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Autoras: Profa. Maria Aparecida Atum Profa. Nancely Huminhick Vieira Colaborador: Prof. Alexandre Ponzetto Sistemas de Representação AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Professoras conteudistas: Maria Aparecida Atum / Nancely Huminhick Vieira Maria Aparecida Atum Atua como webdesigner e professora universitária. Desenvolve trabalhos na área gráfica e como webconsulting. Na área da informatização desde 1987, é graduada em Sistemas de Informação e especialista em Comunicação e Mídia, em que desenvolve projetos de pesquisa tendo como foco a animação dentro das novas mídias da área digital. De 1990 a 1992, desenvolveu projetos murais em Londres, na Inglaterra, e em Bari, na Itália. Nancely Huminhick Vieira Nascida em São Paulo, é doutora e mestre em Educação pela Universidade Nove de Julho (Uninove), tendo a fotografia como objeto de pesquisa em ambas as titulações. Possui graduação em Artes Plásticas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Atuou durante dois anos como professora da pós-graduação EaD em Artes pelo projeto Redefor, em parceria com a Secretaria da Educação e a Unesp. Atualmente é professora da Universidade Paulista – Unip e da Universidade Presbiteriana Mackenzie em diversas disciplinas da área fotográfica. Atuou também como fotógrafa durante vários anos nas seguintes áreas: book, cult, still e eventos. Atualmente desenvolve pesquisa com o tema Fotografia Cultural e é coordenadora da pós-graduação em Fotografia da Unip. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A886L Atum, Maria Aparecida. Sistemas de representação. / Maria Aparecida Atum, Nancely Huminhick Vieira. – São Paulo: Editora Sol, 2015. 156 p., il Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXI, n. 2-078/15, ISSN 1517-9230. 1. Linguagem visual. 2. Simbolismo. 3. Representação e semiótica. I. Vieira, Nancely Huminick. II. Título. CDU 801 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Virgínia Bilatto AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Sumário Sistemas de Representação APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 A LINGUAGEM VISUAL .................................................................................................................................. 10 2 A REPRESENTAÇÃO......................................................................................................................................... 13 3 A ABSTRAÇÃO ................................................................................................................................................... 17 3.1 Os elementos básicos: abstração pura ......................................................................................... 17 3.1.1 O ponto ....................................................................................................................................................... 18 3.1.2 A linha ......................................................................................................................................................... 19 3.1.3 A forma ....................................................................................................................................................... 22 3.1.4 A direção ..................................................................................................................................................... 23 3.1.5 O tom ........................................................................................................................................................... 25 3.1.6 A cor ............................................................................................................................................................. 28 3.1.7 A textura ..................................................................................................................................................... 31 3.1.8 A escala ou proporção .......................................................................................................................... 32 3.1.9 A dimensão ................................................................................................................................................ 35 3.1.10 O movimento ......................................................................................................................................... 37 3.2 Técnicas de comunicação visual .................................................................................................... 39 3.2.1 Equilíbrio e instabilidade ..................................................................................................................... 40 3.2.2 Simetria e assimetria ............................................................................................................................. 41 3.2.3 Regularidade e irregularidade ........................................................................................................... 41 3.2.4 Simplicidade e complexidade ............................................................................................................ 42 3.2.5 Unidade e fragmentação ..................................................................................................................... 44 3.2.6 Economia e profusão............................................................................................................................. 45 3.2.7 Minimização e exagero......................................................................................................................... 45 3.2.8 Previsibilidade e espontaneidade ..................................................................................................... 46 3.2.9 Atividade e estase ................................................................................................................................... 48 3.2.10 Sutileza e ousadia ................................................................................................................................ 48 3.2.11 Neutralidade e ênfase .........................................................................................................................50 3.2.12 Transparência e opacidade ............................................................................................................... 51 3.2.13 Estabilidade e variação ...................................................................................................................... 51 3.2.14 Exatidão e distorção ............................................................................................................................ 53 3.2.15 Planura e profundidade ..................................................................................................................... 53 3.2.16 Singularidade e justaposição........................................................................................................... 54 3.2.17 Sequencialidade e acaso ................................................................................................................... 55 3.2.18 Agudeza e difusão ............................................................................................................................... 56 3.2.19 Repetição e episodicidade ................................................................................................................ 57 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 4 O SIMBOLISMO ................................................................................................................................................. 58 4.1 Abstração total ...................................................................................................................................... 58 4.2 A escola abstrata .................................................................................................................................. 63 4.3 Níveis da expressão visual ................................................................................................................ 67 4.4 Síntese dos estados da imagem ..................................................................................................... 71 Unidade II 5 A PSICOLOGIA NA REPRESENTAÇÃO PICTÓRICA ................................................................................ 80 5.1 Verdade e estereótipo ......................................................................................................................... 81 5.2 Caricatura ............................................................................................................................................... 88 5.3 Ilusão pictórica ..................................................................................................................................... 91 6 A PRESENÇA DO IMPRINTING NA REPRESENTAÇÃO VISUAL ...................................................... 96 6.1 Conhecimento e cultura .................................................................................................................. 96 6.2 Imprinting ............................................................................................................................................... 98 6.3 Imprinting cultural .............................................................................................................................. 99 Unidade III 7 REPRESENTAÇÃO E SEMIÓTICA ...............................................................................................................106 7.1 A Teoria Semiótica .............................................................................................................................107 7.2 Ícone, índice e símbolo .....................................................................................................................109 7.3 O estudo semiótico da representação fotográfica ..............................................................111 8 A REPRESENTAÇÃO NA IMAGEM FOTOGRÁFICA ..............................................................................113 8.1 Iconografia e iconologia ..................................................................................................................113 8.2 O real, o imaginário e o objeto .....................................................................................................118 8.3 A representação de luz e trevas da fotografia .......................................................................123 7 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 APRESENTAÇÃO A disciplina Sistemas de Representação se baseia no estudo da linguagem teórica em relação às artes visuais, no estudo da representação pictórica, da semiótica, da fotografia, do signo como representação e manifestação criativa e ainda da iconografia e iconologia e da representação e recriação da realidade. Nesta disciplina, iremos introduzir aos alunos o senso crítico por meio das várias metodologias teóricas da sistematização da representação da imagem. Você terá a oportunidade de despertar a atitude reflexiva da linguagem visual em relação às artes; conhecer as bases teóricas da decodificação da imagem; refletir as possibilidades de significações das artes visuais, na mídia e no campo pedagógico e entender o novo contexto representativo da imagem pós-moderna. Espera-se que o aluno seja capaz, por meio desta disciplina, de conhecer e vivenciar os seguintes assuntos: alfabetismo visual, linguagem verbal e artes visuais, e suas relações; sistemas de representações da imagem; o estudo da semiótica pelo fundamento dos signos; a imagem como sistema de representação; a psicologia da representação pictórica; o estudo iconológico nas artes visuais; a crítica da imagem no universo fotográfico; o universo futuro da imagem técnica na pós-modernidade. Sejam bem-vindos ao complexo mundo das representações e bom estudo. INTRODUÇÃO Nas artes, uma imagem representa aquilo que o observador reconhece como significativo. Enquanto mantemos abertos nossos olhos, nosso sistema nervoso reage às informações visuais, criando percepções muito subjetivas; pois a interpretação é limitada à nossa estrutura adquirida do meio ambiente, ou seja, educacional, acadêmica e psicológica, para citar alguns exemplos. Podemos então dizer que nossa interpretação é limitada se não buscarmos meios de compreender os diversos sistemas de representação que o meio ambiente nos fornece. E como podemos aprimorar nossa visão às mensagens visuais do mundo? Como buscar a inteligência visual para que possamos nos alfabetizar visualmente? Compreender os estados das mensagens pela representação, pela abstração e pelo simbolismo nos fornece conteúdo primordial para fortalecer a estrutura da informação e buscar agir criativamente no meio e no mundo das artes, mas a sintaxe visual não é uma metodologia fixa e lógica. Além dessa base fundamental, existe ainda a importância do estudo dos signos pela semiótica, a Teoria da Iconografia e da Iconologia, os fatores psicológicos que exercem na interpretação pictórica, bem como o estudo crítico da representação fotográfica sob a perspectiva de seus significados reais e imaginários. Entender os sistemas de representação é entender a interação entre o cérebro e uma representação, e para ativar esse processo devemos adentrar na aprendizagem das linguagens visuais pelos vários sistemas de representação e buscar despertar uma atitude reflexiva da linguagem visual em relação às artes, em prol de uma sólida compreensão das possibilidades de significações das artes visuais, na mídia e no campo pedagógico. 9 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Unidade I O conceito de alfabetismo, na forma da linguagem escrita, é nossa capacidade de ler, compreender e escrever textos de formaescalonada, pois existe ainda o conceito de semianalfabetismo, tão preocupante quanto o analfabetismo, já que reflete uma deficiência no sistema educacional. Uma vez dominadas as técnicas da leitura e da escrita, o indivíduo é apto a criar soluções no dia a dia e ser expectador de sua vida. Observação Espectador é aquele que vê qualquer ato, que assiste ou testemunha algo, enquanto expectador é aquele que tem expectativa (BUARQUE DE HOLANDA, 2004). Segundo Donis A. Dondis, designer americana e autora do livro Sintaxe da Linguagem Visual, de 1973, tal premissa não é diferente na linguagem visual, pois nela há os mesmos objetivos que motivaram o desenvolvimento da comunicação escrita, ou seja, [...] construir um sistema básico para a aprendizagem, a identificação, a criação e a compreensão de mensagens visuais que sejam acessíveis a todas as pessoas, e não apenas àquelas que foram especialmente treinadas, como o projetista, o artista, o artesão e o esteta (DONDIS, 1973, p. 3). Observação Esteta é a pessoa que coloca os valores estéticos – a beleza – acima de tudo (BUARQUE DE HOLANDA, 2004). A maioria das propostas teóricas para uma interpretação visual é fundamental para o aprendizado das pessoas, para que conheçam o meio onde vivem e reajam a ele. A todo o momento recolhemos informações e, a partir do nosso sistema nervoso, criamos um processo de percepção das coisas visuais por meio da nossa estrutura interna, que independe totalmente do meio. Nossa estrutura interna dá condições de perceber as representações visuais, mas ela é limitada. Tal processo requer pouca energia, pois nossa máquina fisiológica é automática, dando a impressão de que toda a informação obtida vem de forma natural e simples, aludindo que não há necessidade de desenvolver nossos conhecimentos de ver e visualizar, e que basta aceitá-la como uma função cômoda e natural. 10 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Surge daí a percepção, que é um processo que o sistema nervoso efetua no curso de uma interação entre o cérebro e uma representação. Porém, para realmente ativar esse processo, é necessária uma aprendizagem das linguagens visuais pelos sistemas de representação, a fim de que possamos reagir criativamente no mundo. 1 A LINGUAGEM VISUAL Buscar a inteligência visual é uma tendência no comportamento humano, e a maior razão desse reforço é o desejo da experiência real do contato direto. Quando os primeiros astronautas do Apollo 11 tocaram os pés na superfície lunar, os cem milhões de telespectadores (veja a figura a seguir) teriam acreditado mais em uma reportagem escrita ou falada? “Havendo opções, a escolha é muito clara” (DONDIS, 1997, p. 7). Ainda assim, muitos acreditaram ser uma armação de eventos especiais. Figura 1 – Família parisiense assiste ao vivo os primeiros passos na Lua, em 21 de julho de 1969 Essa ocasião histórica é apenas um exemplo da preferência do homem pela informação visual. Há muitos outros: o instantâneo que acompanha a carta de um amigo querido que se acha distante, o modelo tridimensional de um novo edifício. Por que procuramos esse reforço visual? Ver é uma experiência direta, e a utilização de dados visuais para transmitir informações representa a máxima aproximação que podemos obter com relação à verdadeira natureza da realidade (DONDIS, 1997, p. 6-7). A evolução da linguagem teve início nas imagens, viraram pictogramas e chegaram ao alfabeto, em que cada passo representou uma maior eficiência na comunicação, mas “há inúmeros indícios de que está em curso uma reversão desse processo, que se volta mais uma vez para a imagem, de novo inspirado pela busca de maior eficiência” (DONDIS, 1997, p. 14). A representação visual é uma imagem que faz sentido, ou seja, um símbolo construído pela percepção, e nossa ação/criação está determinada pela nossa representação. Essa fórmula mostra 11 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO como funciona a representação, conforme visto na figura a seguir: produto do resultado da prática de uma realidade exterior percebida, pois, tendo em vista que nossa realidade é abstrata, sua essência está focada no papel da ilusão. Nas artes, portanto, uma imagem representa aquilo que o interpretador reconhece como significativo. Conhecimento Percepção Representação Ação Figura 2 – Sistema de representação Podemos afirmar ainda que a representação é uma compensação do sistema nervoso para construir a percepção. O caráter dessa percepção tem função simbólica, pois evoca não só noções estéticas como semióticas, pois o signo tem caráter duplo, isto é, da forma (que representa ou simboliza algo) e do conteúdo (que significa algo, a sintaxe da semiologia). A linguagem é simplesmente um recurso de comunicação próprio do homem, que evoluiu desde sua forma auditiva, pura e primitiva, até a capacidade de ler e escrever. A mesma evolução deve ocorrer com todas as capacidades humanas envolvidas na pré-visualização, no planejamento, no desenho e na criação de objetos visuais, da simples fabricação de ferramentas e dos ofícios até a criação de símbolos, e, finalmente, à criação de imagens (DONDIS, 1997, p. 2). O idioma inglês, por exemplo, são conjuntos lógicos, cuja aprendizagem se baseia na operação mental que procede do simples para o complexo, um processo dividido em etapas que começa por um sistema de símbolos e sons abstratos. Após aprender o alfabeto, conseguimos fazer as combinações que chamamos de palavras, que são nada mais nada menos do que os substitutos de coisas, ideias e ações. A sintaxe verbal é rudimentar e fácil de organizar. Representações são sistemas de símbolos que chamamos de linguagem. São inventados pelo homem e já foram um dia percepção de uma imagem. Os números e os idiomas são exemplos de representação. Os ideogramas japoneses são bons exemplos de linguagens de representações da forma e do conteúdo, nos kanjis pictográficos e nos ideográficos. 12 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Outro exemplo são os símbolos pictográficos egípcios, como mostra o quadro a seguir: o céu o firmamento dente canino, gosto, rir escrínio (estojo), esteira a noite a escuridão o vento, a respiração, o ar o sol as estrelas as pedras os metais estrangeiro cabeça casa porta, aberto caixa, sarcófago barca, navegação barca sagrada o gado nariz, olfato orelha, sentidos cabelo, dor, luto rosto boca tocar olho atividade do olho o fogo, o calor Figura 3 – Símbolos pictográficos egípcios A comunicação visual não se baseia em um conjunto de normas preestabelecidas, metodologias ou de um sistema de preceitos, de metodologia e de um sistema de regras sintáticas básicas. A linguagem visual, apesar de universal, é muito mais complexa que a verbal, mas não impossível de ser superada. Temos que buscar, a partir de uma gama de estudo, o alfabetismo visual, para nos tornarmos aptos a ver, interpretar e criar mensagens visuais. O primeiro e fundamental benefício está no desenvolvimento de critérios que ultrapassem a resposta natural e os gostos e preferências pessoais ou condicionados. Só os visualmente sofisticados podem elevar-se acima dos modismos e fazer juízos de valor sobre o que consideram apropriado e esteticamente agradável. [...] Alfabetismo significa participação, e transforma todos que o alcançaram em observadores menos passivos. [...] Alfabetismo visual significa uma inteligência visual (DONDIS, 1997, p. 230-231). Segundo Dondis(1997), a sintática visual não compreende uma metodologia exata, mas um conjunto de partes que definam o conjunto, [...] um corpo de dados que, como a linguagem, podem ser usados para compor e compreender mensagens em diversos níveis de utilidade, desde o puramente funcional até os mais elevados domínios da expressão artística. É um corpo de dados constituído de partes, um grupo de unidades determinadas por outras unidades, cujo significado, em conjunto, é uma função do significado das partes (DONDIS, 1997, p. 3). 13 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO A mensagem visual nos é ofertada em diferentes estados: o representacional, o abstrato e o simbólico. O estado representacional tem como base a identificação das mensagens em nosso meio e como essa experiência se manifesta artisticamente. O estado abstrato, por sua vez, centra as experiências por meio da sintática visual, ou seja, no estudo dos elementos básicos e das técnicas da imagem. Finalmente, há o estado simbólico, que são sistemas codificados inventados pelo homem. As mensagens visuais configuram a interligação desses três estados, mas é aceitável formar distinções satisfatórias entre eles, de tal maneira que possam ser avaliados conforme seu valor como estratégia em potencial para a concepção de mensagens, bem como no atributo no processo da visão. 2 A REPRESENTAÇÃO Ao redor de nossa percepção visual, observamos com precisão de detalhes um mundo que criamos, de prédios, máquinas, países, e um mundo que compartilhamos, de animais, árvores, mares. É um mundo que aprendemos a entender visualmente, seja por instinto ou por adaptação. A visão é o único elemento necessário à compreensão visual: A solução de problemas está estreitamente ligada ao modo visual. Podemos até mesmo reproduzir a informação visual que nos cerca, através da câmera, e, mais ainda, preservá-la e expandi-la com a mesma simplicidade de que somos capazes através da escrita e da leitura, e, o que é mais importante, através da impressão e da produção em série da linguagem (DONDIS, 1997, p. 86). É uma questão de sobrevivência. Sob essa perspectiva, devemos entender que a linguagem visual, e não somente a verbal, é passível de possibilidades em termos de eficácia e viabilidade. A habilidade exclusiva do homem de desenvolver mensagens visuais só virá pelo desenvolvimento de sua inteligência visual. São aprendizagens diferentes, sem uma lógica precisa, como é a linguagem verbal; mas é necessário perceber que não existe na linguagem visual um código despótico e exteriorizado, como na linguagem verbal. A complexidade que existe na linguagem visual se encontra no conceito da sintaxe responsável pela construção do conhecimento com relação às percepções humanas. Somos aptos a reconhecer uma ave, mas podemos não ir além do estágio elementar e linear da informação e generalizá-la a toda uma espécie de animal. No entanto, podemos distinguir essa ave por características particulares e observarmos que se trata de uma coruja, a partir daí ampliamos a distinção a um nível significativo, dando à ave o símbolo da sabedoria. Esse é um exemplo básico do ser visionário, que amplia seus horizontes às esferas do significado representacional. A experiência direta do ato de ver gera desenvolvimento de uma percepção evolutiva, a níveis de representação cada vez mais detalhados. Isso significa que dentro da categoria ave identifica- 14 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I se a coruja, e dentro da categoria coruja identifica-se a Coruja Suindara ou a Coruja-buraqueira, e assim sucessivamente. Nosso olho e cérebro é a câmera que registra, armazena e recorda. O mais próximo disso, realisticamente falando, é a máquina fotográfica. Mas seria a fotografia capaz de transmitir a experiência visual, tendo em vista que o ato de ver e interpretar está fortemente sujeito a uma interpretação subjetiva? [...] na experiência direta, ou em qualquer nível da escala de expressão visual, da foto ao esboço impressionista, toda experiência visual está fortemente sujeita à interpretação individual. Da resposta “Vejo um pássaro” a “Vejo o voo” e aos múltiplos níveis e graus de significado e intenção que as medeiam e ultrapassam, a mensagem está sempre aberta à modificação subjetiva. Somos todos únicos (DONDIS, 1997, p. 88). Sim, porque mesmo diante de uma fotografia podemos interpretar seus significados conforme sua própria vivência. Não justifica o mito de que o potencial perceptivo e criativo do homem seja destruído diante da imagem ilusória que a fotografia possa transmitir. Há mais poesia do que metodologia nas obras visuais, pois a aspiração da mensagem visual (e porque não dizer também de um teorema matemático) sempre fez parte do espírito humano. A imagem fotográfica captada pelo olhar do fotógrafo, e não do interpretador, também configura o resultado de uma visão subjetiva, pois ao registrar um fragmento do mundo faz deste um ato criativo e individual. Qualquer que seja o assunto registrado na fotografia, esta também documentará a visão de mundo do fotógrafo. A fotografia é, assim, um duplo testemunho: por aquilo que ela mostra da cena passada, irreversível, ali congelada fragmentariamente, e por aquilo que nos informa acerca de seu autor. Toda fotografia é um testemunho segundo um filtro cultural, ao mesmo tempo que é uma criação a partir de um visível fotográfico. Toda fotografia representa o testemunho de uma criação. Por outro lado, ela representará sempre a criação de um testemunho (KOSSOY, 1989, p. 33). O fotógrafo é um filtro cultural, pois o registro visual é consequência da sua própria atitude, ou seja, sua bagagem cultural, estado de espírito, ideologia, criatividade e sensibilidade, além do talento e intelecto, que acabam transparecendo em suas imagens. Essa condição complexa testemunha a visão de mundo do fotógrafo, e seu respectivo registro testemunha a atividade criativa do autor, o momento em que surge a manifestação artística. A fotografia de uma coruja pode ser registrada aparentemente com todos os quesitos realísticos que possam aparecer, mas uma pintura ou gravura deste pássaro pode ser abstraída do artista, recriando esse mesmo realismo. 15 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Figura 4 – Coruja-buraqueira O naturalista e desenhista John James Audubon recriou em aquarela requintada uma série de pássaros no livro Os Pássaros da América, de 1840, utilizado até hoje como referência técnica, refletindo uma realidade própria do artista: Figura 5 – Coruja Barred, aquarela de Audubon, 1840 Figura 6 – Coruja Long-eared, aquarela de Audubon, 1840 [...] o artista tinha por objetivo fazer com que o pássaro (ou qualquer outra coisa que estivesse sendo visualmente registrada) se assemelhasse ao máximo a seu modelo natural. Audubon não estava apenas criando uma imagem, mas também registrando e oferecendo, aos alunos, dados que pudessem ser identificados com segurança, ou seja, ele colocava no papel informações visuais que pudessem ter o valor de referências (DONDIS, 1997, p. 90). O processo de abstração de Audubon, ou de qualquer outro artista, é a capacidade de manipular e controlar a realidade, enfatizando peculiaridades que a fotografia, mesmo como fonte de registro realístico, não poderia jamais contribuir. 16 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Porém, nem sempre a finalidade do artista éenfatizar uma realidade, mas o movimento de um pássaro (veja a figura a seguir), por exemplo, em que podem ser ignorados pormenores estáticos e finalização intransigente. O formato final segue a regra da necessidade da mensagem visual, mas, nos dois exemplos, de Audubon e do esboço, é possível reconhecer os traços naturais de uma ave. Figura 7 – Movimento de um pássaro John James Audubon, naturalista e ilustrador científico nascido em Santo Domingo, atual Haiti, de origem francesa, teve dificuldades de encontrar editores nos Estados Unidos para sua obra-prima The Birds of America. Com dificuldades financeiras, viajou para Londres, encontrando editores interessados pela publicação das 300 gravuras. Alcançou sucesso quase imediato. George IV, rei da Inglaterra, e Charles X, rei da França, assinaram o livro de Audubon, admirados pela beleza artística e pelo fascínio misterioso do continente americano. A obra-prima, dividida em fascículos vendidos por assinatura, tinha formato impactante. Audubon recorreu a folhas que pudessem ter o tamanho real dos pássaros, formatos denominados double elephant de 66 por 96,5 cm. Em busca de maior expressão artística, caçava as aves e as montava em poses realistas com a ajuda de arames. Figura 8 – Gavião brasileiro Caracará, aquarela de Audubon, 1840 17 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO The Birds of America é atualmente um dos livros mais valiosos do mundo. Raro, estima-se que, dos 200 exemplares completos, sobraram apenas 120 cópias, sendo que 107 foram adquiridos por museus e 13 por colecionadores particulares. Seis espécies das aves desenhadas são já extintas. A coleção completa da primeira edição do livro, publicada entre 1827 e 1838, foi leiloada em 2010 pela casa de leilões Sotheby’s pelo valor recorde de 11,5 milhões de dólares, ultrapassando o segundo livro mais valioso, o First Folio, a primeira coleção das peças teatrais de William Shakespeare, de 1623, arrematado por 1,54 milhões de dólares. Em homenagem a John James Audubon, Carl Barks, o desenhista da Disney criador do personagem Tio Patinhas, dedicou seu nome à baía da fictícia cidade de Patópolis, a Baía de Audubon! Saiba mais Na página eletrônica do jornal londrino The Guardian, publicada em 7 de dezembro de 2010, é possível conferir fotos em escala humana, permitindo visualizar o tamanho da obra de Audubon. WORLD’S most expensive book sells for £7.3m. The Guardian, Londres, 2010. Disponível em: <http://www.theguardian.com/books/2010/dec/07/ world-most-expensive-book-sold>. Acesso em: 7 abr. 2014. 3 A ABSTRAÇÃO Vimos que, dentro da vasta gama de conhecimentos, a sintaxe visual pode ser estudada de diversas maneiras, por meio de técnicas, da psicologia, da natureza e até da compreensão do funcionamento fisiológico do nosso organismo. Por isso o alfabetismo visual é tão complexo, não é lógico como a linguagem verbal. O processo pelo qual reduzimos as linhas e traços mais fundamentais e típicos da representação denomina-se abstração, podendo esta ser pura ou total. A abstração pura significa reduzirmos os elementos básicos, o que confere subtrair da mensagem visual a experiência representacional adquirida do meio. Por sua vez, a abstração total é direcionada para o simbolismo, seja ele decifrável ou atribuído a ele uma significação aplicada. 3.1 Os elementos básicos: abstração pura Vamos demonstrar as diretrizes iniciais na busca da inteligência visual por meio da análise dos componentes individuais do processo visual em sua forma mais simples: o ponto, a linha, a forma, a direção, a cor, o tom, a textura, a proporção, a dimensão e o movimento. 18 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Os elementos básicos do processo visual são a caixa de ferramentas da mensagem visual. É a partir deles que se obtém a matéria-prima, e saber identificá-los, decompondo-os para compreender o todo, e medir a ênfase de sua utilização é essencial na busca da compreensão dos sistemas de representação. 3.1.1 O ponto “O ponto é a unidade de comunicação visual mais simples e irredutivelmente mínima” (DONDIS, 1997, p. 3). Seu objetivo é indicar e marcar o espaço, e encontra na natureza a explicação de seu caráter essencial, pois nela qualquer substância líquida no contato da superfície assume um desenho arredondado, mesmo que não seja um ponto perfeito. Em contrapartida, é raro na natureza as formas de ângulos retos, como o quadrado, bem como a linha reta. O ponto é utilizado como referência do espaço, pois causa naturalmente uma atração visual: Figura 9 Nota-se a importância de dois pontos como referências de medição, seja com a régua ou com o compasso (figura 10), e quanto maior o número de pontos mais podemos prever a complexidade dentro de qualquer desenho ou projeto (figuras 11 e 12). Figura 10 Figura 11 Figura 12 Quando postos em uma sequência, os pontos criam um caminho capaz de conduzir a atenção (figura 13) e, “Em grande número e justapostos, os pontos criam a ilusão de tom ou de cor, [...] fenômeno perceptivo da fusão visual [...] explorado por Seurat” (DONDIS, 1997, p. 54), como visto nas figuras 14 e 15. Figura 13 Figura 14 Figura 15 19 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Quanto maior a proximidade dos pontos, maior será a atração visual que esse elemento exerce fisiologicamente e psicologicamente sobre o ser humano: Figura 16 Temos conhecimento do pontilhismo, neoimpressionismo ou divionismo, graças a dois pintores que participaram da última exposição impressionista em 1886: Georges Seurat e Paul Signac. Podemos dizer que esses artistas aprofundaram as pesquisas em relação à percepção óptica. Utilizando apenas cores primárias, eles conseguiram fazer com que, através de pontos, a imagem fosse captada de uma maneira total. É possível termos uma ideia de como isso acontece no quadro de Seurat Tarde de Domingo na Ilha de Grande Jatte com pinceladas reduzidas a pontos (no todo dá ao observador uma visão geral da cena); no entanto, ao olharmos a uma certa distância, nem percebemos que são pequenos pontos uniformes (BUENO, 2008, p. 27). Figura 17 – Uma Tarde de Domingo na Ilha de La Grande Jatte (1884-86), óleo sobre tela de George Seurat, exposto no Instituto de Arte de Chicago 3.1.2 A linha Já falamos que os pontos dispostos em uma sequência criam um caminho capaz de conduzir a atenção. Quanto maior o número de pontos, maior o poder de direção, transformando-se em outro 20 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I elemento distinto (figura 18). A linha convoca a fluidez do elemento forma. Isso quer dizer que a linha ou os pontos contínuos dão movimento à história iniciada pelo ponto primário, em busca da trajetória de uma imagem (figura 19). Figura 18 Figura 19 Essa fluidez é a energia que emana da linha, pois nunca é estática. Ela foge do imaginário e representa a primeira forma palpável de visualização de um projeto, definindo por meio da direção do seu propósito. Apesar de sua natureza livre, também configura técnica na diagramação, em projetos arquitetônicos e na configuração de trabalhos em grande escala que necessitem de precisão métrica. A linha é flexível (figura 20), rígida (figura 21) – em suma, definitiva. Figura 20 Figura 21 A linha é também um instrumento nos sistemas de notação, como, por exemplo, a escrita. A escrita, a criação de mapas, os símbolos elétricos e amúsica são exemplos de sistemas simbólicos nos quais a linha é o elemento mais importante. Na arte, porém, a linha é o elemento essencial do desenho, um sistema de notação que, simbolicamente, não representa outra coisa, mas captura a informação visual e a reduz a um estado em que toda informação visual supérflua é eliminada, e apenas o essencial permanece. Essa sobriedade tem um efeito extraordinário em desenhos ou pontas-secas, xilogravuras, águas- fortes e litografias (DONDIS, 1997, p. 56). 21 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Na arquitetura, a linha é o elemento fundamental para compor a expressão (figura 22). Figura 22 Quando falamos em xilogravura – ou gravuras em madeira –, nos referimos a um trabalho de artes plásticas, no qual o desenho não é feito diretamente sobre o papel, mas sim gravado em uma prancha, denominada “matriz”. Com facas, goivas e formões, o artista grava sua imagem rebaixando as áreas que devem receber a tinta. Uma vez terminado o trabalho de gravação, a tinta é aplicada com um rolinho de borracha e adere somente às partes elevadas da matriz, daí o porquê de a gravura em madeira ser também chamada de “gravura em relevo” (TAVARES, 2006, p. 186). Figura 23 – Xilogravura de Carybé, ilustração do livro Teresa Batista Cansada de Guerra, de Jorge Amado, 1972 22 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Exemplo de aplicação É muito raro encontrar o elemento linha na natureza, mas é possível encontrá-lo no meio ambiente. Faça uma saída fotográfica com seus colegas à procura dessas imagens e depois realize uma análise dessas fotos como uma representação de sua percepção. 3.1.3 A forma São três as formas básicas que constituem os elementos visuais: o quadrado, o círculo e o triângulo equilátero (veja a figura a seguir). Cada uma das formas básicas tem suas características específicas, e a cada uma se atribui uma grande quantidade de significados, alguns por associação, outros por vinculação arbitrária, e outros, ainda, através de nossas próprias percepções psicológicas e fisiológicas (DONDIS, 1997, p. 58). Figura 24 Construídas a partir da complexidade da linha, as formas surgem infinitas de variações e significados, tendo em vista a percepção psicológica e fisiológica de cada um. A simplicidade dos ângulos retos, da equidistância dos raios e formas equilaterais (figuras 25, 26 e 27) perpetram nas formas básicas a gênese de todas as combinações físicas da natureza e da criatividade infinita humana (figura 28). Simples, planas e fundamentais. 90º 90º 90º 90º Comprimentos iguais Figura 25 23 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Todos os raios com o mesmo comprimento Ponto central Curva contínua Figura 26 Todos os lados com o mesmo comprimento 60º 60º 60º Figura 27 Figura 28 3.1.4 A direção A direção refere-se no movimento natural das formas básicas, isto é, o quadrado toma a direção horizontal e vertical (figura 29), o triângulo toma a direção diagonal (figura 30) e o círculo toma a direção curvilínea (figura 31). A expressão direcional reflete o caráter das formas básicas. 24 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Figura 29 Figura 30 Figura 31 As direções tomadas pelas formas básicas inserem um caráter associativo à mensagem visual, criando a referência necessária para transmiti-la. A direção horizontal-vertical, como visto na figura a seguir, traduz a primariedade do homem, de sensação de bem-estar e da maneabilidade inata com o meio ambiente, referências de equilíbrio no mote visual. Figura 32 Já a direção da forma básica que toma o sentido diagonal traz a sensação de instabilidade, inferindo um caráter de perturbação e provocação à mensagem visual. Veja: Figura 33 Finalmente, as direções curvilíneas tomadas pela forma básica, conforme visto na figura a seguir, “[...] têm significados associados à abrangência, à repetição e à calidez. Todas as forças direcionais são 25 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO de grande importância para a intenção compositiva voltada para um efeito e um significado definidos” (DONDIS, 1997, p. 60). Figura 34 3.1.5 O tom O elemento básico tom tem como principal característica a presença ou a ausência de luz das coisas as quais enxergamos. Vemos graças à presença ou à ausência relativa de luz, mas a luz não se irradia com uniformidade no meio ambiente, seja ela emitida pelo Sol, pela Lua ou por alguma fonte artificial. Se assim fosse, nos encontraríamos numa obscuridade tão absoluta quanto a que se manifesta na ausência completa de luz. [...] As variações de luz ou de tom são os meios pelos quais distinguimos eticamente a complexidade da informação visual do ambiente. Em outras palavras, vemos o que é escuro porque está próximo ou se superpõe ao claro, e vice-versa (DONDIS, 1997, p. 61). Isso pode ser visto nas figuras a seguir: Figura 35 Figura 36 A graduação da luz desde a sua obscuridade total à claridade completa é algo difícil de reproduzir no meio artístico, seja nas artes gráficas e plásticas, na fotografia ou no cinema. Essa simulação (pois a verdadeira graduação de tons só é possível na natureza) só pode ser alcançada a partir de pigmentos ou outras composições químicas, e mesmo assim nunca será capaz de reproduzir as centenas de gradações tonais naturais, pois entre o branco e o preto se limitou a prática para o uso comum de apenas treze tons. Isso pode ser visto na figura a seguir: 26 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Figura 37 Diante de tanta limitação, criou-se a manipulação dos tons a partir de sua justaposição tonal, tentando, com isso, competir com a farta tonalidade que oferece a natureza. A justaposição se baseia em inserir um tom sobre o outro, modificando drasticamente a representação tonal. Veja: Figura 38 O tom serve para indicar a dimensionalidade do mundo. Pela perspectiva bidimensional é possível representar de modo tridimensional nosso projeto visual (veja a figura a seguir). “[...] no entanto, mesmo com a ajuda da perspectiva, a linha não criará, por si só, uma ilusão convincente da realidade; para tanto, precisa recorrer ao tom” (DONDIS, 1997, p. 62). Ponto de fuga Ponto de fugaLinha do horizonte Figura 39 Acrescentar a gradação tonal na forma garante uma percepção real a partir da sensação irreal de luminosidade e de sombras (figura 40). O efeito tonal é mais expressivo ainda na forma básica do círculo, pois, sem ele, a expressão dimensional seria absolutamente nula (figura 41). Figura 40 27 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Figura 41 Ao contrário do que se possa imaginar, a claridade e a obscuridade são tão essenciais à nossa percepção de ambiente que, por esse motivo, acolhemos a ficção monocromática nas artes, principalmente por meio da fotografia. Apenas aceitamos essa representação não real porque a tonalidade exerce a força vital do nosso poder fisiológico de enxergar, além do predomínio das gradações tonais na natureza aos quais estamosacostumados (figuras 42 e 43), porque “[...] somos inconscientemente sensíveis aos valores monótonos e monocromáticos de nosso meio ambiente” (DONDIS, 1997, p. 63), o que torna essa sensibilidade fundamental para nossa sobrevivência. Dentre os elementos fundamentais necessários no convívio do homem com o meio ambiente, o tom só perde para o elemento de direção vertical-horizontal. Figura 42 Figura 43 28 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I 3.1.6 A cor Vimos que as representações monocromáticas são substitutas do nosso universo cromático. Enquanto esse elemento tem referência na sobrevivência do homem, o elemento cor tem na emoção. Podemos imaginar a cereja do bolo como algo estético e saboroso, mas a cor está de fato ligada à criação da percepção da mensagem. Transmitir uma informação que de fato crie uma representação, um significado, faz deste elemento o mais expressivo e emocional de todos. A cor é capaz de designar símbolos, como o vermelho, que [...] significa perigo, amor, calor e vida, e talvez mais uma centena de coisas. Cada uma das cores também tem inúmeros significados associativos e simbólicos. [...] A cor, tanto da luz quanto do pigmento, tem um comportamento único, mas nosso conhecimento da cor na comunicação visual vai muito pouco além da coleta de observações de nossas reações a ela (DONDIS, 1997, p. 64). Matiz Existem várias teorias das cores, mas podemos definir e medir a cor por meio de três dimensões distintas. As mais de cem cores existentes são chamadas matizes, sendo as cores amarelo, vermelho e azul chamadas matizes primários ou elementares. O amarelo representa a luz e o calor; o vermelho, a emoção; e o azul, o suave. O amarelo e o vermelho tendem a expandir-se; o azul, a contrair-se. Quando são associadas através de misturas, novos significados são obtidos. O vermelho, um matiz provocador, é abrandado ao misturar-se com o azul, e intensificado ao misturar-se com o amarelo. As mesmas mudanças de efeito são obtidas com o amarelo, que se suaviza ao se misturar com o azul (DONDIS, 1997, p. 65). O círculo cromático é a maneira mais simplificada de entender essa estrutura complexa dos matizes. Veja: Figura 44 29 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Leonardo da Vinci dispôs as sombras em forma circular para medir os graus correspondentes a sua área em relação ao ciclo completo da sombra. Tempos depois, Isaac Newton percebeu que o círculo calculado por da Vinci também poderia ser usado para medir o percentual de cada cor em relação à luz solar – o espectro. A disposição das cores em forma circular executada por Newton, de acordo com os percentuais de cada uma na composição da luz branca, é o todo, a unidade referencial, e as sete cores espectrais (matizes), as partes. Mas o fato decisivo para a criação do sistema de medidas de cores foi descoberta por Newton, do comprimento de onda que caracteriza cada matiz, representado em grandeza matemática por milimícrons (mµ) (PEDROSA, 2009, p. 90). Veja: Figura 45 – Desenho original do círculo cromático de Isaac Newton, de 1704 Depois da disposição circular das cores feita por Newton, impressa em preto e branco em sua Óptica, Moses Harris usaria a mesma ideia para criar um círculo cromático impresso em vermelho, amarelo e azul, com 18 cores produzidas pela mistura das três, conforme visto na figura a seguir. “O livro de Harris, The Natural System of Colours (1766), que trazia o círculo cromático, é considerado uma das maiores raridades bibliográficas” (PEDROSA, 2009, p. 90). 30 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Figura 46 – Desenho original do círculo cromático de Moses, 1766 Saturação A relação de pureza do matiz mede-se por meio de seu grau de saturação. Quanto menor o grau de saturação, mais próxima do cinza é a cor; em contrapartida, quanto maior seu grau de saturação, maior será o apelo expressivo e emocional da mensagem visual. Tudo depende da intenção do que se pretende alcançar. Aumentar ou diminuir a saturação dos matizes na televisão, por exemplo, altera somente as cores, enquanto as tonalidades permanecem inalteradas, “[...] provando que a cor e o tom coexistem na percepção, sem se modificarem entre si” (DONDIS, 1997, p. 66). Brilho Finalmente, definir o grau entre o claro e o escuro por meio do brilho é a terceira categoria da dimensão da cor, considerada uma técnica acromática, já que não depende nem altera o matiz, somente as gradações tonais. A cor infere significados simbólicos conscientes, como a cor de uma escuderia automobilística, ou não conscientes, quando damos preferência por cores específicas nas roupas, nos ambientes ou nas obras visuais. Mesmo inconscientemente, revelamos muito quando optamos por determinadas cores. Em sua clássica trilogia A Liberdade É Azul, A Igualdade É Branca e A Fraternidade É Vermelha, o cineasta polonês Krzystof Kieslowski atribui 31 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO um papel importantíssimo às cores para acentuar e reforçar momentos cruciais. Elas não são impostas em primeiro plano, mas se entrelaçam naturalmente no imaginário (BERGSTRÖM, 2009, p. 201). As cores aludem também uma homenagem à bandeira francesa e ao lema da Revolução Francesa: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. A Trilogia das Cores foi a última obra de Kieslowski, que morreu em 1996. Figura 47 – As cores criam uma atmosfera tanto nos cartazes da Trilogia das Cores (1993-1994), de Krzystof Kieslowski, quanto nos próprios filmes 3.1.7 A textura Muitas vezes, o elemento visual textura é empregado como substituto do tato, mas nem sempre ele apresenta qualidade tátil, e sim ótica, como o desenho de um tecido, por exemplo. A visão percebe a textura ótica – que é irreal –, e o tato, tanto a real quanto a irreal. Quando olhamos uma textura que parece áspera, a sensação de aspereza somente será confirmada pelo tato. Quando tocamos a foto de um veludo sedoso não temos a experiência tátil convincente que nos prometem as pistas visuais. O significado se baseia naquilo que vemos. Essa falsificação é um importante fator para a sobrevivência na natureza; animais, pássaros, répteis, insetos e peixes assumem a coloração e a textura de seu meio ambiente como proteção contra os predadores. Na guerra, o homem copia esse método de camuflagem, numa resposta às mesmas necessidades de sobrevivência que o inspiram na natureza (DONDIS, 1997, p. 72). Na execução de um filme de computação gráfica, as luzes e texturas são introduzidas numa fase chamada “renderização”, mediante a qual o programa reúne toda a informação prévia para formar a imagem final. É uma tarefa que, no caso de grandes produções em 3D, pode levar várias horas de processamento para finalizar apenas uma imagem (LÁZARO; AZCÁRATE, 2010, p.19). 32 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I A seguir, a imagem do filme de animação Up nos fornece exemplos de texturas (sobrancelhas, cabelos, metal, pele): uma das fases mais complexas da produção. Figura 48 – Filme de animação Up, da Pixar, 2009 3.1.8 A escala ou proporção Todos os elementos visuais apresentados até aqui sofrem modificações visuais por si próprios ou em dependência dos demais elementos. Podemos aumentar o brilho de uma cor, e consequentemente os valorestonais passarão por modificações. Este processo é o que chamamos de escala ou proporção. Os resultados resultantes da escala são relativos, pois dependem de n fatores modificantes. Ao observarmos o quadrado interno da figura 49, ele parece grande tendo em vista o tamanho do campo ao redor, enquanto o quadrado interno da figura 50 parece pequeno em relação ao campo. Podemos afirmar essa observação no contexto da escala, porém é completamente falsa no contexto da medida, pois o pequeno quadrado à esquerda é menor que o pequeno quadrado da figura ao seu lado. Figura 49 Figura 50 33 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Com certeza já notamos a utilização da escala em projetos e mapas, representando proporções, como, por exemplo, 1 cm:100 km, para que possamos visualizar a representação de uma distância muito grande. Esse exemplo quer dizer que cada 1 cm do desenho equivale a 100 km no mundo real. Enfim, poderíamos afirmar ainda que a medida é de suma importância para a escala, mas isso é uma inverdade, pois o que é realmente importante é o que está ao lado do objeto a ser analisado, ou seja, a referência que damos a ele para visualizarmos sua verdadeira representação. O que damos ao objeto é a escala, e a mais utilizada é a fórmula matemática chamada seção áurea grega. No estabelecimento da escala, o fator fundamental é a medida do próprio homem. Nas questões de design que envolvem conforto e adequação, tudo o que se fabrica está associado ao tamanho médio das proporções humanas. Existe uma proporção ideal, um nível médio, e todas as infinitas variações que nos fazem portadores de uma natureza única. A produção em série é certamente regida pelas proporções do homem médio, e todos os objetos grandes, como carros e banheiras, são a elas adaptados (DONDIS, 1997, p. 73). A seção áurea ou divina proporção, descoberta pelos gregos na metade do século V a.C., não é só a mais utilizada como também a escala que mais vincula harmonia na percepção humana, cuja proporção é 1:1,618 (número irracional conhecido por Phi). Para alcançar a seção áurea, basta dividir ao meio um quadrado e usar a medida da diagonal de sua metade como raio de uma terceira metade (figura 51), ampliando suas dimensões e convertendo-o em um retângulo (figura 52). Nas figuras 53 e 54 podemos observar a seção áurea utilizada na criação das ânforas clássicas gregas. a b c Figura 51 Figura 52 34 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Figura 53 Figura 54 A seção áurea está documentada por toda a história do conhecimento humano e pode ser observada no monumento inglês de Stonehenge (figura 55), nas pirâmides do Egito (figura 56), no Partenon de Atenas, na escultura clássica grega, na Catedral de Notre Dame de Paris (figura 57) e na obra dos pintores e escultores da Renascença, tendo sido o cânon escolhido pelo arquiteto francês Le Corbusier para estabelecer o modulor, que a arquitetura contemporânea aplica como um sistema de medidas proporcionais. Podemos encontrar essa proporção também na composição musical. [...] Pesquisas registram a significativa preferência (35% das pessoas) pelo retângulo de proporção 5:8 (que equivale a 1:1618, a seção áurea), em comparação com outros nove formatos de retângulos com proporções diferentes. As duas preferências que se seguem, estimadas em 20,6 e 20%, são pelos formatos que mais se aproximam da seção áurea (FONSECA, 2008, p. 210). 35 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Figura 55 – Ruínas de Stonehenge, 3.100 a.C. Figura 56 – As pirâmides de Gizé, Egito, 2.600 a.C. Figura 57 – Catedral de Notre-Dame, 1345 3.1.9 A dimensão A ilusão simula a escala, assim como simula também a representação da dimensão, porém nesta podemos também ver além de sentir, mesmo que não seja real. Numa fotografia ou pintura, por exemplo, apesar de ser uma representação irreal, percebemos sua dimensão, mas a ilusão é simulada pela técnica da perspectiva. A perspectiva é uma fórmula exata, porém pode ser intensificada por outros elementos básicos, principalmente pela graduação tonal por meio da manipulação do claro/escuro, criando efeitos de sombra e luz. Vamos fazer uma demonstração simples do conceito de perspectiva. Na figura a seguir vemos os planos de dois cubos por uma perspectiva pouco interessante, onde reconhecemos apenas uma face de cada cubo, pois a perspectiva tem apenas um ponto de fuga, ou seja, um plano de visão. 36 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Nível do olho Horizonte Ponto de fuga Figura 58 Para expressarmos a perspectiva de três faces dos cubos, temos que usar dois pontos de fuga, conforme visto na figura a seguir, contexto possível à perspectiva, pois só assim há a interseção das duas retas paralelas provenientes da linha do horizonte. Trata-se aqui de um exemplo simples, porque duas são o mínimo de retas possíveis na perspectiva. Nível do olho Ponto de fugaPonto de fuga Figura 59 É essa enorme complexidade de visualização dimensional que exige do criador uma imensa capacidade de apreensão do conjunto. Para a boa compreensão de um problema, a concepção e o planejamento de um material visual tridimensional exige sucessivas etapas, ao longo das quais se possa refletir e encontrar as soluções possíveis. Primeiro vem o esboço, geralmente em perspectiva. [...] Depois vêm os desenhos de produção, rígidos e mecânicos. [...] Por último, apesar dos altos custos que acarreta, a elaboração de uma maquete [figura 60] talvez seja a única forma de fazer 37 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO com que as pessoas de pouca sensibilidade para a visualização possam ver como uma determinada coisa vai ficar em sua forma definitiva (DONDIS, 1997, p. 78). Figura 60 – Maquete Edifício H. Stern, São Paulo, de Siegfrido Ruiz, 1987 O artista deve buscar soluções para os problemas trazidos pela dimensão, pois tendemos a ignorá- los, tendo em vista sermos seres dimensionais. 3.1.10 O movimento Assim como a dimensão, o movimento é um elemento visual subentendido na mensagem visual; contudo, o movimento talvez seja uma das forças visuais mais dominantes da experiência humana. O movimento que vemos no cinema, porém, é muito mais fácil de sugerir do que o movimento numa expressão visual estática, pois depende apenas de iludir a retina do espectador a partir de uma sequência de fotogramas que se deslocam com velocidade, fenômeno denominado persistência retiniana. A verdadeira forma de movimento, e é essa que queremos conceituar aqui, é aquela cuja imagem fixa esteja tão impregnada de movimento que subentendemos a intenção do artista. Por meio de nossa fisiologia natural, estamos sempre à procura de estímulos visuais. Absorvemos com frequência a informação linear da comunicação escrita (figura 61), mas nossa visão, ao contemplar uma informação, não é linear. É possível fazer essa medição projetando-se uma luz no olho e registrando-se, sobre um filme, o reflexo na pupila à medida que o olho contempla alguma coisa. O olho também se move em resposta 38 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I ao processo inconsciente de medição e equilíbrio através do “eixosentido” e das preferências esquerda- direita e alto-baixo (DONDIS, 1997, p. 81). Veja as figuras 62 e 63: Figura 61 Figura 62 Figura 63 Isso comprova a dinâmica complexa da visão. A desenhista Valentine Lecomte retratou os movimentos da bailarina norte-americana Isadora Duncan explorando a lei da gravidade (especialmente com a implantação de um único pé torto – veja a figura a seguir), a tração e oposição entre seu torso superior e inferior, bem como suas configurações fora do eixo (DALY, 2002). Isadora Duncan foi pioneira na dança moderna, revolucionando e polemizando as técnicas do balé clássico. Tinha nos movimentos da natureza sua inspiração de dança, como o vento e as árvores. Duncan morreu drasticamente em 1927, quando sua echarpe enroscou-se na roda do carro conversível que dirigia, estrangulando-a. Figura 64 39 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO O conhecimento dos elementos básicos que vimos até aqui darão a base necessária para o desenvolvimento da percepção visual. Basta haver a capacidade de ver que qualquer um poderá empregar os elementos básicos, seja ele o ponto, a linha, a forma, a direção, o tom, a cor, a textura, a escala, a dimensão ou o movimento, e apreender e expressar com facilidade e naturalidade as representações visuais. Compreender os componentes visuais básicos é um método perspicaz para explorar a potencialidade de uma expressão artística. A dimensão na arquitetura, a perspectiva nas obras visuais bidimensionais, a dimensão em um filme, parado ou em movimento, a predominância da linha na pré-visualização. Está nas mãos do artista escolher, enfatizar e manipular os elementos básicos, de acordo com a complexidade de sua obra. 3.2 Técnicas de comunicação visual Conhecer as técnicas de comunicação visual tem o objetivo de dosar a utilização dos elementos básicos, para medir a ênfase na utilização desses elementos “[...] numa resposta direta ao caráter do que está sendo concebido e ao objetivo da mensagem” (DONDIS, 1997, p. 23). Apresentamos a seguir as mais empregadas, descritas antagonicamente: Quadro 1 Contraste Harmonia Instabilidade Equilíbrio Irregularidade Regularidade Assimetria Simetria Complexidade Simplicidade Fragmentação Unidade Profusão Economia Exagero Minimização Espontaneidade Previsibilidade Atividade Estase Ousadia Sutileza Ênfase Neutralidade Transparência Opacidade Variação Estabilidade Distorção Exatidão Profundidade Planura Justaposição Singularidade Acaso Sequencialidade Agudeza Difusão Episodicidade Repetição Fonte: Dondis (1997). 40 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Enquanto os elementos visuais emprestam a naturalidade da expressão, é por meio da energia das técnicas que este projeto adquirirá forma, criando um elo de conexão entre a intenção e o resultado. Não existe uma regra de que as técnicas devam ser usadas somente em seus extremos – não que isso não possa existir, apesar de perigoso –, mas é completamente plausível em um projeto visual, por exemplo, utilizar um grau intermediário entre a assimetria e a simetria ou entre a distorção e a exatidão. Dentro das variantes de gradação, entre um extremo e outro das técnicas visuais, habita uma vastíssima gama de possibilidades para o artista compreender e se expressar, porém esse caminho deve ser claro quanto aos seus propósitos. 3.2.1 Equilíbrio e instabilidade Não temos dúvida da importância do equilíbrio na comunicação visual, mas o equilíbrio parte de uma necessidade do ser humano. Basta pensar que seu extremo é a instabilidade. Enquanto o equilíbrio é um ponto de suspensão entre dois objetos, causando um bem-estar visual, a instabilidade, por sua vez, provoca e incomoda. Figura 65 – Equilíbrio Figura 66 Figura 67 – Instabilidade Figura 68 41 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO 3.2.2 Simetria e assimetria O equilíbrio pode ser alcançado de dois modos: pela simetria ou pela assimetria. O equilíbrio simétrico qualifica o eixo central, onde um objeto se repete absolutamente igual dos dois lados. É uma concepção visual absoluta, mas que aborrece por sua característica estática. Por outro lado, o equilíbrio assimétrico tem como característica a variação de elementos que pode ser difícil de ser alcançado, pois são forças que se expelem e se atraem. Porém, quando é alcançado seu objetivo, sua mensagem visual é extremamente criativa. Figura 69 – Simetria Figura 70 Figura 71 – Assimetria Figura 72 3.2.3 Regularidade e irregularidade A regularidade busca uniformizar os elementos da mensagem visual, e “[...] o desenvolvimento de uma ordem baseada em algum princípio ou método constante e invariável” (DONDIS, 1997, p. 143). Já a mensagem que traz a irregularidade como técnica visual é imprevista e incomum, sem se convencionar a um plano a ser revelado. 42 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Figura 73 – Regularidade Figura 74 – Capa do disco Os Incríveis, de Teobaldo, 1970 Figura 75 – Irregularidade Figura 76 – Irregularidade 3.2.4 Simplicidade e complexidade Diferente da técnica da regularidade, a ordem baseada na técnica da simplicidade é elementar e imediata, sem preparações acessórias. Sua técnica oposta, a complexidade, tende a compreender várias forças elementares, o que dificulta sua compreensão. 43 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Figura 77 – Simplicidade Figura 78 Figura 79 – Complexidade Figura 80 – Capa de PanAmérica, de Antonio Dias, 1967 44 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I 3.2.5 Unidade e fragmentação É muito similar estrategicamente da técnica simplicidade-complexidade. A diferença é que a unidade combina vários elementos que recriam equilíbrio suficiente, causando a sensação de ser harmoniosamente um só. A fragmentação, a técnica extrema, decompõe os elementos sem perder a relação entre si, conservando seu estilo individual. Figura 81 – Unidade Figura 82 Figura 83 – Fragmentação Figura 84 – Cartaz da 9ª Bienal de São Paulo, de Goebel Weyne, 1967 45 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO 3.2.6 Economia e profusão A economia, como o próprio nome diz, é a presença mínima de elementos na mensagem. Porém, essa atribuição poupada de unidades é sensata, pura, fundamental e conservadora. A profusão, por sua vez, é uma técnica de abundância visual por meio da ornamentação, ao qual associa poder e opulência. Figura 85 – Economia Figura 86 Figura 87 – Profusão Figura 88 3.2.7 Minimização e exagero “A minimização e o exagero são os equivalentes intelectuais da polaridade economia-profusão, e prestam-se a fins parecidos, ainda que num contexto diferente” (DONDIS, 1997, p. 147). A mensagem característica da minimização é atenuada com elementos escassos como na técnica da economia, mas com uma elaboração mais estudada. Já o exagero é extravagante na busca de impactar a mensagem, exagerando na expressividade além do normal, sempre no intuito de intensificar a resposta do interpretante. 46AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Figura 89 Figura 90 Figura 91 – Exagero Figura 92 – Cartaz da ópera Wozzeck, 1964, de Jan Lenica 3.2.8 Previsibilidade e espontaneidade A previsibilidade indica ordem e combinação, e, como o próprio nome diz, é previsível, sabe-se com antecipação qual será a mensagem mesmo havendo pouquíssimos dados. 47 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO A espontaneidade como técnica visual “[...] caracteriza-se por uma falta aparente de planejamento. É uma técnica saturada de emoção, impulsiva e livre” (DONDIS, 1997, p. 148). Figura 93 – Previsibilidade Figura 94 Figura 95 – Espontaneidade Figura 96 48 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I 3.2.9 Atividade e estase A atividade reflete o movimento pelo meio da representação ou da insinuação. Já a estase, que vem da palavra estagnação, é uma técnica pela representação estática, que bem aplicada sugere uma percepção hipnotizante e de conforto. Figura 97 – Atividade Figura 98 Figura 99 – Estase Figura 100 3.2.10 Sutileza e ousadia Numa mensagem visual, a sutileza é a técnica que escolheríamos para estabelecer uma distinção apurada, que fugisse a toda obviedade e firmeza de propósito. Embora a sutileza sugira uma abordagem visual delicada e de extremo requinte, deve ser criteriosamente concebida para que as soluções encontradas sejam hábeis e inventivas (DONDIS, 1997, p. 150). O atrevimento é a característica principal da técnica visual da ousadia, pois tem como cerne de seu propósito o pico da visibilidade. 49 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Figura 101 – Sutileza Figura 102 – Cartaz da 7ª Bienal de São Paulo, de Danilo Di Preti, 1963 Figura 103 – Ousadia Figura 104 – John Lennon, de Avedon, 1967 50 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I 3.2.11 Neutralidade e ênfase Há momentos em que uma manifestação artística menos abusada pode ser o artifício mais dinâmico para abater a oposição do observador. Esse é o objetivo da técnica da neutralidade. Por sua vez, a ênfase destaca apenas um elemento em um fundo uniforme. Figura 105 – Neutralidade Figura 106 Figura 107 – Ênfase Figura 108 – Capa de Os Sertões, de Aldemir Martins, 1969 51 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO 3.2.12 Transparência e opacidade A transparência abrange pormenores visuais de forma que os elementos atrás fiquem visíveis, enquanto na técnica visual da opacidade ocorre completamente o contrário. Figura 109 – Transparência Figura 110 Figura 111 – Opacidade Figura 112 3.2.13 Estabilidade e variação A característica da estabilidade é a conciliação visual a partir de conjuntos coesos e constantes. Já a característica da variação vem da necessidade de modificações e elaborações, oferecendo maior distinção e provimento visual. 52 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Figura 113 – Estabilidade Figura 114 – Cartaz da 10ª Bienal de São Paulo, de Maria Argentina Bibas, 1969 Figura 115 – Variação Figura 116 53 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO 3.2.14 Exatidão e distorção A exatidão é a técnica natural da câmera, a opção do artista. Nossa experiência visual e natural das coisas é o modelo do realismo nas artes visuais, e sua utilização pode implicar muitos truques que o olho transmite ao cérebro. A câmera segue os padrões do olho, reproduzindo, consequentemente, muitos de seus efeitos (DONDIS, 1997, p. 152). A distorção falsifica o realismo que, quando bem elaborada, alcança finalidades intensas. Figura 117 – Exatidão Figura 118 Figura 119 – Distorção Figura 120 3.2.15 Planura e profundidade A planura e a profundidade têm o mesmo objetivo: aludir ou suprimir o aspecto natural da dimensão. Por isso, a maior característica dessas técnicas é a utilização ou não da perspectiva por meio da manipulação da luz e sombra. 54 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Figura 121 – Planura Figura 122 – Faca com bainha finlandesa, aço inoxidável e nylon, de Tapio Wirkkala, 1961 Figura 123 – Profundidade Figura 124 – O elemento escuro em primeiro plano – as costas de um homem – ajuda a transmitir a sensação de profundidade, assim como o fundo desfocado, nesta célebre fotografia de Robert Doisneau, O Beijo do Hotel de Ville (1950) 3.2.16 Singularidade e justaposição A singularidade significa focar na mensagem uma temática autônoma, de evidência particular e sem contar com quaisquer outros artifícios visuais. Por outro lado, a justaposição manifesta o intercâmbio de incitações visuais – por exemplo, colocando duas propostas em posição paralela e confrontando as relações que se instituem entre elas. 55 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Figura 125 – Singularidade Figura 126 Figura 127 – Justaposição Figura 128 3.2.17 Sequencialidade e acaso Segundo nossa referência autoral, [...] uma ordenação sequencial baseia-se na resposta compositiva a um projeto de representação que se dispõe numa ordem lógica [...] que em geral envolve uma série de coisas dispostas segundo um padrão rítmico (DONDIS, 1997, p. 157). 56 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I O uso do acaso nas mensagens visuais alude a uma carência de premeditação proposital ou a um aspecto casual da informação. Figura 129 – Sequencialidade Figura 130 Figura 131 – Acaso Figura 132 3.2.18 Agudeza e difusão A agudeza se baseia na clareza da intenção expressiva por meio de técnicas de precisão e contornos rigorosos, buscando facilidade na interpretação. A difusão é o uso das técnicas contrárias, oferecendo à expressividade artística maior suavidade, sendo que seu maior objetivo é criar um ambiente emotivo e acolhedor. 57 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO Figura 133 – Agudeza Figura 134 – Pôster de Saul Bass para o filme O Homem do Braço de Ouro, 1955 Figura 135 – Difusão Figura 136 3.2.19 Repetição e episodicidade É a energia harmônica e coesa que sustenta à unicidade uma composição de informações díspares. Já a episodicidade é a técnica que indica “[...] a desconexão, ou, pelo menos, apontam para a existência de conexões muito frágeis. É uma técnica que reforça a qualidade individual das partes do todo, sem abandonar por completo o significado maior” (DONDIS, 1997, p. 159). 58 AR TV - R ev isã o: L uc as - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 5/ 04 /2 01 4 Unidade I Figura 137
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