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W BA 08 63 _V 1. 0 PREVENÇÃO E CONTROLE DE RISCOS EM MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES II 2 Joubert Rodrigues dos Santos Júnior São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 PREVENÇÃO E CONTROLE DE RISCOS EM MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES II 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Nirse Ruscheinsky Breternitz Revisor Lucas dos Santos Araujo Claudino Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Santos Júnior, Joubert Rodrigues dos S237p Prevenção e controle de riscos em máquinas, equipamentos e instalações II / Joubert Rodrigues dos Santos Júnior, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 44 p. ISBN 978-65-89965-32-9 1. Instalações elétricas. 2. Riscos elétricos. 3. NR-10. I. Título. CDD 621.389 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB-8 SP-010289/O © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Disposições gerais de segurança com eletricidade ___________ 05 Segurança dos dispositivos e sistemas elétricos ______________ 19 Prontuário das instalações elétricas __________________________ 33 Métodos de análise risco para atividades com eletricidade __ 47 PREVENÇÃO E CONTROLE DE RISCOS EM MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES II 5 Disposições gerais de segurança com eletricidade Autoria: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Leitura crítica: Lucas dos Santos Araujo Claudino Objetivos • Apresentar uma breve contextualização com a questão de segurança em intervenções com eletricidade. • Aprimorar os conceitos sobre os riscos com eletricidade. • Discutir sobre a capacitação, qualificação e habilitação dos profissionais que interagem com eletricidade. • Conscientizar sobre a importância da gestão da NR- 10. 6 1. Riscos elétricos A eletricidade está presente no dia a dia das pessoas, sendo utilizada em todos os setores da economia: entretenimento, por meio do esporte, festas, cinema e teatros; na cadeia logística como um todo, representado pelos aeroportos, portos, linhas de metrô, trens e transporte terrestre; no bem-estar doméstico, proporcionando o conforto por meio do banho quente, da temperatura agradável e no armazenamento dos alimentos; no setor de serviços, por meio da iluminação pública, telefonia, internet, tratamento e bombeamento de água potável. E, principalmente, na cadeia industrial como um todo, desde a extração de matéria-prima, insumos, preparação, fabricação, processamento e comercialização. A eletricidade sob controle proporciona apenas benefícios para o ser humano. Sua utilização de forma inadequada, ou sem controle, potencializa acidentes, gerando lesões graves, podendo inclusive levar à morte. A grande questão é que a eletricidade é invisível aos nossos olhos, e o que percebemos é a sua transformação em outras formas de energia e sentimos seus efeitos, ou seja, a transformação da eletricidade em energia luminosa, energia térmica, ou em força motriz. Os efeitos indesejáveis gerados pela eletricidade, geralmente são divididos em três: choque elétrico; arco elétrico; e efeitos indiretos por meio de riscos adicionais. No Brasil, a Norma Regulamentadora de número 10 (NR-10) (BRASIL, 2019) é a principal diretiva a ser observada pelos profissionais que interagem com eletricidade. A NR-10 descreve as medidas de controle desde a fase de geração até o consumo, incluindo todas as etapas de interação, do projeto, operação e manutenção. 7 1.1 Choque elétrico A ABNT NBR 5410:2004 (ABNT, 2004) em seu item 3, descreve o choque elétrico como: [...] Uma perturbação de natureza e efeitos diversos que se manifesta no corpo humano, quando por ele circula uma corrente elétrica. Isto acontece porque o corpo humano é ou se comporta como um condutor elétrico, que possui, inclusive uma resistência. (ABNT, 2004, [s.p.]) Resumindo, choque elétrico ocorre toda vez que a corrente elétrica circula pelo corpo humano, gerando três efeitos sequenciais, representados pela Figura 1. Figura 1 – Efeitos do corrente elétrica no corpo humano Fonte: elaborada pelo autor. A primeira resposta do corpo humano, ao circular uma corrente elétrica, é a contração muscular. Por isto que, popularmente, dizemos que determinada pessoa ficou presa na fonte que está gerando a corrente elétrica. Este fato acontece, pois, enquanto a corrente elétrica estiver circulando pelo corpo humano, o próprio impulso elétrico contrai os músculos da mão, que acaba segurando a fonte geradora. 8 Sabemos que a corrente elétrica pode ser dissipada na forma de calor, por este motivo, em segunda instância, ocorrem as queimaduras. A gravidade da queimadura é classificada em função de sua profundidade, podendo ser de 1°, 2° e 3° grau. A queimadura de 3° grau atinge todas as camadas da pele, podendo chegar até aos ossos. As queimaduras ainda potencializam infecções graves, o que é um dos motivos do choque elétrico ser tão grave. Em último estágio, a permanência da corrente elétrica no corpo humano pode levar à morte. Se a corrente elétrica circular pelo coração ou pela cabeça, a morte poderá ser instantânea. A gravidade do choque elétrico está relacionada com o tipo de contato com a fonte geradora: contato direto ou contato indireto. O contato direto é quando existe o toque em elementos de circuito que foram projetados para circular corrente elétrica, como barramentos de painéis elétricos e cabos energizados. O contato indireto é quando o toque é em um elemento não projetado para conduzir corrente elétrica, mas, em função de uma falha de isolação passa a conduzir. Por exemplo, ao encostar em uma carcaça de uma máquina de lavar roupa. Neste caso, o choque elétrico é menos intenso, o que não quer dizer que é menos perigoso. Os efeitos do choque elétrico no corpo humano podem variar de pessoa para pessoa, em função de fatores distintos, que isoladamente ou em conjunto, potencializam os efeitos no corpo humano. Os fatores são: • Intensidade da corrente elétrica. • Resistência do corpo humano. • Percurso da corrente elétrico pelo corpo humano. • Duração do choque elétrico. 9 Quanto maior for a corrente elétrica, mais perigosa ela se torna. O corpo humano possui uma resistência natural e, quanto menor for a resistência do corpo humano, maior será o dano da corrente elétrica. Se a corrente elétrica circular pelo coração ou pela cabeça, dos danos normalmente são irreversíveis. E quanto mais tempo a corrente elétrica circular pelo corpo humano, maior o risco de queimaduras graves que podem levar a morte. 1.2 Arco elétrico O arco elétrico destaca-se pelo seu alto poder de destruição em função da energia liberada, e sem dúvida é extremamente danoso para os trabalhadores que interagem com eletricidade. Ele podeser definido como a passagem da corrente elétrica por meio do ar ionizado, conforme Santos Junior (2019). Conhecer a energia incidente liberada pelo arco elétrico é muito importante para especificação dos equipamentos de proteção individual. A energia incidente é a energia liberada de um arco elétrico e é expressa em cal/cm². Para determinar a energia incidente é realizado o estudo de ATPV (Arc Thermal Performance Value) baseado na norma NFPA 70E:2018 – (Standard for Electrical Safety in the Workplace) (NFPA, 2018). Este estudo é realizado por um profissional habilitado com atribuições relacionadas com elétrica. O profissional de segurança do trabalho analisa os resultados deste estudo e especifica os equipamentos de proteção individual. 1.3 Riscos adicionais Os riscos adicionais estão correlacionados com as atividades que os profissionais que interagem com eletricidade executam. Muitas destas atividades apresentam riscos específicos que, somados aos riscos inerentes a atividades com eletricidade (choque elétrico e arco elétrico), 10 potencializam o risco. São considerados riscos adicionais os trabalhos executados em altura, em locais confinados, em áreas úmidas, além da exposição à animais peçonhentos. Muitas das atividades executadas pelos profissionais da área de elétrica são realizados em altura, principalmente as atividades de instalação e manutenção na rede elétrica de alta tensão. Nesta situação, o profissional fica exposto ao risco de queda. Dutos subterrâneos, silos, tanques, são exemplos de locais confinados. Nestes locais, geralmente são instalados sensores, iluminação e cabeamento. O risco de explosão é presente em ambientes confinados e os dispositivos eletroeletrônicos podem tornar uma fonte de ignição e desencadear uma explosão, por este motivo o trabalho nestes locais é considerado um risco adicional para o profissional. A água pode conduzir eletricidade, devido às impurezas e sais minerais presentes. Por este motivo, eletricidade e umidade não combinam, tornando-se um risco adicional para os profissionais que interagem com eletricidade. A eletricidade gera calor, por este motivo, os quadros elétricos, tubulações, áreas externas com equipamentos elétricos, como os transformadores, são locais favoráveis para animais peçonhentos, gerando risco adicional aos profissionais. Os riscos adicionais devem ser mapeados pela organização, com objetivo de elaborar procedimentos operacionais e de segurança específicos para trabalhos relacionados com eletricidade, além de mapear os treinamentos adicionais necessários que deverão ser ministrados para os profissionais que interagem com eletricidade. 11 2. Capacitação, qualificação e habilitação para trabalhos com eletricidade As intervenções em instalações elétricas somente podem ser realizadas por profissionais capacitados, qualificados e habilitados na área de elétrica. No Brasil, de acordo com a NR-10 (BRASIL, 2019) todos os profissionais que interagem com eletricidade devem participar de treinamento de capacitação para riscos com eletricidade. Sabemos que as atividades relacionadas com eletricidade são de alto risco, por isto a importância de garantir que somente profissionais com atribuições na área de elétrica sejam autorizados a intervir em instalações elétrica. São profissionais qualificados com registro ativo no conselho de classe. São profissionais com formação em curso técnicos, de tecnologia e ou cursos superiores na área de elétrica. Importante ressaltar que obrigatoriamente os profissionais devem estar com o registro ativo no CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) ou no CFT (Conselho Federal dos Técnicos Industriais). Figura 2 – Profissionais habilitados Fonte: elaborada pelo autor. 12 O profissional da área de segurança do trabalho deve ficar atento sobre as atribuições profissionais determinadas pelos conselhos de classes. Exemplo, um técnico em eletrônica possui atribuições profissionais para intervenções em instalações elétricas de baixa tensão (tensão inferior a 1.000 Volts), mas não possui atribuições para intervenções em alta tensão (tensão superior a 1.000 Volts). Geralmente, em uma indústria, os dois níveis de tensão estão presentes, desta forma, o técnico em eletrônica somente pode ser autorizado a intervir na rede elétrica de baixa tensão. A NR-10 (BRASIL, 2019) estabelece que o profissional qualificado é aquele que comprovar a conclusão de um curso na área de elétrica reconhecido pelo Sistema Oficial de Ensino, ou seja, pelo MEC (Ministério da Educação). A ABNT NBR 5410:2004 (ABNT, 2004), a partir de sua tabela 18, descreve que os profissionais qualificados são aqueles com conhecimento técnico e cita os engenheiros e técnicos como exemplo. O profissional capacitado é aquele que deve atender simultaneamente, as condições estabelecidas pela Figura 3. Os cursos de capacitação são aqueles com carga horária pequena, denominados pelo MEC como cursos livres, podendo ser oferecidos por instituições credenciadas ou não pelo ministério. Os cursos de eletricista montador, eletricista industrial, eletricista de manutenção, são alguns exemplos de cursos de capacitação. 13 Figura 3 – Requisitos para um profissional capacitado Fonte: elaborada pelo autor. Além dos requisitos de capacitação e qualificação técnica, os profissionais que interagem com eletricidade devem cursar os seguintes treinamentos estabelecidos pela NR-10 (BRASIL, 2019): • Curso básico: Segurança em instalações e serviços com eletricidade. • Curso complementar: Segurança no sistema elétrico de potência. Ambos os cursos devem possuir uma carga horária mínima de 40 horas. A NR -10 (BRASIL, 2019) estabelece que os cursos devem ser refeitos de dois em dois anos e sempre que ocorrerem as seguintes situações: [...] a) troca de função ou mudança de empresa; b) retorno de afastamento ao trabalho ou inatividade, por período superior a três meses; c) modificações significativas nas instalações elétricas ou troca de métodos, processos e organização do trabalho. (BRASIL, 2019, p. 8) 14 De acordo com Santos Junior (2016), o profissional autorizado é aquele que possui autorização formal da empresa para exercer suas atividades. Essa autorização deve ser compatível com a descrição do cargo do funcionário para evitar desvio de função. A título de exemplo, um determinado profissional, com formação em técnico de eletrotécnica, porém, registrado na empresa como supervisor de logística, é alguém qualificado, mas não está autorizado a intervir nas instalações elétrica da empresa, pois seu registro atual é como supervisor de logística. Se ele realizar qualquer atividade relacionada com eletricidade, caracteriza desvio de função, gerando um passivo trabalhista – desta, o profissional de segurança do trabalho deve ficar atento as essas situações. A Figura 4 ilustra as condições necessárias para trabalhar com eletricidade no Brasil. Figura 4 – Condições necessárias para interagir com eletricidade Fonte: elaborada pelo autor. A comprovação da capacitação, qualificação e habilitação dos profissionais que interagem com eletricidade é obrigatória, sendo item de auditorias e fiscalizações. O Quadro 1 apresenta os requisitos que o profissional de segurança do trabalho deve garantir referente aos profissionais que interagem com eletricidade, pensando em uma gestão ativa da NR-10. 15 Quadro 1 – Documentação para gestão da NR-10 referente aos profissionais Item Requisitos Descrição 1 Comprovação de capacitação técnica. Solicitar os certificados dos cursos de capacitação técnica. 2 Comprovação da qualificação. Solicitar o certificado dos cursos técnicos, tecnólogos ou superiores (engenharia). Importante solicitar o histórico escolar. 3 Comprovação da habilitação. Solicitar a certidão de registro junto ao conselho de classe. Atenção: obrigatoriamente o profissional deverá estar com a anuidade em dia no conselho. 4 Cursos da NR-10. Solicitaro certificado do curso de 40 horas do curso básico ou do curso do sistema elétrico de potência e o último certificado dos cursos de reciclagem. Fonte: elaborado pelo autor. Toda esta documentação deverá ser arquivada no Prontuário das Instalações Elétricas. A recomendação é que cada profissional tenha sua pasta no prontuário com suas respectivas documentações, facilitando desta forma a gestão. Muitas destas documentações ficam sob a responsabilidade do departamento de Recursos Humanos, porém a NR- 10 exige uma cópia no Prontuário das Instalações Elétricas. 3. Riscos de incêndio gerado por eletricidade A potência elétrica pode ser transformada calor, sendo a principal causa de incêndios no Brasil. Infelizmente, as instalações e manutenções elétricas inadequadas, potencializam o risco de incêndio relacionado com eletricidade. As ampliações do sistema elétrico das edificações sem projetos ou estudo técnico, além da desqualificação dos profissionais 16 responsáveis por estas instalações agravam ainda mais a situação. Os incêndios podem ocasionar grandes prejuízos devido à paralisação das atividades de produção, danos patrimoniais da empresa, além de colocar em risco vidas humanas. As principais causas de incêndios originados na rede elétrica são: • Curto-circuito. • Sobrecarga. • Sistema de proteção mal dimensionado. O curto-circuito é quando pontos distintos de um circuito elétrico entram em contato, gerando um ponto para fluxo de alta corrente elétrica, com potencial de iniciar um princípio de incêndio em função da alta temperatura no ponto de contato e a fusão de materiais. As principais causas do curto-circuito são a degradação do material dielétrico, danos mecânicos ao material isolante e utilização de conexões inadequadas. A sobrecarga é passagem da corrente elétrica acima da capacidade do sistema, por exemplo, um cabo que foi dimensionado para conduzir 10 ampères e na verdade está conduzindo 20 ampères, elevando, desta forma, a temperatura do condutor e da vizinhança. O sistema de proteção de uma rede elétrica é dimensionado para atuar de forma rápida sempre que identificado um curto-circuito ou uma sobrecarga. O sistema mal dimensionado não atua de forma adequada, potencializando o risco de incêndio. A Figura 5 ilustra um princípio de incêndio em uma tomada sobrecarregada. 17 Figura 5 – Ilustração de fogo na rede elétrica Fonte: chonticha wat/iStock.com. Para diminuir o risco de incêndio, é fundamental a elaboração periódica de laudo das instalações, incluído a análise termográfica. A termografia consegue identificar pontos de aquecimento de uma instalação elétrica, conforme demostra a figura 6. Por este motivo, a manutenção preventiva é uma ferramenta de prevenção de acidentes relacionados à eletricidade. Figura 6 – Imagem termográfica Fonte: Marccophoto/iStock.com. 18 Uma boa gestão dos riscos elétricos passa pela utilização de técnicas relacionadas com manutenção preventiva, boas práticas de instalação, em conjunto com procedimentos operacionais e de segurança, além de profissionais adequadamente capacitados, diminuindo desta forma os acidentes. Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5410: Instalações Elétricas de Baixa Tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR-10. Segurança em instalações e serviços em eletricidade. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/ images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-10.pdf. Acesso em: 2 abr. 2021. NFPA. National Fire Protection Association. NFPA70E: Standard for Electrical Safety in the Workplace. 2018. SANTOS JÚNIOR, Joubert R. dos. NR-10 Segurança em Eletricidade: uma visão prática. 2. ed. São Paulo: Érica, 2016. 19 Segurança dos dispositivos e sistemas elétricos Autoria: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Leitura crítica: Lucas dos Santos Araujo Claudino Objetivos • Apresentar uma breve contextualização sobre o sistema elétrico industrial. • Discutir sobre dispositivos elétricos para proteção contra choque elétrico. • Discutir sobre os sistemas de segurança utilizados para prevenção de acidentes. • Conscientizar sobre a importância do sistema de para-raios e da equipotencialização. 20 1. Características do sistema elétrico industrial A eletricidade é a força que move todos os processos industriais, por este motivo, possui significativa relevância no planejamento estratégico de qualquer empresa, independentemente do ramo de atuação. Consumida de forma adequada, ela garante a continuidade operacional dos processos produtivos, gerando receita para as organizações. O sistema elétrico exige um planejamento operacional eficiente para garantir a continuidade do fornecimento de energia. Portanto, existe a necessidade do dimensionamento correto do sistema, da realização de manutenções preditivas e preventivas. Caso contrário, o fornecimento de energia poderá ser interrompido em função de falhas nos sistemas, como consequência, máquinas e equipamentos ficarão inoperantes, gerando prejuízos para empresa sem falar dos riscos relacionados com o acidente envolvendo eletricidade. Na ótica de um profissional da área de segurança do trabalho, as instalações elétricas industriais devem ser observadas sobre três aspectos: sistema de entrada de energia; sistema de distribuição interna de energia; e sistema de consumo. O sistema de entrada de energia é atrelado ao ponto de entrega da energia elétrica pela concessionaria de energia local até a subestação, cabine primária ou posto de transformação simplificado instalado na unidade consumidora (indústrias, e grandes estabelecimentos comerciais). Em geral, composto pela rede elétrica de alta tensão, sendo a tensão rebaixada por meio de transformadores para níveis de tensão em torno de 440, 380, 220 e 127 Volts. Lembrando que dependendo da carga instalada e da demanda de energia a unidade industrial poderá ser alimentada em baixa tensão. Para carga instalada acima de 75 kW a unidade industrial recebe da concessionária a energia em alta tensão. A NR-10 (BRASIL,2019) em seu glossário, classifica os níveis de tensão em: 21 • Extra-Baixa Tensão (EBT): tensão não superior a 50 volts em corrente alternada ou 120 volts em corrente contínua, entre fases ou entre fase e terra; • Baixa Tensão (BT): tensão superior a 50 volts em corrente alternada ou 120 volts em corrente contínua e igual ou inferior a 1000 volts em corrente alternada ou 1500 volts em corrente contínua, entre fases ou entre fase e terra; • Alta Tensão (AT): tensão superior a 1000 volts em corrente alternada ou 1500 volts em corrente contínua, entre fases ou entre fase e terra. (BRASIL, 2019, [s.p.]) Para a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), as tensões entre 1.000 Volts e 36.200 Volts, são considerados média tensão, com requisitos técnicos estabelecidos pela ABNT NBR 14039:2005. Em uma indústria, o sistema de distribuição de energia interno é composto pela rede que distribui a energia, ou seja, é o sistema responsável por fazer toda distribuição da energia a partir da subestação. Geralmente são compostos por grandes painéis elétricos, cabeamento e barramentos de distribuição. Neste sistema, está concentrado a maior carga, ou seja, a corrente elétrica é muito alta, portanto com risco maior. O sistema de consumo são os pontos onde a energia elétrica será consumida, portanto, a parte final: os maquinários; equipamentos; sistema de iluminação; sistema de refrigeração, entre outros. 22 Figura 1 – Configuração do sistema elétrico industrial Fonte: elaborada pelo autor. Um sistema elétrico é um circuito, ou conjunto de circuitos elétricos inter-relacionados, constituído para uma determinada finalidade, sendo formado, essencialmente, por componentes elétricos que conduzem, ou podem conduzir corrente elétrica. Já uma instalação elétrica, inclui componentes elétricos que não conduzem corrente, as que são essenciais ao seu funcionamento, taiscomo condutos, caixas e estruturas de suporte. Conforme Cotrim (2009), uma instalação elétrica é o sistema elétrico físico, ou seja, é conjunto de componentes elétricos associados e coordenados entre si, composto para um fim específico, de forma que cada instalação elétrica corresponderá a um sistema elétrico. O profissional da área de segurança deverá analisar a segurança do ponto das instalações e não somente do sistema elétrico, pois existe a possibilidade de elementos ou componentes não projetados para conduzir corrente elétrica que podem oferecer riscos a integridade dos profissionais. Portanto, para cada um dos três aspectos, sistema de entrada de energia, sistema de distribuição de energia e sistema de consumo, tanto o sistema elétrico quanto os elementos não elétricos deverão ser vistoriados. 23 A NR-10 (BRASIL, 2019) descreve da obrigatoriedade de se adotar medidas de controle de risco elétrico. Estas medidas são aplicadas nas instalações elétricas como um todo, e são especificadas em função das particularidades de cada instalação, podendo ser, medidas administrativas como aplicação da desenergização, sistema LOTO, aliadas ao sistema de aterramento, utilização da tensão se segurança, além de dispositivos de segurança. 1.1 Desenergização A desenergizarão do circuito elétrico é método mais eficiente para eliminar os riscos oriundos do sistema elétrico. Porém, desenergizar é diferente de desligar o circuito. Desligar um circuito é apenas um dos passos para desenergizar, conforme ilustra a Figura 2. Figura 2 – Desenergizar diferente de desligar circuitos Fonte: elaborada pelo autor. Para considerar que um circuito está desenergizado, obrigatoriamente os passos citados na Figura 3 deverão ser cumpridos, respeitando a ordem sequencial. Lembrando, que a atividade de desenergização somente poderá ser executada por um profissional qualificado, ou um profissional capacitado devidamente supervisionado por um profissional habilitado. 24 Figura 3 – Passos para desenergização. Fonte: elaborada pelo autor. Desligar é o ato seccionar o dispositivo que alimenta o circuito, normalmente um disjuntor ou uma chave seccionadora. Bloquear, significa aplicar o procedimento LOTO (Lockout Tagout), ou seja, instalar um dispositivo mecânico para evitar que alguém religue o sistema. Testar a ausência de tensão é realizar uma medição para comprovar que realmente não existe tensão na rede, podendo ser utilizado um multímetro ou um detector de tensão. Em seguida, o aterramento temporário deverá ser instalado, com a finalidade de proteger o profissional em caso de fuga de corrente inesperada. Instalar proteção dos elementos na zona controlada, significa, caso exista algum circuito energizado próximo do circuito que foi desligado, ele deve ser isolado para evitar acidentes, por exemplo, o profissional encostar em um contato energizado. E por fim, a sinalização de impedimento de 25 energização deverá ser inserida, com objetivo de informar que o circuito foi desligado. 1.2 Aterramento elétrico Todo circuito elétrico, obrigatoriamente deverá ser aterrado. O aterramento é a solução técnica mais eficiente prevista pela ABNT NBR 5410 (ABNT, 2004). A corrente elétrica circula sempre pelo caminho mais fácil, de menor resistência, o aterramento, nada mais é do que criar um caminho alternativo de menor resistência para circulação das correntes de fuga. A maior parcela da corrente elétrica vai sempre passar pelo cabo, em função da sua baixa resistência. Portanto, o cabo (representando o aterramento) protege a pessoa contra o choque elétrico. A Figura 4 ilustra o trajeto da corrente elétrica. Figura 4 – Princípio de proteção do aterramento Fonte: elaborada pelo autor. A NR-10 (BRASIL, 2019) exige laudo atestando as condições do aterramento. Este laudo deve ser emitido pelo engenheiro eletricista, cabendo ao engenheiro de segurança do trabalho gerenciar o documento através do Prontuário das Instalações Elétricas. 26 1.3 Dispositivo diferencial residual O dispositivo Diferencial Residual, também conhecido como DR, é projetado para oferecer proteção contra choque elétrico. Estes dispositivos são obrigatórios nos seguintes circuitos conforme ABNT NBR 5410:2004 (ABNT 2004) • Circuitos que alimentam os chuveiros elétricos e as banheiras (áreas úmidas). • Circuitos que alimentam tomadas de uso geral nas áreas externas, pois elas estão sujeitas a umidade. • Circuitos de tomadas localizadas internamente, mas que podem alimentar equipamentos na área externa. • Circuitos que alimentam tomadas em lavanderias, garagens, áreas sujeitas a lavagens. O DR é muito sensível, consegue identificar uma corrente de fuga rapidamente, porém, para seu perfeito funcionamento, existe a necessidade de um bom sistema de aterramento. O DR não deve ser confundido com um disjuntor normal. O disjuntor normal, tem como principal objetivo a proteção do circuito, ou seja, das instalações, enquanto o DR é projetado para segurança contra o choque elétrico. Importante ressaltar que para proteção contra o choque elétrico, o dispositivo diferencial residual deve no máximo 30 mA, conforme descreve o item 5.1.3.2 da ABNT NBR 5410 (ABNT, 2004) 1.4 Tensão de segurança Tensão de segurança é a tensão de trabalho que não oferece risco ao ser humano, também conhecida como extra-baixa tensão, ou seja, tensão inferior a 50 volts em corrente alternada ou 120 volts em corrente 27 contínua, conforme determina o item 10.6.1 da NR-10 (BRASIL, 2019). A NR-10 estabelece que, caso não seja possível trabalhar com o circuito desenergizado, deve-se utilizar a tensão de tensão de segurança. Na prática, esta condição é difícil de estabelecer por questões técnicas. Normalmente a extra-baixa tensão é utilizada nos circuitos de comandos e acionamentos de máquinas e equipamentos. 1.5 Barreiras e invólucros As barreiras e invólucros neutralizam o contato com as partes vivas do sistema elétrico. Em um motor elétrico, por exemplo, o invólucro protege do contato com as partes internas do equipamento onde existe a circulação da corrente elétrica. A Figura 5 ilustra um invólucro de um motor. Figura 5 – Invólucro de motor Fonte: spawns/iStock.com. Todo equipamento elétrico é projetado com determinado grau de proteção dos invólucros, conhecido como IP do equipamento. É este IP que vai determinar o nível de proteção do equipamento. Em geral, o IP é composto por dois números (IP XX): o primeiro algarismo refere- Invólucro do motor 28 se à proteção contra corpos sólidos. O segundo algarismo, proteção contra líquidos. Por exemplo, um equipamento com IP 57 é protegido contra poeira e contra os efeitos de imersão. É importante ficar atento às características do grau de proteção dos equipamentos elétricos instalados em áreas potencialmente explosivas. 1.6 Isolação dupla Os equipamentos com isolação dupla estão dispensados da utilização do aterramento elétrico. A isolação dupla é composta por uma camada básica e outra supletiva. Em geral a isolação dupla é utilizada em equipamentos e ferramentas portáteis, como furadeiras, marteletes etc. Os símbolos ilustrados na Figura 6 representam que o equipamento possui isolação dupla e são obrigatórios a marcação nos invólucros. Figura 6 – Símbolos de isolação dupla Fonte: elaborada pelo autor. Como a isolação é dupla, o risco da corrente de fuga é praticamente nulo, por isto, estes equipamentos são dispensados do aterramento. A segurança é garantida se a isolação estiver preservada, caso contrário, não existe garantia de proteção. O profissional de segurança do trabalho deve certificar se os equipamentos portáteis utilizados pela empresa são de isolação dupla; em caso afirmativo, se estão em boas condições de uso. 29 2. SPDA (sistema de proteção contra descargas atmosféricas) O sistema de proteção de descargas atmosféricas é regido pela norma ABNT NBR 5419:2015 (ABNT, 2015). Sua instalação é obrigatória, salvo paraedificações dispensadas, desde que comprovado através de análise de risco. O sistema de SPDA é composto por três subsistemas, representados pela Figura 7. Figura 7 – Subsistemas do SPDA Fonte: elaborada pelo autor. O subsistema de captação é responsável por captar o raio, evitando, assim, o dano a edificação. Geralmente é composto por captores tipo Franklin ou por meio de malha de gaiola de Faraday, ou ainda, uma junção entre os dois métodos. O subsistema de descida é responsável por direcionar a corrente elétrica da descarga atmosférica captada para a malha de aterramento. As descidas são geralmente compostas por cabo de cobre nú ou barras chatas de alumínio. A malha de aterramento dissipa a corrente elétrica por meio da terra. Obrigatoriamente, a malha de aterramento deverá ser de cabo de cobre nú com bitola mínima de 50 mm² e deve ficar enterrada no mínimo a 50 cm do solo. 30 O sistema de SPDA é especificado em níveis de proteção, nível I, nível II, nível III e nível IV. Para determinar o nível de proteção, existe a necessidade da elaboração de uma análise risco conforme requisitos estabelecidos pela parte dois da norma ABNT NBR 5419:2015 (ABNT, 2015). O SPDA é instalado na edificação, porém, ele protege indiretamente as pessoas no interior ou na parte externa da empresa, além de prevenir contra risco de incêndio, ou seja, o sistema faz parte de uma gestão de prevenção de acidentes. As indústrias deverão gerenciar, a partir do prontuário das instalações, as documentações relacionadas ao SPDA, sendo elas: • Projeto atualizado do SPDA. • Análise de risco de cada edificação existente na empresa. • Laudo completo de SPDA. • Laudo/relatório de inspeção visual. O laudo de SPDA deverá ser emitido de três em três anos ou de cinco em cinco anos, dependendo do nível de proteção da edificação. Neste laudo, todo o sistema deverá ser vistoriado, além das realizações de medições. Já o relatório de inspeções visual deverá ser emitido a cada seis meses. Neste caso, é uma inspeção mais simples, sem medições. Porém, de acordo com a ABNT NBR 5419:2015 (ABNT, 2015) toda vez que o sistema for atingido por um raio, existe a necessidade da elaboração de um novo laudo. Estes documentos são emitidos pelo engenheiro eletricista, porém cabe ao engenheiro de segurança do trabalho gerenciá-la. Com o não atendimento deste, a empresa fica sujeita a penalidades. De acordo com as normas da ABNT NBR 5419:2015 (ABNT 2015) e ABNT NBR 5410:2004 (ABNT,2004), para garantir a segurança, existe 31 a necessidade de aterrar todas as estruturas metálicas da edificação, incluindo: gradis; cercas; escadas; tanques; colunas metálicas, entre outras. Desta forma, estas estruturas farão parte do sistema de SPDA. Existe, ainda, a necessidade de garantir a equipotencialização do sistema, que nada mais é do que interligar todas as malhas de aterramento de cada edificação ou elemento metálico, conforme ilustra a Figura 8. Figura 8 – Ilustração de uma equipotencialização Fonte: elaborada pelo autor. A equipotencialização do sistema reduz o risco da tensão de passo. Este risco existe, por exemplo, se alguma pessoa estiver circulando pela área externa da empresa ou no interior de uma subestação elétrica. O sistema de proteção contra descargas atmosféricas também é exigido pelas seguradoras e pelo Corpo de Bombeiros, por ser item obrigatório é cobrado em auditorias de certificação da ISO 45001. 32 Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5410: Instalações Elétricas de Baixa Tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5419: Proteção de Estruturas contra Descargas Atmosféricas. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 14039: Instalações Elétricas de Média Tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR-10. Segurança em instalações e serviços em eletricidade. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/ images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-10.pdf. Acesso em: 2 abr. 2021. COTRIM, A.A.M.B. Instalações Elétricas. 5. ed. São Paulo: Makron Books, 2008. SANTOS JÚNIOR, Joubert R. dos. NR-10 Segurança em Eletricidade: uma visão prática. 2. ed. São Paulo: Érica, 2016. 33 Prontuário das instalações elétricas Autoria: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Leitura crítica: Lucas dos Santos Araujo Claudino Objetivos • Apresentar uma breve contextualização prontuário das instalações elétricas. • Discutir sobre os documentos necessários para compor o prontuário. • Discutir sobre as responsabilidades do gestor do prontuário. • Conscientizar sobre a importância de manter o prontuário sempre atualizado. 34 1. Considerações gerais sobre o prontuário A norma NR-10 (BRASIL, 2019) estabelece a obrigatoriedade de as empresas constituírem o prontuário das instalações elétrica (PIE). O objetivo de tal prontuário é unificar toda documentação relacionada ao sistema elétrico da empresa em um só local, com a finalidade de facilitar a gestão. Todas as empresas com carga instalada superior a 75.000 Watts devem constituir o prontuário das instalações elétricas. Este prontuário é parte integrante das documentações de um sistema de gestão de segurança, portanto, frequentemente fiscalizado e auditado. Manter o prontuário das instalações elétricas atualizado é importante para subsidiar os profissionais que interagem com o sistema elétrico da empresa com informações corretas. Os profissionais deverão ter o acesso livre às documentações arquivadas no prontuário. A norma NR-10 (BRASIL, 2019) determina que empresa designe formalmente um gestor para o prontuário das instalações elétricas, sendo que a empresa poderá nomear mais de um gestor para tal função. Não existe restrição quanto à formação deste gestor, porém, é recomendado que ele tenha conhecimento de um sistema de gestão de documentações e preferencialmente sobre o sistema de segurança e manutenção industrial. Já as documentações que compõem o prontuário das instalações elétricas, obrigatoriamente deverão ser elaboradas por um profissional habilitado, com atribuição na área de elétrica. A Figura 1 ilustra as principais considerações normativas sobre o prontuário das instalações elétricas. 35 Figura 1 – Considerações normativas sobre o PIE Fonte: elaborada pelo autor. Para evitar um futuro passivo trabalhista, é necessário atualizar a descrição de cargo do profissional que foi designado formalmente para ser o gestor do prontuário, descaracterizando o desvio de função. Desvio de função é quando o profissional realiza atividades diferentes para o qual ele foi contratado. O prontuário das instalações elétricas deverá ser alocado em local de fácil acesso, devendo ficar disponível a todos os profissionais que interagem diretamente com eletricidade. De forma geral, ele é alocado no setor de manutenção elétrica ou no setor de segurança do trabalho. 2. Documentações do prontuário das instalações elétricas Para cumprimento da legislação trabalhista, o prontuário das instalações elétricas deverá ser composto por uma série de documentações elaboradas por profissional legalmente habilitado. Muitas dessas documentações exigem atualizações constantes; por este motivo, é importante a existência do profissional designado pela empresa para gerir o prontuário. O prontuário é uma memória viva do sistema elétrico da empresa. 36 2.1 Diagrama unifilar O diagrama unifilar é uma representação gráfica dos componentes de proteção instalados na empresa. Segundo santos Junior (2016), este documento identifica o circuito ao qual a carga está ligada, além de ser utilizado para determinar o circuito exato para realização do bloqueio elétrico, por meio do procedimento de desenergização. É o documento de maior complexidade de elaboração, e é utilizado, inclusive, como base de informação para determinação do cálculo de energia incidente para especificação das vestimentasde proteção. Neste caso, toda empresa, independentemente da carga instalada, deverá manter o diagrama unifilar atualizado, incluindo pequenos estabelecimentos comerciais. Toda vez que uma nova carga é instalada ou retirada do sistema, o diagrama unifilar deverá ser atualizado. 2.2 Laudo de SPDA O laudo do Sistema de Proteção Contra Descargas Atmosféricas (SPDA) tem como objetivo atestar se o sistema instalado atende aos requisitos da norma ABNT NBR 5.419:2015 (ABNT, 2015). Semestralmente, deverá ser realizada uma vistoria visual do sistema. Dependendo do nível de proteção das edificações, o laudo do SPDA deverá ser atualizado a cada 3 ou 5 anos, conforme ilustra a Figura 2. 37 Figura 2 – Cronograma de atualização do laudo de SPDA Fonte: elaborada pelo autor. O nível de proteção de uma edificação é determinado a partir de uma análise de risco especifica, conforme metodologia determinada pela parte dois da norma ABNT NBR 5.419:2015 (ABNT, 2015), elaborada por profissional habilitado na área de elétrica. 2.3 Laudo de aterramento Todo circuito elétrico deverá ser aterrado, sendo o laudo de aterramento o documento que atesta a conformidade do aterramento elétrico da empresa segundo os padrões exigidos pela norma ABNT NBR 5.410:2004 (ABNT, 2004). O aterramento tem um papel importante na prevenção contra choque elétrico e, por este motivo, este laudo tem um papel de destaque entre as documentações do prontuário das instalações elétricas. Não existe uma periodicidade para a renovação do laudo, porém as boas práticas de manutenção sugerem que ele seja refeito anualmente. 38 2.4 Laudo das instalações elétricas A NR-10 (BRASIL, 2019), menciona que ações como desligar e ligar circuitos elétricos em baixa tensão (tensão inferior a 1.000 volts) podem ser realizados por qualquer profissional, desde que as instalações estejam em perfeito estado de conservação. O laudo das instalações elétricas verifica se as instalações estão adequadas ou não. A vistoria nas instalações elétricas é iniciada no padrão de entrada de energia, seguindo pela verificação de todos os painéis elétricos e das instalações gerais, como cabeamento, tomadas, sistemas de iluminação, eletrocalhas, eletrodutos, entre outros elementos da instalação. 2.5 Certificados dos dispositivos instalados em áreas classificadas Áreas classificadas são aquelas com potencialidade de explosão. Normalmente locais com atividades com líquidos e/ou gases inflamáveis, além de locais com poeiras combustíveis. Todos os equipamentos elétricos instalados neste local devem possuir um certificado de conformidade, atestando que eles foram projetados para operar nestes ambientes. Geralmente, para atestar que os equipamentos foram especificados corretamente, é necessário a elaboração de um estudo denominado “estudo de área classificada”. A partir deste estudo que é possível verificar a classificação de área. As áreas classificadas são divindades em zonas conforme a ABNT NBR IEC 60079-10: • Zona 0: local onde a atmosfera explosiva está presente de modo contínuo. • Zona 1: local onde a atmosfera explosiva é esperada durante uma operação normal. • Zona 2: local onde a atmosfera explosiva não e esperada em condições normais. 39 • Zona 20: local com poeira combustível presente de modo contínuo. • Zona 21: local com poeira combustível presente durante uma operação normal. • Zona 20: local onde a poeira combustível não é esperada em condições normais de operação. A gestão das áreas classificadas é necessária, visto que, nestes locais, o risco de explosão é real. O profissional da área de segurança do trabalho deve elaborar procedimentos específicos para instalação e manutenção de dispositivos elétricos nestes locais. 2.6 Relação e especificação dos equipamentos coletivos e individuais O prontuário das instalações elétrica deve conter a relação e especificação de todos os equipamentos de proteção individual (EPI) e coletivos utilizados para neutralizar o risco com eletricidade. É recomendado, inclusive, a comprovação de que os profissionais receberam os EPI. Luva isolante, calçado isolante, capacete isolante, vestimenta contra arco elétrico são exemplos de EPI utilizados pelos profissionais da área de elétrica. Os equipamentos de proteção coletiva normalmente utilizados são: tapetes isolantes; bastão de manobra; kit de aterramento temporário; e mangote isolante. 2.7 Documentações dos profissionais que interagem com eletricidade Toda documentação comprobatória da capacitação, qualificação, habilitação e autorização dos profissionais que interagem com eletricidade deve ser arquivada no prontuário das instalações elétricas. Muitas dessas documentações são gerenciadas e arquivadas no 40 departamento de recursos humanos, porém, a NR-10 (BRASIL, 2019) determina a obrigatoriedade de uma cópia arquivada no prontuário. O Quadro 1 lista os principais documentos que devem ser arquivados no prontuário, relacionados aos profissionais que interagem com eletricidade. Alguns destes documentos devem ser atualizados, como é o caso do curso da NR-10, em que, de dois em dois anos, o profissional deverá participar de um curso de reciclagem. Quadro 1 – Relação de documentos dos profissionais que interagem com eletricidade Item Documento Item Documento 1 Certificado do curso da NR-10 básico (40h). 5 Certificado dos cursos de capacitação técnica. 2 Certificado do curso de reciclagem NR-10 básico. 6 Certificados do curso de qualificação. 3 Certificado do curso da NR-10 SEP (40h). 7 Comprovante da inscrição junto ao conselho de classe, incluindo a comprovação do pagamento da anuidade. 4 Certificado do curso de reciclagem NR-10 SEP. 8 Documento referente à autorização formal da empresa, autorizando o profissional a interagir com o sistema elétrico. Fonte: elaborado pelo autor. A autorização formal, normalmente é emitida pelo departamento de recursos humanos por meio de um documento denominado “carta de anuência”. Nesta carta é citado que o profissional é capacitado para trabalhos com eletricidade e está autorizado a intervir nas instalações elétricas da empresa. 2.8 Resultados dos testes de isolação Todos os equipamentos de proteção individual, coletivos e ferramental com material isolante, devem passar por testes periodicamente. Estes testes devem ser arquivados no prontuário das instalações elétricas. A 41 periodicidade dos testes é normalmente determinada pelos fabricantes; porém, caso não seja, os testes deverão ser realizados anualmente. 2.9 Procedimentos técnicos Sabemos da obrigatoriedade da elaboração dos procedimentos técnicos para os serviços com eletricidade. Estes procedimentos devem ficar arquivados no prontuário das instalações elétricas. O Quadro 2 lista os principais procedimentos técnicos utilizados nas intervenções com eletricidade. Quadro 2 – Procedimentos técnicos Item Procedimento Item Procedimento 1 Desenergização. 5 Instalação de aterramento temporário. 2 Energização. 6 Bloqueio e etiquetagem. 3 Isolamento de área. 7 Manutenção no sistema de iluminação. 4 Manutenção e instalação de tomadas de uso comum. 8 Instalação de quadros e disjuntores. Fonte: elaborado pelo autor. Os procedimentos técnicos devem ser elaborados por profissional habitado na área de elétrica, devendo ser aprovado pelo responsável da área de segurança do trabalho. 2.10 Diagnóstico da NR-10 Este documento é uma auditoria referente ao cumprimento dos requisitos legais da NR-10. Neste caso o profissional responsável pela emissão do documento poderá ser um engenheiro de segurança do trabalho. Nesta auditoria, toda documentação relacionada ao prontuário das instalações elétricas deverá ser verificada. Além das documentações 42 relacionadas ao prontuário das instalações elétricas, deverá ser verificado o cumprimento integral dos procedimentos técnicos e operacionais. Após a verificação, um plano de ação deverá ser elaborado. 3. Modelos de prontuáriosdas instalações elétricas Não existe um modelo específico para o prontuário das instalações elétricas. A escolha do tipo de prontuário depende da documentação que deverá ser gerenciada. Geralmente o prontuário é organizado por meio de: • Pastas do tipo AZ. • Armário de pastas suspensas. • Softwares de gestão. O modelo de organização baseado em pastas AZ é recomendado quando o volume de documentos é pequeno, normalmente utilizado por empresas de pequeno porte. Neste modelo de prontuário, cada pasta arquiva um tipo de documento e são subdivididas individualmente. Existem muitas formas de subdividir as pastas, por exemplo: • Pasta 1: Laudos das instalações elétricas; laudo de SPDA; Laudo aterramento dos painéis elétricos. • Pasta 2: Testes de isolação do ferramental e equipamentos de proteção utilizados. 43 • Pasta 3: Documentos dos profissionais que interagem com eletricidade (documentos comprobatórios da capacitação, qualificação e habilitação dos profissionais). Geralmente, a pasta contém uma repartição para cada profissional que trabalha na empresa. • Pasta 4: Certificados dos equipamentos elétricos instalados em áreas classificadas; Estudo de classificação de área. • Pasta 5: Procedimentos técnicos e de segurança, incluindo as evidências que os profissionais passaram por orientações sobre os procedimentos. • Pasta 6: Documento comprobatório nomeando o responsável pelo prontuário e o diagnóstico (auditoria) da NR-10 na empresa. As pastas AZ permitem a elaboração e implantação do prontuário de forma rápida, e atendem de forma satisfatória os requisitos da NR- 10. Porém, com o passar dos anos, os documentos são renovados e a inserção de novas pastas no prontuário é inevitável, sendo necessário espaços cada vez maiores, além de dificultar as consultas por parte dos profissionais. O modelo de organização de armários com pastas suspensas é largamente utilizado em função da sua capacidade de arquivar uma quantidade maior de documentação. Geralmente, cada gaveta é reservada para um tipo de documentação e cada pasta desta gaveta reservada para um documento. Este modelo de prontuário, facilita a gestão e a consulta das documentações. O ponto negativo é que precisa de uma área inicial maior para a alocação de armários. Conforme o volume da documentação for aumentado, mais módulos deste armário poderão ser inseridos. Lembrando que documentações 44 relacionadas à área de segurança do trabalho deverão ficar arquivadas por um período mínimo de 5 anos. Não é obrigatório que todos os armários fiquem no mesmo local, isto pode facilitar a opção por este modelo de prontuário para as empresas com espaço reduzido. Porém, neste caso, é necessário orientar todos os profissionais sobre localização de cada módulo do armário e garantir livre acesso a todos os módulos; caso contrário, a empresa fica sujeita a não conformidades em auditorias e fiscalizações. Geralmente os armários com pastas suspensas são utilizados por empresas de médio a grande porte. O prontuário elétrico é ativo, passa por alterações constantes, visto as atualizações das documentações, diagramas unifilares, dos procedimentos e da entrada e saída de profissionais na empresa, tornado sua gestão dispendiosa e susceptível a falhas. Por este motivo, muitas empresas optam por utilizar softwares específicos para a gestão do prontuário. A implantação do software é mais demorada, pois necessita parametrização das variáveis a serem monitoradas, além da digitalização ou inserção de todos os documentos existentes na plataforma do software e do treinamento dos usuários. Após a fase de implantação, o prontuário eletrônico facilita significativamente o sistema de gestão. Por meio desta metodologia, por exemplo, empresas que possuem filiais em outras cidades, ou estado, podem utilizar o mesmo sistema, permitindo ao gestor analisar e gerenciar o prontuário de várias unidades da empresa em um único local. O software permite: a geração automática de relatórios, enviando e-mails de alerta sempre que for necessário a atualização de alguma documentação; a atualização do plano de ações automaticamente; ao gestor visualizar quem acessou, quando e que documentação foi acessada; e ainda a emissão e gestão das ordens de serviços. 45 O Quadro 3 demonstra os pontos relevantes para a escolha do modelo do prontuário das instalações elétricas. Quadro 3 – Critérios para escolha do modelo de prontuário Descrição Tipos de prontuários Pasta AZ Armário pasta suspensa Software Investimento de implantação baixo. x Tempo de implantação reduzido. x x Espaço físico menor. x Facilita a consulta pelos usuários. x x Eficiência na gestão. x Risco menor de não conformidade em auditorias. x Fonte: elaborado pelo autor. É importante ressaltar que, apesar das vantagens e desvantagens de cada modelo de prontuário, a empresa deve escolher aquele que melhor atende às suas necessidades, levando em consideração o volume de documentação, o espaço disponível e a projeção futura do volume de documentações. Muitas vezes o ideal é escolher um modelo mais eficiente, mas que atenda às necessidades atuais e futuras, evitando assim, retrabalhos no decorrer dos anos. O custo-benefício deverá prevalecer sempre. O gestor do prontuário deve ficar atento sobre a necessidade, ou não, de manter um determinado modelo. Sempre que ficar constatado a dificuldade de consulta de documentações, necessidade de mais tempo para gerir e manter o prontuário atualizado, espaço físico comprometido, sinalizações e pontuações negativas em auditorias e fiscalizações é necessário rever o modelo, e se necessário migar para outro modelo físico ou eletrônico. 46 Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5.410: Instalações Elétricas de Baixa Tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5.419: Proteção de Estruturas contra Descargas Atmosféricas. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR-10. Segurança em instalações e serviços em eletricidade. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/ Arquivos_SST/SST_NR/NR-10.pdf. Acesso em: 3 mar. 2022 SANTOS JÚNIOR, Joubert R. dos. NR-10 Segurança em Eletricidade: uma visão prática. 2. ed. São Paulo: Érica, 2016 47 Métodos de análise risco para atividades com eletricidade Autoria: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Leitura crítica: Lucas dos Santos Araujo Claudino Objetivos • Apresentar uma breve contextualização sobre análise risco para atividades com eletricidade. • Apresentar metodologia ERA para elaboração de análise de risco. • Discutir sobre os parâmetros do método ERA e reforçar a importância para determinar o direito do adicional de periculosidade. 48 1. Considerações iniciais A observação de fontes de perigo é uma etapa essencial para qualquer avaliação de risco, pois, a partir de tal identificação serão interrogadas as interações dos profissionais expostos em razão do exercício da atividade laboral, a fim de estimar o risco de acidentes do trabalho. No geral, os métodos de apreciação de risco podem parecer muito subjetivos, a menos que façam uso de matrizes de risco que organizem diferentes dados coletados em campo e os relacionem para se obter uma resultante que escalone a relevância ou gravidade de situações ou eventos analisados, auxiliando na tomada de decisões quanto às ações preventivas, ordenadamente. A correta aplicação do método o torna uma poderosa ferramenta que demonstrará pontos de atenção, por criticidade, no sistema analisado, além de fundamentar o empenho assertivo de recursos para adequações. Para tanto, é de suma importância que o gestor de riscos conheça bem a natureza da atividade apreciada de modo que utilize o método mais apropriado, considerando tanto a aplicação quanto a confiabilidade de suas métricas. Uma tarefa desafiadora, em especial quando considerada a necessidade de se inserir dadosde campo em fatores predeterminados, não elaborados para aquela atividade em específico. A escolha da metodologia menos adequada ou uma customização equivocada de suas matrizes, pode gerar resultantes viciadas e, consequentemente, tomadas de decisão ineficazes ou ineficientes, gerando perdas de tempo, recursos e, principalmente, comprometimento do índice de segurança. No campo de aplicação de medidas de segurança do trabalho, as atividades com eletricidade requerem uma atenção especial, pois, 49 além dos riscos conhecidos, ela está presente em todas as atividades econômicas, ou seja, a exposição ao risco gerado por esta fonte energia é real e continua. Ao aplicar ferramentas não especializadas de avaliação de risco, o gestor de segurança do trabalho irá se deparar com inequações que poderão representar dúvidas ou discrepâncias nas matrizes de risco. A exemplo, a verificação da gravidade de um acidente, onde haverá, nos sistemas e instalações elétricas, o fator morte como consequência mais comumente esperada no evento indesejado. O método de análise e avaliação ERA (Electricity with Risk Assessment) foi desenvolvido levando com base no método HRN (Hazard Rating Number) com o objetivo de melhor atender às necessidades de apreciação de riscos em sistemas elétricos, considerando suas particularidades e tendo como entrada parâmetros específicos para trabalhos com eletricidade. Sua parametrização foi concebida considerando, especificamente, trabalhos com eletricidade, adaptando fatores e métricas para esta realidade e aplicando o Índice de Fatores de Correção (IFC) que tornam mais precisas as escalas de risco, uma a uma, e do Coeficiente de Resultado (CR) que dimensionará o risco apreciado. 2. Método ERA A avaliação de risco pelo método ERA é apresentada em dois passos: o passo 1 possui quatro etapas, e o passo 2 contém cinco etapas, todas essenciais para conhecimento e análise do sistema de modo a não apenas identificar os riscos e não conformidades, mas também estimar suas gravidades no cenário encontrado e após adequações recomendadas. O passo 1 do método é representado pelas etapas representada pela Figura 1. 50 Figura 1 – Etapas do passo 1 do método ERA Fonte: elaborada pelo autor. As etapas do passo 1 do método ERA são responsáveis por identificar os perigos e classificar as possíveis lesões desencadeadas em função o acidente gerado pelo perigo identificado. As etapas do passo 2 são apresentadas na Figura 2. Estas etapas, quando aplicadas ordenadamente, resultam na avaliação final do risco gerado, classificando o mesmo em extremo, alto, baixo ou insignificante. 51 Figura 2 – Etapas do passo 2 do método ERA Fonte: elaborada pelo autor. A análise e avaliação de risco pelo método ERA são baseadas nas condições reais de campo, e levam em consideração fatores que não são apresentados por outras metodologias. É considerada a ferramenta mais eficaz para avaliação de atividades relacionadas com eletricidade. Sua aplicação garante o atendimento do item 10.2.1 da NR-10 (BRASIL, 2019): Em todas as intervenções em instalações elétricas devem ser adotadas medidas preventivas de controle do risco elétrico e de outros riscos 52 adicionais, mediante técnicas de análise de risco, de forma a garantir a segurança e a saúde no trabalho. (BRASIL, 2019, [s.p.]) O método, inclusive, leva em consideração o risco de incêndio e explosão ocasionados por sinistros relacionados com eletricidade. 2.1 Determinação do grau de consequência A etapa de conhecimento do sistema identifica os perigos e reconhece os riscos envolvidos nas atividades executadas, em razão de não conformidades encontradas, determinando quais consequências são esperadas em eventos indesejados ou sinistros, como resultado de exposições acidentais ou não. O Quadro 1 descreve as consequências consideradas pelo método. Quadro 1– Definição das consequências pelo método ERA. Item Consequência Observação 1 Morte /amputação (iM) Morte e/ou amputação de membros em função de acidentes relacionados com eletricidade. 2 Queimaduras (iQ) Queimaduras em função da passagem da corrente elétrica pelo corpo humano (choque elétrico) e/ou da explosão de arco elétrico. 3 Fraturas, em função de quedas (iF) Fraturas em função de quedas decorrentes do acidente. Normalmente estão relacionadas com atividades exercidas fora no nível do piso. Ex.: manutenção em sistema de iluminação. 4 Cortes/Escoriações (iC) Pequenas lesões relacionadas com a atividade elétrica ocasionadas por partes pontiagudas nos painéis elétricos, quinas vivas de eletrocalhas etc. 5 Incêndios (iI) Princípios de incêndio em função de mau dimensionamento ou manutenção do sistema elétrico. Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). O método considera cinco possibilidades de consequência em caso de acidentes, tendo como base estudos pregressos de acidentes de trabalho e sinistros envolvendo eletricidade que deverão ser observadas pelo profissional avaliador. 53 2.2 Classificação das consequências Observadas as não conformidades evidenciadas no cenário apreciado, em razão dos paradigmas técnico e legal, as consequências de acidentes serão indagadas com base nos índices estabelecidos, sendo estimada a possibilidade de cada uma, de modo a quantificá-las e classificá-las. O método pontua cinco níveis de possibilidades que são quantificados de 1 a 5. Cada possibilidade deverá ter seu nível identificado, conforme o Quadro 2. Quadro 2– Nível de classificação das consequências pelo método ERA Nível Observação Indicador Insignificante Apresenta chance de ocorrência muito baixa (≤1%). 1 Baixo Apresenta baixa chance de ocorrência (>1% a 10%). 2 Médio Apresenta chance de ocorrência moderada (>10% a 50%). 3 Alto Apresenta alta chance de ocorrência (>50% a 80%). 4 Muito Alto Chance de ocorrência é próximo de certo (>80% a 90%). 5 Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). Desta forma, para cada consequência determinada pelo método ERA, conforme Quadro 1, deve ser aplicado um indicador baseado nos índices da Quadro 2. O Quadro 3 ilustra a aplicação das consequências em função da classificação dos indicadores. 54 Quadro 3 – Classificação dos indicadores em função das consequências Possibilidade Classificação de consequência–Indicadores Insignificante Baixo Médio Alto Muito Alto Morte 1 2 3 4 5 Queimaduras Fratura em função de quedas Fraturas/escoriações Incêndios Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). Do ponto de vista, de aplicação do método, o Quadro 3 pode ser aplicado diretamente, pois resulta do nível de classificação das consequências. Pelo método ERA é necessário classificar cada uma das possibilidades. 2.3 Cálculo do valor resultante e determinação do índice resultante Tendo considerada a etapa 2, os valores encontrados serão calculados no valor resultante (VR), que é o produto da multiplicação dos índices atribuídos às consequências em razão da probabilidade estimada ou investigada por históricos apresentados conforme Equação 1. VR iM iQ iF iC iL= × × × × [1] Encontrado o valor resultante (VR), o índice resultante (IR) será determinado pelo Quadro 4. 55 Quadro 4 – Determinação do índice resultante Valor Resultante (VR) Índice Resultante (IR) 1 a 31 2 32 a 242 5 243 a 1023 10 1024 a 3125 15 Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). A determinação do índice resultante finaliza o passo 1 da metodologia ERA. Este passo faz uma primeira tratativa referente aos dados coletados em campo em função das condições das instalações elétricas vistoriadas. 2.4. Determinação da probabilidade de ocorrência Sendo conhecidas e classificadas as possibilidades de cada consequência, a aplicação do método segue para o passo 2, que quantificará os fatores como probabilidade de ocorrência do acidente, frequência de exposição aos riscos associados e o fator de correção, que atua como índice atenuante ou agravante do dado avaliado. Determinar a probabilidade de um evento ocorrer, comodefinido pela ABNT NBR ISO 31000 (ABNT, 2019), é averiguar a “chance de algo acontecer”, regularmente de forma empírica, pois não é medida ou determinada ainda que objetiva ou subjetivamente, qualitativa ou quantitativamente. Embora seja fortemente recomendado que bases de dados confiáveis sejam utilizadas para tal determinação, como o histórico da empresa ou índices de associações especializadas ou órgãos de fiscalização. A probabilidade de ocorrência (PO) deste método se vale como referência dos parâmetros definidos pela metodologia HRN, conforme descrita pelo Quadro 5. 56 Quadro 5 – Probabilidade de ocorrência Probabilidade de Ocorrência–PO Nível Observação Índice Não Esperado Levando em consideração as condições atuais das instalações, os procedimentos e a capacitação técnica dos profissionais que irão interagir, o acidente ou sinistro não é esperado. 1 Possível Nas condições atuais das instalações, havendo mau uso, não atendimento das boas práticas de manutenção e/ou a não observância dos procedimentos operacionais, o acidente é possível. 2 Esperado Nas condições atuais das instalações, havendo qualquer equívoco do ponto de vista de intervenção (considerando profissionais no mínimo capacitados) ou especificação de dispositivos, o acidente é esperado. 4 Certeza Considerando as condições atuais das instalações, a falta de procedimentos operacionais e de segurança, a interação por profissionais não capacitados e/ ou qualificados, as condições ambientais do local e a frequência de interação, o acidente ou sinistro pode ocorrer a qualquer momento. 8 Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). O índice da probabilidade de ocorrência deve ser determinado observando principalmente se a gestão dos riscos relacionados com eletricidade, realizada pela equipe manutenção é eficaz ou não. 2.5 Determinação da frequência de exposição A frequência de exposição (FE) visa quantificar a periodicidade de intervenção nas instalações elétricas de modo que se possa estimar, dentro do ciclo regular de trabalho, o histórico de manutenção (corretiva e preventiva) e outros procedimentos realizáveis. A frequência de exposição deste método se vale dos parâmetros definidos pela metodologia HRN, conforme o Quadro 6. 57 Quadro 6 – Frequência de ocorrência Frequência de Exposição–FE Repetição Observação Índice Anual Atividade ocorre no máximo uma vez ao ano. 2 Mensal Atividade ocorre uma vez ao mês. 4 Semanal Atividade ocorre semanalmente. 6 Diária Atividade é realizada diariamente. 8 Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). 2.6 Número de pessoas envolvidas O índice declara o número de pessoas envolvidas diretamente nos processos de intervenção ou expostas aos riscos com eletricidade, identificando quantos profissionais normalmente estão ligados à intervenção nas instalações elétricas analisadas. Ainda que haja sazonalidade em função do tipo de intervenção, a escolha do número deverá considerar uma média de frequência de exposição. O Quadro 7 demostra os índices da metodologia. Quadro 7 – Número de pessoas envolvidas Número de pessoas–NP Nº pessoas Índice 1 2 2 4 3 6 4 8 Acima de 4 10 Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). O método considera as pessoas envolvidas, os profissionais que interagem diretamente ou indiretamente com eletricidade, capacitados ou não. 58 2.7 Cálculo do índice do fator de correção O índice fator de correção (IFC) tem como escopo importar para as quantificações do método fatores adicionais evidenciados em campo que possam representar fatos atenuantes ou agravantes e que deverão compor o resultado da avaliação. Há evidências, como procedimentos administrativos e operacionais das atividades exercidas, ou características do sistema ou seu uso que possam ser coletadas em campo e que possam ser vistas, aos olhos do avaliador, como fatores modificativos no cenário apreciado. O método cita três exemplos de fatores: • Fator intervenção. • Fator qualificação. • Fator documental. O fator de intervenção (fI) leva em consideração se as intervenções nos sistemas elétricos são realizadas com o sistema desenergizado, com ele energizado ou com as instalações energizadas apenas para as atividades de inspeção preventiva (medições elétricas e termografias) executadas por profissionais qualificados, sendo representado pelo Quadro 8. Quadro 8 – Fator de intervenção Fa to r de In te rv en çã o Descrição fI Intervenção apenas com as instalações desenergizadas. 0,1 Intervenção com a instalação energizada apenas para inspeções preventivas (termografia e medições) executadas por profissional qualificado. 1 Intervenções com instalações energizadas 2 Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). 59 O fator de qualificação (fQ) considera que as intervenções no sistema elétrico são realizadas por profissionais capacitados, qualificados, habilitados ou não, o qual serão capazes ou não de identificar situações de risco a que se exponham em diferentes circunstâncias que possam se deparar. É importante notar que, na escolha desse fator, o avaliador deve observar os requisitos estabelecidos pelo item 10.8 da NR10 (BRASIL 2019), bem como pela tabela 18 da ABNT NBR 5.410 (ABNT, 2004). Os índices do fator de qualificação são representados pelo Quadro 9. Quadro 9 – Fator de qualificação Fa to r de Q ua lifi ca çã o Descrição fQ Apenas por profissionais capacitados, qualificados e ou habilitados. 0,1 Às vezes por profissionais não capacitados, qualificados ou habilitados na área de elétrica (ex.: operadores de máquinas; mecânicos). 1 Qualquer pessoal não advertido (público em geral). 2 Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). O fator documental (fD), observável no início da apreciação de risco, indica se há elementos que demonstrem que a empresa possui procedimentos operacionais padronizados e formalizados que evidenciam a existência de mecanismos de educação continuada ou outras providências disponibilizadas aos trabalhadores para conhecer e cumprir seus processos dentro de protocolos de segurança bem definidos. É importante ressaltar que os documentos analisados deverão demonstrar concordância com boas práticas técnicas especializadas do setor elétrico e da segurança do trabalho, bem como a legislação em vigor. 60 Quadro 10 – Fator documentação Fa to r de D oc um en ta çã o Descrição fD Possui procedimentos operacionais elaborados por profissional habilitado, em especial: procedimento de desenergização. 0,1 Não possui procedimento, ou, se possui, não foi possível evidenciar sua utilização na prática. 5 Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). O IFC é então encontrado a partir do produto de todos os fatores de correção encontrados anteriormente, assim como apresenta a Equação 2. IFC fI fq FD= × × [2] A exemplo da aplicação do índice, pode-se conceber um cenário em que haja painel elétrico com barramento exposto, não conformidade com alto risco de acidente e consequência facilmente mensurável, contudo com a constatação de que há intervenção somente realizada por profissionais qualificados, guiados por procedimentos documentados e com o painel elétrico desenergizado. O IFC auxiliará o avaliador a demonstrar a probabilidade de acidentes diminuída, aprimorando sutis diferenças entre diferentes circunstâncias. 2.8 Cálculo do coeficiente do resultado Uma vez que haja coleta em campo de todas as informações necessárias para a avaliação, tenha-se cumprido com todas as etapas de ambos os passos do método, com os fatores quantificados conforme tabelas, o avaliador obterá o coeficiente de resultado (CR). O referido índice sinaliza a tendência de ocorrência de um acidente de trabalho e/ou sinistros (incêndios e explosões), lavando em consideração 61 a existência ou não de procedimentos operacionais e o nível de conhecimento das pessoas que interagem com a instalação analisada. O índice é determinado pela Equação 3. CR IR PO FE NP IFC= × × × × [3] O CR resultante daavaliação de risco é classificado conforme o Quadro 11. Quadro 11 – Classificação do Coeficiente do Resultado Classificação da avaliação de risco Classificação Índice CR Insignificante ≤5 Baixo 6 a 50 Alto 51 a 150 Extremo Maior ou igual a 151 Fonte: adaptado de Steel et al. (1990). As classificações podem ser explicadas como segue: • Insignificante: o risco calculado mostra que a probabilidade de um acidente ocorrer é muito remota. Não requer ações, desde que as condições atuais do sistema elétrico sejam mantidas. • Baixo: o risco calculado representa alguma chance do acidente ou sinistro ocorrer; porém, requer, de imediato, apenas ações administrativas, como sinalização, treinamento, procedimentos e, a médio prazo, previsão de ações corretivas. • Alto: o risco de acidente ou sinistro é acentuado, de modo que ações corretivas e administrativas precisam ser previstas em curto prazo. • Extremo: o risco de acidente ou sinistro é esperado a qualquer momento, de modo que ações corretivas e administrativas 62 imediatas tornam-se necessárias; se possível, pode-se fazer a interdição do local. A avaliação pelo método ERA leva em consideração as condições atuais do cenário das instalações elétricas e observa os critérios que a empresa utiliza para intervenção neste cenário, desta forma, consegue chegar em uma avaliação de risco precisa e real. Com a aplicação do método, é possível identificar o cenário real relacionado ao risco de acidente ou sinistro com eletricidade, e desta forma, as empresas conseguem efetivar um plano ação adequado, sendo possível priorizar ações simples de redução do risco. O método também, é uma poderosa ferramenta de avaliação de risco para empresas seguradoras e auditores. Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR ISO 31000: Gestão de Risco–Diretrizes. Rio de Janeiro: ABNT, 2018. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 5410: Instalações Elétricas de Baixa Tensão. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR-10. Segurança em instalações e serviços em eletricidade. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/ Arquivos_SST/SST_NR/NR-10.pdf. Acesso em: 3 mar. 2022. SANTOS JÚNIOR, Joubert R. dos. NR-10 Segurança em Eletricidade: uma visão prática. 2. ed. São Paulo: Érica, 2016. STEEL, Chris. Risk Estimation Techniques: hazard rating number. The Safety & Health Practitioner, Londres, p. 20-21, jun./1990. 63 BONS ESTUDOS! Sumário Disposições gerais de segurança com eletricidade Objetivos 1. Riscos elétricos 2. Capacitação, qualificação e habilitação para trabalhos com eletricidade 3. Riscos de incêndio gerado por eletricidade Referências Bibliográficas Segurança dos dispositivos e sistemas elétricos Objetivos 1. Características do sistema elétrico industrial 2. SPDA (sistema de proteção contra descargas atmosféricas) Referências Bibliográficas Prontuário das instalações elétricas Objetivos 1. Considerações gerais sobre o prontuário 2. Documentações do prontuário das instalações elétricas 3. Modelos de prontuários das instalações elétricas Referências Bibliográficas Métodos de análise risco para atividades com eletricidade Objetivos 1. Considerações iniciais 2. Método ERA Referências Bibliográficas
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