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Zv Definição A DRC é definida por lesão renal ou TFG menor que 60 mℓ/min/1,73 m2 há 3 meses ou mais. A DRC pode ser causada por alguns distúrbios que acarretam perda irreversível dos néfrons, inclusive diabetes, hipertensão, glomerulonefrite, lúpus eritematoso sistêmico e doença renal policística. (NORRIS, 2021) A doença renal crônica (DRC) se refere às muitas anormalidades clínicas que pioram progressivamente à medida que a função renal diminui. A DRC resulta de numerosas doenças sistêmicas que danificam o rim ou de distúrbios intrínsecos ao rim (GOLDMAN, SHAFER, 2022) Independentemente da causa, a DRC consiste na perda dos néfrons funcionantes dos rins com deterioração progressiva da filtração glomerular, da capacidade de reabsorção tubular e das funções endócrinas dos rins. Todos os tipos de DRC caracterizam-se por redução da TFG, que se reflete em uma diminuição correspondente da quantidade de néfrons funcionantes. A velocidade de destruição dos néfrons difere de caso a caso, mas varia de muitos meses a alguns anos. (NORRIS, 2021) À medida que as estruturas renais são destruídas, os néfrons restantes sofrem hipertrofia estrutural e funcional, cada qual aumentando sua função como modo de compensar os néfrons perdidos. Nesse processo, cada um dos néfrons remanescentes precisa filtrar mais partículas de solutos do sangue. (NORRIS, 2021) A DRC inclui um espectro de disfunções clínicas que variam de anormalidades detectáveis apenas por testes laboratoriais até uma síndrome conhecida como uremia. Uremia, que significa “urina no sangue”, é resultado do acúmulo de íons não excretados e escórias e induz anormalidades metabólicas. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022) Classificação Segundo a Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO), a DRC é subdividida em estágios (0, 1, 2, 3a, 3b, 4 e 5), com base no ritmo de filtração glomerular e em relação a proteinúria em A1, A2 e A3, antes, a doença era estadiada apenas pela TFG, porém, o risco de piora da função renal está intimamente ligado à quantidade de albuminúria, de modo que ela foi incorporada na classificação. Essas duas classificações diferentes unidas estagiam a doença, assim como dão seu prognostico. (SANAR FLIX) A tabela a seguir mostra os parâmetros dos estágios dos dois valores que são considerados e, também, o nível de gravidade da doença. Assim, vê-se que pacientes na faixa verde dificilmente tem complicações graves e pacientes na vermelha geralmente estão em dialise, para evitar outras complicações. (SANAR FLIX) Em todos os seus estágios, a DRC é um fator de risco independente para doenças cardiovasculares, sendo considerado um “equivalente de risco cardiovascular”. Ressalta- se ainda que a presença de proteinúria é um fator de risco adicional e independente do conferido pela própria DRC. (SANAR FLIX) Pacientes nos estágios 4-5 (RFG < 30 ml/min) devem ser referenciados para serviço de nefrologia, assim como aqueles que tiverem albuminúria >300mg/24h (ou albumina/creatinina urinária >300 mg/g). Além do impacto da DRC como fator de risco cardiovascular, o desenvolvimento da doença, principalmente em seus estágios finais, representa um grave problema de saúde pública. (SANAR FLIX) Epidemiologia O aumento no número de casos de doença renal crônica tem sido reportado na última década em diferentes contextos, associados ao envelhecimento e à transição demográfica da população, como resultado da melhora na expectativa de vida e do rápido processo de urbanização. (SANAR FLIX) Em países desenvolvidos, o rastreamento estima prevalência de doença renal crônica entre 10 e 13% na população adulta, com mais de 4,5 milhões de adultos com a doença no mundo. (SANAR FLIX) No Brasil, estimativas da prevalência dessa enfermidade são incertas, contudo, de acordo com a caderneta de saúde Lesão Renal Aguda Julia Soares • 4° período de Medicina • tutoria 18 ° coletiva de 2017 mais de 100 mil pacientes recebiam terapia dialítica no país, com uma taxa de internação hospitalar de 4,6% ao mês e uma taxa de mortalidade 17% ao ano. O mesmo estudo detectou maior predominância no sexo masculino com taxa de crescimento anual de 2,2% e, de 2% para o sexo feminino, raça/cor predominante é a branca (39,6%) em relação às raças/cor amarela (1,2%), indígena (0,1%), parda (36,1%) e preta (11,4%).(SANAR FLIX) De acordo com o último censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia, o custo anual somente com a terapia renal substitutiva é mais de dois bilhões ao ano. As principais causas de perda da função renal no nosso meio são a hipertensão arterial (35% das causas), diabetes mellitus (28,5%) seguidas das glomerulonefrites (11,5%).(SANAR FLIX) Cabe ainda comentar que a morbimortalidade de pacientes é substancialmente maior em pacientes diabéticos do que nos demais pacientes não diabéticos, sendo as doenças cardiovasculares e as infecções as principais causas de morte. (SANAR FLIX) A HAS é também uma causa importante de morbidade e mortalidade que acelera a aterosclerose e precipita complicações relacionadas ao aumento da pressão. (SANAR FLIX) Fatores de risco Fatores de Risco Não Modificáveis Idade (idosos) Pacientes com idade avançada já apresentam uma diminuição do ritmo de filtração glomerular (RFG). Associando esse fator às lesões renais secundárias às doenças crônicas apresentadas nessa faixa etária, os idosos são suscetíveis a DRC. (SANAR FLIX) Sexo Em geral, pior em homens(JOHNSON, 2016) Etnia Geralmente, pior em não caucasianos e minorias étnicas do Ocidente: afro-americanos, indivíduos afro-caribenhos, hispânicos e asiáticos [sul-asiáticos e pacífico-asiáticos]) todos afetam a progressão da DRC. (JOHNSON, 2016) Familiares portadores de doença renal crônica Pacientes com história familiar positiva para DRC apresentam prevalência aumentada de HAS, DM, proteinúria e doença renal. (SANAR FLIX) Fatores de Risco Modificáveis Hipertensão arterial sistêmica A hipertensão arterial sistêmica é uma causa, consequência e forma de apresentação importante da DRC. (JOHNSON, 2016) A HAS é uma doença bastante comum na DRC e pode ocorrer em mais de 75% dos pacientes, independente da idade. (SANAR FLIX) Proteinúria Numerosos estudos em doentes com nefropatia diabética e não diabética confirmaram que proteinúria acentuada (ou albuminúria A3) associa-se a uma taxa mais rápida de progressão de DRC. (JOHNSON, 2016) Mais que causa, é provável que a albuminúria ou proteinúria represente um marcador de progressão de DRC porque reflete a gravidade do dano renal subjacente. (JOHNSON, 2016) Diabetes Pacientes diabéticos apresentam fator de risco aumentado para desenvolver DRC e doença cardiovascular (DCV), devendo ser monitorados frequentemente para avaliar presença de lesão renal. (SANAR FLIX) Doença cardiovascular A DRC é fator de risco independente para a DCV e estudos demonstraram que a DCV se associa com a diminuição da filtração glomerular e com a ocorrência de DRC. (SANAR FLIX) Uso de medicações nefrotóxicas Medicações nefrotóxicas devem ser evitadas ou otimizadas em pacientes que possuem DRC, principalmente quando o ritmo de filtração glomerular é menor que 60 ml/min/1,73m2.. (SANAR FLIX) Fatores adicionais A obesidade e o tabagismo têm sido associados ao desenvolvimento e à progressão da DRC. Fatores metabólicos, incluindo a síndrome metabólica e alguns de seus componentes – tais como resistência à insulina, dislipidemia e hiperuricemia – foram implicados no desenvolvimento e progressão da DRC. Além disso, o uso abusivo de álcool, uso recreacional de drogas, agentes herbais e fitoterápicos, analgésicos (paracetamol, fenacetina, e combinações de fenacetina, aspirina e cafeína) e AINEs; e exposição crônica ao chumbo e outros metais pesados todos têm sido associadosao desenvolvimento de DRC. (JOHNSON, 2016) Etiologia Diversas doenças podem causar DRC. Essas doenc ̧as podem ser classificadas em: (TITÃ, 2013) 1. Primárias (glomerulonefrites, doenc ̧as císticas renais, doenc ̧as tubulointersticiais, etc.) ou secundárias (diabetes melito, HAS, lúpus eritematoso siste ̂mico, hepatite B, C, HIV, etc.). 2. Localizac ̧ão anatômica: patologias glomerulares, tubulointersticiais, vasculares, obstrutivas ou tumorais. 3. Adquiridas ou hereditárias. Entre todas as causas, a nefropatia diabética, a nefropatia hipertensiva, as glomerulonefrites cro ̂nicas e a doenc ̧a renal policística são as etiologias mais frequentes. (TITÃ, 2013) Fisiopatologia Ao contrário da LRA transitória, que frequentemente cura e após a qual o rim se recupera funcionalmente, insultos crônicos e sustentados ao rim, tais como aqueles que caracterizam nefropatias crônicas e progressivas, evoluem para fibrose renal progressiva com destruição da microarquitetura normal do rim e a sua substituição por tecido fibroso feito de matriz colágena extracelular, levando à perda da função, DRC e DRET. (JOHNSON, 2016) Isso afeta todos os três compartimentos funcionais do rim, ou seja, os glomérulos, os túbulos e o interstício, bem como os vasos, e manifesta-se histologicamente como glomerulosclerose, fibrose tubulointersticial e esclerose vascular (JOHNSON, 2016) A cicatrização ou a fibrose renal é um fenômeno complexo, com sobreposição de fenômenos e de múltiplos estágios, que pode ser caracterizado por uma série de processos: (JOHNSON, 2016) 1) Uma resposta inflamatória com infiltração nos rins lesados por células inflamatórias extrínsecas aos rins (derivadas do sangue e medula óssea) 2) Ativação, proliferação e perda de células renais intrínsecas (por meio de apoptose ou necrose e incluindo mesangiólise e podocitopenia) 3) Ativação e proliferação de matriz extracelular (MEC) – produzindo células, inclusive miofibroblastos e fibroblastos 4) Deposição de MEC substituindo a arquitetura renal normal Resposta inflamatória à injúria renal A gravidade do infiltrado celular inflamatório renal se correlaciona intimamente com o grau de disfunção renal, predizendo progressão da DRC. A não resolução da lesão tecidual invariavelmente inicia uma resposta inflamatória com o recrutamento subsequente de neutrófilos, linfócitos, monócitos e macrófagos, células dendríticas e mastócitos para o tecido lesado, perpetuando um ciclo de inflamação contínua, dano tecidual, fibrose. (JOHNSON, 2016) Linfócitos Os linfócitos, incluindo células T auxiliadoras e citotóxicas, são frequentemente identificados em rins com lesão. Postulou-se que o equilíbrio entre os linfócitos T auxiliadores 1 (Th1) pró- inflamatório e o T auxiliadores 2 (Th2) anti-inflamatório pode ser um fator-chave na progressão ou na resolução da cicatrização renal. (JOHNSON, 2016) Isso pode também depender do perfil de citocinas liberadas pelas células T, com algumas delas – como a interleucina (IL)- 1 e a IL-2 e fator de necrose tumoral α (TNF-α) – tendo propriedades pró-inflamatórias e proliferativas, e outras – IL-4, IL-10, IL-13, e IL-25 – tendo propriedades anti-inflamatórias e antifibróticas. (JOHNSON, 2016) As evidências também implicam as células T CD4+ na fibrogênese, tanto diretamente através da estimulação da proliferação de miofibroblastos e fibroblastos e produção de MEC quanto indiretamente através da ativação de macrófagos. Outro subconjunto de células T (células T regulatórias [Tregs]) pode exercer efeitos benéficos sobre a inflamação e a fibrose no rim ao desligar os efeitos pró-inflamatórios dos macrófagos ativados. (JOHNSON, 2016) Monócitos Os monócitos desempenham um papel importante na cicatrização renal, assim como nos processos fibróticos porque se diferenciam nos macrófagos teciduais após a infiltração no rim lesado. (JOHSON, 2016) Atualmente, é claro que quando os monócitos circulantes são recrutados para os rins com lesão, eles se diferenciam em dois grandes grupos fenotípicos de macrófagos. Os macrófagos ativados pela via clássica (M1) têm um fenótipo pró-inflamatório, citotóxico, ao passo que os macrófagos ativados pela via alternativa (M2; “a” até “c”) exibem um fenótipo cicatrizador que parece ser a forma predominante na resposta a uma injúria crônica. (JOHSON, 2016) Atualmente, reconhece-se um papel protetor dos macrófagos na cicatrização renal; essas células também contribuem para o término e para a resolução da resposta inflamatória renal, impedindo assim a fibrose. (JOHSNON, 2016) Células dentríticas Células dendríticas imaturas (iCDs) recebem sinais de ativação de células renais lesadas e adquirem um fenótipo maduro que permite a sua migração para os linfonodos. Essas CDs maduras (mDCs) são altamente estimulatórias (eCDs) e induzem uma gama de respostas efetoras através de interações com outras células inflamatórias teciduais. (JOHNSON, 2016) Tal como acontece com linfócitos e macrófagos, as células dendríticas desempenham um papel na resolução da injúria ao assumirem fenótipos de proteção, como células tolerantes (tCDs) e células dendríticas exaustas (exCDs). (JOHNSON, 2016) Células derivadas da medula óssea Os experimentos baseados em transplante de medula óssea demonstraram o potencial envolvimento de células derivadas da medula óssea na turnover renovação celular normal do mesângio e na reparação e repovoamento glomerular após lesão mesangial experimental. Além disso, células progenitoras renais intersticiais e medulares podem ser recrutadas após uma lesão aguda para acelerar a homeostase e a reparação renais. (JOHNSON, 2016) Também foi postulado que as CTMs derivadas da medula óssea podem estar envolvidas na fibrogênese ao migrar para rins com fibrose, contribuindo para o conjunto total (pool) de fibroblastos. (JOHNSON, 2016) Ativação, proliferação e perda das células renais intrínsecas A secreção de citocinas profibróticas em um rim inflamado leva à ativação de células produtoras de matriz nos glomérulos e no compartimento tubulointersticial. Esses mediadores são liberados tanto por células infiltrativas quanto por células nativas dos rins. Dentre eles, se incluem autacoides como a angiotensina II, endotelina, óxido nítrico e prostanoides, bem como fatores de crescimento tais como fator de transformação de crescimento b1 (TGF-b1), fator de crescimento do tecido conjuntivo (CTGF), fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), fator de crescimento fibroblástico (FGF) e fator de crescimento epidérmico (EGF). (JOHNSON, 2016) Esses fatores promovem fibrose pela ativação de uma variedade de cascatas de sinalização intracelular com consequentes múltiplos efeitos na ativação, transformação, proliferação e migração celular e síntese de MEC. (JOHNSON, 2016) Acúmulo de matriz extracelular O acúmulo de MEC anormal proveniente de miofibroblastos ativados é a etapa final na fibrogênese renal. A MEC é composta por uma série de proteínas, incluindo vários colágenos, elastina, laminina, fibronectina e glicoproteínas. A MEC não é inerte, e existe em um estado de fluxo constante, migração de células moduladoras, proliferação e sobrevivência. O acúmulo, portanto, resulta não somente em substituição de tecido renal normal por matriz, mas também promove a perda de células renais nativas resultante da sub-regulação de sinais de sobrevivência mediados por integrina procedentes da matriz normal. (JOHSON, 2016) Existe, portanto, uma mudança tanto qualitativa quanto quantitativa na natureza da MEC depositada, com a fibrose tubulointersticial estando associada ao depósito excessivo de colágenos I, III e IV, enquanto que o colágeno tipo III predomina na glomerulosclerose. (JOHSON, 2016) Em última análise, acúmulo de MEC reflete o equilíbrio entre síntesea partir dos miofibroblastos e a degradação por enzimas colagenolíticas, tais como as metaloproteinases da matriz (MMPs) e a plasmina. (JOHSON, 2016) As MMPs são ainda reguladas por inibidores teciduais das metaloproteinases da matriz (TIMPs), e a plasmina pode tanto diretamente degradar proteínas da matriz como ativar indiretamente as MMPs. A própria plasmina é gerada como um resultado da clivagem do plasminogênio pelo ativador do plasminogênio tipo uroquinase (uPA) e do ativador do plasminogênio tipo tecidual (tPA), ambos os quais são inibidos pelo inibidor do ativador do plasminogênio 1 (PAI-1). (JOHNSON, 2016) Citocinas como a TGF-β, pode aumentar ainda mais o acúmulo de MEC através da (JOHNSON, 2016) ➢ Diminuição da degradação de matriz através da inibição de proteases, bem como pela ativação de inibidores de protease (p.ex. o PAI-1) ➢ Promoção de interações na matriz celular através da suprarregulação da expressão de integrina. Manifestações Clínicas As manifestações clínicas e laboratoriais da DRC incluem acumulação de escórias nitrogenadas; distúrbios hidreletrolíticos e acidobásicos; distúrbios minerais e ósseos; anemia e distúrbios da coagulação; hipertensão e alterações da função cardiovascular; distúrbios gastrintestinais; complicações neurológicas; distúrbios dermatológicos; e distúrbios do sistema imune. (NORRIS, 2021) A ocasião em que esses distúrbios aparecem e a gravidade das suas manifestações clínicas são determinadas em grande parte pelo grau de função renal existente e pelas doenças coexistentes. Algumas dessas manifestações clínicas e laboratoriais da DRC ocorrem antes que a TFG tenha alcançado o estágio de insuficiência renal. (NORRIS, 2021) Infelizmente, a perda progressiva da função renal não provoca sinais ou sintomas clinicamente distintos. As condições que devem aumentar a possibilidade de um paciente desenvolver DRC incluem hipertensão arterial sistêmica, anormalidades urinárias (p. ex., hematúria ou infecções urinárias repetidas) ou edema. À medida que a TFG diminui, as anormalidades clínicas tornam-se mais frequentes, mas os sintomas continuam a ser principalmente inespecíficos. Alguns pacientes se queixam apenas de intolerância ao exercício, fadiga ou anorexia. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022) Acumulação de escória nitrogenadas A acumulação de escórias nitrogenadas no sangue (ou azotemia) é um sinal precoce de insuficiência renal e, em geral, ocorre antes que se evidenciem outros sintomas. (NORRIS, 2021) A ureia é uma das primeiras escórias nitrogenadas a acumular- se no sangue e o nível sanguíneo de ureia aumenta progressivamente à medida que a DRC avança. A concentração plasmática normal de ureia é de cerca de 20 mg/dℓ. Nos pacientes com insuficiência renal, esse nível pode chegar a 800 mg/dℓ.18 (NORRIS, 2021) A creatinina – um subproduto do metabolismo muscular – é filtrada livremente nos glomérulos e não é reabsorvida nos túbulos renais. A creatinina é produzida a uma taxa relativamente constante e quase tudo que é filtrado nos glomérulos é eliminado na urina, em vez de ser reabsorvido para a corrente sanguínea. Desse modo, a creatinina sérica pode ser usada como indicador indireto para avaliar a TFG e a extensão da lesão renal associada à DRC. (NORRIS, 2021) O termo uremia, que significa literalmente “urina no sangue”, é usado para descrever as manifestações clínicas da insuficiência renal. Alguns dos sintomas da uremia não se evidenciam antes que sejam perdidos no mínimo dois terços dos néfrons renais. Uremia não é o mesmo que azotemia, termo que indica simplesmente acumulação de escórias nitrogenadas no sangue, que é assintomática em alguns casos. O estado urêmico inclui sinais e sintomas de distúrbios hidreletrolíticos e acidobásicos; alterações das funções reguladoras (p. ex., controle da pressão arterial, formação das hemácias e síntese reduzida de vitamina D); e efeitos da uremia na função do organismo (p. ex., encefalopatia urêmica, neuropatia periférica, prurido). Nesse estágio, quase todos os órgãos e estruturas do corpo são afetados. (NORRIS, 2021) Em geral, os sinais e sintomas iniciais da uremia (p. ex., fraqueza, fadiga, náuseas e apatia) são sutis. As queixas mais graves incluem fraqueza extrema, vômitos frequentes, letargia e confusão mental. Sem tratamento com diálise ou transplante renal, a condição evolui para coma e morte. (NORRIS, 2021) Distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos Os rins participam da regulação do volume de líquidos extracelulares eliminando ou retendo sódio e água. A insuficiência renal crônica pode causar desidratação ou sobrecarga de volume, dependendo do processo patológico da doença renal. Além da regulação do volume, também há redução da capacidade renal de concentrar urina. Um dos primeiros sinais de lesão renal é poliúria com urina praticamente isotônica com o plasma (densidade entre 1.008 e 1.012) e pouca variação entre as micções (NORRIS, 2021). À medida que a função renal declina ainda mais, a capacidade de regular a excreção de sódio é reduzida. Normalmente, os rins toleram amplas variações da ingestão de sódio, embora mantendo níveis séricos normais. Nos casos de insuficiência renal crônica, os rins perdem sua capacidade de regular a excreção de sódio. Há redução da capacidade de adaptar-se a uma diminuição súbita da ingestão de sódio e pouca tolerância a uma sobrecarga aguda de sal. Depleção de volume com redução associada da TFG pode ocorrer quando há restrição da ingestão de sódio ou perda salina excessiva em consequência de diarreia ou vômitos (NORRIS, 2021). Cerca de 90% da excreção de potássio ocorrem nos rins. Quando há insuficiência renal, a excreção de potássio por cada néfron aumenta à medida que os rins adaptam-se à redução da TFG. Além disso, a excreção desse elemento no sistema digestório também aumenta. Por essa razão, os pacientes geralmente só apresentam hiperpotassemia quando a função renal é gravemente comprometida. (NORRIS, 2021). Em condições normais, os rins regulam o pH sanguíneo eliminando os íons hidrogênio produzidos nos processos metabólicos e reciclando bicarbonato. Isso é conseguido por meio da secreção de íons hidrogênio, reabsorção de sódio e bicarbonato e produção de amônia, que atua como tampão dos ácidos tituláveis. Com a deterioração da função renal, esses mecanismos são prejudicados e o paciente pode desenvolver acidose metabólica quando é exposto a uma carga excessiva de ácidos ou perde quantidades excessivas de bases (p. ex., diarreia). A acidose que ocorre nos pacientes com insuficiência renal parece estabilizar-se à medida que a doença avança, provavelmente por causa da enorme capacidade de tamponamento dos ossos. Contudo, essa ação de tamponamento parece aumentar a reabsorção óssea e contribuir para os distúrbios esqueléticos que ocorrem nos pacientes com DRC (NORRIS, 2021) Distúrbios do metabolismo de cálcio e fósforo e doença óssea As anormalidades do metabolismo do cálcio e do fósforo ocorrem nos estágios iniciais da evolução da DRC. (NORRIS, 2021) A regulação dos níveis séricos do fósforo depende da excreção urinária diária de quantidades iguais às que são ingeridas com a dieta. Quando há deterioração da função renal, a excreção de fosfato diminui e, consequentemente, as concentrações séricas aumentam. Ao mesmo tempo, diminuem os níveis séricos de cálcio, que são regulados em relação inversa com as concentrações séricas do fosfato. Por sua vez, a redução do cálcio sérico estimula a secreção de hormônio paratireóideo (PTH), que aumenta a reabsorção de cálcio dos ossos (NORRIS, 2021) A síntese de vitamina D também diminui nos pacientes com DRC. Os rins regulam a atividade dessa vitamina convertendo a forma inativa da vitamina D (25[OH] vitamina D3) em calcitriol (1,25[OH] vitamina D3), queé sua forma fisiologicamente ativa. O calcitriol é conhecido por seu efeito supressor direto da síntese do PTH e, por isso, níveis mais baixos de calcitriol aumentam as concentrações deste hormônio. Além disso, os níveis baixos de calcitriol diminuem a absorção de cálcio no sistema digestório. A vitamina D também regula a diferenciação dos osteoblastos e, deste modo, dificulta a reposição óssea. (NORRIS, 2021) A maioria dos indivíduos com DRC desenvolve hiperparatireoidismo secundário a infrarregulação dos receptores das glândulas paratireoides. Tanto os receptores de vitamina D como os receptores de cálcio são infrarregulados, provocando elevação dos níveis de PTH e redução dos níveis séricos de cálcio e vitamina D. A vitamina D age em conjunto com o PTH para mobilizar cálcio e fosfato dos ossos a fim de manter os níveis séricos de cálcio e fosfato. (NORRIS, 2021) Distúrbios hematológicos Anemia A anemia da DRC é causada por vários fatores, inclusive perdas sanguíneas crônicas, hemólise, supressão da medula óssea por compostos urêmicos retidos e redução da produção de hemácias em consequência da síntese reduzida de eritropoetina e da deficiência de ferro. Os rins são os principais responsáveis pela síntese do hormônio eritropoetina, que controla a produção das hemácias. Quando há insuficiência renal, a produção desse hormônio geralmente é insuficiente para estimular a formação normal de hemácias pela medula óssea. (NORRIS, 2021) Quando não é tratada, a anemia causa ou contribui para as queixas como fraqueza, fadiga, dor de cabeça, irritabilidade, depressão, insônia e distúrbio da função cognitiva. (NORRIS, 2021) Também há preocupação crescente quanto aos efeitos fisiopatológicos da anemia na função cardiovascular. A anemia da insuficiência renal diminui a viscosidade sanguínea e causa aumento compensatório da frequência cardíaca. A viscosidade sanguínea reduzida também acentua a vasodilatação periférica e contribui para a redução da resistência vascular. O débito cardíaco aumenta em razão de uma resposta compensatória para manter a irrigação sanguínea, principalmente nos pacientes com doença cardíaca coronariana, resultando em angina do peito e outros episódios isquêmicos (NORRIS, 2021) Coagulopatias Os distúrbios hemorrágicos evidenciam-se por epistaxe, menorragia, hemorragia digestiva e equimoses na pele e nos tecidos subcutâneos. (NORRIS, 2021) Embora a formação de plaquetas geralmente esteja normal nos pacientes com DRC, a função plaquetária está deprimida. (NORRIS, 2021) Distúrbios cardiovasculares HAS Os mecanismos responsáveis pela hipertensão arterial associada à DRC são multifatoriais, mas incluem aumento do volume vascular, elevação da resistência vascular periférica, redução dos níveis das prostaglandinas vasodilatadoras e aumento da atividade do sistema renina-angiotensina (NORRIS, 2021) Doença cardíaca O espectro das doenças cardiovasculares associadas à DRC inclui hipertrofia ventricular esquerda e cardiopatia isquêmica. Os pacientes com DRC tendem a apresentar prevalência mais alta de disfunção ventricular esquerda com redução da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (atribuída à disfunção sistólica) e diminuição da fração de enchimento ventricular (atribuída à disfunção diastólica). (NORRIS, 2021) Vários fatores causam disfunção ventricular esquerda, inclusive sobrecarga de líquidos extracelulares, desvio do sangue por uma fístula arteriovenosa de diálise e anemia. Em especial, a anemia foi relacionada com hipertrofia ventricular esquerda. Quando estão associadas à hipertensão, comumente manifesta, essas anormalidades aumentam o trabalho miocárdico e a demanda de oxigênio, resultando por fim no desenvolvimento de insuficiência cardíaca. (NORRIS, 2021) Insuficiência cardíaca congestiva e edema pulmonar tendem a ocorrer nos estágios avançados da insuficiência renal. (NORRIS, 2021) Distúrbios gastrointestinais Anorexia, náuseas e vômitos são comuns nos pacientes com uremia, além do paladar metálico que inibe ainda mais o apetite. (NORRIS, 2021) Náuseas nas primeiras horas da manhã são uma queixa frequente. (NORRIS, 2021) Uma causa possível das náuseas e dos vômitos é a decomposição da ureia pela flora intestinal, resultando em concentrações altas de amônia. O PTH aumenta a secreção de ácido gástrico e contribui para os distúrbios gastrintestinais. (NORRIS, 2021) Os pacientes podem ter úlceras e sangramento da mucosa gastrintestinal e soluços são comuns. (NORRIS, 2021) Distúrbios neuromusculares Alguns pacientes com DRC sofrem alterações da função do sistema nervoso central e periférico. A neuropatia periférica – ou acometimento dos nervos periféricos – envolve mais comumente os membros inferiores que os superiores. Esse tipo de neuropatia é simétrico e afeta as funções sensorial e motora. A neuropatia periférica é causada por atrofia e desmielinização das fibras neurais, possivelmente causada pelas toxinas urêmicas. (NORRIS, 2021) A síndrome das pernas inquietas é manifestação clínica da neuropatia periférica e pode ser encontrada em até dois terços dos pacientes em diálise. Essa síndrome caracteriza-se por sensações de prurido, picadas ou “vermes rastejantes”, que comumente são mais intensas em repouso. A movimentação das pernas traz alívio transitório. Sensação de ardência nos pés, que pode ser seguida de fraqueza e atrofia dos músculos, é manifestação clínica da uremia. (NORRIS, 2021) Nos pacientes urêmicos, os distúrbios do sistema nervoso central são semelhantes aos causados por outras doenças tóxicas e metabólicas. Também conhecida como encefalopatia urêmica, essa condição não está bem esclarecida e pode ser causada ao menos em parte pelo excesso de ácidos orgânicos tóxicos, que alteram a função neural. As manifestações clínicas estão relacionadas mais diretamente com a progressão do distúrbio urêmico, que com o nível dos produtos metabólicos finais. A depressão do nível de atenção e consciência é o sinal mais precoce e significativo da encefalopatia urêmica. Em geral, essas alterações são seguidas de incapacidade de fixar a atenção, perda da memória a curto prazo e transtornos de percepção na identificação de pessoas e objetos. Delirium e coma são anormalidades tardias da evolução da uremia, enquanto convulsões são complicações pré-terminais. (NORRIS, 2021) Os distúrbios da função motora frequentemente acompanham as manifestações neurológicas da encefalopatia urêmica. Durante os estágios iniciais, geralmente há dificuldade de realizar movimentos delicados com os membros. A marcha do paciente torna-se instável e desajeitada, com tremores ao realizar movimentos. Nos casos típicos, os pacientes desenvolvem asterixe (movimentos de dorsiflexão das mãos e dos pés) à medida que a doença avança. Esse sinal pode ser desencadeado pedindo-se ao paciente para hiperestender os braços no nível dos cotovelos e punhos, com os dedos das mãos afastados. Quando o paciente tem asterixe, essa posição provoca movimentos adejantes laterais dos dedos das mãos. (NORRIS, 2021) Distúrbios imunes Todos os componentes da inflamação e da função imune podem ser afetados negativamente pelos níveis altos de ureia e escórias metabólicas, inclusive com redução das contagens de granulócitos, depressão da imunidade humoral e celular e disfunção fagocitária. A resposta inflamatória aguda e a reação de hipersensibilidade retardada também estão deprimidas. Embora os pacientes com DRC tenham respostas humorais normais às vacinas, pode ser necessário adotar um programa de imunização mais rigoroso. As barreiras cutâneas e mucosas à infecção também podem estar alteradas (NORRIS, 2021) Distúrbio da integralidade da pele Em geral, a pele empalidece em consequência da anemia, podendo adquirir uma tonalidade amarelo-acastanhadaou amarelada. Em geral, a pele e as mucosas estão ressecadas e é comum encontrar equimoses subcutâneas. (NORRIS, 2021) O ressecamento da pele (ou xerose) é causado por redução da transpiração em consequência da diminuição do tamanho das glândulas sudoríferas e da redução da atividade das glândulas sebáceas. (NORRIS, 2021) Prurido é uma queixa comum e resulta dos níveis séricos altos de fosfato e da formação de cristais de fosfato, que ocorre nos casos de hiperparatireoidismo. (NORRIS, 2021) Escarificação grave da pele e picadas repetidas de agulhas (especialmente para hemodiálise) comprometem a integridade da pele e aumentam o risco de infecção. (NORRIS, 2021) As unhas dos dedos das mãos também podem ficar finas e frágeis. (NORRIS, 2021) Disfunção sexual A causa da disfunção sexual de homens e mulheres com DRC ainda é desconhecida, mas provavelmente é multifatorial e pode resultar de níveis altos de toxinas urêmicas, neuropatia, alterações hormonais, anemia, doença óssea metabólica, comorbidades, distúrbios da função endócrina, fatores psicológicos (p. ex., ansiedade, depressão, baixa autoestima, retraimento social e imagem corporal) e fármacos (p. ex., anti- hipertensivos, antidepressivos). É comum que os pacientes tenham alterações das reações sexuais fisiológicas, da função reprodutiva e da libido (NORRIS, 2021) Eliminação de fármacos No processo metabólico, alguns fármacos formam metabólitos intermediários, que são tóxicos quando se acumulam. Algumas vias metabólicas dos fármacos, inclusive hidrólise, estão reduzidas quando há uremia. Nos pacientes diabéticos, por exemplo, as necessidades de insulina podem diminuir à medida que a função renal deteriora. (NORRIS, 2021) A eliminação renal reduzida possibilita que fármacos ou seus metabólitos acumulem-se no organismo e exige que suas doses sejam ajustadas proporcionalmente. Alguns fármacos contêm nitrogênio, sódio, potássio e magnésio e têm de ser evitados pelos pacientes com DRC. Por exemplo, as penicilinas contêm potássio. A nitrofurantoína e o cloreto de amônio aumentam a reserva de nitrogênio do corpo. Alguns antiácidos contêm magnésio. Em razão dos problemas com posologia e eliminação dos fármacos, os pacientes com DRC devem ser alertados quanto ao uso de medicamentos de venda livre. (NORRIS, 2021) Diagnóstico Doença renal crônica é definida como anormalidades da estrutura ou função renal, presentes por mais de 3 meses, com implicações para a saúde. Os critérios para doença renal crônica são: • Marcadores de dano renal (um ou mais): 1. Albuminúria (≥ 30mg/24h ou razão albuminúria/creatininúria ≥ 30mg/g) 2. Anormalidades do sedimento urinário 3. Anormalidades eletrolíticas ou outras devido a doenças tubulares 4. Anormalidades detectadas por histologia 5. Anormalidades estruturais detectadas por exames de imagem 6. História de transplante renal • Redução da TFG < 60ml/min/1,73m2 Anamnese Durante a anamnese e o exame físico, o médico deve estar atento a sintomas e sinais de doenc ̧as sistêmicas possivelmente envolvidas na perda da func ̧ão renal, como diabetes melito, hipertensão arterial, lúpus eritematoso siste ̂mico e outras doenc ̧as autoimunes, infecções virais, hepatopatias, mieloma múltiplo e outras disproteinemias, entre outros. A avaliac ̧ão de antecedentes familiares também é extremamente útil, tanto para doenças polige ̂nicas complexas, como diabetes melito, HAS, litíase e nefrocalcinose, como em doenças monogênicas, como doenc ̧a dos rins policísticos, doenças medulares císticas e síndrome de Alport, doenc ̧a de Fabry, Dent, cistinose, etc. (TITÃ, 2013) Com a progressão do distúrbio, surgem uma série de sinais e sintomas decorrentes de edema, congestão, alterac ̧ões hidreletrolíticas, distúrbios do equilíbrio acidobásico e toxicidade de produtos de catabolismo proteico e lipoproteico, como ureia e amônia. Os sintomas mais comuns são fadiga, náuseas (principalmente pela manhã) e vo ̂mitos. É bastante comum o paciente notar alterações em memória, padrão de sono e surgimento de lentificac ̧ão. Em idosos, estes sintomas podem não ser valorizados, atrasando ainda mais o diagnóstico. A perda de peso pode ser exuberante, obrigando o diagnóstico diferencial com outras síndromes de caquexia. (TITÃ, 2013) Exame físico O exame físico deve incluir aferições da pressão arterial em decúbito dorsal e na posição ortostática em ambos os braços e pernas, além de uma pesquisa de achados associados a DRC, como anormalidades cutâneas, prurido persistente, rim policístico palpável, evidências de perda de massa corporal magra, edema e anormalidades neurológicas. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022) Indicadores da função renal A TFG é considerada o melhor indicador da função global do rim. A TFG normal, que varia com a idade, o sexo e o tamanho corporal, varia de 120 a 130 mℓ/min/1,73 m2 nos adultos jovens e saudáveis normais. Na prática clínica, a TFG geralmente é estimada com base na concentração sérica de creatinina. Embora a TFG possa ser obtida por determinação do clearance de creatinina usando métodos de coleta de urina programada (p. ex., 24 h) (NORRIS, 2021) Albuminúria é um importante marcador para dano renal. Normalmente, a urina contém quantidades diminutas de proteína. No entanto, se os rins estiverem danificados, a proteína pode “extravasar” dos rins para a urina. O tipo de proteína (p. ex., globulinas de baixo peso molecular ou albumina) depende do tipo de doença renal. Excreção aumentada de globulinas de baixo peso molecular é um indício de doença tubulointersticial, enquanto excreção de albumina é um marcador de DRC resultante de hipertensão ou diabetes melito. (NORRIS, 2021) O termo microalbuminúria – um sinal precoce de nefropatia diabética – refere-se à excreção de albumina acima da faixa normal, embora abaixo da variação normalmente detectada pelos testes de excreção proteica total na urina. (NORRIS, 2021) Os grupos populacionais em risco de DRC (i. e., pacientes com diabetes melito, hipertensão arterial ou história familiar de doença renal) devem fazer uma triagem para microalbuminúria, ao menos uma vez por ano, como parte dos seus exames periódicos de saúde (NORRIS, 2021) Outros marcadores de lesão renal são anormalidades do sedimento urinário (cilindros hemáticos e leucocitários) e dos exames de imagem. (NORRIS, 2021) Além disso, o aminoácido biomarcador cistatina C (também conhecido como cistatina 3), que tem sido usado para detectar doença cardiovascular de início recente, também se mostrou capaz de prever doença renal. (NORRIS, 2021) Exames complementares Clearance da creatinina Para o cálculo da depuração da creatinina, é necessária a coleta de urina no período de 24 horas, principal limitante da técnica. (BASTOS, 2010) As observações de menor viés e maior acurácia da equação CKD-EPI em comparação à equação do estudo MDRD, particularmente nas faixas de TFG > 60 mL/min/1,73 m2, constituem o racional para preconizar o seu uso clínico em substituição às equações de estimativa da TFG até então utilizadas. (BASTOS, 2010) Creatinina sérica A alteração dos níveis séricos da creatinina justifica-se pela lesão renal, na qual compromete a funcionalidade dos rins e, portanto, repercute na excreção desse metabólito nitrogenado. Assim, pode se diz que os níveis elevados de creatinina plasmática ocorrem por conta da redução ou ausência da filtração glomerular nos indivíduos com DRC (VASCONCELOS, 2021) Uma grande limitação do uso da concentração de creatinina sérica como único indicador da função renal é que ela pode permanecer na faixa nominalmente normal até que 50% da função renal sejam perdidos. No entanto, medições repetidas do nível de creatinina sérica podem estimar a taxa de perda ou alteração na função renal porque as alterações recíprocasdo nível de creatinina sérica (1/creatinina sérica) ao longo do tempo produzem uma relação linear com a TFG (GOLDMAN, SCHAFER, 2021) Ureia sérica A ureia pré-dialítica em excesso promove a concentração desse composto orgânico na corrente sanguínea, propiciando o aparecimento de toxinas urêmicas, que ocasionam o prurido (VASCONCELOS, 2021). Fósforo A concentração de fósforo elevada é uma característica comum da doença renal, visto que a perda progressiva dos néfrons não possibilita a excreção adequada desse elemento. A hiperfosfatemia também pode ser resultante da ingestão em excesso de alimentos ricos em fósforo, tais como: feijão, pães, cereais, cacau, cerveja, refrigerantes (VASCONCELOS, 2021). Exame microscópico da urina/ sumário de urina O achado de eritrócitos e cilindros eritrocitários no sedimento urinário é consistente com glomerulonefrite, mas também pode refletir lesão na bexiga. (GOLDMAN, SCHAFER, 2021) Os cilindros granulares finos e as proteínas na urina sugerem doença renal diabética (GOLDMAN, SCHAFER, 2021) Amostras de urina contendo leucócitos mais cilindros granulares finos e grossos sugerem nefrite intersticial, especialmente se houver eosinófilos na urina (GOLDMAN, SCHAFER, 2021) No sedimento urinário pode-se observar a presença de cilindros patológicos: leucocitários, hemáticos, epiteliais, granulosos, céreos, largos e graxos. A presença de cilindros hialinos não são tipicamente patológicas, podendo ocorrer por alterações fisiológicas. (BASTOS, 2010) Albuminúria é um importante marcador para dano renal. Normalmente, a urina contém quantidades diminutas de proteína. No entanto, se os rins estiverem danificados, a proteína pode “extravasar” dos rins para a urina. O tipo de proteína (p. ex., globulinas de baixo peso molecular ou albumina) depende do tipo de doença renal (NORRIS, 2021). De modo a estabelecer o diagnóstico de DRC em adultos e crianças pré-púberes com diabetes, os testes da fita urinária são aceitáveis para detectar albuminúria. Quando o teste da fita urinária é positivo (1+ ou mais), a albuminúria geralmente é confirmada pela determinação da quantitativa da razão albumina:creatinina em uma amostra aleatória de urina (NORRIS, 2021) A NKF classifica: • Microalbuminúria: como razão albumina urinária:creatinina de 30 a 300 mg/g • Macroalbuminúria: como razão > 300 mg/g (quase equivalente a um exame com fita reagente positivo para proteína). Cistatina 3 O aminoácido biomarcador cistatina C (também conhecido como cistatina 3), que tem sido usado para detectar doença cardiovascular de início recente, também se mostrou capaz de prever doença renal (NORRIS, 2021). Exame de imagem A avaliação inicial deve incluir ultrassonografia (US) dos rins e da bexiga para descartar obstrução do fluxo urinário ou doença renal policística (GOLDMAN, SCHAFER, 2022) Rins aumentados sugerem que a DRC pode ser causada por diabetes melito, nefropatia associada ao HIV, doenças infiltrativas (p. ex., amiloidose) ou doença renal policística. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022) Rins pequenos, especialmente com córtex renal contraído, sugerem doenças glomerulares crônicas ou intersticiais Rins direito e esquerdo com dimensões diferentes sugerem estenose da artéria renal no rim menor, sobretudo em pacientes hipertensos. (GOLDMAN, SCHAFER, 2022) Hemograma Baixos níveis de hematócrito e hemoglobina: refletem a anemia, que é uma das complicações mais frequentes em indivíduos com perda da função renal (SOUZA et al., 2016). A etiologia da anemia na DRC é multifatorial, podendo ser resultante da deficiência absoluta ou funcional de ferro, deficiência de eritropoetina, deficiência de micronutrientes como ácido fólico e vitaminas do complexo B, processo inflamatório crônico, infecções, perda de sangue retido na circulação extracorpórea, efeitos adversos de alguns medicamentos, como a heparina utilizada durante a hemodiálise, a qual pode alterar a coagulação sanguínea e desencadear a hemorragia (PLASTINA et al., 2019) Riscos da automedicação Definição A automedicação é conceituada como a prática de ingerir substâncias de ação medicamentosa sem o aconselhamento e/ou acompanhamento de um profissional de saúde qualificado. (DA SILVA, 2022) Diversas causas são apontadas como fatores que levam a população a se automedicar, mas ressalta-se: a venda indiscriminada de medicamentos, a dificuldade de acesso aos sistemas de saúde, os custos de consultas médicas e/ou planos de saúde, urgência em aliviar sintomas e por indicações de amigos e familiares. (DA SILVA, 2022) Epidemiologia No Brasil, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), todo ano, cerca de 20 mil pessoas morrem, no País, vítimas da automedicação. (DA SILVA, 2022) Uma pesquisa da Datafolha®, realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), mostrou que a automedicação é realizada por 77% dos brasileiros. Quase 11 metade dessa população se automedica pelo menos uma vez ao mês e 25% o fazem todo dia ou pelo menos uma vez na semana (DA SILVA, 2022) A automedicação ainda está bastante presente na população adulta brasileira quanto mundial, caracterizando-se assim como um problema de saúde pública. Houve uma maior prevalência na população do gênero feminino com idade até 40 anos e de alta escolaridade. Diversos estudos comprovam que a população brasileira está mais propensa a dores e doenças crônicas, o que leva a consumirem os medicamentos sem a orientação prévia de um profissional de saúde, muitos dos medicamentos utilizados são os chamados MIP’s (Medicamentos isentos de prescrição) (DA SILVA, 2022) De forma interessante, um certo nível de automedicação é aceitável, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), desde que ocorra, de forma responsável. De acordo com a OMS, este nível de automedicação pode ser benéfico para o sistema público de saúde (OMS, 2005). Exemplos, como dores de cabeça, muitas vezes, resultantes de situação de estresse, cólicas abdominais ou menstruais, podem ser aliviadas temporariamente com medicamentos de menor potência. (DA SILVA, 2022) Essa prática, segundo a OMS, evita, muitas vezes, o colapso do sistema público de saúde, pelo atendimento a casos transitórios ou de menor urgência. Entretanto, a autoprescrição, ou seja, o uso por conta própria de remédios contendo tarja vermelha ou preta na embalagem, e que só devem ser utilizados sob prescrição médica, é extremamente perigosa e inaceitável segundo a OMS. (DA SILVA, 2022) Principais medicações Riscos Entre os efeitos nocivos advindos da automedicação estão: (DA SILVA, 2022) ➢ o diagnóstico incorreto, ➢ reações adversas, ➢ mascaramento de doenças na fase inicial, ➢ indução a resistência bacteriana, ➢ reações de hipersensibilidade, ➢ intoxicações, ➢ sangramentos digestivos, ➢ dosagem inadequada ou excessiva, ➢ risco de dependência, ➢ enfermidades iatrogênicas ➢ óbitos. ➢ medicamentos de uso coletivo (familiar) como descongestionantes nasais e colírios podem causar contaminação cruzada Referências: DA SILVA SANTOS, Shariene Tainara; DE ALBUQUERQUE, Natália Luciene; DE MELO GUEDES, João Paulo. Os riscos da automedicação com medicamentos isentos de prescrição (MIPs) no Brasil, 2022. NORRIS, T. L. Porth fisiopatologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. JOHNSON, Richard J. Nefrologia Clínica. Grupo GEN, 2016. GOLDMAN, Lee; SCHAFER, Andrew I. Goldman-Cecil Medicina.: Grupo GEN, 2022.