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ÜB C Desde o surgimento do cristianismo, filósofos e teólogos — desde Paulo até Agostinho, Aquino, Lutero e Pascal — procuraram defender a fé do ataque de detratores e demonstrar que o cristianismo, além de “fazer sentido” , tem o poder de explicar a natureza de Deus, do homem e do universo. As pessoas que fazem tal defesa são conhecidas como apologistas (da palavra grega para defesa). Embora nenhuma geração de cristãos tenha ficado sem eles, o século 20 apresentou um grande aumento no número de apologistas ativos, um aumento que continua com força total no terceiro milênio. Apologética cristã para o século XXI analisa tanto os principais apologistas como os principais argumentos apresentados em defesa do cristianismo histórico e ortodoxo durante o último século. Ao longo do livro, é focada a linha mais popular da apologética (em oposição à linha acadêmica), a qual encontra sua maior fonte na obra de C. S. Lewis. Essa linha da apologética também busca encontrar um denominador comum entre cristãos e não cristãos, bem como entre as diferentes denominações cristãs. LOUIS MARKOS (PhD, Universidade de Michigan) ocupa a cadeira de Robert H. Ray em Humanidade na Houston Baptist University. Ele é autor de vários livros, incluindo From Achilles to Christ: Why Christians Should Read the Pagiui Classics e Lewis Agonistes: How C. S. Lewis Can Train Us to Wrestle witli tho Modern and Postmodern Worldl PFNTRAI f urada do Guattnguê, IBM l.uinai.i p n C D t l Riodi<Janeiro R Í / ( I I 1 , v / ! i ( i u l UUòrtL pedidos (ZI)íih/ /ooo W W W i d Í ! ü ! i t i ! ! Í ! p ! y n | | i g ! u i i i i ISBN U/a “Ao oferecer um panorama de quase um século de apologética cristã, Apologética cristã para o século 21, de Lou Markos, abrange desde G. K Chesterton e C. S. Lewis até o pós-modernismo, os neoateus e a recente crença do ex-ateu Antony Flew na existência de Deus. Tratando de autores relevantes, bem como de suas idéias e obras, Markos escreve em estilo popular, de facil leitura, que poderia ser considerado uma jornada coloquial por cada um desses tópicos. Aqueles que se interessam por apo logética encontrarão diversos itens de grande importância neste texto, o qual possui grande projeção e ritmo acelerado.” Gary R. Habermas, professor emérito e catedrático do Departamento de Filosofia e Teologia da Universidade Liberty “Este é um livro excelente. Eu já li centenas de livros em defesa da fé nos últimos anos, mas este se destaca. O professor Markos reúne, de maneira ímpar, teologia, lite ratura, história, ciência e filosofia, a fim de produzir uma obra de apologética tanto erudita como completamente acessível. Aproveitei cada página.” Craig J. Hazen, fundador e diretor do Programa de Mestrado em Apologética Cristã da Universidade Biola “E chocante, de certa forma, o fato de que todas as gerações de cristãos precisem levar a cultura geral a lembrar-se de que realmente temos argumentos e razões para nossa fé. Contudo, dadas a hegemonia cultural, a onipresença do materialismo ateísta e a maneira como este moldou nosso entendimento daquilo que é bom, verdadeiro e belo, não deveria surpreender-nos [o fato de] que nossos antagonistas queiram retratar a fe e a razão como adversárias. Apologética cristã para o século 21 é um antídoto de facil leitura contra uma sabedoria convencional que é, de fato, convencional, mas não sábia.” Francis J. Beckwith, professor de Filosofia e Estudos sobre Igreja-Estado na Universidade Baylor “Lou Markos entrou para o grupo dos melhores comentaristas sobre a obra de C. S. Lewis e é um apologista influente da fé cristã por mérito próprio. Seu domínio das duas grandes linhas de pensamento ocidental — cristianismo e clássicos — per mitiu-o desenvolver uma obra cativante, sofisticada e convincente.” Robert B. Sloan Jr., presidente da Universidade Batista de Houston “Felizmente, a disciplina da apologética hoje está passando por uma espécie de renascimento. Além disso, não faria sentido negligenciar a importância considerável de C. S. Lewis, que ocasionou um grande ressurgimento de interesse pela defesa da fé. Louis Markos realizou um ótimo serviço para nós ao colocar a obra de Lewis em diálogo com as questões da atualidade, algumas das quais eram certamente contem porâneas ao sábio de Oxford, enquanto outras ganharam preeminência um pouco depois, embora ainda sejam questões com as quais ele teria gostado de envolver-se. Este volume ajudará os leitores a verem como Lewis teria lidado com as questões de nossa época. No fim, o livro lembrará os leitores da vitalidade da afirmação de que a fé cristã é verdadeira.” William Edgar, professor de Apologética no Seminário Teológico de West- minster, Filadélfia, Pensilvânia “Louis Markos é a forma platônica do professor universitário cristão. Seu amor pelas Escrituras e seu amplo domínio da tradição filosófica ocidental fazem dele o modelo para uma nova geração de apologistas que surge nas universidades. Suas aulas são um grande sucesso com alunos novos e mais velhos na universidade e com o público global de The Teaching Company. Os leitores descobrirão que ele é tão agra dável no papel como é à frente de uma sala de aula.” Hunter Baker, decano adjunto da Faculdade de Artes e Ciências da Universi dade Union e autor de The End of Secularism [O fim do secularismo] “Louis Markos provou, mais uma vez, que é um dos principais apologistas cris tãos da atualidade. Ao escrever com a eloquência e a acessibilidade que caracterizam a obra de seu mentor, C. S. Lewis, ele constrói a defesa racional da fé com autori dade e firmeza. Espelhando sua estrutura na Bíblia, Apologética cristã para o século 21 começa com um ‘antigo testamento’ (parte um), na qual as obras dos profetas da modernidade — Chesterton, Lewis e Sayers — estabelecem o fundamento para o ‘novo testamento’ (parte dois), no qual os apologistas de hoje desafiam e vencem os ‘neoateus’e outros dragões atuais. Apologética cristã para o século 21 mostra que Markos é um apologista do século 21 de primeira linha.” Joseph Pearce, escritor residente e professor adjunto de Literatura na Univer sidade Ave Maria, Flórida, e autor de livros sobre escritores cristãos importantes, incluindo C. S. Lewis, G. K. Chesterton, Alexander Soljenítsin e J. R. R.Tolkien “Inspirado nos ricos recursos de apologistas importantes do século 20, Louis Markos produziu uma obra brilhante de defesa [da fé] cristã. Assim como Lewis e ( .'liesieitim, que vieram antes dele, Markos usa seu talento literário e sua precisão ,u ,n leuii< a para conquistar tanto o coração como a mente ao apresentar evidências e aipiiuirutiis 1 1 ist.ur, Nr|;t voi é < i tu o, inquiridor ou cristão convicto, sua fé crescerá duianlt a leiluia deste livro!" < li.nl M r i i i u pinii -.oi i!■ lilii-M.iu na I ai uldailf Betei, listados U nidos , e l III llltul il( ( „ ‘tl li ! ,H,ll < H'|/ fi 1 jl teto > p ianilr , 1 Irlls é llolllj Apologetics for the Twenty-first Century Copyright © 2010 by Louis Markos Published by Crossway A publishing ministry of Good News Publishers Wheaton, Illinois 60187, U.S.A. This edition published by arrangement with Crossway. All rights reserved. Copyright 2013 por Editora Central Gospel Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M arkos, Louis Apologética cristã para o século 2 1 Título original: Apologetics for the Twenty-first Century Rio de Janeiro: 2013 340 páginas ISBN: 978-85-7689-327-1 1. Bíblia - Vida Cristã I. Título II. Gerência editorial e de produção GilmarVieira Chaves Gerência de Marketing Marcos Henrique Barboza Coordenação editorial Michelle Cândida Caetano Tradução Ana Paula Argentino Giuliana Niedhardt Revisão Débora Costa Elen Canto Paulo Pancote Queila Memória Capa Josias Finamore Diagramação Julio Fado Impressão e acabamento Ediouro 1“ edição: Junho/2013 As citações bíblicas utilizadas neste livro foram extraídas da Versão Almeida Revista e Corrigida (ARC), salvo indicação específica,e visam incentivar a leitura das Sagradas Escrituras. Editora Central Gospel Ltda. Estrada do Guerenguê, 1851 Taquara ( I I ’ / I 1 0 0 1 Este livro é dedicado ao ministério da InterVarsity Christian Fellowship [Comunhão Cristã InterVarsity]: por incutir em mim um coração para o evangelismo; por me oferecer os primeiros ensinos sobre apologética; por me ensinar a conduzir estudos bíblicos; e por me proporcionar a oportunidade, em um estudo bíblico da IVCF,de conhecer a pessoa mais importante de minha vida, minha esposa, Donna. * o f r f f t w a o Ç ) ] Sumário Prefácio 9 Parte um 0 legado de Lewis e Chesterton 1. Apologética: o que é e por que se tornou tão popular 17 2. As coisas que não poderiam ter evoluído: C. S. Lewis argumenta a favor da existência de Deus 27 3. Do teísmo ao cristianismo: a defesa de C. S. Lewis a favor de Cristo 37 4. O único mundo possível: C. S. Lewis fala acerca do problema do sofrimento 47 5. A trama maior: C. S. Lewis defende os milagres 57 6. A psicologia do pecado: por que C. S. Lewis acreditava no inferno 67 7. Mais do que Balder, não menos: C. S. Lewis e a apologética da mitologia 77 8. A jornada de volta para casa: como G. K. Chesterton “descobriu” a ortodoxia 87 9. Dos homens das cavernas aos cristãos: resumo da história por G. K. Chesterton 99 10. A mente do Criador: Dorothy Sayers faz com que a Trindade tenha sentido 109 1 I A pré apologética de Francis Schaeffer 119 IA p o lo g é tn a ao estilo norte americano: o legado de Josh M< I )owcll 129 Parte dois A defesa da fé em um mundo (pós-)moderno 13. A existência de Deus I: os argumentos da lógica 143 14. A existência de Deus II: os argumentos da ciência 153 15. A existência de Deus III: por que coisas ruins acontecem a pessoas boas 163 16. Assim diz a Bíblia: defendendo a autoridade das Escrituras 173 17. Em busca do Jesus histórico 185 18. Em defesa da ressurreição de Cristo 197 19. Por que Cristo é o único caminho: cristianismo e outras religiões 209 20. Além do Código Da Vinci: em resposta aos neognósticos 221 21. O retorno ao mito: apologética para os pós-modernos 233 22. O Design inteligente: além do Big Bang 245 23. Respondendo aos novos ateístas 257 24. Como o ateu mais famoso do mundo mudou de ideia 269 A p ê n d i c e s Linha do tempo 281 Glossário 283 Quem é quem 291 Bibliografia anotada 299 Prefácio Desde o surgimento do cristianismo, filósofos e teólogos — desde Paulo até Agostinho, Aquino, Lutero e Pascal — procuraram defender a fé do ataque de detratores e demonstrar que o cristianismo, além de “fazer sentido”, tem o poder de explicar a natureza de Deus, do homem e do universo. As pessoas que fazem tal defesa são conhecidas como apologistas (da palavra grega para “defesa”). Embora nenhuma geração de cristãos tenha ficado sem eles, o século 20 notou um gran de aumento no número de apologistas ativos, um aumento que conti nua com força total no terceiro milênio. Neste livro, analisarei tanto os principais apologistas como os prin cipais argumentos apresentados em defesa do cristianismo histórico e ortodoxo durante o último século. Ao longo do livro, meu foco per manecerá na linha mais popular da apologética (em oposição à linha acadêmica), a qual encontra sua maior fonte na obra de C. S. Lewis e que é escrita em termos leigos, não exige conhecimentos prévios de filosofia, teologia ou estudos bíblicos. Essa linha da apologética tam bém busca encontrar um denominador comum entre cristãos e incré dulos, bem como entre denominações cristãs diferentes, mantendo um tom pragmático e referente a este mundo. Após um capítulo introdutório — no qual defino o que a apolo- gétu a é e o que ela não é, discuto como o triunfo do modernismo •,<■( ul.it do Iluminismo incentivou a recente explosão da apologética e apresento razões por que C. S. Lewis continua sendo o apologista mais bem sucedido do século 20 — analisarei, ao longo de seis capítulos, as pum tpais obras e os princ ipais argumentos apologéticos de Lewis. ( Hini-i.uri o capítulo te< oustilumdo sua tentativa de demonstrar Prefácio que tanto nossos anseios por algo que transcende o mundo natural como nosso entendimento inerente sobre o código moral (chamado por ele de Tao) são fenômenos observados que não podem ser expli cados somente com recursos de processos naturais, físicos ou materiais. Após ter estabelecido a centralidade do Tao na apologética de Lewis, prosseguirei, no capítulo 3, apresentando o argumento desse autor de que nossa incapacidade para observar o Tao leva diretamente à solução cristã. Também discutirei aqui o argumento apologético mais famoso de Lewis: Cristo só poderia ter sido uma das três coisas — mentiroso, lunático ou Senhor. N o capítulo 4 e 5, apresentarei as respostas de Lewis ao problema do sofrimento e da negação de milagres nos dias atuais. Quanto ao sofrimento, Lewis nos ajudará a entender nosso estado de criaturas caí das; quanto à negação dos milagres, ele nos ajudará a ver que os mila gres, longe de violar as leis* da natureza, revelam o maior desígnio de Deus. Assim como os céticos argumentam que a presença da dor e do sofrimento no mundo contradiz o ensinamento cristão de que Deus é um Deus de amor, eles também argumentam que tal Deus jamais seria capaz de confinar uma pessoa ao inferno. O capítulo 6 será dedicado a explicar o argumento de Lewis de que, dados a natureza divina e o dom do livre-arbítrio concedido a nós, a existência do inferno é necessária não apenas teológica como também psicologicamente. Por fim, no capítulo 7, considerarei a maneira de Lewis em defender os elementos míticos do cristianismo como argumentos a favor de sua verdade e de seu poder universais. Especificamente, analisarei a crença de Lewis de que Cristo foi o mito que se tornou fato e demonstrarei, por meio de uma breve olhada na obra Crônicas de Nárnia, como Lewis foi capaz de unir aspectos racionais e imaginários em sua ficção. Os capítulos 8 e 9 serão dedicados a estudar as duas principais obras apologéticas de G. K. Chesterton, um homem cujas defesas mordazes e eruditas do cristianismo exerceram uma influência permanente em Lewis. Primeiro considerarei como Chesterton contrasta, em Ortodoxia, a obscuridade e as crenças contraditórias do modernismo com a vita lidade sólida e as verdades paradoxais do cristianismo. Então, voltarei minha atenção para a análise absolutamente singular da história cris- APOLO GÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 tã feita por Chesterton em O homem eterno. Por meio de uma leitura atenta dessa obra clássica, mostrarei a habilidade com que o autor cri tica o pensamento evolutivo moderno, apresenta Cristo como auge do mundo antigo e apoia a defesa da ortodoxia pela Igreja. O capítulo 10 mudará o foco para uma terceira apologista britânica que compartilha va a sagacidade, a imaginação e o amplo conhecimento de Lewis e de Chesterton: Dorothy Sayers. Em The Mind of the Maker [A mente do Criador], Sayers oferece uma intrigante analogia entre a natureza trina de Deus e o processo criativo humano que tanto confirma a realidade da Trindade como também elucida a origem do mal e do livre-arbíti io Os capítulos 11 e 12 transportarão o livro para o outro lado do Atlântico, a fim de considerar a obra de dois apologistas americanos fundamentais que prepararam terreno para a maioria das apologias que os seguiram. U m panorama da trilogia apologética de Francis Schaeffei ajudará a explicar seu argumento de que, após o Iluminismo, a ciênci.i a lógica e a razão se separaram da religião, da revelação e da fé. Mais que um carpinteiro, o livro bastante influente de Josh McDowell, bem como seu estilo apologético também influente e tipicamente norte-ameritu no, serão o foco do capítulo 12. Mostrarei como McDowell, em todas as suas obras, coloca uma forte ênfase na confiabilidade bíblica, nas declarações de Cristo e nos depoimentos de especialistas e convertidos Na segunda metade do livro, mudareimeu foco de apologistas específicos para temas e argumentos apologéticos em geral. Em ve/ dr analisar obras individuais, eu me apropriarei, de modo mais amplo, dr obras de apologistas principais, como Lee Strobel,William Lane ( aaig. Ravi Zacharias, Gary Habermas, Alister McGrath, J. P. Morei.md Phillip E. Johnson, William Dembski, Francis Collins, Don Richaul son,Alvin Plantinga e N .T.W right. Os capítulos 13, 14 e 15 ofeu-i . rão perspectivas diferentes sobre os argumentos a favor da existem u de Deus. Começarei focando argumentos mais clássicos, tomados dos mundos da filosofia e da lógica. Em seguida, buscarei argumento-, n o mundo tia ciência moderna, particularmente a descoberta de qur o universo na o sei ia m i n o , mas que teru sido < 11 ado no I hg Mang Pm lim rutrenlarci dr novo, ■ - tom mais Irivm, a questão que alasta a m.Hui ta ilas nrsstitfS • it I U us • i nfoblrma do suliimruto Prefácio Nos capítulos 16, 17 e 18, será abordada uma das principais preo cupações da apologética: a defesa da Bíblia como testemunha precisa da obra do divino no mundo. Primeiro, apresentarei argumentos para a confiabilidade geral do registro bíblico. Segundo, considerarei especi- ficamente a historicidade dos Evangelhos e das declarações de Cristo. Terceiro, analisarei os muitos argumentos reunidos para a defesa da declaração histórica mais importante do cristianismo: a de que Jesus Cristo, após ter estado morto por três dias, levantou-se corporalmente da sepultura na manhã da Páscoa. Nos seis capítulos finais do livro, colocarei a atenção em alguns dos progressos recentes da apologética. Portanto, o capítulo 19 apresentará um contraste do cristianismo com outras religiões do mundo e argu mentará a favor da exclusividade do evangelho, ao passo em que o capí tulo 20 revelará tanto os erros como os perigos do crescente interesse nos evangelhos gnósticos — um interesse evidenciado no sucesso e na controvérsia do romance de Dan Brown, O código Da Vinci. O fato de as questões levantadas nos capítulos 19 e 20 serem tão prementes teste munha o rápido crescimento do pensamento pós-moderno nos Estados Unidos. Como resposta a esse crescimento, o capítulo 21 considerará novas abordagens feitas pelos apologistas para alcançar os pós-modernos que anseiam por espiritualidade, mas que são muito receosos em relação a religiões, principalmente as religiões “institucionais” . Os capítulos 22 e 23 entrarão em dois dos principais campos de batalha da apologética na última década: os argumentos dirigidos pelo movimento do design inteligente contra o darwinismo e, depois, o surgimento de uma nova e mais agressiva forma de ateísmo. Por fim, no capítulo 24, atentarei à conversão ao deísmo do filósofo ateu octo genário Antony Flew e ao livro que ele escreveu para documentar sua conversão: Um ateu garante: Deus existe— As provas incontestáveis de um filósofo que não acreditava em nada. Embora este livro tenha sido concebido e escrito como um manus crito único, unificado, ele incorpora algumas idéias e passagens de obras minhas publicadas anteriormente. Há muitos anos, publiquei duas obras (a primeira Ibi uma série de palestras, e a segunda, um livro) que dis cutem, entre outras coisas, us ai guinemos r abordagens apulngrtuos APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 de C. S. Lewis: The Life and Writings of C. S. Lewis [A vida e os escritos de C. S. Lewis] (The Teaching Company, 2000) e Lewis Agonistes: How C. S. Lewis Can Train Us to Wrestle with the Modem and Postmodern World [Lewis agonista: Como C. S. Lewis pode ensinar-nos a lutar contra o mundo moderno e pós-moderno] (Broadman & Holman, 2003). Há, inevitavelmente, algumas sobreposições de diversos trechos dessas duas obras em várias partes dos capítulos 2— 7 deste livro. Os leitores que desejarem explorar mais a fundo a apologética de C. S. Lewis são incentivados a consultar essas obras. Trechos dos capítulos 11, 19 e 24 também já apareceram antes, de forma alterada, com os seguintes títulos respectivamente: “Apologetics for the 20th Century The Legacy of Francis Schaeffer” [Apologética para o século 20: C) legado de Francis Schaeffer] no volume 22, número 2 de Faith and Mission; “An Open Letter to Lovers o f The Da Vinci Co de” [Carta aber ta aos amantes de O código Da Vinci] na edição de novembro/dezembro de 2007 de Saint Austin Review; e “Holy Probable: A Review Essay of There Is a God by Antony Flew” [Santa probabilidade: Um ensaio crí tico sobre Um ateu garante: Deus existe, de Antony Flew] na edição de maio de 2008 de Touchstone. Dediquei este livro ao InterVarsity Christian Fellowship, mas tam bém quero reconhecer o amável apoio e o incentivo de vários respou sáveis da Universidade Batista de Houston: R obert Sloan (presidcn te), Paul Bonicelli (reitor), Diane Lovell (decano de Artes e Ciências Humanas), R obert Stacey (decano de honra) e Matthew Boylestou (professor catedrático de Inglês).Também agradeço à universidade pot conceder-me a cátedra de R obert H. Ray em Ciências Humanas e o título de Acadêmico Residente — distinções que me deram o tempo e a oportunidade necessários para finalizar este livro. (jt tiíiá ^rw àttãyvtín-n 'd T.r>. . . . ; •• ' 1 r!>uj , > - P a rte um O le g a d o d e Lewis e C heste rton 1 APOLOGÉTICA: O QUE É E POR QUE SE TORNOU TÃO POPULAR Em 399 a. C., Sócrates foi acusado pela assembléia ateniense de cor romper a juventude e de defender deuses estrangeiros. Em reação a isso, o filósofo, aos 70 anos, foi até a corte para responder às acusações dirigidas contra ele. Seu discurso perante os cidadãos indignados de Atenas foi registrado por seu famoso pupilo, Platão, e publicado com o título de Apologia. Qualquer um que tenha lido o apelo genial, como vente e completamente desprovido de desculpas de Sócrates percebera, de modo rápido, que apologia significa simplesmente defesa. E foi isso que Sócrates apresentou aos seus acusadores: uma defesa arrazoada da origem de seu ensinamento (ele fora instruído pelo Oráculo de Delfos a fazer isso) e de sua maneira de ensinar (questionar todas as pessoas que alegavam possuir a Verdade). Quase cinco séculos mais tarde, Pedro conclamou seus companhia ros cristãos a serem tão destemidos — mas não tão ofensivos — quanto Sócrates ao defender a fé em Cristo: antes, santificai a Cristo, como Sctilioi, em posso coração; e estai sempre preparados para responder [fazer uma apoio gia\ com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que Iní em vós (1 Pe 3.15). Seguindo a tradição de Sócrates e Pedro, o apo logisla cristão moderno não se desculpa por suas crenças nem conlia mei.unente na emoção ao confrontar aqueles que consideram sen < lia mado divino como algo falso, fanático, delirante ou perigoso. I .m vi . disso, ele apresenta com audácia, mas sem dure/a nina deles.i do i i istumsmo c imdi/t ntr t om a ta/ao, i om a logu a r i om a espci lem ia Apoloqética: o que f e por que se tornou tão popular humana. Isso não equivale a dizer que os apologistas acreditam que podem alcançar a fé cristã por meio da razão, mas sim que a fé pode ser um passo racional em vez de um salto no vazio. O cristianismo, em resumo, faz sentido. Como sistema de crença, ele interessa à pessoa por inteiro: corpo e alma, coração e mente. DEFESA DA FÉ Embora os apologistas abordem a defesa da fé a partir de diversos ângulos diferentes, uma apologia completa deve incluir, em sua essên cia, a defesa da doutrina central e determinante do cristianismo — a saber, a doutrina de que Jesus de Nazaré não foi somente um homem bom ou um profeta inspirado, mas o Filho unigênito de Deus. Essa doutrina, conhecida como encarnação, afirma que Jesus não foi meio homem e meio Deus, mas completamente humano e completamente divino. Em torno da encarnação, podem ser agrupadas outras doutrinas essenciais da fé: a de que Deus, embora seja Um, existe eternamente como três pessoas - Pai, Filhoe Espírito Santo (aTrindade); a doutrina de que todos nós nascemos com uma natureza pecaminosa, e existimos em um estado de rebelião contra Deus e contra Sua Lei (o pecado original); a de que a morte sacrificial de Jesus na cruz nos trouxe de volta a um relacionamento justo com Deus Pai (a expiação); a de que o Filho voltou à vida corporalmente (a ressurreição); a doutrina de que Ele também retornará fisicamente (a segunda vinda); e a de que todos os que estão em Cristo se unirão a Ele na ressurreição final dos mortos. A essas doutrinas fundamentais e inegociáveis, podem ser acrescen tadas mais duas: a de que Deus é o Criador do céu e da terra e a de que a Bíblia é a Palavra oficial de Deus. Muitos apologistas (entre eles, eu) incluiriam outras qualidades a essas duas últimas doutrinas, mas nenhum apologista ortodoxo as rejeitaria nesta forma. Estas, portanto, representam as doutrinas essenciais da fé cristã, as quais recebem clara expressão nos credos da Igreja e que contêm os princípios básicos do que C. S. Lewis batizou notoriamente de “mero” cristianismo. Desde a época dos apóstolos, a principal tarefa do apo logista é defender essas doutrinas de sofrerem ataques dos d c iia lo irs APOLO GÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 presentes tanto dentro como fora da Igreja. Na maioria dos casos, essa defesa é estruturada em forma de diálogo, no qual o apologista res ponde as principais perguntas feitas pelos céticos que procuram lançar dúvidas sobre o cristianismo. Uma lista das principais perguntas que os apologistas, desde Paulo, procuram abordar inclui as seguintes: 1) Se Deus é amoroso e onipo tente, por que existe dor, sofrimento e injustiça no mundo? 2) Como os cristãos podem acreditar em milagres, se acontecimentos como a divisão do mar Vermelho, a ressurreição de Lázaro dentre os mortos, o nascimento virginal e a caminhada de Jesus sobre as águas violam cia ramente as leis da natureza? 3) Como um Deus de misericórdia pode condenar pessoas ao inferno? 4) Como é possível saber que podemos confiar nos relatos da vida de Jesus registrados nos Evangelhos? Durante os últimos três séculos, essas perguntas ganharam um tom cada vez mais intenso e penetrante, assumindo, com frequência, a for ma de acusação direta e de escárnio: 1) A história de um Deus que morre e ressuscita não é só um mito para pagãos ignorantes e crianças da modernidade? 2) A religião não é apenas uma espécie de muleta e a realização de desejos para as pessoas que são fracas demais para lidar com a realidade? 3) A ciência não refutou o cristianismo e demonstrou que ele é falso? 4) A Igreja não fez mais mal do que bem e não inspirou mais hipocrisia do que qualquer outra instituição na história? O bom apologista não se esquivará de perguntas difíceis como essas, mas lidará com as questões em si e com a raiva, a culpa, o deses pero e a confusão que muitas vezes se encontram por trás dessas per guntas. E ele fará ainda mais: mostrará que o cristianismo apresenta uma cosmovisão coerente, consistente e universal, que não apenas res ponde a perguntas difíceis individualmente, como também apresenta uma visão unificada que dá sentido a todos os aspectos do nosso mun tio, de nós mesmos e de nosso destino. Aliás, uma das principais tarefas do apologista é defender o cristianismo de cosmovisões rivais — sejam religiosas, políticas ou filosóficas — que alegam tci a competem ia r a auloriiladr dr tlrfinn a natureza d a ii .tlul u l r t omunisino, matei ia li-aiui, liumamsmi. .t i ufu. íslaimsmo, limdumtit. juntr hnin, ateísmo. I tIII I I I ll i Apologética: o que é e por que se tornou tílo / > i >/>i i /<i Naturalmente, os apologistas cristãos não tratam iodos os outros sistemas de crença como se fossem inerentemente falsos. Muitas vezes, esses apologistas começam estabelecendo um denominador comum entre o cristianismo e outros tipos de fé monoteísta (islamismo, juda ísmo, deísmo, unitarismo). Principalmente em nossa época, muitos apologistas acreditam que nem sequer podem começar a defender a deidade de Cristo antes de construir uma defesa da existência de um Deus único, pessoal, Criador do universo e Autor da moral. Outras vezes, os apologistas concordam acerca da natureza do problema — que a culpa deve ser expiada (paganismo); que o homem moderno vive em um estado de alienação (marxismo); que devemos encontrar um modo de controlar nossos instintos básicos (freudismo) — mas discordam quanto à origem e à solução final desse problema. Em sua melhor forma, a tarefa do apologista é profundamente humanista. Ela procura não abandonar as esferas física, humana e comum em troca de um mundo abstrato de idéias, mas sim remir essas três esferas para que possam ser glorificadas. Muitas pessoas, hoje em dia, confundem apologética com evan- gelismo, pois essas duas disciplinas cristãs possuem muito em comum. Todavia, as duas buscas são bem diferentes no foco e na abordagem. Um evangelista, como Billy Graham, compartilha a mensagem evan- gelística de que Jesus Cristo foi o Filho de Deus, de que Ele morreu por nossos pecados e de que nós só encontramos a salvação se confes samos esses pecados e colocamos nossa fé no Cristo ressurreto. O termo evangelismo vem de duas palavras gregas, eu (“bom ”) e tingel (“notícias”), as quais, quando traduzidas para o inglês antigo, tor naram-se god-spel, ou gospel. U m evangelista, portanto, é alguém que literalmente divulga as boas-novas (ou evangelho). Os bons evangelis- tas apresentam essas boas-novas de uma maneira que faça sentido, mas estão menos preocupados em apresentar uma defesa arrazoada do que o apologista. O evangelismo se prende mais ao emocional do que ao racional, e mais ao prático do que ao filosófico. Ele busca [conduzir o ouvinte a tomar] uma decisão que ocasione mudança em seu coração, t não [formar] um consentimento racional de uma verdade particular m i m m . i t| ( )s ovancrrlisf-aç n ã o r o s t n m a m a r t m m m t a r a f a v o r rio APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 temas como a existência de Deus, a autoridade das Escrituras ou a possibilidade da realização de milagres. Eles simplesmente tomam esses assuntos como pressupostos, concentrando-se em sua mensagem. Ao passo que o evangelista é, em primeiro lugar, um pregador, o apologista é essencialmente um professor. Este trabalha mais como um advogado apresentando um caso; e aquele, como um pastor concedendo confor to e aconselhamento. No m eio-termo entre o evangelista e o apologista, há vários escri tores e oradores cuja principal preocupação é ganhar de volta uma porção do público para um verdadeiro compromisso com o Deus da Bíblia. Alguns, como Bill Hybels,Thom Rainer e Rick Warren, ofere cem diretrizes [de orientação sobre como] compartilhar o evangelho com pessoas de fora da Igreja que vivem em uma sociedade secular mas que, apesar disso, anelam por espiritualidade e propósito [de vida]. Outros, como Chuck Colson, James Dobson, Jay Sekulow e o falecido Richard John Neuhaus, são guerreiros culturais que buscam garantir uma voz legítima para a cosmovisão cristã em meio ao público geral e reviver os princípios cristãos éticos e sexuais que estão em declínio. Assim como esses Wilberforces1 da atualidade, os apologistas pro curam, sim, restaurar a integridade intelectual da cosmovisão cristã, principalmente no meio acadêmico; e há ramificações da apologética que oferecem uma defesa arrazoada da moralidade sexual tradicional, mas tais apologias se privam de envolvimento civil e de política parti dária. Apesar disso, a apologética é essencialmente “conservadora” em sua busca por preservar os credos da Igreja frente a tentativas “liberais” de despojar o cristianismo de elementos sobrenaturais e alegações uni versais da verdade, bem como das tentativas de substituir o Cristo da fé por um Jesus “histórico”. 1 W llliam W ilberforce (24 de Agosto de 1759 — 29 de Julho de 1833) foi um político bri- lànit o, filantropoe líder do m ovim ento abolicionista do tráfico negreiro. Nativo de Kings- ton iipon I hill, Yorkshire, com eçou sua carreira política em 1780 como candidato indepen- ilriiir. v iu lo deputado do condado de Yorkshire entre 1784 e 1812. Em 1785 converteu-se ao i< iiip.elie.de.mi), mudando eom plelam ente o seu estilo de vida e se preocupando ao Imip,, d, lo,1.1 -a 14 vida i oiii a n I.......a evangélica l’<)NTt: http:/ /pl .wikipedia .org/wiki/ Wlllijiil Wilbrifon i http://pl.wikipedia.org/wiki/ D que !• e por que se tornou tão popular Mais próximos da iniciativa apologética, encontram-se escritores como Mark Noll, George Marsden e Arthur Holmes, que procuram reintegrar fé e aprendizado ao meio acadêmico e convencer seus cole gas mais céticos de que o cristianismo, quando corretamente compre endido, não reprime, mas intensifica a busca pela beleza estética, pelo estudo científico e pela pesquisa acadêmica. Próximos também estão escritores como John MacArthur, John Piper e Charles Ryrie, que procedem, específica e intencionalmente, de uma única denominação cristã e que argumentam, de modo elo quente, a favor da verdade de suas características teológicas e eclesiás ticas. Embora alguns desses escritores — principalmente os que pro cedem do calvinismo reformado e do dispensacionalismo — tenham contribuído bastante com a iniciativa apologética, manterei, neste livro, o foco firme nas preocupações centrais da apologética e naqueles ele mentos do cristianismo que todos os cristãos ortodoxos compartilham. LUTANDO À SOMBRA DO ILUMINISMO Desde sua fundação, a Igreja é abençoada com uma longa lista de apo logistas que construíram defesas filosóficas e teológicas para a ortodo xia cristã. Os principais deles são Paulo, Irineu, Atanásio, Agostinho, Aquino, Lutero, Calvino, Pascal e Jonathan Edwards. Na fase inicial da Igreja, a apologética consistia, na maioria das vezes, em esclarecer a doutrina cristã sobre e contra as alegações de seitas hereges, tais como a dos arianos (que negavam a deidade de Cristo) e dos docetistas (que negavam Sua humanidade). A apologética medieval — mais bem resumida na obra Suma teo lógica, de Tomás de Aquino, e em seu correspondente estético, A divina comédia, de Dante — procurava unificar todos os pensamentos sob o glorioso domínio da rainha das ciências: a teologia. Para eles, a beleza, a bondade e a verdade eram consideradas uma única coisa, e a teologia da Igreja Católica era o que as unia em harmonia atemporal. Os apo logistas medievais, por sua vez, foram seguidos por apologistas refor mados, que procuravam purificar as doutrinas da Igreja de [possíveis] “acréscimos” posteriores e apresentar uma doutrina poderosa e sistc iiiálit a Ao fazerem isso, eles tinham em vista as pessoas pur. i ada vez APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 mais, julgavam a verdade não por autoridade e tradição, mas segundo sua própria consciência. Embora influenciada por esses três grupos, a apologética moder na é, em grande parte, uma reação à tentativa secular do Iluminismo de separar a fé da razão e de estabelecer tudo, desde a filosofia até a teologia e a ética, segundo princípios racionais. Iniciando no sécu lo 18 e alcançando o auge nos dois séculos seguintes, o pensamento ocidental adotava, cada vez mais, um paradigma antissobrenaturalista, insistindo que tudo poderia e deveria ser explicado somente com base em processos naturais, materiais e físicos. Dali em diante, a revelação divina e os milagres permaneceriam fora de cogitação, pelo menos para os envolvidos em buscas acadêmicas sérias. Embora esse paradig ma originado no Iluminismo não necessite do ateísmo, a maioria dos principais pensadores ocidentais desde Hume trata Deus como uma hipótese desnecessária. [O pensamento desses homens seria o de que| Deus poderia bem existir, mas certamente não precisaríamos dele para explicar coisa alguma. Consideremos resumidamente alguns desses pais fundadores do mundo moderno. Hume limitava o conhecimento à observação empírica, incentivando seus herdeiros filosóficos a ignorarem assuntos espirituais, sobre os quais nada seria possível saber. Kant fundamen tou a moralidade no imperativo categórico em lugar dos Dez Mau damentos; fornecendo à ética humana, assim, uma base racional, em oposição à sobrenatural. Darwin propôs a seleção natural, um método pelo qual nosso corpo poderia ter se desenvolvido sem a intervenção divina. Freud veio em seguida, fazendo o mesmo com a consciêiu 1.1 humana, o qual ele considerava como tendo surgido de uma incons ciência profunda e material, em vez de proceder do grande Eu S( >i i Marx reduziu a filosofia, a teologia e a estética a forças econômicas, argumentando que a religião, as artes e até mesmo a própria const i êiK ia eram meros produtos de forças materiais socioeconômicas, sobic as quais não temos qualquer controle, Nictzsche anulou a léo n .i da formas, que tora elaborada poi I Matai t, aigiuuentando que a brle/a, i vri i lai Ir* r i just Iç .1 nao sao < I it ■ i loa dh nu m r, p io d u to s i i lados pelo | | « t l l l t i l l J í i i l f c ^ l l l l i l e l i l l t - i » S Ü t i h i i à c i ú B t u l e l <1 » f c i l í » r - . i o l r - i i i i n l * Apologética: o que k e por que se tornou tão popular Saussure despojou a linguagem de seu estado transcendente, conce dido por Deus, tornando-a também um produto de forças estruturais profundas que controlam nossas palavras e nossos pensamentos. E a lista continua. Embora os ensinamentos básicos de Cristo continuem a ser respei tados, esse paradigma pós-iluminista retirou lentamente a cosmovisão cristã da base da cultura e do pensamento moderno. Como resultado direto dessa mudança, as afirmações doutrinárias tradicionais do cris tianismo foram removidas do âmbito da verdade objetiva e depositadas no âmbito do sentimento subjetivo, ocasionando a formação de uma ruptura artificial entre fatos empíricos e valores espirituais. De modo lento, furtivo e sistemático, as afirmações da verdade do cristianismo foram perdendo espaço nas esferas acadêmica e pública, e passaram a entrar em um compartimento privado e impermeável. Em vez de perseguirem o cristianismo diretamente, como aconteceu na antiga União Soviética, as democracias ocidentais tornaram-no irrelevante como veículo para discernir a verdade sobre a condição humana. Sim, a maioria dos europeus e americanos continuou a aderir às crenças e práticas do cristianismo, mas permitiu que a elite secular pensasse em seu lugar. Os fiéis resguardaram seu espaço religioso e deixaram que o meio acadêmico, as escolas públicas, as artes, os meios de comunicação e o governo caíssem sob o domínio do humanismo secular. Em certo sentido, eles “fizeram um acordo”, [foi como.se dis sessem]: deixem nossa fé conosco, e cederemos a razão a vocês. Em tro ca, os secularistas romperam com a moralidade cristã e transformaram- -se radicalmente em indivíduos autônomos que não prestavam contas a Deus nem à comunidade mais ampla de fé. Então, um professor de Língua Inglesa da Universidade de Oxford chamado C. S. Lewis entrou em cena. Embora não tenha sido, de maneira alguma, o primeiro escritor cristão a desafiar a divisão ilumi- nista entre fé e razão — o cardeal Newman e G. K. Chesterton, entre outros, precederam-no — Lewis foi o estopim que acendeu a revolta cristã contra o status quo secular. Se for verdade, conforme o escritor |declarado| ateu Richard Dawkins gracejou certa vez,-que Darwiu hov . ib l l l l o l l s e r m o s . i l r t is m t r l e r l i r i l m r n t r snt i s le i los r n l i o i l o m . APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 mo modo, é verdade que Lewis possibilitou sermos cristãos intelec tualmente satisfeitos, embora ainda vivamos em um mundo moderno, pós-iluminista. Inspirado por Lewis, um número crescente de apologistas nos últi mos 50 anos procura defender a integridade e a consistência intelectual do cristianismo.Sem reduzir a centralidade da fé, os apologistas moder nos definiram para si a tarefa de explodir o mito iluminista, defendendo que as afirmações cristãs da verdade não possuem conteúdo lógico e objetivo. Nem reacionários nem obscurantistas, eles compreendem que vivemos em uma era secular, e que o cristianismo medieval é passa do. No entanto, a aceitação deles apenas intensifica o compromisso de defender o estado racional e universal dessas afirmações de verdade con tra as forças corrosivas do ceticismo, do racionalismo e do relativismo. Eu já apresentei, no prefácio, o esquema organizacional que segui rei neste livro. Em vez de repetir o esquema, terminarei este capítulo introdutório defendendo minha escolha por dedicar seis dos 24 capí tulos aos argumentos de um único apologista: C. S. Lewis. A seguir, estão minhas dez razões principais para fazê-lo: 1. Não é exagero dizer que, de alguma maneira, todos os apologis tas modernos foram influenciados por Lewis. Tenham eles sido trazidos à fé pela leitura de Cristianismo puro e simples, encora jados por seu testemunho ou influenciados por seus principais argumentos, as últimas duas gerações de apologistas têm uma dívida profunda e eterna com Lewis. 2. Lewis foi ateu durante metade de sua vida e, portanto, conhecia o tipo de argumento que os céticos modernos mais precisavam ouvir. Certa vez, a respeito de suas obras apologéticas, ele disse que tentara escrever o tipo de livro que gostaria de ter lido durante seus anos de ateísmo. 3. Em vez de basear todas as suas provas nas Escrituras, Lewis bus cava provas fora da Bíblia, a fim de poder criar um denomina dor comum com incrédulos. I ! li- ai giimrntava tanto a tavoi <l<< < t ístianismo como do tei .rno r i --1 1 11 11< 11 i i I a r a n i r i i t r i 1 1 i f e i tStti a > a it i r i l l d i i K I m i n u a r. . I m i Apologética: o que é e por que se tornou tão popular últimas seções de Cristianismo puro e simples defendam especifi- camente as doutrinas cristãs, as duas primeiras [partes do livro] argumentam a favor das crenças teístas das quais a maioria dos judeus e muçulmanos compartilham. 5. Em vez de rejeitar a lógica sistemática que aprendera durante os anos de ateísmo, ele tomou essa lógica e colocou-a a serviço da apologética cristã. 6. Com a coragem e a tenacidade de um Galileu moderno, Lewis questionou ousadamente os dogmas centrais do modernismo. Em vez de limitar-se a argumentos superficiais, ele se apro fundou para desvelar e criticar as hipóteses fundamentais do naturalismo e do humanismo secular. 7. Lewis, um professor de Língua Inglesa, e não um teólogo ou pastor, era sempre cuidadoso ao equilibrar razão e emoção. Nas obras apologéticas de C. S. Lewis, o leitor encontra argumentos tanto da mente como do coração. 8. Diferente da maioria de seus contemporâneos no meio acadê mico, Lewis escrevia em termos pessoais, leigos e que falavam diretamente aos seus leitores. Embora fosse um dos homens mais instruídos de sua época, ele queria ser compreendido. Seu compromisso com a clareza ajudou a inspirar dezenas de apo logistas a imitar seu estilo claro e de leitura extremamente fácil. 9. Em vez de apresentar teorias novas e exóticas sobre Jesus, a respeito das Escrituras ou acerca das doutrinas da Igreja, Lewis se contentava em reformular as afirmações tradicionais do cris tianismo de uma forma renovada e imparcial. 10. Embora fosse um anglicano devoto, o apologista Lewis per maneceu firme na neutralidade denominacional e manteve o foco no mero cristianismo. Por esta razão, seus livros são lidos e distribuídos igualmente por católicos, batistas, metodistas, orto doxos, luteranos e pentecostais. 2 AS COISAS QUE NÃO PODERÍAM TER EVOLUÍDO: C. S. LEWIS ARGUMENTA A FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS Não importa se você o considera um grande líder mundial, um ditador oportunista, um reformador ou um tirano, Napoleão foi um homem que entendia bem as consequências não somente de ações, mas tam bém de idéias. Talvez tenha sido por isso que, quando Pierre Laplace explicou ao imperador a hipótese nebular, Napoleão respondeu com uma pergunta filosófica, e não científica: “Onde está Deus em tudo isso?”. A resposta de Laplace, “Não tenho necessidade dessa hipótese”, mostrou-se profética em sua afirmação de que o pensador pós-ilumi- nista pode explicar todas as coisas sem recorrer a um criador divino ou regulador do universo. Conforme vimos no capítulo 1, aqueles que adotam o paradigma modernista se sentem confiantes de que todas as coisas podem ser explicadas somente com base em processos naturais, físicos e materiais. Em meados do século 20, poucos acadêmicos europeus questiona vam, ao menos publicamente, a capacidade do paradigma modernista e m oferecer explicações evolucionistas para todos os fenômenos natu rais e humanos. Durante os anos [que passou] no ateísmo, Lewis m u mulava (u t i l m e n t e com esse paradigma, considerando os acadêmicos 11111 aigJimiriit.ivam solire Deus ou relig ião c o m o pensadores medie vais medio* m Após sua l o n v r i s a o ao «* • * > *• * (aos U) anos de idade) A s coisas que não poderíam ter evoluído: C. S. Lewis argumenta a favor da existência de Deus e ao cristianismo (aos 32 anos), entretanto, ele começou a questionar a suficiência do paradigma modernista e a cosmovisão naturalista que o sustentava. Em livros como Cristianismo puro e simples, Milagres e O problema do sofrimento, Lewis identificou vários fenômenos em nosso mundo que não poderiam ter evoluído apenas com processos naturais e, portanto, exigiam uma fonte sobrenatural [para sua explicação]. O ARGUMENTO D O DESEJO Agostinho medita nas linhas iniciais de sua obra Confissões: “O Senhor, Tu nos fizeste para ti mesmo, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar descanso em ti” . Embora sejamos, por causa da natureza de nosso corpo físico, membros do reino animal, há algo dentro de nós que não é nem pode ser satisfeito apenas pelo mundo natural. Nossos desejos e anseios transcendem os limites físicos do mundo e do corpo, deixando-nos inquietos como nenhum animal esteve ou poderia estar. De acordo com Lewis, o motivo dessa inquietação estranha e contínua é que todos nós possuímos um senso inerente de alegria que nos leva em direção a Deus. A longa jornada do próprio Lewis em direção à fé, documenta da com vigor em sua autobiografia espiritual, Surpreendido pela alegria, começou no início da infância por meio de uma série de momen tos aparentemente seculares, porém espiritualmente intensos, de per cepção sobrenatural. Quando Lewis ainda era criança, seu irmão mais velho, Warren, mostrou-lhe um jardim de brinquedo improvisado que ele acabara de criar dentro de uma lata de biscoito. Era um objeto feito rapidamente e nada muito bonito, mas, quando Lewis olhou para ele, foi tomado subitamente por uma sensação de campos verdes úmidos — uma intimação do Éden que ele sentiu quando já era mais velho. Algum tempo depois, enquanto lia o livro A história do esquilo trinca- nozes, de Beatrix Potter, Lewis ficou inquieto com aquilo que chama va de ideia do outono. Uma terceira experiência ocorreu quando ele encontrou por acaso algumas palavras em um livro sobre mitologia nórdica. Assim como as palavras de A história do esquilo trinca-nozes haviam aberto seus olhos naiu a nlenitude da estação outonal as nalavras do livro niitnlcWicn o APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 transportaram para lugares frios do hemisfério norte. Em todos os três casos, a experiência em si fora rápida, mas deixou o jovem Lewis com uma sensação de desejo por algo [que estava] fora dele mesmo e além dos limites de seu mundo. Às vezes, Lewis empregava a palavra alemã Sehnsucht (“anseio”) para referir-se a esses momentos; porém, com mais frequência, referia-se a eles simplesmente como “alegria” . Ao compartilhar com os leitores esses momentos de alegria, o apologista Lewis nos convida a explorarnossos próprios momentos de alegria e a questionar a fonte de nossos anseios mais profundos. Como cidadãos do mundo moderno, fomos ensinados — consciente ou inconscientemente — por Freud e seus herdeiros a interpretar nossos anseios espirituais ora como uma subli- mação de emoções mais primitivas ora como um produto da satisfação de desejos. Entretanto, por que e de que modo uma natureza incons ciente produziria em nós um desejo consciente de algo que transcende o mundo natural? Na base de nossa experiência compartilhada de ale gria, Lewis coloca uma de suas apologias mais atraentes e originais a favor da existência de Deus: o argumento do desejo. Assim como o fato de termos sede é prova de que somos criaturas para as quais é natural beber água, também o fato de desejarmos um objeto que nosso mundo natural não pode suprir sugere a existência de outro mundo, ou seja, um mundo sobrenatural. O desejo não garan te que alcançaremos esse outro mundo — assim como se ficarmos perdidos no deserto, morreremos de sede — mas, sugere que somos criaturas capazes de alcançá-lo e criadas, de algum modo, para isso Com certeza acharíamos estranho se uma mulher que morou a vida toda no Kansas, Estados Unidos, e nunca viu o mar ou as montanhas, nem ouviu falar deles, fosse subitamente tomada por um desejo de caminhar na praia ou de escalar um pico coberto de gelo. E, apesar d is so, não achamos estranho que criaturas aparentemente formadas apc n.is poi pmc essos materiais almejem algo fora desses processos. A água nau pndr elevai se ,u una de sua fonte. e. se fossemos de lato piodutos apenas >la UtUMh /a, Jiao sei iamos ea pa/ rs de elevai nos, em i m p o ou • 1 111 i i l t í ii ilt Ib In m i e . d e n o s s a m il m M * m l coisas que não poderíam ter evoluído: C. S. Lewis argumenta a favor da existência de Deus Na conclusão de seu livro Reflections on the Psalms [Reflexões sobre os salmos], Lewis, expandindo seu argumento sobre o desejo, oferece o que eu considero a melhor apologia da imortalidade da alma. Não é estranho, pergunta Lewis, o fato de que nos surpreendemos continua mente com a passagem do tempo? Encontramos alguém que não vemos há anos, e surpreendemo-nos com o fato de essa pessoa ter crescido [tanto]. Achamos impossível acreditar que nossas crianças “de repente” se tornaram adultas e deixaram-nos para começar sua própria família. Não é a vaidade ou o medo de envelhecer que desperta esses momen tos de vertigem temporal. Simplesmente não sabemos para onde o tem po “foi”, ou como ele pôde escapar de nós sem que percebéssemos. Considerando o fato de que não conhecemos nada além de passado, presente e futuro, e que o tempo é o elemento no qual vivemos, é estra nho, de fato, que a passagem dele seja uma surpresa contínua para nós. Tal sobressalto sucessivo causado pela passagem do tempo, sugere Lewis, é equivalente a um peixe sendo surpreendido pela umidade da água. Isso, naturalmente, seria algo estranho, uma vez que a água é o elemen to no qual o peixe vive sua existência. Contudo, essa situação não seria estranha se esse peixe fosse destinado a ser um animal terrestre algum dia. Se nossa surpresa pela passagem do tempo nos ensina algo, é isto: não fomos feitos para o tempo, mas para a eternidade, para outro modo de existência, no qual tudo permanece em um presente perpétuo. Eu acrescentaria à percepção profunda de Lewis [a concepção de] que não apenas o tempo, mas também o próprio espaço acaba sendo algo estranho para nós. Nossa mente luta constantemente contra os limites espaciais do mundo, desejando romper as restrições físicas que nos circundam. Por que, pergunta nossa mente, não podemos movi mentar as coisas para perto ou para longe de nós com o poder da nossa vontade? Costumo falar brincando, mas com um fundo de verdade, que a maior prévia do céu oferecida pelo mundo moderno é o contro le remoto. Com ele, de repente ganhamos um “braço” de três metros que pode magicamente alterar o mundo ao nosso redor, enquanto permanecemos sentados e imóveis. Se o paradigma modernista esti vei t orreto, e formos produtos de processos naturais que “conhecem” int->ii ! ̂ it i n n h m m m e i i m h » m n n ç i m n l p c m p n f p m r\ APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 explicar a sensação profunda e inabalável de que esses gêmeos tiranos, o tempo e o espaço, não deveriam ter domínio sobre nós. Hoje, os apologistas, seguindo o argumento de Lewis sobre o dese jo, costumam fazer uma abordagem um pouco diferente [da realizada pelo autor]. Usando uma frase de Pascal, eles falam sobre todas as pes soas como se elas tivessem um vazio em forma de Deus no coração. Tentamos preencher esse vazio com toda a sorte de coisas terrenas, mas nada é realmente eficaz. Q uer tentemos preenchê-lo com coisas “ruins”, como drogas e promiscuidade, ou com coisas “boas”, como patriotismo e amor maternal, descobrimos inevitavelmente que a dor interior persiste. Somente quando passamos a entender, assim como Agostinho, que fomos feitos por Deus e para Deus, e que o vazio inte rior que sentimos vem de uma falta de intimidade com o divino, é que percebemos que só Cristo — o Deus que se tornou homem — pode preencher o vazio que há em nosso coração. ÉTICA, RELIGIÃO E RAZÃO Lewis começa sua principal obra apologética, Cristianismo puro e sim ples, fazendo uma pergunta aparentemente sem sentido: quando duas pessoas discordam sobre alguma coisa, por que elas discutem sobre o assunto? A pergunta de Lewis pode parecer bastante inócua, mas por trás dela se esconde outro fenômeno observado que não se pode expli car apenas por forças evolutivas naturais — um fenômeno que não apenas sugere, mas exige uma fonte sobrenatural. A única maneira de levar duas pessoas a discutirem sobre algo, expli ca Lewis, é aceitar um padrão comum como base, para enfim elas cria rem seus argumentos [sobre o assunto]. Na ausência desse padrão, resta lhes apenas brigar. Os modernistas podem hesitar o quanto quiserem, mas o fato é que nós somos, por natureza, animais éticos. Sabemos que existem padrões éticos reais e que somos obrigados — não por lei, m a s por nossa própria consciência interior — a viver de acordo com <-|.-. Sim, nós os violamos diariamente, mas o fato de, apesar disso, espei.u mos que as milras pessoas nos tratem de acordo com esses padrões e piova <li n a o alidude e de sua natureza eompuKoi ia Nao vivemos . m • n 11 i n ui . i si i iiii i!aluiri ilr i elal Ivo IVIUS riu um Ullindo i !t ilr vr i rs ■ i lr * ‘ •• ?• »i ifu i !,*/«/(/«» ( \ l.cwis argumenta a favor da existência de Deus <>l>i ig.it,nr, Ale mesmo um relativista declarado ficaria bravo se alguém furasse a fila, entrando em sua frente. E, se essa outra pessoa reagisse dizendo que veio de uma cultura em que furar fila é aceitável, o relati vista certamente rejeitaria o argumento como sendo enganoso. Se padrões morais e éticos reais não existissem, os julgamentos de Nuremberg não poderiam ter acontecido após a queda do Terceiro Reich. A única razão pela qual o tribunal pôde declarar culpados os criminosos de guerra nazistas foi a existência de dois fatos indiscutí veis: 1) há padrões morais que transcendem nações e culturas; e 2) os nazistas tinham consciência desses padrões, mas violaram-nos mesmo assim. Não julgamos um cachorro pit bull se ele mata uma criança, pois o pit bull não é um agente moral. Todavia, seres humanos são agentes morais vivendo em um universo moral e podem, portanto, ser punidos por tomar decisões erradas e agir de acordo com elas. Às vezes, natural mente, um criminoso é isentado por motivo de insanidade, mas essa é a exceção que prova a regra. Nossa obrigação de aderir aos padrões éticos é primordial, e, embora os núcleos morais de nosso cérebro possam ficar temporariamente debilitados por doenças mentais ou por um momen to avassalador de paixão, por causa da nossa espécie, somos definidos não por relativismo, mas segundo padrõesmorais generalizados. Lewis insiste que esses padrões são universais e interculturais e, a fim de provar seu argumento linguisticamente, escolhe referir-se a esse código de leis universal com uma palavra oriental, e não ocidental: o /<’/<>.Todas as sociedades, argumenta Lewis em A abolição do homem, pos suem um entendimento básico do Tao. Para dar respaldo à essa ousada afirmação, o autor oferece um apêndice no qual dispõe os códigos legais de mais de 12 povos antigos, desde os gregos e os romanos, pas sando pelos babilônios e os egípcios, até os nórdicos e os índios nativos norte-americanos. Ao fazer isso, fica claro que todas as culturas antigas possuem um entendimento básico daquilo que os judeus e os cristãos < li.nnam de Dez Mandamentos. ( >s que ouvem a afirmação de Lewis acerca da universalidade do Iao pela ptnneiia ve/ costumam recusá-la, pois a antropologia moder na i- m u i t o efn a/ em i ouvem et nos de que a moralidade varia muito it. l! 11 >i > pai a 11 ibo Ma issi i nao ai oiitei e. A llloi a I idade supo a nnruli APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 invertida de povos isolados na África ou na Nova Guiné vem a ser, afinal, uma invenção em grande parte de antropologistas fanáticos ou o resultado de um fato muitas vezes negligenciado acerca de nosso mundo caído. Seja qual for o motivo, nosso mundo é povoado por um número pequeno, porém significativo, de psicopatas e sociopatas. Na verdade, o que se aplica a indivíduos também costuma aplicar-se a tribos. Afinal, há alguns grupos por aí que parecem habitar fora do cír culo das normas éticas, no entanto o comportamento aberrante desses grupos sociopatas não contradiz a universalidade do Tao, assim como a existência de paraplégicos não contradiz o fato de que as pernas foram feitas para andar. Desde Freud, nossa sociedade sofre de uma espécie de amnésia mental e moral. Realmente, somos levados a acreditar [no princípio de] que a normalidade não existe mais e que todos têm alguma fobia ou neurose. Isso não é verdade. O que pode ser chamado de argumento da exceção apresenta a refuta ção mais forte da afirmação de Lewis de que o Tao é universal e inter- cultural. Porém, há outras contestações. Alguns modernistas se opõem à afirmação de Lewis, argumentando que o Tao não é um código transcendente implantado em nós pelo Criador, mas uma invenção de profetas e mestres carismáticos. Em resposta a isso, Lewis traz à memó ria dos críticos que a verdadeira função dos profetas e dos mestres não é inventar o Tao, mas lembrar-nos do Tao que já conhecemos e ao qual deixamos de dar importância. Na verdade, aqueles que tentam construir seus próprios códigos morais são geralmente falsos profetas e líderes de seitas. Nem mesmo o próprio Jesus “inventou” a Lei, mas cumpriu-a e aperfeiçoou-a. Outros críticos de Lewis afirmam que o Tao não é um dom de revelação divina, mas um produto de instintos naturais. Lewis reco nhece que temos instintos naturais para sobrevivência, procriação c outras coisas, mas pergunta o que fazemos quando dois desses instintos naturais entram em conflito. A fim de solucioná-lo, precisamos in oi rer a um leiteiro fator |lat. tertium </ii/t/| que transcende ambos os ms tintos e esse teti eu o lator é o I âo Pot I mi, 011 1 esposla ,1 11 íti« 1 de I|l|e 11 1.1! I Iião 11111 Ir tr! sido lltVIII.IIlieII11 1 1 MU rdlijo pOHHie e p|t‘i IMI 1 A s coisas que não poderíam ter evoluído: C. S. Lewis argumenta a favor da existência de Deus nós também devemos ensinar às crianças as tabuadas matemáticas. A analogia é importante, pois a matemática e a moralidade têm algo em comum: o Tao, assim como o teorema pitagórico, não é algo que inventamos, mas algo que descobrimos. Em O problema do sofrimento e Milagres, Lèwis discute dois outros fenômenos que, além de não poderem ter evoluído, chegam a nós por meio de descoberta, e não de invenção. O primeiro, curiosamente, é a religião. Embora os antropologistas e outros modernistas argumentem que a religião encontra sua verdadeira fonte no estranho medo do des conhecido — o qual teria evoluído de nosso medo natural e primitivo do perigo físico — Lewis diz que isso é improvável. Equiparar o medo do perigo físico ao medo do desconhecido é brincar com a palavra medo. O medo que temos de tigres não é quantitativamente, mas qua litativamente distinto de nosso medo de fantasmas; aquele não poderia simplesmente ter se transformado neste. Em outras palavras, a diferença entre os dois medos não é relativo à intensidade, mas ao seu tipo.Tentar camuflar esse fato dizendo que nosso medo do desconhecido evoluiu de nosso respeito para com os chefes tribais é colocar a carroça na frente dos bois. A verdadeira pergunta não é se a reverência pode transformar- -se em um senso do sagrado, mas de onde veio a reverência, a princípio. De acordo com Lewis, a verdadeira origem da religião está situada no temor divino do sobrenatural, um medo exclusivo dos seres huma nos — os únicos animais em nosso planeta que têm medo de seus próprios mortos. Entretanto, isso não é tudo. Para passar de religiões primitivas baseadas no medo a religiões monoteístas mais sofisticadas, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, deve ocorrer um salto qualitativo para o qual não há qualquer comando evolutivo. O verda deiro teísmo não nasce até que o Deus que instila em nós um temor espiritual esteja unido ao Deus que criou e dirige o Tao. Já houve, e continuam existindo, tanto religiões amorais como moralidade não religiosa. Encontramos as religiões amorais em ritu- .1 is pagãos que misturam sacrifício humano ou prostituição ritualística ( mu uni piolmiiln mmimi de sagi.ido. A moralidade não religiosa é vista tu is i stnit ir. i ui ■ hiiili i i qui procuram ter uma vida de ilisi íplina APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 A De acordo com o livro de Exodo, entretanto, houve um momento cul minante na história da religião em que o Deus que bradou no monte Sinai, provocando um medo terrível no povo de Israel, revelou ser o mesmo Deus que deu a Moisés as tábuas da Lei. Lewis argumenta que a religião, portanto, exige uma fonte sobre natural; mas, por outro lado, a ciência e os princípios racionais sobre os quais a ciência repousa também. Para o naturalista moderno que considera a evolução como uma explicação suficiente, a natureza é o todo, é um sistema completo que responde por tudo o que existe, tornando desnecessária qualquer outra explicação. Se isso for verdade, lembra-nos Lewis, então o naturalismo, que se expressa por meio de leis e princípios que transcendem a natureza, contradiz-se. Assim como ninguém pode dizer com certeza que tudo é relativo, as declarações científicas e filosóficas dos naturalistas também se tornam insignifican tes com a afirmação naturalista de que nossa mente é o mero produto de movimentos aleatórios de átomos. A razão humana repousa não em observações empíricas, mas sobre princípios abstratos que jazem fora do sistema da natureza, em uma esfera sobrenatural de conhecimentos prévios eternos. De fato, nossa razão transcende tanto a natureza que, ao utilizarmos nossa raciona lidade, podemos alterar a própria natureza. É verdade que os animais são capazes de fazer conexões simples de causa e efeito (indutivas), [compreendendo, por exemplo, a relação:] “quando o sino tocar, serei aHmentado”; mas, eles não conseguem ir além disso. Somente os seres humanos realizam saltos lógicos (dedutivos) com base em princípios preexistentes (a prion) que se encontram fora da natureza. Inclusive, a declaração aparentemente empírica, “se eu estudar a natureza, compre enderei suas leis” , baseia-se em nosso conhecimento prévio de que a natureza é real e ordenada e de que podemos confiar em nossos senti dos e em nossa razão. Dentro de cada um de nós, conclui Lewis, deve existir uma enti dade sobien.iiiiial chamada razão. N o entanto, ela deve ter uma fonte sobien ilui d itmiin, unia ve/ que, com frequêmia, iu>v.a i.i/.io dorme c pode i i dt hdtt idu |uii substaiK ias Iisi< a-, i uiiin o ah oo! A 1 c,posta de i A s coisas que não poderíam ter evoluído: C . 5 . Lewis argumenta a favor da existência de Deus consciência limitada e individual (“eu”), deve haver uma autoconsci- ência maior e eterna (Eu Sou). Remover o Eu Sou — o nome pelo qual Deus se revelou a Moisés no Sinai — faz o “eu” humano perder tanto sua origem como a capacidade de sustentar-se; pois a consciên cia, assim como a alegria, a moralidade e a religião, é, no fim das contas, um dom concedido do alto. E o paradigma evolucionário modernista não pode esclarecer isso. 3 DO TEÍSMO AO CRISTIANISMO: A DEFESA DE C. S. LEWIS A FAVOR DE CRISTO No capítulo anterior, vimos que o argumento do desejo de Lewis, sua afirmação de que oTao é universal e intercultural e sua alegação de que a religião e a razão não poderíam ter evoluído somente por processos naturais, apontam para um Ser ou uma Força sobrenatural que habita fora dos limites de nosso contínuo espaço-tempo. Mas, que tipo de Deus é esse Ser ou essa Força? Que provas temos de que a Fonte divina de alegria, moralidade, religião e razão equivale ao Deus da Bíblia? Em Cristianismo puro e simples, Lewis argumenta que, após aceitar mos a existência de deus (es), temos duas versões conflitantes de como um deus pode ser: ele ora transcende a natureza (o teísmo propriamen te dito) ora é inerente à natureza (panteísmo). Na primeira conjuntura, Deus habita acima e à parte de Sua criação; na segunda, habita dentro e por meio de Sua criação, não tendo Sua existência separada dela. Embora ambas as opções possam parecer igualmente válidas a princí pio, apenas a primeira é compatível com nossa experiência com o Tao. Somente um Deus separado de Sua criação poderia agir como guia e encarnação da moralidade boa e pura. Se o panteísmo estivesse correto e I )eus fosse indistinguível de Sua criação, Ele não poderia ser bom nem mau, apenas uma força espiritual amoral. Nas religiões panteís- tas, os deuses não vivem fora do tempo e do espaço — eles mesmos s.io nascidos do i aos primitivo (material). Eles não personificam um padiao sanlo ou tmivi i sal r, portanto, não p o d e m sei vii < 0 1 1 1 0 fonte de 1 I i t S S I i i * 1 1 * p ! i . T i » S i i l i i t i t » h s n i Do teísmo ao cristianismo: a defesa de C. S. Lewis a favor de Cristo Lewis sugere que, se os dualistas estiverem corretos e houver não um, mas dois deuses — um deus bom, que está perpetuamente em guerra com um deus mau, semelhante, porém antagônico? Essa opção l.unbém parece razoável até percebermos que ela vai de encontro ao mesmo problema do argumento de que o Tao é um produto de instin tos naturais —- a saber, o problema do terceiro elemento (o tertium quid). Se os dois poderes forem igualmente fortes, como podemos dizer qual c o bom? Na ausência de um padrão mais elevado (um tertium quid) i om o qual julgar os dois poderes rivais, não podemos determinar qual r bom e qual é mau. Nesse caso, o Tao fica perdido, e nos resta apenas acreditar que a razão do mais forte sempre vence e depender de brigas, c não de argumentos. No entanto, conclui Lewis, a opção mais racional é a de que a fonte do Tao é um Deus único, bom e transcendente que criou o mundo, mas não faz parte dele — exatamente o Deus descrito na Bíblia. Contudo, se esse for o caso, devemos perguntar: então, por que existe 0 mal no mundo? Curiosamente, a resposta curta para essa pergunta ofe- icce mais uma prova a favor da existência do Deus da Bíblia. Os homens modernos reclamam que há muito mal e injustiça no mundo, mas se esquecem de que a única maneira pela qual podemos chamar algo de mau ou injusto é se tivermos um padrão bom ou justo para compararmos. Sc não fôssemos criados por um Deus bom, sendo meros produtos de um processo amoral de seleção natural (sobrevivência dos mais aptos), não saberiamos que o mundo está cheio de mal e injustiça. Como os iiomens primitivos poderíam, observando diariamente o sofrimento ao icdor, ter inventado um Deus bom? Não podemos dizer que uma linha está torta, lembra Lewis, a menos que saibamos o que é uma linha reta. Essa é a resposta curta para a questão da presença do mal no mun do. A resposta longa, conforme desenvolvida por Lewis em Cristianismo puro e simples e em suas outras obras apologéticas, oferece o mapa que pode levar-nos do teísmo ao cristianismo. PROBLEMA E SOLUÇÃO 1 )c acordo com a Bíblia e a teologia cristã, o mal não é uma entida- . t w s e i l u > ' t m i e n t n t s - t r t e i l - t i i » » i i t i v v i r s o r s m r c - w s / 1 o K / m w I w L * APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 Agostinho chama o mal de negação ou privação da bondade. O mal é como um rasgo em uma camisa: sem a camisa, o rasgo não existe. Nem mesmo Satanás é uma figura do mal “puro”, e sim um anjo caído que foi criado bom, mas que escolheu desobedecer e rebelar-se con tra seu Criador. De fato, explica Lewis, embora o bem possa chegar à perfeição, o mal nunca conseguirá tornar-se perfeitamente mau. Caso Satanás se tornasse um mal “puro”, ele deixaria de existir. / E por esta razão que o cristianismo rejeita o conhecido conceito oriental de yin/yang — as trevas com uma semente de luz e a luz com uma semente de trevas. Sim, o mal/trevas tem uma semente de bon- dade/luz (caso contrário, ele não poderia sequer existir) mas a luz de Deus é pura e incorrupta. Se limitarmos nossa visão apenas ao mundo caído, onde toda a bondade foi corrompida pelo pecado, talvez, então, seja possível atribuir alguma verdade ao yin/yang. No entanto, uma vez que elevamos a visão para além do nosso mundo, devemos restringir o yin/yang à perfeita bondade e luz de Deus, fora da qual o yin e o yang, a bondade e o mal, a luz e as trevas acabam tornando-se termos sem importância. E coincidentemente significativo o fato de que a própria filosofia chinesa reconhece algo mais elevado do que o yin e o yang: o inefável, o Caminho primordial, ou Tao. Lewis, ao que parece, escolheu bem seus termos! Se até mesmo os proponentes panteístas do yin/ yang podem reconhecer uma força sobrenatural que transcende nosso mundo amoral, então a palavra Tao é verdadeiramente uma designação adequada para o código moral universal e intercultural. Não importa quando ou onde nascemos, não importa a cultura ou a religião em que fomos criados, há duas verdades das quais todos temos consciência: 1) deveriamos viver de determinada maneira; 2) deixamos de viver como deveriamos. Gênesis nos diz que o homem foi criado à imagem de Deus e, no início, permaneceu em estado de inocência. Contudo, desobedecemos ao nosso Criador e caímos em pecado. É realmente necessário provar essa doutrina teológica funda m e n t a l 7' Não estamos todos cientes tanto do mal em nosso mundo como de nosso próprio dcsi miipi intento do Tao? O mesmo se aplica aque l e - . <1111• irjrilam i n a t i m - . - a i o i upiilsoí ia do ! ,n> S c n e i n mesmo i t . I Do teísmo ao cristianismo: a defesa de C . S. Lewis a favor de Cristo ma pessoa honesta pode alegar sequer ter cumprido seu próprio códi go moral pessoal — como então poderiamos seguir a Lei superior que transcende indivíduos e culturas e cujo dirigente é Deus? Em certo sentido, argumenta Lewis, todas as religiões têm consci ência de que não apenas vivemos em estado de violação do Tao, como também somos, no final das contas, incapazes de cumpri-lo. E, apesar disso, embora todas as religiões e pessoas saibam que não conseguimos cumprir o Tao, apenas o cristianismo leva esse problema realmente a sério. Ao passo em que todas as outras religiões dizem, de uma manei ra ou de outra, que nós não conseguiremos seguir o Tao, mas mesmo assim nos instruem a tentar, o cristianismo aceita totalmente a inca pacidade humana e procura uma solução divina. Ao aceitar, realmente aceitar, o problema — ou seja, de que existimos em um estado de rebeliãoe separação do dirigente do Tao e que não podemos retor nar a um relacionamento correto com Deus pela aderência ao Tao — somente o cristianismo leva-nos à solução necessária e inevitável. Praticamente todas as religiões e pessoas aceitam e aclamam Jesus como um bom mestre moral que, no Sermão do Monte e em outros ensinamentos, deu a expressão mais completa e perfeita do Tao. Toda via, se Jesus fosse apenas isso, então não precisaríamos dele, pois Ele \eria supérfluo. Já que ninguém além de Jesus seguiu ou seguirá o Tao, i apresentação do Tao por Ele, por mais perfeita que tenha sido, não nos pode conduzir a um relacionamento correto com o Dirigente do lao. Nosso mundo ofereceu-nos vários mestres morais bons: Moisés, Hnda, Maomé, Confúcio, Gandhi, o Dalai Lama. Nosso problema não r desconhecermos o Tao, mas conhecê-lo e, assim mesmo, violá-lo . O cristianismo, segundo Lewis, não tem coisa alguma a dizer-nos até que percebamos nosso verdadeiro estado em relação a Deus e ao Tao. v 1 ewis escreve no capítulo 6 de O problema do sofrimento: “Não somos apenas criaturas imperfeitas que devem ser aperfeiçoadas, somos [...] i ebeldes que precisam depor as armas”. Somente quando aceitamos o tato de que Jesus, como mero mestre moral, não podería salvar-nos i Ir nossa n n apat iilatlc- <I* s r g u u o T a o é que percebemos o propósito maior q u r o tmti ■ r a n o i n 11 j caída. A principal mi w ■ L ( i isto, APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 dir. Nossa terra é um território ocupado pelo inimigo, e a história do cristianismo é o relato de como o bom Rei veio à terra disfarçado e chamou seguidores para ficar do seu lado. O cristianismo começa não com esforço moral, mas com uma confissão humilde de que não podemos satisfazer as exigências do Tao e com uma rendição de todo o nosso eu a Jesus. Cristo é Deus em forma humana; por meio de Seu sofrimento e de Sua morte na cruz, Ele nos trouxe de volta a um relacionamento correto com o Pai (a expiação). Embora evite definir a natureza exata da expiação, Lewis explica que Cristo, ao morrer e ressuscitar, deu-nos o poder de participar indiretamente de Sua morte e ressurreição. O cristianismo significa muito mais do que adquirir um tíquete gratuito para sair do inferno. Sim, ele começa salvando-nos das conse quências espirituais de nosso pecado, mas seu objetivo final é levar-nos à presença do próprio Deus. Salvação, explica Lewis, significa nada menos do que participar da vida eterna de Deus, não de alguma força espiritual genérica ou de Uma Alma, mas da vida dinâmica e da alegria que existe na Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Quando a Bíblia diz que Deus é amor, não significa que Ele é a forma platônica do amor — Amor com A maiusculo — mas que Deus é amor em ação. Por toda a eternidade, explica Lewis (conforme Agostinho) em Cristianismo puro e simples, o Pai amou o Filho, e o Filho amou o Pai; e esse Amor é tão real, tão dinâmico, que é também uma pessoa: o Espírito Santo. A fim de permitir que participássemos desse Amor, Cristo não considerou desprezível ser rejeitado, açoitado e crucificado. Somente derrotando a morte e o pecado na carne de um homem é que Deus poderia redimir a humanidade e levá-la para a glória. A fim de ajudar a esclarecer esse aspecto maravilhoso e sublime da teologia cristã, Lewis distingue dois tipos de vida: a vida animal, que todos os seres viventes possuem, mas que um dia acabará (bios, em gre go) e a vi<Li eterna, indestrutível (zoe, em grego), que existe somente n o r u i n iviiiin iti> amoroso da Trindade. Salvação não significa ganhar m.u s bio m i u-1 !!■ iv. i /)(<)! destruída e substituída pela zoe. A promessa dr t i i . i i i ii Li qiii V l i m o s i r ssusi Itados ileutie os m o i l o s (como ----- 1 ------ J - m+mm . u u i l h u , Do teísmo ao cristianismo: a defesa de C. S. Lewis a favor de Cristo vida de ressurreição de Cristo. Ou, dito de outro modo, a salvação não é tão semelhante a um homem bom tornando-se um homem santo, mas sim a uma estátua ganhando vida. Lewis também descreve esse processo como uma mudança de esta do de criaturas feitas a filhos gerados. Assim como uma artista pode fazer (ou criar) uma estátua que se assemelhe a ela de alguma forma, mas que, apesar disso, seja qualitativamente distinta, essa artista também pode gerar um filho que compartilha de sua natureza essencial. De modo semelhante, somos criaturas feitas à imagem de Deus, e Jesus, o unigênito Filho de Deus, compartilha totalmente da natureza divina. Quando, por meio da mediação da vida, morte e ressurreição de Cris to, somos trazidos de volta a um relacionamento correto com Deus, Ele literalmente nos adota, insere-nos em Sua família e permite que compartilhemos, a vida de Seu Filho unigênito. Embora não nos tor nemos como Deus, essa dõutrina poderosa, conhecida pelos cristãos ortodoxos como teose, promete-nos uma glorificação final que nos elevará acima de nosso estado edênico anterior à queda. Conforme Atanásio explica em A encarnação do Verbo, Deus tornou-se semelhante a nós para que pudéssemos tornar-nos semelhantes a Ele. O TRILEMA A doutrina cristã de salvação em sua totalidade é verdadeiramente algo glorioso, mas ela se apoia diretamente sobre uma crença única e central: a de que Jesus de Nazaré não foi apenas um bom mestre ou profeta, mas o Filho de Deus encarnado. De todos os argumentos apologéticos que Lewis faz em Cristianismo puro e simples, o mais essencial, conheci do e duradouro deles procura justamente substanciar essa crença cen- (ral e inegociável. Lewis sabia que, para um número crescente de cris- s tãos do século 20, a doutrina da encarnação não era mais vista como sustentável ou nem mesmo necessária. Muitos críticos modernos que abordavam a Bíblia a partir de um ponto de vista naturalista e contra milagres rejeitavam a encarnação como uma relíquia supersticiosa de uma época ingênua, e não científica. Esses críticos alegavam que foram o', teólogos posteriores que formularam a doutrina da encarnação e i . . . . , f e i n .1 i i i i - i i L i l i n l i i K H l - i l t l >>m I< I I u l l /U! I <\/i i i < > < • I I i . o APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21 Porém, argumenta Lewis, essa é uma alegação que não se pode fazer sob o ponto de vista lógico. Repetidas vezes ao longo dos Evangelhos, Jesus faz declarações sobre si que Ele só poderia ter feito se fosse o Filho de Deus: de ter o poder de perdoar pecados; ser um com o Pai; ser a ressurreição e a vida, bem como o caminho, a verdade e a vida; e ser, Ele mesmo, o próprio objeto de nossa adoração e de nosso culto. Se Jesus fosse apenas um homem, e não o que ele alegava ser (o Filho de Deus), então seria ou um lunático delirante ou o maior impostor que já existiu. Os hospícios estão cheios de pessoas que acreditam ser Deus ou Jesus, assim como nosso mundo continua a ser atormentado por líderes de seitas que reivindicam para si uma posição divina. No entanto, quase ninguém que tenha lido os Evangelhos atualmente acredita que Jesus foi um louco ou um charlatão. Pelo contrário, Jesus é universalmente proclamado como um homem de grande sabedoria e bondade. O que os céticos modernos deixam de ver é que, se Jesus não fosse quem ale gava ser, seria alguém desprovido de toda sabedoria ou de toda bonda de. Eu iria até mais longe do que Lewis acrescentando que, se Ele não fosse o Filho de Deus, seria o pior blasfemo que já existiu, e os fariseus estariam certos por tê-lo condenado à morte e entregado aos romanos. Usando uma expressão de Josh McDowell, bastante citada, Cristo só poderia ter sido uma destas três coisas: um mentiroso, um lunático ou o Senhor. Não podemos dizer é que Ele foi um homem bom, mas que não o Filho de Deus. Jesus não nos deixou essa opção. Agora, acrescento logo que o trilema de Lewis somente funciona porque Jesus era judeu. Se ele tivesse sido um monista hindu, acredi tando que todas as coisas são uma só e que