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CBI of Miami 1 CBI of Miami 2 DIREITOS AUTORAIS Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os direitos sobre o mesmo estão reservados. Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou quaisquer veículos de distribuição e mídia. Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações legais. CBI of Miami 3 ABLLS Aída Brito O protocolo de avaliação The Assessment of Basic Language and Learning Skills - ABLLS (Avaliação de Linguagem Básica e Habilidades de Aprendizagem), desenvolvido pelo autor James W. Partington, em 1998, é comumente utilizado na avaliação de crianças com atrasos no desenvolvimento. Tal protocolo não deve ser utilizado enquanto uma ferramenta diagnóstica, no entanto, esta fornecerá informações necessárias para a avaliação do repertório verbal, habilidades básicas do dia a dia e, também, habilidades avançadas, as quais, por exemplo, não são alcançadas a partir de outros protocolos, como o VB-MAPP. Dessa forma, além de possibilitar a elaboração do PEI, os profissionais responsáveis pelo caso, assim como os familiares poderão acompanhar o avanço do repertório do sujeito avaliado (DOEHRING, GIGLIOTTI, CALKINS, CAIN, 2008; СЕМЕНОВИЧ, et al, 2015; PARTINGTON, BAILEY, PARTINGTON, 2016). A ABLLS, além de ser um instrumento utilizado para avaliar, como dito acima, também servirá enquanto um guia curricular, onde o profissional poderá elencar habilidades básicas para a intervenção, nas quais o sujeito tem apresentado lacunas no desenvolvimento. No entanto, a ABLLS, em comparação ao VB-MAPP e outros protocolos comumente utilizados na avaliação de crianças com TEA e outros transtornos do desenvolvimento, apresenta um diferencial, sendo o fato de não serem delimitados níveis para a avaliação, ou seja, não fornece prioridades educacionais, ficando a critério do analista e do repertório do sujeito, o qual deve ser avaliado previamente (СЕМЕНОВИЧ, et al, 2015). Portanto, a ABLLS se propõe a avaliar 544 comportamentos, subdivididos em 24 áreas, as quais estão inseridas entre as habilidades: básicas, de autocuidado/autonomia e independência, acadêmicas e motoras, sendo organizadas em seções de A a Z. Apesar disso, vale ressaltar que a ABLLS não segue uma sequência hierarquizada, conforme já dito anteriormente. CBI of Miami 4 Algumas orientações prévias são necessárias para o uso de tal protocolo, a exemplo do que já tem sido discutido desde a primeira aula do módulo, referente a avaliação comportamental, como: É recomendável coletar o máximo de informações possível de membros da família e vários profissionais que trabalham com a criança, a fim de selecionar adequadamente os objetivos do programa. (...) É importante convidar os membros da família e os profissionais a revisar os pontos do programa proposto para garantir que todos atendam às expectativas do futuro trabalho de desenvolvimento infantil (СЕМЕНОВИЧ, et al, 2015, p.5, tradução nossa). Dessa forma, a avaliação ocorrerá com base no repertório atual do sujeito, selecionando metas para a intervenção conforme o que se sabe acerca dos marcos de desenvolvimento e, também, observando as lacunas que são percebidas ao longo da avaliação e do que foi exposto por familiares/profissionais que o acompanham. A partir da avaliação realizada o profissional terá, ao final, uma tabela que contribuirá na visualização do repertório atual do sujeito e, posteriormente, seus avanços. Conforme discutido em aulas anteriores, é fundamental a realização de uma avaliação abrangente com relação às habilidades que o sujeito tem apresentado ao longo do seu desenvolvimento. Para isso, alguns protocolos são comumente utilizados enquanto ferramentas que facilitarão a listagem de habilidades já adquiridas e as que estão em atraso. Dessa forma, a ABLLS virá a auxiliar o profissional ou responsável que fará a avaliação a identificar as lacunas em habilidades básicas no desenvolvimento humano, assim como verificar as que já foram obtidas e que podem ser ampliadas ou postas em generalização. Portanto, a ABLLS contará com um manual que irá propor 544 tarefas, divididas em 25 áreas e em 4 habilidades. Além das tarefas, o protocolo ABLLS conta com um sistema de rastreamento de habilidades, o guia curricular e a avaliação em si. Tal avaliação é extremamente indicada em casos de CBI of Miami 5 observações que devem ser feitas em ambientes naturais, como a casa, escola e outros ambientes rotineiros para o sujeito. Para a aplicação da avaliação, o avaliador deverá conhecer os principais conceitos da Análise do Comportamento e ter um conhecimento prévio acerca do sujeito (diagnósticos, história de vida, reforçadores, etc), sendo possível alcançar esse último ponto em uma completa pré-avaliação. Portanto, a ABLLS, em cada uma de suas 544 atividades, contará com a descrição detalhada dos seus objetivos, critérios e exemplos de como podem ser feitas as atividades ou como deve ser esperado enquanto resposta do avaliando. Os critérios da avaliação vão, comumente, de 0 a 5 pontos, o que, conforme afirmam Doehring, Gigliotti, Calkins e Cain (2008, p.2, tradução nossa) “essa variação permite que as habilidades emergentes tão críticas para o planejamento educacional sejam rastreadas com mais precisão”. Portanto, será a partir da avaliação que a equipe irá selecionar os alvos para a intervenção, ou seja, habilidades que devem ser ampliadas no repertório do sujeito. A partir da seleção das metas, os profissionais irão desenvolver o PEI, com as devidas instruções, critérios e objetivos a serem alcançados. Para isso, é necessário enfatizar que “a seleção de metas prioritárias para um programa de desenvolvimento é um processo puramente individual, que depende do nível de habilidade atual da criança, dos requisitos da instituição educacional, dos desejos da família, etc (СЕМЕНОВИЧ, et al, 2015, p.5, tradução nossa).” Sendo assim, as seções trabalhadas na ABLLS serão: A. Cooperação e eficácia de incentivos (Variação de reforçadores; atraso de reforçador extrínseco); B. Percepção visual (Ex: Resolução de jogos, como o quebra-cabeça, jogos de encaixe; completar tarefas); C. Linguagem receptiva (Ex: Seguir instruções; Distinguir objetos a partir dos seus nomes); D. Imitação motora (Ex: Imitação de movimentos com o corpo/objetos); E. Imitação vocal (Ex: Repetir palavras, frases, sons); F. Solicitações (Ex: Pedir reforçador, pedir ajuda, pedir com contato visual); CBI of Miami 6 G. Nomeação (Ex: Nomear objetos, nomear pessoas, nomear partes do corpo); H. Intraverbal (Ex: Preencher a função quando apresentado um item - “Você corta com a ___”, responder perguntas); I. Vocalização espontânea (Ex: Falar palavras ou frases espontaneamente, canta músicas espontaneamente); J. Gramática e Sintaxe (Ex: Usa artigo, plural, conjunções); K. Jogos e lazer (Ex: Brinca em atividades ao ar livre ou em casa, brinca de faz de conta); L. Interação Social (Ex: Responder a cumprimentos, tolera a aproximação de colegas); M. Instruções em grupo (Ex: Prestar atenção nos colegas, professores, seguir instruções em grupo); N. Seguir rotinas de classe (Ex: Pegar mochila, concluir uma atividade e levar até o professor);O. Respostas generalizadas (Ex: Generalizar habilidades adquiridas em outros ambientes, com outras pessoas, etc); P. Leitura (Ex: Nomear letras, emparelhar palavras); Q. Matemática (Ex: Contar, nomear números, horas); R. Essa variação permite que as habilidades emergentes tão críticas para o planejamento educacional sejam rastreadas com mais precisão. (Ex: Rabiscar, tracejar, pintar entre as linhas); S. Ortografia (Ex: Copiar palavras, preencher palavras com letras que faltam); T. Vestimenta (Ex: Colocar sapatos, vestir camisa, fechar botões); U. Alimentação (Ex: Beber com um canudo, comer com uma colher/garfo); V. Preparação (Ex: Lavar as mãos, lavar o rosto, pentear ou escovar cabelo); W. Uso do banheiro (Ex: Fazer xixi no banheiro, limpar-se após fazer xixi/cocô; X. Habilidades motoras grossas (Ex: Correr, pular, agachar); Y. Habilidades motoras finas (Ex: Rabiscar, virar páginas do livro, pintar dentro dos limites). CBI of Miami 7 Dado as informações expostas, torna-se fundamental recapitular alguns pontos, importantes no processo avaliativo: ● Recomenda-se a avaliação anual, ou seja, uma a cada ano. Porém, em casos de crianças que avançam muito rápido, a avaliação pode ser feita a cada seis meses; ● Não é possível dimensionar a quantidade de horas que serão gastas com a avaliação, visto que a avaliação comportamental não irá se resumir apenas ao uso do protocolo, mas também a pré-avaliação, observação, avaliação de reforçadores, construção de vínculo e, por fim, a avaliação a partir do uso do protocolo selecionado; ● Assim como os demais protocolos, a ABLLS não tem como critério de aplicação a idade do sujeito que será avaliado, mas sim o seu repertório. Portanto, é imprescindível que o profissional esteja atento a tais detalhes; ● E, por fim, mas não menos importante: Qualquer pessoa pode aplicar a ABLLS, visto que não se trata de um teste padronizado, mas sim de uma escala avaliativa. Entretanto, para que possa ser feita uma avaliação ética e compromissada, é necessário que o avaliador tenha conhecimento sobre a Análise do Comportamento e busque conhecer previamente o sujeito. AFLS O protocolo de avaliação The Assessment of Functional Living Skills - AFLS (Avaliação de Habilidades de vida Funcional), desenvolvido pelos autores James W. Partington e Mueller, em 2012, tem como finalidade dar continuidade ao que é proposto e avaliado pelo protocolo da ABLLS. Portanto, a AFLS é comumente utilizada na avaliação de jovens e adultos com atrasos no desenvolvimento. Tal protocolo, assim como os demais citados, não deve ser utilizado enquanto uma ferramenta diagnóstica, no entanto, fornecerá informações necessárias para a avaliação de habilidades básicas do dia a dia, denominadas enquanto habilidades funcionais, tratando-se de um repertório essencial para a vida e que poderá ser experienciado diariamente pelo indivíduo. Como descrito na aula anterior, a AFLS, assim como a ABLLS, além de ser um instrumento utilizado para avaliar, também servirá enquanto um guia CBI of Miami 8 curricular, onde o profissional poderá elencar habilidades básicas para a intervenção, nas quais o sujeito tem apresentado lacunas no desenvolvimento. Dessa forma, esta será uma ferramenta essencial para a organização e programação de ensino, habilidades e competências funcionais, imprescindíveis para o cotidiano e o desenvolvimento funcional adequado. Conforme apresentam Larue, Manente, Dashow e Sloman (2016, p.229, tradução nossa) “as habilidades funcionais são aquelas que possuímos e que nos permite cuidar de nós mesmos, funcionando de forma independente em nosso ambiente natural”. Portanto, quando analisamos indivíduos em desenvolvimento típico, observamos que tal repertório é, com frequência, atingido sem maiores dificuldades, enquanto que sujeitos em desenvolvimento atípico, apresentam dificuldades e necessitam de estratégias específicas e operacionalizadas para a aquisição de tais metas. Sendo assim, a avaliação do repertório funcional poderá ser feita a partir de testagens diretas, quando necessário e adequado, como também poderá ser feita a partir de avaliações indiretas, contando com a observação dos familiares, amigos e demais profissionais. A AFLS pode ser aplicada em qualquer ambiente, desde que este seja um ambiente natural para o indivíduo, como a sua casa, escola, parque, transporte, emprego, etc., podendo avaliar diversas habilidades funcionais, as quais estão separadas em seis cadernos: Habilidades de vida básica, de casa, escolares, vocacionais e de vida independente. As habilidades observadas no caderno de “habilidades de casa”, estão relacionadas a cuidados diários em sua casa, como: lavar louça, fazer refeições, cozinhar, tarefas domésticas, entre outras. As “habilidades de comunidade”, visam observar comportamentos como a ida às compras, mobilidade, conhecimento comunitários, dinheiro, boas maneiras. As “habilidades escolares”, avalia a rotina escolar do sujeito e tudo o que está inserido no contexto escolar. As “habilidades vocacionais” dirigem-se para a procura por emprego, cumprimento de regras, trabalhos em grupos/equipe, pontualidade, habilidades necessárias para o trabalho e interesses vocacionais. As habilidades referentes a “vida básica”, propõe avaliar a autogestão, comunicação básica, higiene pessoal e autocuidado e segurança.. E, por fim, CBI of Miami 9 as “habilidades de vida independente”, consideram comportamentos como a organização doméstica, habilidades de cozinha, limpeza, refeição, autocuidado, interações sociais, planejamento financeiro, entre outros. À vista disso, conforme apontam Larue, Manente, Dashow e Sloman (2016, p. 233, tradução nossa), “a seleção de habilidades funcionais apropriadas a serem direcionadas para instrução é um processo complexo que deve ser determinado considerando a capacidade cognitiva, o ambiente e o estilo de vida de um indivíduo, e não sua idade cronológica”. Tendo como eixo de avaliação e intervenção as habilidades funcionais, a AFLS visa avaliar e estabelecer objetivos que levem ao aumento de independência e a qualidade de vida dos avaliandos e de seus familiares, possibilitando escolhas, maior participação na comunidade e na vida profissional, entre outras ocupações. Referências Bibliográficas СЕМЕНОВИЧ, М. Л. et al. Описание методики оценки базовых речевых и учебных навыков (ABLLS-R). Аутизм и нарушения развития, v. 13, n. 3, p. 3-10, 2015. DOEHRING, P., GIGLIOTTI, D., CALKINS, H., CAIN, D. The Utility of the ABLLS in Comprehensive Assessment and Educational Planning: A Comparison of Instruments. Association for Behavior Analysis – Autism, 2008. DOEHRING, P. et al. A Utilidade da ABLLS em Avaliação Integral e Planejamento Educacional: Uma Comparação de Instrumentos. Disponível em: <http://www.asdroadmap.org/assets/aba-2008-ablls-poster-2-handout.pdf>. LARUE, R. H. el al. Functional Skills. In: Handbook of evidence-based practices in intellectual and developmental disabilities. Springer, Cham, 2016, p.229-239. MOORE, D.J. el al. A review of perfomance-based measures of functional living skills. Journal of psychiatric research, v.41, n.1-2, p.97-118, 2007. PARTINGTON, J.W.; BAILEY, A.; PARTINGTON, S.W. A pilot study examining the test–retest and internal consistency reliability of the ABLLS-R. Journal of Psychoeducational Assessment, v. 36, n. 4, p. 405-410, 2018. http://www.asdroadmap.org/assets/aba-2008-ablls-poster-2-handout.pdf