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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO- SUCESSÃO DOS COLATERAIS DE 2 GRAU SOBRE A ÓTICA DA CONSTITUIÇÃO DE 1988-RANISSON CARVALHO

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8
Sociedade de Ensino Universitário do Nordeste - SEUNE
Curso de Direito
Ranisson Bezerra de Carvalho
SUCESSÃO DOS COLATERAIS DE 2º GRAU:
IRMÃOS BILATERAIS E UNILATERAIS NA ÓTICA DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL DE 1988
Maceió
2016
Ranisson Bezerra de Carvalho
SUCESSÃO DOS COLATERAIS DE 2º GRAU:
IRMÃOS BILATERAIS E UNILATERAIS NA ÓTICA DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL DE 1988
Monografia apresentada à Sociedade de Ensino Universitário do Nordeste - SEUNE, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
Orientador: Prof. Me. Carlos Fernando de Barros Autran Gonçalves 
Maceió
2016
Ranisson Bezerra de Carvalho
SUCESSÃO DOS COLATERAIS DE 2º GRAU:
IRMÃOS BILATERAIS E UNILATERAIS NA OTÍCA DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL 1988
Monografia apresentada à Sociedade de Ensino Universitário do Nordeste - SEUNE, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
________________________________________________________
 Orientador: Prof. Me.Carlos Fernando de Barros Autran Gonçalves
________________________________________________________
 1º Examinador: 
________________________________________________________
 2º Examinador: 
Data da aprovação: ______/______/______
Dedico este trabalho aos meus pais,Maria Rozivalda e José Ronalson, às minhas irmãs, Renata e Vitória, à minha companheira e a todos os meus familiares, que sempre me apoiaram e me indicaram o caminho do conhecimento. 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço primeiramente a Deus, que me permitiu e deu forças para continuar na caminhada acadêmica, pois sem ele nada somos; essa é minha crença, que me permite assim pensar.
 A todas as pessoas que me apoiaram nesta caminhada, em especial a minha mãe, Maria Rozivalda, mulher doce e persistente, que me ensinou que o caminho do saber é o melhor para nosso crescimento pessoal; sempre com sua ternura e compreensão.
Ao meu pai, José Ronalson, homem que me ensinou a ser forte e nunca desistir do que se busca, sempre com fibra e cabeça erguida. A ajuda financeira do meu pai e da minha mãe é muito importante, mas não o mais, pois, para mim, fica registrado o apoio moral que vocês me deram e sua confiança em mim.
À minha companheira Andressa Souza, mulher que esteve junto comigo durante grande parte da formação no curso de Direito. 
E é claro que não poderia deixar de agradecer aos meus tios, Paulo Carvalho e sua esposa Noelma, que me acolheram em sua casa no início da minha jornada, momento no qual era um total desconhecido na capital alagoana; graças a eles, tive onde morar e companhia nos momentos que mais precisei.
A todas as pessoas que contribuíram de alguma forma para essa realização pessoal, inclusive deixo registrado o agradecimento à instituição SEUNE, que me proporcionou as devidas ferramentas para tanto.
Ao meu orientador, professor Carlos Autran, que me ajudou na realização da presente monografia.
 Deixo aqui registrado, com os mais sinceros sentimentos, o meu obrigado a todos vocês, saibam que cada um de vocês é responsável por esse momento. Muito obrigado!
RESUMO
Apresente monografia tem por finalidade abordar o tema referente à sucessão dos colaterais de segundo grau, qual sejam os irmãos, que, segundo o direito civil brasileiro, são divididos em unilaterais e bilaterais. Em decorrência dessa classificação, a distribuição de herança ocorre de forma diversa, visto que, havendo dois irmãos do de cujus, um bilateral e outro unilateral, o segundo receberá metade do que receberá o primeiro. O objetivo deste estudo foi observar se tais institutos estão em concordância com a Constituição Federal de 1988, que trouxe o princípio da igualdade de uma forma geral, em especial a igualdade de filiação, que proibi qualquer forma de discriminação direcionada aos filhos, seja por parte da sociedade, seja por parte do Estado. Por fim, busca demonstrar que se faz necessário estender o conteúdo desse princípio para os institutos ligados à sucessão dos irmãos bilaterais e unilaterais, e que qualquer forma de distribuição dos valores de percepção da herança do de cujus de maneira desigual deve ser considerada inconstitucional e,necessariamente,expurgada do ordenamento jurídico.
Palavras-chave: Inconstitucionalidade. Sucessão. Irmãos bilaterais e unilaterais.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	8
1 SUCESSÃO CAUSA MORTIS	10
1.1 Conceito	10
1.2 Evolução histórica	11
1.2.1 Princípio de saisine	15
1.2.2 Aspecto constitucional no Brasil	16
2 DIREITO SUCESSÓRIO NO CÓDIGO CIVIL DE 2002	20
2.1 Vocação hereditária	20
2.1.1 Herdeiro legítimo e herdeiro testamentário	22
2.1.2 Herdeiros necessários e herdeiros facultativos 	22
2.1.3 Sucessão dos colaterais	24
2.2 Classificação dos irmãos conforme o Código Civil de 2002	26
3 FILIAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO DE 1988	28
3.1 Conceito	28
3.2 Interpretação extensiva de filiação	29
3.3 Princípio da igualdade	32
3.4 Inconstitucionalidade na sucessão dos irmãos unilaterais e bilaterais	35
CONCLUSÃO	41
REFERÊNCIAS	45
INTRODUÇÃO
Com base em estudos realizados sobre a sucessão como um todo, nota-se que o atual Código Civil usa como base o código de 1916, principalmente no tocante ao direito sucessório, área do direito que avança a passos lentos, diferente do que ocorre com o direito de família, que, recentemente, apresentou considerável avanço no conceito de família para o ordenamento jurídico.
O presente trabalho foi elaborado seguindo a metodologia recomendada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas(ABNT), juntamente com o regulamento interno da SEUNE, através dos estudos doutrinários voltados mais especificamente para o ramo do direito sucessório, tendo como maior apreço a linha de pensamento da grande doutrinadora Maria Berenice Dias, além do direito de família, do direito constitucional, utilizando também a legislação civil, tanto o código de 1916 como o código civil de 2002, sem esquecer a Constituição de 1988, que serve de paradigma para todas as demais normas infraconstitucionais.
A realização e a motivação deste estudo nasceram dos questionamentos realizados em sala de aula, momento em queforam apresentados alguns institutos do direito sucessório que são questionáveis do ponto de vista constitucional, entre os quais está a sucessão dos colaterais de segundo grau, quais sejam, irmãos bilaterais e unilaterais.
A investigação partiu dos seguintes questionamentos: A forma de sucessão dos colaterais de segundo grau (irmãos) é realmente constitucional? É realmente justo que o irmão bilateral receba o dobro sobre o percentual da herança do irmão de cujus em prejuízo do irmão unilateral?
Ao longo da monografia são apresentados vários institutos para embasar as possíveis respostas a essa indagação, abrindo vistas às discussões sadias acerca do referido tema, fundamentando o nosso posicionamento sobre o referido tema.
A monografia é estruturada em três capítulos, além da introdução e da conclusão, abordados de modo a esclarecer alguns institutos, que se fazem necessários para um melhor entendimento do contexto da pesquisa.
No primeiro capítulo, intitulado Sucessão causa mortis, é apresentado o conceito de sucessão de modo geral, em especial a sucessão causa mortis. A mesma seção aborda a evolução do direito sucessório na história em seu sentido estrito, que se relaciona à sucessão causa mortis, bem como o princípio de saisine, de grande relevância no campo do direito sucessório. O primeiro capítulo é encerrado com o levantamento de alguns aspectos constitucionais no Brasil.
Passando adiante, o segundo capítulo, denominado Direito sucessório no Código Civil de 2002, destaca a atual vocação hereditária, apresentando ainda a diferença entre herdeiros legítimos e herdeiros testamentários, assim como os conceitos de herdeiros necessários e facultativos, chegando aos conceitos e institutos da sucessão dos colaterais.Fechando o segundo capítulo,o estudo traz a classificação dos irmãos de acordo com o Código Civil de 2002.
Já o terceiro capítulo desta monografia, intituladoAfiliação segundo a Constituição de 1988, volta-se para conceito de filiação, conforme a designação de Lôbo (2011).Em seguida,destaca a interpretação extensiva de filiação e o princípio da igualdade de tratamento,também conhecido como princípio da não diferenciação entre os filhos. Por último,o terceiro capítulo levanta uma discussão sobre a inconstitucionalidade na sucessão dos irmãos bilaterais e unilaterais. 
	
1SUCESSÃO CAUSA MORTIS
1.1 Conceito
O instituto sucessão, de modo geral, configura-se pela transferência de determinado bem ou direito de uma pessoa para outra - natural ou jurídica -, decorrente de alguma obrigação contratual, doação ou resultante de causa mortis.
No ramo do direito, há duas espécies de sucessão, como bem observado por Gonçalves (2013). A primeira,designada de inter vivos, define-se pela transferência de bem ou direito para um terceiro, como em uma compra e venda, quando o comprador assume a titularidade do bem, que anteriormente era do vendedor.
Do outro lado, temos a sucessão causa mortis, que, como evidencia o termo, é o ato pelo qual uma pessoa assume a titularidade de bens que pertenciam à outra pessoa. Decorre do evento morte do autor da herança, transmissão essa realizada de maneira automática para seus sucessores. Com isso, evita-se que os bens do de cujus fiquem sem dono, mesmo que temporariamente, mantendo regular o princípio da função social da propriedade - urbana ou rural. Essa transferência fundamenta-se no princípio de saisine, que, em verdade, é uma ficção científica para evitar o abandono da propriedade, resguardando o direito sucessório dos herdeiros.
Ainda com relação ao conceito de sucessão e os tipos sucessórios, Gonçalves (2013) esclarece que:
A palavra sucessão, em sentido amplo, significa o ato pelo qual uma pessoa assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens. Numa compra e venda, por exemplo, o comprador sucede ao vendedor, adquirindo todos os direitos que a este pertenciam. Na hipótese, ocorre a sucessão inter vivos. No direito das sucessões, entretanto, o vocábulo é empregado em sentido estrito, para designar tão somente a decorrente da morte de alguém, ou seja, a sucessão causa mortis. O referido ramo do direito disciplina a transmissão do patrimônio (o ativo e o passivo) do de cujus (ou autor da herança) a seus sucessores. Essa expressão latina é abreviatura da frase de cujus sucessione (ou hereditatis) agitur, que significa “aquele de cuja sucessão (ou herança) se trata” (GONÇALVES, 2013, p.13).
Portanto, sucessão pode se realizar inter vivos, como ocorre na compra e venda e na doação condicionada ou incondicionada a determinado fato, assim como se realiza derivada da causa mortis, quando todo o patrimônio do de cujus é transferido para seus herdeiros, sejam eles necessários ou testamentários, decorrente do resultado morte do autor da herança.
1.2 Evolução histórica
Quando se pensa em sucessão causa mortis, é importante conhecer a sua possível origem, assim como essa espécie de sucessão foi tratada nas diversas civilizações,tendo em vista que as formulações pelas quais passou exerceu influência na formação do direito sucessório nos moldes que conhecemos atualmente. Por isso, faz-se necessário conhecera história desse ramo do direito.
	O direito sucessório tem suas origens no momento em que o homem deixou de ser nômade, começou a acumular patrimônio e a constituir família, cada qual constituía a sua própria religião.Durante muitos anos, o patrimônio acumulado no decorrer da vida não era transmitido para familiares específicos, obedecendo-se a determinada ordem, mas para toda a sociedade familiar.
Dessa forma, Dias (2011) observa que:
O direito sucessório tem origem remota, desde que o homem deixou de ser nômade e começou a amealhar patrimônio. Os bens que antes eram comuns passaram a pertencer a quem deles se apropriou. A sociedade estruturou-se em famílias, fazendo surgir a propriedade privada. Cada núcleo familiar com seus bens e sua religião.[...] Por muitos séculos os direitos patrimoniais não se partilhavam, pertenciam à sociedade familiar (DIAS, 2011, p.27).
Na Roma antiga, como demonstra Dias (2011), o titular do patrimônio era o pater familiae, sendo o bem passado para outrem através de testamento pelo pai e chefe daquela família, devendo ser mantida sua vontade mesmo após a sua morte. No ramo de direito, esse titular passa a se chamar de cujus, ou seja, de quem a herança se trata. Nesse contexto histórico, a sucessão via testamento era a regra, enquanto a herança denominada atualmente como legítima era a exceção.
Apenas na falta de testamento era que se aplicaria esta forma. Portanto, o testamento era muito importante à época.O interesse maior nessa forma de suceder era de cunho religioso, visto que uma pessoa falecida que não deixava herdeiros teria, como consequência, seus cultos extintos, como preconiza Dias (2011):
Havia interesse mais de ordem religiosa do que patrimonial em proceder-se à transferência dos bens. A morte de alguém sem sucessor ensejava a extinção do culto domestico, trazendo infelicidades aos mortos. Daí a importância da figura do herdeiro para dar continuidade à religião. Como o conceito de família era extensivo, não havia limitações para herdar quanto aos graus de parentesco. Na ausência de herdeiros, a adoção era a forma de assegurar a perpetuação da família (DIAS, 2011, p.27, grifos do autor).
No período levantado por Dias (2011),havia a lei das XII Tábuas, que consistia na liberdade que o proprietário dos bens tinha de elaborar o testamento, elencando quais pessoas herdariam seus bens quando falecesse. Essa era a regra.Porém, se assim não o fizesse, seus bens seriam destinados a algumas classes de herdeiros existentes a época, como forma de herança legítima.
Assim, conforme Gonçalves (2013), a Lei das XII Tábuas:
[...] concedia absoluta liberdade ao pater familias de dispor dos seus bens para depois da morte. Mas, se falecesse sem testamento, a sucessão se devolvia, seguidamente, a três classes de herdeiros: sui, agnati e gentiles.
Os heredi sui etnecessarii eram os filhos sob o poder do pater e que se tornavam sui iuris com sua morte: os filhos, os netos, incluindo-se também, nessa qualificação, a esposa. Os agnati eram os parentes mais próximos do falecido. Entende-se por agnado o colateral de origem exclusivamente paterna, como o irmão consanguíneo, o tio que fosse filho do avô paterno, e o sobrinho, filho desse mesmo tio. A herança não era deferida a todos os agnados, mas ao mais próximo no momento da morte (agnatusproximus). Na ausência de membros das classes mencionadas, seriam chamados à sucessão os gentiles, ou membros da gens, que é o grupo familiar em sentido lato (GONÇALVES, 2013, p.21-22, grifos do autor).
Logo, naquela época se levava em consideração, em primeiro lugar, a vontade do chefe da família, dando-lhe a possibilidade de dispor dos seus bens de forma livre, por meio do testamento, e só como forma excepcional, na falta de testamento, é que se haveria uma intromissão do “Estado”, realizando a destinação dos bens do de cujus às classes de herdeiros acima demonstradas.
Apenas no Código de Justiniano foi que o direito sucessório passou a se basear no vinculo natural da família, restando, pois, como regra a sucessão natural, tornando o testamento uma forma desnecessária de dispor dos bens no ato de última vontade do de cujus. Desse modo, passou-se a presumir que era desejo do autor da herança transmitir seu patrimônio aos seus naturais, biologicamente falando. Explicado de forma didática, nos dizeres de Gonçalves (2013):
Somente no código de Justiniano, todavia, a sucessão legítima passa a fundar-se unicamente no parentesco natural, estabelecendo-se a seguinte ordem de vocação hereditária: a) os descendentes; b) os ascendentes, em concurso com os irmãos e irmãs bilaterais; c) os irmãos e irmãs, consanguíneos ou uterinos; e d) outros parentes colaterais (GONÇALVES, 2013, p.22, grifos do autor).
Durante a maior parte dahistória humana, a sucessão se procedeu na linhagem masculina, tendo como herdeiro apenas o filho homem, sob o fundamento de que as filhas não poderiam dar seguimento ao culto religioso daquela família, somente em caráter provisório e se solteira,pois,ao se casar, a mulher seria incorporada ao culto familiar do seu marido (DIAS, 2011).
Na Idade Média, havia regra para a sucessão mesmo entre os homens, regra essa aparentemente injusta, visto que os filhos mais velhos recebiam a integralidade dos bens transferidos por causa mortis, enquanto os outros filhos não recebiam nada, passando a depender do irmão mais velho. Esse mecanismo era uma forma de evitar a divisão do feudo daquela família.Trata-se de um momento histórico, onde nasceu o direito da primogenitura. Como bem dito por Dias (2011):
Historicamente a sucessão sempre se operou na linha masculina, sob a justificativa de que a filha não daria seguimento ao culto familiar, pois ao casar adotaria a religião do marido. Também entre os filhos homens existiam injustos privilégios. Na Idade Média, a sucessão se operava ao filho mais velho, para evitar a divisão dos feudos. É chamado o direito de primogenitura, ou seja, o patrimônio transmitia-se ao filho homem, o mais velho para garantir a integralidade do patrimônio familiar (DIAS, 2011, p.27, grifos do autor).
O marco histórico do direito sucessório é o denominado princípio de saisine, que teve origem na França, como forma de oposição ao regime sucessório que existia à época do feudalismo. Com a morte do servo, o senhor feudal assumiu o direito à herança, e o herdeiro só poderia recuperar esse direito a partir do pagamento de impostos muito onerosos para a família. Assim, o princípio de saisine nasce como a transferência automática dos bens do de cujus para seus herdeiros, numa verdadeira ficção jurídica, com objetivo de evitar o pagamento dos pesados impostos para o senhor feudal, e porque os bens não podem ficar desprovidos de proprietários um segundo sequer.
Nesse sentido, Dias (2011) destaca o seguinte:
A pedra do toque do direito sucessório é chamado princípio de saisine, que teve origem na frança, como oposição ao regime que vigorava à época do feudalismo. Com o falecimento do servo, o senhor feudal assumia o direito à herança e o herdeiro só a recuperava mediante o pagamento de pesados impostos. Daí a transmissão automática do patrimônio aos herdeiros, ficção para driblar a tributação (DIAS, 2011, p.28, grifos do autor).
A atual sociedade é pautada sobre o direito patrimonial e a herança, que serve como uma mola propulsora. De outro modo, a sociedade se mantém ativa profissionalmente e financeiramente por estar motivada para garantir a manutenção da sua prole; isso inclui a manutenção econômica.Ciente de que após a morte de um ente, os bens deste serão transferidos para seus herdeiros, as pessoas continuam motivadas e empenhadas em acumular bens. Com isso, a economia gira.
Essa ideia, de que o direito sucessório motiva a sociedade na manutenção do seu patrimônio, para que, posteriormente, sejam revertidos para seus herdeiros, foi bem dita por Venosa (2013), in verbis:
A ideia da sucessão por causa da morte não aflora unicamente no interesse privado: o Estado também tem o maior interesse de que um patrimônio não reste sem titular, o que lhe traria um ônus a mais. Para ele, ao resguardar o direito à sucessão (agora como princípio constitucional, art. 5°, XXX, da Carta de 1988), está também protegendo a família e ordenando sua própria economia. Se não houvesse direito à herança, estaria prejudicada a própria capacidade produtiva de cada indivíduo, que não tenha interesse em poupar e produzir, sabendo que sua família não seria alvo do esforço(VENOSA, 2013, p.4, grifos no original).
Até mesmo regimes sociais tidos como socialistas, como a União Soviética, teve que retroceder na posição de extingui a herança para os herdeiros do de cujus, na medida em que se percebeu um forte desinteresse por parte dos cidadãos em se manter ativo profissionalmente nos países que extinguiram o direito de herança, por saberem que seus bens seriam convertidos para o Estado, usando como justificativa o interesse coletivo, e não para seus herdeiros, como se deseja em regra geral.
Apesar de, atualmente, a sociedade e o direito tratarem o direito sucessório apenas do seu ângulo material, sua origem remonta à forma subjetiva, quando os interesses não eram apenas patrimoniais e financeiros, mas também de cunho religioso.Ainda assim,mantém-se ainda hoje um critério subjetivo para fundamentar o direto sucessório, que é a vontade do autor da herança de ver seus herdeiros salvaguardados economicamente.
Como bem lembra Venosa (2013):
Como vimos, se hoje o direito moderno só vê a sucessão causa mortis sob o ponto de vista material, sua origem histórica foi essencialmente extrapatrimonial. Inobstante, hoje a ideia de que o sucessor continua as relações jurídicas da pessoa falecida permanece viva (VENOSA, 2013, p.4, grifos do autor).
Nesse sentido, o direito sucessório não versa apenas sobre os interesses privados dos proprietários e seus futuros herdeiros, mas também é matéria de interesse público, pois, como visto acima, o direito sucessório,quando é assegurado de maneira satisfatória, mantém a sociedade motivada em acumular riqueza, sabendo que o futuro financeiro de seus filhos e seus herdeiros em geral estará garantido, fazendo, assim, com que a economia do país continue a girar.
1.2.1 Princípio de saisine
Dada a sua grande importância dentro do atual contexto histórico no que se refere à maneira de dar início à sucessão, optamos por abrir um tópico específico para o princípio de saisine, criada pela jurisprudência francesa como mecanismo de proteção ao antigo modelo de sucessão feudal, que pairava na Idade Média.
Como visto anteriormente, o princípio de saisine é a transmissão de todas as relações patrimoniais e dos bens - material e imaterial - aos herdeiros do de cujus no momento exato da sua morte, mesmo que o conhecimento da morte do de cujus ocorra em momento posterior.Isso tudo como uma ficção jurídica,isto é, sem a necessidade de qualquer ato do autor da herança.
Assim, nos dizeres de Farias e Rosenvald (2015):
A criação da regra da transmissão automática (saisine) inspirou-se nas máximas germânica e gaulesa: der todteerbtdenlebendigene Le mortsaisit Le vif, significando que os vivos dão continuidade às relações que pertenciam ao morto. A partir delas, desenvolveu-se a ideia fundamental da transmissão automática para subtrair dos senhores feudais o ímpeto de arrecadar bens que pertenciam aos seus falecidos servos, localizados em suas terras (FARIAS; ROSENVALD, 2015, p.64, grifos no original).
O ordenamento brasileiro adotou o princípio detroit saisine para definir o momento da transmissão sucessória. Adequando-se à realidade social atual, o Código Civil de 2002 trouxe o princípio expressamente em seu texto, localizado mais especificamente em seu artigo 1.784, segundo o qual: “aberta a sucessão a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”(BRASIL, 2002). 
Na transmissão automática de herança, não se sabe qual é o patrimônio exato do de cujus, nem quais são seus herdeiros.Nesse sentido, o acervo patrimonial que compõe a herança é considerado uma universalidade de direito.Assim, não apenas os bens, mas também os encargos e as obrigações do autor da herança serão transferidos a todos os herdeiros,na forma de um verdadeiro condomínio.Nesse momento,quando os quinhões hereditários ainda não foram divididos, todo mundo é dono de tudo (DIAS, 2011).
Evidente que o princípio de saisine é modulado juntamente com o instituto da aceitação da herança, uma vez que,como decorrência do caráter automático da transmissão dos bens (latu sensu), os herdeiros somente poderão se expressar momentos depois de tomarem conhecimento do falecimento do autor da herança,“pois ninguém pode ser herdeiro contra sua vontade” (VENOSA, 2013, p.14).
1.2.2 Aspecto constitucional no Brasil
Como visto,o direito sucessório é bastante antigo, com maiores evidências históricas na época do Império Romano, passando por considerada evolução na Idade Média, com o fim do modelo hereditário do feudalismo e o advento do princípio de saisine, modelo sucessório que surgiu para combater o antigo modelo utilizado à época.Tal “sistema” hereditário foi introduzido no direito brasileiro, assim como em vários outros países ocidentais.
As constituições anteriores a de 1988 não tratavam especificamente sobre o direito sucessório, não sendo este, portanto, revestido de caráter constitucional, sendo regulamentado apenas pela lei civil, sem fortes garantias constitucionais.
No Código Civil brasileiro de 1916, o direito sucessório tinha como base o modelo de sociedade do século passado, reconhecendo exclusivamente como família as relações constituídas por matrimônio, já que sociedade daquela época sofria uma forte influência do cristianismo. Ainda é, porém de maneira discreta.
Decorrente disso entendia-se que as relações extraconjugais não mereciam amparo do ordenamento jurídico brasileiro. Sendo assim,os filhos havidos fora da constância do casamento não possuíam os mesmos direitos que os filhos oriundos do matrimônio detinham. A esse respeito, Dias (2011) afirma que:
Reproduzindo o modelo da sociedade do início do século passado, o Código Civil de 1916 reconhecia família exclusivamente a constituída através do casamento, que era indissolúvel. Para assegurar a integridade da família e do patrimônio familiar, não era admitido o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento. Chamados “ilegítimos”, não tinham direitos sucessórios. Essa perversa punição foi se abrandando, até que a atual Constituição baniu todo e qualquer tratamento discriminatório relativo a filiação (CF 227 §6.º). Talvez seja essa a origem da expressão “herdeiros legítimos”, que de forma injustificável ainda permanece na lei, como se existisse herdeiros ilegítimos (DIAS, 2011, p. 28, grifos do autor).
Dessa forma, conforme as palavras de Dias (2011), os filhos havidos de relações extramatrimoniais não possuíam direitos sucessórios, visto que, na época, o direito só contemplava uma forma de família, deixando as demais desprotegidas juridicamente, e também socialmente, uma vez que a própria sociedade discriminava formas de famílias diversas ao casamento, e os filhos nascidos dessas relações. 
Logo, o companheiro não era contemplado pelos direitos sucessórios pelo Código Civil de 1916, pois a união estável não era reconhecida na época. Ademais, esse código era assombrado pelas várias discriminações que os filhos “ilegítimos”e os adotados sofriam, apresentando a seguinte ordem:
Art. 1.603. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Redação dada pela Lei nº 8.049, de 1990).
I - Aos descendentes.
II - Aos ascendentes.
III - Ao cônjuge sobrevivente.
IV - Aos colaterais.
V - Aos Municípios, ao Distrito Federal ou à União(Redação dada pela Lei nº 8.049, de 1990)(BRASIL, 1916, grifos no original).
No contexto apontado pelo código de 1916, a herança passaria para alguns dos Entes federativos se não houvesse herdeiros colaterais, a depender do caso concreto, ficando o companheiro desamparado. Com relação aos descendentes, a lei considerava apenas os filhos legítimos, aqueles oriundos do casamento e os legitimáveis, que são aqueles passíveis de legitimação; ainda que seus pais não fossem casados, nada os impedia de receberem a herança.Assim, com o eventual matrimônio, passavam ao status de descendentes legitimados (DIAS, 2011).
Desta feita,o Código Civil de 1916 previa, em seus artigos 1.604 e 1.605 e respectivos parágrafos, in verbis:
Art. 1.604. Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem, ou não, no mesmo grau.
Art. 1.605. Para os efeitos da sucessão, aos filhos legítimos se equiparam os legitimados, os naturais reconhecidos e os adotivos.
§ 1º Havendo filho legítimo, ou legitimado, só a metade do que a este couber em herança terá direito o filho natural reconhecido na constância do casamento (art. 358).       (Revogado pela Lei nº 6.515, de 1977).
§ 2º Ao filho adotivo, se concorrer com legítimos, supervenientes a adoção (art. 368), tocará somente metade da herança cabível a cada um destes (BRASIL, 1916).
Só com a promulgação da Constituição de 1988,através do princípio da igualdade de filiação, é que foi banido qualquer tratamento discriminatório referente à filiação, ou seja, os filhos havidos na constância do casamento ou fora dele passaram a possuir os mesmos direitos sucessórios.Foram necessários 72 anos para que isso ocorresse.
No tocante à vocação hereditária, Farias e Rosenvald (2015) destacam que a delimitação que aquela faz das latitudes e longitudes subjetivas da transmissão da herança se direcionam para a legitimação para a sucessão.
O Código Civil de 1916, além de prevê a sucessão por parte do cônjuge sobrevivente, não na qualidade de herdeiro necessário, pois aquele podia ser afastado via testamento, tinha um rol de herdeiros colaterais legítimos para suceder maior que o apresentado pelo Código Civil de 2002, abarcando até o 6º grau de parentesco, também na qualidade de herdeiros facultativos.Assim, nos moldes do art. 1.612: “se não houver cônjuge sobrevivente, ou ele incorrer na incapacidade do art. 1.611, serão chamados a suceder os colaterais até o sexto grau”(BRASIL, 1916). Em 1945, o art. 1.612 foi alterado, reduzindo-se o rol dos coletarias pela metade, conforme o Decreto-Lei nº 8.207/45, passando a conter a seguinte redação: “se não houver cônjuge sobrevivente, ou ele incorrer na incapacidade do artigo 1.611, serão chamados a suceder os colaterais até o terceiro grau” (BRASIL, 1916). 
Muitos dos dispositivos do Código de 1916entraram em desuso com o advento da Constituição Federal de 1988, que trouxe em seu bojo a busca pela igualdade e a não discriminação.Inclusive,caracterizou a união estável como forma de família, enquanto o antigo código civil legitimava discriminações, relativas principalmente ao direito de família, na medida em que apenas as famílias oriundas do casamento eram protegidas pela lei, implicando em várias injustiças.
Não esquecendo ainda que a Carta Magna de 1988 elevou o direito sucessório ao patamar constitucional ao inserir o tema em seu texto, exatamente no artigo 5º, inciso XXX da mesma, com os seguintes dizeres: 
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXX - é garantido o direito de herança; (BRASIL, 1988).
	 Como decorrência lógica do direito de família, o direito sucessório sofre forte influência do mesmo, pois é do núcleo familiar, usando o critério da afinidade, que o ordenamento civil elegeu os herdeiros legítimos.
Contudo, o legislador, ao redigir o novo Código Civil 2002, não deu a devida atenção ao direito de família e ao caráter constitucional que o direito sucessório é tratado pela constituição vigente.Por vezes, realizou meras cópias dos dispositivos do diploma civil de 1916, replicando-os no Código Civil de 2002, dando margem às atuais discriminações desarrazoadas que existem no direito sucessório brasileiro.
2. DIREITO SUCESSÓRIO NO CÓDIGO CIVIL DE 2002
2.1 Vocação hereditária
O novo Código Civil de 2002 trouxe muitas mudanças e avanços no diversos aspectos civis na realidade brasileira.No que se refere ao direito de família, em especial, teve significativo avanço e ainda continua a evoluir nos dias de hoje.Porém, não houve mudanças significativas no tocante ao direito sucessório. Sua evolução anda em passos lentos quando comparado ao direito de família, que influencia, ou ao menos deveria influenciar,o campo do direito das sucessões.
Um dos avanços do código lei se deu com a normatização da união estável,que passou a ser definida como uma das categorias de família existentesno país, assim como a inclusão do companheiro como herdeiro, mas, ainda assim, com forte desigualdade em relação ao cônjuge, que ocupa o terceiro lugar na ordem de vocação hereditária, enquanto o companheiro herda após os colaterais. Aqui, encontramos uma das várias inconstitucionalidades que os elaboradores do Código Civil de 2002 deixaram passar despercebido no momento da elaboração do código.
	Por vocação hereditária, entende-se a capacidade de uma pessoa poder receber herança, sendo tratada de maneira independente da capacidade civil. Nessa ótica uma pessoa de dois anos de idade, por exemplo, pode perfeitamente perceber determinada porcentagem da herança, desde que seja parente do de cujus.
Por outro lado, uma pessoa maior e capaz pode não ser legitimada para receber parte dessa herança.Para isso, o mesmo deve ser parente daquele a quem a herança pertence.
	Desse modo, de acordo com Farias e Rosenvald(2015):
O sistema jurídico estabeleceu regras específicas para que uma pessoa venha a exercer direito sucessório, constando na sucessão de outra. É a chamada legitimação sucessória. Não se confunda, por importante, a legitimação sucessória com capacidade jurídica de fato (handlungsfähighigkeit, como dizem os germânicos). Esta (a capacidade de fato) é aptidão para prática de atos civis pessoalmente. Aquela (a legitimação sucessória) é a aptidão para ser sucessor, herdeiro ou legatário. Evidentemente, uma não implica na outra. É possível imaginar um absolutamente incapaz (uma criança de cinco anos de idade) detendo legitimação para suceder por conta do óbito de um dos pais. Lado outro, é possível observar que uma pessoa maior e capaz não terá legitimação para constar do rol hereditário de alguém de quem não é familiar, nem foi beneficiado por testamento (FARIAS; ROSENVALD, 2015, p.77, grifos no original).
O Código Civil de 2002 apresenta de forma ampla, em seu artigo 1.798, o que seria legitimado para suceder, tanto para a sucessão legitima como a testamentária, com a seguinte redação: “Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão” (BRASIL, 2002).
Decorrente dessa legitimação sucessória, o Código Civil de 2002 traz uma ordem de vocação hereditária, que serve de paradigma para definir quem será contemplado pela herança do de cujus. Importa ressaltar que, em havendo tal classe de herdeiros, a herança será transferida apenas para estes, sem prejuízo da concorrência por parte do cônjuge e do companheiro.
Em primeiro lugar na ordem de vocação hereditária, chamada legítima de forma discriminatória, como já levantando anteriormente, temos os descendentes (filhos, netos, bisnetos e assim sucessivamente); na falta destes, serão chamados a suceder os ascendentes (pais, avôs, bisavôs e assim sucessivamente).
Importante ressaltar que não há limite de grau para a percepção da herança nas linhas descendentes e ascendentes, ao contrário do que ocorre no parentesco dos colaterais,já que só poderão herdar os parentes até o quarto grau; aqui, a limitação não é jurídica, mas natural.
Na falta dos descendentes e dos ascendentes, serão convocados a suceder o cônjuge. Na falta de todos esses, serão chamados os colaterais (irmãos, sobrinhos, tios).Por ultimo,o companheiro, posição adotada de maneira inconstitucional, uma vez que a Constituição Federal de 1988 se preocupou em equiparar a união estável ao casamento, como formas de família na sociedade brasileira.
Vejamos esse rol, de acordo com o art. 1.829 do Código Civil de 2002:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais. (BRASIL, 2002)
	Dentro das categorias de herdeiros, há uma regra que serve para todos os outros, qual seja, os herdeiros mais próximos excluem os mais remotos, ou seja, em existindo um descendente de primeiro grau (filhos) esse receberá a herança em concorrência com o cônjuge do de cujus, deixando de fora todos os outros descendentes (netos, bisnetos), assim como nas outras classes de herdeiros legítimos essa regra é aplicada.
2.1.1 Herdeiro legítimo e herdeiro testamentário
O direito brasileiro classifica os herdeiros em legítimos e testamentários, sendo os primeiros os que percebem a herança em virtude do parentesco com o de cujus,segundo a ordem de vocação hereditária.O Código Civil de 2002 taxa como herdeiros legítimos aqueles previstos nos artigos 1.829 e 1.790, a saber: “os descendentes, ascendentes, cônjuge, colaterais e o companheiro” (BRASIL, 2002). 
Dias (2011, p.112) esclarece que “na ausência de manifestação de vontade do falecido, seus bens são transferidos a quem o legislador indica como herdeiro”.
Por sua vez, os herdeiros testamentários são os que recebem herança do de cujus decorrente da vontade do mesmo, que assim dispôs em forma de testamento, indicando quem receberá o quê. Dessa maneira, Dias (2011) aponta o que segue:
[...] como sugere o próprio nome, sucessão testamentária é a transmissão da herança por meio de testamento. Ocorre quando houve manifestação de vontade da pessoa - claro que enquanto viva - elegendo quem deseja que fique com o seu patrimônio depois de sua morte (DIAS, 2011, p.114).
	Sendo essas duas formas as principais maneiras de se realizar a sucessão no ordenamento jurídico brasileiro, por sua vez a testamentária não é utilizada com frequência, apenas representando uma pequena parcela das sucessões abertas no Brasil.
2.1.2 Herdeiros necessários e herdeiros facultativos
Dentro da classificação dos herdeiros legítimos, existe uma subdivisão, que é de suma importância quando se fala nos efeitos sucessórios. Assim, os herdeiros legítimos são subdivididos em necessários e facultativos, a depender do grau de parentesco. No caso do herdeiro figurado como necessário, lhe é destinado o porcentual da herança da ordem de50% do patrimônio do de cujus.
Dessa forma, se determinada pessoa deseja realizar um testamento, deverá resguardar 50% de todo seu patrimônio, livre da meação, para seus herdeiros necessários (FARIAS; ROSENVALD, 2015).Esse mandamento está previsto no art.1.789 do Código Civil de 2002,que prevê: “Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança”(BRASIL, 2002).
O herdeiro necessário poderá ainda ser legítimo, porém facultativo, ou seja,aqueles que podem ser afastados por vontade do autor da herança, via testamento, também conhecido como ato de disposição de últimas vontades.
Sobre o assunto, vejamos o que nos indicam Farias e Rosenvald (2015):
Os herdeiros necessários (ou herdeiros forzosos, como prefere o código civil da Espanha) não podem, ordinariamente, ser preteridos pela vontade do titular. Dessa forma, uma pessoa que tenha descendentes, ascendentes ou cônjuge não poderá testar mais do que cinquenta por cento do seu patrimônio por conta do direito reconhecido ao herdeiro necessário. Ao revés, os herdeiros facultativos podem ser excluídos da herança pala vontade do titular. Em sendo assim, através de um testamento, o autor da herança tem a prerrogativa de dispor na inteireza de seu patrimônio em favor de terceiros, em detrimento do herdeiro facultativo (2015, p.26, grifos do autor).
O Código Civil define os herdeiros necessários em seu art. 1.845, a saber: “são herdeiros necessários os descendentes, ascendentes e o cônjuge” (BRASIL, 2002). Os demais herdeiros não contemplados pelo referido artigo são considerados herdeiros legítimos, porém facultativos, abrangendo os parentes colaterais até o quarto grau e o companheiro, que poderão ser afastados do recebimento da herança do de cujus, bastando que este,ainda vivo, conceda todo o seu patrimônio a terceiros através de testamento, ou apenas nãoos contemple no mesmo.
Como se percebe, apesar de a Constituição de 1988 trazer para o ordenamento jurídico a ideia de união estável como forma de família, com verdadeira intenção de equipará-las, o legislador civil, na elaboração do diploma de 2002, não atentou para esse detalhe.
Desse modo, enquanto na ordem de vocação o cônjuge se encontra em terceiro lugar e com patamar de herdeiro necessário, o companheiro, por sua vez, encontra-se em quinto lugar nessa ordem, atrás dos colaterais e com status de herdeiro facultativo. Isso só ressalta o descaso com que o legislador civil tratou o direito sucessório no novo Código Civil de 2002.Isso é apenas mais uma das inconstitucionalidades encontradas no direito sucessório.
2.1.3 Sucessão dos colaterais
Os parentes colaterais são aqueles oriundos de um mesmo ancestral, como o caso do irmão, cujo parentesco decorre dos mesmos pais ou de apenas um deles.
O Código Civil brasileiro apresenta um conceito de parente colateral, que está disciplinado em seu artigo 1.529, cuja redação aponta que são “parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra” (BRASIL, 2002).
Além dos irmãos,também são considerados parentes colaterais, nessa linha, os irmãos, sobrinhos, tios, sobrinhos-netos e tios-avôs, sendo que, para o direito sucessório brasileiro, importa apenas os colaterais até o quarto grau. Importante ressaltar que o parentesco colateral tem início já no segundo grau, com os irmãos e assim sucessivamente.
Anteriormente, na vigência do Código Civil de 1.916, era possível que os colaterais até o décimo grau de parentesco percebessem herança, sendo praticamente impossível não haver sucessores. Posteriormente, esse rol foi reduzido para o sexto grau de parentesco, uma quantidade razoável de herdeiros colaterais.Em 1945, esse rol passou a ser menor, do sexto grau para apenas o terceiro grau.
Com o Código Civil de 2002, a abrangência dos herdeiros colaterais mudou para o quarto grau, pois o legislador entendeu que até o quarto grau dos parentes colaterais haveria uma afinidade razoável, mesmo que pequena, entre o autor da herança e o possível herdeiro. 
Como previsto na legislação civil, os colaterais somente serão chamados a suceder na falta do cônjuge, que, por sua vez, só sucede na falta dos ascendentes, que somente sucede na falta dos descendentes.
Essa hipótese difícil de acontecer, mas não impossível. Perceba que,de acordo com o legislador, os colaterais sucederiam antes dos companheiros, o que para a maioria da doutrina é incoerente, haja vista que Constituição de 1988 igualou as famílias oriundas do casamento com as formadas a partir da união estável.
Os herdeiros colaterais estão previstos no ordenamento jurídico como herdeiros legítimos, sendo, contudo, de caráter facultativo. Portanto, podem ser afastados por meio de testamento, expressamente ou tacitamente, pelo simples fato de não serem citados no testamento do de cujus.
Dentre os herdeiros colaterais, a sucessão se define de maneira semelhante aos descendentes, em que peso o teor do artigo 1.840 do Código Civil: “na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos (sobrinhos)” (BRASIL, 2002).
Nesse sentido, o sobrinho poderá exercer o direito de representação sendo filho do irmão morto antes mesmo do falecimento do autor da herança. Isso, chamado comumente no ramo do direito de pré-morto, significa dizer que, no caso de não haver herdeiro de categoria anterior em uma sucessão, e esta se dê aos colaterais, havendo um irmão e um sobrinho do falecido, o primeiro perceberá toda a herança do de cujus, mas existindo apenas sobrinho e tio do falecido, e o irmão do de cujus já estivesse morto, o sobrinho poderia representá-lo na sucessão.
Como prevê o artigo 1.843 do Código Civil, “na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios” (BRASIL, 2002).
Como explicado por Farias e Rosenvald (2015), o direito de representação será exercido da seguinte forma:
Vale explicar com minúcias: deixando o autor da herança dois irmãos a serem convocados na sua sucessão, sendo um deles pré-morto, indigno ou deserdado, mas tendo este deixado dois filhos, a herança será dividida em duas partes iguais, metade ao irmão vivo, que herda por cabeça (direito próprio), e a outra metade, que caberia ao irmão pré-morto, indigno ou deserdado, tocará aos seus filhos, que herdam a parte que caberia ao genitor por estirpe (direito de representação) (FARIAS; ROSENVALD, 2015, p.307).
	O direito de representação em destaque na citação de Farias e Rosenvald (2015) é assegurado à classe mencionada porque no direito sucessório, além de ser pautado sobre o laço de afinidade para definir os legitimados para suceder e a eventual ordem de vocação hereditária, há uma preocupação com os herdeiros da classe descendentes.
Nesse sentido, na sucessão necessária os primeiros a sucederem serão sempre os descendentes. Perante os facultativos, na falta dos irmãos serão preferidos os sobrinhos, que são da linha descendente. Presume-se, desse modo, que os descendentes são hipossuficientes, devendo ser abarcados pela herança, podendo, assim, ter condições dignas de vida.
2.2 Classificação dos irmãos conforme o Código Civil de 2002
O direito civil brasileiro optou por definir os irmãos em duas classes distintas, a primeira denominada de irmãos bilaterais (ou germanos) e a segunda de irmãos unilaterais.Em um primeiro momento, essa classificação pode parecer irrelevante, porém gera graves consequências no campo do direito das sucessões.
Essa classificação não é mais aplicável no direito de família,, existindo apenas para o direito sucessório, como destacado em capítulo anterior. Dessa forma, o direito das famílias caminha a passos largos, enquanto o sucessório quase não anda.
Irmãos bilaterais ou germanos são aqueles que descendem dos mesmos pais, ou seja, são filhos de mesmo pai e mesma mãe, pensando na ordem natural de família. Já os irmãos unilaterais, decorrem apenas de um mesmo pai ou uma mesma mãe, isto é, são ligados por apenas um dos troncos ancestrais.
Como vimos anteriormente, essa situação implica em efeitos sucessórios distintos, tendo em vista que os segundo, ao concorrer com os primeiros, receberão metade do que estes receberão. Portanto, os irmãos bilaterais recebem porcentagem maior, equivalente a duas vezes o valor percebido pelos unilaterais (CAHALI; HIRONAKA, 2012).
	Essa disparidade, por incrível que pareça, é encontrada no texto legal, mais especificamente no artigo 1.841 do Código Civil, segundo o qual “concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar” (BRASIL, 2002).Dessa feita, os irmãos unilaterais só sucederão por partes iguais se concorrerem entre si.
	Dessa maneira,de acordo com Farias e Rosenvald (2015):
[...] por evidente, não havendo irmãos bilaterais, os vínculos fraternos unilaterais prevaleceram pelo simples motivo de que todos estarão, rigorosamente, na mesma situação fática de igualdade em relação ao falecido. Trata-se de circunstancia bem distinta da hipótese de restarem irmãos germanos e irmãos unilaterais (FARIAS; ROSENVALD, 2015, p.305, grifos do autor).
A aplicabilidade do artigo estende-se para os filhos dos irmãos bilaterais e unilaterais, pois se os sobrinhos forem filhos de irmão bilateral receberão maior porcentagem, já se forem filhos de um irmão unilateral receberão metade do que aqueles receberão.
Essa classificação é prova inequívoca de que o legislador, ao redigir o Código Civil de 2002, foi influenciado pelos costumes da sociedade do século passado, reintroduzindo situações no novo diploma que não são condizentes com o atual modelo de sociedade. No entender de Dias (2011): 
Este não é o único pecado do legislador.De forma desarrazoada concede o dobro do quinhão aos irmãos bilaterais (filhos do mesmo pai e mesma mãe), se existirem irmãosunilaterais (filhos somente do genitor falecido) (CC 1.842). Deste modo, sempre que forem convocados os colaterais de segundo e terceiro grau, é preciso questionar se são irmãos unilaterais ou bilaterais do falecido. Tal diferenciação atinge até os sobrinhos. Também a eles cabe fazer o mesmo questionamento, quer sejam convocados por direito próprio, quer quando herdam por representação (CC 1.843 §§ 2.º e 3.º). Esta norma não está explicita na lei atual, como constava do Código revogado (CC/1916 1.615). Trata-se de perverso resquício da discriminação de que era alvo a filiação chamada ilegítima ou espúria, por ser fruto de relações extramatrimoniais. [...]. Mas insiste a doutrina em não ver inconstitucionalidade na concessão de direitos diferenciados a irmãos e sobrinhos, sob o fundamento de que a estes não se estendem as normas constitucionais que garantem a igualdade (DIAS, 2011, p.140-141, grifos do autor). 
Como a finalidade da Constituição de 1988 foi acabar com as diversas desigualdades, seria razoável exterminar toda classificação entre irmãos bilaterais (ou germanos) e unilaterais, que serve apenas para o ramo da biologia, pois, mesmo que não descendam dos mesmos ancestrais, descendem de ao menos um deles.
	 Portanto, seria correto afirmar que é necessário se fazer uma interpretação extensiva desse princípio para a área do direito sucessório, ramo esse que bebe muito da fonte do direito de família. Dessa feita, enquadrando o direito sucessório na ótica da sociedade vigente, certamente essas discriminações infundadas, legitimadas pelo próprio diploma Civil de 2002, chegariam ao fim.
3 FILIAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO DE 1988
3.1 Conceito
Dentre os graus de parentescos considerados pelo direito brasileiro, é sobre o os parentes descendentes de primeiro grau (filhos) que se encontra o direito de filiação, independente dos filhos serem havidos na constância do casamento ou fora do mesmo, inclusive não há distinções entre os filhos adotados, como ocorria antes do advento da Constituição de 1988, que considera a filiação dividida em natural ou biológica e não biológica. Como preconiza Lôbo (2011):
Filiação é conceito relacional; é a relação de parentesco que se estabelece entre duas pessoas, uma das quais nascida da outra, ou adotada, ou vinculada mediante posse de estado de filiação ou por concepção derivada de inseminação artificial heteróloga. Quando a relação é considerada em face do pai, chama-se paternidade, quando em face da mãe, maternidade.
Filiação procede do latim filiatio, que significa procedência, laço de parentesco dos filhos com os pais, dependência, enlace. Sob o ponto de vista do direito brasileiro, a filiação é biológica e não biológica. Por ser uma construção cultural, resultante da convivência familiare da afetividade, o direito a considera como um fenômeno socioafetivo, incluindo a de origem biológica, que antes detinha a exclusividade.
No Brasil, a filiação é conceito único, não se admitindo adjetivações
ou discriminações. Desde a Constituição de 1988 não há mais filiação legítima,filiação ilegítima, filiação natural, filiação adotiva, ou filiação adulterina (LÔBO, 2011, p.216, grifos no original).
Assim, o direito de filiação não era igualitário antes da entrada em vigor da Constituição de 1988. Para o Código Civil de 1916, apenas os filhos nascidos na constância do casamento, que era a única família contemplada juridicamente, gozavam das garantias legais.Logo,eram considerados filhos legítimos, enquanto os demais, oriundos das relações extraconjugais, eram fortemente descriminados, socialmente e juridicamente, sendo denominados de filhos ilegítimos.
Observe o que diz Gonçalves (2014) com relação à classificação dos filhos legítimos e ilegítimos: 
Filhos legítimos eram os que procediam de justas núpcias. Quando não houvesse casamento entre os genitores, denominavam-se ilegítimos e se classificavam, por sua vez, em naturais e espúrios. Naturais, quando entre os pais não havia impedimento para o casamento. Espúrios, quando a lei proibia a união conjugal dos pais. Estes podiam ser adulterinos, se o impedimento resultasse do fato de um deles ou de ambos serem casados, e incestuosos, se decorresse do parentesco próximo, como entre pai e filha ou entre irmão e irmã.
O Código Civil de 1916 dedicava ainda um capítulo à legitimação, como um dos efeitos do casamento. Tinha este o condão de conferir aos filhos havidos anteriormente os mesmos direitos e qualificações dos filhos legítimos, como se houvessem sido concebidos após as núpcias. Dizia o art. 352 do aludido diploma que “os filhos legitimados são, em tudo, equiparados aos legítimos” (GONÇALVES, 2014, p.733, grifos do autor).
Como se percebe, o legislador sofria forte influencia cultural e religiosa. No tocante à influência religiosa, para a igreja católica, que ainda é a maior crença do nosso país, o casamento entre o homem e a mulher era a única maneira de se estabelecer relações íntimas e sexuais sem cometer pecado, pois era autorizada por Deus.
Dessa forma, o Código Civil de 1916previa somente a família constituída através do casamento como legítima, fazendo jus à proteção jurídica do Estado.As demais formas de família existentes não mereciam as mesmas proteções,de acordo com o legislador do Código Civil de 1916.
3.2 Interpretação extensiva de filiação
	
A partir da Constituição de 1988, a filiação deve ser interpretada de forma mais abrangente, pois a mesma trouxe em seu conteúdo o princípio da igualdade de filiação, mais especificamente em seu artigo 227, com a seguinte redação:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010).
[...]§6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação (BRASIL, 1988).
Foi necessário, pois, que o legislador da Constituição de 1988 deixasse expressamente preconizado na lei maior que os filhos, independente de serem nascidos na constância do casamento ou fora dele, são iguais perante a lei;consequentemente, devem ser tratados igualmente, pela sociedade e pelo Estado, sem qualquer forma de discriminação.Desse modo, a classificação entre os filhos chamados de legítimos e ilegítimos deixou de existir.
O legislador do Código Civil de 1916 não atentou para esse detalhe, muitas vezes usando termos discriminatórios, como a denominada sucessão legítima, certamente em decorrência dos filhos legítimos que o código em questão destacava.
Entende-se que a intenção do legislador constituinte foi a de acabar com qualquer forma de tratamento desigual para os filhos havidos fora do casamento e gerados a partir de outras formas de famílias, pois, independente da condição em que nasça,uma criança merece total proteção do Estado e da sociedade.
Restringir direitos aos filhos nascidos fora do casamento feriria o princípio da igualdade de filiação e o mais importante o princípio maior do nosso ordenamento: o princípio da dignidade da pessoa humana.Nesse entendimento, nascer fora do casamento não é uma ilegalidade, mas o exercício de direitos dos pais de escolherem a forma pelo qual desejam constituir família; suas proles não têm, portanto, qualquer culpa.
O princípio de igualdade de filiação trazido pela Constituição Federal de 1988, no seu artigo 227, §6º, e reproduzido no Código Civil de 2002, no artigo 1.596, foi quem deixou claro que não há mais espaço na sociedade atual para essa discriminação. Vejamos o que diz Lôbo (2011) a esse respeito:
O enunciado do art. 1.596 do Código Civil de que os filhos de origem biológica e não biológica têm osmesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer discriminações, que reproduz norma equivalente da Constituição Federal, é, ao lado da igualdade de direitos e obrigações dos cônjuges, e da liberdade de constituição de entidade familiar, uma das mais importantes e radicais modificações havidas no direito de família brasileiro, após 1988. É o ponto culminante da longa e penosa evolução por que passou a filiação, ao longo do século XX, na progressiva redução de odiosas desigualdades e discriminações, ou do quantum despótico na família, para utilizarmos uma categoria expressiva de Pontes de Miranda. É o fim do vergonhoso apartheid legal.
A norma constitucional não necessitava de concretização infraconstitucional, porque é dotada de força normativa própria, suficiente e autoexecutável. Todavia, sua reprodução no artigo introdutório do capítulo do Código Civil destinado à filiação contribui para reforçar sua natureza de fundamento, assentado no princípio da igualdade, determinante de todas as normas subsequentes. Não se permite que a interpretação das normas relativas à filiação possa revelar qualquer resíduo de desigualdade de tratamento aos filhos, independentemente de sua origem, desaparecendo os efeitos jurídicos diferenciados nas relações pessoais e patrimoniais entre pais e filhos, entre os irmãos e no que concerne aos laços de parentesco (LÔBO, 2011, p. 217, grifos do autor).
Ainda sobre os dispositivos supracitados, faz-se necessária a extensão da proteção Constitucional garantidas aos filhos (direito de filiação) para com os irmãos unilaterais ou bilaterais, pois, apesar da filiação tratar do direito de família, o direito civil deve ser enxergado em conjunto, principalmente o direito sucessório, que sofre influência do direito de família. Nesse sentido, todos os dispositivos que tratassem de diferenciação entre os irmãos deveriam ser dados como letra morta, tendo em vista que é nítido o descaso com que o legislador tratou o direito sucessório.
Sendo a forma de sucessão dos irmãos plenamente inconstitucional, por qual motivo o irmão bilateral deverá perceber o dobro que o irmão unilateral? Na verdade, não há! O que existe é apenas a forte influência cultural e religiosa, que dificulta o avanço desse ramo do direito, uma vez que a constituição, ao tratar da filiação, abriu um leque de situações ao declarar que os filhos, independente da forma de família que provêm, receberão todos os direitos que os nascidos no casamento.
Logo, os irmãos decorrentes de pai e mãe ou por apenas um deles, será considerado irmão, sem merecer qualquer forma de discriminação, devendo, assim, o Código Civil de 2002 reproduzir a constituição no que diz respeito ao princípio da igualdade de filiação, com os(irmãos) herdando por cabeça, assim como seus filhos (sobrinhos do de cujus), na sucessão dos colaterais de segundo grau.
3.3 Princípio da igualdade
Um dos mais importantes princípios constitucionais relativo ao direito de família é o princípio da igualdade. Tal princípio abrange vários tipos de igualdade, dentre os quais o da igualdade de gênero (entre homens e mulheres), a igualdade relativa aos filhos e a igualdade entre os entes familiares, trazidos ao nosso ordenamento com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que tipificou todas essas formas de igualdade.De acordo com Lôbo (2011):
O princípio constitucional da igualdade (a fortiori normativo) dirige-se ao legislador, vedando-lhe que edite normas que o contrariem, à administração pública, para que programe políticas públicas para superação das desigualdades reais existentes entre os gêneros, à administração da justiça, para o impedimento das desigualdades, cujos conflitos provocaram sua intervenção, e, enfim, às pessoas para que o observem em seu cotidiano. Sabe-se que costumes e tradições, transmitidos de geração a geração, sedimentaram condutas de opressão e submissão, no ambiente familiar, mas não podem ser obstáculos à plena realização do direito emancipador (LÔBO, 2011, p.66).
O princípio da igualdade está disposto em alguns dispositivos da Carta Magna brasileira,dentre os quais destacamos o artigo 5º, inciso I, que trouxe a igualdade de gênero, extinguindo, ao menos juridicamente, as diferenciações que antes existiam entre homens e mulheres.Vejamos o texto do referido artigo,in verbis:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; (BRASIL, 1988).
Passando adiante, o parágrafo 5º do artigo 226 prevê a igualdade entre as entidades familiares, ampliando a proteção à união estável, com os seguintes caracteres: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.[...] § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”(BRASIL, 1988).
Com a simples expressão “sociedade conjugal”, o legislador ampliou as possibilidades de proteção à união estável.Anteriormente, a legislação contemplava apenas o casamento como entidade familiar existente no Brasil, marginalizando qualquer outra forma de família diferente do casamento.No entanto, a realidade era totalmente diferente, dada a existência de outros modelos de família.
Em se tratando do direito de filiação, o princípio da igualdade, por nos aqui já abordado, está tipificado no artigo 227, §6º, da Constituição Federal de 1988, que possibilitou a total igualdade entre os filhos, havidos ou não na constância do casamento. Nota-se que esse princípio trouxe enorme avanço na área do direito das famílias ao abarcar os principais institutos que sofriam forte “discriminação legislativa” e social decorrente da cultura da época.
Como bem observado por Lôbo (2011):
O princípio da igualdade está expressamente contido na Constituição, designadamente nos preceitos que tratam das três principais situações nas quais a desigualdade de direitos foi a constante histórica: os cônjuges, os filhos e as entidades familiares. O simples enunciado do § 5º do art. 226 traduz intensidade revolucionária em se tratando dos direitos e deveres dos cônjuges, significando o fim definitivo do poder marital: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”. O sentido de sociedade conjugal é mais amplo, pois abrange a igualdade de direitos e deveres entre os companheiros da união estável. O §6º do art. 227, por sua vez, introduziu a máxima igualdade entre os filhos, “havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção”, em todas as relações jurídicas, pondo cobro às discriminações e desigualdade de direitos, muito comuns na trajetória do direito de família brasileiro. O caput do art.226 tutela e protege a família, sem restringi-la a qualquer espécie ou tipo, como fizeram as Constituições brasileiras anteriores em relação à exclusividade do casamento (LÔBO, 2011, p.66).
Assim sendo, o legislador constituinte restou claro sua intenção de extinguir as diversas formas de desigualdade existentes à época relacionada ao direito de família, sendo o princípio da igualdade o fundamento para o fim das discriminações, assim como a igualdade entre os filhos, visto que os filhos, independente da origem familiar,passaram a ter os mesmos direitos dos filhos havidos no casamento.
Dessa maneira, observem-se os dizeres de Mascarenhas (2010, 52), que apresenta um conceito geral de igualdade, como princípio constitucional, in verbis:
A igualdade é o mais vasto dos princípios constitucionais. Ela garante o indivíduo contra toda má utilização que se possa fazer da ordem jurídica. A função do princípio constitucional da igualdade é a de informar e condicionar todo o resto do direito. É através dele que o ordenamento jurídico pátrio assegura a todos, indistintamente, os direitos e prerrogativas constitucionais.
Como apresentadopelo autor supracitado, o princípio da igualdade é o mais vasto dos princípios constitucionais. Com a finalidade de abarcar as mais diversas formas de igualdade possíveis, protege, assim, um maior número de pessoas de possíveis discriminações, como a que toca a forma de sucessão dos colaterais, tema abordado pelo presente estudo.
Com base no entendimento realizado a partir da análise do dispositivo do artigo 227, §6º, da Carta Magna de 1988, que declara a igualdade dos filhos, qualquer forma discriminatória nesse sentido deve ser combatida. Daí a necessidade de igualarmos os irmãos, sem segregá-los juridicamente, devendo os bilaterais ou unilaterais ser divididos apenas para outra ciência - biologia e/ou genética.
O princípio da não diferenciação entre os filhos, denominado também de igualdade de filiação, foi trazido pela Constituição Federal de 1988, sob a redação do artigo 227, parágrafo 6º da mesma. O caput do referido artigo deixa claro que é dever da família, da sociedade e do próprio Estado garantir os inúmeros direitos da criança e do adolescente, entre as quais a previsão do princípio da igualdade de filiação. Na inteligência do artigo em questão, in verbis:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010).
[...]§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação (BRASIL, 1988).
Dessa maneira, a Constituição em vigor proibiu quaisquer discriminações relevantes aos filhos, sejam eles havidos na constância do casamento (filhos legítimos) ou nascidos fora da vigência do casamento (ilegítimos), tanto que essa classificação não mais existe.Portanto, os filhos,de um modo geral, merecem respeito e tratamento igualitário perante as famílias, a sociedade e o Estado.
O princípio constitucional da igualdade de filiação foi replicado no Código Civil de 2002sópara evidenciar a sua importância para o ordenamento jurídico brasileiro. Vejamos a redação do art. 1.596 do Código de 2002, que replica a ideia exposta na Constituição de 1988, in verbis: “Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” (BRASIL, 2002).
Como resultado desse princípio, o direito de família precisou se enquadrar ao teor do artigo, que abraçou a realidade do país, pois os filhos nascidos das relações extraconjugais eram muitos, sendo discriminados pela própria lei civil da época, que não garantia direitos iguais para as categorias de filhos existentes então.
Com a mudança na legislação, o direito de família passou a não usar mais os termos filhos legítimos e ilegítimos, entre outros que decorriam desses.Há apenas filhos, como sempre deveria ter sido considerado.Dessa forma, a Constituição de 1988 possibilitou a todos os filhos terem os mesmos direitos que os antigos filhos legítimos, que tinham preferência sobre os demais.
3.4 Inconstitucionalidade na sucessão dos irmãos unilaterais e bilaterais
O direito civil brasileiro adota duas categorias de irmãos, como já dito anteriormente, que são os irmãos unilaterais, aqueles que descendem de apenas um dos ascendentes (mesmo pai ou mesma mãe), e os irmãos bilaterais, que são aqueles que descendem dos mesmos ascendentes (mesmo pai e mãe). A esse respeito, Farias e Rosenvald (2015, p.304) indicam que:
Na linha transversal, porém, não se exige a dupla origem (paterna e materna). É o exemplo dos irmãos que podem ser bilaterais, também chamados de germanos, quando são filhos de um mesmo pai e de uma mesma mãe, ou unilaterais, quando o parentesco é mantido somente por um dos troncos ancestrais.
Em um primeiro momento, essa classificação parece razoável e justa.No entanto,é importante destacar que ela não serve apenas como critério para definir o parentesco entre os irmãos, na medida em que traz consequências diretas na forma de sucessão desse grau de parentesco.
De maneira infundada, a lei brasileira garante maiores direitos aos irmãos bilaterais, a quem são destinados o dobro do valor da herança em relação aos irmãos unilaterais.
Essa garantia é respaldada pelo Código de 2002, que, mesmo com a previsão da igualdade no ramo da família pela Constituição de 1988, ramo do direito que é influenciador natural do direito das sucessões, manteve a discriminação entre os filhos bilaterais ou germanos quando chamados a suceder em concorrência com irmãos unilaterais, conforme o artigo 1.841, que traz a seguinte redação: “Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará metade do que cada um daqueles herdar” (BRASIL, 2002). 
Dessa feita, nota-se que os irmãos unilaterais, no caso de concorrerem com os irmãos bilaterais, receberão apenas a metade que aqueles.Só receberão por cabeça, em forma de igualdade, se concorrerem com os irmãos da mesma “classe”, ou seja, se todos forem irmãos unilaterais, como preconiza o artigo 1.842 do código: “não concorrendo à herança irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os unilaterais” (BRASIL, 2002).
Essa forma de suceder não vale apenas para os irmãos, estendendo-se a garantia aos seus filhos, que serão sobrinhos do de cujus. Em outras palavras, os sobrinhos filhos de irmãos bilaterais pré-mortos receberão o dobro que os filhos dos irmãos unilaterais pré-mortos, os quais receberão metade a qual os primeiros fazem jus, recebendo de forma igual apenas se concorrerem com os de mesma categoria, conforme tipifica o artigo 1.843, do Código Civil de 2002, in verbis:
Art. 1.843 Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e, não os havendo, os tios.
§ 1o Se concorrerem à herança somente filhos de irmãos falecidos, herdarão por cabeça.
§ 2o Se concorrem filhos de irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que herdar cada um daqueles.
§ 3o Se todos forem filhos de irmãos bilaterais, ou todos de irmãos unilaterais, herdarão por igual (BRASIL, 2002).
Ainda que a Constituição Federal de 1988 tenha trazido a igualdade entre as famílias brasileiras, o direito civil,no que se refere ao campo do direito sucessório e familiar,restou claro uma forte opção pela família formada pelo casamento, sendo um dos principais pontos o direito à herança do companheiro, que herdará em último lugar, em concorrência com os colaterais, enquanto o cônjuge ocupa o terceiro lugar na vocação hereditária, em concorrência com os descendentes.
Outro ponto que evidencia os traços das discriminações que assombravam o Código Civil de 1916 trazido para o Código Civil de 2002, de maneira mascarada, deu-se em relação aos irmãos, tendo em vista que os irmãos filhos dos mesmos pais perceberão maior porcentagem da herança que os unilaterais, conforme o art. 841 (BRASIL, 2002). Na mentalidade do legislador, os filhos bilaterais são resultados das relações matrimonias, enquanto os irmãos unilaterais seriam oriundos de relações extraconjugais, ou de relações fora do seio familiar constituído pelo casamento.
No entanto, essa ideia de irmãos bilaterais e unilaterais deve ser afastada do nosso ordenamento jurídico, bem como da sociedade, ainda mais com as formas de famílias surgidas do atual modelo de vida, não mais cabendo, portanto, esse tipo de pensamento segregador.
Resta claro que são inúmeras as possibilidades de convivência entre as pessoas onde se nasce um vínculo afetivo familiar, como a constituída entre duas pessoas divorciadas que passaram a conviver afetivamente com o intuito de constituir família, sendoque cada um trouxe um filho do antigo relacionamento e tiveram dois filhos da relação atual posteriormente.
Seria correto afirmar para esses irmãos que somente os bilaterais poderiam receber uma cota maior, enquanto os outros dois unilaterais a metade dessa cota? Evidente que não, já que o afeto presume-se o mesmo entre esses irmãos.Mas, infelizmente, por vontade do legislador, os irmãos unilaterais receberão metade que os bilaterais.
A doutrina majoritária apresenta dois tipos de inconstitucionalidades no que toca a essa questão, sendo a primeira formal e a segunda material. Esses conceitos são esclarecidos de forma didática por Lenza (2012), in verbis: 
Na medida em que o vício formal decorre de afronta ao devido processo legislativo de formação do ato normativo, isso nos dá a ideia de dinamismo, de movimento. Por sua vez, o vício material, por ser um vício de matéria, de conteúdo, a ideia que passa é de vício de substância, estático (LENZA, 2012, p.251).
Assim, há dois tipos de constitucionalidade conforme a citação acima, sendo a primeira referente ao padrão seguido na elaboração das normas, e a segunda, quando da criação da lei, que não esta de acordo com o conteúdo e os ideais trazidos pela Constituição, pouco importando se a forma foi elaborada corretamente.
Logo, quando se fala em inconstitucionalidade na forma de sucessão dos herdeiros colaterais de segundo grau, está se falando na inconstitucionalidade material, haja vista que os legisladores do Código Civil de 2002, ao concederem porcentagem inferior de quinhões hereditários para os irmãos unilaterais, quando em concorrência com irmãos bilaterais do de cujus, provocaram uma afronta ao princípio da igualdade, abordado pelo presente estudo em outra hora.
	Não há dúvidas de que os legisladores do código em questão, no tocante ao direito sucessório, não atentaram para os ideais constitucionais referentes à igualdade de filiação, uma vez que a Carta Magna de 1988 deixou claro que os filhos são iguais perante a lei e a sociedade, sem distinção de origem,sendo dever de todos e do Estado garantir os meios para a garantia dessa igualdade.
É necessário que se faça uma interpretação analógica desse princípio, tão importante para o direito de família, com relação aos irmãos bilatérios e unilaterais, uma vez que não há mais distinção entre os filhos. Assim, não é lógico manter a desigualdade entre os irmãos; todos são irmãos e só, sem qualquer classificação.
Em busca de igualdade na forma de sucessão dos irmãos bilatérias em concorrência com os irmãos unilaterais, o deputado Sérgio Barradas Carneiro (PT-BA) elaborou um projeto de lei que compartilha da linha de pensamento apresentado nesta monografia.Como se observa abaixo, trata-se de uma lei pequena:
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1.º Esta lei altera o artigo 1841, e revoga o art. 1842 da lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil.
Art. 2.º O art. 1842, do Código Civil passa a vigorar com a seguinte redação:
‘Art. 1.841. Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, cada um destes herdará em partes iguais.’
Art. 3.º Fica revogado o art. 1.842, do Código Civil.
Art. 4.º. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação (BRASIL, 2010, grifos no original).
Como se vê, a aplicação da extinção da forma de sucessão entre os irmãos bilaterais em concorrência com os irmãos unilaterais visa, efetivamente, acabar com a disparidade legislativa que concede o dobro de quinhão hereditário para o irmão bilateral em desfavor do unilateral.
Entrando no campo das justificativas para a aprovação do projeto de lei, voltado à linha de pensamento defendida no presente trabalho, observe o conteúdo redacional do elaborador do projeto, in verbis:
O presente projeto de lei visa sanar flagrante inconstitucionalidade na redação do art. 1.841, da lei nª 10.406/02 - Código Civil. Tal redação é fruto da sociedade civil da época.
O livro de Direito de família do Código Civil de 2002 foi concebido pela Comissão coordenada por Miguel Reale no final dos anos 60 e início dos anos 70 do século passado, antes das grandes mudanças legislativas sobre a matéria nos países ocidentais e do advento da Constituição de 1988.
A partir da Constituição de 1988, ocorreu verdadeiro avanço, inaugurando-se paradigma familiar inteiramente remodelado, segundo as mudanças operadas na sociedade brasileira, fundada nos seguintes pilares: comunhão de vida consolidada na afetividade e não no poder marital ou paternal; igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges; liberdade de constituição, novas formas de entidades familiares; igualdade dos filhos de origem biológica ou socioafetivo; garantia da dignidade das pessoas que a integram, inclusive a criança, o adolescente e o idoso. Nenhum ramo do Direito foi tão profundamente modificado quanto o Direito de Família ocidental, nas três últimas décadas do século XX.
O texto constitucional é claro ao não permitir qualquer forma de discriminação entre filhos, tomando a redação do artigo supracitado eivado de flagrante inconstitucionalidade com nossa Carta política.
Na redação do art. 70 do Estatuto das Famílias, encontramos a seguinte lição: ‘...Art. 70. Os filhos, independentemente se sua origem, tem os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações e práticas discriminatórias. ’.
Com a nova redação dada ao art. 1.841, se fez por necessário à revogação do art. 1.841, do Código Civil, que determinava no caso de não haver irmãos bilatérias concorrendo à herança, a divisão em partes iguais aos unilaterais (BRASIL, 2010, grifos no original).
Resta claro que o projeto de lei em questão compartilha do mesmo posicionamento defendido ao longo deste estudo, levantando a inconstitucionalidade da atual lei de sucessão, em virtude de o direito sucessório beber da fonte do direito de família.
Nessa perspectiva, deveria respeitar os seus princípios da igualdade de forma geral, em especial a igualdade de filiação que repercute na sucessão dos herdeiros colaterais, uma vez que a verdadeira intenção do legislador constituinte foi exterminas todas as formas de descriminações.Além do mais, o direito, como dito anteriormente, é revestido de caráter de direito fundamental.
Infelizmente, para os leitores que compartilham dessa ideia, o referido projeto de lei foi arquivado em 31 de janeiro de 2015, decorrente do cenário político da época. Mas,foi devolvido para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC)em 31 de setembro de 2015, permanecendo nessa comissão até a presente data, sem previsão de votação, haja vista a crise política que assombra o Brasil.
Não há motivos concretos que sustentem a manutenção desses dispositivos no novel diploma Civil de 2002, que ainda tratam de maneira desigual os irmãos bilaterais e unilaterais, no sentido da percepção da herança.Talvez esse pensamento ainda se mantenha em vista de a Constituição não deixar explícita todas as ideias de igualdade que busca com o princípio da igualdade de filiação.
CONCLUSÃO
Da análise dos vários institutos abordados na presente monografia, merecem destaques os conceitos de sucessão de modo geral, sendo a sucessão causa mortis a que nos interessa em maior proporção, assim como a evolução histórica desta, que serviu de base para as futuras formas de regular o direito sucessório em todo o mundo, como o direito testamentário do direito Romano.
Foram levantados ainda aspectos históricos que envolvem a legislação foco do estudo no Brasil. Mais especificamente, tratamos o Código Civil de 1916 de maneira especial, visto que serviu de paradigma, juntamente com a Constituição de 1988, para a elaboração do Código Civil de 2002, que, necessariamente, deveria se enquadrar com os ideais trazidos pela Carta Magna de 1988, o que não aconteceu.
É possível notar claramente que o legislador do Código Civil de 2002 se baseou fortemente no antigo código de 1916, em cujo período de promulgação a sociedade brasileira vivia sob forte influência da igreja católica e da figura

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