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Teoria da Arquitetura I (7)

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BENEVOLO, L. As origens da urbanística moderna. 3 ed.Lisboa: Editorial Presença, 
GABRIEL LUCAS MENDES/ Teoria da Arquitetura e Urbanismo I 
O livro “A Origem da urbanística moderna” do arquiteto urbanista Leonardo Benevolo aborda o tema de maneira apurada ao longo dos capítulos, utilizando plantas, pensamentos filosóficos, além do conhecimento histórico, para indicar a sequência de fatos que trouxeram ao mundo uma nova visão. Ao longo do prefácio ele cita a relação entre política e economia com o urbanismo, demonstrando a sua importância e o prejuízo da sua ausência, usando como referência a Inglaterra do século 18, a qual tinha passado por uma série de transformações sociais e tecnológicas naquele período, em razão da Revolução Industrial. As transformações ocorridas nesse país se deram sem nenhum tipo de planejamento amplo de desenvolvimento das suas cidades industriais, de modo que todos os seus habitantes fossem atingidos. Todas as consequências dessas mudanças determinaram a trajetória do humanismo moderno, apresentando uma dinâmica de desenvolvimento nunca antes vista.
Naquele período a visão urbanística era utilizada a posteriori dos problemas da cidade, ou seja, era apenas uma medida de correção e não de prevenção, pois não havia ainda conhecimento sobre a dimensão dos efeitos do fenômeno urbanístico nos municípios. Desse modo, ela era dividida em duas vertentes, a primeira com cunho muito ideológico, pois propunha impor vivências baseadas em padrões exclusivamente teóricos de como a cidade deveria ser, simulando que ela estaria partindo de um ponto inicial, negligenciando o que já havia ocorrido. A segunda, com tendência a atitudes excludentes ineficazes em longo prazo, pois trata desse tema através de correções de problemas selecionados por exclusividade, negligenciando as suas conexões. O autor aborda também sobre a visão política que se configurava como apenas um mecanismo de manutenção do poder constituído, que visava o enriquecimento de grupos dominantes sem se importar com a prática de medidas que atendessem população de um território. Benevollo evidencia a necessidade de a política econômica se relacionar com a sociedade de modo contínuo, uma vez que, as condições de trabalho mudam com constância e exigem novas soluções às novas adversidades que surgem.
 	Benevolo aborda o grande crescimento populacional em Manchester na Inglaterra a partir de 1760, isso porque a cidade havia aderido ao modelo industrial como carro-chefe da sua economia, tornando-se assim um grande interesse de habitantes do campo do país, pois essas famílias ficaram sem fonte de renda em função da política de vedação que uniformizou áreas que antes eram divididas em várias, deixando muitos pequenos produtores sem terra. Desse modo, a cidade industrial tornou-se extremamente atrativa, pois ela oferecia muitos empregos e a esperança do surgimento de uma nova sociedade mais evoluída tendo em vista o crescimento contínuo da tecnologia. 
A consequência desse evento foi uma transformação total na divisão do espaço, na paisagem e no modo de vida da população dessas cidades, obrigando os trabalhadores das fábricas a viverem em bairros compactos superpovoados e com baixíssima infraestrutura onde as ruas eras compostas por esgoto a céu aberto. Não havia nenhum tipo de planejamento por parte dos governantes que propiciasse moradias decentes e organizadas a esses trabalhadores, obrigando-os a se alojarem nessas regiões insalubres e incomodas. À medida que a cidade crescia os seus lotes eram mais valorizados, tanto os espaços vazios como os já ocupados que apresentavam aluguéis cada vez mais caros, obrigando os operários a aumentarem a sua jornada de trabalho e até colocarem seus filhos ainda crianças para trabalhar. Os espaços vagos geraram o surgimento de especuladores imobiliários, que eram pessoas abastadas que adquiriam esses terrenos vazios, não ocupavam e só os vendiam no momento em que o seu preço se elevasse muito. 
Todo esse ciclo de desorganização do espaço e falta de envolvimento político social só propiciava uma sociedade cada vez mais desigual em qualidade de vida, privando grupos de higiene básica, o que estimulava a revolta nessa parcela social, que também eram explorados pelas indústrias em que trabalhavam. Contrastando com isso havia pontos da cidade com a mais bela arquitetura e planejamento, tanto na questão de direitos básicos de infraestrutura quanto na estética. Toda essa realidade gerou revolta nos operários que, começaram se organizar por meio de movimentos de rebelião com o objetivo de reivindicar seus direitos como trabalhadores e cidadãos sendo eles aumento salarial e melhor estrutura nas suas casas e ruas. As manifestações se deram também através de debates entre eles, políticos e donos das fábricas, dando o início aos primeiros ideais democráticos de acesso a todos em uma cidade.
Para a instituição de uma sociedade igualitária que ofereça qualidade de vida a todos os seus habitantes, é necessário que a política se relacione diretamente com o urbanismo tendo em vista o alcance de todos os seus grupos sociais, ofertando a dignidade por meio de infraestrutura básica, acessibilidade de locomoção e de ascensão social e econômica. Deve ser concluído também que o planejamento urbano não é eficaz quando visto como apenas um corretor de problemas já existentes, mas sim como uma ferramenta de prevenção de adversidades da cidade, de modo que a sua atuação permaneça constante, pois à medida que a distribuição de atividades profissionais muda, nova necessidades são apresentadas, bem como novas soluções.

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