Buscar

LAUDO DO FILME ENTRE ELAS ATUALIZADO 0806

Prévia do material em texto

3
LAUDO
DEMANDA DO ENCAMINHAMENTO
A paciente C.P. foi encaminhada pela instituição psiquiátrica para ser submetida a uma avaliação psicológica, a fim de considerar sua capacidade de retornar ao convívio da sociedade, devido à natureza do internamento da paciente. 
HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS
H1: É psicose? 
H2: Paranoia de auto-punição?
H3: Neurose obsessiva? 
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
NOME: C.P.
IDADE: 28 anos
LATERALIDADE: destro
CIDADE: Le Mans, França
SOLICITANTE: C.P.
DATA DE NASCIMENTO: 08/03/1905
DATA DE AVALIAÇÃO: 21/05/2020 a 21/06/2020
PROCEDIMENTO (TESTES FORMAIS)
	Ao decorrer da avaliação, foram realizados testes projetivos para avaliar a capacidade de C.P, de retornar ao convívio da sociedade, devido a natureza do delito por ela cometido. Foram aplicados testes de Rorschach, para verificar sua personalidade, após a crise de delírio remitir. O teste aplicado, foi utilizado para a verificação da aptidão da paciente em questão em retornar ao convívio da sociedade, ou retornar à instituição psiquiátrica em questão. 
Foi aplicado apenas o método psicanalítico da associação livre (Freud, 1982) tanto nas entrevistas preliminares, quanto para a conclusão do diagnóstico. Por meio da associação livre, ocorreram atos falhos por meio da paciente, relatos de sonhos, chistes que auxiliaram no desfecho do diagnóstico. 
BREVE HISTÓRICO
C. sempre teve uma infância conturbada, seus pais possuíam um relacionamento conflituoso, e após o divórcio, sua mãe fazia com que ela e sua irmã mais velha E. fossem enviadas a orfanatos para que aprendessem a realizar as atividades domesticas. Após um tempo no orfanato, a mãe de C. a encaminhou a várias casas de famílias, para que trabalhasse como empregada doméstica. Após sua adaptação, sua mãe a mandava para outras casas para que pudesse entregar seu salário a ela. E assim sucedeu-se até que C.P completasse a maior idade. A última experiência profissional de C.P ocorreu na residência dos Lancelin, situada na cidade Le Mans, França. C. iniciou seu trabalho na residência dos Lancelin, sempre sendo elogiada por seu trabalho e de sua irmã L., que posteriormente também fora contratada. 
C. era considerada uma empregada modelo, realizava todos os tipos de atividades que lhe eram solicitadas, sendo elas quais fossem. Suas principais atividades consistiam em costurar as roupas da Sra. Lancelin e de sua filha, a Srta. Lancelin, cozinhar todas as refeições e limpar a casa, atividades que realizava com perfeição. Geralmente C.P percebia o comportamento da Sra. Lancelin e seus desejos apenas por seu olhar, e acreditava estar sendo observada por ela constantemente. 
C.P passa suas folgas, isolada em seu quarto, com L., ou quando esporadicamente comparece a igreja. Sua relação fica cada vez mais reclusa quando a simbiose entre as irmãs aumenta, e devido a isto Sra. Lancelin se queixa que C. P está ficando desleixada nas atividades domesticas. 
Na noite de 2 de fevereiro de 1933, após um acidente decorrente de um curto circuito causado por um eletrodoméstico defeituoso, C.P entra em pânico com a chegada das Lancelin, e as ataca, arrancando-lhes os olhos, com um objeto afiado, o mesmo objeto que C.P tinha em mãos, mutilado as genitálias de ambas. Após uma e outra assassinadas, C. higienizou o local, e assim aguardou a chegada das autoridades nua e abraçada com sua irmã L.
RESULTADOS
 Surgiu a hipótese de psicose, pela paciente apresentar quadros delirantes, reações agressivas, neurose de transferência em relação a sua irmã L, relatando que acreditava que havia sido marido de sua irmã em outra vida. C.P apresentava ideias de perseguições por parte da Sra. Lancelin, ao descrever que a mesma estava vigiando seu desempenho. Seguindo as hipóteses freudianas, a causalidade da paranoia foi localizada inicialmente por Lacan na identificação narcísica, na qual a relação com a imagem reúne a alienação de um EU primordial e o sacrifício suicida. Lacan estabelecia assim a analogia e a diferença entre o estatuto original do sujeito, como capturado pela imagem do outro, e a estrutura fundamental da loucura. (Miller 1998). Sendo deste modo, durante o ataque C. desenvolveu um quadro de delírio, a estrutura psicótica utiliza os delírios para dar sentido a ordem de um não saber.
A segunda hipótese a ser analisada foi a de C.P possuir uma paranoia de auto punição. Foi levantada esta hipótese após a paciente relatar em setting terapêutico os fatos que ocorreram na noite do crime. C.P descreve que ao ser surpreendida pela Sra. Lancelin e por sua filha, e questionada sobre o fato das luzes da casa estarem todas apagadas e relata que sentiu ameaçada e assim iniciou as agressões, arrancando com as mãos os olhos da Sra. Lancelin e mutilando também suas coxas e órgãos. 
 A paciente comete este crime contra as Lancelin devido a uma pulsão homossexual, recalcada, ou seja, que ao mesmo tempo, elege uma outra mulher como eu ideal e objeto de ódio. Isto é, ocorre um caso de espelhamento, onde C.P ataca as Lancelin, mesmo caso que ocorre com Aimeé (Lacan, 1987). Ao cometer os assassinatos, C. realiza a passagem ao ato, ou seja, ao entrar na crise ao ser confrontada pelas Lancelin, e em busca de um sentido e o mesmo não ser resolvido pelos delírios, a paciente efetuou uma ação violenta, para que fosse necessário retornar o sentido daquela situação. No momento em que a passagem ao ato é realizada o delírio é cessado, pois o objetivo da autopunição é atingido. 
 	Durante a análise, percebeu-se que C.P possuía um relacionamento conturbado com seus pais, devido ao divórcio. Sua mãe começou a realizar joguetes com a paciente, e com isso exerceu o nome-do-pai retirado do discurso materno. Sendo assim, quando a função paterna é desempenhada como pai simbólico, no momento do segundo complexo de édipo, propiciando a identificação que produz a aquisição do “não” dirigido para o próprio desejo de completude (J. Dor,1989), retorna no pai real ou seja aquele que realiza a castração da criança. Pois aquilo que não se inscreve no simbólico, retorna no real. Caso da paciente retratada nesta avaliação, pois os delírios, alucinações, reações agressivas são falta de uma função paterna não exercida. 
A terceira hipótese, o caso de neurose obsessiva foi levantado pelo fato de a paciente relatar dentro do ambiente do setting terapêutico, que havia crescido em um ambiente hostil e conturbado, mesmo ambiente que poderia resultar em uma possível neurose obsessiva, por seu pai ter cometido abuso com sua irmã mais velha, e C. ter presenciado o evento. Porém após investigação, por meio do método da associação livre, a hipótese foi descartada. 
 
CONCLUSÕES
 A paciente teve crises de delírios, porém quando estes não deram conta de conter a estrutura realizou a passagem ao ato (Lacan 1901-1981), para que fosse possível sair daquela situação que havia sido criada, ou seja no momento em que foi confrontada pela Sra. Lancelin, utilizou o ato violento como saída, ou passagem ao ato. Após ser isolada na instituição psiquiátrica, o delírio foi contido. Desta forma pode retornar ao convívio em sociedade.
ENCAMINHAMENTOS
 Para que seja possível o retorno de C.P ao convívio da sociedade, algumas medidas sugeridas são o acompanhamento de psicoterapia três vezes por semana, simultaneamente a uma orientação com um psiquiatra para impedir que futuras crises ocorram. Solicita-se também que dentro de um prazo, de seis meses seja solicitada uma nova avaliação psicológica, para finalidade de verificar progresso da paciente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NASIO, J.D. Os Grandes Casos De Psicose. Título original: Les Grands Cas de Psychose. Edição Zahar. Rio de Janeiro:2001. 
LACAN, J. (1987). In: Da Psicose Paranoica e Suas Relações Com A Personalidade. (Editora forense Universitária).1ed:Rio de Janeiro. 
 
TOLEDO, Karen. Psicose e Desencadeamento: Sustentação e Ruptura. Americanópolis. São Paulo. 2004.
POLLIS, Renato. A Estrutura Psicótica: um Estudo Psicanalítico Sobre a Paranoia. Brasília 2013.
MELLO, Lúcia.Da Paranoia a Psicose Ordinária. Belo Horizonte. 2016.
QUEIROZ, Iançã; KOBAYASHI, Teresa. Passagem ao Ato a Psicose: um Estudo Clínico na Psicanálise. Macapá. 2016
LACAN, J. (1901-1981). O Seminário - A Angústia - Livro 10. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
Este laudo tem validade de (1) ano e caráter confidencial, devendo as pessoas que o receberam preservar o sigilo de seu conteúdo.

Continue navegando