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Teoria da Arquitetura I (3)

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SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos Santos. A cidade como um jogo de cartas. Niterói: Universidade Federal Fluminense: EDUFF. São Paulo Editores, 1988.
GABRIEL LUCAS MENDES/ Teoria da Arquitetura e Urbanismo I 
O livro A Cidade como um jogo de cartas de 1985, do arquiteto Carlos Nelson, trata-se de um sistema de diretrizes urbanísticas baseadas no estudo de seis cidades que estavam sendo implantadas no estado de Roraima. Esse material tem o intuito de indicar como elas deveriam se desenvolver, tendo em vista sua infraestrutura física e social. Carlos enxergou nessa tese a oportunidade de ajudar no planejamento e desenvolvimento dessas cidades e de concluir o seu objetivo de ser professor titular da escola de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFNiterói).
Essas cidades foram criadas em 1982 através da ação do governo federal em conjunto com o estadual de Roraima, tendo por intuito aumentar a densidade demográfica do Estado, que até então era baixa. Eles acreditavam ser mais economicamente viável possuir um estado mais povoado, pois assim haveria ampliação do recolhimento de impostos, circulação de capital, fortalecimento do comércio e otimização das despesas de serviços públicos, uma vez que o aumento da população os serviços deveriam ser melhores distribuídos. Desse modo, após uma série de estudos e processos burocráticos, foi possível prever a existência de demanda populacional para esse movimento e, iniciar o procedimento em um momento em que o pais já havia passado por situações semelhantes em grandes proporções como: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Acre que, possibilitou um conhecimento prévio sobre os possíveis impactos desse evento, e o que poderia ser feito como prevenção de futuros problemas por parte do governo. 
O autor também questiona o papel do arquiteto urbanista no planejamento das cidades ao longo do livro, indicando a sua importância, e levantando críticas sobre as atitudes de alguns desses profissionais. Uma dessas atitudes é a vitimização quando questionados sobre a suas ações durante um processo urbanista, onde há a alegação de não possuírem força política para colocar em prática tudo aquilo que planejaram, e que por mais que tenham boas ideias elas nem sempre são executadas, ficando o controle centralizado nos governantes. Afirma também que, muitos desses profissionais, se fixam em fórmulas matemáticas de distribuição espacial dos lotes, e na estética da cidade, esquecendo-se por muitas vezes das características das populações que habitam esses espaços, ou das que futuramente os habitarão. No livro, o autor não isenta de críticas o papel de outros profissionais envolvidos no planejamento das cidades, são eles governantes, engenheiros e políticos, alegando que em conjunto com os arquitetos projetam a cidade exclusivamente conforme suas convicções, não se preocupando com a necessidade e hábitos da população. Assim, é imposto um pensamento elitista, que não leva em consideração a maneira como a grande massa populacional mais pobre enxerga a cidade, e escolhe viver, em quais locais ocuparem, e de qual modo. Esse pensamento dificulta muito a eficácia dos projetos urbanos, pois a população tem o poder de inviabilizar ou consolidar qualquer planejamento para uma cidade, de acordo com a forma em que elas vivem e se adaptam ao meio.
O autor colocou esse título em sua obra com o intuito de comparar a dinâmica do desenvolvimento de uma cidade, que é muito antigo na história da humanidade, com os jogos de cartas, que também é carregado de uma bagagem histórica e uma popularidade muito grande. Ao tomar essa atitude ele coloca em evidência a ideia de que uma cidade é uma cadeia complexa de interações e crescimentos, de tal forma que se faz necessário por parte de todos os seus integrantes seu entendimento, para que eles possam interagir de maneira eficiente nesse ambiente. Ele quis dizer que a convivência numa cidade é como um jogo de cartas, no qual os lotes são as cartas, as regras são as leis, e os jogadores são todos aqueles que vivem naquele espaço, tornando-se fundamental o entendimento mútuo da dinâmica desse “jogo”, para que assim possam se comportar e se relacionarem com o espaço e entre si, de modo que cada um conquiste a sua vitória, que nesse contexto se enquadra como qualidade de vida.
 Algumas medidas foram indicadas no texto para construir um projeto urbanístico eficiente no desenvolvimento das cidades como, a divisão dos quarteirões em vários tipos de lotes, misturando os padrões de níveis sociais, de modo que se mantenha um bom relacionamento entre as pessoas, oportunidade de bons empregos para os menos abastados e diminuição da violência. É importante também desenvolver ruas com muitas interseções e quarteirões relativamente pequenos em algumas quadras, para estimular o movimento de carros e pessoas aumentando, dessa forma, o atrativo para comércios e serviços, tornando as regiões mais seguras. O autor acredita que os quarteirões precisam ter lotes com dimensões definidas, tendo em média 10 metros de largura e 20 metros de profundidade, e que esses lotes devem ser inseridos em quadras, de modo que se formem bairros com 9 quadras e 4 vizinhanças, para que se atenda a necessidade da população, tanto para habitação quanto para a construção de espaços públicos como creches, escolas, praças através do espaço livre nesses bairros.
Analisando a obra de Carlos Nelson, conclui-se que para o equilíbrio de um sistema urbano é fundamental a valorização da sociedade como um todo, não só dividir os perímetros urbanos através de fórmulas aritméticas, como também fornecer às pessoas, no geral, oportunidades de emprego, educação, lazer, moradia de qualidade e transporte público eficiente, buscando assim uma sociedade igualitária, para que haja um bom convívio entre todos. A visão da cidade como um jogo de cartas em si não é um problema, pois se faz necessário aprender a conviver nela, o erro é quando ele é permeado pela injustiça, pois todos os jogadores devem ter a oportunidade de conhecer as regras e ter todo o suporte que os possibilitem atuar no jogo.

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