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CURTO PRAZO Finanças de UNIDADE 1 Organizadores: Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa Prezado estudante, Estamos começando uma unidade desta disciplina. Os textos que a compõem foram organizados com cuidado e atenção, para que você tenha contato com um conteúdo completo e atualizado tanto quanto possível. Leia com dedicação, realize as atividades e tire suas dúvidas com os tutores. Dessa forma, você, com certeza, alcançará os objetivos propostos para essa disciplina. Objetivo Geral Conhecer a origem e o significado dos elementos utilizados para análise de tesouraria de uma empresa, acompanhando o desenvolvimento financeiro do negócio desde a elaboração dos projetos iniciais de investimento até a verificação da situação financeira do projeto em um determinado momento no tempo. Objetivos Específicos • Elaborar e analisar um Projeto de Investimento; • Entender o impacto dos Investimentos no Fluxo de Caixa; • Aprender a demonstrar a situação em que a empresa se encontra em determinado momento no tempo a partir da análise de balanço. Questões Contextuais • Quais informações e quais indicadores um empreendedor deve avaliar ao elaborar e analisar um projeto de investimento? • Qual o impacto os investimentos em ativos podem gerar na administração da tesouraria? • Quais as ferramentas devemos apresentar para entender a situação financeira consolidada de uma empresa em um determinado momento no tempo? unidade 1 V.1 | 2021 FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 10 1.1 Análise Financeira A análise financeira consiste em avaliar a capacidade de geração e manutenção do caixa das empresas, podendo ser também uma medida de avaliação de desenvolvimento do negócio. Devemos observar que, através dela, elaboramos métodos de avaliação que permitem avaliar a situação financeira do negócio, considerando que o objetivo será determinar o seu desempenho para o melhor uso dos seus recursos. Existem várias formas de conduzirmos a análise financeira de um negócio. Nesta disciplina vamos explorar diferentes visões, focando na importância do planejamento financeiro, principalmente nos aspectos de curto, mas também passando pelos aspectos de médio e longo prazo. Neste sentido, ao longo das Unidades de estudo, iremos aos poucos introduzir dados e cenários cada vez mais complexos para tornar nossas análises mais interessantes e instrutivas. Vamos lá? 1.1.1 Analisando um Projeto de Investimento Quando um empreendedor decide investir em um negócio, ele se vê envolvido em diversas incertezas, sendo a principal delas a seguinte pergunta: Se eu investir todo esse capital, no final das contas, vou conseguir receber de volta meu dinheiro e ainda ter algum lucro? Observando o questionamento podemos perceber que, na verdade, ele está lidando com uma pergunta cotidiana na gestão financeira, entendendo que a gestão financeira de curto prazo é um elemento importante para o sucesso de empresas e investimentos. Que problema, não é mesmo? Agora, vamos avaliar com mais detalhes a possível resposta através da descrição do Fluxo de Caixa do investimento. 11 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 Preste atenção nos elementos da Figura 1.1: Figura 1.1 – Fluxo de caixa de um projeto de investimento. Fonte: Elaborado pelo autor (2019). a. A linha horizontal é uma linha de tempo na qual podemos representar o período (dividido em semanas, meses ou anos) de duração do empreendimento; b. As setas azuis (para cima) são consideradas as receitas ou as entradas de dinheiro em cada período, decorrentes dos resultados de vendas ou eventualmente de outros resultados não operacionais, como rendimentos de operações financeiras, venda de ativos etc.; c. As setas vermelhas (para baixo) representam as saídas de dinheiro, relacionadas a custos e despesas; d. A seta vermelha maior no período zero representa o investimento inicial realizado, geralmente associado à compra de máquinas e equipamentos, seleção e capacitação de pessoal, instalações, formação de estoques e demais providências necessárias ao início das atividades. 0 1 2 3 4 5 ... N Custos e despesas Receitas Tempo SAÍDAS ($) ENTRADAS ($) Investimento Inicial FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 12 A partir da análise do f luxo de caixa projetado (Figura 1.1) podemos perceber que é uma representação simplificada, porém, extremamente útil para elaborar esquemas de f luxos de caixa de investimentos. Podemos inclusive identificar, ao longo do tempo percorrido, os excedentes (Fluxos de caixa positivos), buscando as melhores alternativas para aplicá-los e, da mesma forma, podemos identificar os déficits, buscando as melhores alternativas para saná-los. Ou seja, percebemos claramente que a gestão financeira de curto prazo tem condições de tomar ações e decisões relacionadas a situação financeira imediata da empresa. Em nosso exemplo, representamos pelo período “N” no f luxo que a quantidade de entradas ($) seja suficiente para cobrir as saídas ($) e recuperar o investimento inicial. Se ainda houver sobra de dinheiro, quer dizer que o empreendimento foi lucrativo. Ou seja, deve haver um equilíbrio entre o investimento realizado no curto prazo e o retorno financeiro a ser obtido no longo prazo, fato é que muitos empreendedores subestimam esses valores e se surpreendem com necessidades adicionais de aporte financeiro muito além do que previam. O mesmo cuidado vale para todas as entradas e saídas de dinheiro ao longo do horizonte de planejamento. Neste sentido, o investidor precisa ser muito cuidadoso para estimar a quantidade de dinheiro que irá necessitar para cobrir os gastos com o investimento inicial, considerando inclusive o horizonte de tempo de análise, quer dizer, quão longe está esse enésimo período (N). Empreendimento: pode ser simplesmente entendido como sinônimo de firma, projeto ou negócio. No entanto, a definição de “ação de quem toma para si uma responsabilidade” nos parece mais adequada, pois quando decidimos empreender nosso esforço, tempo e principalmente capital em um projeto, empresa ou negócio, assumimos obrigações e riscos em relação a compromissos futuros para os quais não possuímos todas as certezas de que resultados poderão ser obtidos. Daí chamamos a pessoa que decide assumir esses riscos de empreendedor e damos o nome de empreendedorismo a esse comportamento. GLOSSÁRIO Estamos falando de dois ou três anos ou se trata de um período muito maior? Ou seja, estamos falando de quanto tempo? REFLETINDO 13 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 De fato, não podemos partir do princípio que um empreendimento irá durar para sempre. Produtos saem de linha e consumidores mudam suas preferências. Mesmo quando se trata de um empreendimento comercial, por exemplo, de tempos em tempos é necessário um novo investimento, como uma modernização do ponto de venda, uso de novas tecnologias, ou mesmo mudança do perfil de funcionários. Desta forma, percebemos que é sempre aconselhável que o investidor recupere pelo menos uma boa parte de seu investimento inicial antes de ter que fazer novos aportes de capital para continuar com seu negócio. Não há uma regra clara, mas o que sabemos é que quanto maior for o investimento inicial, provavelmente mais tempo o empreendedor irá demorar para recuperar o dinheiro investido. Deste modo, entendemos que a análise de um projeto de investimento é, resumidamente, uma forma de avaliar o tempo e as formas de retorno para o investidor, conceito este aliado as definições da gestão de finanças de curto prazo que visam colocar em prática o que foi definido para médio e longo prazo, adaptandoas ações à realidade do momento. Neste sentido, devemos completar nossa análise estabelecendo a relação entre o investimento e o tempo de retorno para o investidor, ou seja, antes de seguirmos em nossa análise, precisamos de dados econômicos do empreendimento objeto do investimento, então, vamos buscar informações necessárias para o demonstrativo de resultados. Também é desejável que esse horizonte seja relativamente próximo, pois a conjuntura econômica pode sofrer grandes alterações, haja visto os períodos de crise econômica, com inflação e juros altos, que de tempos em tempos temos que atravessar, não é mesmo? DESTAQUE FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 14 1.2 Demonstrativo de Resultados e Fluxo de Caixa Detalhado A Demonstração dos resultados do período é uma peça do conjunto das demonstrações contábeis, que tem por objetivo detalhar a formação do resultado do período (Lucro ou Prejuízo) pela confrontação das receitas, custos e despesas de uma empresa, registradas segundo o princípio contábil do regime de competência. • Regime de Competência: o registro da receita dos custos e despesas se dá na data do fato gerador (ou seja, na data do documento, não importando quando vou pagar ou receber). Ou seja, a Contabilidade registra as receitas, custos ou despesas dentro do mês de Competência, na data onde ocorreu o fato Gerador, na data da realização do serviço, material, da venda, do desconto, não importando para a Contabilidade quando vou pagar ou receber, mas sim quando foi realizado o ato. Desta forma, na prática, a contabilidade estabelece que os fatos contábeis devem ser registrados no resultado do período em que ocorrerem, ou seja, a competência de um fato contábil está ligada ao seu acontecimento e não ao seu recebimento ou pagamento. Conforme o item 27 do CPC 26 (R1), “A empresa deve elaborar as suas demonstrações contábeis, exceto para a demonstração dos f luxos de caixa, utilizando-se do regime de competência” (CPC, 2011). Entendemos, assim, que as receitas, as despesas e os custos devem ser registrados, independentemente de pagamentos e recebimentos, sempre no período em que ocorrerem, de forma que seja possível a apuração do resultado de um período, sempre pelo fato gerador da receita, custo ou despesas. a. Receitas: são os possíveis ingressos de recursos provenientes das atividades da empresa. Possíveis porque as receitas acontecem independentemente do efetivo recebimento das vendas, porém, se não foi monetarizada, acontece ao mesmo tempo o direito de o vendedor receber pela venda realizada. b. Custos e Despesas: são os gastos que podem ocorrer de duas formas: com ou sem relação à atividade da empresa. Ou seja, os gastos são compromissos assumidos em função da compra de uma mercadoria ou da contratação de um serviço, independentemente de seu efetivo pagamento. 15 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 Veja o exemplo hipotético a seguir: Exemplo: caso a empresa realize uma venda no mês de dezembro do ano de 20X1, com recebimento previsto para 30 dias, ou seja, em janeiro do ano de 20X1, a receita de venda deverá ser registrada no mês de dezembro, e o seu reflexo no f luxo de caixa (Entrada de recurso) deve ser considerado no mês de janeiro de 20X2, da seguinte forma: Lançamento na DRE em Dezembro de 20X1 Receita (Resultado - por conta da efetivação da venda): R$ 1.000,00 Duplicatas a Receber (Ativo - pelo direito de Receber): R$ 1.000,00 Lançamento no Fluxo de Caixa em Janeiro de 20X2 Recebimento de duplicatas: R$ 1.000,00 Assim, constatamos que uma receita é considerada efetivada no momento da entrega da mercadoria, independentemente do recebimento financeiro. Da mesma forma, um custo ou despesa são considerados incorridos no momento em que existe o consumo de bens ou a utilização de serviços, objeto dos custos ou despesas, independentemente do pagamento pela empresa do valor devido. Em resumo, por meio de uma Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), também conhecida como Demonstrativo de Resultado, podemos apurar (o investimento já realizado) ou estimar (quando ainda estamos decidindo) o resultado de cada período de operação. Neste sentido, podemos realizar análises anuais, mensais e até mesmo em períodos menores, conforme a necessidade de informação dos gestores do negócio, basta adaptar as informaç ões sobre custos e despesas à base de apuração necessária e, desta forma, avaliar o impacto destes gastos e dos investimentos no f luxo de caixa. Vamos representar nosso demonstrativo de resultado por meio do Quadro 1.1. Na primeira coluna apresentamos os lançamentos do demonstrativo de resultados na forma de uma equação matemática (atente para os sinais de “+”, “-”, indicando entrada ou saída, e “=” indicando resultados parciais ou finais), cujos significados estão detalhados na segunda coluna. FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 16 Quadro 1.1 – Exemplo de estrutura simplificada de um Demonstrativo de Resultados (DRE). LANÇAMENTO DETALHAMENTO FATURAMENTO ou RECEITA BRUTA Refere-se às vendas de produtos e serviços realizadas no período. (-) IMPOSTOS INDIRETOS Aqui, temos os impostos que incidem sobre a atividade e não diretamente sobre o lucro. Os tipos de impostos e alíquotas (taxas sobre o faturamento) dependem da natureza da atividade, do volume faturado e da localidade das operações. Prestadores de serviço recolhem ISSQN - Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza. Fabricantes de produtos recolhem IPI - Imposto sobre Produto Industrializado. Conforme a atividade, também são recolhidos ICMS, PIS e COFINS. (=) RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS É o resultado líquido de vendas, já descontados os impostos. (-) CUSTOS DIRETOS ou CUSTO MÉDIO VARIÁVEL Todos os custos relacionados diretamente à prestação do serviço ou da fabricação dos produtos, relacionados aos fatores e recursos que entram em sua composição. Por exemplo, a matéria-prima utilizada, salário do pessoal operacional, impostos e encargos trabalhistas etc. (-) DESPESAS DIRETAS ou DESPESAS VARIÁVEIS São custos relacionados à operação e à administração do negócio, relacionados às atividades de suporte à operação. Tanto os custos quanto as despesas diretas costumam ser lançados de forma estratificada por linha de produto, operação ou serviço prestado, facilitando sua gestão. O próprio demonstrativo de resultados também pode ser elaborado de forma estratificada por linha, localidade ou partes da operação. (=) MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO É um resultado parcial. Se a empresa possui diferentes origens de geração de resultado, esse valor diz o quanto essa origem específica (por exemplo, grupo de produtos e serviços de parte da operação) contribui para a geração do resultado global da empresa. (-) PROVISÃO DE RISCOS Valor reservado para imprevistos, por exemplo, cobrir inadimplência de clientes, sazonalidades ou outras contingências operacionais. Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Perceba que o demonstrativo de resultados é uma “conta de chegada”, desde receita com a venda de produtos e serviços em um período, descontando-se todos os custos e despesas, até chegar ao lucro final. Para auxiliar nossos estudos, vamos projetar, nos próximos tópicos, o demonstrativo de resultados com informações simplificadas, para não complicarmos demais nosso entendimento, certo? Exemplo: Em um caso hipotético, pense em Hermínio, um empreendedor que pretende abrir uma empresa de bordados para vender uniformes personalizados a escolas e a empresas da região. Ele comprará as peças prontas e fará apenas a personalização. Com base nestas definições, ele realizou uma pesquisa com empresários parceiros que já atuam neste ramo de negócios, e coletou as seguintes informações: 17 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxode Caixa | UNIDADE 1 Tabela 1.1 – Elementos de receitas e despesas projetados. ELEMENTOS DE RECEITAS E DESPESAS PROJETADOS FATURAMENTO ou RECEITA BRUTA R$ 250.000,00 (-) IMPOSTOS INDIRETOS ICMS: 17%; PIS e COFINS: 3,65% (Aplicados sobre o Faturamento) (-) CUSTOS DIRETOS ou CUSTO MÉDIO VARIÁVEL Estima-se 50% sobre o faturamento. Referem-se aos custos com materiais, embalagens, energia elétrica, salários, encargos e outros custos variáveis relativos à produção. CUSTOS FIXOS Aluguel, licenças, contratos de manutenção e suporte. Aproximadamente, R$ 15.000,00. (-) DESPESAS DIRETAS ou DESPESAS VARIÁVEIS Administração do negócio, propaganda, vendas e demais atividades de suporte à operação. Estima-se 5% sobre o faturamento. (-) PROVISÃO DE RISCOS Inadimplências, retrabalhos e perdas. Chegam a 2% do faturamento. Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Com base na pesquisa realizada junto aos empresários do mesmo ramo, temos a projeção do DRE para um mês típico de operação, que será apresentada na Tabela 1.2. Novamente, lembremos que se trata de um demonstrativo simplificado, porém, devemos assegurar que ele tenha levantado todos os elementos relevantes para elaboração da DRE projetada. Tabela 1.2 – DRE Projetada. DRE PROJETADA FATURAMENTO ou RECEITA BRUTA R$ 250.000,00 (-) ICMS (42.500,00) (-) PIS e COFINS (9.125,00) (=) Receita Líquida 198.375,00 79,35% (-) Custos Variáveis (125.000,00) (=) Margem de Contribuição 73.375,00 29,35% (-) Custos Fixos (15.000,00) (-) Provisão de riscos (5.000,00) (=) Lucro Liquido 53.375,00 21,35% Fonte: Elaborado pelo autor (2019). FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 18 Em análise, podemos observar que, do faturamento gerado, 21,35% será o lucro liquido do período. Neste momento, o empreendedor avalia a sua perspectiva de retorno sobre o investimento. Porém, se precisa avaliar que a lucratividade do empreendimento não necessariamente representa a geração de valor no caixa da empresa, visto que há questões como inadimplência de clientes, sazonalidades (meses de maior ou menor faturamento), questões relacionadas ao ciclo de vida de um produto e serviço, e outros custos e despesas variáveis ao longo do ano, por exemplo, que devem ser observadas no estudo realizado. 1.3 O Impacto dos Investimentos no Fluxo de Caixa Antes de avaliar o impacto dos investimentos no f luxo de caixa, é preciso abordar os investimentos sobre a perspectiva da sua interação com os elementos geradores de caixa das empresas. Logo, entendemos alguns conceitos básicos (GITMAN, 2010): • Investimentos pressupõem geração de f luxos de caixa futuros positivos, que devem ser construídos a partir de premissas válidas e realistas; • Premissas excessivamente conservadoras tendem a inviabilizar projetos de investimentos; • Premissas excessivamente otimistas tendem a distorcer a decisão de investimento e no longo prazo revelar prejuízos não previstos inicialmente; • É papel do administrador balancear as diversas visões de um mesmo investimento e equilibrar cenários otimistas, realistas e pessimistas dentro de padrões operacionais exequíveis. 1.3.1 Investimentos em Ativos Para as empresas que necessitam fazer investimentos em máquinas e equipamentos e optam por apurar seus tributos por meio do lucro real (Sistemática de calculo do Imposto de Renda e da contribuição social), existe um benefício fiscal concedido pelo governo em função da depreciação de tais ativos. Do ponto de vista operacional, poderíamos definir a depreciação de um equipamento como o desgaste que esse sofre com o uso, levando a uma necessidade de substituição de tempos em tempos. 19 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 Para efeitos de nossos estudos, definiremos depreciação como tratamento legal e tributário de perda do valor de um ativo de uma pessoa jurídica. A Secretaria da Receita Federal estabelece um valor de dedução a ser aplicado ao lucro da empresa no exercício antes do cálculo do IR e CSSL. A taxa de depreciação é fixada em função do prazo durante o qual se pode esperar a utilização econômica do bem, essa mesma identificação é utilizada para definir, para efeitos da legislação tributária brasileira, o tempo de vida útil ou taxa de depreciação. Porém, como estamos tratando dos impactos dos investimentos no f luxo de caixa, devemos nos atentar para a capacidade do bem em gerar f luxos de caixa positivos, ou seja, devemos, em finanças considerar a depreciação como o valor do desgaste do bem durante o uso. Não se esqueça: depreciação é a alocação sistemática do valor depreciável de um ativo ao longo da sua vida útil (CPC, 2009). Talvez a depreciação dos bens pareça não ser importante, mas é, uma vez que no futuro você precisará repor esse bem, por isso há necessidade de averiguar se o que você ganha hoje, o seu lucro, cobre também essa depreciação e, ainda, se deve considerar que para se medir os resultados de uma companhia utiliza-se o Regime de Competência, onde além de se considerar as vendas efetuadas e as despesas realizadas, também considera-se a depreciação, que no Regime de Caixa não se considera. Exemplo: Supondo que, no nosso caso hipotético, um empreendedor pretende abrir uma empresa de bordados para vender uniformes personalizados a escolas e a empresas da região. Ele irá adquirir duas máquinas a um custo unitário de R$ 30.000,00. Usando a taxa de depreciação de 10% ao ano (Espera-se que o prazo de vida útil das maquinas seja de 10 anos), o valor da depreciação será de R$ 6.000,00 (10% x R$ 60.000,00), todo ano, durante 10 anos, ou até enquanto a empresa possuir as máquinas. Estes valores de depreciação são registrados pela contabilidade como custos ou despesas, no caso hipotético, este valor estava registrado como custo fixo. Qual o impacto da depreciação na avaliação dos fluxos de caixa? REFLETINDO FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 20 Tabela 1.3 – DRE Projetada. DRE PROJETADA FATURAMENTO ou RECEITA BRUTA R$ 250.000,00 (-) ICMS (42.500,00) (-) PIS e COFINS (9.125,00) (=) Receita Liquida 198.375,00 79,35% (-) Custos Variáveis (125.000,00) (=) Margem de Contribuição 73.375,00 29,35% (-) Custos Fixos (15.000,00) (-) Provisão de riscos (5.000,00) (=) Lucro Liquido 53.375,00 21,35% Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Ou seja, espera-se que na projeção das demonstrações de resultado, as depreciações estejam interferindo na avaliação do retorno do investimento através da projeção de lucros futuros, pois, de fato, as depreciações não representam saídas de caixa, mas somente o desgaste dos bens do ativo ao longo do tempo. Tabela 1.4 – DRE Projetada. DRE PROJETADA FATURAMENTO ou RECEITA BRUTA R$ 250.000,00 (-) ICMS (42.500,00) (-) PIS e COFINS (9.125,00) (=) Receita Liquida 198.375,00 79,35% (-) Custos Variáveis (125.000,00) (=) Margem de Contribuição 73.375,00 29,35% (-) Custos Fixos (15.000,00) (-) Provisão de riscos (5.000,00) (=) Lucro Líquido 53.375,00 21,35% (+) Reversão da depreciação 6.000,00 Fluxo de caixa gerado 59.375,00 23,75% Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Depreciação de R$ 6.000,00 computada dentro dos custos fixos 21 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 Assim, entendendo que a depreciação, diferentemente dos outros custos e despesas, não representa saída efetiva de caixa no período de análise, conseguimos também compreender que o lucro, de fato, pode não representar a geração efetiva de caixa. 1.3.2 Investimentos em Capital de Giro Antes mesmo de iniciar o aprendizado acerca dos investimentos em capital de giro, é importante a compreensão correta do termo. Também chamado de capital circulante, o capital de giro compreende o valor necessário a manutenção das atividades da empresa no seu ciclo operacional (ASSAF NETO;LIMA, 2011). O ciclo operacional da entidade é o tempo entre a aquisição de ativos para processamento, e sua realização em caixa ou seus equivalentes, em termos de tempo, quando o ciclo operacional normal da entidade não for claramente identificável, pressupõe-se que sua duração seja de doze meses. Uma vez conceituado o termo, percebemos que o investimento em capital de giro deve ser equivalente ao valor necessário para cumprir os planos de expansão da empresa e ainda cumprir os compromissos de curto prazo. Desta forma, compreendemos como este investimento é importante para empreendedores que, por exemplo, podem adotar duas estratégias distintas de produção: produzir para estoque (MTS ou make-to-stock) ou produzir contra pedido (MTO ou make-to-order). Vamos analisar inicialmente uma empresa que produz para estoque, isto é, ela abastece inicialmente o estoque de produtos e tenta posteriormente vendê-los a seus clientes. Resgatando nosso caso hipotético, lembrando que entre os clientes estarão as instituições de ensino das redondezas, ele pode antecipar a produção e deixar algumas peças de uniforme prontas para o período de início das aulas. Neste contexto, imagine a seguinte linha do tempo: como as aulas iniciam em fevereiro, a empresa deve se programar para ter os uniformes prontos no final de janeiro. Isso implica no seguinte cronograma de trabalho: FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 22 Figura 1.2 – Cronograma de produção de uniformes escolares. Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Perceba que a empresa iniciou a compra de estoque de materiais em outubro, financiando essa aquisição com dinheiro do caixa da empresa. Arcou com as despesas de produção, pagando todos custos e despesas operacionais nos meses de operação e começou a receber o dinheiro das vendas apenas em janeiro, mas com as vendas parceladas, terminou de receber apenas em maio, sendo que 20% peças não foram vendidas e ficaram paradas no estoque. Desta forma, o capital que a empresa utilizou para financiar todo o processo de produção até o recebimento das vendas é chamado de Capital de Giro. Em algumas empresas pode ser um investimento significativo. Quanto maior o valor do estoque de matéria-prima e produtos, maior o custo desse capital. Para gerenciar o capital de giro, é necessário gerenciar os ciclos de produção, que são utilizados para mensurar o tempo em que as atividades da empresa são desenvolvidas, desde a aquisição de matéria- prima até a venda do produto final ao cliente. Seus valores dependem dos processos de produção, capacidade de vendas, recebimentos de clientes e pagamento a fornecedores: Mês Outubro Novembro Dezembro Janeiro a Março Abril a Maio Colocar pedidos de camisetas, malhas, bermudas e abrigos nos fornecedores de peças. Início do trabalho de customização. Aquisição de linhas e outros materiais auxiliares. Término da confecção. Os funcionários precisam entrar em férias cole�vas antes do Natal! Iniciam-se as vendas para os alunos. Hermínio não conseguiu planejar muito bem o estoque e algumas unidades adicionais �verem que ser produzidas para atender à demanda. Provavelmente Hermínio terá que pagar adiantado 50% do valor das peças de roupa que adquirir, na encomenda ao fornecedor; o restante será pago no recebimento das peças. Será pago o restante do valor das peças adquiridas e os materiais auxiliares de produção. Lembre-se que, enquanto isso, Hermínio estará pagando salários, despesas de energia elétrica e tudo o mais que foi u�lizado para essa produção. Em função da urgência, Hermínio coloca mais pedidos no fornecedor, tendo que pagar tudo à vista. Hermínio também recebe parte das vendas à vista, mas a maioria dos pais prefere parcelar a compra no cartão de crédito, em até três vezes. Hermínio não conseguiu vender todas as peças produzidas neste ano e aproximadamente 20% das peças produzidas ficaram em estoque. Término do recebimento das vendas parceladas. Impacto Financeiro A�vidade 23 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 • O ciclo econômico é o tempo que a mercadoria permanece em estoque. Vai desde a aquisição da matéria-prima até o ato da venda dos produtos acabados, não levando em consideração o prazo para recebimento do pagamento das mesmas pelo cliente. Inclui estoques de matérias-primas, produtos intermediários e produtos finais. • O ciclo operacional compreende o período entre a data da compra até o recebimento dos clientes. Caso a empresa trabalhe somente com vendas à vista, o ciclo operacional tem o mesmo valor do ciclo econômico. • O ciclo financeiro também é conhecido como ciclo de caixa, e representa o tempo entre o pagamento a fornecedores e o recebimento das vendas. Quanto maior o poder de negociação que a empresa possuir com seus fornecedores, menor o ciclo financeiro, pois ela pode negociar um prazo mais extenso para pagamento de suas compras e exigir pagamento antecipado ou à vista de seus clientes. Se a empresa não possui poder de negociação, será penalizada em seu ciclo financeiro, pois terá que pagar os fornecedores antecipadamente e ainda fornecer prazo de pagamento aos clientes. Figura 1.3 – Estimativa do valor do investimento em capital de giro. Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Dias Giro Giro total 473.424,66 30 246.575,34 = (30/365) x 3.000.000,00 = Capital de giro 30 246.575,34 = (30/365) x 3.000.000,00 15 19.726,03 = (15/365) x 0,16 x 3.000.000,00 30 (39.452,05) = (30/365) x 3.000.000,00 Simulação do valor do capital de giro para um faturamento anual de R$ 3.000.000,00: Custo proporcional sobre as vendas: produtos em processo 48% do valor do produto final Matéria-prima 16% do valor do produto final Prazo médio de recebimento de clientes Prazo médio de estocagem de produtos acabados Prazo médio de estocagem de matéria prima Prazo médio para pagamento fornecedores Capital de giro necessário FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 24 Na Figura 1.3, que vimos anteriormente, realizamoss uma estimativa do valor a ser investido para financiar o capital de giro. Estabelecemos que seu faturamento anual será de três milhões de reais. A partir daí, o valor a ser investido em cada etapa do ciclo financeiro pode ser calculado como uma fração do faturamento anual. Por exemplo, o prazo médio de recebimento dos clientes é estimado em 30 dias; isso significa então uma fração de 30/365 do faturamento anual. Para os valores de custo de matéria-prima, é aplicado um percentual que representa a fração desse custo no custo do produto final (em nosso exemplo, 16%). Essa estimativa é feita considerando uma média ponderada do custo, calculado a partir da composição do mix de vendas. O mesmo fator utilizado para o cálculo do custo do estoque de matéria-prima é utilizado quando conseguimos um prazo de pagamento junto aos fornecedores, que nos auxiliam, dessa forma, a financiar nosso custo de capital de giro. Enfim, considerando todos os prazos do nosso exemplo, a empresa precisará investir aproximadamente R$ 473 mil para financiamento das operações de sua empresa. O desafio de qualquer empreendedor é reduzir esse custo. Quando é possível, procura-se adotar uma estratégia de produção MTO, isto é, produzir contra um pedido, não gerando sobras em estoque. As técnicas de produção enxuta (lean manufacturing), gestão de estoques por Kanban e outras técnicas de otimização de processos também são úteis para essa finalidade. No entanto, outros problemas operacionais, como tempo de preparação (set-up), tamanho de lote econômico, valor mínimo de encomendas estipulado por fornecedores e prazos de entrega muito longos fazem com que essa opção nem sempre seja possível. 1.3.3 Um Fluxo de Caixa para o Horizonte de Planejamento Com esses elementosdesenvolvidos até o momento, podemos iniciar a projeção de um fluxo de caixa para os dez primeiros anos de funcionamento da nossa empresa fictícia; considerando sempre que o prazo de 10 anos é um prazo considerado adequado pelo investidor. Além do capital de giro que já estimamos, acredita-se que os demais investimentos iniciais serão relativamente elevados, pois além de máquinas para a produção dos uniformes, a empresa precisará de todo o enxoval da loja, com mostruários, locais de armazenamento, computadores para a administração e programação da produção, e uma série de outros elementos que somam um total de R$ 450 mil. 25 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 Esses ativos são todos depreciáveis em dez anos. Também haverá um investimento de aproximadamente R$ 120 mil para abertura da empresa, obtenção das licenças junto à prefeitura, elaboração e implantação do plano de prevenção e combate à incêndio, seleção e contratação de pessoal e outras despesas administrativas que não são depreciáveis. O faturamento anual também irá variar. No início, enquanto ainda estiver formando sua carteira de clientes e se estabelecendo no mercado, estima-se que a empresa inicie com um faturamento anual de R$ 2,5 milhões. Esse valor irá crescer 10% ao ano nos dois anos seguintes e, a partir daí, estima-se um repasse de preços de 5% ao ano, por conta da inflação. O mesmo percentual será aplicado aos custos fixos. Figura 1.4 – Projeção do fluxo de caixa. Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Aplicando, de forma compilada, todos os ensinamentos desta Unidade de aprendizagem, podemos visualizar que a recuperação do valor investido se dará pelos resultados positivos obtidos ao longo dos 10 anos em análise. A última linha do f luxo de caixa é o chamado Fluxo de Caixa do Investidor, ou seja, o dinheiro que estará retornando ao investidor, onde fica evidente que ao final do segundo ano de operações o valor terá retornado em 100%. FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 26 1.4 Análise de Balanço da Empresa Antes mesmo de iniciar os estudos sobre análise do balanço patrimonial, precisamos considerar e entender que a contabilidade é considerada um instrumento pelo qual ajuda a administração de uma empresa nas tomadas de decisões, avaliando e analisando todos os dados econômicos da organização a partir de relatórios (MARION, 2006). Neste sentido, observamos que as demonstrações contábeis dimensionam a situação financeira da empresa, se tornando uma poderosa ferramenta de gestão e, desta forma, o objetivo das demonstrações contábeis é o de proporcionar informação acerca da posição patrimonial e financeira, do desempenho e dos f luxos de caixa da entidade que seja útil a um grande número de usuários em suas avaliações e tomada de decisões econômicas. 1.4.1 Elementos do Balanço Patrimonial Além do Demonstrativo de Resultados, outras análises são úteis para avaliarmos a situação financeira das empresas. Não exploraremos todas as ferramentas aqui, pois algumas são bastante específicas para o caso de grandes empresas ou grupos econômicos. Nesta disciplina vamos enfatizar uma análise muito importante e útil, com aplicação mais abrangente, que é a Análise de Balanço. Assista ao vídeo “Fluxo de Caixa - Passo a Passo”, do canal Sebrae Talks, e saiba mais sobre a temática. Disponível em: http://gg.gg/v85f6. VÍDEO 27 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 Você já deve ter percebido que, geralmente no final de ano, algumas empresas fecham para balanço, não é mesmo? Nesse dia, as empresas fazem um levantamento de todo seu estoque, todos seus ativos e, principalmente, contas a pagar e a receber, para definir, entre outras coisas, se a empresa está solvente, isto é, possui mais direitos a receber que obrigações a pagar do curto prazo. Ou seja, podemos entender essa análise, de uma forma bem simplificada, como uma foto, tirada em uma determinada data na linha do tempo, da situação vigente da empresa em relação a seus: • Credores, ou seja, quem ajuda a financiar as atividades, como dívidas adquiridas junto a instituições financeiras, contas a pagar a fornecedores (que auxiliam a financiar o capital de giro), impostos a pagar ao governo e aos próprios donos da empresa, que empenharam seu capital no empreendimento; e • Devedores, ou seja, contas a receber de clientes, reservas monetárias aplicadas em instituições financeiras e bens e direitos adquiridos, tais como as máquinas, equipamentos e os estoques. Figura 1.5 – Análise de Balanço. Fonte: Elaborado pelo autor (2019). As contas do lado dos devedores são chamadas de ativos da empresa. Eles são classificados como ativo circulante (direitos a serem adquiridos durante o próximo ano ou período entre balanços) e ativo não circulante (período posterior a isso). Do lado dos credores temos os passivos, que também se dividem em circulante e não circulante, referentes a obrigações financeiras da empresa com terceiros (fornecedores, governo, bancos etc), e o patrimônio líquido, que representa as obrigações da empresa em relação a seus donos. Se o a�vo circulante é maior que o passivo circulante, ou seja os direitos de curto prazo são maiores que as obrigações, estamos sob controle. Se o passivo circulante é maior que o a�vo circulante, ou seja as obrigações de curto prazo são maiores que os direitos, temos um problema! Regra básica: ATIVOS e PASSIVOS estão sempre EM EQUILÍBRIO ATIVO ATIVO CIRCULANTE Disponibilidades Direitos Realizáveis a Curto Prazo ATIVO NÃO CIRCULANTE A�vo Realizável a Longo Prazo Inves�mentos PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 28 Veja as contas do balanço detalhadas na Figura 1.6. Conforme mencionado anteriormente, apresentamos aqui uma versão simplificada de uma análise de balanço. Figura 1.6 – Contas que compõem o balanço da empresa (versão simplificada). Fonte: Elaborado pelo autor (2019). ATIVO ATIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO Disponibilidades Caixa e Bancos - disponibilidade financeira imediata no caixa da empresa (espécie) e em depósitos em conta corrente. Aplicações de Liquidez Imediata - aplicações financeiras que podem ser resgatadas no mesmo dia ou no dia seguinte. Direitos Realizáveis a Curto Prazo Contas a Receber de Clientes - total de vendas a prazo, tais como parcelamentos e cartão de crédito. (-) Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa - expecta�va de inadimplência. (-) Duplicatas Descontadas - contas a receber cujos direitos foram transferidos a bancos em troca de crédito à vista. Estoques - total de estoques de matéria-prima, produtos em produção e estoques de produto acabado. Inves�mentos Temporários a Curto Prazo - aplicações financeiras sem liquidez imediata. A�vo Realizável a Longo Prazo Contas a Receber de Clientes - ultrapassam o período de um ano, tais como contratos de fornecimento de longo prazo. Outros Diretos de Longo Prazo - créditos junto à fazenda, aplicações financeiras, resultados de processos jurídicos etc. Inves�mentos A�vo Imobilizado - total inves�do em máquinas e equipamentos. (-) Depreciações Acumuladas - total acumulado até o período, conforme regras da secretaria da fazenda. A�vo Intangível - a�vos como marca, direitos de exploração de tecnologias, reservas de mercado e franquias. (-) Amor�zações Acumuladas - transferências ou pagamento pelos direitos de uso dos a�vos intangíveis. Obrigações a Fornecedores - pagamentos devidos a fornecedores, aluguéis e contas de consumo. Obrigações Financeiras - dívidas bancárias e pagamentos devido a outras fontes de capital de terceiros. Outras Obrigações - impostos devidos, obrigações relacionadas a processosjurídicos etc. Passivo Exigível a Longo Prazo - obrigações a pagar com prazo superior a um ano. Obrigações a Fornecedores - obrigações a pagar com prazo superior a um ano. Obrigações Financeiras - obrigações a pagar com prazo superior a um ano. Capital - valor do capital inves�do pelos donos ou pelos sócios da empresa. Lucros Acumulados - lucros disponíveis a serem distribuídos aos donos ou aos sócios. Reservas - valor não integralizado ao capital, que pode ser u�lizado em con�ngências ou em inves�mentos. 29 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 1.4.2 Gerenciando o Balanço Patrimonial da Empresa Conforme aprendemos anteriormente, o importante é que a empresa busque sempre o equilíbrio entre direitos e obrigações. Isso não quer dizer que a empresa deve ficar estática no tempo, por exemplo, tomando empréstimos junto aos bancos para investir em mais máquinas, equipamentos e capital de giro. Porém, deve fazer os investimentos certos para que os resultados apareçam a tempo de honrar os compromissos assumidos junto às instituições financeiras. Neste sentido, as escolhas gerenciais devem estar de acordo com uma estratégia de negócios bem elaborada, levando os investimentos realizados a aumentar o faturamento da empresa e, depois de pagar seus compromissos junto aos bancos, gerando lucros para os proprietários do negócio, conforme representado na Figura 1.7. Figura 1.7 – Exemplo de crescimento do negócio. Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10 A�vos Passivos Circulante Fixo Circulante Circulante Patrimônio Patrimônio Circulante Fixo Tempo Se os inves�mentos forem bem-sucedidos, eles se transformarão em faturamento. O faturamento pode ser u�lizado tanto para pagamento dos credores quanto para aumentar o lucro gerado e os direitos dos donos da empresa, que receberão um lucro cada vez maior resultante das a�vidades. A par�r daí, o empreendedor, conforme suas estratégias, pode optar por reiniciar o ciclo de inves�mentos, ampliando o negócio, lançando mais produtos, atuando em um número maior de praças e assim sucessivamente. Com o crescimento do negócio, aumenta a oportunidade para financiamento da empresa junto a terceiros: as ins�tuições financeiras podem oferecer financiamento; os fornecedores, prazo de entrega; e o governo, bene�cios e linhas de crédito diferenciadas. Esse recurso pode ser u�lizado na ampliação dos negócios. Início da empresa: o empreendedor geralmente possui limitações na sua capacidade de inves�mento e realiza a maior parte do aporte financeiro necessário para iniciar as a�vidades. FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 30 Perceba que a empresa sempre cresce em equilíbrio entre direitos e obrigações, com variações entre curto e longo prazo e entre bens e direitos do dono do negócio e de terceiros. É dessa forma que uma empresa bem administrada vai ampliando suas atividades e se tornando cada vez mais lucrativa. A Tabela 1.6, que veremos daqui a pouco, mostra uma abordagem de análise que chamamos de Análise Horizontal, isto é, como o desempenho do negócio vai variando ao longo do tempo, ou seja, na análise horizontal, o objetivo é acompanhar o desempenho dos itens do balanço patrimonial de um período para o outro, estabelecendo uma comparação desta participação em série histórica para apuração das mudanças ocorridas e ainda a análise horizontal que verifica a tendência. Nessa análise horizontal, procuramos avaliar tendências para os períodos seguintes em função das decisões tomadas nos períodos anteriores. Por exemplo, um aumento na conta de investimentos, em determinado período, deve elevar as contas a receber dos clientes nos períodos seguintes. Por outro lado, se a empresa não investe há muito tempo e possui máquinas e equipamentos totalmente depreciados, talvez não tenha mais meios ou tecnologia para se manter competitiva no futuro. Isso pode implicar dificuldades de obtenção de novos financiamentos ou de manter os níveis de faturamento que vem apresentando até então. Por outro lado, em uma Análise Vertical, procuramos analisar as proporções entre as contas dentro de um mesmo período, ou seja, a análise vertical no balanço patrimonial tem por objetivo descobrir a relevância dos componentes tanto do ativo, quanto do passivo em relação ao ativo total (base de comparação: elemento do balanço patrimonial que recebe o atributo 100). Por exemplo, quanto as obrigações de curto prazo excedem os direitos de longo prazo? As análises horizontal e vertical geralmente são aplicadas a todos os demonstrativos financeiros elaborados pela empresa. Esta metodologia de análise pode ser considerada uma metodologia de análise cruzada, em que são verificados os percentuais de participação dos elementos na estrutura (análise vertical) e a comparação desta participação em série histórica para apuração das mudanças ocorridas e ainda a análise horizontal que verifica a tendência. Além disso, consistem em boas práticas gerenciais, principalmente quando usadas para tomar decisões a partir de projeções futuras de como os números irão se comportar nos períodos seguintes. 31 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 Estas análises serão demonstradas na Tabela 1.5, que veremos a seguir. Tabela 1.5 – Análise Vertical - EMBRAER. DESCRIÇÃO 01/01/2016 A 31/12/2016 01/01/2015 A 31/12/2015 01/01/2014 A 31/12/2014 Receita de Venda de Bens e/ou Serviços 21.435.696 20.301.771 14.935.910 Custos dos Bens e/ ou Serviços Vendidos -17.166.104 80,08% -16.545.358 81, 50% -11.977.173 80,19% Resultado Bruto 4.269.592 3.756.413 2.958.737 Despesas/ Receitas Operacionas -3.551.800 16,57% -2.653.346 13, 07% -1.654.963 11,08% Resultado Antes do Resultado Financeiro e dos Tributos 717.792 1.103.067 1.303.774 Resultado Financeiro -161.971 0,76% -1.175 0, 01% -102.723 0,69% Resultado Antes dos Tributos sobre o Lucro 555.821 1.101.892 1.201.051 Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro 35.990 -0,17% -820.284 4, 04% -374.451 2,51% Corrente -493.077 -440.247 -180.956 Diferido 529.067 -380.037 -193.495 Lucro/ Prejuízo Consolidado do Período 591.811 2,76% 281.608 1, 39% 826.600 5,53% 100,00% 100,00% 100,00% Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Na primeira tabela destacamos a Análise Vertical do período 01/01/2016 a 31/12/2016. Na coluna de percentuais, calculamos o quanto representa cada linha de nosso interesse em relação ao valor do topo, isto é, da receita de venda de bens e serviços. Por exemplo, nesse ano, o lucro consolidado do período representou 2,76% do valor da receita de vendas. Esse desempenho foi melhor do que o desempenho do ANÁLISE VERTICAL Lucro Consolidado = ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ = 2,76% 21.435.696 591.811 FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 32 ano de 2015 (1,39%), mas foi pior do que o desempenho de 2014 (5,53%). O custo dos bens ou serviços vendidos permaneceu praticamente inalterado quando avaliado como proporção da receita, mas as despesas operacionais cresceram significativamente em 2016, consumindo 16,57% do valor das receitas de vendas. Quando conduzimos a Análise Horizontal, verificamos o quanto um valor varia percentualmente em relação ao mesmo valor obtido no ano ou período anterior. Por exemplo, a receita de vendas de 2016 apresentou um aumento de 5,29% em relação à receita de 2015. Tabela 1.6 – Análise Horizontal - EMBRAER. DESCRIÇÃO 01/01/2016 A 31/12/2016 01/01/2015 A 31/12/2015 01/01/2014 A 31/12/2014 Receita de Venda de Bens e/ou Serviços 21.435.696 5,59% 20.301.771 35,93% 14.935.910 Custos dos Bens e/ou Serviços Vendidos -17.166.104 -16.545.358-11.977.173 Resultado Bruto 4.269.592 13,66% 3.756.413 26,96% 2.958.737 Despesas/ Receitas Operacionas -3.551.800 -2.653.346 -1.654.963 Resultado Antes do Resultado Financeiro e dos Tributos 717.792 -34,93% 1.103.067 -15,39% 1.303.774 Resultado Financeiro -161.971 -1.175 -102.723 Resultado Antes dos Tributos sobre o Lucro 555.821 -49,56% 1.101.892 -8,26% 1.201.051 Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro 35.990 -820.284 -374.451 Corrente -493.077 -440.247 -180.956 Diferido 529.067 -380.037 -193.495 Lucro/Prejuízo Consolidado do Período 591.811 110,15% 281.608 -65,93% 826.600 Fonte: Elaborado pelo autor (2019). AN ÁL IS E H O R IZ O N TA L ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ ̶ = 5,59% (Receita 2015) (Receita 2016) - (Receita 2015) 33 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 Observa-se que não existe uma linha obrigatória, mas o comparativo deve estabelecido sempre na mesma categoria ou conta contábil. Ou seja, você pode avaliar a variação entre o passivo não circulante de dois anos, um comparativo de receitas ou das despesas operacionais de dois anos. Qualquer linha dos demonstrativos podem ser avaliadas de maneira comparativa, desde que entre si. Algumas empresas adotam a abordagem do “rolling forecast”, onde continuamente atualizam as previsões do resultado esperado para os próximos períodos, a partir das tendências apresentadas até o momento da análise. Conforme o tipo de negócio, as empresas costumam fazer projeções para um horizonte de três a cinco anos. Em resumo, os números dos demonstrativos, por si só, podem não ser suficientes para chegar a conclusões sobre o desempenho futuro: não se trata exclusivamente de uma abordagem matemática ou estatística. Vamos ter que adicionar alguns elementos extras a nosso caso, a começar, como já mencionado anteriormente, com a obtenção de financiamentos e com o cálculo do custo do capital. Outros indicadores bem específicos são utilizados para apoiar essa análise e serão objeto de estudo nas Unidades seguintes. FINANÇAS DE CURTO PRAZO | Juliano Lautert | Marcelo do Carmo Rodrigues 34 Síntese da Unidade Nesta Unidade, você acompanhou tópicos que buscam alinhamento entre as finanças e as expectativas dos investidores. Vamos relembrar os pontos mais importantes que aprendemos: • Ao tomar decisões sobre investimentos, como abrir ou ampliar um negócio, temos que identificar todos os elementos relevantes do f luxo de caixa relacionados às receitas, aos custos, às despesas, à tributação etc., e organizar esses elementos de forma a avaliar o resultado esperado durante o período esperado de funcionamento da empresa, que chamamos de horizonte de planejamento; • O Demonstrativo de Resultados (DRE) é uma ferramenta particularmente útil para essa organização, pois podemos organizar cada elemento de forma a prever seu impacto no resultado final que chegará ao bolso do investidor. Quando elaboramos o DRE para todos os períodos do horizonte de planejamento, obtemos o Fluxo de Caixa do Investidor, isso é, a expectativa global de aporte de recursos financeiros e geração de lucros; • O DRE pode ser utilizado tanto para projeção de resultados futuros quanto para acompanhamento dos resultados financeiros quando o empreendimento já estiver em operação. Ele não é o único relatório útil à gestão financeira; outra ferramenta relevante é a Análise de Balanços que mostra o estado atual de equilíbrio entre direitos e obrigações da empresa no curto e no longo prazo; • Tanto o DRE quanto o Balanço Patrimonial podem ser utilizados para apoiar a tomada de decisões sobre o investimento, por meio de análises horizontais e verticais, considerando tanto os resultados apurados até um determinado momento quanto projeções de expectativas futuras sobre os resultados (rolling forecast). 35 Elaborar, Implementar e Consolidar Projetos em Organizações com Intuito de Operacionalizar Fluxo de Caixa | UNIDADE 1 Bibliografia ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Curso de administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. CPC - COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico CPC 27 - Ativo Imobilizado. CPC, Brasília, 2009. Disponível em: http://gg.gg/v85p4. Acesso em: 21 jun. 2021. CPC - COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) - Apresentação das Demonstrações Contábeis. CPC, Brasília, 2011. Disponível em: http://gg.gg/v85p9. Acesso em: 21 jun. 2021. GITMAN, L. J. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. HOJI, M. Administração financeira e orçamentária: matemática financeira aplicada, estratégias financeiras, orçamento empresarial. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012. MARION, J. C. Contabilidade Empresarial. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2006. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JORDAN, B. Fundamentos de Administração Financeira. 9. ed. São Paulo: McGraw Hill, AMGH, 2015. Se você encontrar algum problema neste material, entre em contato pelo email eadproducao@unilasalle.edu.br. Descreva o que você encontrou e indique a página. Lembre-se: a boa educação se faz com a contribuição de todos! CONTRIBUA COM A QUALIDADE DO SEU CURSO Av. Victor Barreto, 2288 | Canoas - RS CEP: 92010-000 | 0800 541 8500 eadproducao@unilasalle.edu.br
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