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Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 1 Infectologia e IVAS SP 2.1 - TEM QUE ESPERAR... 1) CONCEITUAR INCIDÊNCIA, PERÍODO DE INCUBAÇÃO E PERÍODO DE TRANSMISSÃO; A incidência diz respeito à frequência com que surgem novos casos de uma doença num intervalo de tempo, como se fosse um “filme” sobre a ocorrência da doença, no qual cada quadro pode conter um novo caso ou novos casos (PEREIRA, 1995). É, assim, uma medida dinâmica. Incidência = 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑛𝑜𝑣𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑑𝑒𝑡𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎𝑠 𝑒𝑥𝑝𝑜𝑠𝑡𝑎𝑠 𝑎𝑜 𝑟𝑖𝑠𝑐𝑜 𝑛𝑜 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑋 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐭𝐚𝐧𝐭𝐞 A constante é uma potência com base de 10 (100, 1.000, 100.000), pela qual se multiplica o resultado para torná-lo mais “amigável”, ou seja, para se ter um número inteiro. É muito mais difícil compreender uma taxa de 0,15 morte por 1.000 habitantes a uma taxa de 15 mortes por 100.000 mil habitantes. Quanto menor for o numerador em relação ao denominador, maior a constante utilizada. Como você pode notar, os casos novos, ou incidentes, são aqueles que não estavam doentes no início do período de observação, mas que adoeceram no decorrer desse período. Para que possam ser detectados, é necessário que cada indivíduo seja observado no mínimo duas vezes, ou que se conheça a data do diagnóstico. A prevalência se refere ao número de casos existentes de uma doença em um dado momento; é uma “fotografia” sobre a sua ocorrência, sendo assim uma medida estática. Os casos existentes são daqueles que adoeceram em algum momento do passado, somados aos casos novos dos que ainda estão vivos e doentes. Prevalência = 𝑛º 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑠𝑜𝑠 𝑒𝑥𝑖𝑠𝑡𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑒𝑚 𝑑𝑒𝑡𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑛ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑒𝑠𝑠𝑜𝑎𝑠 𝑛𝑎 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑛𝑜 𝑚𝑒𝑠𝑚𝑜 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜 𝑋 𝐜𝐨𝐧𝐬𝐭𝐚𝐧𝐭𝐞 Existem três tipos de medidas de prevalência: • Prevalência pontual ou instantânea: Frequência de casos existentes em um dado instante no tempo (ex.: em determinado dia, como primeiro dia ou último dia do ano). • Prevalência de período: Frequência de casos existentes em um período de tempo (ex.: durante um ano). • Prevalência na vida: Frequência de pessoas que apresentaram pelo menos um episódio da doença ao longo da vida. Período de incubação: é o intervalo de tempo que transcorre entre a exposição a um agente infeccioso e o surgimento do primeiro sinal ou sintoma da doença. Na maioria das doenças infecciosas, existe a possibilidade de transmissão durante o período de incubação, principalmente antes de apresentar os sintomas e sinais que permitem fazer o diagnóstico. Período de latência: é o intervalo de tempo que transcorre desde que se produz a infecção até que a pessoa se torne infecciosa. Como regra geral, a maioria das doenças não é transmissível durante a fase inicial do período de incubação, nem depois do completo restabelecimento do doente. Período de transmissibilidade ou infeccioso: é o intervalo de tempo durante o qual o agente infeccioso pode ser transferido direta ou indiretamente de uma pessoa infectada a outra pessoa, de um animal infectado ao ser humano ou de um ser humano infectado a um animal, inclusive artrópodes. Em algumas doenças como na meningite e nas infecções estreptocócicas, o período de transmissibilidade é contado desde o momento da primeira exposição à fonte de infecção até que o micro- organismo infectante desapareça das membranas mucosas atingidas, isto é, desde antes que apareçam os sintomas prodrômicos até que seja finalizado o estado de portador. Nas doenças como tuberculose, sífilis e gonorreia, a transmissibilidade pode ser intermitente durante a evolução da doença. Virulência: é a capacidade do agente infeccioso de produzir casos graves e fatais. Letalidade: é a capacidade do agente infeccioso de produzir casos fatais. Referências: • UNASUS – Epidemiologia: Conceitos da epidemiologia; • OPAS – Módulo de princípios de epidemiologia para o controle de enfermidades. Módulo 2: Saúde e doença na população. 2010. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 2 2) ENTENDER A DIFERENÇA DA DOENÇA VIRAL E BACTERIANA (FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, HEMOGRAMA); Mecanismos de Lesão Viral Os vírus podem danificar diretamente as células hospedeiras entrando nelas e replicando-se à custa do hospedeiro. Apredileção dos vírus em infectar determinadas células e não outras é denominada tropismo, e pode ser determinada por fatores físicos, proteínas de superfície que são necessárias para a entrada viral, e outros fatores que são requeridos para a replicação viral. Cada um deles é discutido brevemente a seguir. Um grande determinante do tropismo tecidual é a presença de receptores virais nas células hospedeiras. Os vírus possuem proteínas de superfície que se ligam a proteínas particulares presentes na superfície das células hospedeiras. Muitas dessas proteínas da célula hospedeira normalmente funcionam como receptores para os fatores do hospedeiro. Por exemplo, a glicoproteína gp120 do HIV se liga ao CD4 nas células T e aos receptores de quimiocina CXCR4 (principalmente em células T) e CCR5 (principalmente em macrófagos), enquanto o vírus Epstein-Barr se liga ao receptor 2 do complemento (também conhecido como CR2 ou CD21) nas células B. Outros tropismos são explicados por diferentes tipos de fatores específicos da linhagem celular. Por exemplo, a infecção pelo vírus JC, que causa a leucoencefalopatia, está restrita as células oligodendrogliais no SNC; isto é porque a expressão dos genes virais JC necessários para uma infecção produtiva exige fatores de transcrição do hospedeiro, que são somente expressos em células gliais, e não em neurônios ou em células endoteliais. Barreiras físicas também podem contribuir para o tropismo tecidual. Por exemplo, os enterovírus são replicados no intestino, em parte porque eles podem resistir à inativação por ácidos, bile e enzimas digestivas. Os rinovírus infectam as células hospedeiras apenas no trato respiratório superior, porque eles são replicados otimamente nas baixas temperaturas encontradas nos locais expostos à atmosfera ambiente. Uma vez estando os vírus no interior das células hospedeiras, eles podem danificar ou matar as células por uma variedade de mecanismos: → Efeitos citopáticos diretos. Alguns vírus matam as células por impedir a síntese de macromoléculas críticas do hospedeiro (p. ex., DNA, RNA, ou proteínas da célula hospedeira), ou pela produção de enzimas degradativas e proteínas tóxicas. Por exemplo, o poliovírus inativa a proteína ligante de capeamento, a qual é essencial para a tradução dos mRNAs da célula hospedeira, porém sem afetar a tradução dos mRNAs do poliovírus. O vírus herpes simples produz proteínas que inibem a síntese de DNAe mRNAcelulares, bem como outras proteínas que degradam o DNAdo hospedeiro. Os vírus podem induzir a morte celular por uma variedade de meios, incluindo a ativação dos chamados receptores de morte (membros da família de receptores TNF) na membrana plasmática e pelo desencadeamento da maquinaria apoptótica intracelular. Durante o curso da infecção viral produtiva, grandes quantidades de proteínas virais são sintetizadas nas células infectadas, incluindo proteínas não dobradas ou mal dobradas que ativam a resposta de estresse do RE; isto também ativa as vias próapoptóticas. Finalmente, alguns vírus codificam proteínas que são pró-apoptóticas; a proteína vpr do HIV é um dos exemplos. → Respostas imunes antivirais. Os linfócitos do hospedeiro podem reconhecer e destruir células infectadas com vírus. Os linfócitos T citotóxicos (CTLs) são importantes para a defesa contra infecções virais, mas os CTLs também podem serresponsáveis pelo dano tecidual, conforme discutido previamente. → Transformação das células infectadas. Vírus oncogênicos podem estimular a proliferação e sobrevivência celulares por uma variedade de mecanismos, incluindo a expressão de oncogenes codificados por vírus, a expressão de proteínas virais que inativam supressores de tumores-chave, e mutagêneses insercionais, nas quais a expressão dos genes do hospedeiro é alterada pela inserção do genoma viral nos genes ou flanqueando o genoma do hospedeiro. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 3 Mecanismos de Lesão Bacteriana → Virulência Bacteriana. O dano bacteriano aos tecidos do hospedeiro depende da habilidade da bactéria em aderir às células hospedeiras, invadir as células e tecidos, ou liberar toxinas. Bactérias patogênicas possuem genes de virulência que codificam proteínas que conferem essas propriedades. Um exemplo da importância de tais genes pode ser encontrado nas várias cepas de Salmonella. Todas as cepas de Salmonella que infectam humanos estão intimamente relacionadas o suficiente para formarem uma única espécie, significando que elas compartilham muitos genes de “manutenção”. As diferenças em um número relativamente pequeno de genes de patogenicidade determinam se um isolado de Salmonella pode causar febre tifoide que ameaça a vida ou enterite autolimitada. Os genes de virulência são frequentemente encontrados agrupados em conjuntos denominados ilhas de patogenicidade. Os elementos genéticos móveis, tais como os plasmídeos e bacteriófagos, podem transmitir genes funcionalmente importantes para as bactérias, incluindo genes que influenciam a patogenicidade e a resistência a fármaco. Os genes de toxinas às vezes são encontrados em plasmídeos, porém são mais frequentemente encontrados nos genomas dos bacteriófagos, incluindo os genes que codificam as toxinas responsáveis pela patogenia da cólera, difteria e do botulismo. Os genes para a resistência adquirida a antibióticos são mais frequentemente encontrados em plasmídeos, que podem se espalhar não apenas dentro das espécies bacterianas, mas também entre os organismos distantemente relacionados. Por exemplo, um plasmídeo com genes de resistência à vancomicina pode se espalhar não somente entre as espécies de Enterococcus, mas também entre as mais distantemente relacionadas (e virulentas) de S. aureus. Muitas bactérias regulam coordenadamente a expressão de genes em uma grande população através de um processo chamado percepção de quorum. Por exemplo, as bactérias podem induzir a expressão de fatores de virulência à medida que seu crescimento atinge alta concentração no tecido. Isso pode permitir o crescimento de bactérias em locais discretos do hospedeiro, como em um abscesso ou na pneumonia consolidada, para superar as defesas do hospedeiro. O S. aureus regula coordenadamente os fatores de virulência através da secreção de peptídios autoindutores. À medida que o número de bactérias cresce, o nível de peptídios autoindutores aumenta, estimulando a produção de toxina. Dentro da população, algumas bactérias produzem o peptídio autoindutor e outras respondem a ele pela secreção de toxinas. Portanto, devido à percepção do quorum, as bactérias unicelulares adquirem algumas das propriedades mais complexas dos organismos multicelulares, nos quais células diferentes realizam funções diferentes. Comunidades de bactérias podem também formar biofilmes nos quais os organismos vivem dentro de uma camada viscosa de polissacarídeos extracelulares que adere aos tecidos do hospedeiro ou dispositivos, como cateteres intravasculares e articulações artificiais. Além de aumentar a aderência aos tecidos do hospedeiro, os biofilmes aumentam a virulência das bactérias protegendo os micróbios dos mecanismos efetuadores da imunidade e aumentando as suas resistências aos agentes antimicrobianos. Aformação de biofilmes parece ser particularmente importante na persistência e na recidiva da endocardite bacteriana, nas infecções em articulações artificiais, e nas infecções respiratórias em pessoas com fibrose cística. → Aderência Bacteriana às Células Hospedeiras. As adesinas são proteínas de superfície bacteriana que ligam as bactérias às células hospedeiras ou à matriz extracelular. As adesinas são limitadas quanto ao tipo estrutural, porém possuem uma ampla margem na especificidade celular hospedeira. O Streptococcus pyogenes adere aos tecidos do hospedeiro usando as adesinas proteína F e ácido teicoico, que se projetam da parede celular bacteriana e se ligam à fibronectina na superfície das células hospedeiras e na matriz extracelular. Os pili são proteínas filamentosas na superfície das bactérias, que agem como adesinas. As hastes dos pili são compostas de subunidades repetidas conservadas, enquanto as subunidades variáveis nas pontas dos pili determinam a especificidade de ligação tecidual das bactérias. Por exemplo, cepas de E. coli que causam infecções do trato urinário expressam especificamente um pilus, que se liga à uma porção gal(α1-4) expressa nas células uroepiteliais. Os pili podem ser alvos da resposta de anticorpos do hospedeiro e, por sua vez, algumas bactérias como a N. gonorrhoeae variam seus pili para escapar do sistema imunológico do hospedeiro. → Virulência de Bactérias Intracelulares. As bactérias desenvolveram uma variedade de mecanismos para penetrar nas células hospedeiras. Algumas bactérias utilizam a resposta imune do hospedeiro para entrar nos macrófagos. Aopsonização da bactéria com anticorpos ou com a proteína C3b do complemento promove a fagocitose da bactéria pelos macrófagos. Como muitas bactérias, o M. tuberculosis ativa a via alternativa do complemento, resultando na Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 4 opsonização com C3b. Uma vez coberta com C3b, a M. tuberculosis se liga ao receptor CR3 do complemento nos macrófagos, entra nos macrófagos e se replica dentro dos fagossomos. Bactérias Gram-negativas utilizam um sistema complexo de secreção para penetrar nas células epiteliais. Esse sistema de secreção tipo III consiste em estruturas semelhantes a agulhas que se projetam da superfície bacteriana e se ligam às células hospedeiras. Essas proteínas, então, formam poros na membrana da célula hospedeira e injetam proteínas bacterianas que medeiam o rearranjo do citoesqueleto da célula hospedeira, de um modo que facilita a entrada bacteriana. Uma vez dentro da célula hospedeira, outras bactérias como a Listeria monocytogenes modificam o citoesqueleto de actina para promover a disseminação direta do organismo para as células vizinhas, permitindo às bactérias escaparem dos mecanismos efetuadores imunes. Após as bactérias entrarem na célula hospedeira, os seus destinos (e o da célula infectada) variam bastante, dependendo do organismo. AShigella e a E. coli inibem a síntese de proteína do hospedeiro, replicam-se rapidamente, e lisam a célula hospedeira dentro de horas. Amaioria das bactérias é morta dentro dos macrófagos quando o fagossomo se funde a um lisossomo ácido para formar o fagolisossoma, mas certas bactérias eludem essa defesa do hospedeiro. Por exemplo, o M. tuberculosis bloqueia a fusão do lisossomo com o fagossomo, permitindo que ele prolifere de forma incontrolada no interior do macrófago. Outras bactérias evitam a destruição nos macrófagos deixando o fagossomo e entrando no citoplasma. AL. monocytogenes produz uma proteína formadora de poro, denominada listeriolisina O, e duas fosfolipases que degradam a membrana do fagossomo, permitindo que a bactéria escape para o citoplasma. Bactérias intracelulares facultativas infectam células epiteliais (Shigella e E. coli enteroinvasiva), macrófagos (M. tuberculosis,M. leprae), ou ambos (S. typhi). O crescimento das bactérias nas células pode permitir- lhes escapar de certos mecanismos efetuadores da resposta imune (p. ex., anticorpos e complemento), e pode também facilitar a disseminação das bactérias. Um exemplo do último é a migração dos macrófagos infectados carreando o M. tuberculosis do pulmão para os linfonodos de drenagem e outros locais mais distantes. → Toxinas Bacterianas. Qualquer substância bacteriana que contribua para doença pode ser considerada uma toxina. As toxinas são classificadas como endotoxinas, as quais são componentes da célula bacteriana, e exotoxinas, as quais são proteínas secretadas pela bactéria. A endotoxina bacteriana é um lipopolissacarídeo (LPS) na membrana externa das bactérias Gramnegativas que estimulam as respostas imunológicas do hospedeiro e os danos do hospedeiro. O lipídio A, que ancora o LPS na membrana da célula hospedeira através de ácidos graxos de cadeia longa, tem a atividade de endotoxina do LPS. O lipídio Aestá ligado a uma cadeia de carboidrato de núcleo conservado, a qual está ligada a uma cadeia variável de carboidrato denominada de antígeno O. Aresposta ao lipídio Aé benéfica quando ela ativa a imunidade protetora de diversas formas. Ela induz a produção de citocinas e quimioatrativos (quimiocinas) importantes pelas células imunológicas e aumenta a expressão de moléculas coestimulatórias, as quais aumentam a ativação dos linfócitos T. Entretanto, altos níveis de endotoxina desempenham um papel patogênico no choque séptico, na coagulação intravascular disseminada (CID) e na síndrome da angústia respiratória adulta, principalmente através da indução de níveis excessivos de citocinas tais como TNF, IL-1 e IL-12. O LPS se liga ao receptor de superfície celular CD14, e o complexo então liga-se ao receptor TLR4 (Toll-like 4), um receptor de reconhecimento padrão que ativa as células do sistema imune inato. As exotoxinas são proteínas bacterianas secretadas que causam lesão celular e doença. Elas podem ser classificadas em amplas categorias através de seus sítios ou mecanismo de ação. Essas são brevemente descritas a seguir e discutidas com mais detalhes nas seções específicas sobre cada tipo de bactéria. • Enzimas. As bactérias secretam uma variedade de enzimas (proteases, hialuronidases, coagulases, fibrinolisinas) que atuam em seus respectivos substratos in vitro, porém o papel de somente poucas dessas nas doenças é compreendido. Por exemplo, toxinas esfoliativas produzidas por S. aureus causam a síndrome da pele escaldada estafilocócica pela degradação das proteínas que mantêm os queratinócitos juntos, fazendo com que a epiderme se destaque da pele. • Toxinas que alteram a sinalização intracelular ou vias regulatórias. A maioria dessas toxinas possui uma subunidade ativa (A) com atividade enzimática e uma subunidade ligante (B) que se une aos receptores na superfície celular e libera a subunidade Apara dentro do citoplasma celular. Os efeitos dessas toxinas são diversos e dependem da especificidade de ligação do domínio B e das vias celulares afetadas pelo domínio A. As toxinas A-B são produzidas por muitas bactérias, incluindo Bacillus anthracis, V. cholerae, e algumas cepas de E. coli. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 5 • As neurotoxinas produzidas por Clostridium botulinum e Clostridium tetani inibem a liberação de neurotransmissores, resultando em paralisia. Essas toxinas não matam os neurônios; em vez disso, os domínios Ainteragem especificamente com proteínas envolvidas na secreção de neurotransmissores na junção sináptica. Tanto o tétano como o botulismo podem resultar na morte por insuficiência respiratória devido à paralisia dos músculos torácicos e do diafragma. • Os superantígenos são toxinas bacterianas que estimulam um número muito grande de linfócitos T através da ligação a porções conservadas do receptor da célula T, levando a uma proliferação maciça de linfócitos T e à liberação de citocina. Os altos níveis de citocinas podem levar a extravasamento capilar e choque. Os superantígenos produzidos por S. aureus e S. pyogenes causam a síndrome do choque tóxico (SCT). Quadro clínico geral - Bactérias x Vírus Os sintomas de uma infecção viral mais comuns são febre baixa, que não passa de 38°C, sensação de fraqueza, dores no corpo, perda de apetite, nariz escorrendo e tosse por irritação na garganta. O próprio sistema imunológico trata de expulsar o vírus do organismo, isso geralmente leva entre 3 a 10 dias. Se os sintomas durarem mais de uma semana sem demonstrar melhora, pode ser que a infecção seja bacteriana, ou que você a tenha adquirido depois do vírus, conhecida como infecção bacteriana secundária. Os sintomas da infecção bacteriana são parecidos aos da infecção viral, porém com algumas considerações a serem feitas. Ambas as infecções causam febre, porém a bacteriana, causa febre alta, acima de 38°C podendo chegar a 40°C. As infecções bacterianas tendem a piorar com o tempo. A tosse causada por uma infecção bacteriana virá acompanhada de esputo (secreção traqueobronquial), esse é geralmente espesso e com uma coloração amarelada ou esverdeada (placa de pus). Uma infecção bacteriana costuma causar dor concentrada em uma parte específica do corpo. A principal diferença entre doenças causadas por vírus e bactérias está na forma como elas vão se desenvolver no organismo. As bactérias, por serem organismos celulares vão se dividir e multiplicar no seu corpo, causando uma piora no quadro na medida em que ganham mais espaço no organismo. Já os vírus não possuem células e dependem das células do próprio corpo para se desenvolverem. Assim, ele se multiplica no organismo na medida em que contamina outras células. Em geral, especialmente no início da doença, os sintomas de infecções virais e bacterianas são muito parecidos e inespecíficos: febre, náuseas e/ou diarreias, acúmulo de muco nas fossas nasais e no peito, mal-estar generalizado, etc. Na medida em que avançam, algumas doenças podem ter sintomas mais específicos, como a rigidez da nuca no caso das meningites. Mas alguns sintomas podem ser comuns a mais de uma doença, como as manchas vermelhas na pele, presentes nos casos de dengue, sarampo e escarlatina. Nas infecções respiratórias, é possível observar a diferença na textura e na cor do muco quando se trata de vírus ou bactéria. Secreções claras e mais líquidas indicam, em geral, que o mal-estar está sendo causado por vírus. Secreções mais densas, esverdeadas ou amareladas, indicam a infecção por bactéria. A mudança da cor se deve a ação de neutrófilos, que são células de defesa que atacam as bactérias e liberam uma proteína de cor verde. Entre as principais doenças causadas por vírus estão: gripes e resfriados, hepatites, HIV, dengue, rubéola, varíola, etc. As principais doenças causadas por bactérias são: tuberculose, coque luche, tétano, sífilis, cólera, pneumonia, dentre outras. Boa parte das viroses mais comuns, como gripes, resfriados e diarreias, vai sumir espontaneamente em até sete dias. Em geral, o tratamento e a medicação tem o objetivo de aliviar os sintomas. Antitérmicos e analgésicos para febre e dor são os mais comuns. Maior ingestão de água e repouso completam os cuidados nesses casos. Para alguns tipos de vírus será prescrito um retroviral específico para neutralizar e eliminar o vírus do organismo do paciente. É o caso, por exemplo, dos antirretrovirais utilizados para tratar o HM. No caso de doenças causadas por bactérias, o tratamento é feito com antibióticos. Como há diferentes tipos de bactérias que causam os mais diversos tipos de infecções, é necessário utilizar antibióticos diferentes, respeitando o tipo de bactéria para quese tenha um resultado efetivo. O uso de antibióticos deve ser muito criterioso, pois o abuso desse fármaco pode fazer com que as bactérias se tornem resistentes ao medicamento. tomando o tratamento mais complicado. IVAS - viral ou bacteriana? Uma criança na faixa etária dos 3 anos pode apresentar um processo infeccioso viral de vias aéreas superiores de 6 a 12 vezes por ano. Essa elevada prevalência de infecções virais também indica que a criança equivocadamente diagnosticada e a família inadequadamente orientada, em um primeiro episódio, poderão passar a vivenciar um círculo vicioso Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 6 de busca de atendimentos emergenciais e utilização de antibióticos. Do ponto de vista teórico, existem vários tipos de vírus (RSV – Vírus Sincicial Respiratório, Influenza Vírus, Adenovírus, Rhinovírus, virus do “Resfriado Comum”, etc) que atuam sobre o epitélio respiratório, quer seja por meio da inoculação de partículas ou do contato com as mãos. Esses microorganismos têm um efeito, muitas vezes devastador sobre o epitélio, gerando os sinais e sintomas citados anteriormente. É fato que a resposta imune alterada, destruição dos mecanismos locais de defesa (cílios), diminuição da atividade mucociliar e do “clearance” com acúmulo de efusões, facilitam a ocorrência de infecções bacterianas. Porém, essa associação não ocorre sempre. Outro aspecto que facilita a ocorrência de processos bacterianos no seguimento de infeções virais é o aumento da expressão dos receptores de determinadas bactérias no epitélio respiratório e no muco secretado. Contudo, o aumento da aderência de bactérias como o Streptococcus pneumoniae e como o Haemophilus influenzae não deve ser interpretado longitudinalmente como a presença de uma infecção bacteriana. Com exceção de crianças <2 meses, crianças com alguma deficiência da imunidade ou diante de sinais ou sintomas óbvios de uma complicação bacteriana (“double-sickening”- recaídas, secreção purulenta por mais de 10-14 dias, exames de sangue indicativos), casos não tão elucidativos devem ser sempre considerados inicialmente virais. Infecções virais duram no mínimo sete dias, sendo que, entre o quarto e sétimo já começam a apresentar uma melhora acentuada. Todavia, pode haver grande variabilidade na virulência desses microorganismos e na susceptibilidade do hospedeiro, com comprometimento bem maior do epitélio das vias aéreas e dessa forma com período de convalescência maior para resolução dos problemas (14-21 dias). A secreção verde-amarelada é fruto da deterioração dos polimorfonucleares e de suas enzimas. Além da informação de quanto tempo a secreção está colorida, ou se ela voltou a tornar-se verde-amarela depois de clarear, um aspecto importante é esclarecer se a secreção é assim durante todo o dia ou mais pela manhã. Os quadros bacterianos costumam apresentar secreção purulenta constantemente, enquanto que nos virais, essas características aumentam pela manhã em decorrência da estase de secreções nas vias aéreas durante a noite. Quanto à febre, deve ser esclarecido que não é sinônimo de gravidade e sim da intensidade da resposta imune do indivíduo, pela presença de um processo inflamatório de origem infecciosa, quer seja viral ou bacteriana. Lembrar que, especialmente em crianças pequenas, a febre costuma ser elevada, tanto para processos virais como para bacterianos. A febre deve ser controlada em casos de elevação excessiva, pelo desconforto que causa, além de riscos como as convulsões febris. Os quadros que levam ao pensamento de IVAS virais são aqueles que possuem febre, secreção nasal colorida, dores de garganta, tosse, dores de ouvido são os sinais e sintomas encontrados. Lembrando que, qualquer criança com sinais e sintomas atípicos, como neurológico ou ventilatórios, merecerão uma investigação mais detalhada na busca de outros diagnósticos. Nas VAS, as complicações mais comuns e motivo de diagnósticos equivocados diariamente são as rinossinusites agudas, otites médias agudas (OMAs) e faringotonsilites. Nesse sentido, as evidências atuais indicam que mesmo quadros de rinossinusites agudas e otites agudas bacterianas possuem elevado percentual de resolução espontânea (70-80%). Enquanto nas faringotonsilites por estreptococo do Grupo A (beta-hemolítico), há tempo para prevenir as complicações não supurativas no caso de retardo do diagnóstico em pelo menos três dias. Não há benefício no uso profilático de antimicrobianos durante processos virais. Geralmente uma criança que chega à emergência, com complicações de processos nasossinusais ou otológicos, já vem utilizando antimicrobianos. Essas complicações estariam mais vinculadas a virulência das bactérias e a capacidade imune do hospedeiro, do que ao retardo na administração de antibióticos. O uso não judicioso de antibióticos, principalmente diante de um quadro de características virais, é sempre prejudicial ao paciente, por efeitos adversos e pelo desenvolvimento da resistência bacteriana. Os aspectos tempo de evolução e recaída de sinais e sintomas, destacam-se como os principais critérios clínicos para o diagnóstico correto entre processos virais e bacterianos. O hemograma é o nome dado ao conjunto de avaliações das células do sangue que, reunido aos dados clínicos, permite conclusões diagnósticas e prognósticas de grande número de patologias. O hemograma é composto por três determinações básicas que incluem as avaliações dos eritrócitos (ou série vermelha), dos leucócitos (ou série branca) e das plaquetas (ou série plaquetária). Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 7 A análise da série vermelha é constituída pelas seguintes determinações básicas: 1. Contagem de eritrócitos (CE) :106 /mm3 2. Dosagem da hemoglobina (Hb): g/dL 3. Hematócrito (Ht): % 4. Volume Corpuscular Médio (VCM): µm3 ou fm3 5. Hemoglobina Corpuscular Média (HCM): pg 6. Concentração da Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM): g/dL Recentemente com a automatização das avaliações das células do sangue, aliada a programas de informática, obtém-se dados sobre diâmetro ou superfície celular, histograma e gráficos de distribuição de células. Especificamente para a série vermelha a automatização fornece o índice RDW que avalia a amplitude da superfície dos eritrócitos. A série branca, por sua vez, é analisada por meio dos seguintes índices: 1. Contagem total de leucócitos (CTL): 103/mm3 2. Contagem diferencial de leucócitos (CDL) Neutrófilos (Bastonetes e Segmentados): % e 103/mm3 Eosinófilos: % e 103 /mm3 Basófilos: % e 103 /mm3 Linfócitos: % e 103 /mm3 Monócitos: % e 103 /mm3 A contagem diferencial de cada leucócito é emitida em % (ou valor relativo) e em 103/mm3 (ou valor absoluto). O valor absoluto tem melhor expressão diagnóstica em relação ao valor relativo. As plaquetas são analisadas quantitativamente (CP: 103/mm3) e com uso de contadores automatizados é possível obter o índice PDW (%) que fornece o resultado da amplitude da superfície das plaquetas quantificadas, bem como o MPV (fm3) que indica o volume médio plaquetário. Todas as avaliações apresentadas até aqui são resultados quantitativos das três séries: vermelha, branca e plaquetária. Entretanto o hemograma deve abranger as análises qualitativas dos eritrócitos, leucócitos e plaquetas que consideram o tamanho e a forma celular, a coloração e as inclusões citoplasmáticas e nucleares, a presença de vacúolos, as atipias celulares, etc. Essas observações são fundamentais para auxiliar o diagnóstico clínico, p.ex.: eritrócitos falcizados nos esfregaço sanguíneo indicam relação com doença falciforme; expressivo número de linfócitos atípicos pode estar relacionado a viroses; plaquetasgigantes geralmente estão associadas a determinadas síndromes, etc. Principais características (morfologia) de alterações das três séries celulares do sangue: Os padrões clássicos de reações às infecções bacterianas e virais são bem conhecidos: em infecções bacterianas têm-se leucocitose com neutrofilia, algumas vezes com desvio à esquerda e, em infecções virais, poderemos ter linfocitose, eventualmente linfopenia e presença de linfócitos atípicos. Hemograma nas Infecções bacterianas Inicialmente serão dados destaques àquelas causadas por bactérias gram positivas (estreptococos piogenes e pneumonia, estafilococos aureos, micobacterias, corinebacteria difteria, etc.). Esses patógenos induzem, na maioria das vezes, as leucocitoses agudas motivadas por aumento do número de neutrófilos em valores relativos (%) e absolutos (/mm3). Dependendo da gravidade da infecção, a medula se torna hiperplásica para a linhagem de neutrófilos e libera neutrófilos segmentados, ou maduros, em grandes concentrações. Caso as bactérias infectantes apresentam-se resistentes às defesas imunológicas do paciente, a maioria dos neutrófilos maduros circulantes morrem naturalmente, pois seu tempo de vida média é curto (oito horas a quatro dias), ou nas ações antibacterianas. Nessas situações, a medula óssea libera o seu estoque de neutrófilos maduros, quase se esgotando dessas células. Na vigência da continuidade da infecção deste exemplo, a medula óssea passa a liberar grandes contingentes de neutrófilos jovens, notadamente os bastões. A presença de neutrófilos bastões em número superior ao da normalidade é denominada por desvio à esquerda. Nos estados clínicos de infecções resistentes às defesas imunológicas, a medula óssea pode, inclusive, liberar neutrófilos ainda mais jovens, como os metamielócitos e mielócitos. Na fase aguda da infecção os macrófagos passam a participarem da fagocitose das bactérias agressoras e, por conta disso, emitem intensas sinalizações biológicas através de interleucinas (IL-1 e IL-3). Essas sinalizações exercem pressões descontroladas nas células progenitoras, ou células tronco, da linhagem Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 8 granulocítica de neutrófilos, fato conhecido por estresse medular. O reflexo mais evidente desse estresse é a diminuição da produção de eosinófilos e a consequente diminuição da sua liberação para o sangue periférico. Por essa razão pode ocorrer a ausência desta célula na contagem específica de 100 a 200 leucócitos. Assim, a ausência de eosinófilos é quase sempre indicativa de maior gravidade clínica da infecção bacteriana. Por outro lado, infecções causadas por bactérias gram negativas (enterobactérias, neissérias, pseudômonas, ricktécias, legionelas, etc.) liberam excessivas quantidades de toxinas nos tecidos. Essas toxinas são produtos químicos que além de atraírem leucócitos (quimiotaxia positiva) para o local da infeção, promovem, também, um afrouxamento da matriz extracelular (tecido conjuntivo, fibroblastos, adipócitos e células endoteliais) que facilita ainda mais o deslocamento de neutrófilos do sangue circulante para o foco infeccioso. Portanto, nessas infecções por bactérias gram negativas não é incomum a ocorrência de contagens diminuídas de leucócitos ou leucopenias, associadas, inclusive, com desvio à esquerda em valores relativos. Um fato importante que deve ser salientado são as mudanças radicais dos valores leucocitários em menos de 24 horas da vigência de alguns estados infecciosos por bactérias, quer sejam gram positivas ou gram negativas. Há situações de infecções por bacterias gram positivas que valores de 30 mil leucócitos diminuem abruptamente para 8 mil leucócitos num intervalo de, por exemplo, dez horas. Fatos assim podem ocorrem por intervenção terapêutica (antibioticoterapia) ou por esgotamento das reservas leucocitárias – neste caso um mal sinal de prognóstico da doença. Da mesma forma, nas infecções por bactérias gram negativas, com leucopenia e neutropenia, esses valores podem alterar de leucopenia para discretas leucocitoses, após intervenção terapêutica. Por fim, as avaliações morfológicas principalmente de neutrófilos, com destaques principalmente para as granulações tóxicas e vacuolizações, devem ser relatadas, inclusive com avaliações semi-quantitativas, pois suas presenças podem estar relacionadas ações de bactérias supurativas, entre outras causas. Hemograma nas Infecções virais Inicialmente destacarei o vírus da influenza ou da gripe, as famosas viroses. Esses vírus apresentam facilidades de mutações e infectam continuadamente as populações humanas, entre outras. Quando as infecções virais estão associadas à febre, tremores e calafrios é possível observar no hemograma a presença de leucocitose, com valores aumentados de linfócitos (relativo e absoluto). Excetuando essas situações, é mais comum a contagem diminuída de leucócitos (geralmente por volta de 2.500 a 3.500/mm3), com valores de linfócitos superiores a 50%. Entretanto, é possível que pessoas infectadas por esses vírus se apresentam com resultados normais para leucócitos, porém, associados à linfocitose relativa. Outros tipos de infecções virais de importância se devem aos vírus da dengue (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4) e da chikungunya (CHIKV). Ambos causam manifestações de doenças clinicamente parecidas com evolução em três fases: aguda, subaguda e crônica. Há testes diferenciais para seus diagnósticos e acompanhamento clínico, mas o hemograma é o exame mais solicitado e de muita utilidade no acompanhamento da doença. Nas duas doenças ocorrem: plaquetopenia, leucopenia e neutropenia, todas essas alterações são maiores na dengue do que na chikungunya. Somente a linfopenia ((<1000/mm3) é maior na chikungunya do que na dengue. Nas infecções virais, de uma forma geral, as avaliações morfológicas dos linfócitos são muito importantes, principalmente na constatação dos linfócitos atípicos, o que significa um bom sinal de resistência imunológica. Os linfócitos atípicos se caracterizam por alterações de conteúdo (linfócitos B carregados com anticorpos contra os vírus agressores), ou de receptores de membrana (linfócitos T CD4 e CD8) que reagem intensamente com fatores de indução de sinalização. Os linfócitos atípicos geralmente são maiores que os linfócitos normais, apresentam-se com aumento do volume citoplasmático e são mais basofílicos. A maioria das pessoas saudáveis tem linfócitos atípicos motivados por infecções virais sintomáticas ou assintomática que as afetam continuadamente. Pesquisas relatam que pessoas saudáveis tem até 5% de linfócitos atípicos entre o total de leucócitos contabilizados. Por essa razão, suas presenças devem ser anotadas apenas quando o número dessas células superarem a quantidade de 5%, especificando, assim, o valor encontrado. Outros tipos de viroses, com destaque para a mononucleose infecciosa, envolvem não apenas os linfócitos, mas também os monócitos. No entanto, os monócitos merecem um artigo específico, pois cada vez mais esta célula se mostra como a mais influente na nossa defesa imunológica. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 9 Referências: • Robbins & Cotran – Patologia: Bases patológicas das doenças; • Otávio Piltcher – Infecção viral ou bacteriana? Diferença entre teoria e prática. • Paulo Cesar Naoum – Interpretação laboratorial do hemograma; • Paulo Cesar Naoum – O hemograma nas infecções; • Vicente Odone Filho – Valor do hemograma nos episódios febris; 3) CONHECER AS INFECÇÕES E CARACTERÍSTICAS DA INFECÇÃO DE VIAS AÉREAS SUPERIORES; As infecções das vias respiratórias superiores são as mais comuns na prática médica e responsáveis pela maiorutilização de antimicrobianos, apesar de a maioria delas ser de causa viral. Avaliação cuidadosa do paciente, contato com indivíduos sintomáticos, exposição a ambiente de contato próximo (p. ex. creches e escolas), momento epidemiológico e sazonalidade de algumas infecções são variáveis que auxiliam na adequada abordagem do paciente com infecções das vias respiratórias superiores. Faringotosilites/Faringoamidalites O anel linfático de Waldeyer é constituído por tonsilas palatinas, tonsila faríngea, tecido linfático peritubário, tonsilas linguais e grânulos linfoides laterais ou parafaríngeos. As principais funções das tonsilas são: atuar como tecido imunocompetente local, secretando imunoglobulinas nas criptas (são capazes de produzir as 5 classes de imunoglobulinas – IgA, IgG, IgM, IgD e IgE), com isso impedem a replicação bacteriana e viral no trato respiratório superior, o que representa a primeira linha de defesa contra doenças infecciosas na região; e produzir cadeias J, que completarão a estrutura molecular das imunoglobulinas A, que posteriormente migram para outras áreas do trato respiratório superior. Faringotonsilites (FT) são infecções autolimitadas que se desenvolvem nas tonsilas, faringe posterior, palato mole, órgãos linfoides, e representam uma das infecções mais frequentes de vias aéreas superiores, principalmente na população infantil. Demandam uma fração importante dos atendimentos médicos, com um custo ponderável na área de saúde, além de ausências no trabalho, nas escolas, além de afetar a qualidade de vida. A melhor compreensão das faringotonsilites pode orientar quanto à possível etiologia e uma conduta mais racional, o que fatalmente levará à menor prescrição de antimicrobianos e menos efeitos colaterais em relação ao tratamento. As tonsilas palatinas e faríngeas, linfoides periféricas ou secundárias, que se encontram na entrada dos aparelhos respiratório e digestivo, se constituem nos primeiros tecidos imunocompetentes a entrarem em contato com microrganismos exógenos e outros antígenos presentes no fluxo aéreo-digestivo. Devido a essas características e à função desse segmento dos aparelhos respiratório e digestivo, os processos inflamatórios os acometem com frequência. As faringotonsilites clinicamente podem ser classificadas em inespecíficas, quando não há especificidade entre o agente etiológico e o quadro clínico; e as específicas, quando há correlação entre a clínica e o agente etiológico. A epidemiologia, etiologia, morbidade, conduta diagnóstica e terapêutica da FT requer enfoque e cuidados diferentes nas várias faixas etárias. Vários vírus, bactérias e alguns fungos podem causar faringotonsilites. Entre os vírus, os agentes mais comuns são adenovírus, influenza, parainfluenza, coxsackie, vírus sincicial respiratório, herpes e vírus de Epstein-Barr. EBHGA (20-30% das etiologias bacterianas), Haemophillus (15%), Moraxella (15%), Staphylococcus aureus (20%), pneumococo (1%), germes anaeróbios, clamídia e micoplasma são as bactérias envolvidas na gênese das infecções faringotonsilares. Com exceção de situações individuais, parece não haver necessidade de diagnóstico e tratamento das faringotonsilites causadas por bactérias que não o EBHGA/GAS/GABHS (Streptococcus pyogenes do grupo A ou Estreptococos Beta-hemolítico do grupo A). Aspectos da história e do exame físico podem sugerir a origem viral ou bacteriana, infelizmente com baixa especificidade e sensibilidade. Coriza, obstrução nasal, espirros, rouquidão, aftas (coxsackie ou herpes) e sintomas gastrointestinais associam-se frequentemente a doenças virais, acompanhados ou não de elevações da temperatura corpórea. Já a infecção por EBHGA costuma ter início súbito, febre ≥ 38oC, dor de garganta e achados no exame físico que incluem hiperemia, hipertrofia e exsudato tonsilar, junto com linfoadenopatia cervical anterior e subângulo mandibular dolorosa. Sinais de envolvimento mais extenso das vias aéreas superiores (coriza, espirros) não costumam estar presentes nas infecções pelo estreptococo. As faringotonsilites virais correspondem a 75% dos casos em crianças menores de 2 anos e diminuem após a puberdade, tanto nos casos isolados, quanto nas recorrências. O principal vírus é o adenovírus (20%), mas rhinovírus, coronavírus, influenzae, parainfluenzae Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 10 e vírus sincicial respiratório também podem estar envolvidos. Pacientes apresentam febre, exsudato na faringe e tonsilas, mialgia, coriza e obstrução nasal. Alguns vírus como o Herpes simplex e Epstein-Barr também podem se manifestar como faringotonsilite e/ou estomatite. Geralmente têm evolução benigna, e o tratamento consiste em cuidados com estado geral, hidratação, medicação analgésica e antitérmica. Sinais e sintomas das FT virais: • Conjuntivite; • Coriza; • Tosse; • Diarreia; • Rouquidão; • Estomatite ulcerativa discreta; • Exantema viral. Mononucleose infecciosa O diagnóstico diferencial das faringotonsilites agudas deve incluir a mononucleose infecciosa, doença causada pelo vírus de Epstein-Barr (EBV), agente altamente linfotrópico. A maioria dos casos de mononucleose infecciosa não é diagnosticada, e muitas crianças apresentam níveis elevados de anticorpos da classe IgG contra o antígeno do capsídeo viral (IgG anti- VCA), o que denota infecção passada. O vírus causa edema difuso dos tecidos linfáticos do anel de Waldeyer, região cervical, axilar e inguinal. Produz odinofagia intensa, que pode levar à desidratação e a aumento das tonsilas palatinas e faríngeas, podendo causar obstrução importante das vias aéreas superiores. A anamnese costuma revelar uma doença com início rápido dos sintomas, que podem se manter por semanas, e, frequentemente, um tratamento malsucedido com antibióticos. Ao exame, o paciente geralmente apresenta mal- estar geral, astenia, temperatura normal ou elevada, tonsilas palatinas muito aumentadas e com exsudato, hepatomegalia e esplenomegalia. A FT bacteriana inespecífica pode desencadear sintomatologia com duração de 3 a 6 dias no adulto, e 6 a 10 dias nas crianças e não teria relevância, se não fossem as complicações, que podem advir quando o agente etiológico é o Streptococcus pyogenes do grupo A (GAS), também denominado Streptococcus beta- hemolítico do grupo A (GABHS). Os Estreptococos do grupo C e G também podem levar a um quadro de angina, mas sem as consequências do GAS. Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae podem ser causa de FT, afetando preferencialmente a população entre 9 e 19 anos, e costumam ser acompanhadas por outros sinais de infecção respiratória, especialmente tosse. Devemos ainda lembrar de outros patógenos como a Neisseria gonorrheae, que ocorrem tipicamente entre adolescentes com história de atividade sexual, com FT acompanhada por sinais de infecção genital ou exantema. Aracnobacterium haemolyticum é infrequente e também ocorre mais em adolescentes, apresentando exantema escarlatiniforme. Bactérias como Staphylococcus aureus, Haemophilus spp, Moraxella catarrhalis são, por vezes, responsáveis por recaídas de infecções estreptocócicas. Estas produzem betalactamases, o que pode dificultar a erradicação dos Streptococcus pyogenes durante a terapêutica com betalactâmicos. Esses agentes não são considerados patógenos primários de infecções faríngeas, mas especula-se sobre a possibilidade de estarem associados a infecções persistentes e/ou recorrentes das tonsilas. O quadro clínico consiste em dor de garganta, disfagia, febre, gânglios submandibulares aumentados de volume e dolorosos à palpação, achados mais frequentes, além de eventualmente, náuseas e vômitos, dor abdominal e cefaleia. O exame físico mostra toda a orofaringehiperemiada, mucosa edemaciada, tonsilas palatinas com exsudato e criptas com pontos purulentos ou recobertos por secreções. A palpação cervical revela gânglios submandibulares aumentados e dolorosos. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 11 Infecção por EBHGA/GAS/GABHS As complicações da infecção pelo GAS resultam dos mecanismos supurativos mediados por toxinas ou imunomediadores. O GAS é capaz de elaborar pelo menos 20 substâncias extracelulares que afetam o tecido do hospedeiro. Entre as mais importantes estão a estreptolisina O e a S, que lisam eritrócitos e danificam outras células, como as do miocárdio. O GAS também produz toxinas eritrogênicas ou piogênicas, cuja atividade é similar a da endotoxina bacteriana, responsável pela apresentação clínica da escarlatina. A exotoxina A pode estar associada à síndrome do choque tóxico, e as bactericinas destroem outros microrganismos gram-positivos. O GAS é responsável por cerca de 20% das faringotonsilites agudas em crianças e adolescentes, começando a partir dos 2 ou 3 anos, com prevalência maior entre 5 e 15 anos. Principais sinais e sintomas clínicos da FT por GAS: • Início súbito da dor de garganta; • Idade: 5 a 15 anos; • Febre acima de 38,5ºC; • Cefaleia; • Náuseas, vômitos e dor abdominal; • Inflamação das tonsilas e faringe; • Exsudato faringotonsilar em placas; • Petéquias no palato; • Adenite cervical anterior; • História de exposição à faringite estreptocócica; • Exantema escarlatiniforme. Principais complicações da FT estreptocócica por GAS: • febre reumática; • glomerulonefrite aguda; • escarlatina; • bacteremia; • linfadenite cervical; • endocardite; • otite/mastodite; • meningite; • abcesso periamigdaliano/retrofaríngeo; • pneumonia; • pediatric autoimmune neuropsychiatric disorders associated with streptococcal infections (PANDAS). O diagnóstico clínico de FT estreptocócica pode ser muito difícil, quando limitado a critérios clínicos. O mesmo é feito com bases clínicas, epidemiológica e confirmado por exames laboratoriais, seja por meio de cultura (padrão ouro) ou por meio de detecção antigênica (teste rápido). O hemograma na fase aguda pode sinalizar se a infecção é viral ou bacteriana. Nas infecções bacterianas haverá leucocitose, com desvio à esquerda e neutrofilia. Na infecção pelo Epstein-Barr vírus (Mononucleose infecciosa) se destacam os linfócitos atípicos. Além do tratamento sintomático, com analgésico, antitérmico, hidratação, alimentação adequada, o tratamento com antibiótico (penicilina/amoxilina), nos casos de FT estreptocócica, é indicado com o objetivo de melhorar os sintomas da infecção aguda, diminuir o período de contágio e prevenir complicações supurativas, invasivas e não supurativas, principalmente a febre reumática (FR) e a glomerulonefrite. É preciso diferenciar entre recaída da infecção ou recorrência. Na recaída, o processo infeccioso ressurge por ação do mesmo agente infeccioso original, que não foi totalmente debelado. Ocorre na FT tratada com antibiótico inadequado ou com dose ou período de tempo insuficiente. A recorrência caracteriza-se por agente infeccioso diferente daquele que causou a infecção precedente, independente do intervalo entre os episódios. Nas FTs recorrentes quando o tratamento se mostrar ineficaz a tonsilectomia pode ser indicada, com análise dos critérios de Paradise – sete episódios agudos em um ano; cinco episódios por ano, em dois anos consecutivos; três episódios de infecção aguda, em três anos consecutivos. Tonsilite crônica: dor de garganta superior a três meses, associada a inflamação tonsila. Rinossinusite Processos infecciosos que acometem os seios paranasais, uma vez que, quase sempre, a rinite e a sinusite são doenças em continuidade. A rinite pode ocorrer isoladamente (alérgica ou infecciosa), entretanto, a sinusite raramente se desenvolve sem que haja rinite. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 12 Os seios frontal, etmoidal, esfeoidal e maxilar são cavidades situadas ao redor das fossas nasais, com as quais se comunicam através de canais e óstio. Embora a infecção dos seios paranasais envolva vários fatores locais, regionais ou sistêmicos, o fator predisponente mais comum da rinossinusite aguda é a infecção viral das vias respiratórias superiores. A inflamação e o edema do complexo ostiomeatal podem levar à obstrução dos óstios de drenagem dos seios paranasais, acarretando diminuição da oxigenação do seio, do movimento dos cílios e, consequentemente, do clearance mucociliar, estase de secreção e infecção. A maior dificuldade na prática diária é diferenciar a rinossinusite viral das rinossinusites alérgica e bacteriana secundária, principalmente nas crianças, que naturalmente são acometidas por infecções de vias respiratórias superiores com maior frequência que os adultos. A diferenciação entre os quadros viral e bacteriano é importante, pois, no segundo caso, pode ser indicado o tratamento com antibióticos. Durante o curso de uma infecção viral das vias respiratórias superiores, duas apresentações clínicas indicam infecção bacteriana secundária aguda: a persistência e a gravidade dos sintomas. A apresentação mais comum é a persistência dos sintomas. Em geral, o décimo dia de sintomas separa uma infecção viral de uma bacteriana, e o trigésimo dia separa a rinossinusite aguda de uma rinossinusite subaguda ou crônica. A maiorias das rinossinusites virais tem duração máxima de 5 a 7 dias. Embora o paciente possa não estar assintomático no décimo dia, já apresenta melhora significativa no quadro clínico. Otite média A otite média é a infecção da orelha média, da tuba auditiva e de celas da mastoide. Em geral, aparece subitamente, na maioria das vezes precedida por infecção viral das vias respiratórias superiores. A OMA pode ser causada por vírus ou bactéricas. Embora o diagnóstico de OMA tenha por base um conjunto de sintomas e sinais clínicos – otalgia, febre, irritabilidade, choro e inapetência –, as características da membrana timpânica observadas à otoscopia são os sinais diagnósticos mais importantes. Os principais achados a serem verificados na otoscopia são abaulamento, perda da transparência e alteração na cor (hiperemiada, amarelada ou esbranquiçada). Laringites A laringite aguda catarral é afecção de etiologia viral e acompanha os processos infecciosos das vias respiratórias superiores. O agente etiológico mais comum é o vírus parainfluenza 1. Entretanto, podem estar implicados outros vírus, como parainfluenza 3, influenza A, rinovírus, sincicial respiratório e, mais raramente, Mycoplasma pneumoniae. O diagnóstico se baseia na história clínica e no exame físico. O quadro clínico se caracteriza por tosse rouca, febre baixa, disfonia, dor, irritação na garganta e, menos comumente, dispneia e estridor inspiratório. Para a resolução do processo costumam ser suficientes medidas de apoio, como hidratação, umidificação das vias respiratórias com vapor d’água, repouso vocal e o afastamento de possíveis fatores irritantes (principalmente tabagismo domiciliar e poluentes ambientais). A epiglotite ou laringite supraglótica é infecção bacteriana da laringe supraglótica, causada pelo Haemophilus influenzae b (Hib), que acomete crianças entre 2 e 6 anos de idade. Doença potencialmente fatal, manifesta-se por febre alta, dor de garganta e sialorreia, que em poucas horas progride para dispneia e estridor inspiratório, ao exame de imagem (RX) revela maior volume da epiglote. A laringite estridulosa, também conhecida como laringite sufocante da infância ou subglótica, caracteriza-se por episódio súbito de dispneia noturna, progressiva, acompanhada de tosse rouca, cornagem, estridore retração intercostal. O paroxismo da tosse é seguido de vômitos que provocam a cessação do ataque. Geralmente, acomete crianças entre 1 e 4 anos de idade, em episódios isolados, ou repetindo-se durante duas a três noites. Embora fatores associados, como hiperplasia de vegetações adenoideanas, infecções de vias respiratórias superiores e alergia respiratória, possam acompanhar o quadro, sabe-se que a maioria dessas crianças apresenta algum grau de refluxo gastresofágico. A simples umidificação da vias respiratórias por meio de nebulizações com soro fisiológico é suficiente para aliviar os sintomas da crise, e medidas e tratamento medicamentoso antirrefluxo gastresofágico costumam prevenir suas recidivas. Referências: • Tratado Brasileiro de Pediatria; • Tratado Brasileiro de Otorrinolaringologia; • Salomão – Infectologia: Bases clínicas e tratamento; 4) DIFERENCIAR A FARINGOAMIDALITE, GRIPE E RESFRIADO; Resfriado comum, gripes e alergias respiratórias são doenças que apresentam incidência muito elevada durante toda a infância, principalmente nos meses de inverno. Devido aos sintomas serem semelhantes, torna-se difícil diferenciar, principalmente nos lactentes e pré-escolares, quando a criança está “sempre gripada” ou apresenta quadro “alérgico de Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 13 repetição”, porém, é necessário estar atento para as características de cada uma delas. No Resfriado Comum os principais agentes são os vírus: Sincicial respiratório (VSR), Adenovirus e Rinovirus. O quadro de resfriado inicia com dor de garganta, febre baixa, tosse seca, espirros e coriza hialina, porém, o estado geral é muito bom e apresenta duração de poucos dias. O tratamento baseia-se somente em medicamentos sintomáticos como analgésicos, antitérmicos, soro fisiológico nasal e ingestão de muito líquido. Em crianças prematuras com menos de um ano, crianças portadoras de cardiopatias ou de doenças pulmonares crônicas pode ser feita a vacina contra o VSR, em doses mensais no período de inverno. A Gripe é causada pelos vírus Influenza (A, B, C), podendo ocorrer na forma de epidemias anuais, ou ter abrangência mundial como a Gripe A (H1N1) no ano de 2009, com taxa de mortalidade elevada. Na maioria dos países de clima tropical pode incidir em qualquer período do ano, porém, em locais de clima temperado é um agente típico do inverno. Os sintomas da gripe são mais intensos que o de um resfriado comum, iniciando de forma repentina (súbita) com: coriza, espirros, tosse, lacrimejamento, dor de cabeça, dores musculares, perda de apetite, febre alta e dores de garganta. Ocorre comprometimento do estado geral com duração de 7 a 10 dias, podendo evoluir com complicações como: otites e sinusites, causadas por inchaço das estruturas nasais gerando bloqueio na saída das secreções e levando a rinosinusite aguda e menos frequentemente broncopneumonias. Em crianças de baixa idade como o sistema imunológico encontra-se em desenvolvimento, as infecções virais são mais frequentes, associadas à exposição a múltiplos agentes infecciosos nas creches, fazendo com que esse quadro se repita várias vezes por ano. A Rinite Alérgica é uma doença inflamatória nasal que tem como sintomas: espirros seguidos, prurido nasal e/ou ocular, coriza e obstrução nasal. Aparecem por dois ou mais dias consecutivos ou até tornar persistente quando os sintomas ultrapassam 4 semanas, podendo comprometer as atividades diárias, influenciando no sono e causando ausência à escola. Estima-se que até 40% da população mundial apresenta algum sintoma alérgico. Nas últimas décadas tem se observado que 3,2 a 66% dos escolares e adolescentes apresentam rinossinusites alérgica em todo o mundo. A rinite alérgica é desencadeada por alérgenos tais como: ácaros da poeira domiciliar, pelos de animais (cães e gatos), fungos, baratas e pólen de gramíneas na região sul do Brasil. Essa inflamação alérgica pode piorar quando ocorre exposição a agentes irritantes do ambiente como: fumaça de cigarro, uso de produtos com cheiro forte e poluentes, bem como as mudanças bruscas de temperatura. A exposição da criança alérgica a vírus e bactérias (principalmente nas creches e escolas) desencadeia com frequência as rinossinusites passando a impressão que o paciente está “sempre gripado”. Embora o diagnóstico de rinite alérgica em lactentes e pré escolares seja difícil de ser estabelecido, a presença de sintomas diários por mais de 2 semanas com história pessoal e familiar de alergia, sugere fortemente o diagnóstico. Por este motivo é importante a consulta ao pediatra alergista para que os alérgenos envolvidos sejam identificados e as medidas de controle ambiental sejam realizadas. Referências: • Sociedade Brasileira de Pediatria – Departamento de Alergia e Imunologia, 2011: Diferenças entre resfriado comum, gripe e alergia respiratória. 5) DEFINIR TERAPIAS ANTIMICROBIANA PROFILÁTICA, EMPÍRICA E DIRIGIDA; Terapia antimicrobiana é a administração de antimicrobianos em pacientes com sinais e sintomas clínicos de infecção, tendo como finalidade a cura de doença estabelecida ou combater um agente infeccioso situado em determinado foco. As aplicações dos antimicrobianos são definidas, essencialmente, com base no conhecimento do microrganismo infectante e no tipo de atividade pretendida, se curativa ou profilática. O uso profilático é aceito quando se deseja prevenir uma infecção em situações onde há risco elevado, obedecendo a critérios bem definidos de análise de benefício para sua instalação. A terapia antimicrobiana pode ser específica/dirigida ou empírica: a específica é executada mediante identificação do microrganismo por meio de teste laboratorial ou quando a manifestação clínica é característica deste microrganismo; a presuntiva, ou empírica, é guiada pelo possível agente infeccioso que é prevalente naquele tipo de manifestação clínica. Terapia específica é o procedimento preferencial. Em casos graves, admite-se a terapia empírica, sobretudo se o prazo requerido para a realização dos testes laboratoriais representar risco significativo ao paciente. Contudo, devido às dificuldades de isolamento do microrganismo e descrição de sua sensibilidade, a terapia empírica é usualmente empregada, por vezes, de forma excessiva. A terapia empírica deve ser Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 14 baseada em dados epidemiológicos, potencial patogênico e padrão de suscetibilidade microbiana. Essa conduta pode ser exemplificada pela abordagem sindrômica no tratamento das doenças sexualmente transmissíveis. A profilaxia antimicrobiana pode ser cirúrgica ou não-cirúrgica (clínica). Aproximadamente 30 a 50% dos antimicrobianos utilizados em meio hospitalar se destinam à profilaxia cirúrgica, sendo estimado em 30 a 90% a taxa de uso inadequado, nesses casos. A profilaxia antimicrobiana, em cirurgia, é definida como o uso de antimicrobianos para prevenção de infecções no sítio cirúrgico. O procedimento é justificado quando há risco conhecido de complicações infecciosas e(ou) quando as consequências de uma infecção forem graves e representarem custo significativo ao tratamento. A profilaxia clínica (ou não-cirúrgica) consiste na administração de um antimicrobiano antes, durante ou imediatamente após exposição a um agente infeccioso. Está indicada para prevenir o desenvolvimento de infecção sintomática ou a propagação de uma doença. Referências: • Conselho Federal de Farmácia (CFF/CEBRIM) – Farmacoterapêutica, 2006: Ações que estimulam o uso racional de antimicrobianos. 6) ESTUDAR OS DIFERENTES MODOS DOS AGENTES MICROBIANOS E MEDIDAS DE PRECAUÇÃO (PROFILAXIA PRÉ E PÓS EXPOSIÇÃO). Formas possíveis de transmissão de doenças:• Mecânica; • Oral; • Fecal-oral; • Sexual; • Vetorial. Transmissão mecânica direta Indivíduo para indivíduo por contato interpessoal próximo. Outro hospedeiro expele partículas do agente na sua respiração ou através da pele e o novo hospedeiro recebe o agente imediatamente, por gotículas ou contato direto com o doente. O ambiente não fica contaminado. Transmissão mecânica alternativa – residual Formas de resistência dos agentes entram em contato direto com o indivíduo íntegro por estarem no solo ou no ar após serem produzidos por outros doentes/reservatórios. Pode ser por inalação, contato com a pele ou ingestão. O ambiente é contaminado. Existem alguns micro-organismos capazes de adotar formas esporuladas ou simplesmente de resistir às condições adversas do ambiente. O bacilo de Koch (tuberculose humana) é capaz de resistir meses no pó de um cômodo. O esporo do bacilo carbuncoso ou do bacilo tetânico pode resistir por anos no solo. Transmissão mecânica alternativa – hospedeiro vulnerável As formas do agente estão no ambiente, mas precisam ultrapassar uma barreira do indivíduo que normalmente o protege. Trata-se de agente que penetram por abrasões ou quebras de integridade de pele e mucosas. Ocorre a transmissão apenas para o indivíduo vulnerável. O ambiente é contaminado. Transmissão oral Ocorre quando o agente está intrinsecamente associado a algum alimento. Depende da ingestão crua dos alimentos, geralmente são eliminados por técnicas de pasteurização. Transmissão fecal-oral O agente é eliminado por doentes e contamina água e alimentos através de falha de saneamento. Há uma nítida relação com a fonte de exposição e a presença de doentes. Há um típico período de incubação. Pode ocorrer em áreas saneadas por agentes especialmente resistentes ou por reservatórios constantes. Transmissão vetorial Ocorre quando o agente tem parte de seu ciclo vital em um artrópode hematófago (inseto ou outros artrópodes), sendo uma forma de transmissão muito eficiente. A inoculação pode ser cutânea, subcutânea ou endovenosa. A doença pode ser aguda, subaguda ou crônica. Transmissão sexual São agentes que necessitam de um contato direto e intimo para sua transmissão. Embora patogênicos, sua infecciosidade ambiental é reduzida e somente a transmissão por contato íntimo como o contato sexual garante a transmissão. Cada agente tem uma preferência e sensibilidade. Às vezes, são de fácil transmissão como na mononucleose e o beijo, outras vezes são de transmissão mais difícil necessitando quebra da barreira, como no HIV. Transmissão completa Uma doença pode ter várias formas de transmissão. Pode começar fecal-oral e virar sexual, como hepatite. Pode iniciar fecal-oral e virar vetorial, como doença de chegas. Pode ser associada a várias formas de transmissão. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 15 Transmissão vertical A transmissão vertical ocorre quando a criança é infectada por alguma patologia durante a gestação (de mãe para filho), parto, e em alguns casos durante toda amamentação. Profilaxia: Conjunto de medidas que têm por finalidade prevenir ou atenuar as doenças, suas complicações e consequências. Profilaxia viral e bacteriana Prevenir-se de doenças virais não é uma tarefa fácil, uma vez que existem diversos vírus, os quais podem ser transmitidos de diferentes formas. Dicas para evitar doenças virais: • Lavar sempre as mãos, principalmente antes de se alimentar e após ir ao banheiro; • Não compartilhar copos e talheres; • Lavar sempre os alimentos, dando atenção especial àqueles que serão consumidos in natura; • Alimentar-se apenas em locais que obedecem às normas da Vigilância Sanitária; • Utilizar camisinha em todas as relações sexuais para se prevenir de infecções transmitidas por meio da relação sexual, como a infecção por HIV; • Utilizar repelentes em áreas com grande quantidade de mosquitos, dando atenção especial às regiões que apresentam mosquitos Aedes aegypti; • Vacinar-se obedecendo às orientações dos calendários de vacinação. Uma grande variedade de doenças pode ser prevenida com a vacina, como a gripe, raiva, sarampo e catapora; • Evitar aglomerações de pessoas em épocas de surtos de determinadas doenças. Em surtos de gripe, por exemplo, deve-se evitar locais fechados e com muitas pessoas; • Evitar contato com pessoas doentes; • Alimentar-se bem e realizar exercícios físicos, pois esses hábitos estão relacionados com o fortalecimento do sistema imunológico. O uso dos antibióticos para fins profiláticos tem sido indicado basicamente nas seguintes situações: (1) quando a infecção a ser prevenida é bastante comum embora não ponha em risco a vida do paciente ou (2) que são meios que o sistema imunológico usa para livrar o corpo de infecções do organismo. Meningite por meningococo A quimioprofilaxia, embora não assegure efeito protetor absoluto e prolongado, tem sido adotada como medida eficaz na prevenção de casos secundários. Os casos secundários são raros e, geralmente, ocorrem nas primeiras 48 horas a partir do primeiro caso. O risco de doença entre os contatos próximos é maior durante os primeiros dias após o início da doença, o que requer que a quimioprofilaxia seja administrada o mais rápido possível. Está indicada para os contatos próximos de casos suspeitos de doença meningocócica (meningite meningocócica). Contatos próximos são os moradores do mesmo domicílio, indivíduos que compartilham o mesmo dormitório (em alojamentos, quartéis, entre outros), comunicantes de creches e escolas, e pessoas diretamente expostas às secreções do paciente. A quimioprofilaxia também está indicada para o paciente no momento da alta ou na internação no mesmo esquema preconizado para os contatos próximos, exceto se o tratamento da doença foi realizado com ceftriaxona. Não há recomendação para os profissionais da área de saúde que atenderam o caso de doença meningocócica, exceto para aqueles que realizaram procedimentos invasivos (intubação orotraqueal, passagem de cateter nasogástrico) sem utilização de equipamento de proteção individual (EPI) adequado. O antibiótico de escolha para a quimioprofilaxia é a rifampicina, que deve ser administrada em dose adequada e simultaneamente a todos os contatos próximos, preferencialmente até 48 horas da exposição à fonte de infecção (doente), considerando o prazo de transmissibilidade e o período de incubação da doença. Meningite por Haemophylus influenzae O risco de doença invasiva por H. influenzae tipo b entre os contatos próximos é maior durante os primeiros dias após o início da doença, o que requer que a quimioprofilaxia seja administrada o mais rápido possível. Os casos secundários são raros, e podem ocorrer dentro de 60 dias após contato com o paciente. A taxa de ataque secundária é maior entre os contatos domiciliares menores de 4 anos de idade não imunizados. • No domicílio, para os contatos próximos, de qualquer idade, que tenham pelo menos um contato com criança menor que 4 anos não vacinada ou parcialmente vacinada, ou com criança imunocomprometida, independentemente da situação vacinal. Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 16 • Em creches e escolas maternais, está indicada quando dois ou mais casos de doença invasiva ocorreram em um intervalo de até 60 dias. Nessa situação, a quimioprofilaxia deve ser prescrita para todas as crianças, independentemente da idade ou do status vacinal, e para os cuidadores. • Também é indicada para o doente em tratamento, caso não esteja recebendo cefalosporina de terceira geração. O antibiótico de escolha para a quimioprofilaxia é a rifampicina, que deve ser administrada em dose adequada e simultaneamente a todos os contatospróximos, preferencialmente até 48 horas da exposição à fonte de infecção (doente), considerando o prazo de transmissibilidade e o período de incubação da doença. A rifampicina é recomendada para a quimioprofilaxia porque atinge altas concentrações nas secreções respiratórias e erradica o H. influenzae tipo b da nasofaringe de aproximadamente 95% dos portadores. Profilaxia secundária para Febre Reumática: A profilaxia secundária consiste na administração contínua de antibiótico específico ao paciente portador de Febre Reumática (FR) prévia ou cardiopatia reumática comprovada, com o objetivo de prevenir colonização ou infecção de via aérea superior pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBGA), com consequente desenvolvimento de novos episódios da doença. A profilaxia secundária regular previne recorrências da doença e reduz a severidade da cardiopatia residual, de modo a prevenir, consequentemente, mortes decorrentes de valvopatias severas. A quimioprofilaxia secundária deverá ocorrer até os 21 anos ou 5 anos após o último surto, valendo o que cobrir maior período. Profilaxia para ITU recorrente: contínua ou pós-coito (mulher). PEP (Profilaxia Pós-Exposição de Risco) A PEP é uma medida de prevenção de urgência para ser utilizada em situação de risco à infecção pelo HIV, existindo também profilaxia específica para o vírus da hepatite B e para outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). Consiste no uso de medicamentos ou imunobiológicos para reduzir o risco de adquirir essas infecções. Deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de contágio, tais como: • Violência sexual; • Relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com seu rompimento); • Acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico). A PEP é uma tecnologia inserida no conjunto de estratégias da Prevenção Combinada, cujo principal objetivo é ampliar as formas de intervenção para atender às necessidades de cada pessoa ou ainda das possibilidades de inserir o método preventivo na sua vida. Essas medidas visam evitar novas infecções seja pelo HIV ou pela hepatite B e outras IST. Como funciona a PEP para o HIV? Como profilaxia para o risco de infecção pelo HIV, a PEP tem por base o uso de medicamentos antirretrovirais com o objetivo de reduzir o risco de infecção em situações de exposição ao vírus. Trata-se de uma urgência médica e deve ser iniciada o mais rápido possível - preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição de risco e no máximo em até 72 horas. A profilaxia deve ser realizada por 28 dias e a pessoa tem que ser acompanhada pela equipe de saúde, inclusive após esse período realizando os exames necessários. PREP (Profilaxia Pré-Exposição de Risco) Uma das formas de se prevenir do HIV é a PrEP, a Profilaxia Pré-Exposição. Ela consiste na tomada de comprimidos antes da relação sexual, que permitem ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV. A pessoa em PrEP realiza acompanhamento regular de saúde, com testagem para o HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Como a PrEP funciona? A PrEP é a combinação de dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que bloqueiam alguns “caminhos” que o HIV usa para infectar o organismo. Existem duas modalidades de PrEP indicadas: a PrEP diária e a PrEP sob demanda. PrEP diária: consiste na tomada diária dos comprimidos, de forma contínua, indicada para qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade ao HIV PrEP sob demanda: consiste na tomada da PrEP somente quando a pessoa tiver uma possível exposição de risco ao HIV. Deve ser utilizada com a tomada de 2 comprimidos de 2 a 24 horas antes da relação sexual, + 1 comprimido 24 horas após a dose inicial de dois Ana Beatriz Figuerêdo Almeida - Medicina 2023.1 Página | 17 comprimidos + 1 comprimido 24 horas após a segunda dose. A PrEP sob demanda é indicada para pessoas que tenham habitualmente relação sexual com frequência menor do que duas vezes por semana E que consigam planejar quando a relação sexual irá ocorrer. Além disso, as evidências científicas garantem a segurança e eficácia da PrEP sob demanda somente para algumas populações. São elas: homens cisgêneros heterossexuais, bissexuais, gays e outros homens cisgêneros que fazem sexo com homens (HSH), pessoas não binárias designadas como do sexo masculino ao nascer, e travestis e mulheres transexuais - que não estejam em uso de hormônios à base de estradiol. Algumas situações que podem indicar o uso da PrEP: • Frequentemente deixa de usar camisinha em suas relações sexuais (anais ou vaginais); • Faz uso repetido de PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV); • Apresenta histórico de episódios de Infecções Sexualmente Transmissíveis; • Contextos de relações sexuais em troca de dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia, etc. • Chemsex: prática sexual sob a influência de drogas psicoativas (metanfetaminas, Gama-hidroxibutirato (GHB), MDMA, cocaína, poppers) com a finalidade de melhorar e facilitar as experiências sexuais. Referências: • Ministério da Saúde – Guia de vigilância em saúde, 5ª ed, 2022.
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