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LEGISLAÇÃO COMERCIAL AULA 4 Profª Sonia de Oliveira 2 CONVERSA INICIAL Olá! Bem-vindo a este novo encontro, no qual estudaremos temas inerentes ao Direito Societário, assunto muito importante, pois permitirá o conhecimento acerca das pessoas jurídicas e as formas de sociedades empresárias. Vamos conhecer os temas estudados: 1. Empresário individual; 2. Classificação das pessoas jurídicas; 3. Panorama geral das sociedades; 4. As sociedades limitadas; 5. Sociedades anônimas. Estes temas de Direito Societário foram escolhidos ante a imprescindibilidade no conhecimento para desenvolvimento na atividade comercial, no intuito de buscar o tipo de sociedade/pessoa jurídica que melhor se amolda às necessidades da atividade econômica. Leia os materiais e assista aos vídeos. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Você, aluno(a) de Gestão Comercial, resolve implementar o próprio empreendimento e, para formalizar uma empresa, tem que escolher o tipo de sociedade na qual ela se constituirá. Para isso pensa em contratar um contador, até mesmo porque precisará dele para formalizar a documentação de constituição e a contabilidade posterior. Entretanto, esta decisão é algo bastante importante, pois irá refletir na sua forma de tributação, obrigações na administração e perante o Estado, por exemplo. Portanto, conhecer as sociedades passíveis de constituição é importante para que possa tomar uma decisão acertada, não ficando apenas com as orientações de outros profissionais. Evidente que este encontro não esgota o estudo quanto às sociedades, mas poderá lhe dar conhecimento suficiente para conseguir diferenciá-las e escolher a mais adequada para o caso concreto. 3 TEMA 1 – EMPRESÁRIO INDIVIDUAL Antes de tratarmos especificamente do empresário individual, é importante conhecermos o conceito de empresário de acordo com a legislação civil e a doutrina. O empresário é aquele que exerce uma atividade econômica de modo profissional e organizado, promovendo a produção ou circulação de bens e serviços (Brasil, 2002). Nestes termos é a definição de empresário expressa no Art. 966 do Código Civil, responsável por disciplinar a matéria. Não é considerado empresário, em termos legais, aquele que exerce atividade intelectual (natureza científica, literária ou artística), mesmo que conte com empregados ou outros auxiliares. Estas atividades somente serão reconhecidas como atividade empresarial e, por consequência, seu desenvolvedor empresário, se for constituído o elemento “empresa” para seu exercício (Brasil, 2002). Camile Silva Nóbrega explica a intenção do legislador neste particular, vejamos: A intenção do legislador é excluir os profissionais que exercem atividade intelectual, pois há o critério de escolha pessoal do cliente, afastando o conceito empresa – por exemplo, médicos, contadores, dentistas, advogados. No entanto, se a atividade do profissional intelectual constituir elemento da empresa, a atividade passa a ser empresarial. (Nóbrega, 2015, p. 34) Fábio Ulhoa Coelho destaca alguns elementos do conceito de empresário: “o profissionalismo, atividade econômica organizada e produção ou circulação de bens ou serviços” (Coelho, 2013, p. 31). O profissionalismo exige o exercício de uma atividade habitual, de modo que aquele que coloca em circulação bens e serviços de forma esporádica não será empresário, bem como a pessoalidade, sendo que o empresário deve contratar empregados, pois estes, materialmente falando, são quem colocam bens e serviços em circulação. Assim, a pessoalidade explica que quem é empresário não é empregado, sendo que estes colocam bens e serviços no mercado em nome daquele (Coelho, 2013, p. 32). Sendo o empresário aquele que exerce de forma profissional atividade econômica organizada, então empresa é a atividade consistente na produção ou circulação de bens ou serviços. Desta forma, sendo empresa a atividade, é equivocado dizer que “a empresa faliu”, pois quem fale é quem exerce a atividade, o empresário. Está tratando equivocadamente do termo empresa, igualmente, quem fala “a empresa pegou fogo”, pois isso é impossível, pois 4 somente com o estabelecimento empresarial isso pode acontecer. Portanto, não se pode confundir empresa com o local onde a atividade empresarial é exercida (Coelho, 2013, p. 32). A atividade econômica organizada significa que a atividade empresarial deve buscar lucro para quem a desenvolve, de modo que a busca pelo lucro pode ser o objetivo na produção ou circulação de bens ou serviços. Já o termo organizada significa que a empresa é uma atividade organizada, de modo que o empresário articula alguns fatores de produção: capital, insumos, tecnologia e mão de obra. Sem algum destes fatores, quem explora atividade econômica não pode ser considerado empresário. Quanto à produção de bens ou serviços, significa a fabricação de produtos ou mercadorias, razão pela qual toda atividade de indústria é essencialmente empresarial (mas dificilmente será desenvolvida por um empresário individual ante a complexidade da atividade e do tamanho do investimento necessário) (Coelho, 2013, p. 35). A prestação de serviços, que equivale à produção destes, portanto, é uma atividade que faz algo para terceiro e que facilite ou melhore suas vidas. Por fim, quanto à circulação de bens e serviços, a atividade é a do comércio, a de intermediação do produto entre o produtor e o consumidor final. O faz o supermercado que intermedia as mercadorias entre os produtores e consumidores finais, e as agências de turismo, que intermediam a venda dos serviços de passagens áreas entre as companhias e os consumidores (Coelho, 2013, p. 35). O empresário pode ser pessoa física ou jurídica. Sendo pessoa física, denomina-se empresário individual; se jurídica, sociedade empresária. Destaca-se que os sócios de uma sociedade empresária não são conceituados como empresários, pois quem explora a atividade econômica é a sociedade e não eles pessoalmente, os quais são considerados empreendedores ou investidores (Coelho, 2013, p. 35). O empresário deve ser registrado junto ao Registro Público de Empresas Mercantis e o requerimento para tanto deve conter: nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e o regime de bens, se casado; firma reconhecida, a qual poderá ser substituída por assinatura por certificado digital, o capital, objeto e a sede da empresa (Brasil, 2002). 5 Normalmente, o empresário individual não exerce uma atividade econômica muito complexa ou economicamente importante, pois negócios de grande monta ou complexos exigem investimentos altos, que são mais comuns em sociedades empresárias anônimas ou limitadas. São, normalmente, atividades de venda, no varejo, de produtos estrangeiros, confecção de bijuterias, doces para restaurantes, bancas de frutas, verduras etc. (Coelho, 2013, p. 41). A legislação apresenta alguns benefícios para o empresário individual que se registra como microempreendedor individual (MEI), como isenção de impostos e benefícios previdenciários (licença maternidade, auxílio doença, aposentadoria etc.). Importante Não se pode confundir empresário individual com empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI), pois esta não se trata de empresário individual, mas sim uma sociedade empresária limitada unipessoal, ou seja, sociedade empresária constituída por apenas um sócio (Brasil, 2002). TEMA 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS Antes de estudarmos, especificamente, as sociedades empresárias, é importante estudarmos a classificação civil das pessoas jurídicas para localizarmos o tema dentro do Direito Civil. O Código Civil faz a classificação das pessoas jurídicas a partir do Art. 40, sendo que neste já aduz que elas podem ser de direito público, internoou externo e de direito privado. As pessoas jurídicas de direito interno são as que estão diretamente ligadas ao Estado: a União, os estados, Distrito Federal e territórios, os municípios e as autarquias. Estes entes têm personalidade jurídica própria, sendo detentoras de direitos e obrigações (Brasil, 2002). As autarquias são criadas por lei específica e fazem parte da administração pública indireta, têm patrimônio público próprio e autonomia administrativa e financeira. São exemplos de autarquias federais o Banco do Brasil, as agências reguladoras, como a ANAC e as Universidades Federais. As pessoas jurídicas de direito público internas são responsáveis pelos atos que seus agentes, nesta qualidade, que causem danos a terceiros, sendo 6 que tais entidades podem mover ação de regresso contra os agentes infratores, conforme Art. 43 do Código Civil (Brasil, 2002). As pessoas jurídicas de direito público externo são os Estados estrangeiros e todas as organizações regidas pelo direito internacional público. Assim, além dos países, são assim consideradas como pessoa jurídica de direito público externo a Organização das Nações Unidas – ONU, a União Europeia, o Mercosul etc. São consideradas pessoas jurídicas de direito privado: as associações, as sociedades, as fundações, as organizações religiosas, os partidos políticos e as empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI) (Brasil, 2002). As pessoas jurídicas de direito privado passam a ter existência legal com a inscrição de seu ato constitutivo no local onde se exija o registro (para empresário individual e sociedades empresárias junto ao Registro Público de Empresas Mercantis) (Brasil, 2002). Este registro conterá: Art. 46, do Código Civil: I – a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver; II – o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores; III – o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente; IV – se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo; V – se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; VI – as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso. As pessoas jurídicas se obrigam pelos atos exercidos pelos seus administradores, desde que exercidos dentro do poder a eles conferidos (Brasil, 2002). Caso a pessoa jurídica seja administrada coletivamente, as decisões serão tomadas pela maioria dos votos presentes, salvo se o instrumento constitutivo decidir de forma diversa. No caso de faltar o administrador da pessoa jurídica, poderá o juiz lhe nomear um provisório. Sendo a pessoa jurídica dissolvida ou cassada a autorização para funcionamento, sua existência se prorrogará até o fim da liquidação, quando será promovido o cancelamento da pessoa jurídica (Brasil, 2002). 7 TEMA 3 – PANORAMA GERAL DAS SOCIEDADES Neste tema iremos estudar as principais formas de sociedades, com exceção da sociedade limitada e a anônima, as quais serão abordadas em capítulos específicos a seguir. As sociedades podem ser não personificadas e personificadas, sendo que o registro de seus atos constitutivos é o fator que as diferencia, conforme o Art. 985 do Código Civil, que prevê: “A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150)”. As sociedades não personificadas classificam-se em sociedade em comum e sociedade em conta de participação, as quais podem ter um contrato social, com todas as formalidades exigidas. Estes documentos não foram levados para registro nas Juntas Comerciais, mas isso não impede que elas contraiam obrigações com terceiros e tenham bens, pois existem de fato. A prova da existência de fato destas sociedades deverá ser feita para o caso de precisar resolver algum litígio entre os sócios, ou da sociedade com terceiros. Em relação à sociedade em comum, os bens desta respondem pelos atos praticados pelos sócios, em conjunto ou separadamente, salvo se existir um acordo que limite poderes. E, ainda, os sócios são responsáveis solidários pelas obrigações contraídas pela sociedade. A sociedade em conta de participação, também despersonificada, tem a atividade do objeto social exercida, exclusivamente, pelo sócio ostensivo, o qual é assim chamado, justamente, por atuar em nome da sociedade por sua conta e responsabilidade, em nome individual. Assim, o sócio ostensivo se obriga perante terceiros, em nome próprio, não envolvendo os demais sócios. A relação de sociedade é interna, ou seja, se dá apenas entre os sócios, sendo que eles se obrigam entre si. Assim, a sociedade diz respeito somente aos sócios, sendo que, ainda que haja inscrição da sociedade em Junta Comercial, ela não terá personalidade jurídica, pois a ausência desta é um requisito para esta forma de sociedade. Não se permite que o sócio participante atue juntamente com o sócio ostensivo perante terceiros, sob pena de ser responsável solidário nas obrigações em que intervir. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm#art45 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm#art1150 8 Nestas duas formas de sociedade despersonificadas, à sociedade em comum e à em conta de participação também se aplicam as regras da sociedade simples, no que não houver conflito, contudo, essa se trata de uma sociedade personificada, como se verá. Por outro lado, as sociedades personificadas são, de acordo com o Código Civil, a sociedade simples, a sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade limitada, sociedade anônima, sociedade em comandita por ações, sociedade cooperativa e sociedades coligadas. A sociedade simples, em regra, não é uma sociedade empresária, por força do disposto no Art. 982 do Código Civil: “Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (Art. 967); e, simples, as demais”. Independentemente de qualquer outra previsão, a cooperativa sempre será uma sociedade simples. As sociedades são divididas em simples e empresárias (Art. 982 do Código Civil), mantendo uma tendência que remonta à Idade Média e já deveria ter sido superada entre nós, unificando o tratamento das atividades negociais. As sociedades empresárias são aquelas que têm por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (arts. 966 e 967); as demais são consideradas sociedades simples. Portanto, a nota distintiva da sociedade simples seria a inexistência de uma organização de bens materiais e imateriais (intelectuais), bem como de recursos humanos, voltada para a produção sistemática de riqueza. É o que se passa com algumas sociedades de profissionais liberais, nas quais cada um dos sócios desempenha, isolada e independentemente, por força da lei (ex vi legis) ou em virtude da vontade (ex voluntate), o objeto social. A sociedade de advogados é um exemplo de sociedade simples ex vi legis (arts. 16 e 17 da Lei n. 8.906/1994). De qualquer sorte, por força do parágrafo único do Art. 982, as sociedades por ações são sempre consideradas empresárias, e a sociedade cooperativa é sempre considerada simples (Mamede, 2016, p. 4). A sociedade simples pode ser em sentido estrito ou pode assumir a forma de alguma sociedade empresária, ou seja, poderá ser a sociedade simples em nome coletivo, comandita simples, limitada ou cooperativa (Brasil, 2002). Esta última vimos que não pode ser empresária, mas tão somente simples. 9 A sociedade em nome coletivo pode ser formada apenas por pessoas físicas, as quais respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações contraídas pela sociedade em relaçãoa terceiros, ainda que internamente possam limitar entre si a responsabilidade de cada um (Brasil, 2002). Esta forma de sociedade impede que o credor particular de algum dos sócios requeira a liquidação das cotas do sócio para pagamento de dívida antes da dissolução da sociedade. Contudo, poderá fazê-lo se houver a prorrogação da sociedade de forma tácita ou se, havendo a prorrogação contratual, for acolhida em juízo a oposição do credor. Esta forma de sociedade se dissolve com a falência e pelas causas enumeradas no Art. 1.033 do Código Civil (formas de dissolução da sociedade simples). A sociedade por comandita simples pode ser simples ou empresária e admite sócios de duas categorias, os quais devem estar descritos no contrato social: os comanditados (pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade) e os comanditários (os obrigados apenas pelo valor de suas quotas) (Brasil, 2002). Ambos os tipos de sócios são detentores de quotas, caso contrário não poderiam ser sócios, sendo permitido que os comanditados integralizem suas quotas por meio de prestação de serviços, já que, em regra, os comanditários são responsáveis pelo investimento. Os comanditários são investidores que fornecem o capital para funcionar, a sociedade e os comanditados são os que recebem o investimento, no intuito de aplicá-los e administrá-los. Por conta desta obrigação, exige-se que os comanditados sejam pessoas físicas, as quais respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais. O comanditário não pode promover atos de gestão, sob pena de ser responsabilizado juntamente com o comanditado, salvo se for constituído como representante da sociedade, com poderes especiais, para negócio específico. A morte de algum sócio comanditário não a dissolve, pois é permitido o ingresso dos sucessores, por meio de um representante, salvo disposição expressa em contrato. Esta forma de sociedade se dissolve pelas razões expostas no Art. 1.033 do Código Civil (sociedade simples), bem como no caso de permanecer por mais de 180 dias com falta de uma categoria de sócio. 10 A sociedade em comandita por ações tem todo o seu capital social dividido em ações, sendo regida pelas normas da sociedade anônima (Brasil, 2002). A administração desta forma de sociedade somente poderá ser exercida por acionista e, na qualidade de diretor, tem responsabilidade solidária e ilimitada em relação às obrigações contraídas pelas sociedades. A responsabilidade é igual para cada diretor, no caso de haver mais de um. Somente por meio de assembleia geral e com o consentimento dos diretores é permitida a alteração do objeto social, prorrogar o prazo de duração, reduzir ou majorar o capital social, criar debêntures ou beneficiários. A sociedade cooperativa é regida pelo Código Civil e legislação especial, no caso a Lei n. 5.764/1971, que define a Política Nacional de Cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas (Brasil, 1971). A Lei n. 5.764/1971 aduz que a sociedade cooperativa é composta de pessoas que se obrigam, de forma recíproca, a contribuir com bens e serviços para exploração de uma atividade econômica, em proveito comum, mas sem o fim de obtenção de lucro (para a cooperativa). Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características: I – adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços; II–variabilidade do capital social representado por quotas-partes; III – limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais; IV – incessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade; V – singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade; VI – quorum para o funcionamento e deliberação da Assembleia Geral baseado no número de associados e não no capital; VII– retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral; VIII – indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social; IX – neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social; X – prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa; 11 XI – área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de serviços. A sociedade cooperativa tem algumas características particulares: a possibilidade de variação ou dispensa de capital social, concurso mínimo de sócios, mas não de número máximo, limitação no valor de quotas do contrato social de cada sócio, impossibilidade de transferir quotas sociais para terceiros alheios à sociedade, ainda que herdeiros, quórum para que a Assembleia Geral delibere e não capital social presente, sendo que cada sócio tem direito a um único voto, independentemente do valor de suas quotas, distribuição dos resultados proporcionalmente ao valor das operações realizadas pelo sócio com a sociedade e indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios (Brasil, 2002). A responsabilidade dos sócios na cooperativa poderá ser limitada ao valor das suas quotas e na proporcionalidade da sua participação da operação social resultante do prejuízo, ou poderá ser ilimitada, no caso em que cada sócio responde solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais (Brasil, 2002). Por fim, temos as sociedades coligadas trata-se de empresas que mantêm relações societárias entre si por controle, filiação ou mera participação societária. É controlada a sociedade da qual seu capital seja de outra sociedade que tenha a maioria dos votos na deliberação de quotistas ou da assembleia geral e o poder de eleger a maior parte dos administradores (Brasil, 2002). É filiada ou coligada a sociedade que tenha participação, em seu capital social, de outra empresa, em 10% ou mais, mas sem controlá-la (Brasil, 2002). Por outro lado, a simples participação societária se dá quando uma empresa detém menos de 10% do capital de outra, com direito de voto (Brasil, 2002). A legislação menciona que uma sociedade não pode participar de outra que seja sua sócia (sociedade recíproca) por montante superior, de acordo com o balanço, ao das reservas, excluindo-se a reserva legal (Brasil, 2002). Veja o exemplo a seguir: Se a sociedade A tivesse R$ 500.000,00 em quotas da sociedade B e esta, por seu turno, tivesse R$ 500.000,00 em quotas da sociedade A. Esses direitos se compensariam e, assim, apesar de existirem na escrituração 12 contábil de ambas as pessoas jurídicas, não se traduziriam em riqueza efetiva (Mamede, 2016, p. 138). Como mencionado anteriormente, as sociedades limitadas e as anônimas serão estudadas separadamente nos próximos temas. TEMA 4 – AS SOCIEDADES LIMITADAS A sociedade limitada é a forma de sociedade mais comum no país, especialmente pelos micro e pequenos empresários. Eis que ela faz uma diferenciação entre o patrimônio do sócio e da sociedade. É regulamentada pelo Código Civil, a partir do Art. 1.052. Naquilo em que o capítulo específico for silente, aplica-se o previsto legalmente para as sociedades simples. Com relação à responsabilidade dos sócios, na sociedade limitada, ela (a responsabilidade) é restrita ao valor das quotas de cada sócio, mas todos respondem solidariamente pela integralizaçãodo capital social fixado (Brasil, 2002). O contrato social das sociedades limitadas deve conter o requerido no Art. 997 do Código Civil: Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: I – nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; II – denominação, objeto, sede e prazo da sociedade; III – capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; IV – a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; V – as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; VI – as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; VII – a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais. O capital social é o valor que permite o início da atividade empresarial. Ele integra o patrimônio da sociedade a partir da contribuição que cada sócio faz para aquisição de quotas. Estas quotas têm um valor nominal estipulado pelos envolvidos (R$ 1,00, por exemplo) e este valor é o mesmo para todos os sócios. Assim, os sócios podem ter quotas iguais ou não, tudo dependendo do investimento feito pessoalmente, não existindo valor mínimo fixado. 13 O capital social de uma sociedade limitada é de fixação livre pelos sócios, não tendo a lei estipulado um limite mínimo, mas se recomenda que seja proporcional e compatível com as necessidades e atividade desenvolvida pela sociedade. A contribuição do sócio para a sociedade também pode ser feita com a transferência de um bem para a sociedade, tomando-se o cuidado de dar um valor certo a ele para que se possa fixar o valor da contribuição do sócio. Estimula-se, inclusive, a realização de uma avaliação pericial, ainda que não seja obrigatória. Formalmente, não se admite que o sócio ingresse na sociedade apenas com prestação de serviços, para integralizar suas quotas. Desde que não haja previsão em contrário no contrato social, um sócio pode ceder suas quotas a outro, total ou parcialmente. A cessão de quotas para terceiros somente é permitida sem a oposição dos demais sócios e se limita até um quarto do capital social (Brasil, 2002). O sócio que não pagar integralmente pelas suas quotas pode perdê-las, pois a lei permite que os demais sócios as tomem para si ou que as transfiram para terceiros. Neste caso, este sócio será excluído e, caso tenha pagado alguma quantia, esta lhe será devolvida com juros de mora, ou seja, ainda que tenha pagado parcialmente as quotas, nem com estas poderá permanecer (Brasil, 2002). Podem ser acrescidas no contrato social outras particularidades, desde que não afronte a natureza da espécie societária. Dentre elas está o uso da firma social, uma espécie de assinatura do nome para identificação empresarial, no intuito de conferir credibilidade ao negócio, entretanto, a utilização da firma está caindo em desuso. O contrato social poderá nomear um Conselho Fiscal para a sociedade, o qual funciona sem prejuízos dos poderes da assembleia dos sócios. Os conselheiros serão em número de três ou mais, cada um com um suplemente, podendo ser sócios ou não, todos residentes no país, os quais serão eleitos em assembleia anual, que deve ocorrer nos quatro meses após o término do exercício social (Brasil, 2002). Espera-se do Conselho Fiscal, justamente por ele ser facultativo na sociedade limitada, que seja atuante e eficiente, formado por pessoas com capacidade técnica para assessorar a sociedade na sua administração e avaliação das contas. 14 Os membros do Conselho Fiscal devem analisar os documentos da sociedade, o caixa e os títulos a cada três meses, devendo o administrador permitir, obrigatoriamente, o acesso aos documentos necessários para exercício de tal obrigação. A partir destas análises, os conselheiros devem fazer um parecer anual sobre os negócios e as operações, tendo como base o balanço e o resultado econômico da sociedade, sendo o documento entregue para deliberação dos sócios acerca do conteúdo. Os assuntos envolvendo a constituição, modificação e extinção dos negócios da sociedade devem ser tomadas em colegiado, justamente em razão da importância destas matérias. Então, os sócios devem se juntar em assembleia ou reunião, para as quais serão estabelecidos os quóruns necessários para as aprovações. Exemplos disso são a reunião ou assembleia anual no intuito de aprovação das contas da sociedade, oportunidade em caberá ao administrador apresentá-las para deliberação; propostas de alterações do contrato social; nomeação de administrador etc. Todas as decisões tomadas em assembleia ou reunião, bem como eventuais impugnações, deverão ser lavradas em ata, assinada pelos membros da mesa, sócios presentes. O sócio que tiver interesse poderá requerer cópia autenticada da ata da reunião ou assembleia (Brasil, 2002). Continuando o tema dissolução da sociedade, é importante destacar que ela pode se resolver apenas em relação a um dos sócios. No caso de morte de algum dos sócios, será feita a liquidação de suas quotas, salvo disposição expressa do contrato social. Os sócios remanescentes também podem optar pela dissolução da sociedade ou permitir que os herdeiros do sócio falecido o substituam. É permitido, ainda, que um dos sócios seja excluído judicialmente da sociedade por requerimento dos demais, desde que comprovadas faltas graves no exercício de suas obrigações ou por incapacidade declarada após a constituição da sociedade (incapacidade superveniente) (Brasil, 2002). O sócio também pode tomar a iniciativa de deixar a sociedade e, neste caso, deverá notificar os demais com antecedência mínima de sessenta dias, se for uma sociedade sem prazo determinado. Tratando-se de uma sociedade de prazo determinado, o sócio que deseja retirar-se deverá fazer o pedido judicialmente, provando uma justa causa (Brasil, 2002). 15 TEMA 5 – AS SOCIEDADES ANÔNIMAS A sociedade anônima, também denominada “companhia”, é aquela que tem o seu capital social dividido em ações e está regulada pela Lei n. 6.404/1976. O acionista tem sua responsabilidade limitada ao valor de seu investimento, ficando protegido seu patrimônio pessoal. A sociedade anônima pode ser aberta ou fechada: será aberta quando disponibilizar venda de ações no mercado de valores mobiliários (bolsa de valores, por exemplo); caso contrário, será fechada. Em sendo aberta, para poder negociar as ações no mercado, a sociedade deverá ter registro na Comissão de Valores Mobiliários – CVM, entidade que tem competência para classificar as companhias abertas segundo sua espécie e classe, e especificará as normas das companhias incidentes sobre cada categoria (Brasil, 1976). A sociedade anônima aberta somente poderá se retirar do mercado de ações se fizer oferta pública para compra de todas as ações que colocou no mercado. O preço ofertado pelas ações, inclusive, deve ser, pelo menos, o de avaliação de mercado da companhia. Assim, finalizado o prazo da compra, se permanecer apenas o equivalente a 5% das ações no mercado, poderá a companhia, se assim deliberar a assembleia geral, resgatar estas ações, depositando aos seus titulares o mesmo valor pago pelas demais. É exigência legal que o capital social da sociedade anônima seja expresso no estatuto em moeda nacional. Este capital poderá ser composto de valores em dinheiro ou bens. No caso de bens, estes deverão ser avaliados por três peritos ou por empresa especializada em avaliação, os quais deverão fundamentar a conclusão do laudo (Brasil, 1976). Caberá ao estatuto da companhiafixar o número de ações nas quais se divide o seu capital social, e também mencionará se as ações terão ou não um valor nominal. Se houver valor nominal, ele deverá ser o mesmo para todas as ações da companhia e, caso se trate de companhia aberta, o valor nominal não poderá ser inferior ao fixado pela CVM (Brasil, 1976). As ações poderão ser classificadas em ordinárias, preferenciais ou de fruição, dependendo dos direitos e das vantagens que garantam aos seus titulares. 16 Algumas classes de ações preferenciais poderão ter vantagens políticas, desde que sejam previstas no estatuto da companhia, como o de eleger um ou mais membros dos órgãos de administração, em votação em separado (Brasil, 1976). As ações ordinárias da companhia fechada poderão ser classificadas em função da possibilidade de conversão em ações preferenciais, exigência de acionista de nacionalidade brasileira ou direito de voto separado para preenchimento de alguns cargos dos órgãos administrativos. As preferências ou vantagens das ações preferenciais podem ser: prioridade na distribuição de dividendo; prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou não ou acumulação das preferências destas duas anteriores. Estas ações (sem direito de voto ou com restrição neste direito) somente poderão ser negociadas no mercado aberto contendo, pelo menos, uma destas vantagens: direito de participar do dividendo a ser distribuído, correspondente a, pelo menos, 25% do lucro líquido do exercício; direito de recebimento, por ação preferencial, de dividendos de, pelo menos, 10% maior do que o atribuído a cada ação ordinária; direito de serem incluídas em oferta ao público de alienação de controle, sendo garantido dividendo, ao menos, idêntico aos das ações ordinárias. Deverão ser declaradas no estatuto da companhia com ações preferenciais as vantagens e preferências dadas a cada classe destas ações, bem com as restrições a que se sujeitarão. Poderá prever, ainda, se haverá o resgate ou amortização, a conversão de ações de uma classe em outra ou em ações ordinárias, e destas em preferenciais, fixando as condições para tais ocorrências. As ações de fruição são títulos que substituem as ações amortizadas (que podem ser preferenciais ou ordinárias), ou seja, não representam o capital social da companhia, mas a antecipação ao sócio de valor a que teria direito de receber no caso de liquidação da companhia. A Lei n. 6404/1976 elenca quais são as principais atribuições da Assembleia Geral das sociedades anônimas, a qual deverá ser convocada de acordo com a lei ou o estatuto, quando necessário para decidir sobre os negócios relativos ao objeto da sociedade ou para sua defesa e desenvolvimento. Destaca-se que nas companhias abertas os acionistas poderão participar e votar à distância, conforme regulamentação da CVM. 17 Compete privativamente à Assembleia Geral: I – reformar o estatuto social; II – eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fiscais da companhia, ressalvado o disposto no inciso II do art. 142; III – tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as demonstrações financeiras por eles apresentadas; IV – autorizar a emissão de debêntures, ressalvado o disposto nos §§ 1o, 2o e 4o do art. 59; V – suspender o exercício dos direitos do acionista (art. 120); VI – deliberar sobre a avaliação de bens com que o acionista concorrer para a formação do capital social; VII – autorizar a emissão de partes beneficiárias; VIII – deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da companhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes as contas; e IX – autorizar os administradores a confessar falência e pedir concordata. (Lei n. 6401/1976) Parágrafo único. Em caso de urgência, a confissão de falência ou o pedido de concordata poderá ser formulado pelos administradores, com a concordância do acionista controlador, se houver, convocando-se imediatamente a assembleia geral, para manifestar-se sobre a matéria (Brasil, 1976). A assembleia geral deverá ser convocada pelo conselho de administração, se ele existir, ou aos diretores, desde que observadas as normas instituídas no estatuto da companhia. Para que se dê total publicidade aos atos da companhia, a convocação será mediante anúncio publicado por três vezes na imprensa, contendo local, data, hora da assembleia, a pauta do dia e, se for o caso de alteração do estatuto, a indicação da matéria (Brasil, 1976). Para que a assembleia aconteça, deverão estar presentes em primeira convocação os acionistas que somem ¼ do capital social com direito a voto. No caso de segunda convocação, ela será instaurada com qualquer número. A Lei n. 6401/1976 prevê todo o rito para que a assembleia tenha validade, tratando da legitimação de representação, livro de presenças, necessidade de mesa para dirigir os trabalhos, quórum de deliberações, ata da assembleia etc. Atenção: as assembleias das sociedades anônimas poderão ser ordinárias (previstas em lei e/ou estatuto) ou extraordinárias (a interesse da sociedade). TROCANDO IDEIAS 18 Uma das informações que devem constar no contrato social é o tempo de duração da sociedade, conforme art. 46, inciso I, do Código Civil. Inclusive, estudamos em vários momentos que as sociedades empresárias podem ser dissolvidas quando finalizado seu prazo de constituição. Sabemos que as empresas são responsáveis pela movimentação econômica do país, gerando empregos e renda. Considerando tais situações, você pensa ser prudente instituir sociedade/empresa com prazo determinado? Será que situações específicas requerem empresas temporárias? Pense a respeito e debata com seus colegas. NA PRÁTICA Considerando a ideia em torno de empresário individual e empresa, avalie as assertivas abaixo e escolha a correta. (A resposta está ao final deste documento). a. A pessoalidade explica que quem é empresário não é empregado, mas ambos são responsáveis por colocar bens e serviços no mercado em nome próprio. b. O empresário é aquele que exerce de forma profissional atividade econômica organizada, e a empresa é a atividade consistente na produção ou circulação de bens ou serviços. c. A empresa é responsável pelo exercício da atividade econômica, então, ela é o titular no caso de falência, e não o empresário. d. O conceito de empresa se confunde com o de estabelecimento comercial, podendo ser adotados como sinônimos. e. O empresário também é aquele que exerce atividade econômica de forma esporádica, pois faz circular bens e serviços. FINALIZANDO Neste encontro estudamos alguns temas de direito societário, não no intuito de esgotar esta extensa matéria, mas de proporcionar a você um conhecimento geral que lhe permita identificar os temas. Vamos relembrar os assuntos estudados? 1. Empresário individual; 19 2. Classificação das pessoas jurídicas; 3. Panorama geral das sociedades; 4. As sociedades limitadas; 5. Sociedades anônimas. 20 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 19 jul. 2017. _____. Lei n. 6404, de 15 de dezembro de 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 19 jul. 2017. MAMEDE, G. Direito empresarial brasileiro: direito societário: sociedades simples e empresárias, v. 2. 8. ed. rev. e atual. – São Paulo: Atlas, 2016. VENERAL, D.; ALCANTARA, S. A. Direito aplicado. Curitiba: InterSaberes, 2014. 21 RESPOSTAS Comentários: a. Errada. Os empregados colocam bens e serviços no mercado, mas atuando em nome do empresário. b. Correta. Empresa não pode ser confundida com o empresário, pois é a atividade exercida. c. Errada. A empresa é a atividade,portanto, é equivocado dizer que “a empresa faliu”, pois quem fale é quem exerce a atividade, ou seja, o empresário. d. Errada. Estabelecimento comercial não se confunde com empresa, uma vez que se trata do local onde a atividade é exercida. e. Errada. O profissionalismo exige o exercício de uma atividade habitual, de modo que aquele que coloca em circulação bens e serviços de forma esporádica não será empresário. Portanto, resposta correta: b.
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