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W BA 08 65 _V 1. 0 PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE 2 Caroline Hatada De Lima São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Nirse Ruscheinsky Breternitz Revisor Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_________________________________________________________________________________________ Lima, Caroline Hatada De L732p Proteção do meio ambiente / Caroline Hatada De Lima. – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 200 p. ISBN 978-65-5356-024-6 1.Desenho (Projetos). I. Título. CDD 720 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB-8 10289 © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. 4 SUMÁRIO Gerenciamento e técnicas aplicadas para riscos ambientais _ 05 Avaliação e gerenciamento de resíduos sólidos ______________ 19 Efluentes líquidos e poluição atmosférica ____________________ 34 Programas de Avaliação Ambiental __________________________ 48 Os Estudos Ambientais _______________________________________ 63 PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE 5 Gerenciamento e técnicas aplicadas para riscos ambientais Autoria: Caroline Hatada Lima Bomfim Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Objetivos • Conceituar a avaliação ambiental e os riscos ambientais. • Apresentar o Programa de Prevenção do Meio Ambiente e as técnicas de preparação de estudo do meio ambiente. • Estabelecer os critérios e técnicas de avaliação e controle dos poluentes. 6 1. Introdução Nesta Leitura Digital, você poderá entender como as condições ambientais podem afetar a segurança do trabalho, e se familiarizará com o conceito de riscos ambientais e as avaliações ambientais mais comumente utilizadas no gerenciamento de riscos. Ainda, será apresentado (a) ao conceito do Programa de Prevenção do Meio Ambiente e as técnicas de preparação de estudo do meio ambiente. Por fim, daremos início às técnicas de avaliação e controle dos poluentes, que serão aprofundados ao decorrer desta disciplina. 2. Meio ambiente, riscos ambientais e a avaliação ambiental A Segurança do Trabalho se caracteriza pelo papel estratégico de educar os trabalhadores, no sentido de sensibilizar para que tenham atitudes conscientes durante sua jornada de trabalho. A sensibilização/ conscientização para o meio ambiente é também a de inserir atitudes e práticas ambientalmente corretas e de preservação no dia a dia dos trabalhadores. Quando falamos em segurança do trabalho e meio ambiente, estamos nos referindo à saúde individual e coletiva, não somente do colaborador da empresa, mas estendido às famílias, às gerações futuras, e à preservação do próprio meio ambiente natural. Os danos e perigos de atividades laborais não mapeadas e/ou mal gerenciadas, podem causar impactos indesejáveis e provocar perdas sociais futuras. Tendo em vista que a empresa que melhor protege o trabalhador não é aquela que oferece os melhores meios de proteção, mas aquela que menos o expõe a riscos ou que menos oferece possibilidades de danos à sua saúde e integridade (BARBOSA FILHO, 2019, p.10), em 7 atividades laborais onde o trabalhador é exposto e/ou está sujeito à riscos, a avaliação, mapeamento e controle desses riscos têm um papel fundamental. Tradicionalmente, a avaliação de risco focava, principalmente, em acidentes após acontecerem, e a perspectiva em relação a este tema sofreu uma mudança drástica ao longo dos anos, principalmente, nos países desenvolvidos após o ataque terrorista de 11 de setembro, nos Estados Unidos. Isso levou os países a uma pesquisa séria e intensa em metodologias de avaliação de riscos em segurança, e ao conceito de prevenção de acidentes. O que antes era aplicado somente a acidentes de trabalho, também passou a ser considerado para incidentes e prevenção de acidentes ambientais. Assim, cada dia mais, a segurança do trabalho baseada apenas no cumprimento mínimo das exigências legais, dissociada das questões ambientais e de sustentabilidade, tem se tornado ultrapassada. Muitas organizações, por competitividade de mercado, incorporaram esse novo paradigma em seus negócios, e foram pressionados a implantarem sistemas integrados, como, por exemplo, as normas certificadoras de qualidade, meio ambiente, saúde e segurança do trabalho (SILVA et al., 2019, p. 32). O meio ambiente, definido pela Política Nacional de Meio Ambiente, por meio da Lei n. 6.938/81, é o conjunto de condições, leis, influências e interações, de ordem física, química, biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (BRASIL, 1981). Podemos entender, então, que o meio ambiente abrange não somente o meio natural (água, solo, fauna, flora), mas também aquele produzido ou que tem interferência humana, como as cidades, edificações, ruas, entre outros. Pela Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), o artigo 25 destaca que: 8 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade, o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988, art. 25). Compreende-se, então, que o meio ambiente contempla o ser humano e o contexto no qual está inserido, podendo ser social, econômico, político, entre outros. Esse conceito se assemelha ao da sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável, que, muitas vezes, é ligado somente aos recursos naturais, mas que também envolve a parte social e econômica (SILVA et al., 2019, p.13). Diante disso, pode-se afirmar que a sustentabilidade está centrada no ser humano, que é o agente capaz de promover esse desenvolvimento. Portanto, a segurança do trabalho também está inserida neste contexto, pois busca promover a saúde, bem-estar e segurança ao trabalhador, assegurando o equilíbrio social e econômico em todo o ambiente à sua volta. Tudo o que fazemos em nosso cotidiano, quando estamos em nossa casa, ou estamos exercendo a nossa atividade laboral, desde o ambiente, as ferramentas, o maquinário, e até a postura assumida durante o trabalho, nos colocam à mercê de oportunidades de danos a nossa integridade, saúde e ao meio ambiente (BARBOSA FILHO, 2019, p. 5). Se estes realmente acontecerão, não podemos afirmar, mas podemos estimar com determinado grau de certeza, as chances com que cada um desses elementos do cotidiano do trabalho poderá contribuir para possíveis riscos e danos. A cada uma dessas oportunidades denominamos de riscos ambientais (SILVA et al., 2019, p. 32). A necessidade de minimização dos riscos ao meio ambiente e à saúde do trabalhador, diante do desenvolvimento econômico e social, está cada vez mais presente em pesquisas e relatórios no mundo todo,mesmo sendo difícil quantificar a relação humana com o meio, e mensurar a proporção adequada entre a conservação do meio ambiente e o crescimento econômico (VIANA, 2010, p. 65). Para Viana (2010, p. 9 1), a solução para esse dilema está na Avaliação de Riscos Ambientais, instrumento transparente e igualitário, que fornece as informações para a tomada de decisão e o equilíbrio para o desenvolvimento sustentável. Caberá, então, aos gestores desses ambientes executar um roteiro de atividades, que culminará na eliminação ou na minimização de tais possibilidades (BARBOSA FILHO, 2019, p.102). 3. Programa de Prevenção do Meio Ambiente e técnicas de preparação de estudo do meio ambiente Buscando competitividade, crescimento econômico e atendimento às exigências do consumidor, as organizações vem assumindo papéis mais amplos e há, mais do que nunca, a associação de cuidados para evitar a degradação ambiental e o desperdício de recursos naturais, por meio de programas de prevenção e controle da poluição. Além da preocupação com a própria imagem da organização, também existe a relação entre o valor associado do produto ou serviço, e as questões ambientais. Da mesma forma que precisamos estabelecer projetos de expansão e desenvolvimento econômico dentro de uma organização, também é preciso atender a uma demanda para o bem da sociedade, atendendo à crescente expectativa do cidadão e suas exigências enquanto consumidor. Para dar suporte à essas exigências, entende-se a necessidade do cumprimento das legislações nacionais e internacionais, e a discussão dos instrumentos necessários que busquem minimizar os impactos no ambiente, promovendo o desenvolvimento sustentável, como, por exemplo, por meio dos dezessete principais objetivos estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), na Agenda 2030, ou das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da Organização Internacional de Normalização (ISO). 10 Buscar a estruturação das atividades da organização em conformidade com os requisitos das normas da série ABNT NBR ISO 14.000, é apenas uma das maneiras pelas quais a empresa deve orientar-se para exercer essa responsabilidade que lhe cabe no atendimento aos anseios dos consumidores. A própria empresa pode agir junto a seu mercado consumidor e influenciá-lo a mudar seus padrões de consumo. Poderá, ainda, contribuir adicionalmente, mudando seus padrões de produção, isto é, o uso de insumos como matérias-primas e energia, como também os níveis e os tipos de resíduos gerados por essa produção. (BARBOSA FILHO, 2019, p. 443) A ABNT NBR ISO 14.001 enfatiza que alcançar um equilíbrio entre o meio ambiente, sociedade e economia (desenvolvimento sustentável) é fundamental, e as expectativas da sociedade frente à transparência e a responsabilidade na prestação de conta pelas empresas tem evoluído com a legislação cada vez mais rigorosa, decorrente dos impactos ambientais causados pela poluição, gerenciamento inadequado de recursos naturais, mudanças climáticas, degradação dos ecossistemas e perda da biodiversidade (BRASIL, 2015). Vale reforçar, nesse ponto, a diferença entre aspecto ambiental e impacto ambiental. Todas as interações entre o ser humano e o meio ambiente podem gerar resultados benéficos (impactos positivos) ou maléficos (impactos negativos). Dessa forma, o impacto ambiental é a consequência negativa do não gerenciamento ou do gerenciamento incorreto dessa interação. Já o aspecto ambiental são os elementos das atividades, produtos ou serviços de uma empresa. Resumidamente, enquanto o aspecto ambiental é a causa, o impacto ambiental é o efeito. Alguns exemplos podem ser encontrados no Quadro 1. Quadro 1 – Aspectos e impactos ambientais Aspecto ambiental Impacto ambiental Consumo de energia não renovável. - Esgotamento da fonte de energia. - Poluição durante a extração. 11 Consumo de água. - Diminuição da disponibilidade hídrica.- Esgotamento desse recurso. Descarte irregular de resíduos sólidos. - Contaminação do solo e do lençol freático. - Queima dos resíduos. Emissões atmosféricas. - Poluição do ar.- Mudanças climáticas. Fonte: elaborado pela autora. De maneira geral, todas as atividades produtivas que possam causar impactos ambientais devem ser avaliadas segundo seus aspectos ambientais, e uma das formas de identificação desses aspectos e impactos é por meio da implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), Estudo de Impacto Ambiental (AIA), Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), Plano de Controle Ambiental (PCA), Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), entre outros previstos na legislação e normas técnicas. No capítulo seguinte, serão apresentados estudos e técnicas para a avaliação de controle de poluentes. Utilizaremos como exemplo prático, uma indústria de reciclagem de materiais. 4. Estudos dos critérios e técnicas de avaliação e controle dos poluentes Em um estudo de técnicas de avaliação de controle de poluentes, o principal objetivo é identificar os perigos/ riscos de uma atividade para os colaboradores, população que vive ao entorno ou ao meio ambiente. Viana (2010, p. 21) propõe que se faça uma estimativa dos riscos existentes e que se apresente propostas para seu gerenciamento, com medidas preventivas e emergenciais para diminuir ou sessar as adversidades (danos). De acordo com Viana (2010, p. 21), as principais etapas a serem executadas nos estudos para avaliação e controle dos poluentes são nãos seguinte, apresentados na Figura 1: 12 • Caracterização do empreendimento e da região. • Identificação dos perigos. • Consolidação das hipóteses acidentais. • Estimativa dos efeitos físicos e avaliação de vulnerabilidade. • Estimativa de frequências. • Estimativa e avaliação de riscos. • Gerenciamento de riscos. Figura 1 – Etapas de um estudo para avaliação e controle de poluentes Fonte: adaptado de Viana (2010). 13 Dessa forma, seguido o organograma apresentado na Figura 1, a gestão dos riscos ambientais pode ser mapeada, e pode auxiliar na tomada de decisão dos gestores dos setores onde atuar para promover a proteção do meio ambiente. 4.1 Caracterização do empreendimento e da região Para Viana (2010, p. 21), o primeiro passo é caracterizar o empreendimento, incluindo todas as informações sobre as atividades desenvolvidas na organização. Essas informações podem ser a climatologia da região, bacias hidrográficas, áreas de litoral, fauna e flora existentes no local, distribuição populacional, além das informações sobre a própria empresa, como a planta baixa das instalações, fotos aéreas (inclusive da vizinhança), resíduos gerados em cada etapa produtiva, fluxograma dos processos, entre outros. É necessário reunir o máximo possível de informações sobre as características do empreendimento e da região, pois só assim é possível entender as peculiaridades da localização, contemplando os aspectos construtivos e operacionais, sendo físicos ou geográficos. Fazendo uso do nosso exemplo, em uma indústria de reciclagem de materiais, vamos supor que podemos caracterizar o empreendimento da seguinte forma: • Empresa localizada em região urbana, com densidade populacional alta em seu entorno. População do município de 300.000 habitantes. • Clima do tipo cfa (tropical úmido), seguindo a classificação de Köppen-Geiger. • Bacia hidrográfica do Rio Paraná. Ausência de litoral nas proximidades. 14 • Resíduos gerados: recicláveis (todo o empreendimento), rejeito (banheiros) e orgânicos (refeitório). Há geração de efluentes pela lavagem dos resíduos. Não há utilização de produtos químicos em nenhum setor da empresa. É provável que estudos ambientais já realizados, como Estudo/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), Plano de Controle Ambiental (PCA), SGA, entre outros, já contenham essas informações 4.2 Identificação dos perigos Nesta etapa, Viana (2010, p. 22) sugere que se identifiquetodos os possíveis perigos existentes na organização, desde substâncias, falhas de operação, sequências de eventos que podem acarretar acidente, desastres naturais, entre outros. Deve-se também verificar a frequência que tais eventos danosos podem acontecer. Existem várias metodologias para esta identificação, a depender das particularidades de cada empresa, como a análise histórica de acidentes (levantamento bibliográfico de todos os incidentes ocorridos em empresas com atividades similares), o método What if..? (em cada etapa do fluxograma de processos, perguntas e se são respondidas, buscando a identificação de possíveis falhas ou erros), Análise Preliminar de Perigos (APP), que busca identificar precocemente situações indesejadas e eventos perigosos, seja falhas de componentes ou erros humanos, entre outros. Para nosso exemplo, vamos fazer uso da metodologia APP, utilizando o Quadro 2. Quadro 2 – Exemplo de planilha para a Avaliação Preliminar de Perigo (APP) Análise Preliminar de Perigo. Local: Sistema: Elaborado por: Aprovado por: Referência: Data: Revisão: 15 Pe ri go Ca us a M od o de d et ec çã o Ef ei to Ca te go ri a de Fr eq uê nc ia Ca te go ri a de Se ve ri da de Ca te go ri a de R is co O bs er va çõ es Có di go Exemplo: Armazenamento do efluente gerado na lavagem dos resíduos. Co nt am in aç ão d o so lo Ar m az en am en to e m re ci pi en te in ad eq ua do Vi su al Va za m en to d o efl ue nt e líq ui do M éd io M éd io M éd io In sp eç ão p er ió di ca d os re ci pi en te s; T re in am en to do s fu nc io ná ri os q ue ab as te ce m o s re ci pi en te s RE S0 1 Fonte: adaptado de Viana (2010). 4.3 Consolidação das Hipóteses Acidentais Após identificados os perigos, devem ser descritos, em detalhes, as hipóteses acidentais. Deve-se considerar o potencial danoso que pode acontecer, como leve, moderada, elevada, grave (VIANA, 2010, p. 26). Ao final desta etapa, tem-se o conjunto de cenários que podem contribuir para o risco final e seus respectivos graus de importância. Levando em consideração nosso exemplo, caso, na etapa anterior, seja feita a Identificação de Perigos por meio da APP, este item já consta na metodologia, em Categoria de Severidade. 16 4.4 Estimativa dos efeitos físicos e avaliação de vulnerabilidade Devem ser por meio de modelos matemáticos que representam os possíveis cenários que podem causar acidentes. Esses modelos devem levar em consideração a tipologia acidental e o potencial poluidor das atividades da empresa (vazamentos, condições atmosféricas, topografia, rendimento da explosão) (VIANA, 2010, p .27). No nosso exemplo, pode ser realizada uma tabela, contendo uma análise de taxa de vazamento, possível área de vazamento, e taxa de evaporação. 4.5 Estimativa de frequências Com as estimativas dos efeitos físicos e avaliação de vulnerabilidade realizadas na etapa anterior, deve-se estimar as frequências que esses eventos podem ocorrer. Normalmente, esta frequência pode ser estimada por meio de registros históricos ou de referências bibliográficas, fazendo uso de valores médios. Pode também fazer uso de outras metodologias, como a árvore de eventos e de falha, redes bayesianas etc. Também deve-se levar em consideração o erro humano, além de falhas de equipamentos/ sistemas. No nosso exemplo, caso a etapa de Identificação dos Perigos seja realizada por meio da APP, este item já consta na metodologia, em Categoria de Risco, ou seja, é a combinação de severidade e frequência. 4.6 Estimativa e avaliação de riscos O risco, como vimos no início deste material, depende de uma série de variáveis e diferentes níveis de incerteza. A forma mais comum de apresentar os riscos é dividindo-os em risco social e risco individual 17 (VIANA, 2010, p. 29). O risco social é o que associa a uma comunidade ou população, e o risco individual é a probabilidade de morte de uma pessoa alocada nas proximidades da organização. O risco social é comumente representado por uma curva FN, enquanto o individual, por contornos do iso-risco. A curva FN é um gráfico de frequência acumulada, usualmente, utilizada para apresentar os critérios de tolerabilidade para riscos sociais, e os contornos iso-risco mostram a distribuição geográfica dos locais potenciais de risco. Levando em conta nosso exemplo, temos que levar em consideração que a área em que a indústria de reciclagem está instalada é urbana, com alta densidade populacional em seu entorno. Também considerar que a bacia hidrográfica do Rio Paraná é extensa, e caso haja algum tipo de contaminação, muito pode ser os efeitos nocivos ao meio ambiente. 4.7 Gerenciamento de riscos A última etapa é a tomada de decisão que visa reduzir os riscos de acidentes. Esse gerenciamento pode ser feito por meio de um Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), assim como propõe a CETESB (2013). O SGA, descrito no capítulo anterior, é uma das ferramentas possíveis para o PGR, pois este também visa a melhoria contínua. Além do SGA, o PGR para riscos ambientais, o Plano de Controle Ambiental (PCA) também podem ser utilizados, e serão vistos ao longo desta disciplina. 5. Conclusão Diante do apresentado nesta Leitura Digital, percebe-se que a análise e gerenciamento de riscos é de extrema importância, não só para os trabalhadores e comunidade ao entorno, mas também ao meio ambiente. É necessário que as organizações tenham a consciência de 18 que a prevenção é a melhor escolha, e que o gerenciamento de risco é uma poderosa ferramenta de mitigação da poluição ambiental, que visa, acima de tudo, alertar e informar a empresa e os trabalhadores dos riscos que sua atividade e seus processos têm, além do potencial poluidor da empresa. Se gerenciado de forma correta, esses riscos podem e devem ser controlados e monitorados, visando sempre a melhoria contínua. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14.001, de 6 de novembro de 2015. Rio de Janeiro, 2015. BARBOSA FILHO, A. N. Segurança do trabalho e gestão ambiental. São Paulo: Atlas, 2010. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República (1988), de 5 de outubro de 1988. Brasília, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 7 mar. 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 6938/81, de 31 de agosto de 1931. Brasília, 1931. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 7 mar. 2022. COMPANHIA DE TECNOLOGIA E SANEAMENTO AMBIENTAL. Manual (P4.261) - Orientação para a Elaboração de Estudos de Análise de Riscos. São Paulo: CETESB, 2003. SILVA, A. A.; REZENDE, M. E. T.; TAVEIRA, P. Segurança do trabalho e meio ambiente: o diferencial da dupla atuação. São Paulo: Érica, 2019. VIANA, D. de B. Avaliação de riscos ambientais em áreas contaminadas: uma proposta metodológica. Dissertação (Mestrado), curso de Engenharia em Planejamento Energético. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: http://www.ppe.ufrj.br/images/publica%C3%A7%C3%B5es/ mestrado/Daniel_de_Berredo.pdf. Acesso em: 7 mar. 2022. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm http://www.ppe.ufrj.br/images/publica%C3%A7%C3%B5es/mestrado/Daniel_de_Berredo.pdf http://www.ppe.ufrj.br/images/publica%C3%A7%C3%B5es/mestrado/Daniel_de_Berredo.pdf 19 Avaliação e gerenciamento de resíduos sólidos Autoria: Caroline Hatada Lima Bomfim Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Objetivos • Orientar sobre a importância do gerenciamento de resíduos para a proteção do meio ambiente. • Conceituar a classificação dos resíduos sólidos. • Estabelecer critérios de destinaçãofinal ambientalmente correta dos resíduos. 20 1. Introdução Neste material, você poderá entender como o gerenciamento de resíduos sólidos é fundamental para o gerenciamento de risco e proteção do meio ambiente. A conceituação dos resíduos sólidos também será apresentada. Ao final desta leitura, você poderá estar apto a compreender a importância de uma gestão de resíduos eficaz, e como o gerenciamento de resíduos pode afetar positivamente na proteção do meio ambiente pela organização. 2. A proteção do meio ambiente e o gerenciamento de resíduos sólidos Sabe-se que toda a atividade laboral e produtiva pode gerar riscos ao trabalhador e ao meio ambiente. O que de fato se busca é evitar sua ocorrência e reduzir sua probabilidade, ou diminuir os impactos danosos. Para isso, é necessário introduzir, no dia a dia das organizações, uma série de boas práticas por meio do conhecimento de seus processos, causas e efeitos, visando a integridade, saúde e segurança dos colaboradores e do meio ambiente. A partir disso, é necessário estabelecer instrumentos e medidas eficazes para prevenção e controle (BARBOSA FILHO, 2010), como uma análise/ plano de gerenciamento de risco. Quanto melhor estruturado e contendo a maior quantidade de informações for o plano de gerenciamento de risco, melhor preparada estará a organização para enfrentar as chances de ocorrência de perdas, e de como proceder em casos de emergência. O plano serve como guia e orientação, devendo estar sempre disponível para todos os colaboradores e setores da organização (BARBOSA FILHO, 2010). Para 21 o meio ambiente natural, foco deste material, o gerenciamento de risco para a proteção ambiental é de extrema importância na prevenção de acidentes. Toda e qualquer empresa que possui potencial poluidor ao meio ambiente deve cumprir uma série de exigências legais para continuar operando (BARBOSA FILHO, 2010). Essas exigências variam entre municípios, estados, e tipos de empresas. Entretanto, o que se tem em comum é que seus sistemas de gestão ambiental, que é uma forma para a gestão de riscos/ proteção ambiental, devem estar obedecendo as normas e legislações vigentes. Por muitas vezes, o meio ambiente é considerado um obstáculo para o crescimento econômico, mas alcançar objetivos de melhorias no aspecto financeiro, tecnológico e cultural, deve estar sempre alinhado com a preservação do meio ambiente e suas medidas de prevenção, visando a redução ou reaproveitamento de recursos (BARBOSA; IBRAHIN, 2014). Uma das formas de prevenção de riscos, visando a proteção do meio ambiente, é por meio do gerenciamento de resíduos sólidos, visto que é um passivo gerado por toda e qualquer empresa. 3. Os resíduos sólidos e sua classificação Considerada um dos pilares do saneamento básico, Lei n. 11.445/2007 (BRASIL, 2007), a gestão de resíduos sólidos é evidenciada em prol da qualidade de vida da população, e está cada vez mais relacionada à saúde e proteção do meio ambiente. O não gerenciamento dos resíduos sólidos, ou se realizado incorretamente, pode acarretar em contaminação de solo, corpos hídricos, fauna, flora, além de afetar diretamente na saúde da população. Recentemente, se percebe que a gestão de resíduos tem recebido mais atenção das instituições públicas por meio de recursos, programas 22 e linhas de crédito para os municípios. Estes, por outro lado, devem promover o gerenciamento de resíduos não somente para a população, por meio de limpeza urbana e coleta seletiva, mas também exigir que as empresas privadas façam o mesmo. Existe, então, o conceito de Responsabilidade Compartilhada pelos resíduos sólidos gerados, definida Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), por meio da Lei Federal n. 12.305/2010 (BRASIL, 2010). A responsabilidade compartilhada é o compromisso entre governo, empresa e população, de gerenciar os resíduos que geram ou que são responsáveis corretamente, desde a concepção do produto até o descarte final ambientalmente correto. A PNRS é um marco na legislação sobre resíduos sólidos em nosso país. Estabelece os princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes relativos à gestão integrada e o gerenciamento de resíduos sólidos. De acordo com a PNRS, os resíduos sólidos são: Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010, [n.p.]). Os resíduos sólidos podem ser classificados de diversas formas: pela sua origem (BRASIL, 2010), periculosidade (ABNT NBR 10.004), ou pelo ramo de atividade da empresa, por meio da Lista Brasileira de Resíduos Sólidos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 23 3.1 Quanto à origem São classificados por meio da PNRS (BRASIL, 2010) como: a. Resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências urbanas. b. Resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana. c. Resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas a e b. d. Resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os gerados nessas atividades, executados os referidos nas alíneas b, e, g, h e j. e. Resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados nessas atividades, excetuados os referidos na alínea c. f. Resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações industriais. g. Resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos competentes. h. Resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis. i. Resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades. j. Resíduos de serviço de transporte: os originários de postos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira. k. Resíduos de mineração: os gerados na atividade da pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios. 24 3.2 Quanto sua periculosidade A forma mais usual de classificação, e mais aceita em documentos ambientais, é através de sua periculosidade. Segundo a ABNT NBR 10.004 (ABNT, 2004) são: a. Resíduos Classe I, ou perigosos: aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica. b. Resíduo Classe II A, ou não inertes: aqueles que podem apresentar características de combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade, com possibilidade de acarretar riscos à saúde ou ao meio ambiente. c. Resíduo Classe II B, ou inertes: são aqueles que, por suas características intrínsecas, não oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente. Segundo a classificação da ABNT NBR 10.004 (ABNT, 2004), a caracterização e classificação pode ser melhor exemplificada por meio da Figura 1. 25 Figura 1 – Caracterização e classificação de resíduos sólidos quanto à periculosidade Fonte: adaptada de ABNT NBR 10.004 (ABNT, 2004). 26 Os anexos A e B da norma se referem a resíduos perigosos de fontes não específicas e de fontes específicas, respectivamente. O anexo B apresenta os padrões para o ensaio de solubilidade. Alguns resíduos e suas respectivas classificaçõessão apresentadas no Quadro 1. Quadro 1 – Exemplos de resíduos e suas classes Classe I Classe II A Classe II B Pilha. Orgânico. Borracha. Lâmpada fluorescente. Equipamento de proteção individual (EPI). Entulho de demolição. Óleo de motores. Gesso. Isopor. Restos de tinta. Plástico. Vidro. Estopa contaminada. Papel/ papelão. Madeira. Telhas de amianto. Materiais têxteis. Sucatas de ferro e aço. Fonte: elaborado pela autora. Os resíduos Classe I, considerados perigosos, são os com maior potencial poluidor se não gerenciados de forma correta. Possuem características que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou infectocontagiosas, podem apresentar riscos à saúde pública (mortalidade ou incidência e acentuação de doenças) e/ou ao meio ambiente (BRASIL, 2004). A ABNT NBR 10.004:2004 (ABNT, 2004) estabelece os critérios para que os resíduos tenham essa classificação, que devem ser obedecidos por todos os geradores dessa classe de resíduos. A instalação e o funcionamento de empreendimento ou atividade que gere ou opere com resíduos perigosos, somente pode ser autorizado ou licenciado pelas autoridades competentes se o responsável comprovar, no mínimo, capacidade técnica e econômica, além de condição para prover os cuidados necessários ao gerenciamento desses resíduos. Os resíduos Classe II A e II B são os mais comumente gerados no nosso dia a dia, e apresenta as maiores porcentagens de descarte. Possuem 27 também menor potencial poluir do que os Classe I, porém, devido a quantidade gerada, o impacto pode ser grande se não gerenciado corretamente. Nessa classificação, se encontram os resíduos sólidos urbanos (gerados em nossas casas e cidades), a maioria dos gerados em comércios, serviços, setores administrativos das empresas etc. Percebe-se que, em sua maioria, os resíduos Classe II A e Classe II B são aqueles recicláveis, ou seja, possíveis de retornar ao ciclo produtivo por meio da reciclagem. De acordo com a PNRS (BRASIL, 2010), a reciclagem é: Processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes (BRASIL, 2010, [n. p.]). Os orgânicos são os restos animais e/ou vegetais que têm origem doméstica, urbana, industrial, agrícola e de saneamento. Já os rejeitos, são aqueles que não possuem tratamento ou recuperação por processos tecnológicos e/ou economicamente viáveis, sendo possível somente a destinação final ambientalmente correta (BRASIL, 2010). Dentro dos resíduos Classe II A e II B também se encontram os resíduos da construção civil (RCC). Possuem classificação própria, por meio da Resolução CONAMA 307 (BRASIL, 2002), que estabelece as diretrizes, critérios e procedimentos para esses tipos de resíduos. São classificados da seguinte forma: • Classe A: aqueles recicláveis ou reutilizáveis, oriundos da construção, demolição, reformas, reparos ou de outras de estrutura, como os agregados, tijolos, blocos e telhas. • Classe B: resíduos recicláveis, como o plástico, papelão, metais, vidros, embalagens vazias de tintas e gesso. 28 • Classe C: rejeitos. • Classe D: aqueles perigosos, como restos de tintas, solventes, óleos, telhas de amianto entre outros. Outro resíduo importante, para evidenciarmos aqui, são os resíduos industriais. A Norma Regulamentadora (NR) n. 25 (BRASIL, 2011) discorre sobre o tema, e define como sendo: Aqueles provenientes dos processos industriais, na forma sólida, líquida ou gasosa, ou combinação dessas, e que por suas características físicas, químicas ou microbiológicas não se assemelham aos resíduos domésticos, como cinzas, lodos, óleos, materiais alcalinos ou ácidos, escórias, poeiras, borras, substâncias lixiviadas e aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como demais efluentes líquidos e emissões gasosas contaminantes atmosféricos (BRASIL, 2011, [n. p.]). Sabe-se que o aumento do poder aquisitivo da população e o aumento de indústrias é diretamente proporcional à quantidade de resíduos gerados. Com a crescente geração, o gerenciamento desses resíduos e a destinação final ambientalmente adequada, deve ser prioridade, a fim de diminuir os riscos relacionados ao mal descarte. 4. O gerenciamento de resíduos sólidos De acordo com a PNRS, os geradores de resíduos sólidos são pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividades, nelas incluído o consumo (BRASIL, 2010). Diante disso, sabemos que todos somos geradores de resíduos sólidos. Como pessoa física, geramos os resíduos em nosso dia a dia, seja na cozinha (orgânicos), no banheiro (rejeito) e/ou ao comprarmos alimentos que vem em alguma embalagem (recicláveis). 29 As organizações, apesar de gerarem também os mesmos tipos de resíduos em seus setores administrativos, refeitório, banheiros e produtos que vem em embalagens recicláveis, possuem alguns agravantes: a quantidade que geram (muito superior à que geramos em nossa casa), a possível presença de resíduos altamente contaminantes a depender do tipo de organização, e a necessidade de descarte ambientalmente correto pelo não recolhimento desses resíduos pelos órgãos municipais. Por isso, o gerenciamento dos resíduos gerados é tão importante e obrigatório, por meio da NR-25 (BRASIL, 2011). Deve- se mapear quais resíduos a empresa gera, em quais setores, suas respectivas quantidades, o potencial poluidor de cada um deles, e como proceder com a destinação final ambientalmente adequada. Muitas vezes, o custo é alto, e deve ser incorporado ao custo final do produto (BARBOSA; IBRAHIN, 2014). O gerenciamento de resíduos é o conjunto de ações que envolvem as etapas de coleta, transporte, tratamento e destinação final ambientalmente correta dos resíduos e rejeitos, que devem estar de acordo com o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) estabelecido na PNRS (BRASIL, 2010). O PGRS pode ser considerado uma ferramenta para a gestão de riscos e proteção ao meio ambiente para os resíduos gerados, e sua implantação busca a minimização na geração, controle, manuseio e disposição final dos resíduos. Além disso, é parte integrante e um dos requisitos exigidos em um processo de Licenciamento Ambiental. O PGRS é necessário para as empresas que geram: • Resíduos sólidos dos serviços públicos de saneamento básico. • Resíduos industriais. • Resíduos de serviço de saúde. • Resíduos de mineração. 30 • Aqueles que gerem resíduos perigosos. • Aquelas empresas que geram resíduos não equiparados aos domiciliares. • As empresas de construção civil. • Os de serviços de transporte, como portos, aeroportos, terminais rodoviários, ferroviários e de fronteiras. • Empresas de atividades agrossilvopastoris. O PGRS, em sua maioria, possui modelo específico na Secretaria de Meio Ambiente de cada município, devendo ser seguidas e observadas as particularidades de cada empreendimento e localização. Além disso, como o PGRS deve ser renovado, o conceito de melhoria contínua pode ser aplicado também, visando sempre a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. As diretrizes e ações a serem executadas no PGRS deverão estar perfeitamente integradas aos demais planos da organização, em comum acordo e devida ciência de todos os envolvidos. A complexidade da diversidade de resíduos gerados, a estocagem de materiais, muitas vezes, periculosos, e a baixa frequência na destinação final para minimização de custos, podem afetar o sucesso ao plano e o gerenciamento de risco (BARBOSA FILHO, 2010). De maneira geral, a recomendação para o gerenciamento de resíduos e proteção do meio ambiente é, em cada etapa da produção, desenvolver ações de controle,de forma a evitar riscos à saúde do trabalhador, à comunidade e ao meio ambiente. É primordial que se busque a redução na geração dos resíduos como primeira opção. Uma vez reduzida ao máximo sua geração, é necessário buscar destino adequado para as diferentes classes de resíduos geradas pela organização. Os resíduos 31 devem ser corretamente coletados, acondicionados, armazenados, transportados, tratados e encaminhados para a disposição final ambientalmente correta (BARBOSA; IBRAHIN, 2014). Aqueles resíduos considerados de altas toxicidades e periculosidade devem estar dispostos com o conhecimento e o auxílio de entidades especializadas/ públicas, e os de risco biológico devem ser dispostos conforme legislação sanitária e ambiental (BARBOSA; IBRAHIN, 2014). Ainda, os trabalhadores envolvidos nas atividades de coleta, manipulação, acondicionamento, armazenamento, transporte, tratamento e disposição de resíduos devem ser capacitados pela empresa, e de forma continuada, sobre os riscos envolvidos e as medidas de controle e eliminação adequadas. De acordo com a Resolução CONAMA n. 313/2002 (BRASIL, 2002), algumas indústrias devem realizar o Inventário Nacional de Resíduos Industriais, um mecanismo de gerenciamento de resíduos que visa repassar informações sobre a geração, características, armazenamento, transporte, tratamento, reutilização, reciclagem, recuperação e disposição final dos resíduos sólidos gerados pelas indústrias. São elas: I) as de preparação e fabricação de artefatos de couro; II) fabricação de coque, refino de petróleo, elaboração de combustíveis nucleares e produção de álcool; III) fabricação de produtos químicos; IV) metalúrgica básica; V) fabricação de produtos de metal, excluindo máquinas e equipamentos; VI) fabricação de máquinas e equipamentos; VII) fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informativa; VIII) fabricação e montagem de veículos automotores, reboques e carrocerias; IX) fabricação de outros equipamentos de transporte. O formulário necessário para o Inventário encontra-se no Anexo 1 da norma. Sendo assim, é fundamental que a organização se atente à legislação que deve seguir, e que tenha uma equipe responsável pelo 32 gerenciamento de seus resíduos. Ainda, percebe-se que a proteção do meio ambiente natural está intimamente relacionada com a gestão ambientalmente correta, prevendo, ao máximo possível, os riscos, verificando seus processos regularmente e estabelecendo critérios que visam a melhoria contínua da produção. 5. Conclusão Buscando o desenvolvimento sustentável por meio dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, pela Agenda 2030, as organizações devem se preocupar, cada vez mais, com seu potencial poluidor e o risco ambiental relacionado à sua atividade produtiva. Essa preocupação deve estar presente e em comum acordo com toda a organização, gestores, setores administrativos, produtivos, acionistas, e durante todo o ciclo de vida de seus produtos, desde a aquisição das matérias primas, na escolha de seus fornecedores, na manutenção de seus maquinários, em suas embalagens, nas ações de educação/ sensibilização ambiental de seus funcionários. Somente assim, os objetivos da Agenda serão alcançados e o desenvolvimento sustentável fará parte da organização, que visa, além do crescimento, a proteção do meio ambiente. Referências BARBOSA, R. P.; IBRAHIN, F. I. D. Resíduos sólidos: impactos, manejo e gestão ambiental. São Paulo: Saraiva, 2014. BARBOSA FILHO, A. N. Segurança do trabalho e gestão ambiental. São Paulo: Atlas, 2010. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004. Resíduos sólidos– Classificação. 2004. Disponível em: https://analiticaqmcresiduos.paginas.ufsc.br/ files/2014/07/Nbr-10004-2004-Classificacao-De-Residuos-Solidos.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022. https://analiticaqmcresiduos.paginas.ufsc.br/files/2014/07/Nbr-10004-2004-Classificacao-De-Residuos-Solidos.pdf https://analiticaqmcresiduos.paginas.ufsc.br/files/2014/07/Nbr-10004-2004-Classificacao-De-Residuos-Solidos.pdf 33 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução Conama n. 307, de 5 de julho de 2002. Brasília, 2002. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução Conama n. 313, de 29 de outubro de 2002. Brasília, 2002. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=335. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Brasília, 2010. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre. cfm?codlegi=636. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência Social. NR-25: Resíduos Industriais. Brasília, 2019. Portaria SIT n. 253, de 04 de agosto de 2011. Disponível em: https:// www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/ secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas- regulamentadoras/nr-25.pdf. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 445, de 5 de janeiro de 2007. Brasília, 2007. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm. Acesso em: 8 mar. 2022. http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307. http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=335. http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=636. http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=636. https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm 34 Efluentes líquidos e poluição atmosférica Autoria: Caroline Hatada Lima Bomfim Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Objetivos • Facilitar a compreensão da importância do gerenciamento de efluentes líquidos e poluentes atmosféricos. • Apresentar os principais conceitos frente aos efluentes líquidos, poluição do ar e seus impactos ao meio ambiente. • Estabelecer critérios para promover a proteção do meio ambiente. 35 1. Introdução Do ponto de vista ambiental, toda atividade produtiva gera impactos ao meio ambiente, que, se não gerenciados de forma correta, podem acarretar sérios danos ao ambiente. O ideal, é que no início da atividade da empresa, sejam levados em consideração a matéria-prima, fontes de emissão de poluentes atmosféricos, escolha da embalagem, compra de materiais, transporte, destinação final ambientalmente adequada de seus resíduos (sólidos ou líquidos), entre outros. Tudo isso visando a proteção ao meio ambiente e aos recursos naturais. A água, os efluentes e as emissões atmosféricas são os temas desta Leitura Digital, e, ao final, você poderá entender a importância do correto gerenciamento destes para a qualidade de vida, sustentabilidade, saúde e segurança da população e dos trabalhadores. 2. A água e os recursos hídricos A partir da Revolução Industrial, o êxodo rural se tornou mais presente e a busca por melhores condições de vida, além do crescimento populacional de maneira desordenada, fez com que o governo precisasse combater a proliferação de doenças, começando a estruturar o saneamento ambiental nas cidades. O saneamento ambiental é o conjunto de ações ou práticas que contribuem para a saúde e bem-estar da população. O mais comum é pensarmos que o saneamento se dá somente por meio do tratamento da água e do esgoto, porém,também está relacionado a qualidade da água e dos rios, o lançamento de esgotos em rede pública, e a coleta de resíduos e sua disposição ambientalmente adequada. O saneamento também promove que a água seja em quantidade e 36 qualidade adequadas para o consumo humano, além do controle ou da erradicação de doenças. A água é um recurso natural mais presente no nosso dia a dia. Utilizamos a água para beber, cozinhar, para a higiene pessoal, na fabricação de produtos, irrigação, lazer, e muitas outras atividades. A disponibilidade deste recurso vem sendo ameaçada devido ao crescimento populacional e crescente demanda para uso doméstico e industrial, que pode tanto reduzir a disponibilidade da água, quanto piorar sua qualidade. O volume de água nem aumenta nem diminui, porém, tem-se essa percepção por conta das variações climáticas (longos períodos de seca e calor), o aumento populacional e da demanda da água em diversas regiões do globo, a poluição dos mananciais, a alteração do regime de escoamento superficial e de realimentação de águas subterrâneas etc. Dessa forma, o gerenciamento dos recursos hídricos se faz essencial. A Lei n. 9.433/97 (BRASIL, 1997) instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos. Essa lei cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e valoriza a água, determinando que: I – a água é um bem de domínio público; II – a água é um recurso natural ilimitado, dotado de valor econômico; III – em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais; IV – a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas; V – a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; VI – a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. (BRASIL, 1997, [n. p.]) Muito se questiona sobre as prioridades no uso da água, uma vez que a disponibilidade deste recurso hídrico nem sempre é igual para todos. As regiões que sofrem com sua escassez, costumam ter conflitos entre seus usos para fins econômicos (indústrias, irrigação), sociais (abastecimento, 37 lazer), culturais (manutenção de paisagens) e ambientais (equilíbrio da Terra). Dessa maneira, o grande desafio no gerenciamento deste recurso hídrico é no sentido de promover uma sociedade igualitária e inclusiva, otimizando a oferta e a demanda. Para isso, uma série de leis e normas foram estabelecidas neste sentido, assim como a Lei n. 9.433/97 (BRASIL, 1997), que prioriza o uso de recursos hídricos para o abastecimento público e para a dessedentação de animais. De acordo com o Código das Águas, os principais usos deste recurso natural são: • Abastecimento público: para fins domésticos (beber, preparar alimentos, higiene pessoal, limpeza, irrigação de jardins e pequenas hortaliças, criação de animais domésticos entre outros) e públicos (moradias, escolas, hospitais e demais estabelecimentos públicos, irrigação de parques e jardins, limpeza de ruas e logradouros, paisagismo, combate ao incêndio, navegação etc.). • Industrial: matéria-prima para a produção de alimentos, bebidas e produtos farmacêuticos, além de seu uso para fins menos nobres, como refrigeração, metalurgia, lavagem de águas de produção de papel, tecido e fabricação à vapor, como caldeiraria. • Agrícola e pecuária: irrigação para a produção de alimentos, tratamento de animais, lavagem de instalações, entre outros. • Geração de energia elétrica: na produção de energia por meio da derivação das águas de seu curso natural. • Saneamento: diluição (lançamento em corpos d’água) e tratamento de efluentes. A depender de seu uso, a água tem padrões de exigência de qualidade, e manter essa qualidade dentro dos limites estabelecidos por lei é fundamental para manutenção da diversidade, saúde e segurança da população, além da proteção ao meio ambiente. Há vários fatores que alteram a qualidade da água. O Quadro 1 mostra a relação entre 38 a atividade humana e as consequências que podem causar impactos ambientais nos ecossistemas aquáticos. Quadro 1 – Relação entre os setores econômicos e os impactos da atividade humana no meio aquático Co ns eq uê nc ia s. Se di m en ta çã o. Eu tr ofi za çã o. Po lu iç ão té rm ic a. O xi gê ni o di ss ol vi do . Ac id ifi ca çã o. Co nt am in aç ão p or m ic ro rg an is m os . Sa lin iz aç ão . Co nt am in aç ão p or m et ai s pe sa do s. M er cú ri o. To xi na s nã o m et ál ic as . Pe st ic id as . H id ro ca rb on et os . Re du çã o de m ic ro nu tr ie nt es . Agricultura. X X X X X X X X Uso urbano. X X X X X X X X X X Silvicultura. X X X X Geração de energia hidrelétrica e estocagem de água. X X X X X Mineração. X X X X X X X Indústrias. X X X X X X X X X X Fonte: adaptado de Finkler (2018). Á água, após ser utilizada, passa a ter em sua composição substâncias oriundas do processo em que foi usada, sejam atividades domésticas ou industriais. Em termos gerais, a água, com as propriedades que adquiriu, sejam químicas, físicas ou biológicas, passa a ser denominada efluente ou água residuária. Quando lançadas sem tratamento em recursos hídricos (rios, oceanos, nascentes), os efluentes podem causar diversos danos ao meio ambiente, como a alteração na concentração de oxigênio dissolvido decorrente do lançamento de esgoto doméstico sem tratamento, e a contaminação dos corpos d’agua por metais pesados e demais poluentes advindos da indústria, podendo contaminar toda a cadeia trófica, causando distúrbios nos animais e até mesmo no homem. 39 3. O efluente líquido Como visto anteriormente, o efluente líquido é considerado o resíduo na forma líquida proveniente dos processos produtivos, seja o esgoto doméstico ou o industrial. Assim como todo e qualquer resíduo, este também deve obedecer a legislação e normas técnicas para seu gerenciamento e controle, visando a proteção do meio ambiente e saúde da população (VON SPERLING, 2005). A características dos efluentes líquidos, como dito anteriormente, dependem de sua origem e composição. Além disso, podem ser determinadas por meio de metodologias qualitativas ou quantitativas, por meio de coleta de amostras, análises físicas, químicas e biológicas (temperatura, pH, turbidez), interpretação dos resultados obtidos e comparação com as leis e normas de lançamento de efluentes em corpos hídricos (VON SPERLING, 2005). Após verificados os parâmetros do efluente, é estabelecido o tipo de tratamento a ser utilizado para que esteja em condição de ser lançado novamente nos corpos hídricos. Com o intuito de promover a melhoria na qualidade do efluente e na oferta da água, são aplicadas técnicas de tratamento adequadas, alinhadas com a qualidade necessária para seu uso, e que estejam dentro dos requisitos legais. O principal objetivo de estabelecer os padrões numéricos para esse lançamento é resguardar a qualidade das águas do corpo receptor, facilitando a fiscalização dos poluidores e autuação dos responsáveis por possíveis degradações. Somente após tratamento adequado e atendimento aos parâmetros legais, esse efluente pode ser lançado de volta nos corpos hídricos. A Resolução CONAMA n. 430/2011 (BRASIL, 2011) dispõe sobre os padrões de lançamento de efluentes, complementando a Resolução CONAMA n. 357/2005 (BRASIL, 2005). Os valores fixados para seu lançamento são determinados em função do uso da água e suas especificidades. Qualquer que seja a exigência de atendimento, o 40 lançamento não pode comprometer o recurso hídrico, causando poluição e/ou limitando o seu uso. Por lei, os responsáveis pelas fontes poluidoras deverão realizar o automonitoramento para o controle dos lançamentos nos corpos receptores, de acordo comos critérios estabelecidos pelos órgãos competentes e suas licenças ambientais. 4. A poluição do ar Nos últimos anos, a poluição do ar vem sendo muito discutida a nível mundial. A preocupação com a qualidade do ar nas cidades é assunto de diversos encontros internacionais, e protocolos governamentais. Liderados pela Organização das Nações Unidas (ONU), esses encontros vêm sugerir que os países estabelecem metas na diminuição das emissões de gases e partículas antropogênicas prejudiciais à saúde e ao meio ambiente. Um dos dezenove objetivos da Agenda 2030, da ONU, é, até esta data, reduzir o impacto ambiental causado pela poluição do ar por meio de ações contra a mudança global do clima. As mudanças climáticas tornaram-se uma importante questão global, porém, nem sempre se viu a poluição do ar dessa forma. As atividades antrópicas (realizadas pelos seres humanos) interferem há séculos no meio ambiente, utilizando os recursos naturais de diversas formas, seja na economia ou no lazer. Após a Revolução Industrial e a intensificação das ações humanas, a degradação ambiental se tornou ainda mais evidente. Somente em 1972, na Conferência de Estocolmo, que se estabeleceu uma orientação global para a preservação e melhoria do meio ambiente, e vinte anos após, a ECO-92 debateu os problemas ambientais mundiais, incluindo a poluição do ar. Após essa Conferência, ano após ano, a emissão de gases prejudiciais ao meio ambiente vem ganhando força e sendo debatida, além de leis que visam a proteção do meio ambiente frente a esta temática. 41 A poluição atmosférica é uma questão séria de saúde pública. Sabe-se que os sistemas públicos de saúde são mais exigidos quando existem altas concentrações de poluentes no local, e tem-se referências de uma série de doenças causadas por gases e partículas, entre eles, as cardiorrespiratórias, cardiovasculares, má formação de fetos e o câncer. Também podem causar perdas econômicas, por meio da corrosão de materiais, seu enfraquecimento, desgaste de estruturas, redução da visibilidade e danos à fauna e flora. Os poluentes atmosféricos podem ser classificados de acordo com sua fonte e como primários e secundários, sendo exemplificados na Figura 1. A classificação de acordo com a fonte de emissão pode ser fixa ou móvel. As fontes fixas são, em geral, as industriais, onde já se sabe, geograficamente, os locais de lançamento de poluentes. As fontes fixas também podem ser difusas (emissões cotidianas) ou pontuais (com variações de acordo com o aumento e diminuição da produção ou vazamentos). A classificação de acordo com o tipo, podem ser primárias ou secundárias. As primárias são para os poluentes liberados diretamente na atmosfera, como é o caso do dióxido de enxofre (H2S), amônia (NH3), óxidos de nitrogênio (NOx), entre outros. As secundárias são aquelas formadas por meio de reações químicas, principalmente, entre os poluentes primários e compostos já presentes na atmosfera, como o peróxido de hidrogênio (H2O2), ácido nítrico (HNO3) e o ozônio (O3) (COELHO, 2020). 42 Figura 1 – Classificação dos poluentes atmosféricos Fonte: adaptado de Coelho (2020). Ainda, pode-se levar em consideração as escalas micro, meso e macro. Em ambientes internos (micro-escala), a poluição do ar pode ser identificada em um setor da organização, por exemplo, por meio de gases e partículas liberados em uma etapa da produção, e que não tiveram ventilação adequada (FINKLER, 2021). A meso-escala pode ser exemplificada por fontes poluidoras industriais e móveis que contribuem para a poluição atmosférica e contaminam o ar. Um exemplo de meso-escala é o não uso de filtro nas chaminés de empresas que lançam gases na atmosfera. Os efeitos da poluição atmosférica em escala global (macro-escala) se dão, principalmente, por meio de 43 transportes de longa distância, onde os poluentes são capazes de alterar a atmosfera superior, como mostram a distribuição da camada e ozônio e o aquecimento global. Apesar de muito se falar sobre as ações antrópicas e a deterioração da qualidade do ar, sabe-se que existem fontes naturais que também contribuem para as mudanças climáticas e a poluição atmosférica. Essas fontes estão relatadas no Quadro 2. As fontes naturais, que são em macro-escala, podem ser por meio de partículas de solo, spray marinho, erupções vulcânicas, incêndios florestais não antrópicos, entre outros. Entretanto, são as altas concentrações dos poluentes antropogênicos que causam os impactos mais significativos. Segundo o artigo 3 da Lei n. 6.938/81 (BRASIL, 1981), poluição é o dano causado ao meio ambiente devido às ações antrópicas, não se considerando como tal as causas naturais. É por meio dos componentes do ar atmosférico que a vida na Terra se torna possível, logo, é fundamental sua preservação e proteção, buscando reduzir, ao máximo os efeitos antrópicos. Quadro 2 – Fontes naturais e antrópicas que alteram a qualidade do ar Fontes naturais Fontes antrópicas Decomposição de matéria orgânica. Fábricas, usinas, incineradores, fornadas e demais queimadas de combustíveis fósseis ou madeira. Poeira de áreas desérticas. Veículos movidos a combustível fóssil, como casos, motos, caminhões e aviões. Metano emitido no processo de digestão dos animais. Queimadas controladas na agricultura. Monóxido de carbono emitido das queimas naturais. Aerossóis, tinta, spray de cabelo e outros solventes. Atividade vulcânica. Decomposição dos resíduos orgânicos que geram metano. Atividade microbiológica dos oceanos. Emissão de amônia pelo uso de fertilizantes. Decaimento radioativo das rochas. Atividade de mineração. Fonte: adaptado de Finkler (2018). 44 As fontes de poluição atmosférica estão presentes nas zonas rurais e urbanas. Nas zonas urbanas, principalmente por meio da queima de combustíveis fósseis nas indústrias e nos carros movidos a diesel e gasolina, e nas rurais, por meio da queima de biomassa para limpeza do terreno, ou de resíduos. A deterioração da qualidade do ar acontece a partir do momento em que substâncias gasosas, como monóxido e o dióxido de carbono, ou as partículas, como a fuligem e o material particulado, são emitidas em grandes quantidades, sem tratamento ou filtro. Os agrotóxicos, incineradores e a queima a céu aberto de vegetação ou resíduos também são fontes de poluição do ar que lançam quantidades significativas de poluentes, podendo afetar a qualidade do ar em todas as escalas (micro, meso e macro) (FINKLER, 2018). No Brasil, as maiores fontes de emissão de poluentes são por meio da queima de combustíveis fósseis (gasolina, diesel, óleo combustível, carvão e resíduos) nos setores de transporte e industriais, e por meio da queima de biomassa no setor agropecuário. Por mais que tenhamos programas para a utilização do etanol, considerado um combustível mais limpo, o transporte de carga, que utiliza o diesel, corresponde a 12% das emissões. A qualidade do ar medida, que mostra o nível de exposição da população à poluentes, passou a ser monitorada em 1987. No Brasil, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) adotou padrões de qualidade desde 1990, tomando como base a legislação americana. No entanto, não são todos os estados brasileiros que estabelecem padrões estaduais e que monitoram a qualidade do ar nas cidades, o que dificulta qualquer programa de controle de poluição, e de estabelecimentos de medidas de mitigação e fiscalização. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 90% da população mundial não respira ar de qualidade aceitável, estando muito sujeita a riscos e doenças. 45 A Lei Federal n. 6.938/81 (BRASIL, 1981) instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), trazendo diretrizes gerais de suporte para o monitoramento da qualidade do ar, o desenvolvimento tecnológico e científico e a informação ambiental por meio da educação. Entretanto, somente em 1989 se estabeleceu o Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar (Pronar),cujo principal objetivo é promover e orientar população e empresas quanto aos padrões de emissão de poluente atmosféricos, implementação de políticas de prevenção e uma rede nacional de monitoramento da qualidade do ar, estabelecendo inventários de emissões de poluentes por setor. Estratégias estaduais também foram estipuladas, tendo que assinar temos de compromisso no envio de relatórios e na identificação e fiscalização de indústrias com potencial poluidor. A principal dificuldade encontrada pelos estados e municípios é a falta de equipe técnica e os recursos para compra de equipamentos de monitoramento da qualidade do ar. Para o controle nas concentrações dos poluentes atmosféricos, não se deve aplicar somente ações punitivas, mas preventivas e corretivas, com a participação da sociedade e setores público-privados. De acordo com Coelho (2020), algumas das estratégias de controle são: • Estabelecimento de limites e normas regulamentadoras. • Licenciamento das fontes poluidoras. • Incentivo e utilização de tecnologias limpas e fontes alternativas. • Utilização de equipamentos modernos, que visam a redução nas emissões. • Implementação de redes de monitoramento da qualidade do ar. • Estabelecimento de planos de emergência para situações graves de poluição do ar. 46 • Criação de serviços de informação e auxílio à população afetada pela poluição atmosférica. Alguns exemplos práticos adicionais do que se pode fazer para redução das emissões são: controle dos combustíveis e seu grau de pureza, criação de dispositivos de controle da poluição, vistoria nos automóveis para retirar de circulação aqueles que não apresentam condições mínimas para filtrar os gases resultantes da combustão, aplicação de rodízio de carros, melhorias no transporte coletivo, recolhimento de aparelhos de ar condicionado e geladeira que ainda utilizam o gás CFC, investimento em pesquisas nas fontes alternativas de energia, melhor planejamento urbano, maior fiscalização sobre desmatamento e incêndios em matas e florestas, entre outros (FINKLER, 2018). Além da consciência da população em buscar fontes alternativas de energia e atividades relacionadas com a poluição do ar, também se faz necessária uma fiscalização rigorosa nas instalações industriais. A legislação deve obrigar as indústrias a utilizarem filtros em suas chaminés, tratar seus resíduos e utilizar processos menos poluentes. Também, deve-se aplicar punições severas para aquelas que não estiverem de acordo com a lei (FINKLER, 2018). Atualmente, os níveis de concentração de poluentes atmosféricos, principalmente nas grandes metrópoles brasileiras, poderiam ser mais monitorados por meio de estações de monitoramento da qualidade do ar, e a fiscalização das indústrias também poderia se dar de forma mais eficaz e constante. Existe, então, a necessidade de entender melhor a relação entre níveis de exposição a qual a população está sujeita, e os poluentes atmosféricos, as fontes emissoras de poluentes e a mitigação de impactos, e as estratégias para controle de poluição atmosférica. Sabendo que fatores, como o crescimento da frota veicular e populacional, degradam a qualidade do ar, é necessário adotar medidas que estabeleçam padrões regulamentadores como estratégia 47 para promover o menor impacto ambiental possível, além de medidas de fiscalização e controle. Referências BITTENCOURT, C.; PAULA, M. A. S. de. Tratamento de água e efluentes: fundamentos de saneamento ambiental e gestão de recursos hídricos. São Paulo: Saraiva, 2014. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução Conama n. 357, de 17 de março de 2005. Brasília, 2005. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução Conama n. 430, de 13 de maio de 2011. Brasília, 2011. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 6938, de 31 de agosto de 1981. Brasília, Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n. 9433, de 8 de janeiro de 1997. Brasília, 1989. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm. Acesso em: 8 mar. 2022. COELHO, L. Gestão de Efluentes e Emissões. São Paulo: Senac, 2020. FINKLER, R. et al. Fundamentos da Engenharia Ambiental. Porto Alegre: Sagah, 2018. VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3. ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental; Universidade Federal de Minas Gerais, 2005. http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459 http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm 48 Programas de Avaliação Ambiental Autoria: Caroline Hatada Lima Bomfim Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Objetivos • Apresentar os Programas de Avaliação Ambiental e as metodologias para a gestão ambiental. • Conceituar a NR-9, que trata da avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos. • Conceituar a NR-18 referente às condições de segurança e saúde no trabalho na indústria da construção civil. 49 1. Introdução Neste material, você se familiarizará com os conceitos de poluição ambiental e os impactos causados pelas organizações que podem contribuir negativamente na saúde e segurança do trabalhador e no meio ambiente. Ainda, entenderá como as Normas Regulamentadoras (NR) n. 9 (BRASIL, 2019a) e n. 18 (BRASIL, 2020b) auxiliam com as metodologias para análises de prevenção a riscos ambientais e condições de segurança e saúde no trabalho na indústria da construção civil. 2. A poluição e os impactos ao meio ambiente Desde que o ser humano inseriu seu modo de vida na Terra, e com o crescimento urbano e êxodo rural, as ações antrópicas vem causando mudanças no meio ambiente natural. A busca por melhorias na economia, qualidade de vida, competitividade na indústria e comércio, e o consequente desenvolvimento desenfreado, nos levou a compreender os malefícios da ausência de uma gestão eficaz e falta de comprometimento com as questões ambientais. Os impactos ambientais, fruto dessa evolução do ser humano em sociedade, ocasionam, principalmente, alterações antrópicas sob o meio ambiente natural, na biodiversidade, no clima, na paisagem, na fauna e flora. Essas alterações se fizeram necessárias, de certo modo, para que o ser humano conquistasse seus desejos materiais e sociais de crescimento econômico, porém, o grande problema se encontra em saber qual o limite para essas intervenções antrópicas não causarem, cada vez mais, um desequilíbrio ecológico (BARBOSA, 2014). Um dos fundamentos principais do desenvolvimento sustentável (desenvolvimento capaz de suprir as demandas atuais 50 sem comprometer as necessidades futuras) nos ensina que é possível alcançar um equilíbrio entre as partes social, econômica e ambiental, desde que esses limites sejam impostos para a exploração de recursos naturais e a preservação do meio ambiente (BARBOSA FILHO, 2010). O termo impacto ambiental é definido pela Resolução Conama n. 001/86 (BRASIL, 1986) como sendo: Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam: I – A saúde, segurança e o bem-estar da população; II – As atividades sociais e econômicas; III – A biota; IV – As condições estéticas e sanitáriasdo meio ambiente; V – A qualidade dos recursos ambientais. (BRASIL, 1986, [n. p.]) Neste momento, também é necessário deixar claro que a poluição e a contaminação ambiental têm conceitos diferentes. Enquanto a poluição é qualquer alteração no sistema original (água, ar, solo etc.), a contaminação é a inserção de contaminantes patogênicos ou químicos neste sistema. Estes podem se dar de forma natural (por exemplo, uma erupção vulcânica que emite grandes quantidades de particulados e gases tóxicos no meio ambiente) ou de forma antrópica (lançar efluentes sem tratamento adequado nos corpos hídricos, por exemplo). No entanto, sabe-se, por meio de pesquisas, que a poluição antrópica supera a natural, e, dessa forma, a identificação dessas alterações é extremamente necessária. Vale ressaltar que se a poluição/ contaminação se desse de forma natural, o próprio meio ambiente teria a capacidade de assimilação e 51 recuperação, porém, a quantidade de poluentes antrópicos inseridos no meio é tão grande que a capacidade de recuperação é ultrapassada, ocorrendo modificações no meio ambiente e em seu desequilíbrio (BARBOSA FILHO, 2010). Se faz necessário, então, desprender esforços para implementar medidas de planejamento, aprimoramento, controle e melhoria contínua na busca da proteção do meio ambiente e recursos naturais. Um desses esforços podem se dar por meio de programas de avaliação ambiental e metodologias de gestão, que nos apresentam formas de redução dos impactos ambientais. 3. Forma de reduzir os impactos no meio ambiente Como vimos anteriormente, o estabelecimento de metas e planos para a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais é essencial para diminuir e mitigar possíveis impactos causados pelo homem em suas atividades em sociedade. Devem ser adotadas então, medidas de controle (prevenção), mitigação, compensação, recuperação e monitoramento dos impactos de todas as atividades com potencial poluidor. A ordem de prioridade é apresentada na Figura 1. Figura 1 – Ordem de prioridade para medidas de controle Fonte: elaborada pela autora. 52 O primeiro passo, a prevenção de riscos, é a mais importante e a primeira a ser implantada. O principal objetivo é garantir que os possíveis impactos ambientais resultantes das atividades realizadas pelas organizações sejam mapeados e identificados antes que aconteçam. Por exemplo, ao se construir uma usina de energia solar, deve-se levar em consideração a área da construção e quais impactos ambientais poderiam causar na fauna e flora, se a capacidade de geração de energia compensaria o impacto, se é possível aproveitar a topografia local, como se dará o aumento do tráfego de veículos, como dar descarte ambientalmente correto para as placas fotovoltaicas que não são passíveis de manutenção ou reaproveitamento etc. Tudo isso visando identificar os pontos de atenção e possíveis impactos (BARBOSA FILHO, 2010). O segundo passo são as medidas de mitigação (diminuir a intensidade de algo, tornar mais brando, mais suave). Sabemos que, mesmo prevenindo, é impossível que as atividades de uma organização ocorram sem qualquer impacto ambiental negativo, por menor que eles sejam. Dessa forma, as medidas de mitigação visam reverter danos e minimizar situações de risco por meio de identificação e intervenções em áreas vulneráveis e a implementação de programas operacionais que melhores situações críticas com base na gestão adaptativa. Segundo Barbosa Filho (2010), entre os principais planos de mitigação estão: • Manter, em estado próximo ao natural, a maior parte das zonas degradadas. • Condicionar as explorações agrícola e pecuária. • Impedir a ocupação com habitação nas áreas delimitadas de proteção. • Condicionar as instalações industriais. • Desviar vias e transferir construções em zonas de risco. 53 • Limitar a construção de estradas marginais e a intensidade de tráfego. • Controlar a ocupação de terras e extrações. • Investir em tecnologias que visam o reuso de água. Por fim, o último passo é a recuperação e/ou compensação. A compensação ambiental busca garantir um ressarcimento pelos danos causados ao meio ambiente pelas organizações. É uma forma de promover um benefício ambiental em prol do impacto gerado, não devendo ser visto como multa ou indenização. Vale ressaltar que a compensação deve ocorrer quando o impacto continua significativo mesmo quando tomadas todas as medidas de mitigação, e/ou quando não seja possível a recuperação. Essa compensação pode ser por meio do plantio e doação de mudas de árvores, de equipamentos de controle de poluição para órgãos ambientais, no paramento para entidades que investem na proteção de unidades de conservação etc. Entretanto, de nada adianta estabelecer medidas de controle, mitigação, recuperação ou compensação se não há um monitoramento constante das atividades e um pensamento de melhoria contínua (BARBOSA, 2014). O monitoramento, peça-chave para identificar a situação atual da empresa e traçar planos e metas para redução de impactos, é um processo que se dá por meio da coleta de informações (dados) da organização, com o objetivo principal de identificar e avaliar qualitativa e quantitativamente as variáveis ambientais, tanto as condições atuais da organização, quanto as tendências ao longo do tempo. O programa de monitoramento deve fomentar o acompanhamento e implementação de todas as medidas mitigatórias e compensatórias previstas, por meio de um cronograma pré-definido. Todos esses planos de prevenção, mitigação, recuperação e compensação devem estar estabelecidos e definidos dentro dos estudos 54 ambientais, onde se avalia a situação atual da empresa e seu potencial poluidor, e o que pode ser feito para minimização dos impactos e proteção do meio ambiente. 4. A avaliação e os estudos ambientais A Resolução CONAMA n. 237, de 19 de dezembro de 1997 (BRASIL, 1997), define Estudos Ambientais como: Todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentados como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco. (BRASIL, 1997, Art. 1, [n. p.]) A partir desta definição, percebe-se que esses estudos ambientais podem dar subsídio ao processo de licenciamento ambiental por meio dos órgãos públicos, no qual apresentam um diagnóstico da situação real do empreendimento, sendo realizado por equipes multidisciplinares que adotam metodologias para o uso múltiplo dos recursos naturais. Tem-se, então, levantamentos com fontes de informações mais precisas para subsidiar planos de ação eficazes, além de analisar os impactos ambientais causados pelas organizações. A análise de impactos tem por objetivo prever possíveis alterações no meio ambiente natural, desde o projeto de implantação, até o momento de pleno funcionamento da empresa. O ideal é que a análise de impacto e os estudos ambientais sejam feitos desde o início da concepção da organização, pois as informações obtidas ajudam a nortear as decisões no sentido de diminuir impactos. Se verificado desde o começo o potencial poluidor, as chances de sucesso nas medidas de prevenção, 55 mitigação, recuperação e compensação são ainda maiores. Dessa forma, viabilizam-se ganhos ambientais e financeiros, além da administração ter plena consciência do que pode e deve ser feito. Depois do início das atividades da organização, adotar um sistema de gestão ambiental (SGA) eficaz e que realmente mapeia os pontos de atenção é fundamental no sucesso ambiental de um empreendimento. A gestão ambiental é estabelecida por meio da série de normas ABNT NBR ISO 14.000 (BRASIL, 2015), e emprega conceitos de planejamento, identificação, controle, análise,minimização e monitoramento dos impactos ambientais a níveis previstos, além de apresentar soluções para proteção do meio ambiente. A partir da norma, existem uma série de documentos que podem ser implementados ao SGA da organização, visando o cumprimento de metas, soluções de problemas ambientais ou a minimização. Para que isso seja possível, devem ser considerados os aspectos ambientais nas tomadas de decisão, além de uma atitude da alta administração voltada para a proteção do meio ambiente e da saúde e segurança do trabalhador, com o apoio e cooperação de todos os colaboradores. Assim, a elaboração e aplicação de programas e planos auxiliam na busca pelo controle das ações com base na mitigação de impactos negativos ao meio ambiente. Neste contexto, algumas normativas foram criadas para regulamentar ações a serem executadas, entre elas, a NR-9 (BRASIL, 2020a), que discorre sobre a Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos, e a NR-18 (BRASIL, 2020b), sobre as Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, que leva em consideração o meio ambiente construído. Veremos ambas a seguir. 56 4.1 NR-9 – Avaliação e Controle das Exposições a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos A NR-9 (BRASIL, 2020b), estabelece os requisitos para a avaliação das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos, quando identificados no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Com esta última atualização, o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) passa a não ser obrigatório, e a gestão dos riscos ambientais para a ser deve ser elaborado de acordo com cada segmento da empresa, sob responsabilidade do empregador, mas com a participação dos trabalhadores. Ele deve estar articulado com as demais documentações exigidas em outras NRs, em especial ao Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) (BRASIL, 2020a). Seguindo a mesma ordem, vista anteriormente, para impactos ambientais, o PGR deve, inicialmente, identificar ou reconhecer os riscos existentes em todos os postos de trabalho. Em seguida, avaliar os riscos encontrados e respectiva exposição dos trabalhadores. Por fim, implementar medidas de controle e verificação da eficácia. De acordo com a NR-9 (BRASIL, 2020b), deve-se avaliar os agentes físicos, químicos e biológicos, que são: • Agentes físicos: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes. • Agentes químicos: Substâncias e/ou compostos que possam penetrar por via respiratória, como poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores. • Agentes biológicos: bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus. Neste ponto, vale ressaltar que, por meio da norma, deve ser realizada uma análise preliminar das atividades laborais e dos dados disponíveis relativos aos agentes citados acima, determinando se 57 existe a necessidade de adotar medidas de prevenção ou de realização de avaliações qualitativas ou quantitativas. Por ordem de prioridade, primeiramente, devem ser executadas medidas coletivas (eliminação, redução ou minimização de riscos na fonte), medidas administrativas de organização do trabalho (rotatividade de tarefas e turnos, redução do tempo de exposição), treinamento para a formação de hábitos saudáveis e, como último recurso, uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI). De acordo com a NR-9 (BRASIL, 2020b), a identificação das exposições ocupacionais aos agentes físicos, químicos e biológicos devem considerar os itens que constam na Figura 2. Figura 2 – Identificação das exposições ocupacionais Fonte: adaptada de Brasil (2020b). 58 Para o reconhecimento dos riscos, a norma orienta que deve conter a identificação do risco, a determinação e localização das fontes geradoras, a identificação dos meios de propagação dos poluentes, o número de trabalhadores expostos e os possíveis danos à sua saúde, o comprometimento da organização na saúde do trabalhado e as medidas de controle que estão sendo tomadas (BRASIL, 2020b). Os resultados dessas avaliações dos agentes físicos, químicos e biológicos, devem compor o inventário de risco do PGR, incorporados ao Plano de Ação que deve ser estabelecido pela organização e cumprir o programa como atividade permanente. Ainda, cabe ao trabalhador colaborar e participar na execução do PGR, seguir as orientações e informar ao seu superior sempre que julgar existir ocorrências de riscos à saúde e ao meio ambiente. 4.2 NR-18 – Condições de Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção Civil Assim, como a NR-9 (BRASIL, 2020b), a nova NR-18 (BRASIL, 2020c), atualizada em 2020, apresentou mudanças conceituais importantes, passando a ser uma norma de gestão ao invés de uma norma de aplicação. O Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria e Construção Civil (PCMAT) passa a não existir mais, sendo substituído pelo Programa de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (PGR). Vale ressaltar que o PCMAT de obras ainda não finalizadas continua válido até sua conclusão. A elaboração deste programa contempla os riscos ocupacionais e suas respectivas medidas de prevenção. Essa normativa, desde a versão antiga, leva em consideração a proteção do meio ambiente natural e construído, além da saúde e segurança do trabalhador. Discorre sobre as condições de segurança e saúde no trabalho e na indústria da construção civil, tem por objetivo o 59 estabelecimento de diretrizes para a implementação e medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, condições e no meio ambiente de trabalho na construção civil. Além de estar sempre atualizado de acordo com a etapa da obra, o PGR deve propiciar o avanço tecnológico em segurança, higiene e saúde dos trabalhadores, objetivar a implementação de medidas de controle e de sistemas preventivos, e garantir a realização das tarefas laborais de forma segura e saudável (BARBOSA FILHO, 2015). Barbosa Filho (2015) afirma que na elaboração de documentos, como PGR, devem ser levados em consideração desafios, entre eles: • A seleção, deslocamento, permanência no canteiro do grande número de trabalhadores requeridos. • O treinamento, a formação e a coordenação das mais diversas especialidades. • O fornecimento de instalações para alimentação, higiene pessoal e repouso. • O aprovisionamento de materiais de uso direto e indireto na obra, inclusive ferramental e equipamentos de proteção. • O registro das atividades efetuadas pela maquinária, bem como a regularidade na sua manutenção, para assegurar a confiabilidade. Os principais pontos de atenção e que devem ser levados em consideração no PGR estão dispostos na Figura 3. A figura não mostra, necessariamente, a ordem de importância dos pontos de atenção. Vale reforçar que a norma exemplifica cada um dos pontos, com as diretrizes e normas específicas, estabelecendo limites e critérios. 60 Figura 3 – Pontos de atenção no PGR para a NR-18 Fonte: adaptada de Brasil (2020c). Nos anexos da norma, é apresentada a carga horária, periodicidade e conteúdo programático na capacitação dos trabalhadores. O PGR é um dos primeiros temas a serem abordados, e todos devem estar cientes das medidas de mitigação de acidentes do trabalho e ambientais. 61 A indústria da construção civil, em nosso país, é grandiosa em dimensões e números, implicando na importância para a economia nacional. Os números também correspondem aos índices mais altos para acidentes de trabalho. As quedas em altura são as principais, seguido pelos cortes e lacerações, lesão por esforços repetitivos, exposição a ruídos e picadas de insetos peçonhentos. Para isso, as NRS são importantes e devem ser seguidas à risca, bem como o uso de EPCs e IPIs, os diálogos sobre a segurança, a capacitação dos trabalhadores e a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Dessa forma, e a partir dos dispostos nas NR-9(BRASIL, 2020b) e NR- 18 (BRASIL, 2020c), percebe-se que os estudos relacionados ao meio ambiente (natural e construído), bem como a saúde e segurança do trabalhador, são ferramentas de extrema importância e relevância para mapear os riscos, propor soluções, identificar pontos positivos e negativos e estar de acordo com as normas legais estabelecidas em nosso país. É necessário, ainda, além da participação e apoio da alta administração, o engajamento dos trabalhadores para que os Programas sejam efetivos e representem a realidade. Dessa forma, a capacitação dos funcionários para que entendam as metas e diretrizes, e a melhoria contínua de processos ajudam a promover a proteção do meio ambiente e a saúde e segurança do trabalhador. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001:2015–Sistemas de gestão ambiental–Requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro, 2021. BARBOSA, R. P. Avaliação de Risco e Impacto Ambiental. São Paulo: Saraiva Educação, 2014. BARBOSA FILHO, A. N. Segurança do Trabalho e Gestão Ambiental. São Paulo: Atlas, 2010. BARBOSA FILHO, A. N. Segurança no Trabalho na Construção Civil. São Paulo: Atlas, 2015. 62 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução Conama n. 001, de 23 de janeiro de 1986. Brasília, 1986. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução Conama n. 237, de 19 de dezembro de 1997. Brasília, 1997. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência Social. NR-09–Avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos. Brasília, 2020b. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/ composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e- saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr-09-atualizada-2020.pdf. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência Social. NR-18–Condições de segurança e saúde no trabalho na indústria da construção. Brasília, 2020c. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/ orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ normas-regulamentadoras/nr-18-atualizada-2020.pdf. Acesso em: 8 mar. 2022. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência Social. NR-07–Programa de controle médico de saúde ocupacional. Brasília, 2020a. Disponível em: https://www.gov. br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de- trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/normas-regulamentadoras/nr- 07_atualizada_2020.pdf. Acesso em: 8 mar. 2022. http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459 http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho 63 Os Estudos Ambientais Autoria: Caroline Hatada Lima Bomfim Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Objetivos • Orientar os leitores acerca da importância dos estudos ambientais para a prevenção de riscos. • Apresentar exemplos de estudos ambientais. • Estabelecer critérios os estudos ambientais e suas aplicações nas organizações. 64 1. Introdução Neste material, você se familiarizará com a importância dos estudos ambientais para análises de riscos ao meio ambiente natural, além de poder entender mais a respeito de alguns dos estudos mais rotineiramente utilizados pelas organizações e órgãos governamentais. Além disso, poderá entender como é necessário conhecer os riscos das atividades da organização, e como mapear os impactos ambientais é fundamental para a proteção do meio ambiente. 2. Os estudos ambientais O ser humano, no decorrer de sua história evolutiva, vem extraindo os recursos naturais para seu crescimento e desenvolvimento, muitas vezes, sem planejamento urbano ou análises de riscos ao meio ambiente. Nos dias de hoje, o cenário vem se modificando, e a preocupação com as questões ambientais, seja para estar de acordo com a legislação vigente ou pela política ambiental da empresa, está cada vez mais em evidência (STEIN, 2018). Nas indústrias, construção civil, comércio, e demais atividades que gerem impacto ambiental, é fundamental que sejam realizados estudos para identificar quais danos esse empreendimento pode causar ao meio ambiente. Esses estudos servirão de base para que sejam tomadas medidas cabíveis no que diz respeito ao desenvolvimento da organização para as questões ambientais, como o local de instalação da empresa, a região ao entorno, os aspectos ecológicos, graus de risco, medidas de mitigação etc. Quanto antes a organização identificar seu potencial poluidor e tomar as medidas e precauções necessárias, melhor será para seu desenvolvimento, para a saúde e segurança do trabalhador, e para garantir um meio ambiente equilibrado (BARBOSA, 2014). 65 Entretanto, percebe-se, ainda, que existe uma grande relutância na elaboração de estudos ambientais pelas empresas, onde somente fazem quando existe uma obrigatoriedade por lei. Por meio da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU) para os ODSs (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável), os bancos e outras financiadoras vêm atuando para restringir linhas de crédito e financiamento para empresas que não gerenciam seus passivos, não adotam medidas mitigatórias ou de prevenção. Qual o interesse dessas instituições bancárias para promover os ODSs? Eles mesmos precisam estar de acordo e cumprir com os objetivos da ONU, e veem, neste incentivo em condicionar financiamentos, uma forma de atingi-los Dessa forma, as instituições públicas, privadas, o governo e o próprio cidadão, têm papel fundamental para o sucesso de planos e projetos relacionados ao meio ambiente. Todos devem trabalhar em conjunto, com transparência, imparcialidade, equidade e informação, dentro de uma participação legalizada, organizada e coerente, que leva em consideração os aspectos ambientais e socioeconômicos, buscando a melhoria contínua e a proteção do meio ambiente (STEIN, 2018). Os requisitos mínimos de acordo com o artigo 5º, da Resolução CONAMA n. 01/86 (BRASIL, 1986), para o desenvolvimento de estudos ambientais, são: I – Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto. II–Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação da atividade. III – Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza. 66 IV – Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade. Parágrafo Único – Ao determinar a execução doestudo de impacto ambiental, o órgão estadual competente, ou o IBAMA, ou, quando couber, o município, fixará as diretrizes adicionais que, pelas peculiaridades do projeto e características ambientais da área, forem julgadas necessárias, inclusive os prazos. (BRASIL, 1986, [n. p.]) São exemplos de estudos ambientais: o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), Plano de Controle Ambiental (PCA), Sistema de Gestão Ambiental na empresa (SGA) e as normas da ABNT NBR ISO 14.001. Todos esses planos e projetos, veremos no decorrer deste material. 2.1 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) Os Estudos dos Impactos Ambientais (EIA) são uma das principais ferramentas para avaliar as atividades que podem impactar o meio ambiente em uma organização (STEIN, 2018). Este importante estudo contêm informações do empreendimento e as atividades exercidas por ele, que podem causar impacto ambiental, além de soluções para seu controle e mitigação. De acordo com Barbosa (2014), o EIA deve ser desenvolvido estabelecendo uma ligação entre a situação atual da organização e o alcance de soluções concretas, levando em consideração os ambientes físicos, biológicos e sociais, por meio de análises quantitativas e qualitativas. Este estudo deve obedecer a uma sequência lógica, que permite seu desenvolvimento desde sua concepção até conclusão, para organizações produtivas ou empreendimentos que causem qualquer impacto negativo ao meio ambiente. Devem proporcionar suporte técnico e administrativo, que servirão de base para tomadas de decisão a favor da proteção do meio ambiente. 67 O formato padrão para o EIA pode variar de acordo com cada organização e seu potencial poluidor, podendo ser incluídos dados peculiares de cada região, por exemplo, desde que embasados por leis específicas (STEIN, 2018). No entanto, há um consenso em um roteiro mínimo básico que atende a legislação, apresentado na Figura 1. Figura 1 – Requisitos mínimos para o EIA Fonte: elaborada pela autora. 68 Na Descrição do Empreendimento, são descritas as informações básicas da organização (nome, razão social, endereço, nome dos responsáveis), a localização (mapas), o fluxograma dos processos produtivos, os projetos setoriais já existentes, planos de expansão, entre outras informações relevantes. A Área de Influência é o espaço que pode sofrer alterações devido a atividade laboral da organização. Essas alterações podem ser nos locais próximos ao local de instalação da empresa (Área Diretamente Afetada– ADA) ou no seu entorno (Área de Influência Direta–AID). Também pode ser em áreas que transcendem a ADA ou AID, mas que podem sofrer com impactos indiretos (Área de Influência Indireta–AII). O Diagnóstico dos Fatores Ambientais tem por principal objetivo caracterizar a área do empreendimento e o que pode ser feito antes de sua implantação para promover a proteção do meio ambiente, facilitando a identificação dos impactos nos meios físicos, biológicos e socioeconômicos. Nesta etapa, são planejadas e realizadas análises de riscos e detalhamento técnico na região de implantação. A Análise dos Impactos Ambientais identifica, valora e interpreta os dados levantados na etapa anterior. Verifica, ainda, qual o potencial poluidor de cada setor da organização. Na Proposição das Medidas Mitigatórias, são estabelecidos o que será feito para prevenir, corrigir, compensar e potencializar os impactos ambientais. Deve-se levar em consideração todas as fases do empreendimento, os custos envolvidos, a responsabilidade, prazo, cronogramas etc. Os Programas Ambientais são os procedimentos para a prevenção ambiental. A alta administração deve executar, financiar e gerenciar programas para promover as medidas mitigatórias necessárias. Neste momento, a participação da comunidade local se faz importante. 69 Por fim, os Programas de Monitoramento devem ser estabelecidos para acompanhar os impactos durante todas as fases do empreendimento, devendo indicar as não conformidades e o que deve ser feito para seu acompanhamento. Nesta etapa, a melhoria contínua é fundamental. Dessa forma, o EIA é um estudo que exemplifica de forma abrangente todo o potencial poluidor da organização, identificando os riscos da atividade laboral, gerenciando, além de propor soluções, e buscando o desenvolvimento sustentável. 2.2 Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) Um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei n. 6.398/81 (BRASIL, 1981), a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) tem como objetivo principal a prevenção dos impactos ambientais negativos gerados pelas organizações. Por meio da AIA, é possível compreender a importância do gerenciamento de riscos das atividades produtivas e dos empreendimentos, por meio de suporte técnico, operacional e legal. Devido sua aceitação e objetivos, a AIA passou a ser um documento rotineiro e aplicado ao processo decisório em mais de 180 países, a partir dos anos 1970 (STEIN, 2018). A AIA possui um conjunto de procedimentos legais, institucionais e técnico-científicos que buscam caracterizar e identificar previamente os impactos ao meio ambiente. É capaz de assegurar, desde a implantação, propostas e alternativas para a problemática, sempre bisando a proteção do meio ambiente e da população. De modo geral, o AIA é um instrumento da PNMA na qual são descritos diretrizes, princípios e os objetivos a serem seguidos em uma organização. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) são seus principais instrumentos de aplicação. O AIA é mais abrangente, voltado para áreas específicas (empresas, biomas, ecossistemas), podendo ser desenvolvidas pelo poder público 70 ou privado, enquanto o EIA é, usualmente, realizado por organizações de grande porte e alto potencial poluidor. Portanto, como fundamentos básicos, a AIA deve prevenir, antecipar ou compensar o impacto gerado, seja positivo ou negativo, promovendo, assim, o desenvolvimento sustentável, o uso dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente. De acordo com Barbosa (2014), uma das formas de apresentação da AIA é por meio de checklists como uma forma preliminar de avaliação o impacto dos empreendimentos. Por sua praticidade e padronização, o checklist deve ser aplicado em todos os setores da organização e consiste em uma listagem dos dados de acordo com a identificação dos impactos. Os checklists podem ser: • Descritivos: descreve as características dos fatores ambientais e seus parâmetros. • Escalares: descreve os fatores por meio de uma escala quantitativa. • Escalares ponderadas: descreve os fatores e impactos por meio de uma escala, graduando os dados de interesse. A vantagem deste método é a objetividade, pois pode-se usar uma listagem específica para cada atividade setorial ou etapa, reduzindo o risco de que se omita um impacto pelo esquecimento. A desvantagem é que os resultados são subjetivos, ou seja, não consideram a causa do impacto e outros aspectos que exigem análises mais profundas. 2.3 Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) A maior parte das bibliografias que tratam o tema, apresentam o conceito de EIA e do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), interligados. Sendo assim, o EIA/RIMA é um estudo prévio, instrumento do 71 planejamento que auxilia na tomada de decisão em uma organização. Tem como principal objetivo antecipar e apoiar decisões, fornecendo informação aos órgãos públicos para eliminar/ minimizar e gerenciar impactos (STEIN, 2018). Em suma, o RIMA tem por finalidade tornar compreensível, para o público, o EIA, refletindo suas conclusões. Além disso, deve ser descrito de modo compreensível e menos técnico. A diferença entre o EIA e o RIMA está descrita no Quadro 1. Quadro 1 – Principais diferenças entre o EIA e o RIMA Aspectos EIA RIMA Linguagem. Técnica. Acessível. Disponibilidade. Apenas ao órgão ambiental. Público/ sociedade. Necessidade de apresentaçãoem audiência pública. Não. Sim. Fonte: adaptado de Stein et al. (2018). Portanto, o RIMA deve ser elaborado com o mesmo conteúdo do EIA, porém, de forma mais simplificada para que possa ser compreendido por leigos. Para elaborar um RIMA, é necessário ter uma equipe multidisciplinar, capaz de observar todas as atividades da empresa e identificar seu potencial poluidor, além de fazer um levantamento dos aspectos e impactos ambientais da organização, a fim de que os resultados obtidos estejam apresentados de forma clara e objetiva. 2.4 Plano de Controle Ambiental (PCA) O Plano de Controle Ambiental (PCA) é uma exigência complementar ao EIA/RIMA, usualmente, solicitado para requerimento de Licenças Ambientais. 72 A estrutura básica do PCA é apresentada a seguir: • Identificação do empreendedor e da empresa consultora. • Caracterização do empreendimento (objetivo do empreendimento, área total e construída, compatibilidade com o Plano Diretor Municipal, memorial descritivo das atividades, plantas arquitetônicas). • Diagnóstico ambiental simplificado (áreas de influência direta e indireta com respectivas justificativas, diagnóstico apresentando a qualidade ambiental). • Prognóstico ambiental (aspectos ambientais como odor, ruído, vibrações, resíduos, metodologias para análise dos impactos). • Plano de educação ambiental para os trabalhadores. • Cronograma. • Considerações finais. 2.5 Sistema de Gestão Ambiental (SGA) na empresa e a ABNT NBR ISO 14.001 De acordo com a ABNT NBR ISO 14.001 (BRASIL, 2015), as organizações de todo o mundo estão cada vez mais preocupadas com o desempenho ambiental e o controle de seus impactos, produtos e serviços sobre o meio ambiente. Diante disso, muitas organizações têm efetuado análises ou auditorias ambientais para autoavaliação, porém, estas podem não ser suficientes para proporcionar garantias que seu desempenho atenda ou continue a atender requisitos legais (BRASIL, 2004). Para garantir eficácia, são necessários procedimentos de avaliação dentro de um sistema de gestão estruturado, assim como a normativa da ABNT NBR ISO 14.001 (BRASIL, 2015). 73 O Sistema de Gestão Ambiental (SGA) tem por principal objetivo o gerenciamento dos aspectos ambientais em uma organização, identifica os meios necessários para a redução de impactos, abrangendo desde a cadeia de produção até os fornecedores. Além de treinar e conscientizar os colaboradores envolvidos em cada etapa da produção em uma organização, o SGA também visa assegurar a sustentabilidade em todo o ciclo produtivo. O SGA também pode ser estabelecido a partir do RIMA. A gestão ambiental em si, estuda e administra as atividades de uma organização de forma responsável e criteriosa, visando a proteção do meio ambiente e a verificação de impactos ambientais. De acordo com Stein et al. (2018), os principais benefícios e objetivos que podem ser realizados por meio da gestão ambiental, podem ser: • Técnicas para a recuperação de áreas degradadas (solo improdutivo, por exemplo). • Técnicas de reflorestamento. • Métodos para a exploração sustentável de recursos naturais. • Estudo de riscos e impactos ambientais de novos empreendimentos. • Reaproveitamento de resíduos inservíveis, como pneus, pilhas, baterias, entulhos etc. • Estudo de novas tecnologias que venham de alguma forma contribuir para a melhoria da gestão. Dessa forma, a gestão ambiental deve ser introduzida no dia a dia da organização como cumprimento das normas legais, para a minimização de custos indiretos (multas, sanções) e diretos (desperdício de matéria- prima e recursos naturais) e como forma de marketing ecológico e 74 certificações ambientais. Uma dessas formas de certificação é por meio da ABNT NBR ISO 14.001 (BRASIL, 2015). A ABNT NBR ISO 14001 (BRASIL, 2015) é o modelo mais conhecido de gestão ambiental e mais adotado no mundo corporativo. É uma normativa internacional, e faz parte da série de normas da ISO 14.000, cuja finalidade é o gerenciamento dos recursos naturais nos meios produtivos e de serviços. Sua certificação beneficia, além da proteção ambiental, o marketing positivo devido ao envolvimento das organizações com a causa ambiental, preservação do meio ambiente por meio do controle de impactos, redução de custos e riscos, promover o desenvolvimento sustentável, e fomentar auditorias ambientais. A ABNT NBR ISO 14.001 (BRASIL, 2015) é baseada no ciclo PDCA, do inglês plan-do-check-act, que significa planejar, fazer, checar e agir. Essa metodologia é a base da melhoria contínua, onde, de acordo com as etapas, é necessário realizar um planejamento das ações da organização, realizar as medidas estipuladas no planejamento, checar o que foi realizado e agir conforme a melhoria contínua. A ABNT NBR ISO 14.001 (BRASIL, 2015) afirma que a adoção e implementação sistemática de técnicas de SGA podem ajudar e muito em seus processos e na identificação de pontos de melhoria. Os principais pontos de atenção e requisitos para o SGA são: • Requisitos gerais: a organização deve estabelecer, documentar, implementar, manter e melhorar o SGA por meio de um escopo pré-definido. • Política ambiental: a alta administração deve definir sua política ambiental que inclua um comprometimento com a melhoria contínua e com o atendimento a requisitos legais, que forneça estrutura para análises e metas ambientais, que seja documentada, implementada e mantida, que seja comunicada a toda a organização e esteja disponível para o público. 75 • Planejamento: manter planejamento por meio dos aspectos ambientais, requisitos legais, objetivos, metas e programas. • Implementação e operação: por meio de recursos para manutenção e melhoria do SGA, o estabelecimento de responsabilidades, competências, treinamentos, conscientização dos colaboradores, comunicação, controle de documentação e operacional. • Verificação: por meio de monitoramento e medição, avaliação do atendimento a requisitos legais, verificação de não conformidades, ações corretivas e preventivas e auditoria interna. • Análise pela administração: apresentando os resultados das auditorias internas, situação das ações corretivas e preventivas, ações a serem executadas etc. Por fim, o SGA é uma excelente ferramenta de gestão para organizações que desejam ser mais competitivas por meio de uma certificação ambiental reconhecida mundialmente. Por meio da ABNT NBR ISO 14.001 (BRASIL, 2015), a organização passa a ter seus riscos bem estabelecidos e monitorados, promovendo a proteção do meio ambiente e da saúde e segurança dos seus colaboradores. 3. Conclusão Dessa forma, percebe-se que há uma série de estudos, documentos e relatórios que podem auxiliar no gerenciamento de riscos ambientais e na proteção do meio ambiente. Mais do que o atendimento legal, as organizações devem se preocupar com a necessidade crescente de se atentar às questões ambientais e ao potencial poluidor de suas atividades. A partir dessas documentações, é possível mapear os riscos existentes em cada atividade laboral e traçar planos para eliminação, 76 mitigação e compensação. Somente assim se alcançará o verdadeiro desenvolvimento sustentável, alinhando o meio ambiente, economia e a parte social assim como estabelecido nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001:2015–Sistemas de gestão ambiental–Requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro, 2021. BARBOSA, R. P. Avaliação de Risco e Impacto Ambiental. São Paulo: Saraiva Educação, 2014. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução Conama n. 001, de 23 de janeiro de 1986. Brasília, 1986. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=459. Acesso em: 8 mar. 2022. STEIN, R. et al. Avaliação de Impactos Ambientais. Porto Alegre: Sagah, 2018. http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=45977 BONS ESTUDOS! Sumário Gerenciamento e técnicas aplicadas para riscos ambientais Objetivos 1. Introdução 2. Meio ambiente, riscos ambientais e a avaliação ambiental 3. Programa de Prevenção do Meio Ambiente e técnicas de preparação de estudo do meio ambiente 4. Estudos dos critérios e técnicas de avaliação e controle dos poluentes 5. Conclusão Referências Avaliação e gerenciamento de resíduos sólidos Objetivos 1. Introdução 2. A proteção do meio ambiente e o gerenciamento de resíduos sólidos 3. Os resíduos sólidos e sua classificação 4. O gerenciamento de resíduos sólidos 5. Conclusão Referências Efluentes líquidos e poluição atmosférica Objetivos 1. Introdução 2. A água e os recursos hídricos 3. O efluente líquido 4. A poluição do ar Referências Programas de Avaliação Ambiental Objetivos 1. Introdução 2. A poluição e os impactos ao meio ambiente 3. Forma de reduzir os impactos no meio ambiente 4. A avaliação e os estudos ambientais Referências Os Estudos Ambientais Objetivos 1. Introdução 2. Os estudos ambientais 3. Conclusão Referências