduação em ambas as fa- ces em milímetros e polegadas fracionadas; comprimento de 1 ou 2 metros. Régua graduada Também conhecida como escala; fabricada em geral, em aço carbono ou aço inox, com graduação em milímetros e polegadas fracionadas; vários comprimentos; é necessário que os traços da escala sejam gravados, bem definidos, uniformes e finos. Tipos de réguas graduadas: régua de encosto interno, régua sem encosto, régua com encosto, régua de profundidade, régua de dois encostos. Tabela 03 – Características trena, metro articulado e régua graduada. 44METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Basicamente, o paquímetro é classificado como um instrumento que possibilita ao seu operador a capacidade de medir dimensões lineares, sendo elas, tanto internas, externas, ressalto e de profundidade. Conforme estabe- lecido pela Norma ABNT NM 216:2000 (Paquímetro e paquímetro de profun- didade), o paquímetro é um instrumento que mede sob o movimento de um cursor com medidor ou base de medição em relação a uma régua com uma escala de medição com ou sem medidores fixos, onde a leitura pode ser ana- lógica ou digital, sendo de um instrumento eletrônico digital, uma interface para transferência de dados que poderá ser adaptada. Os paquímetros possuem suas faixas de medição, ou seja, a respectiva faixa de utilização do instrumento, considerando-se que o valor que se ad- mite o erro do instrumento de medição se mantenha dentro dos limites es- pecificados. Geralmente, os paquímetros são confeccionados em aço inox e com a respectiva faixa de operação de 150 mm a 2.000 mm, considerando-se a medida inglesa com variação de 6” até 80”. Comercialmente e dependendo da necessidade observada para o proces- so de medição, existem diferentes tipos de paquímetros disponíveis e ofer- tados, os quais podemos citar o paquímetro de profundidade, o paquímetro duplo, o paquímetro de serviço pesado e o paquímetro universal, do qual se derivam os demais modelos que seriam o paquímetro com relógio, o paquí- metro com bico móvel e o paquímetro digital. 45METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO De forma prática, o paquímetro pode ser considerado como uma régua normal temperada, onde a grande diferença está na existência de uma escala móvel denominada de nônio ou vernier (nomes utilizados como uma forma de home- nagem aos seus respectivos inventores o português Pedro Nunes e o francês Pierre Vernier), os quais representam uma ampliação da menor divisão da escala fixa do paquímetro, com novas divisões, onde a resolução do paquímetro é obtida pela divisão da resolução da escala fixa pelo número de divisões do nônio – Equação 01. Partes do paquímetro: Resolução = unidade da escala fixa número de divisões do nônio Conforme já referenciado, o paquímetro é um instru- mento de medição muito versátil, onde, em apenas um ins- trumento de medição, temos a possibilidade de obter medidas utilizando-se dois corpos móveis, que permitem quatro for- mas distintas de acesso ao objeto a ser medido. Formas de medição paquímetro: 46METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO A operacionalidade do paquímetro se dá através da escolha do tipo de medição a ser realizada (interna, externa, profundidade ou ressalto), na peça, previamente separada e com o deslocamento da escala móvel, será possível verificar o valor numérico da cota que está sendo dimensio- nada, onde a posição do “zero” da escala móvel (nônio), na escala fixa, indicará o valor numérico da cota. Para execução do processo de medição, inicialmente, devemos rea- lizar a limpeza da peça assim como as superfícies de encosto do paquíme- tro, garantindo que as mesmas estejam resguardadas de quaisquer con- taminantes (cavaco, rebarba, poeira e partículas abrasivas) que possam causar o desgaste prematuro do instrumento de medição, ou que possam de forma não intencional interferir no resultado da medição. Este pro- cesso deve ser realizado antes e após o uso. Da mesma forma, devemos, antes da realização da medição, verifi- car a conformidade do paquímetro e avaliar se o mesmo zera ao fechar, e que tal leitura nula possa ser reprodutível, a verificação da capacidade de zerar do paquímetro pode ser realizada facilmente através do fecha- mento total do mesmo e, após isso, colocarmos o instrumento contra a luz e verificar as regiões de fechamento do bico fixo e móvel assim como a região de fechamento da orelha fixa e orelha móvel. Em ambas as regi- 47METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO ões, o instrumento estará zerado quando o mesmo, em posição contra a luz, não possibilitar a passagem de luz nestas duas regiões de fechamento (bicos e ore- lhas), demonstrando que não há desgaste nem folgas que possam interferir na realização da medição – Ver Figura. Quanto as posições para a medição de ressalto e da haste de profundidade, a veri- ficação da posição zero deverá ser realizada observando o correto alinhamento entre as partes, não ocorrendo qualquer degrau ou saliência das partes – Ver Figura. 48METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Independentemente do tipode medição (interna, externa, ressalto ou profundidade), a peça dever ser posicionada junto ao paquímetro, onde, para medições externas (os bicos), devem estar aproximados ao máximo possível da peça, que através da atuação do polegar junto ao impulsor, faz com que a parte móvel com o nônio seja deslizada sobre a régua graduada até que as duas pontas de contato toquem a peça a ser medida, de forma suave, fazendo com que a área de contato entre peça medida e paquíme- tro seja a maior possível e que o respectivo apoio do paquímetro na peça mantenha um ângulo de 90°, prevenindo que ocorram erros provenientes a folga do cursor, bem como prematuros desgastes das pontas do paquí- metro que possuem a menor área de contato. – Ver Figuras. 49METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO No que tange as condições das medições internas, a prerrogativa da ne- cessidade de maior área de contato entre peça e paquímetro se mantém como necessária, sendo indicada a introdução máxima possível das orelhas nos respectivos furos ou ranhuras a serem dimensionadas – Ver Figuras, consi- derando-se apenas a questão da existência ou não de ressaltos internos nos furos ou ranhuras que possam interferir no resultado da medição. 50METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO No mesmo sentido, devemos atentar para necessidade de manter o paquímetro paralelo à peça medida e obser- var se as orelhas do paquímetro coincidem com a linha de centro do furo a ser medido – Ver Figuras. a isso, a correta verificação numérica do valor desta variável es- tará associada ao valor que estará representado nas escalas fixas e móvel do paquímetro. Em relação a opção pela medição, utili- zando-se a haste de profundidade, devemos tomar cuidado com o posicionamento do paquímetro na peça. O respectivo alinhamento do mesmo, em relação a peça, deverá estar alinhado ao longo do corpo da peça a ser dimensionada, garantindo um perfeito apoio do paquímetro na peça – Ver Figura. Com relação as medições envolvendo profundidade, neste caso, utilizamos a haste de profundidade do paquí- metro, pois considerando-se o paquímetro universal à distância existente, quando da abertura da haste de profundi- dade, corresponde exatamente a distância entre a abertura do encosto fixo e do encosto móvel do paquímetro, devido 51METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO No mesmo contexto, está associada a medição com ressalto que, necessariamente, deverá haver o apoio da face da escala principal (fixa) em uma peça e, sequencialmente, será realizada a aproximação da face do nônio até que haja o contato de peça e paquímetro de forma suave; sucessivamente, será rea- lizada a leitura do valor numérico da dimensão medida. Cabe ressaltar que, sempre que houver a possibilidade técnica, devemos optar pela utilização do sistema de medição por ressalto ao invés da medição por haste de profundidade. Assim que nós realizamos a medição da peça, surge a necessidade da leitura do valor numérico dimensionado e identificado pelo paquímetro, para isso, uma das principais informações a serem analisadas antes mes- mo da execução do processo de medição é o conhecimento e a respectiva identificação da precisão do instrumento, sendo respectiva- mente para o paquímetro identificada e gra- vada no final da escala do nônio, onde, nor- malmente, essa precisão está estabelecida na casa dos centésimos de milímetros – Ver Figura. Para o modelo de paquímetro que es- tamos utilizando, a especificação da precisão pode ser verificada conforme fórmula: 52METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Resolução = unidade da escala fixa = 1mm = 0,02mm número de divisões do nônio 50 Conforme já foi verificado anteriormente, de forma prática, o nônio é formado por uma respectiva escala com N divisões igualmente espaçadas, a qual move-se ao longo da escala principal, onde as respectivas divisões do nônio apresentam dimensões diferentes daquelas da escala principal, porém, existe uma relação entre si de forma simples. Para realizarmos a leitura do paquímetro, devemos, inicialmente, ler na escala fixa o valor em milímetros cor- respondente ao dimensional da peça, sempre tomando como referência o primeiro traço do nônio, conhecido como traço zero – Ver Figura. Após, devemos contar a quantidade de traços do nônio que ficam à direita, até que um coin- cida com um traço da escala fixa, sempre haverá um traço que fique melhor alinhado que os restantes – Ver Figura. Exemplo 01: 53METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Após a identificação dos valores em milímetros, representativos na escala fixa (po- sição do traço zero) e a consequente posição do traço do nônio que coincide primeira- mente com o traço da escala fixa (valor do nônio), devemos realizar a soma dos respec- tivos valores, obtendo o valor numérico real da medição, ou seja, o resultado da medição. No exemplo ilustrado pelas figuras, o valor do resultado da medição é: Exemplo 02: Resultado Medição=Valor escala fixa+valor nônio Resultado Medição=16 mm+0,40 mm Resultado Medição=16,40 mm Resultado Medição=06 mm+0,66 mm Resultado Medição=06,66 mm Resolução = unidade da escala fixa número de divisões do nônio Resolução = 0,025” =0,001” - Ver Figura 25 Para a realização da leitura do paquímetro em polegada milesimal, devemos, inicialmente, observar que ao longo da escala fixa do paquímetro existem marcações de polegadas pré-definidas, onde, para cada comprimento de polegada estabelecida, a mesma está respectivamente dividida em 40 partes iguais, sendo que cada parte de polegada corresponde a 1”/40 (valor correspondente a 0,025”). Ao observamos a escala móvel (nônio), percebemos que ela possui 25 divisões, sendo estabelecida a resolução desse instrumento para polegada milesimal, conforme estudamos: 54METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Desta forma, a leitura do paquímetro em polegadas milesimais é realizada com uma resolução de 0,001”, onde, basicamente, o procedimento para leitura é idêntico ao proce- dimento efetuado para leitura na escala de milímetro, ou seja, consideram-se as unidades 0,025” totais que estão à esquerda do traço zero do nônio, sendo, posteriormente, acresci- dos os milésimos de polegada referentes a quantidade de traços do nônio que ficam à direita, até que um coincida com um traço da escala fixa. Assim como a leitura milimétrica, sempre haverá um traço que fique mais bem alinhado que os restantes. Exemplo 01: Resultado Medição = Valor escala fixa + valor nônio Resultado Medição = 0,250” + 0,009” Resultado Medição = 0,259” Resultado Medição=Valor escala fixa+valor nônio Resultado Medição=1,100” + 0,016” Resultado Medição=1,116” Exemplo 02: 55METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO MICRÔMETRO Dentre as demandas existentes e as exigidas pelos processos de medições, muitas vezes, nos deparamos com a necessidade de obtermos uma maior exatidão nos resultados das médias que estamos avaliando e estudando, em casos assim, o uso do paquímetro acaba sendo um limitante e temos que optar por instrumentos com características particulares. Neste sentido, muitas vezes, acabamos por optar pela utilização do instru- mento de medição chamado micrômetro, conhecido pela sua maior exatidão quan- do comparado com o paquímetro, quando há a necessidade de obter medidas rela- cionadas com tolerâncias mais apertadas, devemos optar pelo micrômetro. O micrômetro teve sua origem na França, em 1848, onde o inventor, Jean Lou- is Palmer, desenvolveu um instrumento que possibilitava realizar medições mais exatas do que as medições realizadas com um paquímetro. Este novo instrumento proporcionava que as leituras fossem realizadas na ordem de 0,01 mm para os mo- delos considerados como comuns e, na ordem de 0,001, para os modelos que fossem incorporados um nônio. Os modelos eram utilizados para o dimensionamento de furos e permitiamuma leitura de até 0,005 mm. Na França, país de origem de seu criador, o micrômetro foi batizado e é conhe- cido pelo nome de “Palmer”, em homenagem ao seu inventor. Os micrômetros, diferentemente dos paquímetros, são instrumentos de medição que obede- cem ao “princípio de Abbe”. No século XIX, Ernest Abbe estabeleceu que, para obtermos uma medi- ção de forma mais correta, a condição ideal de medição deverá ser realizada de forma que o instru- mento de medição deva possuir como condição ideal a capacidade de sua escala estar alinhada com a posição na qual o objeto a ser medido é acoplado no instrumento de medição – Ver Figura. 56METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Basicamente, o princípio de funcionamento dos micrômetros está associado ao prin- cípio básico de deslocamento de um parafuso no seu sentido horizontal, quando ele possui o sentido de giro em torno de uma rosca, de forma prática, podemos dizer que há o deslo- camento de um parafuso micrométrico com rosca em uma porca fixa de ajuste. Quando esse parafuso micrométrico se desloca, cada uma das voltas realizadas corresponde a um avanço do parafuso no sentido axial ou a um passo da rosca. Um micrômetro é composto pelos seguintes componentes – Ver Figura: Conforme especificado pela Norma ABNT NBR ISSO 3611:1997 (Micrômetro para me- dição externa), o micrômetro é composto de um arco confeccionado em aço especial ou fun- dido com um tratamento térmico específico para eliminação das tensões internas, o qual possui um isolante térmico acoplado que tem como função evitar a possível dilatação do arco devido a temperatura transmitida pelo contato com o calor emitido pela mão do ope- rador e também deve, necessariamente, apresentar um formato que possibilite a realização do dimensionamento de um diâmetro igual à faixa de medição especificada do instrumento. Em seu interior, o fuso micrométrico do micrômetro é montado com um aço especial que sofre, inicialmente, um processo de tratamento térmico de têmpera e, posteriormente, um processo de usinagem através de retifica, dentre os demais componentes que estabele- cessem a respectiva geometria do micrômetro para dimensões externas estão o batente, o cilindro e o tambor. Conforme a figura que apresentou as partes do micrômetro, ele é composto também pelas peças: trava do fuso, catraca, nônio (o qual está implantado apenas nos modelos de micrômetros que possuam a resolução de 0,001 mm) e as faces de medições, as quais, ne- cessariamente, devem possuir como característica um grande controle geométrico referen- te a suas condições de planicidade e paralelismo, onde, para alguns modelos, os respectivos contatos são produzidos em aço inoxidável ou de aço-ferramenta temperado, possuindo uma elevada resistência ao desgaste. Conectado diretamente ao fuso por ação de uma rosca, o tambor possui gravado em torno ao seu diâmetro, uma escala centesimal que pode apre- 57METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO sentar 50 divisões, caso o passo da rosca existente seja de 0,5 mm ou 100 divisões, quando o passo for igual a 1 mm, o mesmo possuirá o movimento de giro no qual, a cada volta de giro realizada, gerará o descolamento efetivo correspondente ao passo do fuso micrométrico, onde a resolução depende diretamente do passo da rosca em paralelo com o número de di- visões do tambor – Ver Equação: Para os modelos onde o passo de rosa é igual a 0,5 mm e o tambor possuir um total de 50 partes iguais, sua resolução se dará conforme: Assim como os modelos onde o passo de rosca representa 1 mm e o tambor possuir um total de 100 partes iguais, conforme a fórmula, encontramos como valor de resolução 0,01 mm – Ver equação. Quando utilizamos micrômetros com nônio, respectiva resolução dos mesmos é ob- tida devendo-se considerar também a quantidade de divisões do nônio, a qual é igual a 10 – Ver equação: Resolução = Passo da Rosca Divisões do Tambor Resolução = 1 Passo da Rosca 10 Divisões do Tambor Resolução = 0,5mm = 0,01mm 50 Resolução = 1mm = 0,01mm 100 Completando os componentes do micrômetro, a chamada “trava do fuso” é o compo- nente que, quando acionado de forma intencional, impede o deslocamento do parafuso do fuso micrométrico, possibilitando que a medida dimensionada seja mantida e seja possível realizar leituras de indicação. 58METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Com uma gama bem abrangente, o mercado disponibiliza variados modelos de micrômetros, nos quais as respectivas características que cada um possui é uma relação direta com as respectivas necessidades de medição existentes, dessa forma, a escolha de qual instrumento utilizar está associada diretamente ao que será dimensio- nado. Neste sentido, é possível salientar, inicialmente, os micrômetros externos e de profundidade – Ver Figuras, porém, sem deixar de referenciar os modelos abaixo, com suas respectivas funcionalidades: • Micrômetro com arco profundo: tem a função de medir espessuras de bordas ou regiões salientes em uma peça. 59METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • Micrômetro para medição de roscas: modelo que permite intercambiar as pontas com o objetivo de dimensionar roscas triangulares. • Micrômetro com disco nas hastes: utilizado para medir papel, couro, borracha e dentes de engrenagem devido a sua maior área de contato. 60METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • Micrômetro com contato em forma de V: modelo utilizado para dimensionar ferra- mentas de corte que possuam o número ímpar de áreas de corte. • Micrômetro para medir parede de tubos: modelo que possui uma haste móvel e um contato a 90º, permitindo que o micrômetro seja acoplado dentro do furo do tubo. • Micrômetro interno: modelo que possui uma haste móvel e um contato a 90º, permi- tindo que o micrômetro seja acoplado dentro do furo do tubo. A operacionalidade do micrômetro está, inicialmente, atrelada à colocação manual do ob- jeto a ser medido entre as faces de medição (batente fixo e face do fuso), onde a face do fuso e o batente fixo entram diretamente em contato com a peça, através da movimentação do tambor (giro em torno ao seu eixo), permitindo que a face do fuso mova-se até que a mesma encoste de forma suave na peça a ser medida, para tanto, o micrômetro possui incorporado ao seu sistema um dispositivo que assegura de forma constante, uma pressão própria para medição (através da ação da catraca), após haver o primeiro contato de peça com faces de contato, existe a necessi- dade de girar a catraca três voltas para obtermos o contato ideal entre o instrumento e a peça. 61METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO De forma a facilitar o manuseio do micrômetro, bem como do processo de acoplagem da peça a ser medida, em muitas situações, é utilizada uma base de fixação do micrô- metro para que seja mais fácil a realização desse processo pelo operador. Ver Figura. Conforme estabelecida a sequência mencionada, o micrômetro está pronto para que seja realizada a leitura corres- pondente a medida dimensionada, onde, inicialmente, devemos identificar o traço da escala visível superior na bainha e que está posicionado antes da borda do tambor, o qual representará os valores em milímetros da medição, sendo que cada traço representará o valor de 1 mm – Ver Figura. 62METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Após a identificação desses dois valores, devemos observar qual o valor identificado na escala do tambor, que se encontra deitada, e que coincide com a linha central da bainha, onde cada traço da escala deitada do tambor representa o valor de 0,01 mm. Resultado Medição=Valor bainha+valor 0,5 (se houver)+ valor tambor Resultado Medição=10 mm +0,5 mm+0,23 mm Resultado Medição=10,73 mm Exemplo 02: Após identificarmos o valor correspondente na escala superior da bainha em milímetros, devemos observar os traços na escala inferior da bainha, sendo que, logo após o traço superior dabainha, que representa os milímetros houver um traço na posição inferior, antes da borda do tambor, devemos considerar à medida final da peça em questão o acréscimo de 0,5 mm em seu valor, uma vez que uma volta inteira do tambor representa a medida de 0,5 mm. Exemplo 01: Resultado Medição = Valor bainha + valor 0,5 (se houver) + valor tambor Resultado Medição=05 mm +0,0 mm+0,13 mm Resultado Medição=05,13 mm 63METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Resultado Medição=Valor bainha+valor 0,5 (se houver)+ valor tambor Resultado Medição=01 mm +0,5 mm+0,24 mm Resultado Medição=01,74 mm MÁQUINAS DE MEDIÇÃO POR COORDENADAS Gradativamente, com o passar dos anos, a chamada evolução tecnológica possibilitou e porque não dizer, resultou na iminente incorporação dos conceitos e práticas computacionais ao ambiente produtivo. Neste sentido, as etapas iniciais do planejamento e desenvolvimento de produtos incorporaram em suas atividades as tecnologias de CAD (Computer Aided Design – desenho assistido por computador) e CAE (Computer Aided Engineering – engenharia auxiliada por computador) enquanto as operações fabris absorveram as tecnologias de CAM (Computer Aided Manufacturing – manufatura assistida por computador). Para que seja possível a realização de uma medição correta e que corresponda de forma real a medida da peça em questão, antes de acoplar a peça a ser dimensionada no micrômetro, devemos, necessariamente, realizar a limpeza das faces de medição para evitarmos que resíduos ou partículas indesejadas interfiram no resultado da medição. A limpeza adequada é realizada através da utilização de uma folha de papel macio, que será colocada entre as faces e presa através da utilização da catraca, após a colocação do papel devemos movimentar a folha sem retirá-la totalmente e, após estes movimentos, devemos soltar o micrômetro e retirar a folha. 64METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • digitalização de modelos; • análise dimensional de protótipos; • desenvolvimento de produto; • investigação de problemas; Ao analisarmos de uma forma mais direta, é possível identificar que a onda massiva da modernização dos processos está cada vez mais atrelada a necessidade de atendimento de novas demandas, oriundas do processo de globalização e do acirramento natural da competitividade industrial, onde é fato que a condição de sobrevivência das organizações está associada dire- tamente a agregação de valores novos aos produtos. A consequente modernização procurada e estabelecida está atrelada a identificação e aplicação de novos métodos de gestão produtiva, os quais procuram focar na redução direta de custos e a consequente melhoria da qualidade de seus produtos que possibilitem uma elevação no nível de satisfação de seus clientes. A automação da medição é responsável pela disseminação de modernas técnicas de avaliação dimensional, uma vez que elas contribuem para a diminuição de custos, prazos de entrega, perdas de insumos e erros de medição, além disso, contribuem para o aumento da qualidade do produto e de seu nível tecnológico, da equação do fornecedor e novas especifi- cações e da capacidade de produção, conforme definido por NETO (2012). Com este contexto salientado, houve o desenvolvimento e o consequente surgimento na indústria das máquinas de medir as três coordenadas, as conhecidas popularmente por máquinas de medição 3D. A primeira experiência, logo, a primeira utilização efetiva de máquinas de medição por coordenadas foi possibilitada em 1959, por Ferranti, Ltd. of Dalkeith, na Escócia, devido a percepção da evidente diferença dos ritmos de produção em comparação ao ritmo das me- dições convencionais, que demonstravam cada vez mais que o processo de inspeção infeliz- mente não acompanhava o processo fabril. De forma prática, a máquina desenvolvida por Ferranti tinha uma geometria original, que buscava um mínimo de restrições cinemáticas, bem como o respectivo alinhamento de seus elementos móveis. A máquina possuía uma resolução de 0,012 mm com um curso con- siderado muito pequeno (254 mm) na direção Z. As respectivas leituras eram feitas apenas nas direções X e Y (610 mm e 381 mm, respectivamente), além disso, a máquina utilizava uma sonda rígida para definir os respectivos pontos de inspeção. Com relação a capacidade produ- tiva, segundo Ferranti, a máquina foi projetada para possibilitar a inspeção de peças com uma acuracidade estabelecida de 0,025 mm. Considerando-se as evoluções tecnológicas, as técnicas de controle dimensional e as técnicas de levantamento de forma apresentam bases tecnológicas consideradas comuns, onde estão estruturadas e estabelecidas conforme processos de aquisição de coordenadas 3D. Sousa (2008) salienta que, por suas enormes potencialidades geométricas, boa exati- dão, flexibilidade e automatização, o processo de medição utilizando máquinas 3D tem sido cada vez mais presente ao longo de todo o ciclo de vida do produto em atividades como: • certificação de peças fornecidas; • aprovação de ferramental e dispositivos; • ajuste e liberação de processos; • controle seriado de produtos. 65METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Basicamente, uma máquina 3D, independentemente do tipo e modelo da sua es- trutura mecânica, é uma representação física de um estruturado sistema de coordenadas cartesiano, onde a máquina tem a possibilidade de definir a geometria de uma peça atra- vés de pontos coordenados (Xi, Yi, Zi), encontrados ao longo de uma superfície específica. Neste sentido, os eixos cartesianos são simulados, geralmente, por um conjunto de guias e mancais aerostáticos e com ajuda de escalas optoeletrônicas, onde, para que seja possí- vel obter os pontos sobre a superfície das peças, é usada uma sonda de medição. Complementarmente a isso, Orrego (2000) especifica que apenas o conhecimento dos pontos coordenados não é considerado suficiente para que seja possível avaliar os parâmetros geométricos das peças medidas (diâmetros, distâncias, ângulos, etc.), existe uma necessidade eminente que a máquina tenha um computador associado a ela, além de haver um software específico instalado no computador, que seja responsável em realizar o cálculo dos valores medidos, comparando com o elemento geométrico ideal. Este sof- tware proporciona com que haja a possibilidade de realização da zeragem em qualquer posição; além da introdução de cota pré-selecionada no indicador de qualquer eixo e, ge- ralmente, é possível o acoplamento de um sistema de processamento de dados. Desta forma, o resultado é mostrado, em um relatório, no programa computacional com algoritmos matemáticos adequados para ajustar os pontos coordenados às geome- trias – usualmente chamadas de geometrias substitutas – que modelam a peça medida. Neste mesmo sentido, Neto (2012) salienta que a realidade da utilização da tecnologia de medição por coordenadas somente tornou-se viável com o desenvolvimento associado dos computadores que passaram a ter como características: • elevadas potencialidades matemáticas; • flexibilidade de comunicação e interface com o processo; • elevada resistência a ambientes fabris; • geometria e estrutura de pequeno porte e baixo custo agregado. As máquinas 3D possuem uma configuração que consiste basicamente na existência de uma mesa rigorosamente plana de granito, servindo como base de referência. Ao longo dela desliza, horizontalmente, um corpo guiado no sentido do eixo Y. Corpo que possui um outro corpo agregado, possuindo um deslizamento horizontal, perpendicular ao corpo anterior no sentido X. Adicionalmente a isso, existe o último corpo, que possui um deslizamento vertical, ocupando uma posição perpendicular aos dois primeiros corpos no sentido do eixo Z. 66METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Todos estes corpos são sustentados por duas colunas verticais e um travessão horizontal, que serve de apoio para o conjunto de medição, onde o deslizamento das colunas, ao longodo plano de granito, é realizado através da aplicação de um jato de ar comprimido, lançado por centenas de minúsculos orifícios do plano de grani- to, garantindo um deslocamento suave e controlável, deslocamentos que podem ser orientados e realizados de forma manual, pela utilização de servomotores controla- do automaticamente pelo computador ou e pelo controle manual – Ver Figura. Conforme já referenciamos, devido ao grau de liberdade caracterizado pelas máquinas 3D, as quais permitem movimentos nos três eixos, consideramos que a aplicabilidade das mesmas está atrelada a medição de peças mais complexas e que necessitem medições tridimensionais, desta forma, podemos realizar o controle dimensional de dimensões lineares em uma ou duas direções, posições em três direções, alturas, rebaixos, superfícies cônicas e inclinadas, contornos ou perfis, desvios geométricos, posicionamento de furos, e inter-relacionamento geométrico. Quando comparada com a metrologia convencional, a metrologia por coordenadas apresenta algumas vantagens, como indicado abaixo, conforme estabelecido por HAMBURG-PIEKAR (2006): Metrologia convencional Metrologia por coordenadas Alinhamento manual e demorado da peça. Não é necessário o alinhamento manual da peça, alinhamento computadorizado. Instrumentos dedicados e pouco flexíveis. Flexibilidade e adaptações simples às tarefas de medição. Comparação dos resultados com medidas materializadas. Comparação dos resultados com modelos matemáticos. Determinação separada de dimensões, erros de forma e posição, utilizando diferentes instrumentos de medição. Determinação conjunta de dimensão, forma e posição, na maior parte das vezes, numa única montagem. 67METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO A Norma ABNT NBR ISO 10360-1:2010 estabelece e especifica uma lista que contém dez tipos diferentes de máquinas de medição 3D, sendo observado para cada modelo, carac- terísticas específicas que conferem a cada tipo relacionado uma respectiva aplicação com relação aos diferentes segmentos de peças existentes. A sistemática para a aquisição das coordenadas 3D pode ser efetuada por dois métodos distintos, os quais são: • apalpação mecânica: através do contato de um apalpador na peça a ser dimensionada; • apalpação por laser: não envolve o contato do apalpador com a peça a ser medida, ape- nas há o chamado escaneamento da geometria da peça. 68METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Da mesma forma, ao analisarmos o processo de aquisição dos pontos necessários para o dimensionamento das peças, a respectiva aquisição pode ser realizada através de duas técnicas: • aquisição por varrimento; • processo ponto a ponto o mais preciso, podendo ter tolerâncias de 1 mícron. Basicamente, o processo de medição é iniciado com a respectiva preparação da má- quina 3D, onde a fixação da peça, no equipamento, é o passo seguinte a ser realizado. Com a peça corretamente fixada na máquina 3D, devemos escolher o apalpador mais adequado para o processo de medição, para isso, devemos considerar a geometria da peça a ser medida e as características que desejamos dimensionar. Com estas etapas concluídas, podemos realizar o alinhamento da peça e a respectiva pro- gramação dos pontos a serem dimensionados onde a ação de medição é efetivamente realizada. De forma ilustrativa, a sequência lógica das etapas inerentes ao processo de medição pode ser observada conforme Figura: O funcionamento da máquina 3D está baseado em determinação dos pontos da peça que necessitam ser verificados para que seja possível determinar o seu parâmetro geomé- trico, para a determinação do comprimento de uma peça como exemplo. O autor comenta que é suficiente conhecer as coordenadas dos pontos sobre as faces externas, sendo o cál- culo do comprimento considerado bastante simples se a peça estiver posicionada parale- lamente a um dos eixos coordenados, tornando-se mais trabalhoso este processo se a peça estiver em posição aleatória em relação aos eixos, conforme Neto (2012). Ainda, conforme o autor, quando necessitamos determinar o diâmetro de um círculo, apenas é necessário conhecer as coordenadas de três de seus pontos. 69METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO CALIBRADORES E VERIFICADORES Considerando-se a classificação existente e que diferencia os equipamentos de medição convencionais dos equipamentos de medição específicos, inicialmente, ao conceituarmos os calibradores e verificadores, podemos considerar que eles podem estar classificados como equipamentos de medição convencionais. A determinação está associada às funções destes equipamentos, os quais, conforme já foi referenciado anteriormente, podem ser utilizados em diversas finalidades, não estando atrelados somente a medição de uma única peça ou de um único processo produtivo, eles pos- suem uma ampla gama de possibilidade de utilização. Com uma importância muito significativa em meio ao processo produtivo, os ca- libradores, em sua grande maioria, são utilizados com o objetivo de garantir a quali- dade e a uniformidade de peças produzidas através da realização de uma medição in- direta por comparação, após cada etapa do processo realizado, onde a medida indireta por comparação baseia-se em poder confrontar a peça que se quer medir com aquela de padrão ou dimensão aproximada. Os calibradores são instrumentos que especificam os limites máximo e mínimo das dimensões que foram fixadas pelo seu projeto e que estão sendo inspecionadas. Eles podem apresentar uma grande variação no que se refere a formatos e geometrias, as quais podem ser bem específicas, dependendo exclusivamente da aplicação a que se destina. Neste sentido, podemos enumerar as medidas de roscas, furos e eixos. Segundo Neto (2012), devido a simplicidade identificada nos calibradores, com o seu valor reduzido, tornam-se uma solução econômica para uma série de necessidades de medição na in- dústria, como as respectivas verificações de furos, roscas e etc. Normalmente, sua fabricação é realizada sendo utilizado o aço carbono como base, pos- suindo suas respectivas faces de contato temperadas e retificadas, com peças intercambiáveis dentro dos limites de tolerância, possibilitando uma forma rápida de avaliação, os calibradores são confeccionados tipo “passa/ não passa”. Dentre os modelos existentes podemos citar: • calibrador tampão liso; 70METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • calibre tampão roscado; • calibrador anular; • calibrador chato; • calibrador fixo; • calibrador ajustável; 71METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • calibrador de boca; • calibrador de fabricação; • calibrador passa e não passa; • calibrador de furo; • calibrador para eixo. Para os calibres modelo tampão, podendo eles serem lisos ou roscados, a indicação das medidas “passa” e “não passa” são reali- zadas, normalmente, através da utilização de cores, sendo vermelho para o lado não passa e verde para o lado passa – ver Figura. Os princípios e características construtivas dos calibrado- res, utilizados na verificação de peças em linhas de produção, são estabelecidos e determinados pela Norma ABNT NBR 6406:1980, onde são considerados também sua aplicação, seja para médias internas ou externas, sendo as suas respectivas condições de re- cebimento das peças e o estabelecimento das tabelas para o cál- culo das tolerâncias de fabricação dos calibradores e contra cali- bradores especificados pela Norma ABNT NBR 6158:1995. Mais especificamente, com relação aos calibres de rosca, a Norma ABNT NBR ISO 1502:2004 estabelece os detalhes e especifi- cações necessárias para a fabricação e o uso para estes tipos de cali- bres com rosca métrica de perfil básico de acordo com a ISO 68:2004. Os verificadores são meios de inspeção que realizam a ava- liação das peças através da comparação do contorno dela com o contorno do verificador, observando a possível passagem de luz entre o instrumento e a peça, sendo exemplos de verificadores:• régua de controle; • esquadro de precisão; 72METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • cilindro-padrão e coluna-padrão; • gabaritos; • verificador de folga; • fieiras. SINOPSE DA UNIDADE Através deste terceiro capítulo, foi possível realizar uma viagem completa pelo mundo instrumental da metrologia, possibilitando um conhecimento e visualização de um pouco mais das características, funcionalidades e tipos de todos os instrumentos e equipamentos de medição, além de possibilitar o conhecimento das formas corretas de uso de paquímetros e micrômetros, assim como proceder para realizar os tipos de medições características de cada instrumento, bem como de como fazer a leituras dos mesmos. 73METROLOGIA E ENSAIOS EXERCÍCIOS SUMÁRIO b. d. a. c. 1. Faça a leitura das medidas representadas nas figuras abaixo: Gabarito: a. 9,72 b. 2,56 c. 5,44 d. 1,74 74 TOLERÂNCIAS, AJUSTES E INCERTEZAS Além de medir, é necessário conhecermos também o que são e quais são as tolerâncias, o que são e quais são os ajustes e quais os tipos de incertezas atrelados aos processos de medição. 75METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO A base do processo metrológico e tudo que envolve o processo dimensional, não está simplesmente apoiado em realizar a medição ou escolher o instrumento correto e medir. Há mais que isso, é necessário conhecer tudo que envolve as tole- râncias e suas especificações, os ajustes e, principalmente, as incertezas de medição associadas aos meios de inspeção, sejam eles instrumentos ou dispositivos. O capí- tulo buscará trazer um conhecimento sobre tolerâncias e ajustes, uma visão sobre as classificações, a normatização e os tipos de incertezas e suas características. TOLERÂNCIAS E AJUSTES Quando um processo produtivo é implantado, os componentes produzidos ou trabalhados devem seguir rigorosamente as respectivas especificações estabeleci- das pela Engenharia durante a fase de desenvolvimento do projeto e até mesmo, em algumas situações, as possíveis normas existentes que possam especificar as características dos produtos durante as etapas da linha de produção. Nestes proces- sos, é possível observar a eminente necessidade de que as peças confeccionadas ou trabalhadas, as quais são montadas em respectivos conjuntos, possuam a simples e preliminar função de poder haver a troca ou substituição de peças em conjuntos que estejam sendo montados, onde deve-se observar apenas a troca simples. Desta forma, qualquer processo produtivo implantado e que resulte na confecção de qual- quer componente mecânico, deve possuir a capacidade de proporcionar a confecção de peças que possam ser montadas ou substituídas, sem que haja a necessidade de elas serem submetidas a tratamentos ou ajustes posteriores. A ação de substituição de uma peça por outra, do mesmo modelo, em um conjunto mecânico, é definida como intercambiabilidade. Com o conceito definido de intercambiabilidade, é necessário que exista um processo de fa- bricação a qual assegure a correta confecção das peças fabricadas em série para que as mesmas possam ser montadas, sem que haja a necessidade de ajustes, independentemente da peça, do lote de fabricação, a data a qual foi fabricada ou até mesmo do local da respectiva fabricação. Assim, a intercambiabilidade é uma garantia, necessariamente, através de uma correta e adequada seleção das tolerâncias e ajustes. Com estres conceitos, devemos observar que de forma prática, não existe processo de fabrica- ção que possua a capacidade de produzir um número ilimitado de peças exatamente na especificação nominal estabelecida pelo projeto do produto, esta inexatidão existente, normalmente, está asso- ciada a diversas causas, dentre as quais, podemos enumerar a variação do maquinário, a variação dos dispositivos de fixação e até mesmo dispositivos de medição e controle e também da própria maté- ria-prima a ser trabalhada. Neste contexto, consideramos a especificação nominal como a respectiva dimensão especificada no desenho de uma peça, onde sua origem está atrelada a projetos mecânicos específicos e associados a sua função final e, da mesma forma, às dimensões reais ou efetivas da peça, onde estas dimensões podem ser maiores, menores ou iguais às dimensões nominais. Basicamente, as dimensões reais e as dimensões nominais são dimensões com valores dife- rentes. Esta diferença pode ser aceita dentro de certos limites, os quais, mesmo diferentes possam possibilitar a intercambiabilidade e obedeçam às normas pré-definidas, ou seja, a um sistema de- finido de tolerâncias e ajustes. Os limites de aceitação que possibilitam a intercambiabilidade são 76METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO conhecidos como tolerância, que reflete o limite admissível de erro a ser aceito na confecção dos produtos, dessa forma, tolerância é a diferença entre a dimensão máxima e a mínima, ou seja, diferença entre o afastamento superior e o afastamento inferior, sendo a tolerância um valor absoluto sem um sinal associado. Efetivamente, as faixas de tolerâncias são realmente aplicadas, tanto no controle de variações, de forma geométrica, como também em variações de dimensões: As especificações geométricas de produtos assim como as definições das Tolerâncias geométricas – Tolerâncias de forma, orientação, posição e batimento - Generalidades, símbolos, definições e indicações em desenho estão esta- belecidas na ABNT NBR 6409:1997 – Ver Figura, tiveram como base a norma ISO 1101:1983, a qual, posteriormente, foi substituída pela norma ISO 1101:2004. • tolerâncias de forma: variação total que um elemento permite aceitação em relação à sua geometria ideal; • tolerância de orientação: variação total que um ele- mento pode aceitar em relação a outro elemento me- cânico para assegurar a montagem entre ambos; • tolerância de posição: variação de posicionamento que um elemento pode aceitar em relação a referência de outro elemento; • tolerância de batimento: variação total de um elemen- to em relação ao seu próprio eixo, quando o elemento é permitido à rotação em torno do seu próprio eixo. Fonte: Autor. 77METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Tabela 4 - Símbolos para característica tolerada. Fonte: ABNT NBR 6409:1997 Tolerâncias geométricas - Tolerâncias de forma, orientação, posição e batimento - Generalidades, símbolos, definições e indicações em desenho. Na prática e no dia a dia operacional das organizações, as tolerâncias de forma e posição devem sempre ser identificadas e indicadas quando da sua necessidade, a fim de poder proporcionar os requi- sitos funcionais e de intercambiabilidade nos processos de montagem e de manufatura, onde, basica- mente, a sua respectiva indicação não estabelece necessariamente o devido emprego de um processo totalmente particular de fabricação ou medição. Neste sentido, podemos considerar que existem situações onde o componente ou a peça confec- cionada, embora possuam as suas dimensões efetivas de acordo com a tolerância dimensional estabe- lecida em desenho técnico, a peça real pode não ser exatamente igual à peça especificada por projeto. Desta forma, o tão somente cumprimento e alcance não é suficiente, de uma forma mais ampla, é ne- cessário que o componente ou peça confeccionada possua suas formas dentro das formas previstas em projeto, para que as mesmas possam sofrer um processo de montagem adequado e que, em seu conceito final, funcionem de forma correta e sem problemas. Considerando esta necessidade, evidenciamos na prática a impossibilidade real de obter-se uma peça física final com as reais dimensões nominais, onde, da mesma forma, é muito difícil obter essa peça real com formas rigorosamente iguais ao projeto em questão. Desta, as possíveis e consequentes variações consideradas aceitáveis das formas e das posições dos elementos projetados, na execução da peça, constituem as chamadas tolerâncias geométricas. As tolerâncias de forma constituem os respectivosafastamentos de um dado elemento dimensio- nado em relação à sua forma própria geométrica teórica, onde as mesmas podem ser divididas em: 78METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • tolerância de retitude ou retilineidade – é a diferença máxi- ma permitida da reta, onde ela está definida por um cilindro imaginário que possui como eixo de simetria a linha teórica estabelecida e, como superfície, os limites de tolerância acei- táveis para a linha teórica; • tolerância de planeja ou planicidade – é a diferença máxima permissível na diferença da forma plana de uma respectiva peça, representada através de dois planos que estão posicio- nados paralelamente e os quais definem os limites superior e inferior de variação permissível, entre os quais deve-se en- contrar a superfície efetiva; • tolerância de circularidade – são originários em seções circula- res de uma peça, com o formato de um disco, cilindro ou até mes- mo um cone. A sua representação é estabelecida por dois círculos concêntricos, que definem os respectivos limites inferior e supe- rior tolerados para o desvio de circularidade; • tolerância de cilindricidade – desvio que ocorre em toda a super- fície de uma peça cilíndrica, incluindo a respectiva seção longitu- dinal e a seção transversal do cilindro. Esta tolerância é estabele- cida por dois cilindros concêntricos que circundam a superfície da peça, estabelecendo os limites inferior e superior desta tolerância; • tolerância de forma de uma linha qualquer – é representada por um sólido com seção circular, tendo o centro na linha de simetria teórica, onde o respectivo diâmetro é a tolerância estabelecida, sendo a linha efetiva (me- dida) que representa o perfil da peça fabricada, devendo ficar dentro do sólido especificado pela tolerância; • tolerância de forma de uma superfície qualquer – é representada por duas superfícies teóricas que envolvem a superfície projetada para a peça, cuja distância é definida por uma esfera com diâmetro equivalente à tole- rância estabelecida, onde o respectivo centro da esfera está localizado na superfície teórica. De outra forma, as tolerâncias geométricas de posição representam o respectivo desvio de posição máximo aceitável para um componente ou peça fabricada em relação à sua própria posição teórica definida no seu projeto de produto. Assim sendo, as tolerâncias de posição acabam limitando os afastamentos da posição mútua de dois ou mais elementos por razões funcionais ou para garantir uma correta interpretação sem a possibilidade da existên- cia de erros de interpretação. Normalmente, nestes casos, um deles é usado como referência para a especificação das respectivas tolerâncias e, quando necessário, pode-se haver o estabelecimento de mais de uma referência. As tolerâncias de posição estão classificadas como: • tolerância de paralelismo – é caracterizada pelo desvio máximo de posição permitido com relação a uma ou- tra linha reta ou plano de referência; • tolerância de inclinação – é o desvio de posição máximo permitido para o ângulo teórico em relação a uma outra linha reta ou o plano de referência, sendo o seu respectivo campo de tolerância do desvio angular de- finido por duas retas ou dois planos que estão paralelos entre si, possuindo uma inclinação igual ao valor teórico definido por projeto; 79METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • tolerância de perpendicularidade – é o desvio de posição máximo permitido para o ângulo te- órico definido de 90° em relação a uma outra linha reta ou plano de referência, onde este desvio pode ser considerado um caso particular do desvio de inclinação; • tolerância de localização de um ponto – é o desvio representando o máximo permitido para a posição de um elemento em relação à sua posição respectiva teórica, onde o seu campo de tole- râncias é definido por um círculo ou uma esfera cujo o seu centro corresponde à localização teó- rica do ponto, e a sua superfície corresponde aos limites permitidos para a localização do ponto; • tolerância de simetria – é o desvio máximo admissível para a posição de um elemento em rela- ção à sua posição teórica, onde o seu respectivo campo de tolerâncias é definido por um círculo ou uma esfera, cujo centro corresponde à localização teórica definida do ponto, e a superfície corresponde aos limites aceitos para a localização do ponto; • tolerância de concentricidade – é o desvio máximo admissível para a posição de um elemento em relação à sua posição teórica, onde o seu campo de tolerâncias é determinado por um círcu- lo ou esfera cujo centro corresponde à localização teórica do seu ponto, e a superfície corres- ponde aos limites aceitos para a localização do ponto. Para realizar a verificação dimensional das tolerâncias geométricas, são utilizados instru- mentos de medição, tais como relógios comparadores e relógios apalpadores, podendo ser utili- zados de forma individual ou com o auxílio de bases magnéticas. Da mesma forma, são utilizados traçadores de altura, muitas vezes, com o auxílio de mesas de desempenos, além da utilização de máquinas de medição tridimensionais. Quando analisamos os processos de fabricação, processos de montagem, pro- cessos de manutenção de componentes mecânicos, devemos sempre considerar um critério estabelecido para que a acoplagem e o consequente funcionamento do con- junto ocorram normalmente, para que isso seja possível, devemos observar e analisar os sistemas de ajustes padronizados para eixos e furos. Conforme a Norma ABNT NBR 6158:1995 Sistema de tolerâncias e ajustes, o sis- tema de ajuste é definido como sendo a relação resultante da diferença, imediata- mente anterior ao processo de montagem, entre as respectivas dimensões dos dois elementos a serem montados. Ainda conforme a Norma, alguns preceitos e terminologias foram estabelecidos e normatizados para proporcionar uma melhor aplicação da mesma e um melhor en- tendimento de seu conteúdo. Dentre as terminologias estabelecidas, podemos enu- merar algumas como: • dimensão efetiva: dimensão obtida medindo a peça com instrumento apropriado; • dimensão limite: maior valor admissível que a peça pode ser fabricada; • dimensão máxima: maior valor limite que a peça pode ser fabricada; • dimensão mínima: menor valor limite que a peça pode ser fabricada; • dimensão nominal: dimensão obtida através do projeto; 80METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • eixo: termo convencionalmente aplicado, para fins de tolerâncias e ajustes, como sen- do qualquer parte de uma peça cuja superfície externa é destinada a alojar-se na su- perfície interna de outra; • furo: termo convencionalmente aplicado, para fins de tolerâncias e ajustes, como sendo todo espaço delimitado por superfície interna de uma peça destinada a alojar-se um eixo; • ajuste: é o comportamento dimensional de um eixo em um furo, AMBOS COM A MESMA DIMENSÃO NOMINAL, caracterizado por folga ou interferência apresentada; • ajuste com interferência: diferença entre as dimensões de um eixo e um furo, quando o eixo é maior que o furo, onde: • interferência máxima: diferença entre as dimensões máxima do eixo e a mínima do furo, quando eixo é maior que o furo, onde: • afastamento nominal: é a diferença entre as dimensões limites e a dimensão nominal; • afastamento superior (As-Furo; as-eixo): é a diferença entre a dimensão máxima e a dimensão nominal, onde: • afastamento inferior (Ai-Furo; ai-eixo): é a diferença entre a dimensão Mínima e a di- mensão Nominal, onde: • tolerância: é a diferença entre a dimensão máxima e a dimensão mínima ou a diferença entre afastamento superior menos afastamento inferior, onde: • linha zero: linha que coincide com a dimensão nominal e serve de origem para os afas- tamentos nominais, onde acima estarão valores positivos e abaixo negativos; As = Dmax - Dnom (furo) as = dmax - dnom (eixo) As = Dmax - Dnom (furo) as = dmax - dnom (eixo) e > F dmin > Dmax ai > AS T = AS - Ai t = as - ai Imax = dmax - DminImax = as - Ai 81METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • interferência mínima: diferença entre as dimensões mínima do eixo e a máxima do furo, quando o eixo é maior que o furo, onde: • ajuste com folga: diferença entre as dimensões de um eixo e um furo, quando o furo é maior que o eixo ou igual, onde: • folga máxima: diferença entre as dimensões máxima do furo e a mínima do eixo, quando o furo é maior que o eixo, onde: • folga mínima: diferença entre as dimensões mínima do furo e a máxima do eixo, quando o furo é maior que o eixo, onde: • ajuste incerto: é aquele em que o afastamento superior do eixo é maior que o afastamento inferior do furo e o afastamento inferior do eixo é menor que o afastamento superior do furo, onde: • eixo base (h): é aquele cujo afastamento superior é pré-estabelecido como sendo igual a zero e as dimen- sões nominal e máxima coincidem; • furo base (H): é aquele cujo afastamento inferior é pré-estabelecido como sendo igual a zero e as dimen- sões nominal e mínima coincidem; • eixo simétrico (js): é aquela em que o afastamento inferior é simétrico ao superior em relação a linha zero; • furo simétrico (JS): é aquela em que o afastamento inferior é simétrico ao superior em relação a linha zero; • folga máxima: diferença entre as dimensões máxima do furo e a mínima. No Brasil, o respectivo grau de tolerância é identificado através das letras IT, onde I significa “ISO” e T quer dizer “Tolerância”, no mesmo sentido, a Norma ABNT NBR 6158:1995 especifica que a unidade de tolerância i re- presenta o valor numérico calculado em relação às médias geométricas das dimensões limites, onde a média em questão pode ser obtida pela fórmula: Im im = dim - Dmax Im im = ai - AS Fmax = Dmax - dmin Fmax = AS - Ai Fmim = Dim - dmax Fmim = Ai - aS F ≥ e Dmin ≥ dmax Ai ≥ aS AS = ai aS = Ai D = √D1 × D2 82METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Com a média geométrica das dimensões limites conhecidos, o cálculo do fator de tolerância padrão i, para dimensões nominais até 500 mm, pode ser obtido pela fórmula abaixo: Conforme a Norma ABNT NBR 6158:1995, estão estabelecidas dezoito tolerâncias padrão (IT’s), onde da IT 1 à IT 11, os valores estão estabelecidos em μm e da IT 12 à IT 18 os valores estão estabelecidos em mm. i = 0,45 × (D1/3) + 0,001 × D Valores numéricos de tolerância- padrão IT para dimensões nominais até 3150 mm (apresentação parcial da tabela). 83METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Ainda, conforme a norma, a próxima tabela especifica os IT’s para dimensões nomi- nais até 3150 mm, onde as duas colunas da esquerda referenciam as dimensões nominais, mostradas pela faixa de especificação do valor mínimo e valor máximo. Sequencialmente, os valores numéricos da tolerância padrão IT são encontrados me- diante a interseção entre o valor do IT (que varia de 1 a 18) e a linha da dimensão nominal. Quando as dimensões nominais estiverem entre 500 mm até 3150 mm, o cálculo do fator de tolerância padrão será realizado conforme a fórmula, sendo o mesmo iden- tificado como I: Nesta condição, a Norma estabelece a tabela para que seja realizada a interseção entre o valor do IT (que varia de 1 a 18) e a linha da dimensão nominal, definindo o valor da tolerância padrão IT. I = 0,004 × D + 2,1 INCERTEZA DE MEDIÇÃO Historicamente, a chamada confiabilidade e aceitação dos resultados obtidos pelos processos de medição são itens importantes e muito relevantes dentro das questões metro- lógicas, basicamente, nenhum tipo de medição que possa ser realizada representa de forma real o verdadeiro valor mensurado. Essa perceptível variação é explicada, primeiramente, pelas limitações inerentes ao processo dimensional, as quais limitam as quantidades de medições que possam ser realizadas, assim como está associada aos efeitos das demais va- riações que possam estar presentes na aplicação de todos os componentes pertencentes e atuantes ao processo dimensional. Neste sentido e de forma prática, podemos dizer que não existem medidas obtidas sem que haja associada uma incerteza de medição. Todas as medições que são realizadas possuem uma “faixa de variação” que está diretamente associada à sua incerteza, onde esta faixa de variação, normalmente, é representada pelos sinais de mais e menos (±), quanto menor for a incerteza, mais “qualificado” é o resultado da medição, neste sentido, a incerteza de medição é a indicação quantitativa que representa a respectiva qualidade dos resultados das medições realizadas, sendo que a qualidade do resultado está atrelada a respectiva compatibilidade de seu valor em relação a um valor de referência. Nas aplicações que envolvam o controle de qualidade, a respectiva incerteza de medi- ção resultante de um processo de medição deve de forma prática e ideal estar representada de acordo com a equação abaixo, conforme definido por ALBERTAZZI (2018): 84METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO U = IT 10 U = Incerteza do processo de medição; IT = Intervalo de tolerância. Conforme o autor, a equação estabelece que o alvo deve ser da ordem de um décimo do intervalo de tolerância. Na década de 90, através do trabalho de especialistas representantes de sete organismos internacionais, foram estabelecidos dois documentos básicos que ti- veram a importância de definir as diretrizes responsáveis pelo alinhamento de conceitos e possibilitar a minimização de possíveis divergências existentes quan- to a conceitos, definições, entendimentos e estimativas de erros e incertezas de medições, que foram: • Guia para expressão da incerteza de medição; • Vocabulário internacional de metrologia. O VIM (2012) define incerteza de medição como o parâmetro não negativo que caracteriza a dispersão dos valores atribuídos a um mensurando, com base nas informações utilizadas. A concepção aleatória baseada na hipótese da incerteza de medição de um resultado experimen- tal ser composta de várias parcelas, as quais podem ser agrupadas conforme a respectiva forma da coleta de dados, onde existe apenas a distinção entre os dados serem originados por métodos esta- tísticos ou por outros métodos, neste sentido, o uso de métodos estatísticos identificam as incertezas de medição do tipo A, e aos avaliados por outros métodos não estatísticos, as incertezas são do tipo B, onde ambas são caracterizadas, ainda conforme ALBACKERLI (2015). A GUM (2008) estabelece, em linhas gerais, que a incerteza no resultado de uma medição geral- mente consiste em vários componentes, que podem ser agrupados em duas categorias, em função da respectiva maneira pela qual seus valores numéricos são obtidos: • incerteza tipo A – aquelas avaliadas por meios estatísticos - são caracterizadas por uma esti- mativa de suas variâncias si 2 e pelo se número de graus de liberdade. As covariâncias devem ser fornecidas quando apropriado; • incertezas tipo B – aquelas avaliadas por outros meios - são representadas por parâmetros uj 2 que possam ser caracterizados como aproximação das variâncias correspondentes e, por isso, tratados como tal. Ainda conforme a GUM (2008), a incerteza de medição pode ser expressa em termos de incer- teza de medição combinada – uc (y), ou incerteza de medição expandida – U, onde a incerteza com- binada é a incerteza padrão do resultado de uma medição, quando este resultado é obtido por meio dos valores de várias outras grandezas, sendo igual à raiz quadrada positiva de uma soma de termos, 85METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO que constituem as variâncias ou covariâncias destas outras grandezas, ponderadas de acor- do com o quanto o resultado da medição varia com mudanças nestas grandezas. A incerteza padrão combinada é composta por avaliações de incerteza tipo A e avaliação de incertezas tipo B, sendo, dessa forma, representada pela equação abaixo: Basicamente, como a incerteza combinada pode ser obtida em relação as incertezas padrões para cada grandeza de entrada, o respectivonível de confiança é aproximado de 68%, o qual equivale a um desvio padrão representado na curva normal. Para se obter um nível de confiança maior, deve-se multiplicar a incerteza padrão combinada por um fator de abrangência k, o qual proporcionará um intervalo Y = y ± U, correspondente a um nível de confiança, desta forma, podemos dizer que a incerteza expandida está associada a quan- tidade que define um intervalo em torno do resultado de uma medição com o qual se espera abranger uma grande fração da distribuição dos valores que podem ser razoavelmente atri- buídos ao mensurando, onde a incerteza expandida pode ser calculada pela equação abaixo: A respectiva determinação do fator de abrangência está relacionada diretamente ao nível de confiança total requerida para o intervalo, neste caso, pode ser identificado pelo fator t da distribuição T-Student, representando a confiabilidade desejada. Conforme o GUM (2008), a metodologia para a estimativa da incerteza de medição pode ser especificada através dos seguintes passos principais: • definição do mensurando; • elaboração do diagrama causa-efeito; • estimativas das incertezas das fontes de entrada; • cálculo dos coeficientes de sensibilidade; • cálculo das componentes de incerteza; • combinação das componentes; • cálculo dos graus de liberdade efetivos; • determinação do fator de abrangência; • estimativa da incerteza expandida. Basicamente, podemos considerar que a incerteza de medição nada mais é do que uma indicação quantitativa da qualidade dos resultados de medição esperados, onde, sem a defi- nição dela, não poderíamos realizar a comparação dos resultados entre si, assim como com os valores de referência especificados ou com padrão. uc = u1 2 + u2 2 + u3 2 + ... + un 2 U = k × uc 86METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Para conhecermos a incerteza total, é necessário conhecer e incluir, no mínimo, todas as incertezas derivadas. Neto (2011) define quais são estas fontes dessas incertezas: • definição incompleta do ensaio; os requisitos não estão claramente descritos, por exem- plo, a temperatura de ensaio pode ser dada como “temperatura ambiente”; • realização imperfeita do procedimento de ensaio; mesmo quando as condições de ensaio são claramente definidas, pode não ser possível reproduzir as condições requeridas; • amostragem; a amostra pode não ser totalmente representativa; • conhecimento inadequado dos efeitos das condições ambientais no processo de medida, ou medições imperfeitas das condições ambientais; • erros de leituras em instrumentos analógicos; • resolução do instrumento ou erro na graduação da escala; • valores indicados para os padrões de medida ou materiais de referência; • mudança nas características ou desempenho do instrumento de medida, desde a última calibração; • valores de constantes e outros parâmetros utilizados na avaliação de dados; • aproximações e suposições incorporadas nos métodos e procedimentos de medida; • variações em repetidas observações feitas sob condições aparentemente idênticas. Tal efeito aleatório pode ser causado por: • variabilidade do operador; • flutuação em curto espaço de tempo das condições ambientais, como temperatu- ra, umidade relativa e pressão do ar. A importância prática de se estabelecer o valor correto da incerteza, está associada di- retamente a nível de qualidade que desejamos obter da peça a qual estamos confeccionando. A incerteza nos dará de forma quantitativa, a faixa a qual especifica que, na prática, para todo dado mensurando e um dado resultado de sua medição, não existe apenas um valor único, mas, na verdade, um infinito número de valores dispersos em torno do resultado, onde todos eles consistentes com todas as observações e dados e com o conhecimento dis- ponível sobre o mundo físico. Em uma linha de produção, a qual tenhamos disponível um micrômetro para a avalia- ção dimensional dos componentes fabricados, onde a cota a ser avaliada possua a sua espe- cificação de projeto que estabelece uma tolerância de projeto de ±0,05 mm e ao calcularmos a incerteza expandida do instrumento, encontramos o valor de 0,00110, podemos conside- rar o instrumento de medição apto a realizar as avaliações de processo. Assim sendo, conseguimos, com o decorrer deste capítulo, observar a real e indispen- sável importância do conhecimento e da correta interpretação e das incertezas de medição, assim como o conhecimento das questões relacionadas as tolerâncias e ajustes. 87METROLOGIA E ENSAIOS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Defina o conceito de intercambiabilidade: 2. Quais são as tolerâncias geométricas especificadas pela ABNT NBR 6409:1997? 3. Defina o que é incerteza de medição tipo A e incerteza de medição tipo B. 88METROLOGIA E ENSAIOS GABARITO SUMÁRIO 1. Defina o conceito de intercambiabilidade: Intercambiabilidade é a ação de substituição de uma peça por outra do mesmo modelo, em um conjunto mecânico sem haver a necessidade da realização de qualquer tipo de ajuste na peça ou no conjunto, a fim de possibilitar a acoplagem de forma correta da peça. 2. Quais são as tolerâncias geométricas especificadas pela ABNT NBR 6409:1997? Tolerâncias de forma: variação total que um elemento permite aceitação em relação à sua geometria ideal. Tolerância de orientação: variação total que um elemento pode aceitar em relação a outro elemento me- cânico para assegurar a montagem entre ambos. Tolerância de posição: variação de posicionamento que um elemento pode aceitar em relação a referên- cia de outro elemento. Tolerância de batimento: variação total de um elemento em relação ao seu próprio eixo, quando o ele- mento é permitido a rotação em torno do seu próprio eixo. 3. Defina o que é incerteza de medição tipo A e incerteza de medição tipo B. Incerteza tipo A – aquelas avaliadas por meios estatísticos - são caracterizadas por uma estimativa de suas variâncias si 2 e pelo seu número de graus de liberdade. As covariâncias devem ser fornecidas quando apropriado. Incertezas tipo B – aquelas avaliadas por outros meios - são representadas por parâmetros uj 2,que pos- sa ser caracterizado como aproximação das variâncias correspondentes e, por isso, tratados como tal. 89 ENSAIOS Tratar a metrologia apenas como a ciência e o gerenciamento dos processos de medição e controle dos meios de inspeção é apenas uma parte. Neste capítulo, conheceremos e entenderemos como classificamos os ensaios e quais as diferenciações entre os vários tipos de ensaios. 90METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO A metrologia não está apenas limitada a inspeções e verificações de peças e componentes em linhas produtivas, num contexto maior, ela está vinculada a especificações, normatizações e realização de de- mais ensaios em áreas de desenvolvimento de novos produtos, novas matérias-primas e em ambientes acadêmicos, desta forma, os ensaios ganham cada vez mais força e espaço no mundo metrológico. Dentro da área metrológica, a definição, especificação e normatização de ensaios está ganhando importância e destaque dentre todas as funções metrológicas existentes. A competitividade, que leva a busca de novos mercados e porque não dizer até mesmo às ações, para manter-se no mercado, acaba direcionando as empresas e organizações a buscarem cada vez mais algo que possa ser o diferencial entre todos os seus concorrentes. Este diferencial, ultimamente, cada vez mais escasso, está sendo vi- sualizado pelas organizações como melhorias tecnológicas, utilização de novos matérias, redução do uso de matéria-prima, otimização dos processos, enfim, tudo que possa representar um maior valor agregado aos produtos e também uma redução dos custos de fabricação e, quem sabe, a apresentação de novas opções que não foram pensadas, mas que possam servir de diferencial para o momento de es- colha dos clientes por esta ou aquela organização. Neste sentido, uma das questões mias estudadas e trabalhadas ao longodos anos é o estudo e o consequente conhecimento por parte da indústria e por parte do mundo acadêmico de novos materiais, composições, características e utilizações. A busca por um melhor material, com uma melhor qualida- de possível atrelada, faz com que pesquisadores através da aplicação de ensaios específicos busquem identificar as propriedades mecânicas atribuindo a diversas condições de uso, onde podemos enumerar a elevada variação de temperatura, as respectivas cargas associadas a utilização, bem como ao conse- quente desgaste dentre outros inúmeros outros fatores que possam influenciar no correto rendimento e na ideal conservação do material. Para Garcia (2012), os projetos de engenharia sempre necessitam de um elevado nível de conhecimento das características, propriedades e o respectivo comportamento dos materiais que serão utilizados ao longo do projeto, para a obtenção dos critérios de especificações dos materiais são necessários a reali- zação de ensaios normalizados, buscando verificar as propriedades mecânicas e o seu comportamento sob determinados esforços a que sejam expostos. ENSAIOS MECÂNICOS DOS METAIS Quando analisamos e avaliamos os materiais, podemos perceber que cada um deles apresenta características próprias, onde podemos citar, como exem- plo, o ferro fundido e sua característica de elevada dureza e alta fragilidade; o aço - com sua alta resistência; o vidro com sua transparência e fragilidade; o plástico com sua capacidade de impermeabilidade; a borracha e sua elasticidade; o tecido como isolante térmico, dentre muitos outros materiais e suas respec- tivas características. Desta forma, podemos perceber que a dureza, fragilidade, resistência, impermeabilidade, elasticidade, condução de calor, são exemplos específicos de propriedades específicas de cada material, onde, basicamente, estas propriedades estão divididas em dois grupos: • propriedades físicas; • propriedades químicas. 91METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO Basicamente, as propriedades físicas têm a característica de poder estabelecer o real comportamento dos respectivos materiais desde os processos iniciais de ob- tenção deles, passando pelos processos de fabricação e a sua consequente utilização. As propriedades físicas são divididas em três classes: • propriedades mecânicas; • propriedades térmicas; • propriedades elétricas. As propriedades mecânicas dos materiais estão atreladas diretamente as res- pectivas necessidades de esforços de natureza mecânica onde os materiais estão expostos, desta forma, as propriedades mecânicas estabelecem a faixa aceitável do material para transmitir ou resistir aos esforços que lhe são aplicados. Tal capaci- dade é essencial durante a utilização do material em seu propósito final, bem como durante o processo de fabricação do mesmo e as respectivas etapas de conformação. Quando analisamos as necessidades e as demandas das indústrias do ramo me- tal mecânico, as propriedades mecânicas são muito importantes para a correta esco- lha e definição da matéria-prima a ser trabalhada. Devido a essa clara importância, as propriedades mecânicas dos materiais são avaliadas através da execução de ensaios específicos e cuidadosamente programados, que procuram reproduzir mais próximo do real as condições de serviço. Basicamente, os ensaios dos materiais são divididos em duas classes que procuram classifi- car quanto à integridade geométrica e dimensional da peça ou componente, ou quanto à velocidade de aplicação da carga. Quanto à integridade geométrica e dimensional da peça ou componente, os ensaios podem ser de dois tipos: • destrutivos: quando, após executados, provocam a inutilização parcial ou total da peça: (tra- ção – ver imagem, dureza, fadiga, fluência, torção, flexão, impacto, tenacidade à fratura); 92METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • não-destrutivos: quando, após executados, não comprometem a integridade da peça: (raios-x, raios γ, ultrassom, partículas magnéticas, líquidos penetrantes – ver imagem, microdureza, tomografia). Quanto à velocidade de aplicação da carga, os ensaios podem ser: • estáticos: quando a carga é aplicada de maneira suficientemente lenta, induzindo a uma sucessão de estados de equilíbrio, caracterizando um processo quase-estático: (tração, compressão, flexão, dureza e torção); 93METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • dinâmicos: quando a carga é aplicada rapidamente ou ciclicamente: (fa- diga e impacto); • carga constante: quando a carga é aplicada durante um longo período: (fluência). Todos os ensaios mencionados têm por objetivo verificar o comportamento de peças específicas ou materiais, os quais estão sujeitos a esforços específicos, bem como verificar os respectivos limites físicos desses tipos de esforços nas estruturas e na sua total estabilidade, além de possibilitar a determinação das características mecânicas inerentes a tais componentes ou ao material envolvido. ENSAIOS DESTRUTIVOS Os ensaios mecânicos de materiais têm como característica principal a padro- nização e a existência de procedimentos documentados que objetivam estabelecer uma sistemática comum para a realização deles, considerando-se para isso a exe- cução dos testes, os cálculos atrelados, tabelas de referências e as normas técnicas que servem como base. A realização destes ensaios representa a ação de submeter um componente ou peça previamente confeccionada a momentos que possam simular os esforços futuros que estes componentes ou peças possam vir a ser submetidos nas suas con- dições reais de uso. Nos ensaios, estes limites são levados ao máximo esforço pos- sível da real solicitação dos componentes ou peças. Basicamente, a definição e classificação de ensaios destrutivos está atrelada ao conceito de submeter um componente ou peça, podendo estar em meio ao processo produtivo ou com o acaba- mento, sendo que os ensaios deixarão alguma marca ou sinal no componente ou peça que será obje- to do ensaio. Nestas condições, os ensaios destrutivos podem até mesmo inutilizar os componentes. Dentre os ensaios destrutivos existentes, podemos enumerar os mais comumente utilizados: • ensaio de tração: podemos considerar que os materiais metálicos demonstram de forma ini- cial um comportamento considerado elástico quando os mesmos estão submetidos ao efeito de cargas de tração de forma crescente, onde, na respectiva região elástica, tende a ocorrer o alon- gamento de seu corpo de prova, quando da retirada da carga, o corpo de prova retoma a suas dimensões originais, que denominamos deformação elástica. Neste sentido, se houver uma ma- nutenção da carga de tração e ela exceder um determinado limite, fará com que o corpo de pro- va inicie um processo de deformação permanente, que denominamos comportamento plástico, não podendo recuperar suas dimensões originais, mesmo com a retirada da carga. Considerando estas características, o ensaio de tração baseia-se na aplicação de uma carga de tração uniaxial de forma crescente, em um corpo de prova específico até a ruptura do mesmo, onde é possível dimensionar-se variação no comprimento em função da carga aplicada e, após, a compilação e tabulação dos dados, obtermos a curva tensão (σ) versus a deformação (e) do corpo de prova; • ensaio de dureza: basicamente, a dureza de um material específico é representada pela sua res- pectiva resistência à deformação plástica produzida por um sistema que estabelece uma im- pressão ou risco. Quando consideramos a escala de dureza em mohs, ela representa a real capa- cidade que um material tem de poder riscar outro mais macio. Desta forma, podemos considerar 94METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO uma escala apenas qualitativa, onde o material mais duro existente é o diamante, que representa, aproximadamente, uma dureza em mohs = 10. Já o método de dureza rockwell, possibilita a iden- tificação e consequente determinação da dureza de quase todos os metais, assim como ligas,uma vez que sejam observadas as escalas rockwell apropriadas aos diferentes materiais. De forma prá- tica, cada escala rockwell estabelece um tipo de penetrador, podendo variar de ponta esférica ou cônica de diamante, sendo considerada uma carga principal (kg). A utilização do ensaio de dureza é muito disseminada na indústria metalmecânica, por ser simples e também barata, fornecendo uma estimativa da resistência à tração do material; • ensaio de fadiga: o ensaio de resistência à fadiga tem o objetivo de identificar e estabelecer os res- pectivos limites de tensão e de tempo de uso de um componente, de uma peça ou de um elemento de máquina. Este ensaio também tem o objetivo de estabelecer as respectivas aplicações dos ma- teriais. Durante a execução do ensaio de fadiga, recomenda-se, sempre que possível, que o ensaio seja realizado na própria peça avaliada; quando à impossibilidade de realização nestas condições, recomenda-se utilizar corpos de provas padronizados; • ensaio de torção: quando consideramos a ação de torção, verificamos que a mesma é caracteri- zada de forma bem diferente da ação de compressão, da ação de tração e da ação de cisalhamen- to, uma vez que, nestes casos citados, o esforço é aplicado somente no sentido longitudinal ou transversal e, na torção, o esforço é aplicado no sentido de rotação. Aplicação do ensaio de torção possui uma execução considerada simples, porém, a respectiva obtenção dos resultados depende, necessariamente, da execução de cálculos matemáticos mais complexos. De forma prática, o en- saio de torção não tem uma grande empregabilidade comparado com o ensaio de tração, tendo sua utilidade vinculada de forma mais forte em estudos teóricos de deformações; • ensaio de flexão: o ensaio de flexão é caracterizado por ser realizado em ma- teriais frágeis assim como em materiais resistentes, os quais, em seu uso, são submetidos a várias situações onde o principal esforço solicitado é o esforço de flexão. Para a execução dos ensaios, será acoplado um extensômetro no centro e embaixo do corpo de prova, possibilitando a captação da medida re- presentativa da deformação a qual chamamos de flexa, correspondente à po- sição chamada de flexão máxima; • ensaio de impacto: é executado com o objetivo de submeter o corpo ensaiado a uma força brusca e repentina, a qual deve proporcionar o rompimento dele. As fraturas originadas do rompimento são produzidas por impacto e podem ser caracterizadas como frágeis ou dúcteis, onde as fraturas frágeis apresentam um aspecto totalmente cristalino e as fraturas dúcteis demonstram uma apa- rência fibrosa ao longo da secção rompida. Neste sentido, os materiais frágeis tendem a romper sem nenhuma deformação plástica existente, ocorrendo a ruptura de forma brusca. Devido a isso, consideramos que estes materiais não possuem sua utilização recomendada para aplicações, caso ocorram solicita- ções de esforços bruscos, tais como eixos de máquinas, bielas, etc. 95METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS Os ensaios não destrutivos são testes que têm como o objetivo principal, a garantia da qualidade dos componentes ou peças avaliadas, podendo serem aca- badas ou semiacabadas, considerando a possível detecção de faltas de homogenei- dade ou defeitos, sendo esta avaliação realizada através de princípios físicos defi- nidos, sem prejudicar a posterior utilização dos componentes ou peças avaliadas. Os ensaios não destrutivos são classificados como uma das principais ferramentas do Controle da Qualidade e são largamente utilizados em processos de inspeção de componentes e peças soldadas, fundidas, forjadas, laminadas, dentre outas, tam- bém com uma atuação destacada em processos dos setores petroquímico, nuclear, aeroespacial, siderúrgico, naval, autopeças e transporte rodoferroviário. Dentre os ensaios não destrutivos existentes, podemos enumerar os mais comumente utilizados: • ensaio visual: considerado o primeiro método de ensaio não destrutivo utili- zado pelo homem aos metais, quando comparamos os custos atrelados, ele é o ensaio mais barato, usado em todos os ramos da indústria. De forma bási- ca, a inspeção visual exige um estabelecimento claro, correto dos critérios de aceitação e rejeição, estabelecidos para o componente ou peça que está sendo inspecionada. Para a realização do mesmo, existe a necessidade de inspetores treinados e especializados; 96METROLOGIA E ENSAIOS SUMÁRIO • ensaios de ultrassom: é um dos ensaios não destrutivo mais difundidos nas indústrias, sua utilização está baseada na aplicação para a detecção de descontinuidades em qualquer vo- lume existente, assim como a disponibilidade de utilização tanto em metais ferrosos ou não ferrosos, como em não metais. A base de funcionamento do ultrassom está na emissão de ondas ultrassônicas, emitidas por um transdutor, que possam percorrer o material a ser en- saiado, realizando a efetiva verificação dos ecos recebidos por ele ou por outro transdutor instalado. Vale lembrar que qualquer som é o resultado real da propagação de certas vibra- ções mecânicas através de um meio material, carregando a energia e não matéria, onde essas ondas, ao atingir o ouvido, produzirão uma sensação sonora. Assim como uma onda sonora tem a capacidade de refletir ao incidir num anteparo existente, a onda ultrassônica, quando do percurso em um meio considerado elástico, também refletirá da mesma forma, ao incidir numa descontinuidade existente ou falha interna existente. Com os aparelhos existentes, é possível detectar as reflexões que são originárias do interior da peça avaliada, sendo possí- vel a correta interpretação das descontinuidades. SINOPSE Através do quarto e quinto capítulos, foi possível conhecer a interação e a importância dos en- saios no mundo metrológico e a sua real importância de aprendizado às indústrias. Foi possível co- nhecer os ensaios destrutivos e os ensaios não destrutivos, com exemplos de cada um deles, assim como suas respectivas aplicações e características. • ensaio de líquido penetrante: é o ensaio que consiste no processo de apli- cação de um líquido, no componente ou peça ensaiada, a qual o líquido tem a função de penetrar em uma possível abertura da descontinuidade que pos- sa existir na peça e, posteriormente, após a remoção do excesso existente, será aplicado no mesmo componente ou peça ensaiada, um líquido reve- lador que atuará possibilitando a visualização de uma imagem da descon- tinuidade, onde o líquido penetrante contrastando com o revelador, ficará visível a possível falha; • ensaios de partículas magnéticas: é um ensaio largamente utilizado nas in- dústrias com o objetivo de detectar descontinuidades superficiais e subsu- perficiais com até, aproximadamente, 3 mm de profundidade, em materiais ferromagnéticos. O processo consiste em submeter o componente ou a peça ensaiada, ou até mesmo parte desta, a um campo magnético, sendo que na região magnetizada da peça, as possíveis descontinuidades poderão causar, se existirem, um campo de fuga do fluxo magnético, neste sentido, forman- do com a respectiva aplicação das partículas ferromagnéticas, provocará a aglomeração das mesmas nos campos de fuga, devido ao processo de atração proveniente do surgimento de polos magnéticos. A respectiva aglomeração indicará o local do contorno do campo de fuga, fornecendo a visualização do formato e da extensão da extensão da descontinuidade; 97METROLOGIA E ENSAIOS EXERCÍCIOS SUMÁRIO 1. Qual a divisão de classes existente e qual a sua classi- ficação quanto aos ensaios de materiais? 2. Defina ensaios destrutivos. 3. Defina ensaios de flexão. 98METROLOGIA E ENSAIOS GABARITO SUMÁRIO 1. Qual a divisão de classes existente e qual a sua classificação quanto aos ensaios de materiais? Basicamente, os ensaios dos materiais são divididos em duas classes, que procuram classi- ficar quanto à integridade geométricae dimensional da peça ou componente ou quanto à veloci- dade de aplicação da carga. 2. Defina ensaios destrutivos. Basicamente, a definição e classificação de ensaios destrutivos está atrelada ao conceito de submeter um componente ou peça, podendo estar em meio ao processo produtivo ou com o acabamento, sendo que os ensaios deixarão alguma marca ou sinal no componente ou peça que será objeto do ensaio. Nestas condições, os ensaios destrutivos podem até mesmo inutilizar os componentes ou pelas. 3. Defina ensaios de flexão. O ensaio de flexão é caracterizado por ser realizado em materiais frágeis assim como em ma- teriais resistentes. Em seu uso, são submetidos a várias situações onde o principal esforço solicita- do é o esforço de flexão. Para a execução dos ensaios, será acoplado um extensômetro no centro e embaixo do corpo de prova, possibilitando a captação da medida representativa da deformação, que chamamos de flexa, correspondente à posição chamada de flexão máxima. 99METROLOGIA E ENSAIOS REFERÊNCIAS SUMÁRIO ALBACKERLI, A. J. Metrologia para a Qualidade. Elsevier Editora. Rio de Janeiro, 2015. ALBERTAZZI, A. G. Jr.; SOUZA, A. R. Fundamentos de Metrologia Científica e Industrial. Editora Manole Ltda. São Paulo, 2018. BICHO, G. G.; VALLE B. A Nova norma para laboratórios de Ensaio e Calibração. In: Revista Metrologia Ins- trumentação – Laboratórios & Controle de Processos, Ano II, n 11, abril de 2002. BOSCH, J.A. Coordinate Measuring Machines and Systems. ISBN 0-8247-95814. Marcel Dekker, INC, 443p. New York. 1995. COUTINHO, M. A. Implementação dos requisitos da norma ABNT ISO/IEC 17025 a laboratórios: uma proposta de ações para reduzir a incidência de não conformidades nos processos de concessão e manutenção da acreditação pela Cgcre/Inmetro. 2004. 122 f. Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Uni- versidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total. Niterói, Rio de Janeiro, 7 de junho de 2004. INMETRO. Metrologia Legal. http://www.inmetro.gov.br/metlegal/rnml.asp acessado em 28/10/2019. ILAC (2010). The Advantages of Being an Accredited Laboratory. International Laboratory Accreditation Cooperation, Silverwater, Autralia. IPQ, Vocabulário Internacional de Metrologia - 1ª Edição Luso-Brasileira, JCGM 200:2012, Caparica, 2012. FERNANDES, W. A. O Movimento da Qualidade no Brasil. Essencial Ideia Publishing. 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Dissertação de Mestrado Acadêmico apresentada à Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Enge- nharia Mecânica, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica, Campinas, SP. 2009. Histórico e conceitos A metrologia e sua evolução Sistema Internacional de unidades – SI. Erros de medições e suas causas Certificados de laboratórios Sinopse da unidade Instrumentos de medição, equipamentos de medição e padrões de referências Tipos e características dos instrumentos de medição. Tipos e características dos padrões de referência Sinopse da unidade Equipamentos de medição convencionais e específicos Equipamentos de medição específicos Equipamentos de medição convencionais Máquinas de medição por coordenadas Calibradores e verificadores Sinopse da unidade Tolerâncias, ajustes e incertezas Tolerâncias e ajustes Incerteza de medição Ensaios Ensaios mecânicos dos metais Ensaios destrutivos Ensaios não destrutivos SINOPSE