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TCC 41 Alternativa ao encarceramento envio à justiça restaurativa no processo penal brasileiro para os crimes de violência doméstica

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191R. Fórum de Ci. Crim. – RFCC | Belo Horizonte, ano 4, n. 7, p. 191-219, jan./jun. 2017
Alternativa ao encarceramento: envio à 
justiça restaurativa no processo penal 
brasileiro para os crimes de violência 
doméstica
Ana Julia Aguilera Gomes
Bacharelanda em Direito pela Universidade de São Paulo. Advogada. E-mail: 
<anajuliaaguileragomes@gmail.com>.
Resumo: A justiça penal contemporânea trata o crime apenas como violação à lei penal. Entretanto, além 
dessa perspectiva, os crimes de violência doméstica são conflitos interpessoais entre vítima e agressor 
que afetam os meios familiares, comunitários e sociais. Para acabar com a violência doméstica é preciso 
reconhecer os aspectos específicos desse conflito e então oferecer tratamento adequado aos danos 
e necessidades das partes. Por meio de uma abordagem de justiça restaurativa é possível adaptar o 
processo penal para permitir a participação das partes envolvidas no conflito para alcançar sua resolução. 
Os desafios para a implementação da mediação entre vítima e ofensor como prática de justiça restaurativa 
nos casos de violência doméstica demandam a introdução de mecanismos adequados para proteger as 
vítimas e reintegrar os agressores.
Palavras-chave: Justiça restaurativa. Violência doméstica. Mediação entre vítima e ofensor. Mediação 
penal. Processo penal brasileiro.
Sumário: Introdução – 1 Algumas peculiaridades da violência doméstica – 2 Violência doméstica e a Lei 
Maria da Penha – 3 Justiça restaurativa – O processo penal como instrumento de solução do conflito – 4 
Desafios a serem enfrentados e adaptações necessárias – 5 A proposta de escalonamento da resposta 
punitiva de John Braithwaite e Kathleen Daly – 6 Considerações advindas da experiência europeia – 7 
Proposta para um modelo brasileiro – 8 Conclusão: necessidade de reformas legislativas e a criação de 
um projeto piloto – Referências
Introdução
As falhas da justiça penal contemporânea indicaram a necessidade de “trocar 
as lentes” (ZEHR, 2008) pelas quais se observa o fenômeno delitivo a fim de per-
ceber que, além de uma infração à lei penal, o crime é um conflito cuja solução não 
se reduz à punição, muito menos às gradações de encarceramento estipuladas pela 
lei penal. Com novas lentes, é possível reconhecer as peculiaridades dos diferentes 
tipos de conflitos envolvidos na prática delitiva e, a partir delas, desenvolver aborda-
gens dotadas de efetividade social que promovam soluções transformadoras.
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Os crimes de violência doméstica são geralmente praticados no seio da vida 
privada e familiar e, ao longo da história, foram objeto de inadmissível tolerância 
estatal e social. A luta pelo reconhecimento dos direitos humanos das mulheres 
emergiu a questão pela perspectiva de gênero à esfera pública e deu ensejo a inicia-
tivas punitivas que foram importantes para dar visibilidade a estes crimes e para pro-
mover a intolerância à sua prática. Contudo, foi gerado um sistema excessivamente 
repressivo e formal que limita a transformação do conflito e das partes envolvidas. 
Diante disso, procura-se investigar a possibilidade de composição da política 
criminal de enfrentamento da violência doméstica e os postulados da justiça res-
taurativa no processo penal brasileiro. O tema foi inicialmente enfrentado por meio 
de revisão bibliográfica na elaboração de monografia de conclusão de curso e suas 
conclusões deram ensejo ao presente artigo. Foram estudadas as origens e as prá-
ticas de justiça restaurativa e os crimes de violência doméstica no processo penal 
brasileiro, incluindo observações apontadas por pesquisas empíricas brasileiras e 
estrangeiras e as considerações advindas da experiência de outros países. Ao final 
do trabalho, foi possível elaborar uma proposta para o modelo brasileiro de processo 
penal restaurativo nos crimes de violência doméstica a ser implementado por meio 
de um projeto-piloto multidisciplinar envolvendo o Poder Judiciário, a Universidade e 
a Sociedade.
1 Algumas peculiaridades da violência doméstica
A violência doméstica1 é um conflito desenvolvido entre partes que possuem um 
relacionamento prévio, a princípio, fundado no afeto e em valores partilhados como 
família, moral e religião. Ela raramente é um evento isolado e pode ser resultado 
de um padrão repetitivo no relacionamento interpessoal, desenvolvendo graus de 
agressividade que são escalados a cada etapa e são mais severos a cada repetição 
do ciclo (JACKSON, 2007).
É possível identificar três estágios da violência, no primeiro, a tensão se desen-
volve na relação e a vítima é submetida a formas menos graves de maus tratos, ca-
racterizados em geral pela violência moral e psicológica. A partir do momento em que 
a vítima identifica que as ofensas leves precedem as mais perigosas, elas deixam de 
reagir e passam a se resignar a fim de evitar a escalada do conflito. O segundo está-
gio tende a ser marcado por um episódio abrupto em que ocorrem agressões físicas 
mais graves e cujas consequências conduzem ao remorso característico da terceira 
fase, também conhecida como “lua de mel”. 
1 Um caso concreto de violência doméstica necessita de atenção para os diferentes tipos de agressão, as dinâ-
micas da violência e do relacionamento entre as partes.
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Nessa última etapa do ciclo, a vítima está mais vulnerável e é seduzida pela 
mudança temporária de comportamento do agressor (JACKSON, 2007), deixando de 
denunciá-lo e escondendo as lesões sofridas. Os prejuízos causados à saúde física e 
psicológica da vítima, ao seu patrimônio e à sua moral pelo agressor – denominados 
de vitimização primária – conduzem ou agravam sua situação de hipossuficiência e 
vulnerabilidade e somam-se à inadequação das instituições estatais para ampará-
-las e o despreparo de seus profissionais para tratar esse tipo de conflito. Assim, a 
vítima é submetida à violência institucional chamada vitimização secundária (FOLEY, 
2011, apud FERNANDES, 2015), prevista como a violência praticada ou tolerada por 
agentes do Estado (art. 2º, Convenção Interamericana de Belém do Pará).
As vítimas de violência doméstica geralmente encontram-se em condições es-
peciais de vulnerabilidade e hipossuficiência que são agravadas pelo sofrimento da 
agressão, são elas crianças, idosos, pessoas com deficiência ou do gênero feminino. 
A despeito disso, alguns países, incluindo o Brasil, adotaram restritivamente o critério 
de gênero para a configuração da violência doméstica que, historicamente manteve-se 
privada e sem a intervenção do direito para proteção da agredida. A revelação da gra-
vidade das condutas de agressão e do impacto sobre a saúde das vítimas pelos mo-
vimentos sociais, aliados ao desenvolvimento dos direitos humanos e fundamentais, 
inseriram a questão na vida pública e, posteriormente, na pauta legislativa do Estado.
Além das peculiaridades desse conflito e dos obstáculos encontrados para a 
sua solução, os legisladores encontram dificuldades em oferecer uma definição le-
gal de violência doméstica suficiente, tanto na delimitação das condutas que são 
consideradas como “violência”, quanto nos tipos de relacionamento que são carac-
terizados como “domésticos”. Com isso, aquilo que se considera pelo ordenamento 
jurídico penal como violência doméstica varia conforme a lei penal de cada país. No 
Brasil, a Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha (LMP), é fruto de 
árduo percurso histórico na luta pelo reconhecimento dos direitos humanos da mulher 
e contra a impunidade dos agressores.
2 Violência doméstica e a Lei Maria da Penha
Com a Lei Maria da Penha foram tipificadas condutas de violência física, psico-
lógica, sexual,patrimonial e moral e consideraram-se critérios relacionais, familiares 
ou não, e espaciais para delimitar o âmbito doméstico, incluindo não apenas relações 
com vínculos naturais e jurídicos, mas também socioafetivos. Ou seja, é doméstica 
toda relação íntima de afeto em que agressor e vítima convivam ou tenham convivido 
e que a vítima seja do gênero feminino, independentemente da orientação sexual das 
partes (art. 5º, parágrafo único).
A Lei nº 11.340/2006 inaugurou uma nova etapa na persecução penal dos 
autores e na proteção jurídica das mulheres vítimas de violência doméstica no Brasil. 
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Ela atribuiu à vítima os direitos à informação, à assistência jurídica, à gratuidade da 
assistência judiciária e à proteção, modificando assim o seu papel no processo penal 
parar tornar-se sujeito de direitos que usa o processo como meio para defendê-los. 
Segundo Fernandes (2015), a LMP foi mais do que uma lei repressiva, ela “recriou o 
processo penal, dotando-o de mecanismos para proteger a mulher, recuperar o agres-
sor, romper o ciclo de violência das famílias e assim promover a pacificação social”.
Desse modo, afirma-se que houve a criação do processo penal protetivo de vio-
lência doméstica e do processo criminal de violência doméstica (FERNANDES, 2015). 
Conforme se extrai do estudo “O papel da vítima no processo penal brasileiro”, o 
principal instrumento de implementação da nova política introduzida pela LMP é o 
Juizado de Violência Doméstica e Familiar (JVD). Devido à sua estrutura e funciona-
mento peculiares, o JVD prevê a atuação de uma equipe multidisciplinar e permite 
a participação de profissionais especializados em conflitos de violência doméstica, 
como psicólogas e assistentes sociais.
Contudo, a mesma pesquisa indicou entre as falhas do sistema atual a ineficá-
cia da aplicação das penas em relação à suspensão condicional do processo, eviden-
ciando que a manutenção de medidas protetivas por um período mais longo promove 
melhor a proteção da vítima do que a pena com duração de poucos meses. A inicia-
tiva punitiva foi importante, mas a sua aplicação apresentou falhas que continuam 
expondo as vítimas à vulnerabilidade, restringindo a justiça à punição e ao cárcere e 
impedindo a solução do conflito pela transformação da relação entre as partes.
3 Justiça restaurativa – O processo penal como instrumento de 
solução do conflito
Dada a dimensão interpessoal do conflito de violência doméstica e a necessi-
dade de dar voz à vontade real das vítimas na persecução penal, é necessário que o 
processo penal criminal disponha de meios para conhecer melhor as peculiaridades 
do caso concreto e, uma vez feito isso, é preciso oferecer caminhos alternativos 
aptos a encontrar formas adequadas de pacificação.
A justiça restaurativa (EGLASH, 1977) busca transformar o modo punitivo e es-
tigmatizante como a justiça penal contemporânea se refere ao crime para substituí-lo 
por um modelo de justiça reparadora centrado na comunidade e no controle social 
moralizante. Por meio dessas práticas, afirma-se que é possível alcançar um controle 
mais efetivo da criminalidade, além de promover uma experiência de justiça mais 
significativa e satisfatória para as vítimas, efetiva responsabilização e reintegração 
dos ofensores e redução dos gastos orçamentários (JOHNSTONE; VAN NESS, 2011).
São importantes para a justiça restaurativa valores como cura, desculpa e perdão, 
assim como a prevenção da reincidência e a restauração. Seus processos dão oportuni-
dade a todas as partes interessadas no crime de debater qual dano foi causado, o que 
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precisa ser feito para repará-lo e preveni-lo, além de como satisfazer as necessidades 
decorrentes dele. Frequentemente, vítima e ofensor são apoiados por entes queridos 
que os auxiliam a identificar suas feridas e necessidades e os remédios que são 
capazes de oferecer (BRAITHWAITE, 2007). 
Portanto, trata-se de uma política inclusiva, capaz de se adequar às peculiarida-
des do caso concreto e de permitir que as próprias partes desenvolvam soluções que 
atendam melhor às suas necessidades e às de seus familiares, não obstante, ela 
também permite a inserção de mecanismos aptos a proteger a vontade real da vítima. 
Nesse sentido, os profissionais que participam do processo não julgam, acusam e 
defendem a conduta delitiva, mas atuam como facilitadores da comunicação entre as 
partes para que sejam identificadas as causas do conflito e sejam criadas respostas 
capazes de solucioná-las.
Todavia, a aplicação de práticas restaurativas aos crimes de violência domés-
tica é controversa e as críticas se traduzem em desafios reais a serem superados. 
Sobretudo, há o receio de transmitir uma mensagem de tolerância político-criminal 
com a violência doméstica quando mal se verifica uma uníssona intolerância à vio-
lência em âmbito privado e, ainda, que a aplicação uniforme e efetiva da resposta 
punitiva pública está em desenvolvimento. Porém, uma análise mais atenta dessas 
críticas é capaz de identificar necessidades de adaptações do processo, ao invés de 
proibições absolutas.
4 Desafios a serem enfrentados e adaptações necessárias
As oposições à aplicação da justiça restaurativa para os crimes de violência 
doméstica podem ser organizadas em dois grupos: o primeiro abrange as críticas 
relacionadas à reprivatização do conflito penal de violência doméstica, enquanto o 
segundo refere-se à peculiar desigualdade entre ofensor e vítima decorrente da intimi-
dação e vulnerabilidade na relação familiar e conjugal, esta ainda pode ser reforçada 
pela desigualdade de gênero.
As preocupações do primeiro grupo se referem à história da repressão penal à 
violência doméstica, que contou com um longo caminho inicial em que condutas com 
resultados gravíssimos ficavam impunes, escondidas pelos muros da relação privada 
e da suposta privacidade familiar. Hoje, ainda que muito tenha sido conquistado, não 
é possível afirmar que haja um reconhecimento pleno da gravidade e peculiaridade 
dos crimes de violência doméstica e uma intolerância uniforme quanto à sua prática 
(FREDERICK; LIZDAS, 2009).
A comunidade tem um papel importante na confirmação da visão do agressor 
como vítima e não como algoz, especialmente as pessoas mais próximas cujas opi-
niões são mais relevantes (COKER, 2002, apud EDWARDS; SHARPE, 2004). Nesse 
sentido, a justiça restaurativa poderia implicar a ausência de resposta penal e favorecer 
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a percepção comunitária de que a conduta do agressor não é grave, “tanto que nem 
sequer é punida como crime” (SANTOS, 2011), por isso críticos afirmam ser indispen-
sável a resposta punitiva do Estado.
No entanto, verifica-se que há duas situações distintas. A primeira é aquela que 
mantém o conflito em uma esfera de privacidade que não conhece alternativa, pois 
não existe resposta penal e, assim, limita a vontade e a autonomia das vítimas e pro-
move a impunidade do agressor. Enquanto a segunda trata do conflito em uma esfera 
de privacidade em virtude da livre escolha das partes, que afirmam sua vontade e 
autonomia ao afastar a alternativa da resposta penal, ou seja, o processo penal cri-
minal continua existindo, porém, as partes podem optar por um caminho alternativo. 
Soma-se a isso o fato de que a admissibilidade da justiça restaurativa não implica a 
reprivatização da resposta ao conflito se ela ocorrer vinculada ao sistema judicial e 
for regulada e administrada pelo Estado. 
Resta ainda o receio de sugerir à comunidade uma certa tolerância político-
-criminal aoscrimes de violência doméstica. Contudo, essa crítica ignora que a into-
lerância a esses delitos não advém apenas dos símbolos usados pela justiça penal 
contemporânea, mas da eficácia na pacificação efetiva do conflito na forma desejada 
pelas partes e da satisfação das suas necessidades e interesses (SANTOS, 2011; 
OLIVEIRA, 2007, p. 65). 
As práticas que envolvem diálogo com a participação da vítima e do agressor 
podem confundir a mensagem transmitida às partes, sugerindo que ambas são res-
ponsáveis pelo conflito e por encontrar uma solução. No entanto, a possibilidade de 
mudança no comportamento do agressor ocorre quando ele percebe o próprio erro e 
que ele mesmo, e não a vítima, é totalmente responsável por sua conduta agressiva 
e por mudá-la. Desse modo, é fundamental que o processo restaurativo em violência 
doméstica seja pensado de forma a transmitir uma mensagem clara e precisa acerca 
da responsabilidade pela violência.
A prática restaurativa também precisa reconhecer que há uma situação de peri-
go permanente devido à resistência da vítima ao controle e à autoridade do agressor 
(FREDERICK; LIZDAS, 2003, p. 29) e pressupor que existe uma ameaça real de vio-
lência no futuro, tanto para a vítima, como para qualquer pessoa envolvida, incluindo 
desde familiares e a comunidade até os próprios facilitadores. Assim, o processo 
deve ser estruturado para garantir a segurança física e emocional da vítima, especial-
mente quando em contato com o agressor. Caso contrário, a prática vai submetê-la a 
maiores riscos de revitimização ou vitimização secundária. 
Apesar disso, ainda que seja garantida a segurança durante o processo, o con-
trole exercido pelo agressor sobre a vítima de violência doméstica é perigoso e pode 
ocorrer de forma velada, sem que os demais participantes percebam e possam in-
tervir. Inclusive, a coerção do agressor pode influenciar até mesmo a escolha pela 
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alternativa restaurativa.2 Isso dificultaria, ou até impossibilitaria, a livre participação 
da vítima ao longo do procedimento, especialmente porque as práticas restaurativas 
pressupõem que ela será capaz de expor suas necessidades e interesses e negociar 
a melhor forma de satisfazê-los. 
Nesse sentido, ao mesmo tempo que a complexa dinâmica do relacionamento 
abusivo entre as partes não pode ser subestimada, ela é parte significativa do problema 
e sua neutralização é indispensável para assegurar a efetiva pacificação do conflito. Ou 
seja, o controle exercido pelo agressor sobre a vítima deve ser objeto da formação es-
pecífica dos profissionais facilitadores e precisa ser diretamente abordado no processo, 
por exemplo, durante uma etapa preliminar de preparação das partes individualmente.
Além disso, a existência de filtros de segurança é capaz de manter sob con-
trole essa questão: a concordância da vítima em participar,3 que pode ser retirada 
a qualquer momento do processo e retomar a via judicial,4 e o papel do facilitador 
de intervir e verificar ao longo do procedimento a livre manifestação de vontade das 
partes por meio de técnicas específicas. Um último filtro de segurança seria a própria 
seleção dos casos, vale dizer, a justiça restaurativa como alternativa ao processo pe-
nal criminal não supõe ser uma resposta universal, pelo contrário, sua adequação em 
concreto é objeto de análise pelas próprias partes e pelos profissionais envolvidos no 
processo, não só na fase inicial, como nas fases subsequentes.
Desse modo, dois aspectos são indispensáveis para cogitar a aplicação da jus-
tiça restaurativa aos casos de violência doméstica: o primeiro refere-se à habilidade 
do mediador e à necessidade de passar por formação e treinamento especificamente 
voltados para a violência doméstica e as dinâmicas de controle da relação entre 
agressor e vítima. O segundo é a necessidade de adaptar a prática de justiça res-
taurativa para lidar com esse tipo de conflito específico, ou seja, não basta aplicar 
um modelo genérico, é necessário que ele seja especialmente adaptado e que sua 
implementação seja constantemente observada e avaliada para identificar possíveis 
falhas e acrescentar melhorias. 
A prática restaurativa deve ser compreendida como adequada apenas para casos 
específicos e como uma dentre diversas opções disponíveis às partes, além disso, 
sua aplicação é possível apenas em conjunto com o sistema judicial e dependendo 
2 Diversos fatores podem influenciar a escolha pela alternativa ao processo penal criminal, por exemplo, o 
agressor pode ser motivado pela perspectiva de “sair impune” ao final do processo. Trata-se de uma dinâmica 
complexa que deve ser tratada por profissionais especialmente treinados, devendo o processo ser estruturado 
de forma a dar espaço e liberdade para a atuação efetiva desses profissionais.
3 Destaca-se que a manifestação de vontade da vítima em participar da justiça restaurativa só pode ocorrer quando 
ela estiver sendo assistida por advogado, ou seja, juiz e promotor não podem diretamente fazer a sugestão a ela, 
somente durante conversa privada com a advogada e os facilitadores que se deve apresentar a proposta, de modo 
que a vítima não se sinta coagida e possa recusar. Ainda, o governo deve oferecer gratuitamente informações 
claras e exaustivas sobre o processo restaurativo e suas implicações jurídicas para as partes e o conflito.
4 A prática de justiça restaurativa é essencialmente voluntária. Por isso, a voluntariedade é aferida não apenas na 
fase inicial quando a parte escolhe participar, mas também durante todo o procedimento. De modo que tanto a 
parte quanto os facilitadores podem verificar deficiências na voluntariedade e parar o processo restaurativo.
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do processo utilizado. Nesse caso, deve-se ter maior cautela com as práticas que 
envolvem grande quantidade de participantes na medida em que dificultem a obser-
vação e a intervenção do facilitador.5 Ainda, ficam completamente afastadas aquelas 
desenvolvidas por facilitadores leigos, como os conselhos comunitários.
É preciso reconhecer que a justiça penal contemporânea também tem falhas e 
limitações e que as necessidades das vítimas não são a preocupação principal da 
abordagem punitivista.6 Assim, a proposta é sair dessa perspectiva voltada à punição 
do agressor e da resposta única (one size fits all), para se concentrar nas peculia-
ridades do caso concreto e na pacificação da dimensão interpessoal desse conflito 
concedendo maior atenção à vítima. Para isso, é necessário oferecer alternativas que 
se adaptem para satisfazer as necessidades e interesses decorrentes de cada caso.
A garantia da resposta punitiva estatal para os crimes de violência doméstica foi 
um primeiro passo indispensável para afirmar a intolerância a esses crimes e proteger 
a integridade física e psicológica das vítimas. Mas, uma vez garantida, é possível dar 
um segundo passo para reconhecer a autodeterminação dessas vítimas e lhes permitir 
escolher entre esta e outra forma de resposta, a que seja mais adequada à satisfação 
dos seus interesses e necessidades. Para isso, devem ser incluídos mecanismos que 
promovam o fortalecimento e “empoderamento” da vítima, para que ela seja capaz de 
agir prevenindo e parando a agressão e de contribuir para a afirmação da intolerância 
à violência doméstica, reduzindo a subnotificação e solucionando o conflito.
5 A proposta de escalonamento da resposta punitiva de John 
Braithwaite e Kathleen Daly
Braithwaite e Daly (1994) resumem as falhas da justiça penal contemporânea 
em responder à violência de homens contra mulheres em três pontos: 
1. A maioria dos homens não são responsabilizados por atos de violência 
contra mulheres com asquais se relacionam intimamente: seja porque as 
mulheres não denunciam, ou em decorrência da indiferença das autoridades 
envolvidas na persecução penal ou por inadequada aplicação de institutos 
processuais, como a suspensão condicional do processo.
2. Os homens que são presos e processados por atos de violência contra a mulher 
podem anteriormente ter ficado impunes e podem ter entranhado padrões de 
5 A questão da tolerância cultural à violência doméstica tende a desqualificar e banalizar a conduta do agressor, 
de tal modo que poderia colocar em risco as práticas restaurativas de justiça comunitária, como os Círculos, 
as Conferências e os Conselhos, aumentando a probabilidade de vitimização secundária.
6 Estudos demonstram que as vítimas não recorrem à justiça para obter punição ou vingança, mas para con-
seguir proteção e resolução do problema. Por exemplo, em pesquisa realizada na Delegacia Especializada de 
Atendimento à Mulher de Santa Maria-RS, verificou-se que 78,4% das mulheres que registraram boletim de 
ocorrência não desejaram processar o agressor (STUCKER, 2014). A esse respeito ver também a pesquisa 
sobre “O papel da vítima no processo penal” (ALVAREZ, 2011).
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abuso e agressão contra mulheres: quando a condenação deixa de ocorrer 
sucessivamente, agressores reincidentes solidificam o comportamento 
abusivo. Consequentemente, a reabilitação falha, seja porque o histórico 
de violência está avançado demais, ou porque a prisão não é apta para a 
recuperação, ou porque ocorre em um contexto de estigmatização social do 
condenado em que ele mesmo acredita que sua conduta era normal.
3. Mulheres vitimizadas pela violência dos homens são revitimizadas pelo 
processo penal criminal: as denúncias das mulheres podem não ser levadas 
a sério pelo sistema judicial, algumas vítimas têm vergonha de denunciar, 
o processo penal silencia a vítima ao não permitir que ela conte a própria 
história da sua maneira e não lhe oferecendo a oportunidade de dizer o que 
ela acha que deveria acontecer com o agressor.
A partir dessas falhas, propõe-se uma mudança de paradigma7 e a inserção da justiça 
restaurativa8 em uma pirâmide de enforcement da violência doméstica assim estruturada:
Figura 1 – Domestic Violence Enforcement Pyramid
Fonte: BRAITHWAITE; DALY, 1994, p. 230.
7 Baseada na vergonha reintegrativa (reintegrative shame) desenvolvida pela comunidade, no fortalecimento 
e “empoderamento” da comunidade e das ví timas, permitindo que estas tenham voz no procedimento e 
influê ncia sobre os resultados e que aquela garanta a seguranç a da ví tima no futuro.
8 A proposta de Braithwaite e Daly se refere especificamente à s conferê ncias comunitá rias.
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Nesse modelo há diferentes etapas de enforcement com maior ou menor 
intervenção estatal que procuram tratar o conflito desde a sua gênese, evitando o 
escalonamento e a naturalização da violência por meio da autopercepção e correção 
do ofensor e, a partir disso, respostas ao conflito em ordem crescente de intervenção 
social e estatal, desde a confrontação pelos familiares até chegar ao processo penal 
criminal em que podem ser aplicadas medidas protetivas e, em último caso, conde-
nação e aplicação da pena de prisão.
Segundo os autores, o objetivo não é a substituição do formalismo pelo informa-
lismo, mas um formalismo que “empodera” e constitucionaliza o informalismo ao dar 
preferência para resolver os problemas na base da pirâmide, mas, se não for possível, 
eles serão confrontados nos níveis mais altos (BRAITHWAITE; DALY, 1994, p. 231).
Assim, demonstra-se que a resposta punitiva não precisa vir unicamente por 
meio de uma política criminal de exclusão e que uma política inclusiva não necessa-
riamente deve afastar a hipótese punitiva. Pelo contrário, ambos os sistemas podem 
se interpenetrar para compor um sistema voltado à efetividade a partir da satisfação 
das necessidades e interesses da vítima, sem que haja, de um lado, negligência e 
impunidade, e do outro, silenciamento e punitivismo. Esse modelo é importante, pois 
é neste contexto que as mudanças no processo penal que serão propostas à frente 
devem ser implementadas.
6 Considerações advindas da experiência europeia
Em 2012, foi editada a Diretiva 2012/29/UE do Parlamento Europeu e Conselho 
com o objetivo de garantir às vítimas da criminalidade acesso à informação, apoio e 
proteção adequados, além de sua participação no processo penal. A referida norma 
incluiu ainda disposições específicas acerca de garantias para a prática da justiça 
restaurativa.
Com base nesta e outras normas internacionais, foi iniciado em fevereiro de 
2014 o projeto de dois anos intitulado Restorative Justice in cases of domestic vio-
lence: Best practice examples between increasing mutual understanding and awa-
reness of specific protection needs (JUST/2013/JPEN/AG/5487).9 O projeto teve 
a finalidade de pesquisar a aplicação da justiça restaurativa nos casos de violência 
doméstica, especialmente a violência entre parceiros íntimos, e verificar como as 
práticas restaurativas podem ser usadas nesse caso específico. A partir do estudo 
de relatórios enviados por seis países diferentes,10 foi possível criar um guia prático 
para a implementação e desenvolvimento da mediação entre vítima e ofensor, cujas 
recomendações serão consideradas por este trabalho na elaboração da proposta 
para o processo penal brasileiro.
9 Financiado pela Comissão Europeia e coordenado pelo Instituto Verwey-Jonker.
10 São eles Áustria, Dinamarca, Finlândia, Grécia, Holanda e Reino Unido (Inglaterra e País de Gales).
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6.1 Os direitos das vítimas na Diretiva 2012/29/UE do 
Parlamento Europeu e Conselho
Os direitos das vítimas foram previstos e organizados em três capítulos relati-
vos à prestação de informações e apoio (capítulo dois11), à participação no processo 
penal (capítulo três12) e à proteção e reconhecimento das vítimas com necessidades 
especiais (capítulo quatro13), além da formação dos profissionais e da cooperação e 
coordenação dos serviços (artigos 25 e 26, respectivamente).
Especificamente acerca das práticas de justiça restaurativa, o artigo 12 prevê o 
“direito a garantias no contexto dos serviços de justiça restaurativa” e afirma que o 
Estado deve facilitar o envio dos processos à justiça restaurativa, por meio de proce-
dimentos ou diretrizes sobre os termos de envio (12.2) e deve assegurar o acesso a 
serviços seguros e competentes (12.1) sob as seguintes condições:
a) os serviços de justiça restaurativa só serem utilizados no interesse da vítima, 
salvo considerações de segurança, e terem como base o consentimento livre 
e informado da vítima, o qual é revogável em qualquer momento;
b) antes de aceitar participar no processo de justiça restaurativa, a vítima 
receber informações completas e imparciais sobre esse processo e sobre 
os seus resultados potenciais, bem como informações sobre as formas de 
supervisão da aplicação de um eventual acordo;
c) o autor do crime tomar conhecimento dos elementos essenciais do processo;
d) o eventual acordo ser concluído a título voluntário e poder ser tido em conta 
em qualquer processo penal ulterior;
e) as discussões não públicas no quadro de processos de justiça restaurativa 
serem confidenciais e o seu teor não ser posteriormente divulgado, salvo 
com o acordo das partes ou caso a legislação nacional assim o preveja por 
razões de reconhecido interesse público.
Também foi prevista a necessidade de formação e treinamento adequado tantodos policiais, advogados, funcionários e autoridades judiciais, como dos profissionais 
que atuam nos serviços de justiça restaurativa (artigo 25), o que é fundamental para 
prevenir a vitimização secundária. Enfim, as disposições dessa norma cooperam de 
11 Como o direito de compreender e de ser compreendido (artigo 3º), o direito de receber informações a partir 
do primeiro contato com as autoridades competentes (artigo 4º), o direito de receber informações sobre o 
processo (artigo 6º), o direito de acesso aos serviços de apoio às vítimas (artigo 8º).
12 Como o direito a ser ouvido (artigo 10), direito no caso de uma decisão não deduzir acusação (artigo 11), 
direito a garantias no contexto dos serviços de justiça restaurativa (artigo 12), direito a apoio judiciário (artigo 
13), direito ao reembolso das despesas (artigo 14), direito à restituição de bens (artigo 15) e o direito a uma 
decisão de indenização pelo autor do crime durante o processo penal (artigo 16).
13 Como o direito à proteção (artigo 18), direito à inexistência de contatos entre a vítima e o autor do crime (artigo 
19), direito à proteção durante as investigações penais (artigo 20), direito à proteção da vida privada (artigo 
21), avaliação individual das vítimas para identificar as suas necessidades específicas de proteção (artigo 22) 
e direito a proteção das vítimas com necessidades específicas durante o processo penal (artigo 23).
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ANA JULIA AGUILERA GOMES
forma importante para o desenvolvimento de uma política de inclusão da vítima no 
processo penal, abrangendo também as práticas restaurativas. 
As previsões da diretiva ganham destaque nos casos de violência doméstica. 
Isso porque se trata de um conflito essencialmente privado, ainda que inserido na 
esfera penal, decorrendo assim a necessidade de tratar as verdadeiras partes, vítima 
e agressor, como sujeitos com direitos processuais e aptos a atuarem no processo. 
Vale dizer, a diretiva contribuiu para refletir na relação processual a relação fática 
entre vítima e agressor, dotando a ofendida de maior proteção e autonomia para 
atender aos seus interesses e necessidades e, portanto, de caráter inclusivo. Assim, 
a norma serve de referência para estudos e pesquisas acerca da justiça restaurativa 
na Europa, como a que será apresentada a seguir.
6.2 Um guia para profissionais: os resultados da pesquisa 
coordenada pelo Verwey-Jonker Institüt e financiado pela 
Comissão Europeia
Em janeiro de 2015, foi publicado o primeiro relatório comparativo como resulta-
do do projeto Restorative Justice in Cases of Domestic Violence – Best practice exam-
ples between increasing mutual understanding and awareness of specific protection 
needs, descrevendo o contexto jurídico e político da prática da justiça restaurativa em 
violência doméstica nos países participantes.
Posteriormente, em novembro do mesmo ano, foi apresentado o segundo 
relatório,14 denominado Victim Offender Mediation: Needs of victims and offenders 
of Intimate Partner Violence, que se refere à pesquisa empírica realizada a partir de 
entrevistas com os participantes e por meio de um “grupo focal”15 em cada país com 
os profissionais que atuam nas práticas restaurativas em violência doméstica.
O estudo apontou que o combate à violência doméstica necessita de diferentes 
mecanismos além da criminalização e punição. São descritas as medidas protetivas, 
especialmente com caráter de urgência, aptas a proteger a vítima contra a escalada 
da violência, e os planos de ação nacionais (National Action Plans – NAPs), que coor-
denam legislações e políticas públicas para atender a compromissos internacionais.16 
Além disso, a oferta de estruturas de apoio às vítimas, como centros de aconselha-
mento, albergues para mulheres, linhas telefônicas de apoio vinte e quatro horas17 e o 
aconselhamento jurídico gratuito. Na Áustria, por exemplo, os centros de intervenção 
ou de proteção contra a violência combinam o suporte psicossocial ao jurídico.
14 O segundo relatório comparativo definiu expressamente a violência doméstica como a violência entre parceiros 
íntimos adultos, enquanto o primeiro não.
15 Do inglês focus group, trata-se de uma técnica de pesquisa qualitativa.
16 Como o artigo 7. II da Convenção de Istanbul.
17 Em inglês hotline ou helpline. No Brasil há, pelo governo, o disque-denúncia, e, pelo terceiro setor, o Centro de 
Valorização da Vida (CVV).
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ALTERNATIVA AO ENCARCERAMENTO: ENVIO À JUSTIçA RESTAURATIVA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO...
São comparadas as previsões legais acerca da justiça restaurativa nos diferen-
tes países, como a implementação de projetos-piloto na Finlândia (década de 1980), 
Áustria (idem), Dinamarca (de 1994 a 1996 e de 1998 a 2003, principalmente) e 
Holanda (na última década), a relação da justiça restaurativa com o sistema judicial, 
as formas de acesso e os critérios de elegibilidade e os mecanismos de reclamação. 
O estudo compara também a prática da justiça restaurativa nos casos de violência 
doméstica pelo aspecto da organização, da formação e treinamento dos mediadores, 
os métodos utilizados, os resultados, os mecanismos de salvaguarda e de proteção 
da vítima e a condução do período de observação ou de supervisão dos acordos. 
Observou-se que a mediação entre vítima e ofensor (VOM) era a prática mais frequen-
temente usada no contexto da violência entre parceiros íntimos.
A pesquisa empírica desenvolvida contribuiu para apontar os acertos e falhas 
dos sistemas do ponto de vista das vítimas, dos ofensores e dos facilitadores, ser-
vindo de base para a última publicação do projeto em janeiro de 2016, intitulada 
Restorative Justice and Domestic Violence – A guide for practitioners (LÜNNEMANN; 
WOLTHIUS, 2016). O guia fixou padrões mínimos para a aplicação das práticas res-
taurativas aos casos de violência doméstica. De acordo com ele, o processo restau-
rativo deve ser organizado em quatro etapas: a proposta da justiça restaurativa, a 
preparação para o processo restaurativo, a troca (o processo restaurativo em sentido 
estrito) e, por fim, o acompanhamento.
i) Primeira etapa: a proposta
Nessa fase inicial, é apresentada a possibilidade do processo restaurativo às 
partes. O envio pode ser feito pelas autoridades públicas, como o juiz ou o policial, ou 
pelas próprias partes, por isso todos os membros do sistema de justiça penal devem 
conhecer os princípios da justiça restaurativa. O método e o estilo de apresentação 
da proposta são determinantes para obter o consentimento das partes,18 sendo fun-
damental garantir que ele seja dado de forma livre, voluntária e informada. Ambas as 
partes devem ter clareza acerca das salvaguardas e opções ao longo do processo, 
como métodos diretos e indiretos de justiça restaurativa.
O consentimento é mais delicado nos casos de violência doméstica, a vítima 
pode estar motivada pela crença em sua própria culpa e perceber ou sofrer verdadeira 
pressão por parte do agressor quanto ao resultado do processo. Desse modo, é fun-
damental que o facilitador seja especialmente treinado e as partes completamente 
informadas sobre o procedimento. Importante ressaltar que o consentimento pode 
18 Alguns autores recomendam que a via alternativa somente deve ser oferecida à vítima após obter o consen-
timento do agressor. Isso porque a parte que der a última palavra tem, em alguma medida, controle sobre a 
aplicação ou não da prática restaurativa, ou seja, o ofensor pode recusar-se a participar diante da vontade da 
vítima em contrário que, nesse caso, pode ser revitimizada por meio do controle do agressor sobre o futuro do 
processo.
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ANA JULIA AGUILERA GOMES
ser retirado a qualquer tempo, mas a parte deve esclarecer os motivosda sua decisão 
devido ao compromisso assumido no início do processo restaurativo e a fim de evitar 
a vitimização secundária ou revitimização.
Quanto aos facilitadores, eles devem atuar em dupla, ser propriamente treina-
dos em violência doméstica e ter vasta experiência com processos de justiça restau-
rativa, de modo a ter consciência sobre a influência das relações prévias ou atuais 
sobre o desenvolvimento do processo e os potenciais riscos da prática, além dos 
efeitos a longo prazo em casos mais complexos e o impacto sobre a duração do 
processo.
O agressor deve concordar com os fatos principais do caso, os acusados que 
negam sua culpa, em geral, não são qualificados para processos restaurativos. E, 
finalmente, os facilitadores são responsáveis pela gestão das expectativas com o 
processo, por isso não devem fazer promessas quanto a possíveis resultados e de-
vem discutir outras opções, caso o processo restaurativo não seja adequado.
ii) Segunda etapa: a preparação
Para esta etapa é necessário pesquisar acerca do caso e haver comunicação 
entre os dois facilitadores e outros profissionais envolvidos. É possível que a primeira 
e a segunda fase ocorram ao mesmo tempo, mas esta tem como requisitos mínimos 
indispensáveis:
a) o contato presencial entre os mediadores e cada um dos potenciais 
participantes;
b) a contínua avaliação de risco para garantir a segurança da vítima e o fim da 
violência;
c) a descrição imparcial do processo para assegurar expectativas realistas;
d) a busca pelo consentimento informado dos participantes ou validação do 
consentimento prévio obtido, por exemplo, pela autoridade que encaminhou 
o caso, e 
e) a oferta aos participantes da oportunidade de refletir acerca da violência, 
da continuidade do relacionamento, perspectivas e oportunidades futuras e, 
sobretudo, suas necessidades.
Devido à complexidade e à necessidade de segurança, os processos de media-
ção penal em violência doméstica devem envolver dois mediadores e, idealmente, 
um de cada gênero (quando vítima e agressor forem de gêneros diferentes). Mas 
esta recomendação pode ser alterada de acordo com a preferência das partes. Assim 
como é fundamental que o encontro seja presencial com cada um dos potenciais 
participantes no início, podendo ser necessário mais de um, de acordo com as carac-
terísticas dos casos.
As informações acerca do consentimento devem ser transmitidas com a cons-
cientização de que, embora permitida a qualquer tempo, a sua retirada pode causar 
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ALTERNATIVA AO ENCARCERAMENTO: ENVIO À JUSTIçA RESTAURATIVA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO...
revitimização e discussão acerca de demais consequências. Também deve ser 
esclarecido o papel dos mediadores, as opções oferecidas às partes durante o 
processo, como terapia, aconselhamento, serviços de saúde e outros, devem aten-
tar para o tempo, informar o limite de duração do processo e mensurar o impacto 
sobre os agendamentos, os planejamentos e os resultados futuros.
Os mediadores devem investigar se as agressões são precedidas por sinais 
comportamentais, verbais ou não, e, caso existam, eles podem monitorar esses 
comportamentos durante as fases posteriores do processo. Outrossim, precisam 
disponibilizar meios para serem facilmente contatados e instruir as partes acerca 
das medidas a serem tomadas em caso de emergência ou fora do horário de funcio-
namento dos serviços de mediação.
iii) Terceira etapa: a troca
A troca é o encontro presencial com a vítima e o agressor, que também pode 
ser realizada por meios indiretos de comunicação, de acordo com a avaliação das 
necessidades das partes. Os mediadores são responsáveis por administrar a sessão 
e criar um ambiente regido pelo respeito e pela equidade e, sobretudo, seguro. Para 
tanto, precisam considerar a sinalização das saídas, o egresso das partes após a 
sessão, a necessidade de salas de descanso e a disponibilidade de entradas e salas 
de espera separadas, se necessário.
Embora cada caso tenha suas características particulares, o objetivo da troca é 
examinar os fatos, os efeitos e os resultados relacionados aos comportamentos, pen-
samentos, sentimentos e necessidades. É indispensável nessa etapa a afirmação da 
lei, que a violência é crime também no âmbito privado e que o agressor é o único res-
ponsável pelo seu comportamento agressivo, assim como focar a atenção na vítima. 
Contudo, os mediadores devem zelar por uma atuação respeitosa e imparcial, 
evitando emitir opiniões que indiquem parcialidade, pois afiliar-se a uma das partes 
pode criar barreiras para a cooperação e o comprometimento com a mudança. A 
importância da imparcialidade reflete-se no relato de alguns ofensores, referindo que 
durante o processo restaurativo fora a primeira vez que se sentiram tratados com 
respeito e sem preconceito.
A troca de informações durante a sessão deve ser aberta e franca e considerar 
dois fatores: o primeiro, que ela pode requerer o consentimento do participante ou 
de uma organização caso sejam reveladas informações para outra organização ou 
participante que em outras circunstâncias seriam mantidas confidenciais; e o se-
gundo, informações acerca dos riscos potenciais devem ser amplamente discutidas, 
incluindo medidas aplicadas, ou aplicáveis, para mitigá-los.
Mesmo que a fase de preparação tenha sido meticulosamente desenvolvida, a 
terceira etapa pode emergir fatos e atos inesperados e, do mesmo modo, os media-
dores precisam estar atentos e aptos a reagir diante dos sinais que precedem ações 
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violentas, identificados durante a preparação. Os facilitadores são responsáveis pelo 
processo e pelo seu resultado, devendo, inclusive, atuar na prevenção da retirada 
do consentimento pelo ofensor e consequente interrupção do procedimento, o que 
poderia causar revitimização. 
iv) Quarta etapa: o acompanhamento
A despeito das diferentes formas de acompanhamento após as sessões, nos 
casos de violência doméstica há cinco aspectos importantes:
a) Verificação do acordo: caso haja um acordo escrito e o processo restaurativo 
esteja vinculado ao sistema judicial, deve ser implementado um mecanismo 
de apreciação (feedback) e haver tempo suficiente para verificar o seu 
completo cumprimento. 
b) Período de monitoramento e observação: durante essa etapa mediador 
mantém contato com os participantes e monitora o conclusão de todos os 
resultados. Ela pode ser aplicada com a finalidade de garantir a segurança 
da vítima.
c) Cuidados subsequentes e apoio suplementar: os cuidados posteriores 
integram a segurança, ainda que a justiça restaurativa deva ser apenas um 
aspecto da reabilitação das partes, elas podem precisar de auxílio e apoio 
adicionais. 
d) Assistência, apoio e informação: todos os envolvidos no episódio de 
violência doméstica devem dispor de assistência e apoio de acordo com 
suas necessidades, durante e após a intervenção da justiça restaurativa. 
Os mediadores são responsáveis por fornecer informação e recomendar 
medidas especiais, como programas para controle da violência, tratamentos 
para dependentes químicos e instituições de apoio a mulheres e vítimas. 
e) Criação e envolvimento de parceiros: os mediadores devem cooperar com os 
serviços parceiros envolvidos na resposta à violência doméstica e trabalhar 
junto a eles para assegurar a continuidade do cuidado e a prevenção de 
danos futuros, por exemplo, disponibilizando atualizações regularmente e 
incluindo painéis de avaliação de risco em conjunto com estes serviços.
Paralelamente aos padrões mínimos aplicáveis em cada etapa do processo, há 
os padrões mínimos aplicáveis à avaliação de riscos e ao treinamento e supervisão 
dos profissionais. Na justiça restaurativa é primordial que as partes não se sintamcoagidas a participarem e que a vítima não seja colocada em perigo, por isso o cuida-
do com a avaliação de riscos. 
Além disso, a complexidade dos casos de violência doméstica contra a mu-
lher cria um ambiente de riscos potenciais e a mediação pode colocar a vítima em 
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perigo nos casos de terrorismo íntimo.19 Por isso, a avaliação não cuida apenas de 
identificar estes aspectos, mas, especialmente, de assegurar que o mediador não 
seja paralisado por uma percepção hiperbólica do risco ou o afaste prematuramente. 
Deve-se examinar antes a probabilidade do que a possibilidade dos riscos e, então, 
estabelecer meios para reduzi-la. 
A avaliação de riscos é um processo dinâmico que inicia com a notificação do 
caso e termina quando ele é encerrado após a etapa de acompanhamento. O risco é 
dinâmico e espera-se que ele mude ao longo do processo, por isso a avaliação deve 
ser flexível para adaptar-se rapidamente quando necessário. Também é preciso verificar 
os riscos para crianças e outras pessoas ligadas às partes. Quando há crianças e os 
resultados da intervenção restaurativa envolvem acordos sobre as visitas, é crucial que 
eles sejam seguros e inspirem cuidado, o que também requer avaliação dos riscos.
O guia oferece uma lista exemplificativa de critérios a serem considerados para 
avaliar o risco (LÜNNEMANN; WOLTHIUS, 2016, p. 12): a severidade da violência; os 
antecedentes de violência e controle; a posse de armas e ameaças de morte; a vio-
lência sexual; as violências mental, emocional e física; a tendência a automutilação e 
declarada intenção de suicídio ou tentativas; a percepção ou real insegurança, medo 
e sentimento de culpa; as indicações de desequilíbrio de poder como a intimidação, 
o isolamento, a manipulação ou qualquer comportamento controlador; as diferenças 
culturais; a identificação, quando anonimato ou privacidade estão em risco e dano 
a outros processos em andamento, como procedimentos judiciais e medidas pro-
tetivas. Ainda, recomenda-se o uso de avaliações escritas, pois torna a apreciação 
profissional mais estruturada e precisa.
Quanto ao treinamento e supervisão dos facilitadores, ele é importante para a 
qualidade das intervenções de justiça restaurativa e, no caso da violência domésti-
ca, os programas de treinamento devem incluir informação acerca dessa matéria e, 
especificamente, sobre violência em relacionamentos íntimos, além dos treinamen-
tos para as práticas restaurativas em geral. O preparo deve concentrar-se no que é 
especialmente necessário para proporcionar um processo restaurativo em violência 
doméstica em comparação com os demais casos, os mediadores20 devem saber o 
quão intensos os conflitos de violência doméstica podem ser e a supervisão também 
deve atentar para este aspecto.
Os profissionais que entram em contato direto com as vítimas e agressores no 
âmbito da violência doméstica são constantemente submetidos a discussões intensas 
19 O terrorismo íntimo, do inglês intimate terrorism (IT), é definido por Johnson (1995, 2000, apud JOHNSON; 
FERRARO, 2000, p. 949) como um padrão geral de controle sobre o parceiro em que a violência é apenas uma 
dentre outras táticas.
20 Na comediação, ambos os profissionais devem ser treinados em violência doméstica e justiça restaurativa, 
além de serem aptos a discutir as complexidades do caso e o consequente impacto na sua atuação em 
conjunto.
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com fortes emoções e pressão para gerir os riscos, por isso, recomenda-se que eles 
sejam submetidos a coordenação ou supervisão entre colegas. A supervisão deve 
incluir validação da análise de riscos, controle de qualidade, apoio à coordenação, 
prestação de aconselhamento e orientação, monitoramento e manutenção da confor-
midade com os prazos, além de cuidado e apoio da equipe e seu desenvolvimento.
7 Proposta para um modelo brasileiro
Propõe-se o uso da prática da mediação entre vítima e ofensor – MVO (victim- 
offender mediation – VOM) na criação de um modelo no processo penal criminal 
brasileiro de alternativa à justiça restaurativa. Isso porque a MVO é um procedimento 
comparativamente mais simples, por envolver menor quantidade de participantes, e 
seus facilitadores são profissionais habilitados, o que facilita a adaptação da prática 
às especificidades do conflito de violência doméstica. 
Ao longo dos estudos desse trabalho, observou-se a necessidade de oferecer à 
violência doméstica uma resposta que dure tempo suficiente para garantir a proteção 
da vítima e viabilizar a recuperação do agressor. Por exemplo, na Grécia, o processo 
restaurativo pode ser aplicado no período de até três anos, que é o limite da pena 
máxima aplicável aos crimes que podem ser enviados à justiça restaurativa. Ainda, 
durante as entrevistas realizadas pela pesquisa da série “Pensando o Direito” no 
Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher, a juíza afirmou que a apli-
cação da suspensão condicional do processo (SCP) era capaz de garantir a proteção 
da ofendida durante maior tempo do que a prisão, pois, enquanto o processo estava 
suspenso, as medidas protetivas eram mantidas.21
As críticas e riscos são qualificados para dar origem a filtros de segurança, a 
mecanismos de avaliação de riscos e a constante cautela no procedimento – desde o 
envio dos casos até a última etapa de supervisão e acompanhamento.
7.1 Seleção e triagem dos casos
Há diferentes tipos de atos de violência, de dinâmicas de relacionamento abu-
sivo entre as partes e diferentes contextos pessoais da vítima e do agressor. Todos 
esses fatores, além de outros, devem ser considerados na análise de adequação 
dos casos à justiça restaurativa. A seleção tem o objetivo de filtrar os casos que 
desviariam a finalidade da prática restaurativa ou manipulariam o processo para exer-
cer controle sobre a vítima ou para evitar a punição, por isso, é necessária a análise 
específica de cada caso.
21 Diferentes autores afirmam a importância e a necessidade das medidas protetivas para garantir a segurança 
das vítimas.
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ALTERNATIVA AO ENCARCERAMENTO: ENVIO À JUSTIçA RESTAURATIVA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO...
Os critérios negativos, ou residuais, previstos na lei contribuem para a triagem, por 
exemplo, a Áustria proíbe os casos em que a violência causou a morte de alguém, e a 
Finlândia, aqueles em que a violência é recorrente. Especificamente sobre a violência do-
méstica, a Áustria também não admite o envio de casos em que haja sério desequilíbrio 
de poder ou falte estabilidade emocional à vítima. Aqui, mais uma vez, a análise de risco 
demonstra sua importância, pois é capaz de identificar esses aspectos e determinar se 
podem ou não ser neutralizados os seus efeitos ou solucionadas as suas causas.
Nesse sentido, é relevante a distinção feita por Johnson (1995, 2000, apud 
JOHNSON; FERRARO, 2000, p. 949) dos quatro tipos principais de violência entre 
parceiros íntimos: common couple violence (CCV), intimate terrorism (IT), violent resis-
tance (VR) e mutual violent control (MVC). O primeiro é o único não identificado com pa-
drões gerais de controle, decorre de contextos específicos e tende a não escalar, nem 
envolver agressões mais graves. Enquanto o segundo ocorre em relações baseadas 
em padrões gerais de controle, em que um dos parceiros utiliza diferentes táticas para 
controlar o outro, entre elas a violência e, mais frequentemente, o abuso emocional.
Se um ato de violência tiver ocorrido em um contexto de common couple vio-
lence, ele será mais adequado ao processo restaurativo do que um ato de violência 
reiteradocaracterístico de intimate terrorism, ainda que este seja agressão leve e 
aquele, mais grave. Neste caso, a princípio, a conduta integra um ciclo de violência 
e possibilita o uso do processo restaurativo como uma etapa desse ciclo, por isso, é 
importante que casos de violência reiterada não sejam admitidos.
Ainda, o Carolina Dispute Settlement Services (CDSS), em estudo para adaptar 
a VOM aos casos de violência doméstica, considerou seis aspectos para selecionar 
os casos:
1. Foi o primeiro episódio de violência?
2. A vítima sofreu lesões físicas, se sim, quão graves?
3. Foi utilizada arma?
4. Alguma criança estava presente no momento da ocorrência?
5. Qual foi a atitude do acusado?
6. O que a vítima desejava?
Entre os critérios de triagem dos casos, destacam-se as proibições quando a 
violência resulta em morte22 ou o réu é reincidente ou, a despeito de não haver con-
denações anteriores, constem diversos registros de boletim de ocorrência de violência 
doméstica. Mas o critério mais decisivo é a avaliação casuística feita profissionais ha-
bilitados, tanto quanto aos aspectos do conflito, quanto às características das partes.23
22 Os crimes dolosos contra a vida, por determinação constitucional, deverão ser submetidos ao rito do júri.
23 Por exemplo, por meio de avaliações psicológicas.
R. Fórum de Ci. Crim. – RFCC | Belo Horizonte, ano 4, n. 7, p. 191-219, jan./jun. 2017210
ANA JULIA AGUILERA GOMES
Essas avaliações poderiam ser realizadas pela própria equipe multidisciplinar 
nos feitos do juízo em que ela atue e, para os casos mais difíceis (hard cases), é pos-
sível organizar um órgão composto por diferentes equipes de uma mesma região que 
se reúna periodicamente para debatê-los24 ou solicitar auxílio de outros profissionais 
mais experientes.
7.2. Projeto de design processual: “suspensão do processo 
para envio à justiça restaurativa”
Oferecida a denúncia e determinado o processamento da ação penal pelo juiz 
(art. 396, Código de Processo Penal Brasileiro), acusado e vítima serão citados e no-
tificados para comparecer individualmente, no prazo de até cinco dias, a uma sessão 
informal de orientação com a equipe multidisciplinar que realizará uma primeira ava-
liação do perfil psicológico das partes e deverá informar acerca dos serviços disponí-
veis, incluindo o processo alternativo de justiça restaurativa. Durante essa reunião as 
autoridades judiciais, juiz e promotor, e os advogados das respectivas partes podem 
participar como ouvintes.
Após a reunião com o ofensor, inicia-se o prazo de dez dias para apresentação 
da resposta à acusação. Caso ele confesse os fatos principais da denúncia ou queixa 
e após a apreciação judicial da resposta à acusação, o juiz, o promotor, as partes ou 
a equipe multidisciplinar podem propor o envio para a justiça restaurativa. O promotor 
deverá elaborar um relatório encaminhado à equipe, que vai analisar os elementos 
do caso expostos pelo representante do Ministério Público e as informações colhidas 
na reunião preliminar para elaborar seu parecer. Este será anexado ao relatório do 
Parquet e enviado ao juiz. Caso a iniciativa seja da equipe multidisciplinar, ela deverá 
encaminhar seu parecer favorável ao juiz anexado à denúncia, que determinará a 
manifestação do Ministério Público.25
Assim que o juiz tiver essas análises, deverá encaminhá-las ao acusado e seu 
advogado, notificando-os para participar da audiência de proposta da justiça restau-
rativa. Essa audiência deverá iniciar-se por uma reunião com o ofensor, os mediado-
res e a equipe multidisciplinar informando-o acerca do procedimento e solucionando 
dúvidas. Caso haja o acordo do acusado, o juiz e o promotor passam a participar 
da audiência e mais uma vez devem ser explicados os aspectos centrais da justiça 
restaurativa e as implicações para a persecução penal a fim de garantir o consen-
so do acusado que, ao final, assina uma declaração manifestando sua vontade de 
participar e solicitando a necessária suspensão do processo. Nessa oportunidade, 
24 Os casos poderiam até mesmo ser objeto de debate acadêmico por meio de parcerias com as universidades.
25 Essa manifestação do Ministério Público deve versar também sobre a suspensão do processo.
R. Fórum de Ci. Crim. – RFCC | Belo Horizonte, ano 4, n. 7, p. 191-219, jan./jun. 2017 211
ALTERNATIVA AO ENCARCERAMENTO: ENVIO À JUSTIçA RESTAURATIVA NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO...
as autoridades judiciais também aproveitam para observar o intuito e a postura do 
acusado26 em relação à justiça restaurativa.
Obtido o consentimento do agressor, dirige-se à vítima por meio do mesmo 
procedimento e, caso ela também aceite, o juiz deve verificar não só o consentimento 
livre e informado dela, mas também assegurar a sua proteção, ouvindo-a acerca da 
necessidade de decretar medidas protetivas ou modificar as que estejam em curso. 
Após a etapa da proposta, a equipe multidisciplinar e os mediadores elaboram em 
conjunto uma análise de risco (parecer técnico) e se reúnem com o juiz para apresen-
tá-la e confirmar a verificação dos requisitos básicos27 (como livre-consentimento das 
partes, segurança, adequação do caso à justiça restaurativa). Com base nisso, caso 
o juiz esteja de acordo e não solicite diligências complementares, ele aprecia o feito 
e determina a formação de um expediente em apartado e a suspensão do processo 
penal criminal e do prazo prescricional para a realização do processo restaurativo. 
Observe-se que, simultaneamente ao processo judicial, inicia-se a fase de proposta 
da prática restaurativa, mas formalmente esta é iniciada com a suspensão daquele.28
Sobre o prazo dessa suspensão, observa-se que, dada a complexidade e pecu-
liaridade de cada caso, será necessário mais ou menos tempo para a realização da 
prática restaurativa, que deve também incluir uma etapa de supervisão e acompanha-
mento durante pelo menos um ano. O modelo grego, por exemplo, prevê o período de 
três anos (LÜNNEMANN; WOLTHIUS, 2015, p. 26), que é o tempo máximo previsto 
para condenação nos crimes aos quais é possível aplicar a justiça restaurativa. No 
Brasil, os crimes previstos como violência doméstica têm pena máxima aplicável de 
até 30 anos e embora a suspensão condicional do processo prevista no art. 89 da Lei 
nº 9.099/95 estipule o período de dois a quatro anos para os crimes em que a pena 
mínima for igual ou inferior a um ano, ela não abrange os crimes cuja pena mínima 
seja maior do que um ano. Nesse caso, o projeto piloto poderia fornecer informações 
valiosas acerca da necessidade e efetividade da aplicação de prazos maiores.29
Para o processo restaurativo, adota-se o modelo de quatro etapas indicado pelo 
Restorative Justice: a guide for practitioners (LÜNNEMANN; WOLTHIUS, 2016) e as 
recomendações feitas para uma delas, descritas anteriormente.
26 Nessa etapa, as partes devem expor seu interesse e motivação para escolher a prática restaurativa às autori-
dades judiciais. No caso do acusado, o juiz deverá verificar, além do consentimento informado, que o ofensor 
não se utiliza do processo alternativo para trivializar ou banalizar sua conduta agressiva, deverá também pro-
ceder à afirmação da norma e da reprovabilidade da conduta.
27 Se os mediadores não estiverem de acordo, o caso não poderá ser enviado à justiça restaurativa. Por outro 
lado, caso concordem, o juiz não terá o dever de enviar.
28 Nada impede que, nesse ínterim, sejam realizadas sessões individuais com as partes.
29 A última etapa de supervisão e acompanhamento deveria durar no mínimo um ano, ou poderia ser acrescido 
um período suplementar de dois anos aplicável aos casos que resultarem em um acordo com obrigações 
específicas para o acusado, cujo cumprimento seria observado no tempo referido.
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A primeira sessão do processo restaurativo deve, impreterivelmente, ocorrercom as partes em separado e ocorrerá uma mistura entre as etapas de proposta 
e de preparação. No início, deve-se mais uma vez repetir as informações acerca da 
justiça restaurativa, suas consequências para o processo penal criminal, esclarecer 
eventuais dúvidas e verificar o consentimento da parte. Sugere-se a elaboração, com 
base nas manifestações das partes, de um quadro acerca de seus interesses, neces-
sidades e expectativas e, a partir dele, reformular os potenciais e limites do procedi-
mento, assegurando que as expectativas sejam realistas e possam ser satisfeitas.
Feito isso, a preparação em sentido estrito poderá ser feita de diferentes for-
mas, de acordo com as peculiaridades do caso, e a escolha dos procedimentos a 
serem realizados será feita pelos mediadores com base na avaliação contínua da 
equipe multidisciplinar.30 Por exemplo, podem ocorrer sessões de terapia individual 
ou em grupo, participação de grupos de sensibilização e empatia, cursos de comuni-
cação não violenta (ROSENBERG, 2006), entre outros. São requisitos mínimos dessa 
fase (LÜNNEMANN; WOLTHIUS, 2016):
a) o contato presencial entre os mediadores e cada um dos potenciais 
participantes;
b) a contínua avaliação de risco para garantir a segurança da vítima e o fim da 
violência;
c) a descrição imparcial do processo para assegurar expectativas realistas;
d) a busca pelo consentimento informado dos participantes ou validação do 
consentimento prévio obtido, por exemplo, pela autoridade que encaminhou 
o caso, e 
e) a oferta aos participantes da oportunidade de refletir acerca da violência, 
da continuidade do relacionamento, perspectivas e oportunidades futuras e, 
sobretudo, suas necessidades.
As reuniões individuais com os mediadores devem ser periódicas31 e pessoalmen-
te. Eles também devem facilitar outros meios de comunicação, como telefone, e ofere-
cer alternativas para além do horário comercial e nos finais de semana e feriados.32 O 
objetivo é que o processo seja acessível às partes e, sobretudo, instrumentalizado para 
reparar os danos decorrentes da agressão, satisfazendo os interesses e necessidades 
30 Ao longo de todo o procedimento, os membros da equipe multidisciplinar participam como ouvintes e realizam 
avaliação de risco continuamente.
31 O período também pode ser determinado no caso concreto, mas sugere-se a cada semana ou quinze dias, 
evitando-se longos intervalos de tempo sem contato com as partes.
32 Aqui destaca-se a importância do Plano de Ação em âmbito nacional, que possa oferecer linhas telefônicas es-
peciais para dar apoio e suporte às partes e meios de garantir a segurança da vítima em caso de urgência. Por 
exemplo, durante o feriado do Carnaval na cidade do Rio de Janeiro em 2017, a Operação Carnaval da Polícia 
Militar verificou que entre as oito horas da manhã do dia 24 e o mesmo horário da quarta-feira de cinzas, 
dia primeiro, uma mulher foi agredida a cada três minutos e vinte segundos, segundo o site da corporação. 
Disponível em: <https://www.pmerj.rj.gov.br/policia-militar-divulga-balanco-do-carnaval-2017/>.
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da vítima e reintegrando o agressor à sociedade. Por isso, a segunda etapa pode se 
estender durante a maior parte do tempo da suspensão, se assim for preciso.
Com base no analisado durante as sessões com as partes individualmente, os 
mediadores vão determinar a ocorrência da terceira etapa, o encontro entre vítima e 
agressor. Antes, os mediadores e a equipe multidisciplinar farão um estudo cauteloso 
da avaliação de risco até então elaborada para determinar possíveis sinais indicativos 
da iminência de agressão ou do controle do agressor sobre a vítima, assim como da 
tentativa desta de se submeter a ele ou tentar antecipar e atender as expectativas do 
agressor, enfim, sintomas de desequilíbrio no processo que possam conduzir a revi-
timização ou vitimização secundária. Estes serão monitorados e poderão dar causa à 
interrupção da sessão ou fim do processo.33
A etapa de encontro também é adaptável às especificidades do caso concreto, 
mas, em geral, os participantes discutem os fatos, efeitos e resultados relacionados 
às ações, pensamentos, sentimentos e necessidades das partes. Os três objetivos 
principais são o reconhecimento do dano causado, a aceitação da responsabilidade 
pelo agressor e a elaboração de planos para modificar comportamentos nocivos no 
futuro. Essa etapa deve, impreterivelmente, afirmar a intolerância à violência domés-
tica e que a conduta do agressor é crime mesmo em âmbito privado, além de não 
deixar dúvidas de que ele é o único responsável por seu comportamento agressivo. 
Há diversas técnicas acessíveis aos mediadores para conduzir a sessão. Por 
exemplo, na Áustria, a dupla de mediadores utiliza dois métodos (LÜNNEMANN; 
WOLTHIUS, 2015, p. 24) denominados working in teams of two (do alemão Arbeiten 
zu zweit) e mixed double (Gemischtes Doppel). No primeiro, ambos os mediadores 
participam durante todo o processo e as sessões individuais com vítima e ofensor 
não são imediatamente sucedidas pela mediação com ambos. No segundo, as reu-
niões com cada uma das partes ocorrem em salas diferentes ao mesmo tempo e, em 
seguida, todos se reúnem. Nesta, o elemento principal da sessão de mediação é o 
“espelho das histórias” (do alemão Geschichtenspiegel), em que um mediador conta 
para o outro o que ouviu durante as sessões individuais prévias.34
33 Se o encontro precisar ser interrompido, é possível que haja sessões individuais com cada uma das partes e 
retorno à sessão principal. Caso o problema não possa ser solucionado assim, os mediadores e a equipe mul-
tidisciplinar devem levar o caso para discussão no órgão regional. A partir de então haverá duas alternativas, 
ou a retomada da fase de preparação por um tempo determinado ou o encerramento do processo restaurativo 
e retorno ao processo judicial.
34 Pelikan (apud LÜNNEMANN; WOLTHIUS, 2015, p. 24) descreve que: The mirror of stories entails a rather so-
phisticated and elaborated professional design that aims at bringing into effect the two main working principles 
of mediation: recognition and empowerment. At the beginning of this session the two mediators are facing each 
other, while the two partners remain also in opposite sides, each sitting next to their mediator. The mediators 
tell each other what they have heard during the previous single talks: the story of the relationship, the story 
of suffering violence and of acting violent, of threatening, hitting, constraining the other’s freedom. This they 
mirror the stories they have been told and present these mirrors to each other. The partners are asked to listen 
without interfering, and only afterwards they have the opportunity to comment, to correct and to modify the 
rendering of their story by the mediator. This is also the beginning of the immediate exchange of the partners 
- about their perceptions, and their expectations.
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Podem ocorrer diversas sessões de mediação, mas, como ela tem objetivos 
mais delimitados, em geral, a tendência é que sejam menos numerosas do que as 
de preparação. Ao final, dependendo do caso, pode ser estabelecido um plano de 
ação para reparar a vítima do sofrimento da agressão e tratar o agressor para evitar 
comportamentos violentos, ou ser redigido um acordo que obrigue o agressor, por 
exemplo, a custear a reparação da vítima, ou ambos.
Com isso, inicia-se a última etapa de acompanhamento, com duração mínima 
de um ano. O agressor deve ser monitorado com cuidado, por exemplo, por meio de 
encontros mensais e discussões em grupo. A vítima deve ter meios de comunicação 
especiais com serviços de apoio, sobretudo em caso de urgênciae necessidade de 
proteção. Ao final desta etapa, os mediadores redigem um relatório e enviam para as 
partes. Vítima e acusado deverão ser assistidos por seus advogados para ler, revisar 
e assinar o relatório, que, em seguida, será enviado ao juiz.
Recebido o relatório final do processo restaurativo, o juiz encerra a suspensão 
do processo e dá ciência ao representante do Ministério Público. Caso não se ve-
rifique irregularidade a ser sanada ou nulidade, o relatório é homologado pelo juiz, 
declarando extinta a punibilidade e encerrando o processo penal.
Ressalte-se que, durante todo o processo penal criminal ou processo de justiça 
restaurativa, é possível haver paralelamente o processo penal protetivo previsto na 
Lei Maria da Penha. O que equivale a dizer que as medidas protetivas decretadas não 
serão necessariamente afastadas e, ainda, poderão ser modificadas de acordo com 
a necessidade superveniente do caso.
8 Conclusão: necessidade de reformas legislativas e a criação 
de um projeto piloto
O modelo apresentado pressupõe três aspectos para aptidão dos casos a se-
rem enviados à justiça restaurativa e, consequentemente, encontra três restrições no 
ordenamento jurídico brasileiro atual, dentre as quais duas precisariam ser objeto de 
reforma legislativa. 
O primeiro pressuposto impõe que os casos envolvam a prática de crimes de 
violência doméstica. Contudo, sob a égide da Lei Maria da Penha, somente poderiam 
ser considerados como violência doméstica os crimes praticados contra vítimas do 
gênero feminino. Em segundo lugar, para que haja a “suspensão do processo penal 
para envio à justiça restaurativa” é indispensável o afastamento do princípio da obri-
gatoriedade e a previsão legal da suspensão condicional do processo. Atualmente, a 
Lei nº 9.099/95 prevê tal medida apenas para os crimes punidos com pena máxima 
inferior a dois anos e, mesmo assim, sua aplicação aos crimes de violência domés-
tica foi afastada pela LMP. 
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Desse modo, é necessária uma alteração legislativa que permita a flexibilização 
da condição de gênero feminino atribuída à vítima e a ampliação do afastamento do 
princípio da obrigatoriedade a fim de incluir a previsão de suspensão condicional do 
processo para os crimes de violência doméstica.
Em terceiro lugar, o processo deve ser de competência do Juizado de Violência 
Doméstica e Familiar e a Constituição Federal exclui os crimes dolosos contra a 
vida ao prever a competência do júri (art. 5º, inciso XXXVIII, alínea “d”). Nesse caso, 
contudo, destaca-se a iniciativa pioneira do Tribunal de Justiça do Estado do Pará ao 
editar a Resolução nº 033/2007-GP, segundo a qual os crimes dolosos contra a vida 
cometidos em situação de violência doméstica contra a mulher devem ser julgados 
perante o júri no Juizado de Violência Doméstica.
Finalmente, a efetiva implementação da proposta apresentada demandaria a 
criação de um projeto piloto multidisciplinar para avaliar e testar os mecanismos 
implementados. Por meio da intersecção entre Poder Judiciário, Universidade e 
Sociedade e, ao longo do tempo, o projeto promoveria a simbiose entre o aprimo-
ramento da prática, o aperfeiçoamento da teoria e a pacificação social por meio da 
solução dos conflitos de violência doméstica.
Alternative to Imprisonment: Referring Domestic Violence Crimes to Restorative Justice in the Brazilian 
Criminal Procedure
Abstract: Contemporary criminal justice addresses crime uniquely as a violation of the criminal law. 
However, beyond this conception, domestic violence crime is an interpersonal conflict between victim and 
offender which affects family, community and social circles. Ending domestic violence demands at first 
the recognition of the specific aspects of this conflict and secondly an adequate address of the harm 
and parties’ needs. Through a restorative justice approach it is possible to adapt the criminal procedure 
allowing active participation of the ones involved in the conflict to achieve its resolution. The challenges for 
implementation of victim-offender mediation as a restorative justice practice for domestic violence crimes 
require the introduction of apposite mechanisms to protect victims and reintegrate offenders.
Key words: Restorative justice. Domestic violence. Victim-offender mediation. Criminal mediation. Brazilian 
criminal procedure.
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