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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens - Módulo-5

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Prévia do material em texto

Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia 
Sílvia Helena Mendonça de Moraes 
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Autoras
Aline Henriques Reis
Andréa Chicri Torga Matiassi
Silvia Segovia Araujo Freire
CUIDADOS 
PSICOSSOCIAIS NAS
ADOLESCÊNCIAS 
E JUVENTUDES
Organizadoras
Rita Maria Lino Tarcia 
Sílvia Helena Mendonça de Moraes 
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
CURSO DE APERFEIÇOAMENTO
EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 
DE ADOLESCENTES E JOVENS
Autoras
Aline Henriques Reis
Andréa Chicri Torga Matiassi
Silvia Segovia Araujo Freire
CUIDADOS 
PSICOSSOCIAIS NAS
ADOLESCÊNCIAS 
E JUVENTUDES
23-144539 CDD-362.21
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Reis, Aline Henriques
 Cuidados psicossociais nas adolescências e
juventudes [livro eletrônico] / Aline Henriques Reis,
Andréa Chicri Torga Matiassi, Silvia Segovia Araujo
Freire ; organização Rita Maria Lino Tarcia, Sílvia
Helena Mendonça de Moraes, Débora Dupas Gonçalves do
Nascimento. -- Campo Grande, MS : Fiocruz Pantanal,
2023.
 PDF 
 Bibliografia.
 ISBN 978-85-66909-42-5
 1. Adolescência 2. Adolescente - Cuidados e
tratamento 3. Dor 4. Saúde mental 5. Sofrimento
(Aspectos psicológicos) I. Matiassi, Andréa Chicri
Torga. II. Freire, Silvia Segovia Araujo. 
III. Tarcia, Rita Maria Lino. IV. Moraes, Sílvia
Helena Mendonça de. V. Nascimento, Débora Dupas
Gonçalves do. VI. Título.
Índices para catálogo sistemático:
1. Adolescentes : Política de saúde mental : 
 Bem-estar social 362.21
Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
© 2022. Fundo das Nações Unidas para a Infância – 
UNICEF. Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul.
Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, 
disseminação e utilização dessa obra, em parte ou em 
sua totalidade, nos Termos de uso do ARES. Deve ser 
citada a fonte e é vedada sua utilização comercial. 
UNICEF
Representante Interina
Paola Babos
Coordenação do Programa de Desenvolvimento e 
Participação de Adolescentes
Mário Volpi
Coordenador
Programa de Desenvolvimento e Participação de 
Adolescentes
Gabriela Mora
Joana Fontoura
Luiza Leitão
Rayanne França
Oficiais do Programa
Daniela Costa
Higor Cunha
Marina Oliveira
Thaís Santos
Consultores do Programa
Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz
Mario Santos Moreira
Presidente em exercício
Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul – 
Fiocruz MS
Jislaine de Fátima Guilhermino
Coordenadora
Coordenação de Educação da Fiocruz MS
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Vice- coordenadora de Educação
Secretaria-Executiva da Universidade Aberta do SUS 
– UNA-SUS 
Maria Fabiana Damásio Passos
Secretária-executiva
Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul 
(Fiocruz MS)
Rua Gabriel Abrão, 92 – Jardim das Nações, Campo 
Grande/MS
CEP 79081-746
Telefone: (67) 3346-7220
E-mail: educacao.ms@fiocruz.br
Site: www.matogrossodosul.fiocruz.br
CRÉDITOS
Coordenação Geral 
Débora Dupas Gonçalves do Nascimento
Sílvia Helena Mendonça de Moraes
Coordenadora Acadêmica Geral
Léia Conche da Cunha 
Coordenadora Pedagógica Geral
Rita Maria Lino Tarcia
Coordenador Acadêmico do Módulo
Alberto Mesaque Martins
Coordenadora Pedagógica do Módulo
Eliane Maria da Silva Anunciação
Autoras 
Silvia Segovia Araujo Freire
Aline Henriques Reis
Andréa Chicri Torga Matiassi
Revisora Técnico-científica
Alessandra Silva Xavier
Apoio técnico-administrativo 
Antonio Luiz Dal Bello Gasparoto
Adriana Carvalho dos Santos
Coordenador de Produção 
Marcos Paulo dos Santos de Souza
Designer Instrucional
Felipe Vieira Pacheco
Webdesigner
Stephanie Oliveira Moraes Silva
Designers Gráficos
Hélder Rafael Regina Nunes Dias
Renato Silva Garcia
Desenvolvedor
David Carlos Pereira da Cunha
Desenvolvedores AVA MOODLE
Luiz Gustavo de Costa
Vinicius Vicente Soares
Editor de Audiovisual
Adilson Santério da Silva
llustrador
Kelvin Rodrigues de Oliveira
Revisor 
Davi Bagnatori Tavares
Apresentação do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
QUANDO O SOFRIMENTO BATE À PORTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O QUE FAZER? PRIMEIROS ESBOÇOS! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O ACOLHIMENTO E A ESCUTA: ALIADOS DO VÍNCULO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
COMPARTILHANDO E AMPLIANDO O CUIDADO: A CLÍNICA AMPLIADA, O PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR E 
O APOIO MATRICIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS: CRIANÇAS, ADOLESCENTES, FAMILIARES E COMUNIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . .
PROJETOS DE VIDA E OUTRAS ESTRATÉGIAS POSITIVAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Encerramento do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Minicurrículo das autoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Material de apoio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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SUMÁRIO
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 6
apresentação do módulo
 Olá! Seja bem-vindo a mais uma etapa dessa jornada! 
Nessa nova parada, nosso objetivo é ajudar você a identificar 
as necessidades psicossociais de crianças e adolescentes que 
estão em situação de sofrimento e realizar os primeiros socorros 
psicológicos . Talvez, no seu dia a dia, você se depare com mui-
tas Anas e com certeza já se perguntou o que pode fazer para 
ajudá-las, tanto de forma presencial quanto remota . Assim como 
no caso apresentado, nesse momento, aí próximo a você, exis-
tem muitas crianças e jovens vivenciando sofrimentos psíquicos 
que se manifestam em comportamentos que colocam a vida 
deles em risco, como: uso abusivo de drogas, bulimia, anorexia, 
automutilaçãoe tentativas de suicídio . Neste módulo, enfatizare-
mos os dois últimos . Talvez, você tenha muitas dúvidas e até se 
sinta incapaz e paralisado, sem saber o que fazer diante de tantos 
casos . E agora? O que fazer?
 É possível que você acredite que apenas profissionais 
de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, possam ajudar 
um jovem nessa situação . É provável também que você sinta que 
tenha que encaminhar esse “problema” o mais rápido possível, 
transferindo a responsabilidade para os serviços de saúde . Mas 
calma! Neste módulo, veremos que identificar as necessidades 
dos jovens e oferecer os primeiros socorros psicológicos são pa-
péis que podem ser exercidos por qualquer pessoa, desde que 
ela esteja disposta a acolher e a escutar a criança e o adolescen-
te . Como vimos no caso, Ana teve comportamentos que coloca-
ram sua vida em risco, os quais só foram expostos para pessoas 
da sua escola . Entretanto, na história de Ana, uma coordenadora 
pedagógica da escola soube como acolhê-la, ou seja, teve uma 
escuta sensível e comprometida para o que se passava naque-
le momento, fornecendo os primeiros cuidados, indispensáveis 
para circunstâncias como essa . Venha conosco e vamos apren-
der um pouco sobre como você também pode ajudar os jovens 
da sua comunidade!
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 7
Quando o sofrimento bate à porta
 O campo da saúde mental, amparado nos fundamentos 
do Sistema Único de Saúde (SUS), produz uma nova forma de 
lidar com o sofrimento psíquico: os cuidados voltados para as 
pessoas com sintomas psicológicos não se restringem às equi-
pes de saúde mental, mas se ampliam para outros profissionais, 
além dos familiares e comunidade . 
 
Proposição 1
Feedback positivo: 
Feedback orientador: 
Você sabia que o Sistema Único de Saúde (SUS) brasilei-
ro é referência mundial em Saúde Coletiva?
O SUS é mais do que um conjunto de leis e normativas que 
orienta e regulamenta o funcionamento dos serviços de 
saúde . Ele é também uma proposta política que entende a 
saúde como um direito de todas as pessoas . Além disso, o 
SUS parte da ideia de que a saúde vai muito além da ausên-
cia de doenças e inclui todos os fenômenos que fazem parte 
da nossa vida . Por isso, no SUS, há uma valorização de um 
trabalho coletivo, envolvendo muitos atores, como profissio-
nais de saúde, gestores, usuários, familiares e demais atores 
dos territórios .
O SUS é uma conquista social brasileira, referência em Saú-
de Pública em todo o mundo . Desde sua regulamentação, 
em 1990, o SUS vem se transformando e sendo aprimorado, 
inovando as formas de pensar e executar as ações em saú-
de . Uma das grandes inovações do SUS é a constatação da 
complexidade dos fenômenos da saúde e do adoecimento, 
exigindo a construção de saídas, que requer o envolvimento 
de vários setores da sociedade e vários atores que atuam no 
território . No que se refere à saúde mental, o SUS valoriza 
que o cuidado aconteça de forma integrada ao território, en-
globando os diferentes saberes de todos os envolvidos . Por 
isso, não é preciso ter uma formação específica, como psi-
cologia ou psiquiatria, para trabalhar na promoção da saúde 
mental dos jovens . Você pode colaborar com essa constru-
ção procurando outras pessoas interessadas, de diferentes 
setores e serviços, e organizar espaços para conversas e 
discussões, como reuniões, fóruns, entre outros . Nesses en-
contros é importante que você busque informações sobre 
os princípios que orientam o SUS e inicie o planejamento de 
ações e projetos que, certamente, contribuirão para a me-
lhoria da qualidade de vida de todos os integrantes do terri-
tório em que você vive e atua . Outra dica importante: como 
dissemos anteriormente, saúde não é apenas ausência de 
doenças . Por isso, é importante que as ações enfatizem os 
modos de vida, o cotidiano, os aspectos culturais e políticos, 
ou seja, que também incluam aspectos relacionados à vida 
e ao contexto dos jovens .
?
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 8
 Serviços que acolham o público infantil e jovem seguem 
premissas semelhantes e devem levar em consideração as parti-
cularidades dessas etapas da vida, que não são poucas . 
 
 Essa visão mais ampliada deve alcançar, por exemplo, a 
bagagem histórica trazida pelas crianças e pelos adolescentes, e 
essa não é uma tarefa exclusiva dos profissionais de saúde, po-
dendo ser exercitada por todas as pessoas que lidam e convivem 
com esse público, sendo atores fundamentais para a garantia de 
acolhimento, cuidado e encaminhamento para os tratamentos 
especializados. Com essa escuta, profissionais e demais pes-
soas que atuam com os jovens podem promover o autoconhe-
cimento e ajudá-los na construção de saídas saudáveis para os 
impasses e riscos que porventura se apresentem . 
 Portanto, inicialmente, é preciso compreender que a saú-
de engloba o bem-estar físico, psíquico e emocional, não sendo 
apenas a ausência de doenças . Para isso, faremos algumas con-
ceituações importantes e, em seguida, refletiremos sobre vários 
aspectos da saúde: desde os primeiros cuidados na urgência 
dessas crianças e adolescentes até as possibilidades de constru-
ções de saídas coletivas para esses casos que serão abordados 
nas circunstâncias de crise e urgência .
Veremos a seguir que não existe uma abordagem 
única para tratar dos impasses das crianças e dos jo-
vens, assim como não há uma boa abordagem sem 
um cuidado integral de saúde, ou seja, sem um olhar 
mais ampliado que inclua os aspectos sociais, culturais, 
políticos, entre outros.
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 9
Crise, automutilação e suicídio: 
definição e entrelaçamento desses conceitos
 Conviver com os amigos, o primeiro beijo, a primeira ex-
periência sexual, entre outras experiências são momentos muito 
importantes na vida de um adolescente . Geralmente, essas expe-
riências costumam acontecer na escola ou no grupo de amigos 
que estudam juntos ou moram próximos . Você se lembra das 
suas experiências nesse período?
 Proposição 2
Feedback positivo: 
Feedback orientador: 
A adolescência é uma fase desafiadora tanto para quem 
está nela quanto para quem convive com o adolescente. 
Você conhece as mudanças psicológicas que os adoles-
centes experienciam nessa fase e como elas afetam as 
relações com as famílias? 
A adolescência é uma fase de busca de autonomia e cons-
trução da própria identidade . Nessa fase, há uma busca por 
gratificação imediata, isto é, quando se quer alguma coisa, 
tem que ser naquele momento . Há maior impulsividade, ou 
seja, agir sem pensar nas consequências . Os amigos pas-
sam a ter muita influência, às vezes até maior que a famí-
lia, gerando algum tipo de distanciamento dos jovens dos 
seus pais . E, com o mundo virtual, que se ampliou durante 
a pandemia, é importante que a família procure estar mais 
próxima dos jovens e conhecer os seus amigos, já que são 
pessoas que podem ter (e geralmente têm) uma influência 
muito grande sobre o comportamento dele . 
Apesar de ser desafiadora devido às mudanças corporais, 
hormonais e cerebrais que provoca, a adolescência não 
precisa ser desesperadora! A fase anterior à adolescência, 
chamada terceira infância, costuma ser mais tranquila, visto 
que a criança já tem mais autonomia, isto é, consegue fazer 
muitas coisas sozinha e não depende tanto dos pais como 
dependia antes . Isso pode trazer um afastamento gradativo, 
já que, na infância, muitas interações aconteciam em virtude 
da necessidade dos cuidados diários . Para chegar à adoles-
cênciacom uma relação saudável e de confiança com o fi-
lho, é necessário estar presente na vida dele, ter momentos 
para conversar sobre o dia, sobre os acontecimentos, ouvir 
abertamente, sem julgamentos e sem oferecer uma solução 
imediata para os problemas . Assim, a criança vai aprenden-
do que pode confiar nos pais. À medida que a criança vai en-
trando no mundo digital, os pais precisam estar atentos ao 
que acontece, ao que os filhos acessam. Um aplicativo cha-
mado Family link pode ser instalado no celular de um dos 
pais. Ele possibilita aos pais: definir quanto tempo a criança 
poderá usar o celular; quais aplicativos ela baixa; bloquear 
atividades, entre outras intervenções . 
?
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 10
 Para as crianças e adolescentes, além de ser um local de 
aprendizagem de conteúdos e conceitos, a escola também é um 
espaço que contribui para a socialização e promoção da cidada-
nia . Quando a família é ausente ou disfuncional, a escola serve 
como local de refúgio e apoio, longe das dificuldades familiares. 
Além dela, outros lugares, como centros de convivência, praças 
e espaços de lazer, instituições religiosas, entre outros, são espa-
ços ocupados pelos jovens, onde aprendem a ser e a conviver .
 Nos últimos anos, esse cenário foi inesperadamente al-
terado . Como uma espécie de pesadelo ou história de terror, a 
pandemia de Covid-19 gerou insegurança, medo, angústias e 
muitas mortes . As medidas de distanciamento social tiraram dos 
jovens as experiências de convivência com amigos e sociedade 
em geral e aumentaram o tempo de convivência com a família, 
suscitando as dificuldades inerentes a essa convivência (DA 
MATA et al ., 2021) . O distanciamento social também gerou ou-
tros desafios, como: a incerteza quanto ao futuro, à doença e à 
morte; dificuldades acadêmicas e de adaptação ao estudo on-li-
ne; problemas financeiros; e insegurança alimentar. Além disso, 
a mudança repentina do ensino presencial para o ensino remoto, 
sem o preparo e as condições adequadas, somada à longa du-
ração da pandemia, fez com que as crianças e os adolescentes 
entrassem em grande sofrimento . 
Fonte: Wikimedia Commons
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 11
 Observe, a seguir, algumas falas de crianças e adolescen-
tes de alguns países da América Latina sobre esse período (UNI-
CEF, 2021):
Fonte: Unicef (2021) . Disponível em: https://www.unicef.org/media/108126/file/SOW-
C-2021-Latin-America-and-the-Caribbean-regional-brief .pdf . Acesso em: 10 nov . 2022 .
 Antes mesmo da pandemia de Covid-19, a saúde mental 
dos jovens já vinha chamando a atenção e gerando preocupa-
ções . De acordo com o relatório Situação Mundial da Infância 
2021 (UNICEF, 2021), quase um em cada seis meninas e meni-
nos entre 10 e 19 anos de idade, no Brasil, tem algum transtorno 
mental . Nessa idade, esse grupo está mais exposto ao risco de 
automutilações, depressão e suicídio . Conforme Botega (2023), 
em cada 100 habitantes, 17 têm ideação suicida, com pensa-
mentos de acabar com a própria vida, 5 chegam a elaborar um 
plano suicida, 3 tentam o suicídio e apenas 1 entre esses três é 
atendido em um pronto-socorro . Esses dados são preocupantes, 
pois revelam que o número de pessoas que precisam da nossa 
ajuda é muito maior do que aqueles que chegam até os serviços 
de saúde . Ou seja, a coisa está feia! E, por isso, precisamos de 
todos envolvidos no enfrentamento desse desafio.
 Identificar sinais precoces de sofrimento psíquico, no 
contexto de vida da criança e do adolescente, pode impedir a 
escalada da crise, bem como possibilitar o início do cuidado 
necessário o mais precocemente possível, protegendo a saúde 
do jovem e potencializando os cuidados o mais rápido possível . 
Como vimos no caso de Ana, é muito importante refletirmos so-
bre como podemos fornecer os primeiros cuidados psicológicos 
em momentos de crise, quando as crianças e os adolescentes 
estão colocando suas vidas em risco, principalmente com com-
portamentos de automutilação e tentativas de suicídio . 
 Uma primeira forma é a observação durante a convivên-
cia. Nesse contexto, você pode identificar alguns sinais e mu-
danças no comportamento da criança ou adolescente, como 
“Não poder ver seus amigos causa depressão porque 
falar em uma tela não é a mesma coisa – você não tem a 
mesma conexão que vê-los pessoalmente.” (Menina mais 
nova, Jamaica). 
“Fico muito triste e depois começo a tremer, começo a fi-
car sem ar e depois começo a chorar, tipo sem conseguir 
segurar... pareço um zumbi e não tenho mais nada para 
fazer ou tento levantar meu ânimo, mas até que eu durma 
isso não vai acontecer.” (Menina mais nova, Chile). 
“[Pais invalidando nossas experiências] acontece muito. 
Por exemplo... uma pessoa conta [aos] pais [sobre] seus 
problemas, e os pais podem dizer: ‘...Você não tem dívida 
ou nada para ficar triste’, e coisas assim.” (Menino mais 
novo, Chile). 
“Quando eu era mais jovem, expressava muito mais meus 
sentimentos, mas eles não eram validados quando eu ti-
nha 13, 14 anos. Eu poderia dizer: ‘Tenho depressão ou 
me sinto triste’, e eles diriam: ‘Não, você não sabe o que 
sente porque tem 12 anos’.” (Menina mais velha, Chile). 
https://www.unicef.org/media/108126/file/SOWC-2021-Latin-America-and-the-Caribbean-regional-brief.pdf
https://www.unicef.org/media/108126/file/SOWC-2021-Latin-America-and-the-Caribbean-regional-brief.pdf
Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 12
retraimento, tristeza e irritabilidade . Outra importante estratégia 
para identificar pistas é acompanhar as redes sociais dos jovens, 
um canal de comunicação muito utilizado por eles . Uma matéria 
do site BBC (2019) revela a história de uma jovem norueguesa 
que, ao perder a melhor amiga por suicídio, passou a observar 
posts que poderiam ser indicativos de sofrimento mental e idea-
ção suicida . Segundo ela: 
“Vejo muitas pessoas que querem morrer. Não vou apenas ficar 
vendo uma pessoa dizer que vai se matar, ignorar isso e esperar 
pelo melhor”. 
No Brasil, um funkeiro levantou suspeitas de sofrimento ao colocar 
uma foto pessoal que mostrava uma corda e a legenda: “Aprecie 
a vida, cada momento!”, deixando internautas e fãs preocupados. 
Uma influencer digital, que enfrentava um quadro grave de de-
pressão e ansiedade e efetivou o suicídio, chegou a postar nas re-
des sociais: “Entendam, ter depressão é ter que sair da cama sem 
vontade, e ter que lutar por coisas que não fazem mais sentido 
para você. Porque expor aqui? Simples. Pra que todos entendam 
que a vida do insta só mostra uma camada, e tenho certeza que 
tem muitaaaaaa gente aqui passando por isso”. 
Proposição 3
Feedback positivo: 
Feedback orientador: 
Os influenciadores digitais têm conquistado cada vez 
mais a atenção do público infantil e adolescente. Você 
sabe o que é um influenciador digital? 
Influenciador digital é uma pessoa que tem muitos segui-
dores (pessoas que estão cadastradas no perfil do influen-
ciador). Eles geralmente falam sobre um tema específico 
(humor, moda, jogos etc.), mas também podem usar o perfil 
para falar de si . Nos tempos das redes sociais e da internet, 
é quase impossível que os jovens não estejam em contato 
com influenciadores. As redes sociais também têm sido uti-
lizadas como espaços importantes para comunicação dos 
jovens, que podem encontrar influenciadores positivos que 
podem servir de inspiração para o aprendizado de diversos 
temas e assuntos . 
Apesar de as crianças e adolescentes muitas vezes criarem 
perfis falsos sem que os pais saibam, é importanteque os 
cuidadores tenham acesso às redes sociais dos filhos e veri-
fiquem com alguma frequência o que eles postam, quem se-
guem e que tipo de conteúdo estão consumindo . Também 
é importante conversar com os jovens a fim de conhecer 
quem são as pessoas que os influenciam (artistas, bloguei-
ras, personalidades da mídia etc .) . Mais uma vez, o diálogo e 
a escuta acolhedora são apoios importantes que permitem 
o fortalecimento de vínculo com os jovens e favorecem a re-
flexão sobre o conteúdo que acessam na internet. 
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Curso de Aperfeiçoamento em Saúde Mental 
e Atenção Psicossocial de Adolescentes e Jovens
Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 13
 Como você viu anteriormente, o suicídio é um problema 
social que existe há muitos séculos, inclusive atingindo crian-
ças e adolescentes, mas habitualmente era abordado de uma 
forma silenciosa, tímida e delicada, tanto pelo tabu que envolve 
o assunto, quanto pelo constrangimento causado em familiares 
que perderam alguém por suicídio . Hoje, por ser um indicador 
em constante crescimento, tornou-se um grande problema de 
saúde pública, sendo necessário conversar sobre o assunto em 
todos os espaços possíveis e com a ajuda de todas as áreas do 
conhecimento .
 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) 
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2021), morrem, anualmente, 
no mundo, 700 mil pessoas por suicídio . Essa é a quarta maior 
causa de morte de adolescentes de 15 a 29 anos e tem crescido 
exponencialmente em menores de 14 anos, indicador em que 
Ana está enquadrada . Cabe destacar que o suicídio é um fenô-
meno complexo e multifatorial que pode afetar indivíduos de 
diferentes origens, faixas etárias, condições socioeconômicas, 
orientações sexuais e identidades de gênero . Assim, ele atinge 
todos os grupos, tornando-se um desafio ainda mais complexo. 
Contudo, como podemos definir o suicídio? Ele tem relação com 
a automutilação? Vamos tentar entender, até para podermos 
chegar às possibilidades de intervenção quando nos deparamos 
com essas situações . 
 O suicídio pode ser definido “como um ato deliberado 
executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção é a morte, de 
forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usan-
do um meio que ele acredite ser letal” (LOPES, 2022, p . 296-297) . 
Geralmente, o suicídio é visto como uma maneira de acabar com 
a dor . Ocorre uma espécie de restrição mental em que a pessoa 
enxerga o suicídio como a única forma de resolver a situação, 
de acabar com o sofrimento que ela está vivenciando (BOTEGA, 
2023) . Há níveis relacionados ao suicídio, que vão desde a exis-
tência de ideias sobre o ato, como pensamentos de morrer, até 
planos muito elaborados de tirar a própria vida . No Quadro 1, há 
uma descrição de cada nível (BOTEGA, 2023) e a definição de 
automutilação (ARATANGY, 2017) .
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QUADRO 1 – NÍVEIS DE IDEAÇÃO E COMPORTAMENTO DE AUTOEXTERMÍNIO
Nível Definição Exemplos
Autolesão não suicida 
ou automutilação
Machucar-se intencionalmente na superfície do cor-
po, gerando sangramento, contusão ou dor (por 
exemplo, cortar, queimar, bater, esfregar excessiva-
mente), com a expectativa de que a lesão não leve 
à morte (isto é, não há intenção suicida) (AMERICAN 
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014) . A intenção da 
automutilação é aliviar algum sofrimento emocional, 
sentimento de raiva, tristeza, angústia ou vazio inter-
no (ARATANGY, 2017) .
Objetos para se machucar: lâminas de barbear, cli-
pes, grampos de cabelo, facas, tampas de caneta, 
entre outros .
Queimar-se com isqueiro, cigarro ou ferro de pas-
sar roupa também são ações possíveis . Os locais 
podem ser: braços, pernas e barriga (ARATANGY, 
2017) .
Ideação suicida Ter pensamentos que se relacionam ao desamparo 
(sensação de estar sozinho, não poder contar com 
ninguém) e à desesperança (a ideia de que as coisas 
não vão melhorar ou que podem piorar) .
Pensamentos como: “se eu morresse, ninguém 
sentiria a minha falta”; “eu queria dormir e não 
acordar mais”; “não posso contar com ninguém”; 
“as coisas nunca vão melhorar pra mim”; “nunca 
vou ser feliz”; “eu preferia estar morto” .
Intenção suicida Ter o desejo de se matar e alguma intenção de agir 
conforme esse desejo .
Pensamentos como: “Eu não aguento mais . Tô sur-
tando. Preciso pôr um fim nessa minha dor”. 
Plano suicida A maneira como pretende executar o suicídio: dia, 
local, horário, método etc . Quanto maior a letalidade 
do método, ou seja, a chance de morrer, e o conheci-
mento sobre isso, mais preocupante é .
Pensamentos como: “Não vejo solução . É melhor 
acabar com isso logo”; “Vou colocar um fim na mi-
nha dor” .
Pesquisa sobre formas de fazer, conversa com pes-
soas sobre o tema, planeja como fazer .
Tentativa de suicídio Comportamento não fatal dirigido a si mesmo, poten-
cialmente nocivo, com qualquer intenção de morrer . 
Uma tentativa de suicídio pode ou não provocar feri-
mento .
A tentativa pode ter sido feita por ingestão de me-
dicamentos, um nó em corda que se desfez, al-
guém que salvou a pessoa antes da morte .
Suicídio Quando a pessoa tem êxito e consegue se matar . Os meios mais letais envolvem arma de fogo e en-
forcamento .
Fonte: Botega (2023) e Aratangy (2017) .
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 Já os comportamentos autolesivos, também conhecidos 
como automutilação, envolvem machucar partes do corpo de 
forma intencional, mas não têm o intuito de causar dano letal . 
Podem ser: leves, quando as lesões são realizadas com pouca 
frequência e têm baixa gravidade; moderadas, quando as le-
sões são graves a ponto de a pessoa precisar de ajuda médica; e 
graves, quando as lesões são feitas com frequência e têm maior 
gravidade, causando prejuízos às pessoas, como os machuca-
dos no corpo e o isolamento dos grupos de pertença . As auto-
lesões geralmente têm impacto negativo na saúde mental do 
próprio indivíduo e envolvem: punir-se por algo que acredita ter 
feito de errado e regular as emoções intensas e geralmente desa-
gradáveis . A pessoa faz isso tanto porque, após se cortar, sente 
um alívio, uma sensação de anestesia, como porque a dor desvia 
o foco das emoções desagradáveis . As autolesões também têm 
um impacto nas relações interpessoais, ou seja, as outras pesso-
as se preocupam e dão mais atenção, portanto pode trazer um 
senso de pertencimento . Existem grupos e comunidades que se 
relacionam justamente por compartilharem esses temas, como 
as adolescentes que Ana encontrou na internet (QUESADA et al ., 
2020) .
 As situações descritas configuram o auge do sofrimento. 
No entanto, como perceber que a criança ou o adolescente pre-
cisa de ajuda? Como diferenciar comportamentos típicos dessa 
fase de situações de crise? Como a palavra crise é muito utilizada 
no contexto da adolescência, é necessário esclarecer que ques-
tões pontuais e certos comportamentos típicos desse momen-
to de vida não devem ser confundidos com situações de crise, 
tampouco com doenças . De acordo com alguns estudos sobre 
a adolescência, alguns comportamentos e características dessa 
etapa da vida são: insegurança, busca de sensações, impulsivi-
dade e agressividade, que seriam consequências das mudanças 
biológicas e hormonais que acontecem nesse momento da vida 
(GOMES, 2017) . Em outras palavras, a adolescência é uma fase 
em que ocorrem muitas mudanças, o que nem sempre é vivido 
sem conflitos.
 Contudo, a palavra crise é muito utilizada na área da 
saúde, especialmente para designar situações de intenso sofri-
mento e de gravidade significativa (ALKMIM, 2010). As mudan-
ças abruptas de comportamento decorrentes de sofrimento ou 
prejuízo ajudam a entender melhor essacomparação, como: 
um adolescente que sempre ficou irritado em determinadas si-
tuações passa a ter comportamentos de raiva e agressividade 
mais intensamente, ameaçando machucar os colegas, animais e 
a si próprio . Essa mudança pode ser um sinal de que esse ado-
lescente está em crise . Assim, o próprio jovem é usado como 
parâmetro de comparação, ou seja, é preciso conhecer a história 
dele para identificar quando as mudanças ocorreram e em qual 
intensidade .
 Podemos sugerir como indicadores “normais” as mudan-
ças de comportamento, o aparecimento da tristeza, a queda no 
rendimento escolar, entre outros . No que se refere ao suicídio, 
um risco baixo envolve ausência de tentativa anteriores e, caso 
ocorram ideias desse tipo, elas são passageiras e geram ansieda-
de, perturbação . Além disso, se há um transtorno mental prévio, 
os sintomas são leves e o jovem tem vida e apoio social (BOTE-
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GA, 2023) . A música Eu sou um fracasso, de Bia Marques (https://
www .youtube .com/watch?v=Z3qzsaim-AA, disponível em 11 out . 
2022) mostra o início de uma crise, a sensação de estar só e de ser 
um fracasso, assim como a desesperança de ser compreendida . 
Por outro lado, cita lembranças de bons momentos, bem como 
alguma rede de apoio: “Mas pelo menos sei que com você posso 
contar” .
 Com relação aos indicadores médios, “complicados”, 
é preciso observar se os pensamentos negativos são persis-
tentes, mesmo que não envolvam a intenção de tirar a própria 
vida ou machucar alguém, se as autoagressões estão presen-
tes e com qual frequência e gravidade, se tem algum histórico 
de tentativa de tirar a própria vida, se há isolamento, piora no 
rendimento escolar e falas de desesperança . Quanto ao risco 
de suicídio, é moderado se há diagnóstico de depressão ou 
transtorno bipolar, se os pensamentos de suicídio são fre-
quentes, se o suicídio parece ser a solução e se a pessoa conta 
ou não com apoio social . Em um risco moderado de suicídio, a 
pessoa não é impulsiva, não faz uso ou abuso de drogas e não 
tem um plano para se matar (BOTEGA, 2023) . A música RAP - 
me sinto perdido, nossos sentimentos (https://www .youtube .
com/watch?v=7yIlon_oGnI, disponível em 11 out . 2022) retrata 
um nível um pouco mais intenso de sofrimento: “não faz sen-
tido a vida que eu carrego”; “não sei mais se eu vivo por mim 
mesmo”; “parece que estou perdido nesse mundo sem saída, 
onde a única opção é uma escolha suicida” . Nela, encontramos 
alguns indícios de já ter havido uma tentativa anterior de sui-
cídio: “me olhando no espelho meu passado me atormenta . O 
porquê eu fiz aquilo? Talvez ninguém entenda”. Apesar da su-
posta tentativa de suicídio anterior e de a pessoa considerar o 
suicídio como uma opção real e como a solução, identifica-se 
uma rede de apoio: “Agradeço aos amigos por estarem ao meu 
lado”, e a ambivalência, indicando, além do desejo de morrer, 
uma esperança para viver .
 Músicas, como a citada acima, falam de desesperança, 
ideação suicida, sentimentos de vazio e temas afins. Apesar de 
serem impactantes, elas também podem ajudar a nos aproximar 
da dor de nossas crianças e adolescentes para que possamos 
compreender como eles se sentem . Além disso, as músicas po-
dem ser usadas para suscitar discussões sobre suicídio com os 
adolescentes, especialmente os que representam nível baixo e 
moderado de ideação .
https://www.youtube.com/watch?v=Z3qzsaim-AA
https://www.youtube.com/watch?v=Z3qzsaim-AA
https://www.youtube.com/watch?v=7yIlon_oGnI
https://www.youtube.com/watch?v=7yIlon_oGnI
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Proposição 4
De que maneira podemos usar músicas para abordar o 
sofrimento emocional dos jovens?
?
Feedback positivo: 
Os jovens gostam muito de música . Passam boa parte do dia 
com seus fones de ouvido . As músicas citadas no texto fo-
ram escritas por jovens e retratam elementos associados ao 
sofrimento de que tratamos neste módulo .
Feedback orientador: 
Para iniciar a discussão, pode-se passar o clipe da música 
ou apenas o áudio, entregando ou projetando a letra dela 
enquanto o áudio/vídeo é passado . Questões norteadoras 
como as seguintes podem suscitar a discussão: 
Música: “Eu sou um fracasso” 
- O que fez com que a pessoa se sentisse dessa maneira? 
- Como é a relação da protagonista da música com a pessoa 
a quem ela fala? 
- Na sua opinião, o que a protagonista quer receber? Do que 
ela precisa? 
- Você já se sentiu de forma parecida? Como? 
Música: “Rap - Me Sinto Perdido | Nossos Sentimentos” 
No início da música, o protagonista diz se sentir perdido e 
acredita que a única opção é o suicídio . O que você pensa 
sobre isso? Mesmo em situações de muita dificuldade ou de 
extremo sofrimento, que alternativas uma pessoa pode ter? 
(pedir ajuda na escola, na unidade básica de saúde, na as-
sistência social, no conselho tutelar etc .) 
O protagonista revela ter perdido pessoas que amava e se 
questiona se vale a pena viver . Que motivos fazem a vida 
valer a pena? (família, amigos, animais de estimação, coisas 
que eu quero fazer, lugares que eu quero conhecer etc .) . 
A música fala de momentos bons já vividos . Liste três mo-
mentos muito bons da sua vida . Tente relembrá-los, como se 
pudesse revivê-los como um filme em sua mente. 
Considerando o trecho “É difícil ver pessoas sorrindo ale-
gremente; Sem ao menos entender a batalha na sua mente”, 
você acredita que isso acontece na vida real? Ou seja, pes-
soas postam nas redes sociais momentos felizes, mas muitas 
vezes estão passando por alguma dificuldade ou sofrimento? 
O trecho “Tenho errado demais pra tu viver junto a mim” traz 
a ideia de que o protagonista não se sente digno ou à altura 
de uma pessoa de que ele gosta . Você já se sentiu dessa 
maneira? Que motivos você tem para orgulhar-se de si mes-
mo? Lembre-se de que todos nós temos defeitos e come-
temos erros . Todas as pessoas têm coisas sobre si que não 
gostariam que os outros soubessem . 
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Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 18
 Como indicadores altos, ou “casos graves”, devem ser 
verificadas a existência de tentativas anteriores de suicídio e a 
dependência de álcool ou de outras drogas . Nesse cenário, o jo-
vem em crise não vê saídas. Há um plano definido de se matar e 
ele já pensou em formas de fazer isso, além de já ter providencia-
do o que precisa para o ato (BOTEGA, 2023) . 
FRASES QUE PODEM SINALIZAR PENSAMENTOS SUICIDAS
 De acordo com Franzin, Reis e Neufeld (2017), o que 
costuma desencadear uma crise na infância e na adolescência são 
problemas na família, na escola ou piora de uma psicopatologia 
já existente, como depressão . A seguir serão listados alguns sinais 
que podem indicar que o adolescente está em crise, sempre 
levando em consideração como ele era habitualmente, como 
está agora e a frequência e intensidade dos comportamentos:
- Comportamento agressivo e violento, como quebrar ou jogar 
coisas, gritar, xingar ou desafiar adultos;
- Tentativa de suicídio, tomando remédios, jogando-se de luga-
res altos, enforcando-se, usando arma de fogo ou de outras ma-
neiras;
- Machucar a si mesmo se beliscando, cortando-se, batendo em 
si mesmo;
- Desenvolver depressão e transtornos de ansiedade;
- Começar a usar álcool, cigarro ou outras drogas em excesso;
- Desregulação emocional, ou seja, choro difícil de controlar ou 
ficar irritado com facilidade e com frequência, assim como falta 
de paciência .
 No caso de Ana, o sentimento de culpa pela morte do 
pai, a falta que sentia dele, a baixa autoestima, o desconfortoque 
sentia em casa pela presença do padrasto, a falta de opções de 
lazer, o afastamento da amiga Karen e as críticas da mãe foram 
fazendo com que ela ficasse cada vez mais distante, sentindo-se 
ainda mais sozinha. Ana começou a ficar muito irritada, sem pa-
ciência (a irritabilidade frequente e intensa é um sintoma impor-
“Quero acabar com o sofrimento”.
“Vou deixar de ser um problema para minha família ou 
meus amigos”. 
“Eu ando pensando besteira”. 
“Acho que minha família ficaria melhor se eu não estivesse 
aqui”. 
“Eu sou um peso para os outros”. 
“Estou com pensamentos ruins”. 
“Eu não aguento mais”. 
“As coisas não vão dar certo. Não vejo saída”. 
“Eu preferia estar morto”. 
“Vou desaparecer”. 
“As pessoas acham que depressão é frescura. Depois que a 
pessoa se mata vão ver o que é frescura”. 
“Vou sumir”. 
 “Em breve isso tudo vai acabar!”
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Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 19
tante de depressão em crianças e adolescentes), passou a não 
dormir bem, perdeu a vontade de comer e deixou de fazer coisas 
de que gostava antes, como fazer vídeos e postar no TikTok .
 Como destacado anteriormente, a mãe de Ana percebeu 
as mudanças do comportamento da adolescente e pensou que 
fosse coisa da adolescência ou “aborrescência”, termo muito uti-
lizado, no senso comum, para se referir a essa fase da vida . Essa 
nomeação é carregada de estereótipos, pois considera que os 
adolescentes sempre aborrecem ou têm comportamentos equi-
vocados . Esses estereótipos colaboram para calar as crianças e os 
adolescentes, principalmente nas horas em que eles mais preci-
sam, sendo, portanto, negligenciados, silenciados ou esquecidos .
Proposição 5
Você sabe por que é tão comum o conflito entre pais e 
filhos na adolescência? 
?
Feedback positivo: 
Feedback orientador: 
As interações entre pais/mães e filhos se transformam du-
rante a adolescência devido a algumas características dessa 
fase do desenvolvimento, como: busca pela independência 
e pela identidade, maior maturidade e capacidade de crítica 
sobre o mundo e ampliação da rede de contato do adoles-
cente, possibilitando o acesso a valores e informações que 
fogem à esfera familiar . Trata-se de um momento de maior 
autonomia dos jovens e que pode contribuir para o desen-
volvimento de importantes diálogos sobre temas comple-
xos, como valores, política e a própria vida . 
Os pais precisam aprender habilidades de negociação e ser 
menos impositivos e punitivistas . A próxima etapa de vida 
será a adulta, portanto a adolescência é uma etapa de tran-
sição na qual a pessoa precisa aprender a negociar, tomar 
decisões e lidar com as consequências dessas decisões . 
Como ainda está em fase de aprendizagem, precisa de mo-
nitoramento . Dessa forma, os adolescentes não podem ser 
completamente livres para fazer o que quiserem . No entan-
to, a imposição, além de não ensinar o filho a refletir, pois a 
ordem vem de cima para baixo, costuma gerar raiva e a sen-
sação de não ser ouvido . Assim, é preciso que os pais com-
preendam o comportamento do filho como uma luta pela 
autonomia e não como um desafio deliberado. Uma dica é 
estabelecer regras negociáveis e outras que não entram em 
negociação . As regras, de preferência dialogadas e nego-
ciadas, devem estar claras aos adolescentes, bem como as 
consequências do não cumprimento . É preciso que ocorra 
um monitoramento apropriado dos filhos, que os pais sai-
bam onde os filhos estão e o que fazem durante o dia. Para 
tanto, precisam definir claramente como terão acesso a es-
sas informações e de que maneira isso será feito . 
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Fique de olho: sinais de alerta e fatores de risco para automu-
tilação e ideação/tentativa de suicídio
 A depressão é um importante fator de risco tanto para a 
automutilação quanto para o suicídio . Reconhecer que a criança 
ou o adolescente está em um quadro depressivo é importante 
para fornecer suporte e fazer os encaminhamentos necessários . 
O vídeo Um cachorro preto chamado depressão (https://www .
youtube .com/watch?v=6RIu4a7hdAA, disponível em 11 out . 
2022) ilustra os sintomas do transtorno . Entre os jovens, em vez 
de tristeza, pode aparecer com maior frequência a irritabilidade, 
como no caso de Ana . Entre crianças de 6 a 8 anos, é comum 
queixas somáticas, como dor de cabeça e dor de barriga . Em 
adolescentes, as notas na escola podem cair e haver mais fome 
e sono (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014) . 
 Aratangy (2017) explica que transtornos mentais (como 
depressão e presença de um trauma), vivências difíceis na in-
fância, características pessoais e aspectos sociais são fatores de 
risco para automutilação e ideação suicida . Com relação aos as-
pectos sociais, é preciso prestar atenção: se a criança ou o ado-
lescente está se isolando em demasia, tanto da família como de 
amigos; se está sofrendo bullying (ver módulo 3); se tem em seu 
histórico de navegação na internet busca de informações sobre 
automutilação e/ou suicídio; e se tem pessoas conhecidas e/
ou próximas que se mutilam e/ou também apresentam ideação 
suicida . Quanto às características pessoais, destacam-se a im-
pulsividade e a instabilidade emocional, distorções na imagem 
corporal, pessimismo, insegurança e baixa autoestima e dificul-
dades de se relacionar e de regular as emoções . As vivências na 
infância que são sinais de alerta envolvem: traumas psicológicos, 
como negligência e violência sexual, física ou emocional; rela-
ções familiares disfuncionais; depressão ou dependência de ál-
cool e de outras drogas em um ou ambos os pais .
 Analisando esses fatores de risco, pode-se verificar que 
Ana tinha vários deles: pode-se pensar em relações familiares 
disfuncionais (pai era alcoolista e faleceu e Ana se sentia culpa-
da pela morte dele; a mãe era crítica e distante emocionalmente; 
Ana tinha sensação de desconforto na presença do padrasto); 
Ana mantinha contato pela internet com outras meninas que se 
cortavam; após o namoro da amiga Karen, Ana isolou-se em casa 
e na escola, não tinha amigos e ainda lidava com uma queda no 
rendimento escolar . Ana não gostava de sua aparência nem de 
seu corpo, portanto desenvolveu baixa autoestima, e suas baixas 
notas pareciam confirmar suas dúvidas sobre seu próprio valor. 
Ana apresentava muitos sintomas de depressão que poderiam 
ter sido reconhecidos, caso os pais e educadores soubessem 
identificá-los.
 Conforme Botega (2023), o suicídio pode acontecer tam-
bém de forma impulsiva, não planejada, em uma situação de so-
frimento intenso (por exemplo, descobrir que a pessoa amada 
está com outra pessoa ou estar diante de um evento inespera-
do, como a prisão dos pais, a morte repentina de uma pessoa 
querida ou a descoberta de uma doença grave) com um meio 
letal disponível (arma, veneno, medicamentos, entre outros) . O 
impulso de cometer suicídio pode ser transitório e durar alguns 
minutos ou horas . Acalmando-se a crise e ganhando-se tempo, 
é possível diminuir o risco . Por isso, é muito importante que, nes-
https://www.youtube.com/watch?v=6RIu4a7hdAA
https://www.youtube.com/watch?v=6RIu4a7hdAA
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sas situações, os jovens recebam os primeiros socorros psicoló-
gicos pelas pessoas que os acompanham, mesmo que não se-
jam profissionais de saúde mental. Essa ação rápida é essencial 
para preservar a saúde e a vida do jovem em sofrimento .
 Dessa forma, com o objetivo de prevenir o suicídio de 
adolescentes, Botega (2023) sugere orientar os pais a tirar de 
casa ou esconder elementosque possam ser usados no ato sui-
cida, como armas, facas, cordas e medicamentos, que devem 
ficar em local que a pessoa não consiga acessar, de preferência 
trancado, e com alguém responsável por administrá-los) . O autor 
também recomenda prestar atenção ao adolescente que geral-
mente demonstra alguns sinais de alerta relacionados ao risco 
de suicídio . Alguns desses sinais são:
• Mudanças importantes no jeito de ser ou na rotina;
• Comportamento ansioso, agitado ou deprimido;
• Piora no desempenho na escola, no trabalho e em outras ati-
vidades em que costumava ter bons resultados;
• Afastamento de família e de amigos;
• Não querer mais fazer atividades de que gostava;
• Descuido com a aparência;
• Perda ou ganho de peso;
• Mudança no padrão de sono, ou seja, dormir mais do que es-
tava habituado ou ter dificuldade para dormir ou ainda acor-
dar de madrugada e não conseguir dormir mais;
• Comentários autodepreciativos persistentes (por exemplo, 
“sou uma pessoa ruim”; “ninguém vai querer namorar uma 
pessoa como eu”; “eu sou um peso para os outros”; “só faço 
as pessoas sofrerem”);
• Comentários negativos sobre o futuro, desesperança;
• Disforia marcante (combinação de tristeza, irritabilidade e 
acessos de raiva);
• Comentários sobre morte, sobre pessoas que morreram e in-
teresse por essa temática;
• Doação de pertences que valorizava;
• Expressão clara ou velada de querer morrer ou pôr fim à vida.
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Na história que vimos anteriormente, Ana passou a demons-
trar bastante irritabilidade, isolou-se e tinha pensamentos mui-
to depreciativos sobre si: “Eu sou tão magra . Com 14 anos não 
tenho peito, não tenho bunda . Quem vai gostar de mim? Meu 
cabelo parece uma vassoura . Nada que eu faço dá jeito nele” . 
Ela também deixou de fazer coisas de que gostava, como ir à 
praça (nesse caso, foi um dos fatores que desencadeou o início 
da depressão) e gravar vídeos e postar no TikTok (consequên-
cia da depressão) . Em sua fala, ela expressa muitos sinais de seu 
sofrimento psíquico, os quais resultam em comportamentos que 
talvez possam ser vistos pelos adultos como rebeldia ou agressi-
vidade . Toda essa mudança revelava seu grito por socorro, que 
só foi ouvido tardiamente .
 Os fatores de risco de comportamento podem estar re-
lacionados a eventos de vida que contribuíram em longo prazo 
para o risco de suicídio, por exemplo: abuso físico na infância, 
violência sexual, abuso de substâncias psicoativas (álcool, ma-
conha, entre outras); transtorno de estresse pós-traumático (de-
corrente de assalto, estupro, de assistir violência doméstica etc .); 
ter alguém na família que se suicidou; comportamento agressi-
vo e/ou impulsivo (agir com frequência sem pensar, às vezes até 
com consequências ruins); perfeccionismo; transtorno depres-
sivo; automutilação; ter tentado suicídio antes; ter sido interna-
do em uma clínica psiquiátrica recentemente; sentir-se enclau-
surado, sem conexão ou um peso; desesperança; transtorno de 
identidade de gênero (ter um desconforto com o próprio gênero, 
sentindo-se inadequado quando assume esse papel social, e 
se identificar com o gênero oposto); identificar-se como lésbi-
ca, gay, bissexual ou transexual; e sofrer discriminação devido 
à orientação sexual e à identidade de gênero (BOTEGA, 2023) . 
Nesse último caso, o sofrimento e a ideação suicida também es-
tão relacionados à vivência de preconceito e da falta de aceita-
ção da família .
 Existem ainda os fatores que aconteceram perto da ten-
tativa ou da ideia de suicídio, que chamamos de fatores preci-
pitantes, por exemplo: exposição a casos de suicídio ou tenta-
tivas de suicídio, conflitos familiares, separação dos pais, morte 
de um genitor, rompimento de namoro, bullying e cyberbullying, 
dificuldades escolares, ações disciplinares e problemas legais, 
sentir-se desonrado ou ter muita vergonha de algo sobre si (por 
exemplo, ter uma foto de si nu circulando em WhatsApp) e ter 
fácil acesso a um meio letal (BOTEGA, 2023) .
 A automutilação é um fator de risco para o suicídio, pois 
é como se uma primeira barreira tivesse sido transposta, isto é, a 
de machucar o próprio corpo, tornando mais fácil uma nova ten-
tativa . Destaca-se que os fatores listados, isoladamente, não são 
exclusivamente as causas de suicídios, mas as consequências 
que possam ter causado na vida da pessoa podem impulsio-
ná-la a ter comportamentos de risco . Além disso, é importante 
saber que, em geral, a pessoa com ideação suicida tem tanto o 
desejo de morrer, para acabar com a dor, como o desejo de viver, 
mostrando uma ambivalência . O apoio social e emocional tem 
como objetivo aumentar o desejo de viver .
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Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 23
O que fazer? Primeiros esboços!
 Muitas pessoas acreditam que conversar com o ado-
lescente sobre suicídio vai fazer com que ele pense sobre isso 
ou que desperte nele a vontade de acabar com a própria vida . 
Esse é um mito, pois, quando a ideia lhe ocorre, ele tem a inter-
net para buscar informações . Poder falar sobre a dor que o leva 
a querer se matar pode, na verdade, ajudá-lo a pensar em ou-
tras maneiras de diminuir o sofrimento . Sabemos que, para mui-
tas pessoas, essa é uma conversa difícil, fazendo com que pais, 
educadores e profissionais que atuam com jovens evitem falar 
sobre o assunto ou simplesmente encaminhem os jovens, sem 
o devido acolhimento, para um outro profissional, deixando-os 
ainda mais vulneráveis . Contudo, diversos estudos vêm demons-
trando a importância de conversar abertamente e o mais empati-
camente possível com os jovens que lidam com a automutilação 
e a ideação suicida . Muitas vezes, é mais fácil que eles se abram 
com uma pessoa com a qual já tenham vínculo construído, como 
professores, oficineiros, líderes comunitários, entre outros, do 
que com um profissional que, embora especialista, é desconhe-
cido para ele . Por isso, é importante que você mantenha uma 
postura de disponibilidade e escuta acolhedora, mantendo aber-
to um canal de comunicação em que a criança e o adolescente 
possam se expressar e narrar o seu sofrimento . 
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Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 24
 
Proposição 6
Por que conversar sobre automutilação e ideação suici-
da é importante? Como podemos fazer isso?
?
Feedback positivo: 
Poder falar sobre a dor e o sofrimento que está sentindo, ao 
mesmo tempo que quem escuta dá espaço para que o jo-
vem possa falar e se mostra disponível para acolher, ajuda 
muito na prevenção desses comportamentos e na possibi-
lidade de as pessoas que sofrem buscarem ajuda . Uma das 
primeiras coisas que podemos fazer para ajudar quem está 
sofrendo – e, por isso, automutilando-se – e está com pensa-
mentos suicidas é nos informar, buscar informações confiá-
veis sobre o suicídio, sobre automutilação e sobre crianças e 
adolescentes em sofrimento . Querer se informar de maneira 
correta, ou seja, sem informações equivocadas e estigmati-
zadas, é o primeiro passo . Quando lançamos mão dessas in-
formações, ficamos mais atentos aos comportamentos das 
pessoas ao nosso redor, passamos a considerar importante 
qualquer comportamento diferente do habitual, não consi-
deramos mais esses comportamentos como algo que “vai 
passar” nem ficamos mais deduzindo o que pode ser. Tendo 
essas informações, vamos querer aprofundar no que pode 
estar acontecendo, porque sabemos que pode ser algo gra-
ve e que essa pessoa pode estar precisando de ajuda . Outro 
passo é abordar, perguntar, querer saber o que está acon-
tecendo de maneira acolhedora,empática, dizendo para o 
adolescente que tem percebido algumas coisas e que está 
preocupado com ele, que está ali para ajudar e que podem 
pensar juntos em saídas para esse sofrimento . Validar o so-
frimento e querer saber do que se trata para tentar ajudar 
são instrumentos muito valiosos e que qualquer um pode 
utilizar!!
Feedback orientador: 
É mito achar que conversar sobre suicídio pode desenca-
dear intenções de tirar a própria vida . Diversos estudos vêm 
demonstrando a importância de conversar abertamente e o 
mais empaticamente possível com os jovens que lidam com 
a automutilação e a ideação suicida . A Organização Mundial 
da Saúde (OMS), com o objetivo de prevenir e reduzir os ín-
dices de suicídio, criou a campanha Setembro Amarelo . Essa 
campanha visa dar informações e criar ações para a preven-
ção ao suicídio . Existe um material complexo e bem elabora-
do para ajudar na conscientização e formação das pessoas 
sobre a temática . O dia Mundial de Prevenção ao Suicídio é 
o dia 10 de setembro, mas as ações ocorrem durante todo 
o ano . Para mais informações sobre as ações do Setembro 
Amarelo, acesse o site: https://www .setembroamarelo .com/ . 
https://www.setembroamarelo.com/
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Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 25
 A seguir, algumas perguntas que podem ajudar a abor-
dar o assunto . Sempre que uma resposta for positiva, faz-se uma 
nova pergunta (BOTEGA, 2023):
 
- Alguma vez você já pensou que seria melhor morrer? Já 
pensou em tirar a própria vida?
- Como são esses pensamentos?
- Esses pensamentos te assustam? Você consegue afastá-
-los?
- Quando esses pensamentos começaram?
- Você pensou em como se matar? Chegou a procurar infor-
mações sobre como fazer isso?
 - O que motivou a escolha desse método para se matar?
- Você tem acesso a esse método?
- Você chegou a pensar em um local e em uma data para se 
matar?
- Você consegue pensar em razões para continuar vivo?
 Na história de Ana, a coordenadora Letícia abordou tanto 
a automutilação como os pensamentos suicidas . Primeiramente, 
ela pediu calma à diretora Marli e solicitou que a deixassem sozi-
nha com a adolescente . Em seguida, Marli acompanhou a mãe 
de Ana, dona Arlete, até a sala ao lado, onde permaneceram du-
rante toda a conversa entre Letícia e Ana . Quando estavam so-
zinhas, com privacidade e em um ambiente favorável, Letícia e 
Ana se sentaram uma do lado da outra e conseguiram iniciar um 
diálogo respeitoso . A abordagem da coordenadora foi comple-
tamente diferente da de Marli, que havia tratado Ana como uma 
adolescente inconsequente e que precisava de um puxão de 
orelha! Ao contrário, Letícia se mostrou disponível e interessa-
da em ouvir da própria adolescente o que estava acontecendo 
com ela, não demonstrando nenhum tipo de julgamento moral 
e preconceito diante dos comportamentos da adolescente nem 
a forçando a mostrar as cicatrizes que tinha, o que possibilitou 
que Ana falasse sobre si e sobre o que estava acontecendo em 
sua vida .
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Proposição 7
Qual a diferença entre uma abordagem agressiva e uma 
abordagem acolhedora? Tem diferença? 
?
Feedback positivo: 
Ao utilizar o acolhimento e a escuta qualificada, você ajuda-
rá a proporcionar um início de intervenção sensível e que 
possibilita outras entradas de ajuda . Com isso, será possível 
a entrada de outros profissionais e de equipes multidiscipli-
nares, assim como ações com as famílias e comunidade . 
Feedback orientador: 
Há muita diferença . Estamos chamando de abordagem 
agressiva a abordagem feita de forma ríspida, que muitas 
vezes envolve toque no corpo do adolescente que está 
passando pela situação, gritos, conclusões precipitadas e 
preconceituosas (“adolescente só faz isso para chamar a 
atenção”, “suicídio é um ato de fraqueza”) e resposta sem o 
conhecimento do que está acontecendo . Geralmente, essas 
posturas acontecem na frente de outras pessoas . Quem está 
na situação de sofrimento é exposta, ficando mais vulnerá-
vel ainda . Outra forma equivocada de abordagem é a que 
tenta naturalizar e/ou minimizar o sofrimento . A pessoa que 
faz essa abordagem acha que o adolescente “é assim mes-
mo, cheio de crise e frescura”, “não quer saber de nada”, “so-
fre por qualquer motivo”, “brigou com a namoradinha e 
agora está aí sofrendo” . Isso faz com que o adolescente se 
torne mais arredio, acuado, recusando qualquer possibili-
dade de fala e ajuda . Estamos chamando de abordagem 
sensível e acolhedora aquela que quer de verdade saber 
o que está acontecendo . A pessoa interrompe o que ela 
estiver fazendo para escutar, saber do que se trata do pró-
prio adolescente, sem responder pelo outro e sem trazer 
frases prontas e preconceituosas sobre a adolescência, 
automutilação e pensamentos suicidas . Só conseguimos 
abordar de maneira acolhedora quando queremos saber 
do adolescente o que ele tem para dizer . Só assim é pos-
sível que ele se abra, sinta-se seguro para dizer o que está 
acontecendo, o que tem feito e o que tem pensado . 
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 Esse diálogo nos leva a refletir sobre algumas caracte-
rísticas que sugerem intenção suicida já em estágio avançado 
presentes em situações em que os jovens vivenciam sofrimento 
psíquico (BOTEGA, 2023):
- Comunicação prévia de que irá se matar;
- Mensagem ou carta de adeus;
- Providências finais antes do ato, isto é, organizar algumas 
coisas da vida, como doar pertences;
- Planejamento detalhado, ou seja, já pensou em como fazer 
e em quando e tomou precauções para que o ato não seja 
descoberto;
- Não ter pessoas por perto que possam socorrer;
- Não procurar ajuda logo após a tentativa de suicídio;
- Método violento ou uso de substâncias psicoativas;
- Acreditar que a forma como planejou se matar seja irreversí-
vel e letal, ou seja, que vai levar à morte;
- Afirmação clara de que quer morrer;
- Desapontamento por ter sobrevivido .
 
 
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Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 28
 Ao identificar algum desses sinais, é necessário entrar em 
contato com a família e reforçar o apoio . É importante avisar ao 
adolescente que esse contato será feito . Além disso, é importan-
te ajudar o adolescente a refletir sobre quando ocorre o desejo 
de se matar ou de se autoagredir, isto é, em que momentos ge-
ralmente esse desejo acontece, porque, ao identificar situações 
que desencadeiam esse desejo, o adolescente pode buscar 
ações para se colocar em segurança . Para tanto, sugere-se a ela-
boração de um plano de segurança . Você pode encontrar um 
modelo desse plano no material desenvolvido por Franzin, Reis 
e Neufeld (2017) .
Proposição 8
Você já tinha ouvido falar em plano de segurança? En-
tende como ele funciona? 
?
Feedback positivo: 
O plano de segurança é uma estratégia que a pessoa pode 
usar em um momento de crise, quando não consegue pen-
sar com clareza . Como dito anteriormente, a ideação suicida 
pode ocorrer de maneira planejada ou de maneira impulsi-
va, exigindo nosso cuidado antes mesmo de ela acontecer . 
Por isso, a identificação dos sinais de mudança de compor-
tamento dos jovens e as intervenções preventivas são es-
senciais para minimizar o sofrimento psíquico e diminuir as 
possibilidades de automutilação e suicídio . 
Feedback orientador: 
É preciso descobrir atividades que acalmem o adolescen-
te, pois o que funciona para um pode não funcionar para o 
outro. Por exemplo, uma pessoa pode se distrair e ficarmais 
calma ao brincar com o cachorro da família e outra pode se 
estabilizar fazendo uma atividade física, diminuindo a ativa-
ção corporal por meio de respiração calmante ou resfriando 
o rosto com o uso de gelo ou água gelada . Assim, é impor-
tante testar essas possibilidades em momentos de crises 
mais leves de forma a ver o que realmente funciona . Além 
disso, o adolescente pode recorrer ao Pode Falar ou ao CVV 
em um momento fora da crise para já saber como funcionam 
e se sentir mais tranquilo e à vontade para recorrer a eles no 
momento de crise . Uma pessoa que atende ao adolescente 
sozinha no momento da crise pode se sentir sobrecarrega-
da . Assim, é bom que o adolescente tenha mais de uma pes-
soa a quem recorrer . Isso aumenta a chance de que ele seja 
acolhido de maneira adequada . 
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 No caso de Ana, a motivação principal que levou ao di-
álogo da adolescente com a coordenadora Letícia foi a auto-
mutilação . A fala sobre os pensamentos de morte e as ideações 
suicidas vieram depois . Cabe destacar, como já falamos anterior-
mente, que a pessoa que se automutila não quer acabar com a 
própria vida, mas usar essa ação para aliviar alguma dor emo-
cional ou desconforto ou para impactar, de alguma maneira, o 
ambiente ao seu redor, seja para obter atenção e apoio nas re-
des sociais, seja para sentir-se pertencente a um grupo que tem 
a mesma prática . Contudo, no caso de Ana, há um agravamento 
contínuo dos comportamentos de risco, já que, além das auto-
mutilações, ela apresenta também pensamentos de morte e von-
tade de morrer .
 Assim, Aratangy (2017) pontua que, de forma semelhante 
ao que acontece nos casos de ideação e tentativa de suicídio, 
na automutilação, em geral, há um transtorno mental, bem como 
outros fatores de risco. Ao identificar que o adolescente está se 
cortando, o autor sugere que a pessoa comece a conversa so-
bre automutilação de forma respeitosa e sem julgamentos . Você 
pode iniciar com falas como: “Estou preocupado/a com você e 
gostaria de ajudá-lo/a”; “Estou preocupado/a com você”; “Tenho 
visto cicatrizes em seus braços e pensei se você não estaria pro-
vocando esses ferimentos”; “Se eu estiver certo/a, gostaria que 
você soubesse que pode falar sobre isso comigo”; “Se você não 
quiser falar para mim, eu espero que encontre alguém em quem 
confie para conversar” (ARATANGY, 2017, p. 39).
 As seguintes perguntas podem ser feitas:
• Machucar-se faz com que você se sinta melhor?
• Que tipo de situação ou coisas fazem você pensar em se ma-
chucar?
• Quando você começou esse comportamento? Sabe dizer 
por quê?
• Quais motivos, nessa época, fizeram você considerar a possi-
bilidade de fazer a automutilação?
• Qual a função da automutilação em sua vida atualmente?
• Em quais regiões do seu corpo você costuma se machucar?
• Que objetos você geralmente usa para fazer essas lesões?
• O que você faz para cuidar de seus ferimentos?
• Alguma vez você se machucou mais gravemente do que pla-
nejava?
• Seus ferimentos já infeccionaram?
• Você já procurou ajuda médica por causa de seus ferimen-
tos?
 
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Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 30
 A automutilação pode ser vista como uma dificuldade em 
regular emoções intensas, isto é, é a forma que o adolescente 
encontrou para lidar com a dor . Aratangy (2017) nos dá algumas 
dicas sobre como auxiliar o adolescente em um desses momen-
tos, especialmente quando ele sente o desejo de se automutilar . 
Essas dicas têm o objetivo de aplacar a crise temporariamente, 
até que os cuidados de longo prazo possam ser acionados, por-
que é preciso intervir naquilo que está na base da automutilação, 
conforme visto anteriormente nos fatores de risco para a automu-
tilação . Portanto, as ações a seguir visam tão somente amenizar 
o desejo e o impulso de se machucar enquanto uma intervenção 
mais global e especializada não é iniciada (ARATANGY, 2017, p . 
44-45):
• “Escrever na própria pele com caneta (estímulo tátil sem cau-
sar danos à pele);
• Esfregar borracha nos locais em que costuma se machucar 
(estímulo tátil sem causar danos à pele);
• Segurar uma pedra de gelo ou esfregá-la nas áreas em que 
costuma se machucar (estímulo físico e desconforto, sem 
causar danos à pele);
• Escrever, desenhar ou pintar, quando o adolescente gosta 
dessas atividades;
• Procurar alguém para conversar;
• Andar descalço sobre cascalho ou provocar outros estímulos 
que não lesem a pele;
• Cuidar de animal de estimação, cozinhar, ler, ouvir música, 
tocar instrumento;
• Praticar atividade física;
• Escrever pensamentos e sentimentos em um diário .”
 Ao serem identificados, na escola, muitos casos de ado-
lescentes que se cortam ou que têm ideação suicida, é possível 
se inspirar no projeto do Centro Educacional Gesner Teixeira, es-
cola pública na Cidade Nova DVO, no Gama, a 42 km do centro 
de Brasília, conforme noticiado na mídia . Mediante pedido de 
ajuda de uma estudante, a escola se propôs a fazer uma ação . 
A adolescente convidou para ação amigas e outras pessoas co-
nhecidas da escola que ela sabia que se cortavam ou que tinham 
ideação suicida . Foram desenvolvidas: rodas de conversas, ini-
cialmente direcionadas para os estudantes com depressão, que 
se autolesionavam e que tinham ideação suicida, e posterior-
mente ampliadas para outros temas em saúde mental, como os 
casos de bulimia, anorexia, timidez . Também envolveu os familia-
res que se dispuseram a participar . 
Saiba mais
Para saber um pouco mais sobre o projeto no 
Gama, acesse este link ou clique no ícone ao lado .
clique e
acesse
https://plenarinho.leg.br/index.php/2019/09/setembro-amarelo-escuta-e-acolhimento-mudam-rotina-de-uma-escola/
https://plenarinho.leg.br/index.php/2019/09/setembro-amarelo-escuta-e-acolhimento-mudam-rotina-de-uma-escola/ 
https://plenarinho.leg.br/index.php/2019/09/setembro-amarelo-escuta-e-acolhimento-mudam-rotina-de-uma-escola/
https://plenarinho.leg.br/index.php/2019/09/setembro-amarelo-escuta-e-acolhimento-mudam-rotina-de-uma-escola/
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 Em associação com a secretaria de saúde, a escola tam-
bém ofereceu reiki, meditação e automassagem . Além da parce-
ria com a secretaria de saúde, é possível também buscar apoio 
em diferentes instituições do seu território, como escolas, univer-
sidades, organizações não governamentais (ONGs), empresas, 
movimentos sociais, entre outras . Dessa forma, é possível que 
você identifique, no território, pessoas que podem acompanhar 
as rodas de conversas e desenvolver oficinas de teatro, dança, 
expressão corporal, entre outras .
Automutilação, ideação e tentativa de suicídio podem fazer com 
que a família leve o jovem nessa situação para serviços de saúde 
mental, embora a crise possa também acontecer na escola ou 
em outros lugares . No caso de Ana, a crise começou em casa, 
mas a mãe não percebeu . Foi na escola que a crise de Ana teve o 
ápice . Na experiência mencionada anteriormente, também foi na 
escola que a adolescente recebeu ajuda . Dessa forma, a seguir, 
serão dadas algumas dicas de o que fazer diante de um adoles-
cente em crise .
Proposição 9
Como podemos propor ações preventivas e interventivas 
em espaços ocupados pelas crianças e adolescentes?
?
Feedback positivo: 
Feedback orientador: 
É fundamental que os espaços de convívio das crianças e 
dos adolescentes estejam atentos ao comportamento deles . 
Além disso, promover ações que abordem temas como a au-
tomutilação e o suicídio pode ajudar o jovem a dizer o que 
está sentindo ou a contarque está percebendo comporta-
mento atípico em um colega . Os jovens vão perceber que 
podem falar sobre o assunto sem tabu e sem medo .
As escolas, as comunidades e os locais que lidam com as 
crianças e os jovens podem oferecer palestras e rodas de 
conversas, chamar pessoas que sabem sobre o assunto 
para abrir uma roda de perguntas e dúvidas e chamar a co-
munidade para conversar e falar sobre o tema .
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Módulo: Cuidados psicossociais nas adolescências e juventudes 32
“Pode falar!” – vamos falar sobre isso? 
 Muitos elementos do plano de segurança foram trabalha-
dos com Ana pela coordenadora Letícia: ela falou sobre o CVV, le-
vantou possibilidades de ações que a adolescente poderia fazer 
para regular as emoções decorrentes da crise e analisou com Ana 
os motivos para viver . Letícia percebeu que Ana precisava falar e 
ouviu com toda a atenção e carinho possível. Às vezes, as pesso-
as só precisam falar, só precisam ser ouvidas . Percebendo isso, a 
coordenadora pedagógica indicou para Ana o canal Pode Falar . 
Esse canal é uma iniciativa que surgiu com a proposta de oferecer 
escuta acolhedora a adolescentes e jovens que precisam falar so-
bre seus sentimentos, mas não confiam em outras pessoas para 
isso, têm medo do que vão ouvir e não querem se expor .
 Muitas vezes, o jovem não consegue reconhecer uma 
pessoa do seu círculo social em que possa confiar para com-
partilhar seu sofrimento . Em outras situações, as pessoas não 
expressam seus sentimentos por terem medo de julgamentos . 
A fala permite ao ser humano expressar suas percepções sobre 
si mesmo e/ou sobre o que está a sua volta . Os sentimentos tra-
duzem as percepções do que acontece com o corpo enquanto 
uma emoção ocorre . A palavra sentir, etimologicamente, traduz 
essa ideia de dar sentido a algo que ocorreu ou ocorre no corpo 
(SOUZA et al ., 2020) . 
 O curta animado da ALIKE: https://www .youtube .com/
watch?v=K4Foovfdb-E&t=3s, que permite várias reflexões sobre 
a educação e o trabalho, também nos possibilita refletir sobre a 
importância das emoções, as diferentes formas de se expressar 
e sobre quanto é importante estarmos atentos aos sinais que o 
corpo e a mente podem expressar quando não estamos bem . 
O canal Pode Falar, então, surge com a proposta de ouvir o que 
os adolescentes e jovens estão sentindo em razão das suas per-
cepções e permite que todos os usuários desse serviço se ex-
pressem sem medo e se sintam seguros e confiantes para desa-
bafar . Isso é possível porque o adolescente pode escolher não 
se identificar, ou seja, muitas vezes, a pessoa que realiza a escu-
ta não sabe sequer a cidade ou o estado de onde o jovem fala . 
Além disso, não há a garantia de que a mesma pessoa atenda o 
jovem caso ele ligue mais de uma vez .
 O atendimento do canal conta com um grupo de volun-
tários e está disponível 24 horas por dia por meio de chat . Caso 
o adolescente sinta a necessidade de falar mais especificamente 
sobre o seu sofrimento, ele pode ser encaminhado para um pro-
fissional especializado em saúde mental. O Pode Falar tornou-se 
um programa durante a pandemia, em 2020 . O atendimento in-
dividual funciona em regime de plantão e conta com muitos e 
importantes parceiros . As mesmas instituições realizam a super-
visão técnica de suas respectivas equipes . Existe um cronogra-
ma com todos os horários, e essa iniciativa está sendo abraçada 
por diferentes universidades públicas . É importante ressaltar que 
não é um atendimento psicológico, mas todos os atendentes 
estão preparados, pois recebem treinamentos sobre diferentes 
temas em saúde mental . Você pode saber mais sobre o projeto 
clicando no link: https://www .podefalar .org .br/ .
https://www.youtube.com/watch?v=K4Foovfdb-E&t=3s
https://www.youtube.com/watch?v=K4Foovfdb-E&t=3s
https://www.podefalar.org.br/
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O acolhimento e a escuta: 
aliados do vínculo
 Para intervir, é fundamental adotar uma postura aberta, 
empática e de interesse genuíno por aquilo que o jovem fala . No 
entanto, é comum ouvirmos as pessoas dizendo coisas do tipo: 
“No meu tempo não era assim!” ou “Na minha época não tinha 
essas frescuras não” . Esse tipo de abordagem mostra que, aos 
olhos da sociedade, a juventude é uma “geração perdida”, ro-
tulando, muitas vezes, os adolescentes de hoje como “sem ju-
ízo”, “manipuladores” e “inconsequentes” . Além disso, quando 
um adolescente aparece com uma queixa ou mostra algo grave 
que tem acontecido com ele, como Ana, que estava se cortan-
do e tendo pensamentos de morte, é muito comum as pessoas 
dizerem: “o que fazer com isso?”, “isso é manipulação”, “vamos 
internar”, “não tenho técnica ou conhecimento para saber o que 
fazer”, “isso é muito grave . . . Se essa pessoa se matar, como que 
eu fico?”
 Bom, quando estamos pensando na perspectiva dos 
profissionais que lidam com adolescentes, logo pensamos que 
eles estão capacitados para lidar com essas situações, o que in-
clui conhecer tanto os aspectos éticos e legais dos atendimentos 
como métodos para lidar com uma urgência, com uma crise . No 
entanto, muitas vezes, não é isso que acontece, por isso muitos 
profissionais, inclusive da área da saúde, encaminham crianças 
e adolescentes que estão em crise para os espaços específicos 
de atendimento em serviços especializados, considerando que 
apenas esses espaços são responsáveis por esse acolhimento e 
intervenção . Além disso, essas questões não vão surgir apenas 
em locais “especializados” ou da saúde, mas em locais e na pre-
sença de pessoas que lidam com os adolescentes em sua rotina, 
como familiares, colegas, amigos, no ambiente escolar, nas redes 
sociais, entre outros, e isso pode acontecer de formas variadas . O 
vínculo ou a relação de proximidade com a criança e com o ado-
lescente – falaremos sobre isso mais adiante – possibilitam o sur-
gimento de demandas veladas, sobre as quais eles só conversam 
se houver vínculo com o outro que escuta (GUIMARÃES, 2022) .
O atendimento de crianças, adolescentes e jovens, então, não 
deve ser visto como prioridade do médico ou psicólogo . Não 
mesmo! Todos podemos contribuir com a melhora de alguém 
que sofre, e muitas vezes temos ferramentas potentes que nem 
imaginamos . Apesar de a grande maioria dos atendimentos às 
crianças e adolescentes ser feita por psicólogos, psiquiatras e/
ou pediatras, alguns atendimentos considerados menos graves 
são realizados, por exemplo, pelas escolas, centros comunitá-
rios, ONGs e, ainda, pelos serviços da Atenção Primária, como as 
Unidades Básicas de Saúde (UBS) (ESSWEIN et al ., 2021) . 
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Proposição 10
Você sabia que a forma de acolher e de escutar quem 
está em sofrimento psíquico pode ajudar muito mais do 
que se imagina? 
?
Feedback positivo: 
Feedback orientador: 
A forma como acolhemos o sofrimento do outro e como es-
cutamos (sem julgamento) pode ajudar muito as pessoas 
com sofrimento psíquico . O fato de você se propor a ouvir 
e compreender a dor alheia pode fazer toda a diferença, e 
essa sensibilidade não se restringe apenas aos profissionais 
de saúde . Lembre-se de que alguns atendimentos consi-
derados menos graves podem ser realizados nas escolas, 
centros comunitários e ONGs ou, ainda, pelos serviços da 
Atenção Primária, como as Unidades Básicas de Saúde .
O Ministério da Saúde lançou, em 2009, a cartilha Humaniza 
SUS com o objetivo de orientar as pessoas sobre maneiras 
de cuidar utilizando tecnologias simples e acessíveis a to-
dos . Operando com o princípio da transversalidade, o Hu-
maniza

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