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PETIÇÃO PRONTA - INICIAL - REVISÃO FGTS - JUIZADO ESPECIAL FEDERAL

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL CÍVEL DE XXXXXXXX - ___ª SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE XXXXXXXX.
			FULANO (A) DE TAL, brasileiro (a), (estado civil), (profissão), portador (a) da Cédula de Identidade RG nº ______ - SSP/SP, inscrito (a) no CPF/MF sob nº ________ , residente e domiciliado (a) na Rua _________ , nº ___ , apto ___ , bairro ___ , Município de XXXXXX, CEP ______ - Estado de XXXXXXX, por intermédio de seu procurador abaixo assinado, vem propor a presente
AÇÃO REVISIONAL DO FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO (FGTS), COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA, contra
			CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob nº 00.360.305/0001-04, com sede na SBS QD 04, Bloco A, Lote 3/4, 21º andar, Bairro Asa Sul, CEP 70.092-900, Brasília / DF, pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir aduzidos:
I – DOS FATOS
			O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS foi criado na década de 60 para proteger o trabalhador da despedida imotivada, como sucedâneo do antigo regime da estabilidade decenal. É constituído por valores depositados pelas empresas em nome de seus empregados, possibilitando que o trabalhador forme um patrimônio em razão do trabalho realizado ao longo de uma vida.
			O FGTS é regido hoje pelas disposições da Lei 8.036, de 11 de maio de 1990, por normas e diretrizes estabelecidas pelo seu Conselho Curador e geridas pela Caixa Econômica Federal - CEF, e hoje financia programas de habitação popular, saneamento básico e infraestrutura urbana.
			Dos artigos 2º e 13, da Lei 8.036/1990 extraímos a obrigatoriedade de correção monetária e de remuneração por meio de juros sobre os depósitos efetuados nas contas vinculadas ao FGTS.
Art. 2º. O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e outros recursos a ela incorporados, devendo ser aplicados com atualização monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigações.
§ 1º Constituem recursos incorporados ao FGTS, nos termos do caput deste artigo:
...
d) multas, correção monetária e juros moratórios devidos;
Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados para a atualização dos saldos dos depósitos de poupança e capitalização de juros de (três) por cento ao ano. [grifamos]
			Por sua vez, o parâmetro fixado para a atualização dos saldos dos depósitos da caderneta de poupança e, consequentemente, dos depósitos do FGTS é a Taxa Referencial – TR, conforme prescrevem os artigos 12 e 17, da Lei 8.177, de 1º de março de 1991, com redação alterada pela Lei 12.703, de 7 de agosto de 2012.
Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de poupança serão remunerados:
I - como remuneração básica, por taxa correspondente à acumulação das TRD, no período transcorrido entre o dia do último crédito de rendimento, inclusive, e o dia do crédito de rendimento, exclusive;
II - como remuneração adicional, por juros de: (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)
a) 0, 5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco Central do Brasil, for superior a 8, 5% (oito inteiros e cinco décimos por cento); ou (Redação dada pela Lei nº 12.703, de 2012)
b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida pelo Banco Central do Brasil, mensalizada, vigente na data de início do período de rendimento, nos demais casos. (Redação dada pela Lei nº 12.703, de 2012)
§ 1º A remuneração será calculada sobre o menor saldo apresentado em cada período de rendimento.
§ 2º Para os efeitos do disposto neste artigo, considera-se período de rendimento:
I - para os depósitos de pessoas físicas e entidades sem fins lucrativos, o mês corrido, a partir da data de aniversário da conta de depósito de poupança;
II - para os demais depósitos, o trimestre corrido a partir da data de aniversário da conta de depósito de poupança.
§ 3º A data de aniversário da conta de depósito de poupança será o dia do mês de sua abertura, considerando-se a data de aniversário das contas abertas nos dias 29, 30 e 31 como o dia 1º do mês seguinte.
§ 4º O crédito dos rendimentos será efetuado:
I - mensalmente, na data de aniversário da conta, para os depósitos de pessoa física e de entidades sem fins lucrativos; e
II - trimestralmente, na data de aniversário no último mês do trimestre, para os demais depósitos.
Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos depósitos de poupança com data de aniversário no dia 1º, observada a periodicidade mensal para remuneração.
Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em vigor do FGTS são mantidas e consideradas como adicionais à remuneração prevista neste artigo.
			Sobressai, ainda, do artigo 1º, da Lei 8.177/1991 a forma como a TR deverá ser calculada:
Art. 1º O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixos captados nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado Federal.
...
§ 3º. Enquanto não aprovada a metodologia de cálculo de que trata este artigo, o Banco Central do Brasil fixará a TR. [grifamos]
			A metodologia de cálculo da TR foi há muito tempo definida pelo Banco Central, e hoje está vigente sob a forma prevista na Resolução nº 4.624/2018, de 18 de janeiro de 2018.
			Ocorre que há muito tempo, a TR não reflete mais a correção monetária, tendo se distanciado completamente dos índices oficiais de inflação. Nos meses de setembro, outubro e novembro de 2009, janeiro e fevereiro de 2010, fevereiro e junho de 2012 em diante a TR tem sido ZERO, ou seja, foi completamente anulada, como se não existisse qualquer inflação no período passível de correção.
			Diante disso, a presente ação visa o reconhecimento pelo Poder Judiciário do direito do (a) Requerente de que o saldo do seu FGTS seja atualizado monetariamente por índice que reflita a recomposição da moeda ao longo do tempo em que permaneceu em poder da Requerida, devido à indiscutível diminuição do poder aquisitivo deflagrada pela inflação, a qual, como já dito, há muito não se encontra refletida pela TR.
			Em suma, esse é o objeto da ação.
II – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
			Uma vez que a ação trata de correção monetária dos depósitos de FGTS, indiscutível a legitimidade passiva e exclusiva da Caixa Econômica Federal (CEF), conforme precedentes do STJ, senão vejamos:
AÇÃO RESCISÓRIA. ADMINISTRATIVO. FGTS. CORREÇÃO DOS SALDOS DAS CONTAS VINCULADAS. DIFERENÇAS DE EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. TEMA JÁ PACIFICADO NO STJ. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO
1. A matéria referente à correção monetária das contas vinculadas ao FGTS, em razão das diferenças de expurgos inflacionários, foi decidida pela Primeira Seção deste Superior Tribunal, no REsp n. 1.111.201- PE e no REsp n. 1.112.520 – PE, de relatoria do Exmo. Min. Benedito Gonçalves, ambos submetidos ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/08 do STJ, que tratam dos recursos representativos da controvérsia, publicados no DJe de 4.3.2010
(...)
3. Quanto às demais preliminares alegadas, devidamente prequestionadas, esta Corte tem o entendimento no sentido de que, nas demandas que tratam da atualização monetária dos saldos das contas vinculadas do FGTS, a legitimidade passiva é ad causam é exclusiva da Caixa Econômica Federal, por ser gestora do Fundo, com exclusão da União e dos bancos depositários. (Súmula 249/STJ) [grifamos]
(...)
(AR 1.962/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Primeira Seção, julgado em 08/02/2012, DJe 27/02/2012)
			Assim, a presente açãose dirige exclusivamente contra a Caixa Econômica Federal, conforme entendimento pacificado pela jurisprudência pátria.
SÚMULA 249/STJ – “A Caixa Econômica Federal tem legitimidade passiva para integrar um processo em que se discute a correção monetária do FGTS.”
III – DA PRESCRIÇÃO
			Quanto ao prazo prescricional, conforme entendimento do STF, no julgamento do Recurso Extraordinário com Agravo nº 709.212/DF, aplica-se a prescrição quinquenal, com termo inicial em 13 de novembro de 2014.
ARE STF nº 709.212/DF - O Tribunal, decidindo o tema 608 da Repercussão Geral, por maioria, negou provimento ao recurso, vencido o Ministro Marco Aurélio que o provia parcialmente. Também por maioria declarou a inconstitucionalidade do art. 23, § 5º, da Lei nº 8.036/1990, e do art. 55 do Decreto nº 99.684/1990, na parte em que ressalvam o “privilégio do FGTS à prescrição trintenária”, haja vista violarem o disposto no art. 7º, XXIX, da Carta de 1988, vencidos os Ministros Teori Zavascki e Rosa Weber, que mantinham a jurisprudência da Corte. Quanto à modulação, o Tribunal, por maioria, atribuiu à decisão efeitos ex nunc, vencido o Ministro Marco Aurélio, que não modulava os efeitos. Tudo nos termos do voto do Relator. Presidiu o julgamento o Ministro Ricardo Lewandowski. Plenário, 13.11.2014.
			Nesse sentido aponta a Súmula 362 do Tribunal Superior do Trabalho.
Súmula 362 TST – FGTS. PRESCRIÇÃO:
I – Para os casos em que a ciência da lesão ocorreu a partir de 13.11.2014, é quinquenal a prescrição do direito de reclamar contra o não-recolhimento de contribuição para o FGTS, observado o prazo de dois anos após o término do contrato;
II – Para os casos em que o prazo prescricional já estava em curso em 13.11.2014, aplica-se o prazo prescricional que se consumar primeiro: trinta anos, contados do termo inicial, ou cinco anos, a partir de 13.11.2014 (STF-ARE-709212/DF).
			Sendo assim, a ação ora proposta, mesmo se enquadrando no novo entendimento das Cortes Superiores acerca do prazo prescricional, qual seja o quinquenal, tem pleno vigor, uma vez que fora ajuizada antes da derradeira data de 13 de novembro de 2019.
IV – DO DIREITO
			Iniciamos lembrando que a correção monetária foi institucionalizada em nosso país por meio da Lei nº 4.357, de 1964, que criou o primeiro indexador da Economia Brasileira – a ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional) – uma obrigação monetária cuja função era fazer variar periodicamente o valor da moeda nacional segundo seus respectivos poderes aquisitivos.
			Desde essa data, uma gama de índices de correção monetária foi se sucedendo, até a entrada em vigor da Medida Provisória nº 294, de 31 de janeiro de 1991, que foi convertida na Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991. Nessa oportunidade, o Governo Collor pretendeu substituir a série de indexadores tradicionais da correção monetária brasileira (ORTN, OTN, BTN), que eram vinculados à variação dos níveis gerais de preços, pela Taxa Referencial (TR), que possuía natureza financeira.
			Ainda hoje permanece a perplexidade em relação à natureza jurídica da TR, até por conta da própria inconsistência da lei que a criou, que ora a trata como taxa de juros (art. 39) ora como indexador (art. 18).
			Taxas de juros objetivam promover a remuneração do capital. São calculadas por quem disponibiliza o capital em benefício de outra pessoa, física ou jurídica, para que empregue para satisfação de determinada necessidade, na expectativa de lucro.
			Os indexadores, por outro lado, podem ser entendidos como índices calculados a partir da variação de preços de mercado em determinado período. O seu objetivo está na correção dos efeitos inflacionários, quando se compara valores monetários em diferentes épocas.
			E assim, quando o STF enfrentou o tema da natureza da TR, assentou no voto vencedor da ADI 493-0/DF que:
“A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que refletia a variação do poder aquisitivo da moeda.” [grifamos]
			Não obstante, os Ministros vencidos Celso de Mello, Marco Aurélio e Ilmar Galvão entenderam que a estrutura de cálculo da taxa referencial não era suficiente para impedir sua utilização como parâmetro de indexação de economia.
			Mesmo assim, naquela oportunidade, o STF entendeu que a TR possuía natureza de taxa de juros e declarou inconstitucional o art. 18, da Lei nº 8.177/91, cujo texto original estabelecia que os saldos devedores e as prestações dos contratos integrantes do SFH, passariam a ser atualizados pela taxa aplicável à remuneração básica dos Depósitos de Poupança. Vale a pena transcrever a ementa deste julgado:
Ação direta de inconstitucionalidade – Se a lei alcançar os efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela será esta lei retroativa (retroatividade mínima) porque vai interferir na causa, que é um ato ou fato ocorrido no passado. – O disposto no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva. Precedente do STF – Ocorrência, no caso, de violação de direito adquirido. A taxa referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda. Por isso, não há necessidade de se examinar a questão de saber se as normas que alteram o índice de correção monetária se aplicam imediatamente, alcançando, pois, as prestações futuras de contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no art. 5º, XXXVI, da Carta Magna. – Também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o critério de reajuste das prestações nos contratos já celebrados pelo sistema do Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional (PES/CP). Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18 “caput” parágrafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da Lei nº 8.177, de 1 de maio de 1991.
(STF - ADI 493, Relator (a): Min.: MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 25/06/1992, DJ 04-09-1992 PP14089 EMENT VOL- 01674-02 PP- 00260 RTJ VOL- 00143-03 PP- 00724)
			Por algum tempo, o próprio STJ rejeitou a TR como índice de correção monetária, tanto para a poupança, quanto para o SFH. Nesse sentido:
COMERCIAL. MÚTUO RURAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. VINCULAÇÃO AO CRITÉRIO DE REAJUSTE DOS DEPÓSITOS EM CADERNETA DE POUPANÇA. LICITUDE. SUBSTITUIÇÃO PELA TR NOS MESES SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91. PREVISÃO DE UTILIZAÇÃO DA OTN. INDEXADOR CONTRATUALMENTE ELEITO. SUBSTITUIÇÃO EX LEGE PELA TR. INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA. ADOÇÃO DO INPC. PRECEDENTES:
I- NO CONTRATO DE MÚTUO RURAL É LÍCITO O PACTO DE VINCULAÇÃO DA CORREÇÃO MONETÁRIA AO CRITÉRIO DE ATUALIZAÇÃO DOS DEPÓSITOS EM CADERNETAS DE POUPANÇA, RESULTANDO DEVIDA A INCIDÊNCIA DO MESMO INDEXADOR NOS MESES SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91 (ART. 13 DA LEI 8.177).
II- EM FACE DA POSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL INADIMITINDO A TR COMO FATOR DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA SUBSTITUINDO O BTN, A CORREÇÃO DOS VALORES, CUJA FORMA DE REAJUSTE ESTAVA, POR LEI OU CONTRATO, ATRELADA A VARIAÇÃO DO VALOR DE REFERIDO TÍTULO DA DÍVIDA PÚBLICA, CUMPRE SEJA PRECEDIDA, A PARTIR DA LEI 8.177/91, COM BASE NO INPC.
(REsp. 40.777/GO - Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 13/11/1995, DJ 11/12/1995, p. 43225)
ADMINISTRATIVO – SFH – REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES E DO SALDO DEVEDOR – PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL (PES) – INAPLICABILIDADE DA TR – ADIN 493-0/STF – VANTAGENS PESSOAIS INCORPORADAS DEFINITIVAMENTE AO SALÁRIO – INCLUSÃO NO CÁLCULO – DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADA – RISTJ. ART. 255 E PARÁGRAFOS – SÚMULA 13/STJ – PRECEDENTES STJ.
- Nos contratos vinculados ao PES, o reajustamento das prestações deve obedecer à variaçãosalarial dos mutuários, a fim de preservar a equação econômico-financeira do pactuado.
-As vantagens pessoais incorporadas, definitivamente ao salário ou vencimento do mutuário, incluem-se na verificação da equivalência para fixação das parcelas.
-Declarada pelo STF a inconstitucionalidade da TR como fator de correção monetária (ADIN 493-0), o reajustamento do saldo devedor, a exemplo das prestações mensais, também deve obedecer ao Plano de Equivalência Salarial. [grifamos]
- Recurso conhecido e parcialmente provido
(REsp 14.839/BA, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/11/1999, DJ 21/02/2000, p. 112)
SFH. PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL. REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO. NULIDADE DO ACÓRDÃO. INOCORRÊNCIA. VANTAGENS PESSOAIS. INCLUSÃO. CORREÇÃO PELA TR. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
(...)
4. Inaplicável a TR como fator de correção monetária
Entendimento consagrado nesta Corte na esteira de orientação traçada pelo STF. [grifamos]
5. Recurso Especial conhecido e parcialmente provido
(REsp 209.466/BA Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/08/2011, DJ 17/06/2012, p. 231)
			Todavia, aquela Corte de Justiça, fazendo uma releitura do voto do Ministro Moreira Alves do STF, mudou o entendimento, e passou a adotar a constitucionalidade da TR como índice de correção monetária, considerando inconstitucional apenas a sua aplicação retroativa e, no tocante a sua aplicação na correção do FGTS, chegou até a editar a Súmula 459.
			Como dito alhures, aplicação de índice de correção monetária se presta para recuperar o poder de compra do valor emprestado. Este poder de compra é diretamente influenciado por um processo inflacionário. O próprio STJ reconhece a influência da inflação como correção monetária, senão vejamos:
A correção monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do poder aquisitivo da moeda, não devendo representar, consequentemente, por si só, nem um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor nominal da obrigação representa, portanto, manter, no tempo, o seu poder de compra original, alterado pelas oscilações inflacionárias positivas e negativas ocorridas no período. Atualizar a obrigação levando em conta apenas oscilações positivas importaria distorcer a realidade econômica produzindo um resultado que não representa a simples manutenção do primitivo poder aquisitivo, mas um indevido acréscimo no valor real. Nessa linha, estabelece o Manual de Orientação de Procedimento de Cálculos aprovado pelo Conselho da Justiça Federal que, não havendo decisão judicial em contrário, “os índices negativos de correção monetária (deflação) serão considerados no cálculo de atualização”, com a ressalva de que, se, no cálculo final, “a atualização implicar redução do principal, deve prevalecer o valor nominal” (Corte Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJe 18/4/12) [grifamos]
			Não podemos nos esquecer de que a cultura da correção monetária está de tal forma arraigada ao nosso sistema econômico, que o próprio Código Civil de 2002, traz diversos dispositivos garantindo atualização monetária.
			Este retrospecto da evolução legal e jurisprudencial a respeito da aplicação da TR como índice de correção monetária se faz necessário para que pudéssemos chegar ao núcleo do argumento desta ação.
			Hoje no país, há dois tipos de correção monetária. Índices que refletem a inflação e, portanto, recuperam o valor de compra do valor aplicado, como o INPC e o IPCA, e um índice que não reflete a inflação, e consequentemente não recupera o poder de compra do valor aplicado – a Taxa de Referencial/TR.
			Historicamente, é preciso lembrar que a Taxa Referencial nunca esteve alinhada à inflação. Nem quando experimentamos a hiperinflação, nem quando experimentamos a deflação. Todavia, os índices da TR, do INPC e do IPCA sempre andaram próximos. Em outras palavras, imperava a razoabilidade dos índices da TR para que pudessem atingir a finalidade de correção do valor do capital.
			Não obstante, o cenário começa a mudar a partir de 1999, quando a TR se distancia expressivamente do INPC e IPCA, ao ponto de hoje a inflação ultrapassar 4% ao ano, enquanto a TR permanece igual a ZERO. Logo, ela não se presta para o fim de manter o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, que são um patrimônio do trabalhador.
			O sentimento geral é que há muito tempo o FGTS é um fundo iníquo, por não apresentar a recomposição inflacionária dos seus recursos. Na verdade, o trabalhador não está financiando programas de habitação popular, saneamento básico e infraestrutura urbana, mas sim, subsidiando.
			Ao contrário de outros investimentos, o FGTS não é um fundo de livre disposição por parte do trabalhador, não podendo ele decidir sponte propria quais as aplicações que lhe são mais convenientes ou rentáveis. O trabalhador tem que se submeter a políticas econômicas e sociais que lhe são altamente prejudiciais.
			Ora, mas a própria Lei do FGTS diz em seu art. 2º que é garantida a atualização monetária e juros. Quando a TR é igual a ZERO este artigo é descumprido. Quando a TR é mínima e totalmente desproporcional em relação à inflação, este artigo também é descumprido e o patrimônio do trabalhador é subtraído por quem tem o dever legal de administrá-lo.
			Em um ano de TR acumulada igual a ZERO e previsão de INFLAÇÃO OFICIAL de 4,05% para 2018 (Relatório de Mercado Focus /BACEN), estamos diante de uma situação de confisco. O Governo Federal, por meio da Caixa Econômica Federal, está confiscando os rendimentos dos trabalhadores, para subsidiar políticas públicas, sem a menor ingerência destes trabalhadores.
			Assim como em nosso Estado Democrático de Direito, a Constituição veda que se utilize tributo com efeito de confisco, o trabalhador não pode ser punido com confisco do que a própria Caixa define em seu sítio eletrônico, como um patrimônio do trabalhador, e definitivamente o é. Quando se fala em patrimônio, imediatamente sobrevém lição da Professora Maria Helena Diniz, ao comentar o art. 91, do Código Civil de 2002:
“Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor econômico. ”
			Universalidade de direito: é a constituída por bens singulares corpóreos heterogêneos e incorpóreos (complexo de relações jurídicas), a que a norma jurídica, com o intuito de produzir certos efeitos, dá unidade, por serem dotados de valor econômico, como p. Ex., o patrimônio (...). O patrimônio e a herança são considerados como um conjunto, ou seja, como uma universalidade. Embora se constituam ou não de bens materiais e de créditos, esses bens se unificam numa expressão econômica, que é o valor. O patrimônio é complexo de relações jurídicas de uma pessoa apreciável economicamente. Incluem-se no patrimônio: a posse, os direitos reais, as obrigações e as ações correspondentes a tais direitos. O patrimônio abrange direitos deveres redutíveis a dinheiro. (DINIZ, 2017, p. 100) [grifamos]
			Levando em conta que a relação jurídica entre os trabalhadores e a Caixa Econômica Federal é de direito pessoal, o art. 233 do Código Civil se torna inafastavel, na medida em que determina que a obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios ainda que não mencionados.
“Art. 233 A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo o contrário resultar do título ou das circunstancias do caso.”
Ora, acessórios de dinheiro são juros e a correção monetária.
E então voltamos à Taxa Referencial.
Manipulação da TR pelo Banco Central
			Independentemente da discussão sobre sua natureza jurídica, vamos aqui partir do pressuposto, assentado pela jurisprudência, principalmente pelo STJ, que a TR é índice de correção monetária.
			Tanto o art. 1º da Lei nº 8.177/91, quanto o art. 5º da Lei nº 10.192/2001 (que convolou a MP nº 1.053/95) atribuíram ao Banco Central a regulamentação da metodologia de cálculo da TR, conforme critério estabelecido na lei e a expedição das instruçõesnecessárias ao cumprimento do artigo que criou a Taxa Básica Financeira - TBF.
Art. 5º. Fica instituída Taxa Básica Financeira - TBF, para ser utilizada exclusivamente como base de remuneração de operações realizadas no mercado financeiro, de prazo de duração igual ou superior a sessenta dias.
Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional expedirá as instruções necessárias ao cumprimento do disposto neste artigo, podendo, inclusive, ampliar o prazo mínimo previsto no caput. (Lei nº 10.192/2001)
			Com o propósito de regulamentar a TR, o Banco Central vem ao longo dos anos criando e reinventando fórmulas para calculá-la. Pelo menos desde a Resolução nº 2.075, de 26 de maio de 1994, há fórmulas para encontrar a TR. Todavia com a instituição da Taxa Básica Financeira, pela Medida Provisória nº 1.053/95, de 30 de junho de 1995, a forma de cálculo da TR sofreu uma expressiva modificação.
			Desde a Resolução nº 2.437, de 30 de outubro de 1997, a TR é calculada levando em conta a Taxa Básica Financeira e um Redutor.
			A Resolução nº 4.624/2018, hoje vigente sobre o assunto, diz o seguinte:
Art. 1º A Taxa Básica Financeira (TBF), de que trata o art. 5º da Lei nº 10.192, de 14 de fevereiro de 2001, e a Taxa Referencial (TR), de que tratam os arts. 1º da Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991, e 1º da Lei nº 8.660, de 28 de maio de 1993, serão calculadas a partir de taxas de juros negociadas no mercado secundário com Letras do Tesouro Nacional (LTN).
Art. 2º Será constituída, a cada dia útil, base de dados composta por todas as operações definitivas realizadas no mercado secundário, registradas no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), com LTNs de prazo de vencimento imediatamente anterior, ou coincidente, e imediatamente posterior ao prazo de um mês.
Art. 3º Para cada vencimento de LTN que compõe a base de dados de que trata o art. 2º, será calculada a taxa de juros média (TM) [...]
Art. 4º Para cada dia do mês – dia de referência –, o Banco Central do Brasil deve calcular a TBF, para o período de um mês, com início no próprio dia de referência e término no dia correspondente ao dia de referência no mês seguinte [...]
Parágrafo único. Quando inexistente o dia correspondente ao dia de referência no mês seguinte, será considerado como término do período o dia primeiro do segundo mês posterior ao do dia de referência.
Art. 6º Para cada TBF obtida, segundo a metodologia descrita no art. 5º, deve ser calculada a correspondente TR, pela aplicação de um redutor R, de acordo com a seguinte fórmula:
TR = max { 0 ; 100 x {[ (1 + TBF/100) / R ] - 1}} (%)
§ 1º O valor do redutor R deve ser calculado para todos os dias, inclusive não úteis, de acordo com a seguinte fórmula:
R = (a + b x TBF/100), em que:
I - TBF corresponde à TBF relativa ao dia de referência;
II - a corresponde a 1,005; e
III - b corresponde ao valor obtido na tabela abaixo, em função da TBF relativa ao dia de referência, expressa em termos percentuais ao ano, considerando a convenção de 252 dias úteis:
TBF (% a.a.)_______________________________________ b
TBF maior que 16,0 ______________________________ 0,48
TBF menor ou igual a 16,0 e maior que 15,0 _______ 0,44
TBF menor ou igual a 15,0 e maior que 14,0 _______ 0,40
TBF menor ou igual a 14,0 e maior que 13,0 ________ 0,36
TBF menor ou igual a 13,0 e maior ou igual a 10,5 __ 0,32
TBF menor que 10,5 e maior ou igual a 10,0 ________ 0,31
TBF menor que 10 e maior ou igual a 9,5 __________ 0,26
TBF menor que 9,5 _______________________________ 0,23
§ 2º O Banco Central do Brasil deve calcular o redutor R utilizando, no processo, todas as casas decimais dos valores envolvidos, procedendo ao arredondamento do valor final para quatro casas decimais, com utilização das Regras de Arredondamento na Numeração Decimal (NBR 5891) estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
§ 3º Os valores do redutor R devem ser divulgados pelo Banco Central do Brasil quando da divulgação da TR. [grifamos]
			O peculiar nessa determinação do Banco Central, que de resto se repete desde 1997, é que TBF e TR são exatamente iguais em sua gênese até o momento em que se determina que se aplique um redutor à TBF para se chegar à TR.
			Não há na Lei da TR previsão de aplicação do redutor, assim como também não há na Lei que criou a TBF. Todavia causa estranheza que diante de um comando aberto como o do art. 5º da MP nº 1.503/95 (Lei nº 10.192/01), o Banco Central, com amplos poderes para regular o assunto, não tenha instituído um redutor, mas o tenha feito ao regulamentar o art. 1º da Lei nº 8.177/91, que não era tão flexível.
			Atrelado a esses parâmetros, o trabalhador que tem seu dinheiro aplicado no FGTS, de onde não pode retirá-lo para outro investimento. Não há correção monetária, tampouco Taxa Referencial (independentemente de sua natureza jurídica), em flagrante ofensa ao art. 2º da Lei nº 8.036/90, que impõe a correção monetária dos valores depositados pelo empregador.
			Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas a que se refere esta lei e outros recursos a ele incorporados, devendo ser aplicados com atualização monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas obrigações.
			Ainda que se argumente que a aplicação do Redutor pelo Banco Central seja legal, sua redução a zero em um cenário de inflação superior a 4% ao ano, configura afronta ao art. 2º da Lei nº 8.036/90, que determina a atualização monetária.
Mas é necessário ir mais além e revisar o entendimento jurisprudencial sobre a TR como índice de correção monetária, máxime a partir da instituição de um Redutor que tem por efeito zerar o índice da TR em ambiente de inflação.
			O quadro comparativo mostra que a TR não se presta como atualizador monetário do FGTS, pelo menos, desde janeiro de 1999.
			Desde o momento em que o Banco Central estabeleceu um redutor para TR, ela deixou de ser índice confiável para atualizar monetariamente as contas do FGTS, porque se descola dos índices de inflação, sendo reduzido ano a ano.
			A finalidade da correção monetária é manter o poder de compra do capital. E essa finalidade nem de perto vem sendo alcançado pela TR.
			O trabalhador, que busca a formação de um patrimônio digno, necessita e deve confiar na lei. E no cenário apresentado essa confiança foi quebrada.
			Há nítida expropriação do patrimônio do trabalhador, na medida em que se nega a ele a devida atualização monetária.
			Ora, a atualização monetária é o elemento mais importante do mercado financeiro, pois sem a medição precisa de perda do poder aquisitivo da moeda com o decorrer do tempo, ocorre desproporcional destruição de valor.
			Por isso, o objetivo fundamental da escolha do índice de atualização é de proteger o patrimônio, evitando que ele seja corroído pela inflação.
			O Poder Judiciário há de se opor a este esbulho, confisco, expropriação que o trabalhador está sofrendo, desde 1999, com as constantes reduções da TR em relação aos índices de inflação, culminando na sua completa nulidade.
			Em 1991 e 1992, quando julgada a ADIN 493-0/DF, o STF deixou bem assentado que a TR não constituía índice que refletia a variação do poder aquisitivo da moeda. Esta característica da TR tem se confirmando ao longo dos anos.
			A aplicação da TR na correção dos saldos dos depósitos do FGTS vem causando uma descabida subtração do valor do patrimônio do trabalhador. Há anos, os trabalhadores que têm depósitos no FGTS não experimentam ganhos reais em sua aplicação e sequer conseguem preservá-la das perdas inflacionárias.
			Muito ao contrário. Há muito tempo, os trabalhadores têm rendimentos inferiores à inflação, mesmo levando em conta a remuneração dos juros de 3% ao ano.
			Apesar de a Caixa Econômica Federal ter divulgado índices de correção do FGTS acima da inflação, para os anos de 2017 e 2018, nem de longe tais índices permitem repor a diferença patrimonial que foi usurpada do trabalhador, ao longo de quase duas décadas.
			Somado a isso, de pouco adiantaria ao trabalhador que fosse determinado ao BancoCentral que recalculasse a TR, pois, uma nova fórmula estaria igualmente sob a discricionariedade e subjetivismo total do Banco. Basta avaliar a sucessão de Resoluções do Banco Central sobre o tema.
			Partindo da premissa inequívoca que a TR não mais repõe as perdas monetárias dos depósitos do FGTS, outro caminho não existe se não o de adotar um novo índice que verdadeiramente cumpra a determinação da Lei e corrija esses depósitos.
			Nessa ordem, a seguir podemos verificar índices que efetivamente produzem correção monetária.
			A Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro estabelece, em seu art. 5º, que “na aplicação da lei, o juiz atenderá os fins sociais a que ela se dirige e as exigências do bem comum”. A lei do FGTS tem um fim social indiscutível, proteger o trabalhador e constituir um patrimônio que lhe sirva de arrimo ao termo de sua relação de emprego.
			Diante de tudo que foi demonstrado, a juiz atenderá os fins sociais da Lei do FGTS ao reconhecer que a correção monetária, com efetiva reposição dos índices inflacionários de forma a preservar o poder de compra do dinheiro depositado no Fundo, é devida pela Caixa Econômica Federal.
			“A correção monetária não constitui parcela que se agrega ao principal, mas simples recomposição do valor e poder aquisitivo do mesmo. Trata-se, apenas, na verdade, de nova expressão numérica do valor monetário aviltado pela inflação. Quem recebe com correção monetária não recebe um ‘plus’, mas apenas o que lhe é devido, em forma atualizada.” (JTA 109/372)
			Obedece ao princípio do restitutio in integrum, atinente nas normas públicas que protegem a coisa depositada e regulam o contrato de depósito.
			Observe-se para tanto, nesse esforço de exposição analítica, que a referência legislativa do art. 1.266 do antigo Código Civil de 1916, foi reproduzida ipsis litteris no art. 629 do atual Código Civil de 2002:
Art. 629. O depositário é obrigado a ter na guarda e conservação da coisa depositada o cuidado e diligência que costuma com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com todos os frutos e acrescidos, quando o exija o depositante. [grifamos]
			Desse modo, se a TR não pode ser considerada como um índice idôneo, sobrevém a necessidade de substituí-la por um índice que realmente reponha as perdas monetárias. E então, nada obsta que o juiz considere índice previsto em outra legislação.
			Até por questão de equidade, o melhor índice para substituir a TR é o índice que corrige monetariamente o salário dos trabalhadores e os benefícios previdenciários. Esse índice está previsto na Lei nº 12.382/2011, cujos primeiros artigos trazem a seguinte dicção:
Art. 1º. O salário mínimo passa a corresponder ao valor de R$ 545, 00 (quinhentos e quarenta e cinco reais).
Parágrafo único. Em virtude do disposto no caput, o valor diário do salário mínimo corresponderá a R$ 18, 17 (dezoito reais e dezessete centavos) e o valor horário, a R$ 2, 48 (dois reais e quarenta e oito centavos).
Art. 2º. Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de valorização do salário mínimo a vigorar entre 2012 e 2015, inclusive, a serem aplicadas em 1º de janeiro do respectivo ano.
§ 1º. Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário mínimo corresponderão à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, calculado e divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, acumulada nos doze meses anteriores ao mês do reajuste.
§ 2º. Na hipótese de não divulgação do INPC referente a um ou mais meses compreendidos no período do cálculo até o último dia útil imediatamente anterior à vigência do reajuste, o Poder Executivo estimará os índices dos meses não disponíveis.
§ 3º. Verificada a hipótese de que trata o § 2º, os índices estimados permanecerão válidos para os fins desta Lei, sem qualquer revisão, sendo os eventuais resíduos compensados no reajuste subsequente, sem retroatividade.
§ 4º. A título de aumento real, serão aplicados os seguintes percentuais:
I - em 2012 será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto - PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2010;
II - em 2013, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2011;
III - em 2014, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2012; e
IV - em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2013.
§ 5º. Para fins do disposto no § 4º, será utilizada a taxa de crescimento real do PIB para o ano de referência, divulgada pelo IBGE até o último dia útil do ano imediatamente anterior ao de aplicação do respectivo aumento real.
			Sobre a mesma matéria, para os anos de 2016 a 2019, a Lei nº 13.152/2015 assim apresenta-se:
Art. 1º São estabelecidas as diretrizes a vigorar entre 2016 e 2019, inclusive, a serem aplicadas em 1º de janeiro do respectivo ano, para:
I - a política de valorização do salário-mínimo; e
II - (VETADO).
§ 1º Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do salário-mínimo corresponderão à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado e divulgado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acumulada nos 12 (doze) meses anteriores ao mês do reajuste.
§ 2º Na hipótese de não divulgação do INPC referente a um ou mais meses compreendidos no período do cálculo até o último dia útil imediatamente anterior à vigência do reajuste, o Poder Executivo estimará os índices dos meses não disponíveis.
§ 3º Verificada a hipótese de que trata o § 2º, os índices estimados permanecerão válidos para os fins desta Lei, sem qualquer revisão, sendo os eventuais resíduos compensados no reajuste subsequente, sem retroatividade.
§ 4º A título de aumento real, serão aplicados os seguintes percentuais:
I - em 2016, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB), apurada pelo IBGE, para o ano de 2014;
II - em 2017, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2015;
III - em 2018, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2016; e
IV - em 2019, será aplicado o percentual equivalente à taxa de crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2017.
§ 5º Para fins do disposto no § 4º, será utilizada a taxa de crescimento real do PIB para o ano de referência, divulgada pelo IBGE até o último dia útil do ano imediatamente anterior ao de aplicação do respectivo aumento real.
			Não há fundamento em haver duas formas de remuneração para matérias correlatas. Se o salário mínimo é corrigido monetariamente pelo INPC, por analogia, o depósito do FGTS que, em última análise, é um salário indireto do trabalhador, também há de sê-lo.
			E observe que o objetivo da Lei em corrigir o salário mínimo pelo INPC decorre exclusivamente da necessidade de preservar seu poder aquisitivo.
			O índice mostra-se infinitamente mais adequado a preservar o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS do que a aniquilada TR, conforme demonstrado na Planilha de Cálculo anexa.
			Ademais, por ser reconhecida sua inconstitucionalidade pelo E. STF (uma vez que não representa índice oficial de correção monetária) e por analogia, a adoção da TR na atualização mensal do saldo do FGTS contraria a garantia assegurada pela Lei nº 8.036/90.
			Fato é que a TR se desvinculou de qualquer correlação com a inflação passada ou futura, não podendo servir como índice de correção monetária, como reconhecido pelo Supremo nos julgamentos das ADI 4357/DF, ADI 4372/DF, ADI 4400/DF, ADI 4425/DF, que afastaram a utilização da TR para correção das dívidas judiciais, como estabelecido na Emenda Constitucional nº 62/09 e na Lei nº 11.960/09, afirmando que ela “não pode ser utilizada como índice de atualização monetária, eis que não é capaz de espelhar o processo inflacionário brasileiro.”Foi com o julgamento das ADI 4425 e 4357, que o Supremo Tribunal Federal analisou a inconstitucionalidade da EC nº 62/2009, onde ficou inconteste o entendimento daquela Corte, no sentido de que a TR não pode ser utilizada como índice de atualização monetária, eis que não é capaz de espelhar o processo inflacionário brasileiro.
			Seguem trechos do voto do Ministro Luiz Fux, redator para o acórdão:
Quanto à disciplina da correção monetária dos créditos inscritos em precatórios, a EC nº 62/09 fixou como critério o “índice oficial de remuneração da caderneta de poupança”. Ocorre que o referencial adotado não é idôneo a mensurar a variação do poder aquisitivo da moeda. Isso porque a remuneração da caderneta de poupança, regida pelo art. 12 da Lei nº 8.177/91, com atual redação dada pela Lei nº 12.703/2012, é fixada ex ante, a partir de critérios técnicos em nada relacionados com a inflação empiricamente considerada. Já se sabe, na data de hoje, quanto irá render a caderneta de poupança. E é natural que seja assim, afinal a poupança é uma alternativa de investimento de baixo risco, no qual o investidor consegue prever com segurança a margem de retorno do seu capital.
A inflação, por outro lado, é fenômeno econômico insuscetível de captação apriorística. O máximo que se consegue é estimá-la para certo período, mas jamais fixá-la de antemão. Daí por que os índices criados especialmente para captar o fenômeno inflacionário são sempre definidos em momentos posteriores ao período analisado, como ocorre com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). A razão disso é clara: a inflação é sempre constatada em apuração ex post, de sorte que todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a efetiva variação de preços que caracteriza a inflação. É o que ocorre na hipótese dos autos. A prevalecer o critério adotado pela EC nº 62/09, os créditos inscritos em precatórios seriam atualizados por índices pré-fixados e independentes da real flutuação de preços apurada no período de referência. Assim, o índice oficial de remuneração da caderneta de poupança não é critério adequado para refletir o fenômeno inflacionário.
Destaco que nesse juízo não levo em conta qualquer consideração técnico-econômica que implique usurpação pelo Supremo Tribunal Federal de competência própria de órgãos especializados. Não se trata de definição judicial de índice de correção. Essa circunstância, já rechaçada pela jurisprudência da Casa, evidentemente transcenderia as capacidades institucionais do Poder Judiciário. Não obstante, a hipótese aqui é outra.
Diz respeito à idoneidade lógica do índice fixado pelo constituinte reformador para capturar a inflação, e não do valor específico que deve assumir o índice para determinado período. Reitero: não se pode quantificar, em definitivo, um fenômeno essencialmente empírico antes mesmo da sua ocorrência. A inadequação do índice aqui é auto evidente.
Corrobora essa conclusão reportagem esclarecedora veiculada em 21 de janeiro de 2013 pelo jornal especializado Valor Econômico. Na matéria intitulada “Cuidado com a inflação”, o periódico aponta que “o rendimento da poupança perdeu para a inflação oficial, medida pelo IPCA, mês a mês desde setembro” de 2012. E ilustra: “Quem investiu R$ 1 mil na caderneta em 31 de junho [de 2012], fechou o ano com poder de compra equivalente a R$ 996,40. Ganham da inflação apenas os depósitos feitos na caderneta antes de 4 de maio, com retorno de 6%. Para os outros, vale a nova regra, definida no ano passado, de rendimento equivalente a 70% da meta para a Selic, ou seja, de 5,075%”. Em suma: há manifesta discrepância entre o índice oficial de remuneração da caderneta de poupança e o fenômeno inflacionário, de modo que o primeiro não se presta a capturar o segundo. O meio escolhido pelo legislador constituinte (remuneração da caderneta de poupança) é, portanto, inidôneo a promover o fim a que se destina (traduzir a inflação do período).
[...]
			Assentada a premissa quanto à inadequação do aludido índice, mister enfrentar a natureza do direito à correção monetária. Na linha já exposta pelo i. Min. Relator, “a finalidade da correção monetária, enquanto instituto de Direito Constitucional, não é deixar mais rico o beneficiário, nem mais pobre o sujeito passivo de uma dada obrigação de pagamento. É deixá-los tal como qualitativamente se encontravam, no momento em que se formou a relação obrigacional”. Daí que a correção monetária de valores no tempo é circunstância que decorre diretamente do núcleo essencial do direito de propriedade (CF, art. 5º, XXII). Corrigem-se valores nominais para que permaneçam com o mesmo valor econômico ao longo do tempo, diante da inflação. A ideia é simplesmente preservar o direito original em sua genuína extensão. Nesse sentido, o direito à correção monetária é reflexo imediato da proteção da propriedade. Deixar de atualizar valores pecuniários ou atualizá-los segundo critérios evidentemente incapazes de capturar o fenômeno inflacionário representa aniquilar o direito propriedade em seu núcleo essencial.
			Tal constatação implica a pronúncia de inconstitucionalidade parcial da EC nº 62/09 de modo a afastar a expressão “índice oficial de remuneração da caderneta de poupança” introduzida no § 12 do art. 100 da Lei Maior como critério de correção monetária dos créditos inscritos em precatório, por violação ao direito fundamental de propriedade (art. 5º, XII, CF/88), inegável limite material ao poder de reforma da Constituição (art. 60, § 4º, IV, CF/88). (ADI 4425-DF, LUIZ FUX, 2013, p. 34/38)
			Com tudo isso, ainda é necessário nos aprofundarmos um pouco mais nas consequências que essa subtração de recursos traz ao patrimônio do trabalhador.
			Assim, importante pôr em voga o preceito do artigo 7º, da CF/88:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(...)
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
			Assentado nesse ditame, podemos seguir, lembrando que é de conhecimento geral que o Sistema Financeiro de Habitação-SFH dispõe dos recursos do FGTS para financiar o maior sonho do trabalhador brasileiro – a casa própria. Também é de conhecimento geral que a Caixa Econômica Federal é a instituição financeira que mais se utiliza desses recursos do SFH para financiar, emprestar dinheiro para que os brasileiros possam comprar a casa própria.
			Embora, em princípio, não haja correlação entre o trabalhador que tem depósito no FGTS, cujos valores são emprestados para o financiamento imobiliário, e aqueles que se valem do empréstimo do SFH para adquirir sua casa própria, em alguns momentos, trabalhador e mutuário são a mesma pessoa.
			E nesse conceito de mutuário e trabalhador serem a mesma pessoa é que se evidencia o verdadeiro aviltamento do patrimônio do trabalhador.
			Já seria reprovável o fato de a Caixa Econômica Federal tomar dinheiro a juros baixos e sem nenhuma correção e emprestá-lo a juros muito mais altos, mesmo sem correção (uma vez que a TR também corrige as prestações do SFH), pois, agindo assim, a instituição bancária leva imensa vantagem nessa negociação.
			Mas a situação piora consideravelmente quando, a Caixa pega dinheiro a juros baixos, sem nenhuma correção para o trabalhador, e empresta para ele mesmo.
			Suponhamos que um trabalhador queira adquirir uma casa própria utilizando os recursos do seu FGTS. Ele encontra o imóvel, mas verifica que seus recursos não são suficientes para adquiri-lo. Então se dirige a um Banco para financiar a diferença, comprometendo sua renda por longos anos, podendo alguns financiamentos chegarem a inacreditáveis 35 (trinta e cinco) anos, conforme divulgado pela própria Caixa Econômica Federal, procurada pela maioria dos trabalhadores brasileiros, quando o assunto é a aquisição de imóveis.
			Todavia, se o depósito do FGTS tivesse sido devidamente corrigido, se elemantivesse seu poder de compra, ou o empréstimo seria menor, ou sequer haveria a necessidade de o trabalhador comprometer sua renda e anos de trabalho para adquirir aquilo que é seu sonho mais primário, sua necessidade mais real, como indivíduo e como brasileiro.
			A Caixa Econômica Federal ao não corrigir o FGTS cria a necessidade do empréstimo e, depois, empresta ao trabalhador aquilo que deixou de lhe pagar a título de correção monetária da sua conta de FGTS e, ainda, lhe cobra juros, valendo-se da fragilidade humana para colocar-se como realizadora de sonhos, ao mesmo tempo em que, ano após ano, aufere lucros exorbitantes à custa do trabalhador.
V – CONCLUSÕES
			A Taxa Referencial (TR), enquanto índice de correção monetária, não pode ser reduzida a ZERO, como tem ocorrido por longos anos, pois afronta flagrantemente ao art. 233 do Código Civil e ao art. 2º da Lei nº 8.036/90, que garantem a atualização monetária aos depósitos feitos no FGTS.
Não se pode olvidar o entendimento do STJ, acerca da correção monetária:
“correção monetária não representa qualquer acréscimo, mas simples recomposição do valor da moeda corroído pelo processo inflacionário” (STJ, REsp nº 1.191.868, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 15/06/2010 e p. 22/06/2010).
			Desde janeiro de 1999, a TR se distanciou sensivelmente dos índices oficiais de inflação, impingindo profundas perdas aos depósitos do FGTS, tornando-se inidônea para garantir a reposição das perdas monetárias, como determina a Lei do FGTS.
			A inidoneidade da TR como índice de correção monetária decorre de mudanças introduzidas em sua metodologia de cálculo pelo Banco Central do Brasil que, por meio do mecanismo econômico de um redutor, vem nitidamente manipulando o índice, ao passo que ele se desprenda da inflação, até anulá-lo completamente, a despeito do quadro inflacionário do país.
			O FGTS acumula um desempenho nada animador por quase duas décadas, no que se refere a sua remuneração. Se tomarmos como exemplo o período de janeiro de 1999 a setembro de 2018, a TR chegou ao medíocre índice de 41,87%, muito abaixo da inflação. Enquanto o INPC, no mesmo período, acumula alta de 253,95%, de acordo com cálculos realizados por meio da ferramenta chamada “Calculadora do Cidadão”, disponível no site oficial do BACEN.
Mesmo sabendo que a remuneração anual do FGTS é de 3%, o que daria 75,35% para o período considerado, somado ao índice acumulado da TR, o rendimento total pouco ultrapassou os 115%, sendo notória a diferença entre a remuneração atualmente aplicada ao FGTS e o INPC, índice que verdadeiramente repercute a correção monetária.
			A Caixa Econômica Federal está se prestando ao papel de espoliador do FGTS, na medida em que dispõe do patrimônio do trabalhador sem sequer preservá-lo. A correção monetária aplicada ao FGTS tem sido há muito tempo menor que a inflação registrada, de forma que descumpre não só o art. 2º da Lei nº 8.036/90 e o art. 233 do Código Civil, mas também toda lógica e princípios do mercado econômico.
			Quem empresta tem direito a ser remunerado com juros e a totalidade da correção monetária. O trabalhador não pode ser obrigado a subsidiar ainda mais os projetos do Governo Federal. O “ainda mais” decorre do fato dos juros de 3% do FGTS serem os menores do mercado, o que por si só, demonstra que ele já está fazendo sua parte sob a perspectiva social.
			Negar o direito de correção monetária aos depósitos do FGTS do qual o trabalhador não pode simplesmente sacar seu dinheiro para aplicar em outro fundo mais rentável, configura verdadeiro ato de império, incompatível com um Estado Democrático de Direito, diante da situação fática apresentada, e que deve ser de pronto rechaçado.
			Sendo a TR inidônea para restabelecer o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, sua substituição por outro índice que melhor recomponha as perdas inflacionárias se torna imperioso, a fim de fazer prevalecer o art. 2º da Lei. 8.036/90 e o art. 233 do Código Civil.
			Posto que, desde janeiro de 1999, o redutor criado pelo Banco Central promoveu o completo distanciamento entre a TR e os índices oficiais de inflação, temos que desde então ela perdeu sua condição de repor as perdas inflacionárias dos depósitos do FGTS, devendo desde essa data ser substituída por índice idôneo, sendo o INPC o melhor índice que se apresenta para tanto.
VI – DA TUTELA DE URGÊNCIA
			Douto Juiz, O artigo 300, do Código de Processo Civil preceitua que é possível a concessão de Tutela de Urgência “quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”
			No caso, a matéria é exclusivamente de direito e o perigo de dano já foi amplamente demonstrado, o qual, vale dizer, já vem ocorrendo por quase duas décadas de dilapidação do patrimônio do trabalhador. Dessa forma, estão nitidamente evidenciados o “fumus boni iuris e periculum in mora.”
			O art. 12 da Lei nº 8.177/ 91, com Redação da Lei nº 12.073/12, determina que a remuneração dos depósitos seja feita em cada período de rendimento. Sendo que, no caso em tela, a cada período de rendimento que a Caixa Econômica Federal sonega a correção monetária dos depósitos do FGTS, o dano contra o trabalhador se configura.
			O dano que a ausência de correção monetária implica em menos dinheiro à disposição do trabalhador para a consecução dos seus negócios jurídicos, naquelas hipóteses em que a lei permite. Cada casa que o trabalhador deixa de adquirir, cada prestação de imóvel que ele deixa de abater, cada tratamento médico que deixa de fazer, cada medicamento necessário que deixa de usar porque seu FGTS perdeu o poder aquisitivo, é um dano que se renova.
			Acresça-se a este dano, a situação de refém que o trabalhador com depósito do FGTS se encontra quando quer financiar seu imóvel pelo SFH com a Caixa Econômica Federal. Hoje, e enquanto perdurar a TR de índice zero, ele terá que financiar mais do que seria necessário, pois o que lhe pertence de direito – correção monetária – não está incidindo sobre o saldo de seus depósitos.
			E ao que tudo indica, este dano continuará se repetindo por um longo período. Ressai que ao tempo em que essa ação perdurar, a TR continuará anulada, ou reduzida a patamares mínimos, impondo aos trabalhadores mais perda de seu poder aquisitivo, mais dilapidação do seu patrimônio, mais restrições a sua capacidade de fazer negócio jurídico.
			Não há dúvida de que há um risco ao resultado útil do processo, na medida em que não é possível quantificá-lo, mas não há como negá-lo.
			Tanto assim que a mais consagrada doutrina e nossa mais recomendada jurisprudência, consideram a tutela de urgência, tutela antecipada como era definida pelo CPC/1973, como meio inerente ao exercício do Direito Constitucional de Ação e instrumento da Garantia do Devido Processo Legal.
			A garantia constitucional da ação não está limitada às tutelas definitivas e satisfativas. A tutela cautelar de urgência deve ser incluída, portanto, no âmbito da proteção que a Constituição Federal confere ao direito de ação, que, em última análise, é direito de acesso às garantias do devido processo legal ou devido processo constitucional. (BEDAQUE, 1998, p. 82)
			Assim, imperioso é que desde já a TR seja substituída pelo INPC, índice que corrige o salário mínimo ou outro, como o IPCA, índice oficial de medida de inflação. Índices que minimamente repõem as perdas monetárias, haja vista que hoje não há nenhum tipo de correção monetária dos depósitos do Fundo.
			Por outro lado, não há dano de irreversibilidade do provimento antecipado porque é de natureza do FGTS ser um fundo de aplicação de longo prazo. Eventual decisão que não reconheça o direito ora pleiteado, permitirá que a Caixa Econômica Federal utilize de mecanismos legais para promover a devida compensação ao longo do tempo.
			Assim, requer a concessão da tutela para substituir imediatamente a TR, como índice de correção monetária nos depósitos do FGTS pelo INPC, ou IPCA, ou, ainda, outro índice que, no entender deste Juízo,melhor reflita as perdas inflacionarias daqui por diante, até o trânsito em julgado do presente feito.
VII – DO PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
			Ante ao exposto, presentes os requisitos que lhe autorizam a concessão, requer a concessão da tutela de urgência, nos termos do art. 300, do CPC, para determinar:
			i) A concessão de tutela de urgência para que a TR seja substituída pelo INPC ou pelo IPCA como índice de correção do saldo dos depósitos do FGTS em nome do (a) Requerente, a partir de sua concessão até o trânsito em julgado da presente ação, com sua consequente aplicação na conta vinculada do (a) Requerente; ou, ainda, sucessivamente,
			ii) A aplicação de qualquer outro índice que melhor reponha as perdas inflacionárias do saldo dos depósitos do FGTS, no entender deste Juízo, a partir de sua concessão até o trânsito em julgado da presente ação, com sua consequente aplicação na conta vinculada do (a) Requerente.
VIII – DOS PEDIDOS
			Face ao exposto, é a presente para requerer a V.Exa:
			a) A Citação Eletrônica da Requerida, na forma do art. 9º, da Lei nº 11.419/2006, para responder, sob pena de revelia e confissão, pela total Procedência da presente ação, com a condenação da Requerida aos pedidos formulados, além dos ônus da sucumbência e honorários advocatícios de 20% sobre o valor da condenação;
			b) Que seja confirmada a tutela de urgência deferida;
			c) Que a Requerida seja condenada a aplicar o INPC, em substituição a TR, como índice de correção monetária do saldo dos depósitos do FGTS do (a) Requerente, em cada período de rendimento desde janeiro de 1999, vencido e vincendo;
			d) Que a Requerida seja condenada a pagar ao (à) Requerente o valor correspondente às diferenças apuradas sobre o saldo do FGTS em razão da aplicação do INPC, em substituição a TR, como índice de correção monetária, em cada período de rendimento vencido desde janeiro de 1999 e vincendos, inclusive nos meses em que a TR foi zero;
			e) Sucessivamente, caso não deferidos os pedidos anteriores, que a Requerida seja condenada a pagar ao (à) Requerente o valor correspondente às diferenças de FGTS em razão da aplicação de qualquer outro índice de correção monetária que no entender desse Douto Juízo, melhor reponha as perdas inflacionárias, em cada período de rendimento vencido desde janeiro de 1999 e vincendos, inclusive nos meses em que a TR foi zero;
			f) Sobre os valores devidos pela condenação de que tratam os itens anteriores, deverão incidir os juros remuneratórios de 3% ao ano previstos no art. 13 da Lei nº 8.036/90, além da correção monetária e juros legais desde o inadimplemento da Requerida.
IX – DAS PROVAS
			Protesta por todos os meios de prova admitidos em direito, principalmente pela prova documental anexa e suplementar. Requer a exibição pela Requerida, dos extratos de FGTS em nome do (a) Requerente, desde janeiro de 1999, na forma do art. 396, do CPC.
X – DO VALOR DA CAUSA
			Dá-se a causa o valor de R$ 0,00 (xxx mil, xxx reais e xxx centavos).
			Termos em que,
			Pede deferimento.
			São Paulo, 20 de janeiro de 2019.
Advogado
OAB/UF Nº...

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