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Hiperparatireoidismo Primário Introdução ● As paratireoides são pequenas glândulas do sistema endócrino, do tamanho de uma ervilha, que estão geralmente localizadas atrás da tireoide.² ● Em geral, há 4 paratireoides.² ● Compostas por células principais (secretam PTH) e oxifílicas (função desconhecida) sustentadas por matriz de tecido conjuntivo reticular e adiposo.² ● A função principal das paratireoides é manter o nível de cálcio (Ca++) adequado.² ↓ Receptores sensores de cálcio (CaSR) nas glândulas são ativados, quando há redução da calcemia, liberando o PTH na corrente sanguínea.² ● Cálcio e fósforo são os principais constituintes do osso. ● 99% do Ca++ corporal encontram-se nos ossos.² ● No sangue: cerca de 50% do Ca++ total está ligado a proteínas (albumina e globulinas).² ● A fração livre do Ca++ constitui o cálcio ionizado.² ● O PTH age em 3 frentes diferentes para aumentar a calcemia: ○ Promove reabsorção óssea através da ativação de osteoclastos;² ○ Aumenta reabsorção de cálcio nos rins: através da troca de cálcio por fosfato, o PTH não apenas aumenta a calcemia como também reduz a fosfatemia;² ○ Aumenta ativação da vitamina D: o PTH atua em uma das etapas de síntese da vitamina D e estimula sua ativação ➞ ação indireta do hormônio no aumento da absorção de cálcio pelo trato gastrointestinal.² (Figura extraída da referência Medicina 8º semestre ● Regulação negativa do PTH: CaSR, localizado na superfície das células principais paratireóideas, aumento da calcemia e da 1,25(OH)2D (calcitriol), hipomagnesemia grave.² ● Regulação positiva do PTH: hipocalcemia, hipomagnesemia leve, deficiência de vitamina D e insuficiente produção renal de calcitriol.² Definição e Epidemiologia ● HPTP é um distúrbio endócrino comum caracterizado por hipercalcemia e níveis elevados ou inapropriadamente normais de PTH.¹ ● O HPTP resulta da secreção excessiva de PTH de uma ou mais glândulas paratireoides.¹ ● As estimativas de incidência para PHPT variam de ~ 0,4 a 82 casos por 100.00. ● A incidência de HPTP aumenta com a idade e é maior em mulheres (3:1) e afro-americanos.¹ ● É mais frequente entre os 40 e 65 anos de idade.² ● Metade de todos os pacientes com HPTP são mulheres na pós-menopausa, embora o distúrbio possa ocorrer em qualquer idade.¹ O PHPT é frequentemente diagnosticado na primeira década após a menopausa, consistente com as ações esqueléticas conhecidas do estrogênio que combatem os efeitos hipercalcêmicos do excesso de PTH no osso.¹ Etiologia e Patogênese ● Causas de HPTP: ○ Adenoma solitário da paratireoide (80% dos casos);¹ ○ Hiperplasia de paratireoides (10 a 15%);¹ ○ Adenomas múltiplos (5%);¹ ○ Câncer de paratireoide (<1%).¹ ● A radiação ionizante, principalmente na infância, e o uso crônico de lítio (diminui a sensibilidade das paratireoides ao cálcio) são fatores de risco.¹ ● Genes documentados que contribuem para o desenvolvimento de PHPT são: CCND1 (que codifica a ciclina D1) e MEN1 (que codifica a menina).¹ ● Mutações somáticas em MEN1 ocorrem em 12–35% dos adenomas esporádicos, enquanto o rearranjo ou superexpressão de CCND1 pode ocorrer em 20–40%.¹ ● CDC73, CTNNB1, CDKN1B e AIP: pequena porcentagem de adenomas aparentemente esporádicos e na maioria dos pacientes com a síndrome de hiperparatireoidismo–tumor de mandíbula.¹ ● Síndrome do hiperparatireoidismo familiar: ○ Cerca de 10% dos casos de HPTP correspondem a tipos de hiperparatireoidismo familiar.² 1 Medicina 8º semestre ○ Podem surgir isoladamente ou associar-se a doenças endócrinas hereditárias autossômicas dominantes, como as neoplasias endócrinas múltiplas tipo 1 (MEN-1), tipo 2A (MEN-2A) e tipo 4 (MEN-4), a síndrome do hiperparatireoidismo–tumor de mandíbula (HTM) e a hipercalcemia hipocalciúrica familiar (FHH).² ○ MEN-1: tumores ou hiperplasia de paratireoide, adenomas hipofisários e neoplasias pancreáticas. Relaciona-se a apenas 2 a 4% dos casos de HPTP.² ○ MEN-2A: carcinoma medular da tireoide, feocromocitoma e HPTP.² ○ MEN-4: adenomas paratireóideos e hipofisários (+ frequentes).² ○ HTM: hipercalcemia na infância ou na adolescência, lesões renais (tumor de Wilms, rins policísticos e hamartomas).² ○ FHH (hipercalcemia benigna familiar): cerca de 2% dos casos assintomáticos de hipercalcemia.² ○ Mutações inativadoras no gene CASR causam pequena elevação nos níveis de PTH e hipercalcemia leve a moderada, não progressiva, presente desde o nascimento e, na maioria dos pacientes, não responsiva à cirurgia. Nos rins, o defeito no CaSR causa aumento da reabsorção tubular de cálcio, o que justifica a hipocalciúria característica da FHH.² ○ Hiperparatireoidismo familiar isolado (HFI): raro, diagnóstico de exclusão.² (Tabela extraída da referência 1) Quadro Clínico ● HPTP clássico: associava-se à nefrolitíase em cerca de metade dos casos e à doença óssea (osteíte fibrosa cística) em aproximadamente 25%. ● Atualmente, os cálculos renais são vistos em 15 a 20% dos pacientes, e a doença óssea acomete menos de 5% deles. ● Forma assintomática do HPTP: ○ Ausência de envolvimento ósseo e renal; ○ Sintomas vagos ou inespecíficos, como astenia, cansaço fácil, depressão, transtornos da memória. 2 Medicina 8º semestre ○ 80 a 90% tem a forma assintomática – sendo o HPTP um achado, quando se diagnostica hipercalcemia em exames de rotina. ● Em alguns países, como Índia e China, a doença óssea ainda prepondera (deficiência de vitamina D ➝ exacerba a gravidade do envolvimento esquelético, mesmo em países tropicais). Manifestações Renais ● Nefrolitíase recorrente: é a manifestação renal mais característica do HPTP (15 a 20% dos casos). ● Os fatores de risco para nefrolitíase incluem idade mais jovem e sexo masculino. ● Perda gradativa da função renal (15-17%) e nefrocalcinose (mais raro). Manifestações ósseas ● Há maior perda de osso cortical do que trabecular (PTH tem ação catabólica no esqueleto apendicular e ação anabólica no esqueleto axial).² ● Dores ósseas (de intensidade e localização variáveis), fraturas patológicas e fraqueza muscular (geralmente proximal) - mais frequentes.² ● Deformidades e comprometimento progressivo da deambulação.² ● Eventualmente os pacientes podem ser assintomáticos e ter seu envolvimento ósseo apenas revelado por radiografia simples, densitometria óssea e/ou cintilografia óssea. ● Achados radiológicos da osteíte fibrosa cística: ○ Reabsorção óssea subperiosteal (mais sensível e específico);² ○ Osteopenia generalizada (nos casos mais graves);² ○ Desmineralização “em sal e pimenta” do crânio;² ○ Perda da lâmina dura dos dentes: achado inespecífico, encontrado em doenças periodontais;² ○ Tumores marrons ou osteoclastomas (processo reativo não neoplásico, devido a reabsorção óssea e lesão óssea localizada, induzido pelo PTH)² ■ Radiologicamente, os tumores marrons caracterizam-se como lesões líticas, bem definidas, que expandem ou erodem o osso afetado, e podem simular uma neoplasia primária óssea ou lesão metastática.² ■ Esses tumores ocorrem mais frequentemente na pelve, em ossos longos e na clavícula, mas podem também acometer a maxila, a mandíbula, as costelas e o crânio.² 3 Medicina 8º semestre ■ Tumor marrom mandibular ou maxilofacial pode eventualmente ser a manifestação inicial do HPTP.² ■ Muito raramente os tumores marrons podem invadir a órbita, resultando em proptose.² Manifestações cardiovasculares ● HAS, hipertrofia ventricular esquerda, doença arterial coronariana, calcificações valvulares e miocárdicas, anormalidades nas funções cardíaca e vascular.² ● Dislipidemia: diminuição da fração de colesterol ligada à ao HDL-colesterol) e aumento dos TG.² Manifestações Psiquiátricas ● Ocorrem em até 23% dos pacientes com HPTP.² ● Destes, 78% apresentam depressão e ansiedade.² ● Outras manifestações: fadiga, perda de memória, dificuldade de concentração, irritabilidade, somatização, bem como transtornos do humor e do sono.² Outras manifestações clínicas ● Doença ulcerosa péptica e pancreatite: não há uma evidência definitiva.² ● Poliúria,polidipsia, prurido e alterações gastrintestinais (anorexia, constipação intestinal e, nos casos graves, náuseas/vômitos)➞ devido à hipercalcemia.² ● Calcificações ectópicas (pulmões, rins, artérias e pele), ceratopatia em banda e neuropatia periférica➞ menos frequentes.² ● Manifestações articulares: condrocalcinose (com ou sem ataques agudos de pseudogota), erosões justarticulares, fraturas subcondrais, sinovites traumáticas e gota úrica.² ● Baqueteamento digital➞casos mais graves.² Crise hipercalcêmica ● Emergência médica ➞ hipercalcemia muito grave (cálcio sérico > 14 mg/dℓ [3,5 mmol/ℓ]).² ● Mais frequente em pacientes com carcinoma paratireóideo do que com adenomas. ● Sinais e sintomas: desidratação (decorrente de poliúria e vômitos), arritmias cardíacas e sintomas neurológicos (confusão mental a estupor e coma).² ● Níveis de cálcio sérico > 15 a 16 mg/dℓ [3,75 a 4 mmol/ℓ]) implicam risco aumentado de coma, fibrilação ventricular e parada cardíaca.² Hiperparatireoidismo Primário Normocalcêmico ● É um fenótipo do HPTP.¹ 4 Medicina 8º semestre ● Consiste na elevação dos níveis séricos do PTH, pelo menos em duas ocasiões, associada a valores do cálcio sérico persistentemente normais, na ausência de causas secundárias de elevação do PTH.² ● Níveis de fosfato são mais elevados e níveis de 1,25(OH)2D mais baixos do que na variante hipercalcêmica.¹ ● Cálcio ionizado, níveis de vitamina D, excreção urinária de cálcio e função renal devem ser normal para distinguir esta entidade de hiperparatireoidismo secundário.² Ob�.: Causas secundárias de ↑ PTH ● Deficiência de vitamina D (25-OHD < 20 ng/mℓ ou 50 nmol/ℓ). ● Insuficiência renal crônica (TFG < 60 mℓ/min). ● Medicamentos (lítio, bisfosfonatos, anticonvulsivantes,hidroclorotiazida , denosumabe, furosemida, fósforo) ● Hipercalciúria renal. ● Síndrome de má absorção (doença celíaca, fibrose cística, bypass gástrico etc.). ● Pseudo-hipoparatireoidismo. (Figura extraída da referência 4) Diagnóstico Laboratorial ● Solicitar dosagem sérica de cálcio, fósforo, albumina, fosfatase alcalina, PTH intacto, 25-OHD e creatinina + urina de 24 horas (dosagem de cálcio).² ● Todos os pacientes devem ser submetidos a investigação óssea radiológica e densitometria óssea em coluna, fêmur proximal e rádio (terço distal). ² ● Deve ser pesquisada a litíase renal, de preferência por meio de US.² ● Bioquimicamente: Hipercalcemia e PTH elevado ou inapropriadamente normal 5 Medicina 8º semestre ● Dosagem de cálcio ionizado: pacientes com hiper ou hipoalbuminemia, trombocitose, HPTPN, macroglobulinemia de Waldenström e mieloma.² Havendo hipoalbuminemia, pode-se corrigir a calcemia: Cálcio sérico encontrado – [0,8 × (4 – Albumina sérica encontrada)].² Nas duas últimas situações, a hipercalcemia pode estar presente, mas o cálcio ionizado no soro é normal (hipercalcemia artefatual).² ● Outras alterações bioquímicas com menor valor diagnóstico: ○ Hipofosfatemia (aproximadamente 25% dos pacientes);² ○ Hipercalciúria (em cerca de 40% [e em 100%, quando há nefrolitíase]);² ○ Aumento da 1,25(OH)2D (em um terço dos casos);² ○ Elevação do monofosfato de adenosina cíclico (cAMP) urinário;² ○ Acidose metabólica hiperclorêmica (PTH muito ↑ → inibição da reabsorção tubular de fosfato → hipercloremia e diminuição do bicarbonato sérico diferenciam HPTP e outras causas de hipercalcemia).² ○ Marcadores bioquímicos de formação óssea (p. ex., fosfatase alcalina e osteocalcina séricas) e reabsorção óssea (C-telopeptídeo) com frequência estão aumentados.² ○ Hipomagnesemia (reabsorção tubular de magnésio é inibida pela hipercalcemia).² ○ Os níveis séricos da 25-OHD estão frequentemente reduzidos.² Características clínicas e laboratoriais do carcinoma de paratireoide ● Adesão do tecido glandular às estruturas adjacentes.² ● Crescimento lento e, de certa maneira, é indolente.² ● Metástases são manifestação tardia.² ● Ramente, os carcinomas podem ser duplos ou localizados no mediastino.² ● Tamanho é muito maior do que o das lesões benignas (cerca 3 a 3,5 cm).² ● As manifestações renais e ósseas ocorrem em até 90% e 70% dos casos, respectivamente, sendo infrequente a forma assintomática.² ● Em 10% dos casos de carcinoma, rouquidão pode estar presente (compressão ou invasão do nervo laríngeo recorrente e paresia das cordas vocais).² ● Níveis séricos do PTH intacto e do cálcio bastante elevados.² ● Os níveis séricos de α e β-hCG podem estar elevados em pacientes com carcinoma.² Resumindo Indícios de carcinoma em casos de HPTP: massa cervical palpável, concomitância de doença óssea e renal, marcantes elevações do PTH e do cálcio sérico (> 14 mg/dℓ) e sintomas compressivos.² 6 Medicina 8º semestre Exames de Imagem ● Após indícios laboratoriais → solicitar exames de imagem para avaliação das paratireoides → cintilografia com sestamibi (padrão-ouro) marcado com tecnécio-99 (99Tc-sestamibi) e a US cervical são os mais utilizados.² ↓ Recomenda-se a realização dos dois exames, sempre que possível.² ● Cintilografia com sestamibi ○ É considerada o exame padrão-ouro, mas sua efetividade depende do tamanho e do peso da lesão paratireóidea.² ○ Pode apresentar resultados falso-positivos na presença de nódulos tireoidianos, bem como resultados falso-negativos, em função do tamanho e da localização das paratireoides acometidas.² ● Ultrassonografia de paratireoides ○ A US deve ser realizada em todo paciente com diagnóstico laboratorial de HPTP. ● Dosagem do PTH no aspirado de PAAF ○ Nos casos com diagnóstico de HPTP em que a US cervical mostrar um nódulo não evidenciado pela cintilografia➞ PAAF e dosar o PTH no aspirado.² ○ Adenoma paratireóideo ➞ PTH não raramente excedem 4.000 a 5.000 pg/mℓ.² ○ Contraindicado diante da possibilidade de carcinoma paratireóideo ➞ disseminação das células tumorais ao longo do trajeto da agulha.² ● Tomografia computadorizada e ressonância magnética ○ Podem ocasionalmente também ser úteis na localização das paratireoides, quando os procedimentos já mencionados não forem conclusivos.² ○ RM com contraste: lesões no mediastino e para indivíduos com doença persistente após a paratireoidectomia.² ● Outros exames ○ PET/CT com 18F-fluorocolina: casos sem visualização da lesão paratireóidea pelos outros exames.² 7 Medicina 8º semestre (Tabela extraída da referência 3) Diagnóstico de hiperparatireoidismo Alterações laboratoriais • PTH elevado (± 90% dos casos) • Cálcio sérico elevado (± 90% dos casos) ou normal • Hipercalciúria (35 a 40%) • Fósforo sérico baixo (25 a 50%) ou normal • Fosfatase alcalina, osteocalcina e cAMP urinário elevados • Acidose metabólica hiperclorêmica (eventualmente) • Hipomagnesemia (eventualmente) • Anemia (± 50%) e VHS aumentada Possíveis alterações radiológicas • Reabsorção óssea subperiosteal (falanges, clavículas etc.) • Aspecto em “sal e pimenta” do crânio • Lesões osteolíticas (tumores marrons) • Perda da lâmina dura dos dentes • Osteopenia/fraturas vertebrais etc. • Nefrolitíase, nefrocalcinose • Condrocalcinose (em até 10%) Possíveis alterações à densitometria óssea • Osteopenia ou osteoporose (predominantemente em osso cortical) Possíveis alterações à cintilografia óssea • Áreas de hipercaptação focal ou difusa Diagnóstico Diferencial ● Diferenciar de doenças que provoquem osteoporose, nefrolitíase, nefrocalcinose e hipofosfatemia.² ● HPTP e neoplasias → 90% dos casos de hipercalcemia.² ● Hipercalcemia relacionada às malignidades: 8 Medicina 8º semestre ○ Hipercalcemia osteolítica local (LOH) → decorre do envolvimento do esqueleto por metástases.² ■ Associada a carcinoma de mama, de pulmão (exceto o de pequenas células), mieloma múltiplo e outras malignidades de origem hematológica.² ■ Produção, na medula óssea, de citocinas capazes de estimular a reabsorção óssea, como o TNF-β, TNF-α, IL-1, IL-6 e TGF-α e TGF-β.² ■ No mieloma múltiplo → estímulo à atividade osteoclástica pelo RANKL.² ○ Hipercalcemia humoral da malignidade (HHM) → produção de um peptídeo relacionado como PTH (PTH-rP).² ■ Frequente em pacientes com carcinomas escamosos (pulmão, rim, esôfago, língua, pele, cérvice e vulva) e carcinomas de rim, bexiga e ovário.² ○ Produção ectópica tumoral de PTH (muito raro).² ○ Síndrome WDHA (diarreia aquosa, hipocalemia e acloridria).² ■ Vipomas, tumores pancreáticos secretores do polipeptídeo intestinal vasoativo (VIP).² ● Hipercalcemia não tumoral: ○ Terapia com carbonato de lítio ou tiazídicos.² ○ Doenças granulomatosas e infecciosas (tuberculose, sarcoidose, síndrome da imunodeficiência adquirida [AIDS] etc.).² ■ ↑ da concentração da 1,25(OH)2D, por hidroxilação extrarrenal.² ○ Doenças endócrinas (insuficiência adrenal, hipertireoidismo etc.).² ○ FHH. ■ Calciúria < 100 mg/24 h + história familiar de hipercalcemia + razão cálcio urinário/clearance de creatinina (CCCR) < 0,01 + PTH normal ou minimamente alterado.² ○ Síndrome do leite-alcalino → hipercalcemia, alcalose metabólica e insuficiência renal.² ■ Associada a ingestão excessiva de leite e carbonato de cálcio.² ■ A alcalose reduz a depuração renal de cálcio, e a hipercalcemia, por sua vez, ajuda a manter a alcalose.² ○ Intoxicação por vitamina A ou D.² ○ Imobilização prolongada.² ○ Insuficiência renal crônica (IRC).² ■ Hipocalcemia crônica e produção deficiente de 1,25(OH)2D. ○ Lúpus eritematoso sistêmico (em casos raros), condrodisplasia metafisária de Jansen (rara).² ○ Hiperparatireoidismo terciário ■ HPTS que evolui para um estado de hipersecreção autônoma de PTH + hipercalcemia.² 9 Medicina 8º semestre (Tabela extraída da referência 3) (Tabela extraída da referência 1) Tratamento Cirurgia ● Recomendada para todos os pacientes sintomáticos. ● Pacientes assintomáticos com: ○ Cálcio sérico > 1 mg/dℓ acima do limite superior da normalidade.² ○ T-escore do terço distal de rádio, coluna, fêmur total e/ou colo femoral ≤ –2,5 ou fratura de fragilidade, incluindo fraturas vertebrais morfométricas.² 10 Medicina 8º semestre ○ Redução no clearance de creatinina (ClCr) para menos de 60 mℓ/min/1,73 m2.² ○ Hipercalciúria (> 400 mg/24 h) + alterações bioquímicas urinárias que aumentem o risco para cálculo renal.² ○ Identificação de nefrocalcinose (mesmo na ausência de nefrolitíase).² ○ Idade < 50 anos.² ○ Pacientes cujo acompanhamento médico não seja possível ou desejado.² ● Pacientes não submetidos à cirurgia precisam ser acompanhados com exames periódicos:¹ (Tabela extraída da referência 1) ● Considerar cirurgia para o HPTP assintomático sempre que anormalidades nas paratireoides sejam detectadas por cintilografia e/ou US.² ● HPTP normocalcêmico: cirurgia somente se houver progressão da doença (p. ex., surgimento de hipercalcemia, cálculo renal, nefrocalcinose, piora da DMO ou fraturas). ● A cirurgia tradicional para o HPTP é a exploração cervical bilateral com identificação de todas as paratireoides e retirada daquelas que se mostrarem anormais.² ○ Se múltiplas glândulas aumentadas, retiram-se três delas e a metade daquela com aspecto mais normal (paratireoidectomia subtotal).² ● Geralmente a dosagem do PTH é obtida por amostra de sangue coletada 10 a 15 minutos após a retirada da paratireoide anormal → queda nos níveis do hormônio ≥ 50% é indicativa de cura.² ○ Redução < 50% → doença em múltiplas glândulas ou lento metabolismo do PTH → exploração adicional das outras paratireoides.² ● Eficácia cirúrgica: ○ Adenomas → 95 a 98% dos casos.² ○ Hiperplasia ou doença multiglandular → a taxa de sucesso cirúrgico é inferior à do adenoma.² ● A cirurgia bem-sucedida normaliza a calcemia (no prazo de 4 a 12 horas, com o nadir sendo, em geral, observado 4 a 7 dias depois) e outros índices bioquímicos, como PTH e marcadores do turnover ósseo.² 11 Medicina 8º semestre ● Os níveis de PTH podem permanecer elevados em cerca de 20% dos pacientes com HPTP submetidos à paratireoidectomia, a despeito da normalização da calcemia (até 4 anos ou mais).² ● Complicações da paratireoidectomia: ○ Sangramento, hipocalcemia pós-operatória (geralmente, transitória) e lesão do nervo recorrente laríngeo → infrequentes (1 a 3%).² ○ A hipocalcemia pode também ser secundária a hipoparatireoidismo transitório, hipomagnesemia (inibe secreção e ação do PTH) e síndrome da fome óssea (SFO).² Episódio prolongado de hipocalcemia sintomática, 3 a 7 dias após a cura cirúrgica, devido a uma ávida captação de cálcio e fosfato pelos ossos → níveis séricos do fósforo são elevados no hipoparatireoidismo e baixos na SFO.² Tratamento não cirúrgico ● Para pacientes que não preencham os critérios de indicação cirúrgica, bem como aqueles com contraindicação ou falha cirúrgicas.² ● Medidas gerais ○ Manter uma boa hidratação e evitar diuréticos tiazídicos e terapia com lítio (efeito hipercalcêmico).² ○ Estimular ingestão de cálcio em parâmetro recomendado como ideal para adultos (1.000 a 1.200 mg/dia).² ● Fármacos ○ Vitamina D ■ A deficiência de vitamina D pode estimular os mecanismos associados ao excesso de secreção do PTH.² ■ Se níveis baixos (< 20 ng/mℓ) de 25-OHD → administrar vitamina D3 em doses suficientes para obtenção de níveis de 25-OHD ≥ 20 ng/mℓ (50 nmol/ℓ).² ○ Bisfosfonatos ■ Os anti-reabsortivos podem ser considerados em pacientes não submetidos à paratireoidectomia com osteoporose, história de fratura por fragilidade ou alto risco de fratura, embora nenhum seja especificamente aprovado para o tratamento de PHPT.¹ ○ Estrogênio ■ Atualmente, não há dados disponíveis sobre a capacidade do estrogênio em reduzir o risco de fratura em pacientes com HPTP.¹ ○ Moduladores seletivos do receptor estrogênico (SERM) ■ Raloxifeno (60 a 120 mg/dia) pode também ser útil, proporcionando aumento da DMO, redução da calcemia (0,5 mg/dℓ) e dos marcadores da remodelação óssea, sem modificar o PTH → estudos com um pequeno número de pacientes.² ○ Cinacalcete 12 Medicina 8º semestre ■ O cinacalcete é um agente calcimimético e atua aumentando a sensibilidade do CaSR aos níveis circulantes de cálcio, reduzindo, assim, a secreção de PTH e a calcemia.² ■ Aprovado nos EUA e na Europa para tratamento do HPTS e para os casos de HPTP não cirúrgicos.² ■ A dose inicial recomendada é 30 mg em tomada única diária, que pode ser reajustada até 300 mg/dia.² Carcinoma de paratiroide ● Paratireoidectomia ○ Tratamento de escolha para carcinoma de paratireoide.² ○ A ressecção completa do tumor nem sempre é possível, e a cura é raramente alcançada.² ○ A recidiva do HPTP ocorre em 40 a 60% dos pacientes, geralmente em 2 a 5 anos da cirurgia.² ○ Dosagens seriadas dos níveis séricos de cálcio e PTH funcionam como marcador tumoral ideal para essa neoplasia.² ○ Metástases a distância ocorrem em 25% dos pacientes, sobretudo nos pulmões; ossos e fígado são outros locais comumente afetado.² ● Quimioterapia e radioterapia ○ Papel limitado.² ○ Eventualmente utilizadas em pacientes com doença metastática e hipercalcemia refratária a outras terapias.² ● Tratamento medicamentoso da hipercalcemia (1) corrigir a desidratação: reposição volêmica agressiva com solução salina normal.² (2) aumentar a excreção renal de cálcio: administração de furosemida, após correção de status líquido.² (3) inibir a reabsorção óssea acelerada: se hipercalcemia persistente → medicamentos antirreabsortivos, como bisfosfonatos EV (p. ex., pamidronato e zoledronato) e o denosumabe.² (4) tratar o distúrbio subjacente. ○ Cinacalcete: mostrou-se eficaz no controle da hipercalcemia em pacientes com câncer inoperável de paratireoide em um estudo multicêntrico (30 mg, 2 vezes/dia, até 90 mg, 4 vezes/dia).² ○ Imunoterapia anti-PTH: em estudo, com resultados promissores.² ● Prognóstico ○ Melhor prognóstico➝ diagnóstico precoce e completa ressecção do tumor. ○ O tempo médio entre a cirurgia e a primeira recidiva é de, aproximadamente, 3 anos.² ○ Uma vez que o tumor tenha recidivado, a cura completa é improvável.² ○ As taxas de sobrevida de 5 e 10 anos variam de 40 a 86% e 49 a 70%, respectivamente.² 13 Medicina 8º semestre Hiperparatireoidismo durantea gestação ● Significativos riscos para a mãe e o feto.² ● Sintomas maternos: hiperêmese, fraqueza muscular, pancreatite, litíase renal, doença óssea, alterações do estado mental e crise hipercalcêmica.² ● Complicações para o desenvolvimento fetal, e morte fetal.² ● Paratireoidectomia: único tratamento definitivo → realizada no segundo trimestre da gestação.² Referências (1) Walker MD, Silverberg SJ. Primary hyperparathyroidism. Nat Rev Endocrinol. 2018 Feb;14(2):115-125. (2) VILAR, Lucio et al. Hiperparatireoidismo Primário. In: VILAR, Lúcio et al. Endocrinologia Clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. p. 960-978. (3) Insogna KL. Primary Hyperparathyroidism. N Engl J Med. 2018 Sep 13;379(11):1050-1059. (4) Resumo: Doenças de Paratireoide - SanarFlix. 14
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