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2 BIMESTRE DE SUCESSÕES

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Prévia do material em texto

DIREITO CIVIL - SUCESSÕES
PROF°. RAINER CZAJKOWSKI
2° BIMESTRE
Rainer Czajkowski - rainer.jur@uol.com.br
Anastácio Nascimento – anastacio.nascimento007@gmail.com
	ATENÇÃO: ESTOU EM REGIME DOMICILIAR E POR ISSO AS ANOTAÇÕES NÃO TEM DATAS E QUANTO AO CONTEÚDO, ESTOU ESTUDANDO POR DOUTRINAS ENTÃO PODE FALTAR ALGUMA INFORMAÇÃO DO PROFESSOR DADA EM SALA QUE EU NÃO TENHA COLOCADO.
SUCESSÃO LEGÍTIMA. INTRODUÇÃO. DESCENDENTES. CONCURSO DE CÔNJUGE.
No Código Civil, o Título II do Livro relativo ao Direito das Sucessões, trata da sucessão legítima (artigos 1829 a 1844). O Título é dividido em três capítulos: Da Ordem de Vocação Hereditária (artigos 1829 a 1844); Dos Herdeiros Necessários (artigos 1845 a 1850; e Do Direito de Representação (artigos 1851 a 1856).
Sucessão legítima, como o próprio nome indica, é uma imposição da lei, em nome da proteção à família do autor da herança. A lei obriga que, ressalvadas as situações excepcionais que autorizam a deserdação, pelo menos uma parte dos bens e direitos patrimoniais do falecido fique para seus familiares próximos, na linha do que seria a sua presumível vontade.
Tem, por isso mesmo, especial importância prática no Brasil, onde não há tradição cultural de se fazer testamento. Em três situações básicas incide o regime da sucessão legítima:
1) Nas sucessões “ab intestato” (aquelas em que o autor da herança não deixa testamento).
2) Nas sucessões em que, mesmo havendo testamento, ele é parcial, inválido ou ineficaz (caducidade). Artigo 1788, segunda parte. Em tudo aquilo que não for abrangido pelo testamento, ou em que este não puder ser cumprido, voltam a incidir as regras da sucessão legítima.
3) Nas sucessões em que existem herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge sobrevivente), artigos 1789 e 1845. Neste caso, o testamento só poderá dispor da metade dos bens que o falecido deixar, porque a outra metade é a legítima dos herdeiros necessários.
Aqui na sucessão legítima, é importante se habituar com a estrutura do Código Civil: o art. 1829 é o dispositivo central. Ele nos dá a ordem de prioridade em que os familiares próximos do falecido receberão a herança. Os artigos subsequentes, explicam a incidência de cada um desses incisos. A regra básica na sucessão legítima é que os mais próximos excluem os mais remotos, de maneira que se, ao morrer, o de cujus deixou descendentes, não se cogita da incidência dos demais incisos (os demais parentes não vão receber a herança). Na falta de descendentes, aí entram na linha sucessória os ascendentes, e assim por diante. Tem que se obedecer àquela ordem.
Os três primeiros incisos do art. 1829 referem-se aos herdeiros legítimos necessários. São as mesmas categorias descritas no art. 1845. É deles, por direito, a metade do acervo hereditário. O inciso IV do art. 1829 refere-se aos colaterais (o art. 1839, um pouco adiante, diz que na classe colateral, direitos sucessórios vão até o 4º grau). Os colaterais (irmãos, sobrinhos, tios, primos, sobrinhos-netos e tios-avós), embora legítimos não são necessários. Por isso, a contrário senso do art. 1789, se alguém ao falecer só tiver parente colaterais, poderá, por testamento, dispor de todo seu patrimônio. O art. 1850, em outra perspectiva, diz exatamente a mesma coisa.
Em primeiro lugar, na ordem de vocação hereditária, estão os descendentes (na classe dos descendentes, temos filhos, descendentes em primeiro grau, netos, descendentes em segundo grau, bisnetos, descendentes em terceiro grau etc.). Por hora não examino o eventual concurso de cônjuge sobrevivente, que torna a questão mais complexa. Focalizo a existência só de descendentes. Tomem por base a seguinte situação padrão:
 	A
 	/	\
 	B 	C
 	/ \ / \
 	B¹ B² C¹ C²
“A” é o autor da herança. “B” e “C” seus filhos. “B¹”, “B²”, “C¹” e “C²”, netos do autor da herança. Quando morre o autor da herança, se “B” e “C” estão vivos, eles dividem a herança entre si. Os netos não chegam a receber nada. Se, na abertura da sucessão, “C” já tiver morrido (é pré-morto em relação ao pai), seus filhos, “C¹” e “C²”, herdam por direito de representação a parte que caberia ao pai. A outra parte da herança vai para “B”. Se, ao tempo do falecimento de “A”, ambos os filhos “B” e “C” estão mortos (pré-mortos em relação ao pai), a herança devolve-se ao grau subsequente, que são os netos. Aqui não é representação. Neste caso, os netos herdam por direito próprio e por cabeça. É isso que querem dizer os artigos 1833 e 1835 do Código.
O art. 1834 tem uma redação esquisita para dizer algo simples. Não é possível discriminar descendentes, nos seus direitos sucessórios legítimos, em face dos ascendentes. A regra é uma consequência lógica do princípio constitucional da igualdade dos filhos (art. 227, § 6º da Constituição).
CONCURSO DE CÔNJUGE SUPÉRSTITE COM DESCENDENTES
Continuando a análise do artigo 1829, que trata da ordem de vocação hereditária na sucessão legítima, atentem que o inciso I não se refere isoladamente aos descendentes; refere-se também ao cônjuge sobrevivente: “aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares.”
Herdar de forma concorrente significa herdar junto de... Observem que cônjuge sobrevivente (e vou chamar, aqui, sempre de viúva, mas lembrem que é recíproco, viúva/viúvo) está em terceiro lugar na ordem de vocação, atrás dos ascendentes. Mas a lei dispõe que a viúva concorre às vezes com descendentes (conforme o regime de bens), e sempre com ascendentes, como veremos. A justificativa dessa complicação legal (e a solução do legislador brasileiro não foi boa), foi corrigir uma distorção histórica existente no direito brasileiro, originado da mudança do regime supletivo de bens, pela Lei do Divórcio.
Situações em que a viúva não concorre com descendentes:
1) Se casado com o falecido no regime da comunhão universal de bens. A viúva não precisa concorrer com descendentes porque já tem meação do patrimônio do casal (cuidado aqui: meação não é herança).
2) Se casado com o falecido no regime da separação obrigatória de bens. A referência certa é ao art. 1641 do Código. Se a lei, no Direito de Família, obrigou a separação dos bens, não faria sentido que aqui, no Direito das Sucessões, um herdasse o patrimônio do outro (pelo menos não concorrendo com descendentes). Há julgados do STJ estendendo esta exclusão para a separação convencional de bens, mas há divergência entre as turmas!
3) Se casado com o falecido no regime da comunhão parcial de bens, quando o de cujus não tiver deixado bens particulares. Aqui, duas observações: 
a) se o falecido não deixou bens particulares, é porque todos são comuns com a viúva. Então ela já tem meação. Na prática, equivale à situação 1. 
b) se o falecido deixou bens particulares, o concurso da viúva com os descendentes é só sobre essa massa de bens (os particulares do falecido), porque sobre os comuns do casal, ela já terá meação. É o que diz, também, em outras palavras, o Enunciado 270 das Jornadas de Direito Civil.
Os artigos 1830, 1831 e 1832, do Código Civil, explicam os direitos sucessórios de cônjuge sobrevivente (a viúva). Qualquer direito sucessório de viúva, não importa se pelo inciso I, II ou III do art. 1829, só existe se, ao tempo da abertura da sucessão, não estavam nem divorciados, nem separados judicialmente (desuso), nem separados de fato há mais de dois anos (salvo, neste caso, se o sobrevivente não teve culpa pela separação de fato). Novamente o legislador insiste na questão da culpa por separação de fato, o que pode representar alguma dificuldade probatória.
O artigo 1831 trata do direito real de habitação. Trata-se de um direito sucessório autônomo do cônjuge sobrevivente, que não depende do regime de bens do casamento, e nem de outroseventuais direitos sucessórios. Embora a lei mencione o imóvel residencial ocupado pelo casal “se este fosse o único daquela natureza a inventariar”, a jurisprudência maciça do STJ reconhece tal direito, sobre a residência ocupada pelo casal, mesmo se existirem vários imóveis dessa natureza. A lei, aqui, tem uma falha de redação. Deveria subordinar este direito ao tempo em que durasse a viuvez. Como não o fez, pode-se entender que é vitalício, independente de novo casamento.
Por fim, o artigo 1832 nos dá os parâmetros nos quais o cônjuge sobrevivente sucede, quando concorre com descendentes. Para melhor compreensão, divide-se o artigo em duas partes.
1.Viúva que não é ascendente dos descendentes com os quais concorre: ela recebe quota igual à dos que herdam por cabeça. Analisem os três esquemas a seguir:
 A - V 	A – V 	A - V
 / \ 	/ \ 	/ \
 B	C 	B	C (pré-morto) 	B C (ambos pré-mortos)
 	/ \ 	/ \ / \
 	 C¹ C² 	B¹ B² C¹ C²
“A” autor da herança, ao falecer deixa os filhos B e C, e a viúva, que não é a mãe deles. Cada um fica com 1/3. “A” ao falecer deixa um filho vivo B, dois netos C¹ e C² (filhos de C, pré-morto ao pai) e a viúva, que não é mãe de B e C. B fica com 1/3, a viúva fica com 1/3, e a parte que seria de C, fica para seus filhos C¹ e C² (1/6 para cada um) que herdam por representação. Se “A”, ao falecer, tinha os dois filhos pré-mortos, deixa quatro netos, e a viúva, que não é ascendente dos descendentes com os quais concorre, a divisão é de 1/5 para cada um. Aqui os netos não herdam por representação, mas por direito próprio e por cabeça.
2.Viúva que é ascendente dos descendentes com os quais concorre: neste caso, a quota dela, viúva, não poderá ser inferior à quarta parte dos bens. Analisem os esquemas:
 A - V 	A - V
 /\ 	/ | | \
 B C 	BCDE
“A” ao falecer, deixa os filhos B e C e a viúva, mãe dos seus filhos. Fica 1/3 para cada um, filhos e viúva, porque 1/3 é mais do que 1/4. Se “A” ao falecer deixa 4 filhos, B,C,D e E, e a viúva, mãe dos seus filhos, a viúva fica com 1/4, e os outros 75% da herança serão divididos entre os 4 filhos.
Há julgado do STJ no sentido de que, se a filiação for híbrida (a viúva é mãe de alguns descendentes, mas não de todos), não há como se respeitar esse mínimo de ¼. Aí, filhos e viúva herdarão quotas iguais.
COMENTÁRIO SOBRE DIREITOS SUCESSÓRIOS DE COMPANHEIRO SOBREVIVENTE
A enumeração legal dos herdeiros legítimos, no artigo 1829, é taxativa. Não há como incluir outros familiares nessa condição. Os três primeiros incisos aludem, em circunstâncias diferentes, a cônjuge sobrevivente, que tecnicamente não se confunde com a condição de companheira sobrevivente, embora seja uma tendência inevitável a plena equiparação. Ao tempo da aprovação do Código Civil, o legislador, ao que tudo indica às pressas (porque o dispositivo é tecnicamente desastroso e está fora do lugar), acrescentou um artigo tratando dos direitos sucessórios de companheiro sobrevivente. Era o artigo 1790. O Supremo Tribunal Federal, no RE.878.694/MG, Relator Min. Luís Roberto Barroso, em julgamento finalizado em 2018, julgou o dispositivo inconstitucional. Por isso o seu texto, até porque tecnicamente errado, sequer precisa ser analisado. Na jurisprudência do STJ, até por força do art. 1725 do Código Civil, a tendência é equiparar companheiro sobrevivente, na falta de disposição convencional expressa em sentido contrário, como cônjuge sobrevivente no regime da comunhão parcial de bens.
Uma última observação: Nas situações de união estável superveniente a uma separação de fato do falecido com um antigo cônjuge, independentemente da prova de culpa, é perfeitamente possível o concurso entre viúva e companheira sobrevivente. É o que, em outras palavras, admitiu o Enunciado 525 das Jornadas de Direito Civil.
SUCESSÃO LEGÍTIMA – OS ASCENDENTES E O CONCURSO DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE – SUCESSÃO SOMENTE PELO CÔNJUGE
A regra básica na sucessão legítima é a de que os mais próximos excluem os mais remotos, de modo que, se em determinada sucessão não existirem descendentes, herdam os ascendentes do autor da herança (art. 1829, II, c/c art. 1836). Ascendente é classe e, dentro dela, existem vários graus. Os genitores (pai e mãe) são ascendentes em primeiro grau, os avós, paternos e maternos, ascendentes em segundo grau e assim por diante. Aqui, o cônjuge sobrevivente, se existir, concorre sempre com ascendentes, independentemente de qual seja o regime de bens do casamento, mas sempre atendidos os requisitos do art. 1830.
Vamos imaginar, num primeiro momento, que só existam ascendentes, sem cônjuge sobrevivente.
 
Avós paternos 	X 	Y 	W 	Z Avós maternos
 	\ 	/ 	\ 	/
 	Pai 	 Mãe
 	\ 	/
 	Autor da herança 
Se, por ocasião da morte, pai e mãe estavam vivos, cada um recebe a metade da herança. Se apenas um dos genitores estava vivo, pai ou mãe, ele fica com a herança toda. Nada vai para os avós, porque os mais próximos excluem os mais remotos e não há direito de representação na classe ascendente (art. 1852).
Se, por ocasião da morte, pai e mãe eram pré-mortos, e só existiam avós, deve-se dividir o esquema acima em dois: avós da linha paterna (X e Y) e avós da linha materna (W e Z). A divisão da herança é por dois: metade para a linha paterna, metade para a linha materna. Se os quatro avós estão vivos, cada um fica com ¼ da herança. Agora, reparem: se Z já era morto também, a divisão continua por dois: X recebe ¼, Y recebe ¼ e W recebe ½. A divisão da herança é sempre por linha, não por cabeça (dos avós). É isso que quer dizer o § 2º do art. 1836.
 Agora vamos incluir na questão o cônjuge sobrevivente:
Avós paternos 	X 	Y 	W 	Z Avós maternos
 	\ 	/ 	\ 	/
 	Pai 	Mãe
 	\ 	/
 	Autor da herança	- 	viúva
Se, morrendo o autor da herança, deixa viúva, e pai e mãe vivos, a herança é dividida em três partes iguais. Se, além da viúva, existir apenas um dos genitores vivos (pai ou mãe), a herança se divide em dois: o genitor vivo e a viúva. Se, na abertura da sucessão, pai e mãe eram pré-mortos, existindo apenas avós (não importa em que número), a viúva também herda a metade. A outra metade será dividida entre os avós vivos, respeitada a regra do art. 1836. Se existirem avós da linha paterna e avós da linha materna, essa metade será subdividida: ¼ para a linha paterna, ¼ para a linha materna. É isso que se extrai do texto do art. 1837.
SUCESSÃO APENAS PELO CÔNJUGE SOBREVIVENTE
Se não existirem nem descendentes nem ascendentes, a herança toda defere-se ao cônjuge sobrevivente. Chegamos ao inciso III do art. 1829, combinado com o art. 1838. Também aqui, pouco importa o regime de bens no casamento, mas respeitados os requisitos do art. 1830. A situação, aqui, é extremamente simples porque não há divisão entre vários herdeiros. Há alguns aspectos interessantes concernentes ao direito de família. a) A morte de um dos cônjuges na pendência da ação de divórcio, transforma o(a) outro(a) em viúvo(a), porque sentença de divórcio não tem efeitos retroativos. Mas não havendo descendentes (menores), o divórcio poderia ser feito por escritura pública. Se existe demanda, é porque há uma situação de conflito, o que permite presumir que o casal litigante não continue residindo sob o mesmo teto. Neste caso, a separação de fato superior a dois anos, nomeadamente com culpa do(a) sobrevivente, fará desaparecero direito sucessório (art. 1830). b) No caso de casamento putativo, imaginem a pendência de uma ação de nulidade, ou anulatória do casamento, sobrevindo a morte de um dos cônjuges. Se o sobrevivente é cônjuge de boa-fé, em relação a ele o casamento produz efeitos, inclusive sucessórios, porque não se prolatou, ainda, a sentença de invalidade (art. 1561).
SUCESSÃO LEGÍTIMA POR COLATERAIS - HERDEIROS NECESSÁRIOS E DIREITO DE REPRESENTAÇÃO
Art. 1829, IV,c/c art. 1839: Se não houver cônjuge sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau.
Colaterais formam uma classe e, dentro dela, há vários graus (art. 1594): irmãos: 2ºgrau/ sobrinhos e tios: 3º grau/ primo, tio-avô e sobrinho-neto: 4º grau.
Art. 1840: os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos.
Art. 1853: Na linha transversal, só há direito de representação em favor de filhos de irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem.
 	A 	- B 	- 	C
 	 /	\
 C¹ C²
A – autor da herança
B e C – irmãos
C – irmão pré-morto em relação a A.
C¹ e C² - filhos de C, portanto, sobrinhos de A e de B. Herdam representando o pai pré-morto, concorrendo com o tio B.
B – ½
C¹ - ¼
C² - ¼
 
Art. 1843, caput: Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios.
Sobrinhos preferem aos tios, embora sejam, ambos, colaterais do terceiro grau. A lei privilegiou a geração mais nova. 
Art. 1841: Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar.
 	B - A - C - D
 	1x 	2x	2x = 5 quinhões
A – autor da herança
B – irmão unilateral
C e D – irmãos bilaterais
Divide-se o acervo hereditário em 5 partes: atribui 1 a B, 2 a C e 2 a D.
O irmão unilateral herdou metade do que herdou cada um dos bilaterais.
Art. 1842: Se todos são unilaterais o quinhão é igual.
Art. 1843, § 1º:Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, herdarão por cabeça.
 	 A - C - D
 / \ 	/ \
 C¹ C² D¹ D²
Se, em relação ao autor da herança, A, seus dois irmão C e D já forem pré-mortos, herdam os sobrinhos, C¹,C²,D¹ e D², mas aqui é por direito próprio e por cabeça, não é mais representação!
 Art. 1843, § 2º: Se concorrerem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles.
 	B -	A	- C	-	D
 	/ \ 	/ \ / \
 	B¹ B² 	C¹ C²	D¹ D²
	1x 1x 	2x 2x 2x 2x = 10 quinhões
A – autor da herança
B – irmão unilateral pré-morto
C – irmãos bilaterais pré-mortos.
Se, ao tempo da abertura da sucessão, todos os irmãos de A eram pré-mortos, sendo B irmão unilateral, e C e D irmãos bilaterais, os sobrinhos de A herdam por direito próprio e por cabeça, mas deve-se seguir a mesma lógica do art. 1841. Divide-se a herança em dez quinhões, dá-se apenas 1 para B¹ e B² e dois quinhões a C¹, dois quinhões a C² e assim por diante, porque estes são filhos de irmãos bilaterais.
O § 3º do art. 1843 repete a obviedade do art. 1842.
 Art. 1844: Referência à herança jacente.
 HERDEIROS NECESSÁRIOS
Art. 1845. Definição.
Art. 1846.Disponibilidade, por testamento, da metade dos bens, se existirem herdeiros necessários.
 
 Cálculo da legítima:
Art. 1847: Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.
Colação: artigos 2002 a 2012. Instituto pelo qual alguns herdeiros necessários têm que trazer à partilha o valor dos bens que receberam, por doação, em vida do autor da herança (presumível antecipação da legítima).
Parágrafo único do art. 2002. Para cálculo da legítima, o valor dos bens conferidos será computado na parte indisponível, sem aumentar a disponível.
CCB, art. 2004, caput: valor ao tempo da liberalidade, corrigido monetariamente.
CPC, art. 639, parágrafo único: valor ao tempo da abertura da sucessão.
1º: subtrai do acervo dívidas e despesas de funeral.
2º:divide o restante em duas partes iguais (legítima e disponível)
3º: acresce o valor dos bens sujeitos à colação, apenas na parte legítima (indisponível)
Cláusulas restritivas:
Inalienabilidade (absoluta/relativa, temporária/vitalícia), impenhorabilidade e incomunicabilidade. 
Definições.
Art. 1848. Imposição sobre a legítima. Declaração em testamento, com justa causa. Crítica da doutrina. Relação com o art. 1911.
Art. 1848, § 2º: Autorização judicial para alienar os bens clausulados, havendo “justa causa”, com sub-rogação real do bem adveniente. O mesmo acontece na desapropriação (art. 1911, parágrafo único). Jurisprudência sobre tal autorização judicial, sem sub-rogação.
§1º: é outro assunto! Proibição de o testador impor a herdeiros a conversão de bens em outros de espécie distinta.
Art. 1849: Cumulabilidade da legítima com herança testamentária ou com algum legado.
Art. 1850: Exclusão de colateral da legítima. Testamento sobre todos os bens, sem contemplá-los. Colateral é herdeiro legítimo, mas não necessário.
DIREITO DE REPRESENTAÇÃO (Artigos 1851 a 1856)
Art. 1851: Dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.
Arts. 1852 e 1853: Sempre na classe descendente, nunca na ascendente e, na classe colateral, só em favor dos filhos de irmãos.
 	A 
 	/ \ 
 	B	C 
 	 / \
 	C¹ C²
 	A	- B 	- 	C
 / \
 C¹ C²
Art. 1854: os representantes só herdam o que o representado herdaria, se vivo fosse.
Art. 1855: divisão paritária entre os representantes.
Art. 1856: O renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na sucessão de outra.
(Interpretação restritiva da renúncia – art. 114
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA - INTRODUÇÃO
O Título III do Livro dedicado ao Direito das Sucessões, no Código Civil, regula a sucessão testamentária. Abrange os artigos 1857 a 1990. Não deixa de ser paradoxal que a parte com menor interesse prático em nossa disciplina, porque no Brasil não há uma cultura social de se fazer testamento, esteja regulada em quase o dobro dos artigos dedicados à sucessão em geral e à sucessão legítima. A razão disso é histórica. A sucessão testamentária foi sendo aperfeiçoada por séculos, desde os romanos, resultando em legislação minuciosa que vai sendo repetida, em diferentes ordenamentos jurídicos romanistas, mais em homenagem à tradição do que, propriamente, por necessidade prática.
Testamento é negócio jurídico pelo qual uma pessoa dispõe de seus bens, no todo ou em parte, para depois de sua morte, ou ainda faz disposições de outra natureza, mas sempre para depois do seu falecimento. Nesse sentido é, ao lado do codicilo (um diminutivo de testamento), um negócio jurídico mortis causa. Todos os efeitos são produzidos após a morte. Não há cumprimento de testamento em vida do testador. Nesta perspectiva, há uma grosseira impropriedade na expressão “testamento vital ou biológico”, como referência à manifestação formal de vontade de alguém, no sentido de querer, ou não, sujeitar-se a determinadotratamento médico, quando já não esteja em condições de externar vontade. A questão envolve, normalmente, o estado de pacientes terminais, e os conceitos de ortotanásia e de morte digna. Isso é manifestação de vontade, mas, tecnicamente, não é testamento.
Testamento é negócio jurídico unilateral e não receptício. É personalíssimo (art. 1858, 1º parte), porque não admite representação nem assistência legal (o auxílio técnico do tabelião, ou do advogado, não se confunde com assistência legal), e também porque precisa ser feito necessariamente por uma pessoa só, isoladamente. O art. 1863 do Código veda expressamente qualquer testamento conjuntivo (feito em um único instrumento por mais de uma pessoa). Pouco importa seja simultâneo, recíproco ou correspectivo, o conjuntivo em si é proibido. Correspectivo seria aquele em que a eficácia das disposições de um testador sujeita-se à condição (suspensiva) de que o outro teste em seu favor, ou em favor de pessoas por ele indicadas. Sequer em instrumentos apartados esse tipo de condição é admitida, aí receberá o nome de condição captatória (art. 1900, I).
Testamento é negócio jurídico solene. As formas de sua elaboração estão minuciosamente descritas a partir do art. 1864. Sempre houve grande preocupação com os formalismos dos testamentos, a ponto de se chegar ao exagero, quase religioso, de dizer que qualquer irregularidade formal acarretaria sua nulidade. Atualmente, flexibiliza-se tal rigor. O que se deve analisar é se a irregularidade formal cometida compromete a manifestação de vontade do testador e a sua isenção. O próprio Código, por exemplo, nos artigos 1878 e 1879, cria a formalidade e, depois, a flexibiliza. A característica continua existindo (não se faz testamento de qualquer jeito), mas ela não pode ser levada a extremos.
Testamento é gratuito. Tal característica é doutrinária, histórica. O testamento guarda, por isso mesmo, pontos de contato com a doação (negócio intervivos). Há, nesse pormenor, uma relação temática com o art. 426 do Código, no sentido de que não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. Não se pode, mediante remuneração, renunciar ao direito de fazer testamento, nem comprometer-se a fazê-lo de certa maneira. Não se pode exigir contraprestação por disposição testamentária. A vedação à condição captatória, como visto acima, explica-se por essa via, porque seria forma camuflada de exigir uma contraprestação. O testamento, no entanto, admite encargo (art. 136). É que a obrigação assumida pelo beneficiário não se caracteriza como preço.
Testamento é revogável (art. 1858, 2º parte). Pode ser mudado a qualquer tempo, pelo testador. Atentem para não confundir revogação com invalidade. Revogação tem a ver com arrependimento, pelo testador, em vida. Invalidade, tanto nos regimes de nulidade quanto de anulabilidade, tem a ver com não observância de requisitos legais a que se sujeitam todos os negócios jurídicos. É outra questão. A princípio, revoga-se um testamento fazendo outro, sem haver hierarquia entre os tipos testamentários. Havendo mais de um testamento, um revogando o anterior, prevalecerá o realizado por último, antes da morte. Entretanto, como a revogação pode ser expressa ou tácita, nada impede a coexistência de vários testamentos, com disposições não conflitantes. É incomum, mas possível. O testador que dilacera (abre) um testamento cerrado, também o revoga. Trata-se de uma modalidade testamentária que precisa ser apresentada incólume ao Poder Judiciário, depois da abertura da sucessão, sob pena de perder a validade. A respeito da revogação dos testamentos dispõe os artigos 1969 a 1972 do Código Civil. Em uma particular situação o testamento é considerado irrevogável: na disposição de reconhecimento de filho (artigos 1609, III, e 1610).
 
Conteúdo e extensão do testamento
Pelo artigo 1857 do Código, toda pessoa pode dispor, no todo ou em parte, de seus bens para depois de sua morte. Dispor em parte, ou simplesmente porque é a vontade do testador (no restante, não abrangido pelo testamento, voltam a incidir as regras da sucessão legítima), ou porque existem herdeiros necessários, caso em que o testador só poderá, por testamento, dispor da metade dos seus bens (artigos 1845 e 1846).
O § 1º do art. 1857 contém uma disposição curiosa: “A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento”. Não é bem isso. Se o testador determinar a deserdação de um herdeiro necessário (art.1961 e segs.), terá aludido à legítima dele. Mesmo fora desse caso extremo, o testador pode, por exemplo, pré-definir os bens que devem compor cada quinhão hereditário (art. 2014), pode impor cláusula restritiva, mediante justa causa, inclusive à legítima dos herdeiros necessários (art. 1848). Embora muito criticado pela doutrina, o preceito continua vigente. Em suma: não é que o testamento não possa se referir à legítima. O que o legislador quis dizer foi que, fora dos casos admitidos em lei, o testador não poderá afastar herdeiro necessário de sua legítima.
O § 2º do art. 1857 alude à validade de disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se refira. A leitura do artigo passa a primeira impressão de ser algo comum. Na realidade não é. Testamento é feito, primordialmente, para dispor de bens para depois da morte. Cláusulas de conteúdo não patrimonial, por isso, não são comuns, mas a lei apenas ressalva sua validade. Numa reflexão mais atenta, o reconhecimento de um filho vai além das óbvias consequências patrimoniais; a reabilitação do indigno, perdão que é, tem conteúdo moral (art. 1818); a nomeação de tutor, no sentido do art. 1729, parágrafo único, tem forte caráter subjetivo.
Capacidade para testar
Ainda o art. 1857 nos diz que “toda pessoa capaz” pode testar, o que nos remete, a princípio, às incapacidades dos artigos 3º e 4º do Código Civil. Mas algumas particularidades nos devem chamar a atenção, aqui. Logo adiante, o art. 1860 completa a ideia: “Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento”. A lei não exige interdição do incapaz, nos casos dos incisos II, III e IV do art. 4º do Código, porque o reconhecimento da incapacidade pode ser incidental. Devemos lembrar, também, da Lei 13.146/2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que excluiu do rol dos incapazes os enfermos e deficientes mentais. A princípio, portanto, estarão aptos a testar, porque incapazes não são, o que não impede ao juiz, em casos mais graves, de reconhecer absoluta falta de discernimento para o ato. A duplicação das expressões “incapaz” e “não ter discernimento” teve, pelo menos, o mérito de permitir essa flexibilização hermenêutica. Com relação aos menores, o testamento se admite a partir dos dezesseis anos (art.1860, parágrafo único), e para esse ato o menor terá absoluta autonomia, vez que nem poderá ser legalmente assistido.
O art. 1861, na sequência, contém regra de destacada importância: “A incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, nem o testamento do incapaz se valida com a superveniência da capacidade”. O exame da validade de um testamento, no tocante à capacidade do agente, focaliza-se no estado que ele tinha quando testou. É sempre o tempo da elaboração do testamento que prevalece. Não o estado que o testador tinha ao tempo da morte. Pode ser que o falecimento sobrevenha com o autor da herança preso a um leito de UTI, sem sequer poder externar vontade (art. 4º, III). No entanto, quando fez seu testamento, anos antes, estava em pleno exercício de suas faculdades mentais. O testamento, por essa perspectiva, será válido.
A questão do prazo para impugnar validade de testamento
 
O art. 1859 do Código Civil dispõe: “Extingue-se em cinco anos o direito de impugnar a validade do testamento, contado o prazo da data do seu registro”. O prazo é decadencial, já que se cuida de direito potestativo, com a particularidade de que aqui, no Direito das Sucessões, ele se aplicar tanto a nulidades quanto a anulabilidades. (Na Parte Geral,as declarações de nulidade são, um pouco controversamente, imprescritíveis). Atentem que o prazo não se inicia com a abertura da sucessão, porque muitas vezes o testamento, neste momento, nem é do conhecimento dos interessados, ainda. Nem se inicia de quando o testamento é elaborado porque, mesmo com relação ao público, pode ser que os interessados dele não tenham conhecimento. O registro, referido no artigo, é uma referência ao procedimento especial, regulado nos artigos 735 a 737 do Código de Processo Civil. Todo testamento, após a abertura da sucessão, deve ser apresentado ao Poder Judiciário, ocasião em que será registrado. A partir daí presume-se sua publicidade e estará em condições, então, de ser impugnado. O procedimento não se confunde, processualmente, com o inventário.
Alguns artigos adiante, o legislador, provavelmente por descuido, incluiu no Código Civil o art. 1909: “São anuláveis as disposições testamentárias inquinadas de erro, dolo ou coação”. Erro, dolo e coação são vícios de vontade, hipóteses de anulabilidade do negócio jurídico. O art. 1859, de caráter geral, já abrange tais casos. O parágrafo único deste art. 1909, cria um prazo diferente (4 anos), com um termo inicial também diferente. A doutrina aponta a duplicidade das regras e a inviabilidade desse segundo dispositivo, opinando, em geral, pela necessidade de sua revogação. Por enquanto ainda está vigente.
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA - SEGUNDA PARTE
 TIPOS DE TESTAMENTO
 TESTAMENTOS ORDINÁRIOS
O art. 1862 do Código Civil enumera as formas ordinárias de testar: o testamento público, o cerrado e o particular.
1.Testamento público (artigos 1864 a 1867). Elaborado por tabelião em escritura pública. Em sua versão final, deverá ser lido perante o testador e duas testemunhas. Se o testador for surdo, lerá para si o documento. Se for analfabeto, ou não puder assinar, uma das testemunhas o fará, a rogo, pelo testador. O testador cego só pode fazer o testamento público. Neste caso, será lido duas vezes. Ao final, tabelião, testador e testemunhas o assinam. Trata-se de testamento que gera maior segurança jurídica, porque o tabelião goza de fé pública.
 
2.Testamento cerrado (artigos 1868 a 1875). Redigido pelo próprio testador à mão (hológrafo), ou mecanicamente. Em ato formal é apresentado ao tabelião, perante duas testemunhas. O tabelião acrescentará, então, ao texto já escrito, o auto de aprovação que, ao seu final, é assinado por todos. A seguir, o texto testamentário com o respectivo auto de aprovação é lacrado e cosido e devolvido ao testador, que o manterá sob sua guarda. O que fica registrado no cartório é a notícia do ato, o auto de aprovação, mas não o texto do testamento em si. Se, no futuro, o testador, ou alguém com seu consentimento, abre, dilacera o testamento, ele se considera revogado (art. 1972). É necessário que, após a abertura da sucessão, seja apresentado intacto ao Poder Judiciário. Trata-se de testamento cujas disposições mantém maior grau de sigilo, por isso mesmo também chamado de secreto ou místico.
 
3.Testamento particular (artigos 1876 a 1880). Nesta modalidade, não há participação de tabelião. É feito integralmente na esfera privada. O testador o redige, à mão ou mecanicamente, o lê na presença de três testemunhas, e todos o assinam. Após a abertura da sucessão, tais testemunhas precisarão atestar a sua autenticidade perante o juízo em que for apresentado, admitindo-se, em circunstâncias especiais, a critério do juiz, que seja confirmado mesmo se apenas uma testemunha o certificar, ou mesmo sem testemunha, nas condições descritas nos artigos 1878 e 1879 do Código. O testamento particular pode até ser escrito em língua estrangeira, desde que as testemunhas a compreendam. Embora aparentemente mais simples, é o testamento mais suscetível de ter sua validade impugnada.
TESTAMENTOS ESPECIAIS
De acordo com o art. 1886 do Código, são testamentos especiais o marítimo, o aeronáutico e o militar. Sua utilização é muito rara, porque dizem respeito a circunstâncias por si excepcionais.
 
1.Testamento marítimo e aeronáutico (artigos 1888 a 1892). Vem regulados conjuntamente. No curso de uma viagem marítima ou aeronáutica o testador, temendo por sua vida, pode testar perante o comandante (ou pessoa por ele designada, na situação do art. 1889), e duas testemunhas. O testamento será registrado no diário de bordo e ficará sob a guarda do comandante que o entregará à autoridade administrativa do porto ou aeroporto, ao final da viagem. Se o testador não falece no curso da viagem, a lei lhe dá noventa dias, a partir do desembarque, para substituir o testamento que fez por algum testamento ordinário, sob pena de caducidade (art. 1891).
 
2.Testamento militar (artigos 1893 a 1896). Aqui estamos diante de militares, ou outra pessoa, a serviço das Forças Armadas, que estejam em campanha, em praça sitiada, ou com comunicações interrompidas e que, nessa situação de conflito, de risco, desejam fazer seu testamento, talvez porque feridos em combate. O testamento é feito perante o oficial presente naquela circunstância, ou o diretor do hospital onde o testador recebe tratamento, e duas testemunhas, ou três, se o testador não puder ou não souber assinar, situação em que uma delas assinará o testamento por ele “a rogo”. Se o testador for o oficial mais graduado, na circunstância, o testamento é feito por aquele que o substituiria. Da mesma forma que no testamento marítimo e aeronáutico, o testamento militar caduca se o testador, não falecendo naquela situação emergencial, nos noventa dias subsequentes não substitui o testamento feito por um testamento ordinário (art. 1895), embora a própria lei faça uma ressalva quanto a essa caducidade. Por fim, como uma subespécie do testamento militar, o art. 1896 prevê o chamado “testamento nuncupativo” em que o testador, envolvido na situação de combate poderia testar oralmente perante duas testemunhas que, na primeira oportunidade, transmitiriam a vontade oralmente manifestada perante a autoridade militar ou judiciária. Também aqui, tal testamento caduca se o testador não vem a falecer. De reparar que tais testemunhas são, a rigor, “núncios” (mensageiros de vontade alheia) e não apenas testemunhas.
NOTA SOBRE OS CODICILOS
Nos artigos 1881 a 1885, o Código Civil prevê a figura do codicilo, que significa como que uma miniatura de testamento, ou uma simplificação de testamento. É simplesmente um escrito particular, datado e assinado pelo autor da herança, sem quaisquer outras formalidades, no qual ele faz disposições sobre seu sepultamento, pequenas doações e destinação de móveis de sua casa ou objetos pessoais. O que caracteriza o codicilo é a pequena significação econômica de suas disposições, em comparação ao patrimônio que o autor da herança tenha deixado. Codicilo não serve para fazer as vezes de testamento, fazer uma ampla disposição patrimonial. Por isso mesmo, não tem poder de revogar ou modificar testamento anterior. Um testamento posterior pode revogar um codicilo, mas o contrário não. Em uma particular situação, um codicilo pode interferir no conteúdo de um testamento, quando através dele se nomeia ou substitui testamenteiro (art. 1883).
DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS
Os artigos 1897 a 1911 do Código Civil, compõe o capítulo denominado “Das disposições testamentárias”. Além de algumas regras hermenêuticas de fácil compreensão, nos traz uma classificação de tipos de disposições testamentárias e uma enumeração de situações de nulidade. Pelo artigo 1897 se vê que a nomeação de herdeiro ou legatário pode ser: a) pura e simples, b) sob condição, c) para certo fim ou modo, e d) por certo motivo. Nomeação pura e simples é a desprovida de elementos acidentais e sequer precisa ser motivada: deixo ¼ dos meus bens para beltrano, deixo a casa da rua X para beltrano. Só isso. Nomeação condicional é a que sujeita a eficácia da disposição a um evento futuro e incerto, uma condição suspensiva ou resolutiva, nos termos dos artigos 121 e seguintes do Código. Deixo ¼ dos meus bens a beltrano se ele se formarem direito (suspensiva). Deixo ¼ dos meus bens a beltrano, até que meu filho caçula tenha filhos (resolutiva). Parte da doutrina critica a admissibilidade da condição resolutiva nos testamentos porque, conforme sua natureza, muito se aproxima da ideia de termo, não admitida nas heranças testamentárias (com exceção da substituição fideicomissária). O terceiro tipo de disposição testamentária (para certo fim ou modo) refere-se a disposições nas quais se impõe um encargo ao beneficiário, em caso de aceitação. Deixo a beltrano ¼ dos meus bens (herança), ou deixo a beltrano a casa da rua x (legado), com a obrigação, em caso de aceitação, de cuidar do meu cachorro depois do meu falecimento, ou fazer uma doação em dinheiro a certa instituição de caridade. O encargo não ofende a característica da gratuidade do testamento porque não se confunde com preço. Tenha-se em mente, a propósito, a compreensão do art. 136 do Código. Por fim, a disposição testamentária pode ser “por certo motivo”. No rigor conceitual, testamento, liberalidade que é, não exige motivação, de modo que sua existência será, a princípio, irrelevante. No entanto, se o motivo expresso for a razão determinante da liberalidade, eventual erro quanto ao motivo tornará a disposição anulável (art. 140).
Herança não admite termo, salvo na substituição fideicomissária (art. 1898). Legado, ao contrário, admite termo. A herdeiros, inclusive testamentários, aplica-se o princípio da saisine, de modo que o testamento não pode criar termo diferido de aquisição. Nem termo final da propriedade do herdeiro, salvo na substituição fideicomissária. Trata-se da possibilidade de instituir uma transmissão sucessiva da propriedade para dois titulares. O testador (fideicomitente) atribui certa herança a um herdeiro (fiduciário) que, depois de certo tempo, transmitirá tais bens a um segundo titular (fideicomissário). O mecanismo vem regulado nos artigos 1951 a 1960 do Código. A doutrina critica a manutenção do instituto, pelo legislador, pois está em absoluto desuso, por sua complexidade e insegurança. Nestes dispositivos, prevê-se a substituição tanto na herança quanto no legado, tanto a termo quanto por condição resolutiva. O fiduciário terá uma propriedade resolúvel (art. 1359). A utilização de tal possibilidade é ainda mais restrita quando se lê, no art. 1952, que o fideicomissário não pode sequer ser concebido ao tempo da abertura da sucessão. Se já o for, o direito do fiduciário converte-se em usufruto sobre aqueles bens. Não obstante essa proximidade, atentem que há uma distinção clássica entre fideicomisso e usufruto. No fideicomisso criam-se dois titulares sucessivos; no usufruto, dois titulares concomitantes: o nu proprietário e o usufrutuário.
Na sequência, o art. 1899 do Código consagra, no direito das sucessões, uma regra geral de interpretação dos testamentos: “Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador”. Mesmo diante de uma redação precária, ou confusa, deve-se priorizar o que o testador efetivamente quis dizer, qual foi a sua verdadeira intenção. Trata-se de aplicação, ao direito das sucessões, de um princípio hermenêutico incidente nos negócios jurídicos em geral, consagrado no art. 112 do Código: “Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem”.
O art. 1900 do Código contém uma enumeração, não exaustiva, de casos de nulidade de disposição testamentária. No inciso I refere-se à chamada condição captatória. Trata-se de uma modalidade específica de condição suspensiva que, no direito das sucessões, é inválida. Sujeita-se a eficácia da disposição a que o herdeiro nomeado faça, também por testamento, disposições em favor do testador, ou de pessoa por ele designada. Por exemplo: deixo a beltrano ¼ dos meus bens desde que ele faça testamento deixando seu patrimônio para meus filhos. É uma forma camuflada de exigir contraprestação pela disposição testamentária e, aqui sim, ofende a característica da gratuidade ínsita ao testamento. Quando o art. 1863 alude a testamento correspectivo, como uma das modalidades do conjuntivo (que por qualquer modo é nulo), refere-se ao mesmo tipo de condição.
O inciso II do art. 1900 dispõe que é nula a disposição em favor de pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar. Seria uma cláusula inválida, mesmo que a lei expressamente não o dissesse, porque não tem como ser cumprida. Essa situação, no entanto, precisa ser compreendida com a ressalva feita no art. 1903. Na parte que interessa, o erro na designação da pessoa não invalida a disposição se, pelo contexto do testamento (por ex. aquela motivação que nem precisava existir), por outros documentos ou por fatos inequívocos, se puder identificar a pessoa a quem o testador se referia. De modo semelhante, o inciso III do art. 1900 estabelece que é nula a disposição que favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a terceiro. A lógica por trás da regra está em que a prerrogativa de dispor dos bens para depois da morte é indelegável; como vimos, o testamento sequer admite representação. Aqui, também, faz uma flexibilização. O art. 1901, inciso I, ressalva a validade da disposição, nestes casos, desde que o testador se refira a uma família, a um corpo coletivo ou estabelecimento, em cujo âmbito, então, um terceiro por ele designado, determinará exatamente os indivíduos. O inciso IV do art. 1900, a seguir, declara nula a disposição testamentária que deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado. A justificativa é a mesma do item anterior. O Código faz uma referência implícita a legados de dinheiro. É o testador, em seu testamento, que tem de definir o valor, não alguém por ele. Neste caso, todavia, o legislador estabeleceu uma exceção, que vemos no art. 1901, inciso II: se se cuidar de um legado “remuneratório” de serviços prestados ao testador, por ocasião da moléstia de que faleceu, o valor pode ser definido por algum dos herdeiros ou por terceiro. Parece ser uma referência aos médicos e enfermeiros que prestaram assistência ao testador, em sua enfermidade fatal, mas pode ser também uma alusão a empregados domésticos. Por fim, o inciso V do art. 1900 apenas reforça que é nula a disposição em favor de pessoas não legitimadas a suceder. Como consta literalmente do inciso, é uma referência às situações mencionadas nos artigos 1801 e 1802: pessoas que participam da elaboração do testamento (e seus familiares próximos) e o cúmplice de adultério (e respectivos familiares próximos), não podem ser nele contemplados.
A maior parte dos artigos restantes deste capítulo, compõe-se de regras interpretativas de fácil compreensão: como se interpretam disposições em favor dos pobres, se não houver especificação (art. 1902); se se nomearem vários herdeiros, sem especificar o quinhão de cada um (art.1904); se houver nomeação de indivíduos e grupos (art.1905); a aplicação subsidiária das regras da sucessão legítima, se o testamento for parcial (art. 1906); se alguns quinhões forem determinados e outros não (divide-se paritariamente os quinhões não determinados, art.1907); a exclusão de certo bem da porção disponível, significa que ele deve caber a um dos herdeiros legítimos (art. 1908); e a aplicação do princípio da acessoriedade nas disposições testamentárias: se é ineficaz (ou inválida) uma disposição principal, as disposições que lhe sejam acessórias seguem a mesma sorte (art. 1910). Dois artigos, por fim, merecem uma última nota: o art. 1909 é aquele que cria um absurdo prazo de quatro anos para anular disposição viciada por erro, dolo ou coação. A regra é absurda porque contradiz a regra geral e abrangente do art. 1859, como já estudamos. O art. 1911 alude às cláusulas restritivas de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade. A primeira delas abrange sempre as outras duas, que tem extensão menor. A existência de tais restrições é tradicionalmente admitidana sucessão testamentária, quanto à porção disponível do patrimônio. A doutrina critica a possibilidade de imposição de tais restrições à legítima dos herdeiros necessários, como o art. 1848 excepcionalmente admite. Matéria da qual também já nos ocupamos.
LEGADOS
Os legados estão regulados nos artigos 1912 a 1940 do Código Civil. São um especial desdobramento da sucessão testamentária, porque envolvem, sempre, sucessão a título singular, sobre coisa certa, determinada ou determinável. O Código padece de uma melhor sistematização na abordagem do tema, o que torna necessário recorrer à doutrina para sua compreensão.
Exemplo-padrão de legado é um testamento dispor: “Deixo a beltrano a casa da rua X.” Neste cenário deve-se compreender o art. 1923: “Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa certa, existente no acervo, salvo se o legado estiver sob condição suspensiva. § 1º - Não se defere de imediato a posse da coisa legada, nem nela pode o legatário entrar por autoridade própria”. Reparem, aí, que existe uma aplicação atípica, diferenciada, do princípio da saisine no universo dos legados. Se for legado de coisa certa, a transmissão ocorre no momento da abertura da sucessão; se for legado de coisa determinada pelo gênero, ou outra espécie, a transmissão não se dá nesse momento. Mesmo se for legado de coisa certa, se houver condição suspensiva, a transmissão não ocorre de imediato. Exemplo: “Deixo a beltrano a casa da rua X, se ele concluir o curso de direito”. E de todo modo, o legatário não tem, desde logo, direito à posse da coisa legada, significando dizer, os legados precisam ser cumpridos depois da abertura da sucessão. A coisa precisa ser formalmente entregue ao legatário (pagamento dos legados). O § 2º do art. 1923 apenas acrescenta que, no legado de coisa certa, pertencem ao legatário os frutos da coisa legada, desde a abertura da sucessão.
Os legados precisam ser cumpridos (pagos), depois da abertura da sucessão. A coisa, objeto do legado, precisa ser formalmente entregue ao legatário, pelas pessoas e no prazo determinados pelo testador. A isso se refere o art.1934 do Código. Na falta de especificação do testamento, o cumprimento cabe a todos os sucessores, e onera igualmente a todos, porque haverá diminuição proporcional da parte de cada um. Esse dispositivo alude a que o cumprimento dos legados cabe aos herdeiros ou legatários (?). Entenda-se: o testamento pode atribuir vários bens específicos a legatários “principais”, com a obrigação de repassarem algum desses bens a “legatários finais”, daí a possibilidade, aparentemente meio esquisita, prevista no artigo. Atentem que legado é ato de disposição testamentária, de modo que o bem a ser entregue sai sempre da porção disponível da herança. Mesmo que herdeiros necessários sejam incumbidos do seu cumprimento, isso não poderia gerar uma desigualdade dos seus quinhões que, por exemplo, em relação aos filhos, devem ser iguais, nos termos do que dispõe o art. 1829 e seguintes do Código.
Essa dinâmica é complementada pelo artigo 1924: “O direito de pedir o legado não se exercerá, enquanto se litigue sobre a validade do testamento, e, nos legados condicionais, ou a prazo, enquanto esteja pendente a condição, ou o prazo não se vença”. Os herdeiros indicados pelo testador devem cumprir os legados instituídos no testamento. Deverão fazê-lo no prazo estipulado pelo testador. Por exemplo: “A casa da rua X deve ser entregue ao Beltrano no prazo de até um ano após a minha morte”. Enquanto o prazo não se vence, não há como exigir o seu cumprimento. Do mesmo modo, se existir condição suspensiva, enquanto ela não ocorre não há como exigir o cumprimento. A pendência da condição suspende a eficácia da disposição. Pela mesma razão, se está em curso demanda impugnando a validade do testamento, o cumprimento de suas disposições não pode, desde logo, ser exigido. Se, afastadas tais ressalvas, mesmo assim o legado não for cumprido, o legatário tem pretensão contra os sucessores incumbidos do cumprimento. Jamais será ação de petição de herança. Ou bem é ação reivindicatória (coisa certa), ou bem é ação de cobrança (legado de dinheiro), ou bem ação para entrega de coisa certa (art.498 do Código de processo Civil), tudo a depender das particularidades da situação concreta.
Compreendido esse funcionamento básico sobre os legados, passamos a analisar as espécies de legado e o objeto do legado. Com relação às espécies, a doutrina em geral se refere a quatro situações: 1.Legado puro e simples (o exemplo-padrão, mencionado acima); 2.Legado sob condição ou termo (legado admite condição suspensiva ou resolutiva, e termo, inicial ou final. Lembrem que herança não admite termo, salvo a substituição fideicomissária. Vide, artigos 1897 e 1898 do Código); 3.Legado modal ou com encargo (em relação aos quais o art. 1938 manda aplicar as regras de doação de igual natureza, sobretudo os artigos 553, 555 e 562); e 4.Legado alternativo (previsto no art. 1940, que destaca, nessa situação, a questão do perecimento dos bens, e que é complementado pelo art. 1932 no qual se presume deixado ao herdeiro, encarregado do cumprimento, a opção).
Relativamente ao objeto do legado, a matéria pode ser sistematizada em sete tópicos distintos:
1.Legado de coisa certa. Bens imóveis ou móveis infungíveis. O bem tem que pertencer ao testador no momento da abertura da sucessão, sob pena de caducidade. A este legado se referem os artigos 1912, 1914 e 1916 do Código.
2.Legado de coisa incerta. Bens determinados pelo gênero, como gado, soja, dinheiro, ações. Neste tipo de legado, ele deverá ser cumprido mesmo que a coisa não exista no acervo ao tempo da abertura da sucessão, art. 1915 do Código. Os artigos 1929, 1930 e 1931, esmiúçam o modo de cumprimento se for possível distinguir, entre bens congêneres, os de melhor e pior qualidade.
3.Legado de coisa alheia. Nos termos do art. 1913, o testador pode ordenar que um herdeiro ou legatário entregue coisa de sua propriedade a outrem (em outras palavras o legatário final instituído pelo testamento). Caso não haja cumprimento da determinação, entende-se que aquele sucessor renunciou ao benefício patrimonial que tinha naquela sucessão. É a única situação em que a lei admite renúncia tácita à herança (exceção ao art. 1806). Entenda-se: ordenar em testamento que um sucessor entregue coisa dele a terceiro, só faz sentido se esse sucessor tiver benefício econômico maior, na sucessão, do que o valor do bem que está sendo instado a entregar.
4.Legado de crédito, quitação de dívida, ou compensação de dívida. Estas situações estão contempladas nos artigos 1918 e 1919 do Código. Se o testador tem, em seu patrimônio, um direito de crédito representado por um título, pode em testamento transferir o direito ao legatário. Cumpre-se o legado, entregando o título. Se o testador perdoa uma dívida, trata-se de remissão. O devedor perdoado é, tecnicamente, legatário. Se, ao contrário, o testador é devedor e, expressamente, oferece em testamento um bem ao credor como pagamento da dívida, trata-se de proposta de dação em pagamento. O credor, neste caso, é legatário. Se aceita o bem, quita a dívida. Se não aceita o bem, continua credor contra o espólio.
5.Legado de alimentos ou renda periódica. O testador pode incumbir seus herdeiros (alguns ou todos) de pagar certa renda periódica a alguém (o legatário). Essa renda pode, ou não, ter natureza alimentar. Tal obrigação, imposta a herdeiro, precisa caber nos frutos e rendimentos proporcionados pelo quinhão que ele recebe, sob pena de o pagamento da renda consumir a substância do quinhão, não podendo mais, este herdeiro, ser compelido a efetuar tais pagamentos depois disso. É a lógica do art. 1792. Este tipo de legado está regulado nos artigos 1920, 1926, 1927 e 1928 do Código. Os problemas gerados em seu cumprimento, desaconselham sua utilização.
6.Legado de usufruto. É possível que, em testamento, o autor da herança desmembre a propriedade de certo bem seu, atribuindo a nua propriedade a seus herdeiros e o usufruto detal bem a um legatário, que será o usufrutuário. O art. 1921 prevê a situação. Se não houver definição de prazo para esse usufruto, entende-se que foi constituído por toda a vida do usufrutuário. Falecendo este, consolida-se a propriedade nas mãos dos nu-proprietários. No usufruto instituído por testamento, se for simultâneo e conjunto, o direito de acrescer entre os co-usufrutuários é automático, nos termos do art. 1946.
7.Legado de imóveis acrescidos. O art. 1922 refere-se à particular situação de quando, depois de legado um imóvel, o testador adquire os que lhe são contíguos. Salvo se expressamente dispor em contrário, o legado do imóvel original não se estende aos acrescidos. A lógica é cartesiana, até mesmo porque os atos benéficos interpretam-se estritamente (art. 114). O raciocínio é diferente quanto às benfeitorias (parágrafo único) e às acessões (art.1937), porque os acessórios acompanham o destino do bem principal.
 
 
No estudo dos legados, cabe tecer algumas considerações sobre o art. 1939 do Código, que trata da caducidade dos legados. Destaque-se, inicialmente, a distinção entre caducidade e invalidade. Caducidade é a impossibilidade de cumprir disposição testamentária em razão de fato superveniente à sua elaboração. A disposição é intrinsecamente válida, mas não tem como ser cumprida. Invalidade diz respeito a um defeito originário do testamento. Ele é celebrado em desacordo com algum requisito legal.
Atentem para as hipóteses referidas nos incisos I, II e III, do dispositivo: a modificação substancial da coisa legada, a ponto de não ter a forma nem a denominação que possuía; a alienação total ou parcial da coisa; o perecimento ou a evicção (art. 447), sem culpa do sucessor incumbido de cumprir o legado, são casos de caducidade que se aplicam somente aos legados de coisa certa. Já os incisos IV e V, a exclusão do legatário por indignidade ou o seu falecimento, antes do testador, são casos de caducidade de qualquer legado. Atente-se, quanto ao último inciso, na sucessão testamentária não se aplica o direito de representação.
TESTAMENTO. DIREITO DE ACRESCER. SUBSTITUIÇÕES. REDUÇÃO.
Após a análise dos legados (artigos 1912 a 1940), cabe analisar alguns desdobramentos importantes no âmbito da sucessão testamentária: o direito de acrescer entre herdeiros e legatários, as substituições testamentárias e a redução das disposições testamentárias.
Direito de acrescer entre herdeiros e legatários
O direito de acrescer entre herdeiros e legatários está regulado nos artigos 1941 a 1946 do Código, e ocorre quando, havendo conjunção em disposição testamentária (nomeação de vários herdeiros conjuntos, ou vários legatários conjuntos, sem especificação da parte de cada um), um deles não quer, ou não pode receber a sua parte. A parte vaga acrescerá aos demais. Essa definição decorre dos artigos 1941 e 1942, lembrando que este último artigo equipara a legado conjunto o legado cujo objeto não puder ser dividido entre os colegatários sem risco de desvalorização.
E quais são as situações em que um coerdeiro ou colegatário conjunto não pode ou não quer receber a sua parte? A resposta está no art. 1943: morte antes do testador, renúncia, exclusão por indignidade ou condição suspensiva não verificada. O artigo seguinte, 1944, focaliza a situação em que não houver conjunção. Neste caso, o quinhão vago de um herdeiro testamentário volta para os herdeiros legítimos (aplicação subsidiária do regime da sucessão legítima). Nos legados, não havendo conjunção entre vários legatários, a parte vaga de um deles, volta ao sucessor a quem se incumbiu de cumprir o legado ou, se esta incumbência couber a todos, retornará proporcionalmente a todos. Vejam a relação, aqui, com o art. 1934.
De acordo com o artigo 1945, quando, nas disposições conjuntas, há uma parte vaga que se acresce aos demais coerdeiros ou colegatários, estes sucessores não podem repudiar o acréscimo e aceitar somente a porção original que lhes assiste. É um desdobramento da característica da indivisibilidade da aceitação e da renúncia da herança (art. 1808, caput). Mas há uma ressalva: se à parte que ficou vaga tiverem sido impostos encargos especiais, é possível repudiar o acréscimo. Por exemplo: apenas a um dos coerdeiros conjuntos se impôs o encargo de fazer doações em dinheiro a uma entidade assistencial, e justamente a parte desse herdeiro ficou vaga. Se os demais coerdeiros repudiarem o acréscimo, ele reverterá para a pessoa a favor de quem os encargos foram instituídos, ou seja, no exemplo, a entidade assistencial.
O art. 1946 trata do legado de usufruto a mais de um usufrutuário (usufruto simultâneo). Se houver conjunção, a parte do usufrutuário que faltar, acresce aos demais. Por exemplo: deixo o usufruto da casa para A e B. Falecendo A, o usufruto inteiro da casa subsiste em favor de B. Se não houver, tecnicamente, conjunção, a parte do co-usufrutuário que faltar consolida-se nos nu-proprietários (pois nesta parte o usufruto se extingue). É péssima a redação do parágrafo único, nessa parte: “...se, apesar de conjuntos, só lhes foi legada certa parte do usufruto...” então deixa de haver conjunção em sentido técnico...
Toda essa lógica do direito de acrescer, nas disposições conjuntas, é supletiva. Não é aplicada se o testador tiver nomeado substitutos, para o caso de um dos coerdeiros ou colegatários não quiser ou não puder ficar com a sua parte. Repare-se na expressão dos artigos 1941 e 1943: “...salvo o direito do substituto...”
Substituições testamentárias
Os artigos 1947 a 1960 do Código preveem a possibilidade de o testador nomear substitutos para o caso de um dos sucessores inicialmente nomeados não puder ou não quiser aceitar a deixa. Os casos são os mesmos elencados no art. 1943. Reparem que, aqui, não se está pressupondo disposição conjunta. Em qualquer disposição testamentária, conjunta ou não, pode haver substituição. De atentar, ainda, para a expressão do art. 1947: “...presumindo-se que a substituição foi determinada para as duas alternativas, ainda que o testador só a uma se refira”. As duas alternativas são: não poder e não querer. Se o sucessor morre antes do testador, ele não pode aceitar; se ele renuncia, ele não quer aceitar; se ele é excluído, não pode aceitar, se a condição suspensiva não se verifica, ou não pode, se a condição for causal, ou não quer, se for simplesmente potestativa.
A substituição testamentária classifica-se em direta e indireta. A substituição direta subdivide-se em a) vulgar (ou simples): Ex. se A não quiser/puder, fica para X; ou se, nomeados A, B e C, qualquer deles não quiser/puder, fica para X. 
b) recíproca: se, nomeados A, B e C (com ou sem conjunção), algum deles não quiser/puder, fica para os demais. O art. 1948, depois de aludir à substituição de um sucessor por vários substitutos, ou o contrário, menciona a reciprocidade.
A substituição indireta é a fideicomissária, regulada nos artigos 1951 a 1960. Trata-se da única situação em que herança admite termo. O fideicomitente (testador) deixa quinhão ao fiduciário (1º herdeiro), cuja propriedade é resolúvel (sujeita a condição resolutiva ou termo). Advindo estas, resolve-se a propriedade em favor do fideicomissário (2º herdeiro), titular definitivo. De acordo com o art. 1952, o fideicomissário não pode sequer ser concebido ao tempo da abertura da sucessão. Se já tiver nascido, será desde logo proprietário do quinhão, passando a ser o fiduciário usufrutuário dos bens. Há distinção clássica entre fideicomisso e usufruto: no fideicomisso existe nomeação de titulares sucessivos, enquanto que, no usufruto, por desmembramento das faculdades inerentes ao domínio, criação de titulares concomitantes. O fideicomisso só se admite até o segundo grau (art. 1960). O instituto é anacrônico, em franco desuso. O legislador deveria tê-lo extinto, ao aprovar o Código.
O art. 1949 estipula que o substituto fica sujeito à condição ou ao encargo imposto ao substituído, salvo se for de natureza personalíssima, ou o testador manifestar-se em sentido contrário. A condiçãode formar-se em Direito, ou o encargo (para um artista famoso) de fazer um show beneficente, são exemplos de elementos acidentais personalíssimos.
Por sua vez, o art. 1950 versa sobre a substituição testamentária em caso de quinhões desiguais. Na primeira parte, refere-se à substituição recíproca: se o testador deixa para A, 70%; para B, 20%; e para C, 10%; e A não puder ou não quiser, seus 70% deverão ser divididos entre B e C, mas deve-se manter a proporção: para B, 46,66% e para C, 23,33%. A segunda parte do artigo prevê situação em que se mistura a substituição recíproca e a vulgar. No mesmo exemplo acima (A = 70%, B = 20%, C = 10%), se substitutos são os três, reciprocamente, e ainda X, não constante dos originariamente nomeados, e A não pode ou não quer receber, seus 70% deverão ser distribuídos igualmente: B = 23,33%, C = 23,33%, e X = 23,33%.
 
Deserdação
Os artigos 1961 a 1965 tratam da deserdação, pela qual o testador, em testamento, com expressa alusão à causa, afasta herdeiro necessário da sua sucessão. É a única situação em que a lei admite, em hipóteses taxativas, afastar a incidência da sucessão legítima em benefício de herdeiro necessário. Não obstante a previsão testamentária, a deserdação, por sua gravidade, deve ser objeto de ação própria. A matéria já foi analisada quando estudamos a indignidade (artigos 1814 a 1818).
Redução das disposições testamentárias
Redução das disposições testamentárias é um mecanismo pelo qual se adaptam disposições de um testamento, que excedem os limites permitidos em lei quanto ao que o testador poderia dispor (existência de herdeiros necessários – art. 1846). São as chamadas disposições inoficiosas. Reparem que não é caso de invalidade. O âmbito ou alcance das disposições é reduzido, para que se encaixem nos parâmetros definidos em lei. A questão está contemplada nos artigos 1966 a 1968 do Código Civil. O art. 1966 apenas confirma que, se o testador apenas em parte dispõe da quota disponível, quanto ao restante voltam a incidir as regras da sucessão legítima.
Quanto à redução da parte excedente, a melhor forma de visualizá-la é imaginar a clássica balança de dois pratos. Se o prato da porção disponível, a que o testador se referiu, está mais pesado do que o prato da legítima, deve-se deslocar valores econômicos do prato mais pesado para o mais leve, até o montante em que se equilibrem ambos. O § 1º do art. 1967, então, determina que se reduzam primeiro as heranças testamentárias e, depois, os legados. Pode o testador, existindo vários quinhões e vários legados, determinar que se preservem um ou alguns deles, procedendo-se à redução nos demais (§ 2º). Se nada dispuser, a redução será feita paritariamente, primeiro em todas as heranças, depois, havendo necessidade, em todos os legados.
O art. 1968 trata, especificamente, da redução de legado de imóvel. Se o bem é divisível, reduz-se o legado pelo recorte do excesso. Se o bem é indivisível, a lei estabelece um critério matemático: a) se o excesso for de mais de um quarto (25%) do valor do prédio, o bem fica na herança e o legatário recebe em dinheiro aquilo que poderia receber; b) se o excesso for de menos de um quarto (25%) do valor do prédio, o bem é entregue por inteiro ao legatário, que deve devolver ao espólio o valor do excesso em dinheiro. O § 2º do art. 1968, por fim, contém uma regra acessória interessante: se o legatário é também herdeiro necessário (sucessor que concorre na sucessão com dois títulos distintos), o eventual excesso do legado poderá ser contabilizado no quinhão a que tem direito na porção legítima.
 SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA – ÚLTIMA PARTE
 Revogação de testamento
O testamento, como já visto a propósito do art. 1858, parte final, é um negócio jurídico revogável. A qualquer tempo o testador, mudando de ideia quanto ao testamento que fez, pode revogá-lo por meio de outro. O tema vem tratado nos artigos 1969 a 1972 do Código Civil. Não há hierarquia entre os diferentes tipos de testamento, então, pouco importa de qual modalidade é o revogador, em face do revogado. Atente-se, no entanto, para o prazo de caducidade dos especiais para o caso de o testador não falecer na viagem ou no conflito armado; e também para o detalhe de um simples codicilo não poder revogar testamento anterior. O codicilo é hierarquicamente inferior ao testamento.
A revogação pode ser total ou parcial; pode ser expressa ou tácita (o segundo contém disposições incompatíveis com o primeiro). Para evitarem-se os problemas e discussões advindas da coexistência de mais de um testamento, a experiência demonstra que aquele feito por último expressamente revogue os anteriores, nem que, em parte, repita suas disposições. A coexistência de testamentos é possível, mas não é viável. No caso do testamento cerrado, que é aquele lacrado e cosido pelo tabelião que lavra o auto de aprovação, se ele for aberto ou dilacerado pelo testador, ou com seu consentimento, ele é considerado revogado (art. 1972). A doutrina registra que a mesma lógica deveria ser aplicada ao particular.
O aspecto mais importante, neste item, diz respeito ao art. 1971. Ele trata da subsistência, ou não, do efeito revocatório de um testamento nos casos de caducidade e invalidade dele. Necessário ter em mente, aqui, a distinção entre caducidade e invalidade. A invalidade de um testamento abrange qualquer caso de nulidade ou anulabilidade, ainda que o art. 1971 só se refira a “infração de solenidades essenciais e vícios intrínsecos”. Caducidade ocorre quando um testamento é intrinsecamente válido, mas suas disposições não têm como ser cumpridas em razão de um fato superveniente à sua celebração. Se o testamento revocatório for caduco, justamente por ser intrinsecamente válido, o efeito revocatório subsiste. O anterior, revogado, deixa de valer. Se o testamento revocatório for inválido, o seu efeito revogador de um testamento anterior não subsiste. O anterior continua valendo. O art. 1971 ilustra, como situações de caducidade, a exclusão por indignidade (do sucessor nele nomeado); de incapacidade deste sucessor (que deve ser compreendido como falta de legitimidade para suceder, nos termos dos artigos 1798 e 1799, I do Código (o sucessor falece antes do testador, ou a prole eventual beneficiada no testamento não vem a ser concebida, nos termos do art. 1800, §4º); e ainda a renúncia do sucessor nomeado. Em todas as situações, sem haver, no testamento, nomeação de substitutos. Poderia ainda se acrescentar, em tal enumeração, uma condição suspensiva não verificada.
A doutrina ainda registra, aqui, o detalhe do efeito repristinatório. Existindo três testamentos sucessivos de um mesmo testador, é possível ao terceiro, revogando o segundo, restaurar o primeiro? A compreensão majoritária entende que é possível, desde que haja referência expressa à esta restauração do primeiro.
Rompimento do testamento
Trata-se de um conceito peculiar no direito das sucessões, apresentado nos artigos 1973 a 1975. A lei considera que, se alguém faz um testamento desconhecendo a existência de um herdeiro necessário, ou julgando-o já morto, e este herdeiro necessário se apresenta vivo, o testamento se rompe em todas as suas disposições. É uma hipótese de caducidade legal e uma presunção iuris et de iure. Atente-se para o sentido da expressão: “Sobrevindo descendente ao testador, que não o tinha, ou não o conhecia...” Existindo testamento sobre a parte disponível, tendo sido respeitada a legítima de descendentes já conhecidos, e sobrevindo mais um, isso deixa de ser rompimento de testamento (art.1975).
Testamenteiro
Os artigos 1976 a 1990 do Código Civil regulam a figura do testamenteiro. Trata-se da pessoa, em regra nomeada pelo testador (uma só, ou várias), para cumprir as disposições testamentárias e defendê-las. É um executor do testamento. Por aí já se vê que não se confunde com a figura do inventariante, cujas atribuições de administração dizem respeito a todo o acervo hereditário; mas nada impede que tais funções se reúnam na mesma pessoa. Na falta de nomeação, pelo testador, a definiçãocaberá ao juiz, que escolherá entre o cônjuge sobrevivente e um dos herdeiros (art. 1984). Quanto à natureza jurídica da figura, deve-se reconhecer que é atípica, ficando em um meio-termo entre o mandato e a representação legal. É uma função personalíssima e indelegável, salvo para atribuições específicas, por exemplo, a contratação de um advogado para certa demanda, ou de um administrador para um bem distante do lugar da sucessão. O início formal das funções do testamenteiro ocorre com a assinatura do termo de testamentaria (CPC, artigo 735, §§ 3º a 5º), em ato similar ao compromisso de inventariante, porque em ambas as atividades há dever legal de prestação de contas ao juiz por todos os atos praticados. Por fim, de acordo com o art. 1987, por suas atividades o testamenteiro poderá fazer jus a uma remuneração (prêmio) que, se não tiver sido fixada em testamento, será arbitrada pelo juiz entre 1 e 5% da herança líquida (daí o nome “vintena”). A princípio, não cabe tal remuneração se o testamenteiro é, também, herdeiro ou legatário, mas a lei lhe faculta, neste caso, optar pelo prêmio ao invés da herança ou do legado.
 
 INVENTÁRIO E PARTILHA – INTRODUÇÃO
O último Título que compõe o Livro do Direito das Sucessões, no Código Civil, versa sobre o inventário e a partilha, abrangendo os artigos 1991 a 2027. Nesta parte, a questão sucessória desloca-se substancialmente para o Código de Processo Civil. Acrescente-se a isso que, também aqui, a redação do Código Civil padece de algumas impropriedades e de uma melhor sistematização, o que já se constata no art. 1991, que alude à função do inventariante sem esclarecer de que tipo de partilha se cuida e, ainda, à homologação judicial da partilha, o que nem sempre é o caso. Já no artigo seguinte, trata de outro tema, os sonegados.
Diante da abertura da sucessão, abrem-se três caminhos possíveis: 
1. O processo tradicional de inventário (CPC, arts. 610 a 658), necessário quando há testamento (com a ressalva feita abaixo), herdeiro incapaz e/ou conflito entre os herdeiros; 
2. O arrolamento (CPC, arts. 659 a 667), procedimento judicial simplificado, onde herdeiros capazes apresentam ao juiz o negócio jurídico de partilha entre eles, que será simplesmente homologado pelo juiz; e 
3. A partilha administrativa, introduzida em nosso ordenamento jurídico pela Lei 11.441/2007 e regulamentada pela Resolução 35/2007/CNJ, pela qual, não havendo testamento nem conflito entre os herdeiros, todos eles, capazes, celebram escritura pública de partilha em cartório, que não precisa ser levada à homologação judicial. 
Neste caso, todos os bens precisam estar situados dentro do território nacional.
Observe-se que há jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (REsp. 1.808.767, j. em 17/10/2019, Rel. Min. Luís Felipe Salomão), admitindo partilha por escritura pública, entre herdeiros capazes, mesmo existindo testamento, mas não havendo conflito ou dúvida quanto ao seu cumprimento. A respeito do arrolamento, registre-se que tal procedimento simplificado poderá sempre ser adotado se o valor dos bens do espólio não for superior a mil salários mínimos (art. 664), e mesmo que haja interessado incapaz (art. 665), desde que haja concordância de todos e do Ministério Público. Não obstante tudo isso, havendo acordo entre herdeiros capazes, é desnecessária qualquer intervenção judicial, sendo mais prática a partilha administrativa.
Quanto ao inventário tradicional, em linhas gerais, há primeiramente a nomeação de inventariante. Após seu compromisso (assinatura de termo), presta as primeiras declarações, com descrição dos bens a serem inventariados e dos herdeiros. Segue-se, então, uma fase intermediária de eventuais impugnações, arguição de sonegados, colações, pagamento de dívidas (via habilitação dos credores) e avaliação dos bens. 
Ao final é realizado o esboço de partilha que, após manifestação de todos, é concluso ao juiz, para sentença. Proferida a sentença, expedem-se os respectivos formais de partilha. Destaque-se, aqui, que é a decisão judicial que partilha os bens e define os quinhões. Sentença de mérito, portanto.
A título de introdução desta parte da matéria cabem, ainda, três observações: 
1.O art. 1796 do Código Civil alude a um prazo de trinta dias, a partir da morte, para instaurar-se o inventário. Este dispositivo não subsiste, porque substituído pelo art. 611 do CPC, referindo-se a dois meses. De todo modo, a partilha é um direito de qualquer herdeiro (art. 2013). A qualquer tempo, mesmo tardiamente, pode e deve ser feito. Não se trata, portanto, de prazo decadencial ou prescricional. O único efeito prático de eventual partilha tardia, que é extremamente comum de acontecer, é eventual incidência de multa sobre o imposto de transmissão devido (No Paraná, a Lei 8927/88, que regula o ITCMD, a prevê no art. 18, embora há tempos não venha sendo cobrada). 
2.A prática forense construiu um procedimento aparentemente contraditório: o inventário negativo. Se, diante da morte de alguém não há bens e/ou direitos a inventariar, a rigor é desnecessária qualquer providência. Pode, no entanto, existir algum interesse indireto em obter do juiz, a homologação dessa inexistência de bens, para evitar, por exemplo, a causa suspensiva em um novo casamento do cônjuge supérstite (art. 1523), ou para os herdeiros se precaverem de futuras cobranças de dívidas do de cujus, na lógica do art. 1792. 
3.Existindo, em nome do falecido, apenas resíduos salariais, pequenos saldos bancários, ou saldos de FGTS, PIS/PASEP e similares, não superiores a 500 OTNs (índice inexistente, hoje, mas cujo valor seria algo entre quinze e vinte mil reais), o art. 666 do CPC prevê, com base na Lei 6858/80, o levantamento desses valores por simples alvará judicial, independente de escritura pública ou outro procedimento.
INVENTÁRIO E PARTILHA – PARTE FINAL
1.SONEGADOS
Nos artigos 1992 a 1996, o Código Civil regula a figura jurídica do sonegador. Trata-se, nos termos do art. 1992, da conduta dolosa do herdeiro e, eventualmente, do inventariante, que desvia, oculta, omite bens que deveriam ser trazidos ao inventário. A sanção civil para tal comportamento é a perda do direito sucessório (da participação que teria) na divisão daquele bem. Se se cuidar do inventariante, sujeitar-se-á (independente da perda na divisão do bem), à eventual remoção, nos termos do art. 622, VI, do Código de Processo Civil.
Essa sanção, a pena de sonegados, no entanto, exige ação própria. Não é matéria que possa ser resolvida como simples incidente de inventário judicial. Tal demanda prescreve em dez anos, a contar da sonegação, e a legitimidade ativa para promovê-la é de qualquer herdeiro, ou mesmo dos credores do espólio, por causa do interesse em que certo bem, omitido, venha ao inventário para fazer frente às dívidas do autor da herança. Neste caso, restituído o bem ao inventário, não fará sentido a pena de sonegados, porque o interesse dos credores é o de receber o pagamento e não a divisão do bem. Não mais existindo o bem, o sonegador torna-se devedor pelo equivalente perante o espólio e os demais herdeiros.
Por fim, o art. 1996 alude ao momento em que caracterizada a sonegação: só se pode acusar o inventariante de sonegação se, prestadas as primeiras declarações, ele categoricamente afirmar não existirem outros bens (daí a praxe de sempre se fazer a ressalva). Em relação ao herdeiro, somente haverá sonegação se, instado a apresentar certo bem, ele se recusa, ou nega sua existência. Se a sonegação for constatada após o término da partilha, o caso será de sobrepartilha em relação a este bem.
2.PAGAMENTO DE DÍVIDAS
Os artigos 1997 a 2001, na sequência, tratam do pagamento de dívidas. A ideia básica, como já visto, é que o espólio responde pelo pagamento das dívidas que o autor da herança deixou em aberto. Após a partilha (pouco importa o modo pelo qual se faça), cada herdeiro continuará responsável (até que sejam pagas ou prescreverem), mas só até o limite do quinhão que recebeu. A lógica do art. 1997 se encaixa no art. 1792, que trata

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