Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autor: Prof. Guilherme Juliani de Carvalho Colaboradores: Prof. Fábio Pozati Prof André Galhardo Fernandes Gestão de Custos e Finanças em Empresas e Produtos Turísticos Professor conteudista: Guilherme Juliani de Carvalho Mestre em Administração de Empresas – Estratégica de Organizações pela Universidade Fumec (2013), especialista em Planejamento, Gestão e Implementação da Educação a Distância pela Universidade Federal Fluminense (2015), MBA em Gestão de Marketing (2010) e MBA em Gestão de Negócios (2010), ambos pelo Centro Universitário UMA. Graduado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Senac/SP (2016) e graduado em Comunicação Social – Relações Públicas pelo Centro Universitário Newton Paiva (2009). Docente universitário desde 2010 nas áreas de gestão, marketing, projetos e empreendedorismo e gestão. Coordenador de graduação e pós-graduação com publicações em diversos congressos, anais e revistas cientificas, além de capítulos de livros. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C331g Carvalho, Guilherme Juliani de. Gestão de Custos e Finanças em Empresas e Produtos Turísticos / Guilherme Juliani de Carvalho. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 104 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Custos. 2. Organizações. 3. Variação cambial. I. Título. CDU 64.024.1 U507.53 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Nascimento Lucas Ricardi Sumário Gestão de Custos e Finanças em Empresas e Produtos Turísticos APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 CONTABILIDADE DE CUSTOS: APRESENTAÇÃO ................................................................................... 11 1.1 Terminologia em contabilidade de custos ................................................................................. 14 1.2 Custos diretos e indiretos ................................................................................................................. 17 1.2.1 Custos diretos ........................................................................................................................................... 17 1.2.2 Custos indiretos ....................................................................................................................................... 18 1.2.3 Custos mistos, total e unitário .......................................................................................................... 20 1.2.4 Custos fixos e variáveis......................................................................................................................... 21 1.2.5 Custos controláveis e não controláveis ......................................................................................... 24 1.2.6 Custos primários e de transformação ............................................................................................ 25 1.2.7 Custo de produto e mercadoria vendidos .................................................................................... 25 1.2.8 PEPS ou FIFO, UEPS ou LIFO ................................................................................................................ 28 1.2.9 Formação de preço com base nos custos ..................................................................................... 28 2 SISTEMAS DE ACUMULAÇÃO DE CUSTOS ............................................................................................. 33 2.1 Acumulação por ordem ..................................................................................................................... 33 2.2 Acumulação por processo ................................................................................................................. 34 2.3 Acumulação previsional..................................................................................................................... 34 2.4 Acumulação por atividade ................................................................................................................ 34 2.5 Acumulação por responsabilidade ................................................................................................ 35 3 CLASSIFICAÇÃO DE MODELOS DE PRODUÇÃO ................................................................................... 36 3.1 Bases para sistema de acumulação de custos .......................................................................... 37 3.2 Gerenciamento tributário – tributos incidentes sobre o produto turístico: ICMS, PIS, Cofins, ISS e alocação dos custos tributários ............................................................. 38 4 COMPOSIÇÃO JURÍDICA DAS ORGANIZAÇÕES ................................................................................... 42 4.1 Empresa individual ou empresário em nome individual ...................................................... 43 4.2 Sociedade por quotas ......................................................................................................................... 44 4.3 Sociedade anônima ou S.A. .............................................................................................................. 44 4.4 Públicos de interesses de gestão de custos e princípios da contabilidade ................... 45 Unidade II 5 INSTRUMENTO DE ANÁLISES CONTÁBEIS E CUSTOS ........................................................................ 55 5.1 Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) ..................................................................... 55 6 BALANÇO PATRIMONIAL, BALANÇOS SUCESSIVOS E ANÁLISES A PARTIR DO BP (LUCRATIVIDADE, RENTABILIDADE, LIQUIDEZ E ENDIVIDAMENTO) ................................................ 63 6.1 Indicadores possíveis de serem analisados a partir do BP ................................................... 67 6.2 Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) ...................................................................................... 72 6.3 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) ........................................... 77 6.4 Payback ..................................................................................................................................................... 79 7 VARIAÇÃO CAMBIAL E INCIDÊNCIA NOS CUSTOS TURÍSTICOS E IMPORTÂNCIA DO GERENCIAMENTO DE CUSTOS PARA O TURISMO .................................................................................. 82 7.1 Purchasing power parity (PPP) ....................................................................................................... 86 8 EXEMPLO DE UMA ANÁLISE DE CUSTOS EM UMA AGÊNCIA DE TURISMO ............................ 87 7 APRESENTAÇÃO Este livro-texto buscaapresentar diversos conceitos sobre contabilidade de custos, custos, demonstrações de custos e contábeis. Nesta disciplina iremos estudar desde a evolução da contabilidade de custos, passando pelos conceitos atribuídos à gestão de custos, chegando aos métodos de custeio e formação de preço com base em custos. O objetivo aqui é fazer um estudo introdutório sobre a gestão de custos, suas metodologias e sua influência na gestão empresarial, bem como preparar o profissional para gerenciar custos e seus impactos na organização, prezando por lucro justo e competitividade organizacional. Mas, por que estudar contabilidade de custos e sua influência sobre os resultados empresariais? Os custos são fatores significativos nas finanças empresariais e fazem com que as empresas obtenham sucesso ou fracasso, dependendo da forma como sua gestão é feita. Muitos custos passam despercebidos aos olhos dos gestores, porém ao final podem representar um impacto significante sobre o balanço empresarial. Estudar custos é entender a gestão e produção de uma organização, trata-se de saber atribuir responsabilidade a departamentos e gestores, ou seja, ter bases sólidas para analisar e melhorar o desempenho na empresa, entender a dinâmica do mercado consumidor. Para melhor compreensão dos termos e das práticas em gestão de custos, buscou-se trazer diversos exemplos, em diferentes segmentos da economia. Entender como os custos impactam nas organizações tem sido um desafio recorrente nos últimos anos, pois quanto maior eles forem (desde matéria-prima até tributos), maior será o preço final de venda, o que poderá, por consequência, afastar os consumidores. Portanto, gerenciar custos sem abrir mão da qualidade não é uma tarefa simples. Uma empresa deve pagar as taxas legais, impostos e outras taxas relacionadas para formar uma entidade legal. Para fins tributários, tais custos são geralmente capitalizados e amortizados. Este material, então, iniciará suas discussões sobre contabilidade de custos e suas terminologias e chegará até os instrumentos de demonstração contábeis e custos, de forma simplificada e exemplificada. O presente livro-texto mostrará ao estudante a importância e o contexto do gerenciamento de custos para as organizações, exibindo a relevância deste assunto na saúde financeira de uma instituição e na continuidade de suas atividades. Serão apresentados conceitos, técnicas, modelos e exemplos dos principais tópicos de gerenciamento de custos, mostrando que as teorias contábeis, apesar de serem globais, devem ser adaptadas à realidade de cada organização, possibilitando maior eficácia e melhores resultados, obtidos através de um criterioso planejamento organizacional. O objetivo primordial desta disciplina é desenvolver a capacidade do aluno no sentido da obtenção de conhecimentos teóricos e práticos para a utilização e aplicação da contabilidade no mercado turístico e no mercado hoteleiro. Consequentemente, apresentaremos técnicas de escrituração, apuração de resultado e levantamento das demonstrações contábeis (Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício) para aplicação nas empresas do gênero e levaremos ao aluno o conhecimento de técnicas de custo para correta aplicação nas instituições turísticas. 8 INTRODUÇÃO As nítidas divisões entre países capitalistas e não capitalistas datam da década de 1840. Antes do século XIX, não havia, é claro, nenhum capitalista moderno em qualquer lugar. Embora já existissem muitos aspectos referentes a tal modelo antes (especialmente os mecanismos de comércio internacional, direito contratual, bancários e até rudimentares), o sistema capitalista moderno realmente surgiu no início daquele século, por meio do desenvolvimento do sistema fabril, da forma corporativa moderna para organização da empresa, do Banco Central, da eliminação final das obrigações de serviço na Europa Ocidental e da flexibilização ou eliminação de mercantilistas práticas comerciais. Essas características do mundo capitalista moderno surgiram na Inglaterra e em suas colônias, e depois se espalharam para a Europa Ocidental. O capitalismo é um sistema de livre mercado que deve promover a concorrência. Na teoria capitalista, a concorrência leva à inovação e a preços mais acessíveis para os consumidores. Sem ela, um monopólio, oligopólio ou cartel pode se desenvolver. A consolidação do capitalismo, entre vários motivos geopolíticos, econômicos e sociais, associados a uma busca por conquista de novos mercados e exploração de novas terras, foi alavancada pela necessidade de as organizações maximizarem os seus lucros através de inovações tecnológicas, estratégias de marketing e, principalmente, da gestão estratégica dos custos organizacionais. Em um cenário tão competitivo, de alta concorrência, quanto os que as empresas operam nos dias de hoje, cada organização busca uma maneira de se diferenciar, por exemplo, zelar pela saúde financeira da organização através de uma boa gestão de custos. Uma instituição deve gerenciar seus custos sem comprometer a qualidade, a segurança e a satisfação dos seus consumidores. Para isso, é necessário ter um planejamento adequado, informações contábeis disponíveis e um bom sistema que organize estes dados para que os gestores possam tomar as decisões acertadas. A compreensão sobre os custos, saber interpretá-los e usá-los a favor da eficiência e do sucesso da empresa permite o gerenciamento correto dos ganhos (entradas de recursos financeiros na organização) e custos e despesas (saídas de recursos financeiros). A partir do bom gerenciamento de custos, uma organização pode planejar-se para o futuro (investimentos, aquisições), sendo capaz de reter desperdícios, aumentar a produtividade e flexibilizar o preço final de venda. Quando existe uma eficiente gestão de custos, a empresa tende a tomar as melhores decisões, garantindo sua saúde financeira, sua continuidade de funcionamento e o retorno aos diferentes stakeholders envolvidos. Primeiramente, trataremos a respeito da contabilidade de custos, as terminologias adotadas, bem como da importância e das técnicas utilizadas para o gerenciamento de custos. Na sequência serão apresentados os principais instrumentos de demonstração da contabilidade de custos, bem como a importância do gerenciamento de custos para o turismo. 9 Ao final desta disciplina, o estudante estará apto a analisar os custos da organização em que atua, propondo melhorias que visem otimizar os recursos. A fim de tornar isso possível, serão apresentados textos e exemplos do campo de atuação da contabilidade no mercado turístico e no mercado hoteleiro, discutindo os procedimentos contábeis básicos. Haverá conteúdo sobre a aplicação dos conhecimentos da ciência e das técnicas contábeis voltadas à estruturação de balanços e do conjunto das demonstrações contábeis, possibilitando vasto know-how sobre relatórios contábeis e as variações do patrimônio líquido. Todos estes saberes contribuirão para que o profissional consiga gerenciar custos em empresas turísticas e hoteleiras, proporcionando otimização de recursos e maximização dos ganhos. 11 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS Unidade I 1 CONTABILIDADE DE CUSTOS: APRESENTAÇÃO Segundo Iudícibus (2007), os primeiros registros de contabilidade são datados do período medieval, quando o estudo de matemática, pesos e medidas surgiu. A invenção do moinho de vento e o aperfeiçoamento da bússola foram marcos na produção industrial da época, já que o moinho facilitava a fabricação e o melhoramento da bússola abria novos horizontes aos navegadores. Com o crescimento do comércio exterior, impulsionado pelas navegações, veio a necessidade de se controlar os lucros dos comerciantes, e assim surgiu o livro-caixa. O aperfeiçoamento da ciência contábil, ainda de acordo com Iudícibus (2007), aconteceu nos séculos XII e XIII, por meio do advento do capitalismo. E no século XIV, com a formalização das navegaçõese do comércio com outros continentes foi necessário que os custos começassem a ser registrados, por exemplo, os custos de aquisição e da mão de obra e transporte. Eles eram contabilizados (ou registrados) a cada fase do processo de venda, desde a aquisição da matéria-prima, produção, finalização, distribuição e entrega ao consumidor final. Datam destes períodos os primeiros registros da contabilidade de custos. Após as três Revoluções Industriais (que resultaram no uso da energia elétrica como fonte de força para a produção) e o surgimento do modo fordista de produção (fabricação em massa que visa a redução de custos para tornar produtos acessíveis a diversas classes sociais), o mercado evoluiu em paralelo ao crescimento populacional e urbano – as pessoas começaram a migrar do campo para as cidades em busca de melhores condições de vida. Com a chegada da mão de obra nas cidades, a burguesia passou a ter os meios de produção necessários para aumentar sua produtividade e surgiu, então, o modelo de produção denominado fabril, que substituiu o método doméstico ou familiar de produção, predominante até então. A ascensão do modelo fabril é datada de 1780 a 1860 e foi denominada revolução do carvão, uma vez que tinha justamente o minério como principal fonte de energia e o ferro como matéria-prima básica do sistema de produção. O modelo de produção fabril começou a nascer quando o antigo intermediário do sistema doméstico começou a perceber que o sistema doméstico não era bastante ágil e produtivo para atender o crescimento acelerado de centros urbanos e a demanda produtiva, e passou a introduzir mudanças radicais na estrutura da organização produtiva. Levantando vultuosos capitais, inventou a fábrica: tirou o artesão e seus ajudantes de casa, transformou-os em simples assalariados, pondo-os a trabalhar nas instalações e com equipamentos de sua propriedade. Agora, o mestre artesão, bem-conceituado e independente, transformou-se em feitor ou supervisor de fábrica (PASSARELLI; BOMFIM, 2003, p. 10). 12 Unidade I Figura 1 E desta forma nasceu a contabilidade de custos, que, segundo Padoveze (2003), pode ser associada ao surgimento do capitalismo industrial, e o autor ainda afirma que a contabilidade de custos se tornou uma ferramenta de gerenciamento de relevante destaque para as empresas, fornecendo informações que embasem decisões estratégicas e auxiliem os gestores nos investimentos, redução de custos operacionais, precificação de produtos e serviços etc. Lembrete Gerenciar custos é uma atividade alinhada ao capitalismo, visto que as organizações buscam minimizar seus custos e maximizar seus lucros. De acordo com Padoveze (2003), a contabilidade de custos é um sistema contábil que analisa e fornece informações internas (gestores, diretores, conselho administrativo), ao contrário da contabilidade geral, que visa fornecer dados e relatórios para atender necessidades externas (acionistas, governo, fornecedores). Para a construção de relatórios gerenciais em contabilidade de custos, é possível que dados físicos ou monetários sejam pesquisados nas empresas. Chamamos de dados físicos unidades 13 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS produzidas em determinado tempo, quantidade de horas trabalhadas, demanda de estoque. Já os dados monetários são os valores pagos a funcionários, fornecedores, custo de produção. A organização que adota a contabilidade de custos em sua gestão tem mais facilidade para controlar estoques, apurar custos de produção, preço por unidade e valor de venda, embasar orçamentos e projeções de longo prazo. Figura 2 Para Crepaldi (2005), a contabilidade de custos é uma subdivisão da contabilidade geral que foca nos gastos realizados e necessários para que seja possível a comercialização de um produto ou serviço. Ela, ainda segundo o autor, registra toda a movimentação dos fatores de produção que geram algum tipo de custo. Entre suas vantagens pode-se destacar que ela auxilia nas ações de melhorias operacionais das organizações, na determinação de custos por período de produção, nas ações de redução de custos e melhor alocação de recursos, além do embasamento de decisões estratégicas. A contabilidade de custos é, em suma, um ramo da contabilidade que se destina a produzir informações para diversos níveis gerenciais. Ela coleta, classifica e registra os dados operacionais das muitas atividades da empresa. Na maioria das vezes, eles são internos, mas em algumas situações, para adequações mercadológicas, podem ser dados externos que serão comparados àqueles da organização. Eles podem ser históricos, estimados, padronizados ou produzidos pelo profissional de custos. As informações relacionadas à composição e variação do patrimônio são indispensáveis para nortear a administração empresarial, pois possibilitam maior eficiência na gestão econômico-financeira da organização, bem como um melhor controle sobre os bens patrimoniais. Outra vantagem interessante na utilização das ferramentas da contabilidade gerencial pelas agências de viagens é a possibilidade de realizar análises comparativas entre o resultado planejado e o realizado e, consequentemente, verificar o grau de evolução do negócio. Tais ferramentas proporcionam ao administrador a identificação de um problema e disponibilizam as alternativas para resolvê-lo, as quais poderão ser confrontadas a fim de decidir qual a melhor opção. 14 Unidade I 1.1 Terminologia em contabilidade de custos Antes da continuação do estudo da contabilidade de custos e suas influências dentro das organizações é necessário que se conheça alguns termos utilizados pelos profissionais da área. Em muitos casos as pessoas fazem confusão sobre eles, por exemplo, custo e despesa não são sinônimos. Vejamos na sequência alguns deles: • Contabilidade: ato de contabilizar, controlar e averiguar dados empresariais. Para Bierman Jr. (apud LEONE, 1997, p. 3), trata-se da linguagem do negócio em relatórios e dados gerenciais. • Custo: tipo de gasto aplicado à utilização de um bem ou serviço (matéria-prima) para a fabricação do produto final oferecido pela empresa. Por exemplo: a compra de um tecido que será transformado em tapete por uma tapeçaria. O valor gasto com o tecido é um custo de produção. • Gasto: compra de qualquer produto ou serviço que gere, imediatamente, impacto no Balanço Patrimonial da sociedade. Por exemplo: o tecido comprado por uma tapeçaria é um gasto (colocado em estoque), que ao ser utilizado na linha de produção vira um custo. Assef (1999, p. 26) diz que “gastos são os sacrifícios financeiros de uma empresa que podem se tornar investimentos, custos ou despesas”. Observação Se os gastos incorridos em uma empresa de turismo são utilizados na prestação de serviços, a melhor opção sem dúvidas é classificá-los como custo. • Investimento: ocorre quando o gasto tende a gerar progressos para a organização. O investimento para Assef (1999, p. 26) são os processos de melhorias empresariais visando agilidade, aumento da capacidade produtiva e aumento da qualidade. Por exemplo: aquisição de uma nova máquina ou treinamento da equipe de produção. • Despesa: forma de gasto que gera redução imediata nas riquezas da organização. A despesa para Assef (1999) é um gasto necessário para a obtenção de receitas, mas que não estão diretamente ligadas à produção de um bem ou serviço. Por exemplo: a comissão do vendedor é uma despesa, obrigatória para a geração de receita, porém não interfere no custo produtivo. Observação Embora utilizados de forma sinônima pelas pessoas, no gerenciamento de custos os termos gastos, despesas e custos têm significados e impactos diferentes nas organizações. 15 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS A diferenciação entre custos e despesas é de relevante importância para a contabilidade de custos, pois eles estão incorporados no produto (gerador de receita) e as despesas estão diretamente ligadasao resultado do exercício operacional. O custo é relativo ao bem ou serviço utilizado na produção de outro bem ou serviço, o que chamamos de insumos de bens de capitais ou serviços efetuados para a produção de determinados objetos (MARTINS, 2010). Nas palavras de Ferreira (2013), custo é o consumo de um fator de produção, medido em termos monetários para a obtenção de um produto. Vejamos na sequência a explicação dos termos: • Perda: todo o gasto no qual a empresa incorre quando um certo bem ou serviço é consumido de maneira que foge ao controle da organização. As perdas são irrecuperáveis e não são reutilizáveis. • Desperdício: gasto que a empresa tem pela má utilização dos recursos de produção. Eles podem se perder ao longo da produção ou não serem utilizados de forma apropriada. O desperdício aumenta muito o custo unitário de produto acabado. Custos Despesas Investimentos Gastos Figura 3 – Fatores da contabilidade de custos em um produto Percebam na figura anterior que os conceitos estudados até aqui são necessários para a sobrevivência da organização. O custo que o tapete gera para ser produzido é uma forma de gerar receita, bem como as despesas e gastos na produção do produto final. Sem o custo, as despesas e os gastos não existirá produção, e os investimentos se fazem exigidos para agilizar a linha produtiva, aprimorar a qualidade dos itens e, consequentemente, ampliar a participação no mercado, gerando mais receita. De acordo com Martins (2010), é inaceitável que nos dias de hoje uma empresa não saiba seus reais custos, despesas, gastos e investimentos. Para o autor, este controle deve estar alinhado a toda a linha produtiva, logística e administrativa da organização a fim de que os melhores resultados mercadológicos sejam alcançados. Ainda, há quem afirme que a contabilidade de custos deve estar estruturada de forma a embasar decisões gerenciais, aprimorando o planejamento estratégico e tornando a instituição, cada vez mais, competitiva. 16 Unidade I Custos Gastos necessários para a fabricação do produto na venda Despesas Gastos relativos ao funcionamento da empresa Diretos Estão diretamente ligados à produção Variáveis Variam de acordo com quantidade produzida Fixas Acontecem independentemente do volume de vendas Indiretos São apropriados ao produto final por meio de rateio Gastos Fixos Não variam de acordo com quantidade de produção Variáveis Variam de acordo com volume de venda Figura 4 – Distribuição de custos Quadro 1 Terminologia Exemplo no turismo Custos fixos Salário do agente de viagem Custos variáveis Salário de um guia freelance Custos diretos Pagamento da diária do hotel Custos indiretos Pagamento da conta de luz da agência Gastos Manutenção do maquinário da agência 17 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS Terminologia Exemplo no turismo Despesas fixas Ações de marketing Despesas variáveis Comissão do agente de viagem Investimento Comprar um software de melhoria de gestão de reservas 1.2 Custos diretos e indiretos Para melhor entender a importância do estudo dos custos de uma organização e sua influência no retorno financeiro da venda de produtos, é necessário saber qual a relação que o custo estabelece com o produto fabricado, ou seja, é de grande relevância que o gestor saiba se o custo tem influência direta ou indireta com o objeto de custeio (NAKAGAWA, 2010). Quando se fala em finanças o conceito de custos diretos e indiretos é fundamental para o cálculo dos resultados organizacionais. De acordo com Bacic (2011), o profissional de custos deve ter a ciência que desde o cafezinho diário dos funcionários até a contratação de um serviço de marketing para determinado produto geram custos à empresa e é necessário que se diferencie cada um deles para melhor formação do preço de venda e para se obter melhores resultados financeiros. O que faz um custo ser direto ou indireto, basicamente, é a razão pela qual acontecem. Os custos diretos ocorrem exclusivamente para um determinado projeto, já os custos indiretos podem estar associados a diferentes projetos simultaneamente. 1.2.1 Custos diretos Custos diretos são aqueles que podem ser identificados, claramente, durante a produção, ou seja, o custo direto está diretamente relacionado a um produto, serviço ou função e pode ser atribuído a um centro de custo da empresa. Para que esta atribuição aconteça, no custo direto, é desnecessário que haja rateio de custo, uma vez que o custo direto representa influência isolada em cada item e são passíveis de serem incluídos, integralmente, no cálculo do preço final, além de poderem ser mensurados ao longo da produção por unidade produzida (PADOVEZE, 2010). Alguns exemplos de custo direto: • Profissional especializado para o desenvolvimento de um determinado projeto: uma empresa decide criar um website e, portanto, necessita contratar um web designer. Este profissional está envolvido, exclusivamente, com a criação do site, então, ele é um custo direto para o projeto. • Mão de obra: é possível alocar a quantidade de horas trabalhadas por cada funcionário para a produção de uma unidade do produto. Por exemplo, um pintor de lataria de um carro gasta 45 minutos para finalizar seu serviço, logo, o custo deste profissional por veículo produzido é de 0,75 horas trabalhadas. 18 Unidade I • Embalagens: para cada produto finalizado na linha de produção é necessária uma embalagem, logo, o custo dela pode ser, diretamente, alocado ao custo final do objeto. • Matéria-prima: ao se desenvolver um produto a organização deve calcular qual a quantidade de matéria-prima para a fabricação. Uma panificadora, por exemplo, calculou que para o cento de pão francês produzido são necessários 4 kg de farinha de trigo, logo, cada item consome 40 g da farinha. Couro Linha Tela protetora Borracha Figura 5 – Matéria-prima direta de um produto Vejam o exemplo anterior: Toma-se como base que uma bola de futebol para ser fabricada necessite apenas de couro, linha de costura, tela de proteção da borracha e borracha. Uma indústria esportiva é capaz de determinar a quantidade necessária de cada matéria-prima para a produção da bola, por exemplo, 1 m de couro, 30 m de linha de costura, 6 m de tela de proteção e 2 kg de borracha. Podem ser incluídos, ainda, como custo direto da fabricação dela, o responsável contratado para fazer a arte (decoração, cores, imagens), o profissional que está na linha de produção fazendo cada uma das bolas e a embalagem do produto final. Observação Em uma agência de viagens, o salário dos agentes de viagem é um exemplo de custo direto. 1.2.2 Custos indiretos Custos indiretos, por sua vez, são aqueles que não estão alocados, exclusivamente, em um projeto. Eles são atribuídos ao produto final em modelo de rateio (formas de rateio de custos serão vistas mais adiante neste material), uma vez que são considerados custos indiretos todos aqueles custos necessários para o funcionamento de uma organização, mas que não estão associados, unicamente, a uma linha de produto ou projeto da empresa (PADOVEZE, 2010). Trata-se daqueles itens que, embora necessários à produção, representam basicamente a estrutura produtiva da instituição, servindo para a fabricação de diversos bens, e por isso não podem ser relacionados a um objeto específico, exceto se a sociedade manufaturar uma única mercadoria. A alocação dos custos indiretos é um processo que permite que este custo seja atribuído aos produtos. 19 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS Alguns exemplos de custos indiretos: • Aluguel do espaço físico: alugar um espaço para instalar uma indústria representa um custo indireto, uma vez que aquele local será utilizado pela administração, produção de diferentes objetos, estoque de produtos a serem vendidos e matéria-prima. Ou seja, o aluguel deve ser dividido por tudo que ocupa o espaço físico, e não apenas alocado em uma linha deproduto. • Energia elétrica: a energia elétrica de uma empresa é fornecida para máquinas de produção, computadores da administração, iluminação das salas etc. • Mão de obra não envolvida na produção: administradores, gerentes, supervisores, recepcionistas e outras funções que estão envolvidas com todo o funcionamento da organização também são considerados custos indiretos, pois não estão associados em nenhum projeto em específico. • Depreciação de maquinário: computadores, máquinas, carros, caminhões e outros equipamentos sofrem uma depreciação de 10% ao ano, segundo a Receita Federal do Brasil (2011). Esta depreciação é considerada um custo indireto, pois o uso dos equipamentos está envolvido em diferentes projetos da organização. Exemplo de aplicação Um agente de viagens busca entender quais são os custos direitos e os custos indiretos da sua agência. Vamos ajudá-lo? Reflita a respeito e construa uma planilha apontando quais são eles. O Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (2018) afirma que os custos indiretos obrigatoriamente devem passar por um sistema de rateio para que sejam alocados de forma objetiva e segura ao custo final geral da produção. Martins (2010) mostra que a análise de tais custos deve ser criteriosa e minuciosa, uma vez que eles não estão claramente definidos sobre o produto final, e que realizar um rateio de forma aleatória e incorreta pode gerar resultados distorcidos e prejudicar a organização em seu planejamento financeiro e nos resultados operacionais. Considerando o exemplo da produção da bola de futebol, utilizado nos custos diretos, podem ser citados como custos indiretos: o aluguel da fábrica, o salário da equipe administrativa, a energia elétrica, o salário do supervisor de produção e a depreciação do caminhão usado no transporte do produto final. Após entender os conceitos de custos diretos e indiretos pode-se perceber que alguns custos são alocados diretamente ao produto e outros, não, devendo estes ser rateados no produto final. Alguns custos podem desempenhar função direta ou indireta dependendo da forma como são utilizados pela empresa. O salário de um funcionário da linha de produção, por exemplo: se este trabalhador desempenhar apenas uma função, ligada a um único produto – um colaborador é responsável pela pintura da lataria de carros de grande porte de uma montadora, e desenvolve apenas tal função –, é um custo direto. Mas, se esta mesma pessoa for responsável pela pintura de todos os automóveis dali, não levando em consideração o tamanho do veículo e o tempo gasto na pintura, o custo da mão de obra se tornará indireto. 20 Unidade I Custos DiretosIndiretos Rateio dos custos Produto A Produto B Produto C Figura 6 – Custos diretos e indiretos Percebam, na figura anterior, que os custos indiretos, antes de serem alocados ao produto final, passam por um rateio, já os custos diretos não necessitam ser rateados e já são, diretamente, atribuídos ao produto específico. 1.2.3 Custos mistos, total e unitário Vejamos a seguir a definição dos itens: • Custos mistos: são aqueles que apresentam uma certa variação em função do nível de produção, mas que têm uma parte fixa mensal. Esta parte fixa deverá ser paga mesmo que nada seja produzido, por exemplo, a energia elétrica e o material de uso indireto na produção. • Custo total e custo unitário: o custo total de produção corresponde a todos os elementos que participaram do processo produtivo. É constituído por materiais usados no processo industrial, mão de obra e custos indiretos. Já o custo unitário é o resultado da divisão do custo total pela quantidade de produtos acabados. Este cálculo de custo unitário não pode ser utilizado para o cálculo de custo de produção por encomenda. 21 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS Pode ser alocado em centro de custos e produtos, e é facilmente identificado por unidade produzida Matéria-prima que pode ser associada por unidade produzida, por exemplo, embalagem de cada produto Não pode ser alocado a um item específico da empresa. É apropriado ao final da produção Custo do funcionário que trabalha diretamente na produção de determinado bem Todo custo envolvido na produção e que não pode ser alocado individualmente a cada unidade produzida Custo direto Matéria-prima direta Custo indireto Mão de obra direta Custo indireto de produção Figura 7 – Resumo de custos diretos e indiretos 1.2.4 Custos fixos e variáveis Os custos podem adquirir diferentes, e simultâneas, classificações ao longo do processo produtivo de uma empresa. Quanto ao volume de produção, Gusmão e Almeida (2009) classificam os custos em fixos e variáveis. Custos fixos, para os referidos autores, são aqueles que permanecem inalterados em caso de aumento ou diminuição da quantidade produzida, ou seja, indiferentemente do nível operacional da indústria os custos fixos permanecem os mesmos. Gusmão e Almeida (2009) dizem que tais custos irão ocorrer todos os meses para a organização, quer a empresa produza, quer não. Se uma companhia tem uma folha de pagamento salarial de R$ 25.000,00 por mês, indiferentemente de ela produzir 1.000 ou 2.000 unidades a serem vendidas, a sua folha salarial continuará idêntica. Porém, deve-se ter ciência de que quanto mais unidades forem produzidas, menor será o custo fixo unitário após a venda, conforme veremos no quadro a seguir. Tem-se como exemplo de custo fixo: salários, aluguel e limpeza. Vale ressaltar que os custos, mesmo sendo fixos, sofrem alteração de valor em algum momento do processo, como o aumento de aluguel, o aumento anual de salários etc. Os custos fixos, normalmente, são associados aos custos indiretos. Podemos citar: valor de aluguel, taxa de condomínio, IPTU, assessoria contábil, água, luz, telefones e acesso à internet, salários administrativos e pró-labore, limpeza e impostos. 22 Unidade I Exemplo 1 – Relação entre custos fixos e unidades produzidas Uma indústria paga, mensalmente, R$ 10.000,00 de aluguel pelo seu espaço físico. Ela possui uma única linha de produtos, que é um modelo de armário para cozinha. Se a companhia manufaturar 2.000 peças no mês de fevereiro, logo o valor do aluguel ficará em R$ 5,00 por unidade produzida. Porém, no mês seguinte a empresa irá produzir 2.500 armários, e logo, o valor do aluguel por unidade fabricada ficará em R$ 4,00. Desta forma, pode-se inferir que o custo fixo é indiretamente proporcional à quantidade produzida. Os custos variáveis, por sua vez, representam aqueles custos que irão variar de acordo com a quantidade produzida, assim sendo, Gusmão e Almeida (2009) dizem que os custos variáveis são aqueles que se modificam proporcionalmente ao número de unidades produzidas. Estes, ao fim do período de produção, representarão um acréscimo de valores ao processo produtivo para mais, caso a manufatura tenha aumentado, ou para menos, caso ela tenha diminuído. São exemplos de custos variáveis: matéria-prima, energia, comissão de vendas, investimento em marketing para um determinado produto, embalagem. Os custos variáveis pertencem ao grupo dos custos diretos. Veja o exemplo a seguir: Exemplo 2 – Relação entre custos variáveis e unidades produzidas Uma fábrica de chocolates consome diariamente 30 kg de pasta de cacau para fabricar seus produtos. Cada kg custa R$ 10,00, sendo que cada um deles origina 50 bombons. Ao final do dia, a empresa, a um custo direto de R$ 300,00, produziu 1.500 unidades de bombons. No período da Páscoa, a fábrica necessita aumentar sua produção para 4.000 unidades ao dia; logo, necessitará elevar seus custos e sua utilização de matéria-prima. Assim sendo, para fazer os 4.000 bombons, ela utilizará 80 kg de pasta de cacau e terá um custo de R$ 800,00. Desta forma, pode-se inferir que o custo variável aumenta de acordo com o crescimento da produção ou diminui de acordo com a queda dela. Assim sendo, os custos variáveis são diretamente proporcionaisà quantidade fabricada. Uma terceira classificação dos custos, porém pouco utilizada nas organizações, é a do custo semivariável. Estes são representados por aqueles que têm uma parcela diretamente proporcional à quantidade produzida e outra parte indiretamente proporcional à quantidade fabricada. Um exemplo de custo semivariável é o caminhão de entrega dos produtos. A depreciação causada pelo seu uso é um custo fixo, seja transportando 1 ou 1.000 unidades ela acontecerá. Por outro lado, o consumo do combustível é um custo variável, pois quanto mais entregas a empresa tiver que fazer, mais combustível será consumido, aumentando assim o custo por unidade produzida. Vejam, agora, o gráfico que representa os custos fixos e variáveis em uma linha de produção. A linha verde representa o custo fixo e a linha vermelha, o custo variável. Percebam que o produto, ao entrar na linha de produção, já acumula um custo, que é o fixo, vindo de aluguel, salários e outros. O custo variável começa do zero, a partir do início da fabricação. 23 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS Custos Custos variáveis Custos fixos Quantidade produzida Figura 8 – Custos fixos e variáveis Observação Os custos variáveis em turismo estão diretamente ligados à quantidade de turistas/passageiros/hóspedes que o empreendimento tiver. Quanto mais consumidores de serviços turísticos, mais custos variáveis o empreendimento terá. Veja este exemplo de gerenciamento dos custos em uma agência de turismo de pequeno porte: Matéria-prima Energia Mão de obra Depreciação Aluguel Energia Produção em andamento Estoque de produto acabado Resultado Vendas (-) CPV (=) Res. bruto (+) Desp. admin. (-) Desp. venda (=) Res. líquido Despesas administrativas Despesas de vendas Despesas de vendas C V C F D F D V D F Custos do produto Figura 9 24 Unidade I 1.2.5 Custos controláveis e não controláveis Deve-se sempre lembrar que custo é todo gasto relativo ao processo de produção de um bem em uma empresa, que gere resultados financeiros, ou seja, tudo aquilo que é produzido para venda. Os custos além de fixos e variáveis, e diretos e indiretos, podem ser classificados como controláveis e não controláveis. Iudícibus (1993, p. 250) diz que “custos controláveis são aqueles custos passíveis de serem influenciados diretamente pelo gestor durante um determinado período”. Melhor dizendo, são aqueles que podem ser influenciados por uma decisão gerencial ao longo do processo produtivo. Exige-se bastante conhecimento do processo produtivo, realismo e sensatez do gestor ao interferir em um custo controlável. Catelli e Guerreiro (1992) apontam que os custos controláveis, normalmente, pertencem ao grupo de custos variáveis e citam como exemplos dele: matéria-prima, combustível, energia e estoque. Já os custos não controláveis pertencem, em sua maioria, ao grupo dos custos fixos e não interferem diretamente nas decisões tomadas pelos gestores. Eles não podem sofrer qualquer influência da gerência. Como exemplos, citaremos: a depreciação do maquinário, o aluguel do espaço físico e os impostos. Apesar de não interferirem diretamente nas decisões gerenciais, os custos não controláveis devem ser alocados ao produto final para que a venda destes pague a operacionalização da empresa. Algumas organizações, por descuido, atribuem ao preço de venda apenas os custos controláveis e acabam tendo prejuízo ao final do processo. Outro fator que influencia nos resultados operacionais e está classificado como um custo não controlável é a devolução de produtos por falta de qualidade, por isso, o gerenciamento da qualidade da produção e a entrega de objetos em perfeitas condições de venda e uso são ações que a companhia deve tomar para reduzir os custos não controláveis oriundos da insatisfação do cliente. Figura 10 – Cliente insatisfeito Um cliente insatisfeito, mesmo que seja a minoria, significa custo não controlável para a organização, isso porque o produto é devolvido e não pode ser reutilizado ou revendido, o cliente deixa de fazer novas compras e a credibilidade da empresa passa a ser questionada. 25 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS Saiba mais Quer entender melhor como um cliente insatisfeito pode aumentar os custos das organizações? Leia o artigo a seguir: RAMPINELLI, F. Quanto custa um cliente insatisfeito? [on-line]: DDS, 2015. Disponível em: https://www.dds.com.br/blog/index.php/quanto- custa-um-cliente-insatisfeito/. Acesso em: 7 maio 2020. 1.2.6 Custos primários e de transformação Uma classificação bem comum dada aos custos é a de custo primário. Trata-se dos custos que apresentam a soma do custo da mão de obra e da matéria-prima aplicadas diretamente sobre a produção. De forma geral, incluem: matéria-prima, embalagens e mão de obra direta. Assim sendo, os custos primários podem ser expressos através da fórmula CP = MP + MOD. Porém, não é um custo totalmente confiável, uma vez que não leva em consideração a depreciação das máquinas e outros gastos que podem ser considerados diretos. Outra classificação muito importante e com constante citação é a de custos de transformação. Trata-se da somatória dos custos indiretos e da mão de obra utilizada na linha de produção. Portanto, só é possível calcular o custo de transformação ao fim da produção, ou seja, só se obtém o custo de transformação da produção acabada. De forma geral, o custo geral é a soma de todo o esforço realizado na transformação de matéria-prima em produto acabado. Estão incluídos: mão de obra direta e indireta e energia. Embalagens e matéria-prima são exemplos de custos que não são incluídos em custos de transformação. 1.2.7 Custo de produto e mercadoria vendidos Toda a produção de uma empresa quando é vendida gera uma despesa para a organização. Estas despesas são conhecidas como Custo de Produto Vendido (CPV) e Custo de Mercadoria Vendida (CMV). Deve-se considerar que o CPV é a somatória de todos os custos acumulados na fabricação de produtos em um determinado período. Segundo Iudícibus e Marion (2007), o custo de mercadoria vendida está diretamente ligado ao estoque de produtos acabados e matéria-prima, uma vez para a manufatura acontecem baixas no estoque de matéria-prima e para a venda acontecem baixas no estoque de produtos acabados, ou seja, quanto maior a produção e a venda, maior será a baixa do estoque. O CPV e o CMV devem estar bem apresentados na Demonstração do Resultado. Ambos são considerados como uma despesa porque nela estão expostos apenas despesas e receitas, e não custos. O CMV deve ser contabilizado a cada venda feita pela organização, debitando o CMV e creditando o estoque. Uma forma de se calculá-lo é, ao final de um período, fazer a diferença entre o estoque existente e o estoque inicial. Com base nos argumentos de Martins (2010), o estoque existente no início do período é acrescido pela contabilização das compras. Quando se verifica a quantidade de cada item 26 Unidade I no estoque e o seu valor na última compra é possível calcular o CMV, pois este cálculo é o resultado da diferença entre o estoque inicial e o estoque final acrescido da contabilização das compras. Vejamos o exemplo de CMV: Uma empresa X tem R$ 50,00 de estoque inicial (EI). Durante o mês ela compra R$ 300,00 de mercadoria (compras), e ao final do período de contabilização de vendas ela identifica um estoque restante de R$ 70,00 (EF). Neste caso, o custo de mercadoria vendida da empresa é de R$ 280,00 (50 + 300 - 70), ou seja, o CMV pode ser calculado através da fórmula: CMV = EI + Compras - EF E ainda, caso esta companhia tenha algum outro gasto durante a compra de mercadorias, por exemplo, frete, este valor deverá entrar na fórmula, como pode ser visto a seguir: CMV = EI + Compras + Frete - EF Para que se consiga entender o estoque inicial e final, existe uma técnica chamada de inventário que contabiliza a mudança de estoque. A fimde realizar o cálculo da CMV, existem duas formas de se elaborar este inventário: o inventário periódico e o permanente. • Inventário periódico: de acordo com Martins (2010), esta modalidade de inventário consiste em fazer um levantamento físico do estoque de mercadorias disponíveis para venda (inicial) e o estoque final em um determinado período. Consequentemente, não existe um controle paralelo de vendas e estoque no decorrer do processo de comercialização, o controle só existe ao término do período registrado. • Inventário permanente: o estoque é controlado de forma contínua, dando baixa em cada venda efetuada durante determinado período. Ou seja, vende mercadoria, dá baixa no estoque e faz a diferença entre o estoque final e inicial. No inventário permanente é possível a utilização de uma Ficha de Controle para se saber a situação do estoque, já no caso do inventário periódico só dá para se conhecer o status do estoque com averiguação física das mercadorias disponíveis para venda. Diante disto, pode-se concluir que a apuração do CPV é a última etapa que o profissional responsável pelo gerenciamento de custos deve calcular nos custos empresariais, pois além de incluir os estoques iniciais e finais, possui os insumos utilizados na produção e a mão de obra direta aplicada nos produtos vendidos. Para tanto, é necessário que sejam separados custos de despesas e custos diretos dos indiretos, e que seja feito o rateio de custos de produção. Desta forma, a fórmula utilizada para cálculo do CPV é: CPV = EI + (Insumos + Mão de obra direta + Gastos gerais de fabricação) - EF 27 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS Os gastos gerais de fabricação são os custos indiretos, como aluguel, energia, depreciação, mão de obra indireta e outros, que devem ser rateados por unidade produzida. Vejamos um exemplo de CPV: Uma empresa denominada Bom Sucesso apresenta os seguintes dados para um período contábil de um ano. Considere que os valores são aleatórios, apenas com fins de exemplificação: Tabela 1 Item Valor Estoque inicial R$ 100.000,00 Compras de mercadorias R$ 550.000,00 ICMS R$ 85.000,00 Frete R$ 20.000,00 Mão de obra direta R$ 370.000,00 Gastos gerais de fabricação R$ 415.000,00 Estoque final R$ 95.000,00 Desta forma, temos que o CPV será: EI + Compras + Frete - ICMS + Mão de obra direta + Gastos gerais de fabricação - Estoque final Portanto, o custo de produto vendido da empresa Bom Sucesso será de R$ 1.275.000,00. Caso ela tenha comercializado 25.000 unidades ao longo do ano em questão, pode-se inferir que o custo unitário de produto vendido (CuPV) é de: R$ 51,00. CuPV = CPV/quantidade de produtos comercializadas Mas, afinal, o que difere a mercadoria de produto? O produto é o resultado de uma linha de produção própria que pode ser vendido a um consumidor final (sem intermediários de venda entre produtor e consumidor) e a mercadoria é um item adquirido por um intermediário para que possa ser feita a venda para o consumidor final. Por exemplo, uma montadora de carro, ao vender veículos para uma concessionária, ela está negociando produtos, porém se esta mesma montadora resolver fazer um feirão de vendas diretas ao consumidor final, ela estará negociando mercadorias. Percebam, que um mesmo bem sendo vendido pode desempenhar o papel de produto ou serviço, dependendo da forma como está sendo negociado. Observação Nem sempre reduzir o CuPV significa diminuir o preço de venda ao consumidor final. Para baixar o preço final, é necessário rever margem de lucro, metas das organizações e atuação da concorrência. 28 Unidade I 1.2.8 PEPS ou FIFO, UEPS ou LIFO A gestão de custos para cálculo do preço de mercadoria vendida com base em estoque deve levar em consideração dois sistemas dinâmicos de logística do estoque conhecidos como PEPS e UEPS. O PEPS ou FIFO, de acordo com Iudícibus (2007), é um sistema logístico que na língua inglesa é conhecido como first in first out, ou seja, o primeiro que entra é o primeiro que sai. Na prática, este sistema logístico consiste em vender primeiro os produtos que foram comprados antes. Neste caso a mercadoria é vendida pelo preço inicial de formação do estoque, por exemplo, se um estoque de carros tem 10 automóveis no dia 02/05/200xx, a um preço de venda de R$ 35.000,00 cada, ainda que o mercado sofra alterações de preço a partir desta data, estes veículos serão vendidos a este preço, pois foram os primeiros a entrar no estoque antes da alteração, e devem sair antes da entrada de novos automóveis com preço alterados. Portanto, quem dita o preço de venda é o primeiro item a entrar em estoque. Consequentemente, o novo preço só será praticado a partir do novo lote de produção que entrar. Uma das desvantagens mais visíveis deste modelo é o fato que o gestor terá que ter controle sobre vários lotes de produção diferentes ao mesmo tempo e muitas vezes, devido à inflação, existe um custo real da produção que não pode ser repassado ao produto através da metodologia PEPS. Já o UEPS, com base na obra de Martins (2010), faz o contrário do sistema anterior, vende primeiro as últimas peças que entraram em estoque. Em inglês este termo quer dizer last in first out. Considerando o exemplo anterior de estoque de automóveis, se após formação do estoque inicial com preço de venda de R$ 35.000,00, uma alteração mercadológica fizesse com que os novos veículos fossem para estoque para serem vendidos a R$ 38.000,00, todos os carros deveriam ser vendidos ao preço de 38 mil, mesmo aqueles que já estavam em estoque, porque quem dita o preço é o último a entrar. Este método, porém, não é permitido pela legislação brasileira, por poder gerar superlucro para as empresas. Já o UEPS pode dificultar o cálculo real do preço unitário de produto acabado, uma vez que o aumento de preço de diferentes lotes deve ser rateado entre os lotes já existentes. Na contabilização de resultados, o UEPS pode apresentar um custo maior e menor margem de lucro, mas o PEPS pode demonstrar uma margem muito alta, que não corresponde à realidade da empresa e do mercado. 1.2.9 Formação de preço com base nos custos Determinar o preço de um produto é uma tarefa que exige muito conhecimento, atenção e sintonia do profissional com o mercado, com a organização e a realidade econômica do país. O preço de um objeto deve levar em conta o custo de produção, o preço estabelecido pela concorrência, o custo de fornecedores etc. O estabelecimento do preço de venda dos produtos da empresa é que pode contribuir para o sucesso, rentabilidade e lucratividade de uma organização, ou gerar prejuízos, altos custos e problemas financeiros. Oliveira e Perez Jr. (2000) sugerem que fixar preço de produtos deve levar em consideração algumas variáveis, como: custo de produto e custo de produto vendido, a margem de lucro pretendida, a projeção de vendas em um determinado período, os custos indiretos, o preço da concorrência, a percepção de 29 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS valor do consumidor. Ainda segundo os autores, é possível notar que nenhuma variável deve ser levada em conta isoladamente, mas em conjuntos, detalhadamente estudados e analisados. Kotler e Keller (2006) já diziam que o preço de um produto deve ser suficientemente alto para gerar lucro para a empresa, mas não alto o suficiente para desestimular a compra e destoar da concorrência. O preço de um item, para eles, deve ser baixo para estimular o consumo, mas não tão baixo que deprecie a qualidade e o valor da marca e acabe gerando prejuízos à companhia. Ainda, com base em Kotler e Keller (2006), é possível discutir a formação do preço a ser cobrado pautado em métodos que convergem para precificação com base no valor e no mercado e estratégias fundamentadas nos custos. Yamashita e Boeger (2005) classificam seis etapas para a precificação: saber qual objetivo a empresa quer alcançar com o preço, compreender qual a demanda de produtose serviços, conhecer o que determina seus custos, analisar a concorrência, selecionar qual método de precificação considerando os 3Cs (custos, concorrência e clientes) e, por fim, selecionar o preço final a partir do que o cliente quer e está disposto a pagar. Também deve-se considerar o público-alvo pretendido, a oscilação da procura e capacidade de carga, uma vez que não se pode vender mais que a capacidade total, porque no turismo os produtos/serviços não são estocáveis. Percebe-se, assim, a complexidade da formação do preço no setor do turismo. Uma das formas mais comuns utilizadas pelas empresas turísticas para determinar seu preço de venda é o método Mark Up. Esta metodologia consiste em somar ao preço de custo de produção do produto uma margem de lucro desejada. Vejamos o exemplo: Vamos tomar por base uma empresa que produz talheres e paga pela chapa de aço (custo) R$ 1,00. Soma-se a este valor o ICMS de 18%, o PIS e o Cofins de 4,65%. Ainda, deve-se adicionar no custo total a comissão de venda de 2,5%, custos indiretos de 6% e a pretensão de se ter uma margem de lucro de 20%. O preço de venda inicial é de 100% do valor total. Assim sendo, temos: • Preço de venda: 100% • ICMS: 18% • Pis e Cofins: 4,65% • Comissão de venda: 2,5% • Custos indiretos: 6% • Lucro desejado: 20% 30 Unidade I Ao final, temos que o Custo Total de Venda (CTV) é de 51,15%. Para se calcular o mark up, utiliza-se a seguinte fórmula: MkUp = (PV - CTV) / 100 Neste caso do exemplo, temos então que: 100 - 51,15 / 100 48,85 / 100 0,4885 Portanto, o fator de mark up neste exemplo é de 0,4885 sobre o custo total. Ou seja, se o custo total de produção do talher for R$ 0,85 por unidade, o preço de venda do produto será de R$ 1,26. Este valor é chamado de preço base, e pode ser modificado quando se leva em conta o preço dos concorrentes, o volume de vendas, o prazo de produção e entrega, a qualidade, a situação econômica e o perfil do consumidor. Algumas formas de se calcular o preço de venda com base nos custos podem ser feitas do seguinte modelo: • Preço com base no custo pleno: os preços são estabelecidos levando-se em consideração os custos integrais do produto (diretos e indiretos) e a margem de lucro que se deseja obter. • Preço com base no custo de transformação: custo que não envolve a matéria-prima direta utilizada na produção, apenas a mão de obra direta e os custos indiretos. Neste caso, a formação do preço não leva em consideração o rateio da matéria-prima. Para se formar o preço de uma forma correta, os profissionais da área devem: • considerar os aspectos da economia nacional e poder de consumo do público-alvo; • planejar as projeções de venda para cada período, não ignorando os ciclos de sazonalidade; • ter noção clara da margem de lucro, de rentabilidade e lucratividade pretendidas; • investir em diferenciais para conquistar o consumidor, e não simplesmente abaixar o preço de acordo com a concorrência; • minimizar custos com estoques e linha de produção; • aumentar o giro de mercadoria, a qualidade e a eficiência produtiva. 31 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS Muitas vezes as empresas aumentam ou diminuem seus preços de acordo com a concorrência e isso pode ser perigoso. Apesar de ter que levar em conta as práticas da concorrência, é necessário que se analise os reais custos da sua organização, pois se o seu preço estiver muito acima do mercado, isso poderá ser um erro de produção ou administração que gerará aumento dos custos diretos e indiretos; por outro lado, se o preço estiver muito abaixo do mercado, poderá parecer como depreciador para o consumidor, e seus lucros e resultados operacionais poderão ficar comprometidos. A concorrência deve servir como um norte, mas não como um fator decisivo. É necessário que se crie valor agregado ao produto, aumente a percepção de valor por parte do público-alvo, crie diferenciais para que sua organização e suas linhas de produtos estejam sempre em evidências. Preço, na atualidade, não é um elemento decisivo para compra. As pessoas estão dispostas a pagar mais, desde que tenham qualidade, cumprimento de prazos, assistência e bom atendimento. Consta no dicionário Michaelis (2020) que fixar significa “determinar ou estabelecer” e que preço é a “quantidade monetária necessária para a aquisição de um bem ou serviço”, e saber equilibrar estes fatores é um desafio do profissional de custos e finanças. O estabelecimento do preço de um produto afeta diária e diretamente a dinâmica empresarial, e isso independe do seu porte, segmento ou setor econômico de atuação. Um erro na formação do preço pode custar caro para a organização, afetando toda sua cadeia produtiva, comprometendo os resultados operacionais e gerando prejuízos que podem levar à falência. Lembrete Fixar preço é uma questão de compreender o conjunto, o todo da empresa, desde os custos indiretos, variáveis, fixos e diretos, até o mercado em que se está inserido e o público que se pretende atingir. Vejamos o exemplo de como iniciar a formação do preço de vendas em turismo. Usaremos como modelo um pacote de viagem para uma praia próxima à cidade de São Paulo, com duração de um fim de semana (saída sábado de manhã e retorno domingo após o almoço). Coloquemos em uma planilha os custos que teremos com o serviço turístico, por pessoa: Tabela 2 Item Valor Transporte 30,00 por pessoa Hotel 100,00 por pessoa Guia 15,00 por pessoa Alimentação 55,00 por pessoa Seguro viagem 15,00 por pessoa 32 Unidade I Vejam que de acordo com a tabela anterior o custo operacional deste pacote é de R$ 201,00 por pessoa. A este valor devemos ainda acrescentar o lucro pretendido, os impostos e a comissão do vendedor, além da taxa do cartão. Os tributos básicos cobrados são PIS (0,65%), Cofins (3%) e ISS (5% para o munícipio de São Paulo, consulte a alíquota do seu munícipio). Temos que pagar, então, 8,65% de impostos, o que finaliza o preço do pacote em R$ 218,39. Entretanto, ainda faltam a taxa do cartão de crédito (4%), o lucro e a comissão do vendedor. Supondo que a comissão do vendedor seja de 2%, deve-se acrescentar a cada pacote R$ 4,36. Se o lucro pretendido for de 15%, é preciso adicionar um valor de R$ 33,42 por passageiro. Portanto, o preço final de venda deste pacote é de aproximadamente R$ 257,00 caso a venda seja feita à vista. Se a venda for feita no cartão, basta somar 4% a este valor. Saiba mais Quer obter informações adicionais sobre a origem dos custos nos passeios turísticos? Acesse o link a seguir: RIHAN, T. Precificação de passeios e serviços turísticos. [on-line]: Udeet, 2018. Disponível em: https://udeet.com/site/precificacao-de-passeios-e- servicos-turisticos/. Acesso em: 7 maio 2020. Lembrete Gerenciar os custos de uma organização deve considerar todo o processo operacional da empresa, e não apenas o custo monetário em si. A logística, a demanda, a relação com o mercado e a concorrência são alguns dos fatores que impactam na gestão de custos. Reduzir custos é um dos principais objetivos da gestão de custos. Na agência de turismo, deve-se rever seus custos fixos, aumentar sua margem de lucro e evitar despesas desnecessárias para poder melhorar a saúde financeira de sua empresa. Observação Conforme Rodrigues et al. (2014), a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) aponta que praticamente 70% dos custos hoteleiros são classificados como fixos. Portanto, grande parte dos custos de um hotel se fazem presentes, mesmo que os quartos estejam vazios. 33 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS 2 SISTEMAS DE ACUMULAÇÃO DE CUSTOS O sistema de acumulação de custos tem relação com o ambiente em que acontecem e operam os sistemas e o custeio, nas suas diferentes formas (LEONE, 1997). O objetivo do sistema mencionado é identificar, coletar, processar, armazenar e produzir informações referentes aos custos operacionais capazes de embasar as decisõesestratégicas dos gestores. Cada empresa pode adotar uma forma de sistema de acumulação de custo, e isso vai depender do bem produzido, do modelo de gestão e do processo produtivo adotado. De forma geral, este sistema corresponde ao registro ou escrituração dos dados relativos aos custos de produção e venda (CREPALDI, 2005). Existem diferentes modelos de sistema de custo que podem ser classificadas quanto ao: • modelo de processo produtivo; • modelo de gestão empresarial. Para um fidedigno sistema de custo, é necessário que o profissional conheça todo o modelo produtivo da organização a fim de que possa decidir qual o melhor formato de custeio para a empresa. Vejamos a figura a seguir: Ordem Processo Ordem Produto Produto Processo Atividade Critérios de acumulação de custos Previsionais Responsabilidade Figura 11 – Acumulação de custos No esquema anterior é possível perceber os critérios de acumulação de custos, que podem ocorrer por ordem, processo, atividade, previsional ou responsabilidade. 2.1 Acumulação por ordem Acontece, na melhor forma, quando uma empresa tem sua linha produtiva baseada em encomendas. Este sistema é mais indicado para companhias que não têm um modelo produtivo repetitivo, que trabalha com linhas de produtos exclusivas e diferenciadas. Como o padrão de produção é mais detalhado, o custo da mão de obra e da matéria-prima são alocados a cada item antes de sua finalização e os custos indiretos são preestabelecidos. Exemplos de organização que melhor se adapta a este modelo são as produções caseiras (uma boleira, por exemplo), um carro personalizado, móveis planejados. Este sistema custeia o produto (CREPALDI, 2005). 34 Unidade I 2.2 Acumulação por processo É mais utilizado nas empresas em que o processo produtivo é realizado em série, contínuo e sem intervalos. Neste caso é sugerido que o controle de custos seja feito pelas etapas da produção e ao final haja a divisão do custo pela quantidade produzida naquele período. Por meio da utilização desta estrutura, os custos são acumulados a cada fase da produção e alocados aos produtos finalizados. Um exemplo de empresa no qual tal acumulação funciona bem é em uma indústria de geladeiras, carros, móveis padronizados. Este sistema custeia o processo produtivo (LEONE, 1997). Existe a possibilidade de que se estabeleça um paralelo entre os dois modelos de acumulação de custos apresentados até o momento: Quadro 2 – Comparativo entre sistemas de acumulação de custos Aspecto Ordem Processo Produção Determinada pelo cliente Determinada pelo fabricante Mercado Segmentado Massa Estoque Específico Permanente Prazo Médio/Longo Curto Custo por unidade Específico Média operacional Produto Especificado pelo cliente Especificado pelo fabricante Adaptado de: Leone (1997). Pode-se perceber no mercado atual que a produção por encomenda tem aumentado muito, isso porque os consumidores estão dispostos a pagar mais, esperar mais para entrega, mas desejam receber exclusividade. Dessa forma, o modelo de acumulação de custos por ordem tem ganhado bastante destaque no cenário empresarial. 2.3 Acumulação previsional Neste modelo de acumulação, a organização deve prever os custos e despesas que ocorrerão em um determinado período de produção. Para isso, é necessário que o gestor de custos estabeleça um gerenciamento de custos padronizado para toda a organização (LEONE, 1997). 2.4 Acumulação por atividade Conhecido também como modelo ABC, ele faz a acumulação de custos baseado em cada uma das atividades que a empresa desempenha para a produção de um bem. Os recursos utilizados durante a produção são atribuídos ao objeto final que deve ser custeado e consideram os custos diretos e indiretos envolvidos no processo. Atividades, neste modelo de custeio, são processos que consomem recursos para a produção de bens para venda. Catelli e Guerreiro (1992, p. 36) afirmam que atividades “descrevem o modo como uma empresa emprega seu tempo e recursos para alcançar os objetivos empresariais”. 35 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS As atividades para este modelo de custeio podem ser classificadas em primárias (fins) e secundárias (suporte). As atividades fins são aquelas que estão diretamente ligadas à prática produtiva da organização, que relacionam-se com a produção dos bens de consumo para geração de resultados operacionais. Já atividades de suporte servem de sustento, apoio para as atividades fins, como, por exemplo, a administração, o RH e o marketing. O modelo ABC permite que os custos de produção sejam, isoladamente, alocados a cada um dos centros de custos por atividade envolvidos e aloca tais custos à quantidade de recursos utilizados para a produção unitária. A vantagem aqui é permitir que o gestor identifique produtos supercusteados e subcusteados e, ainda, mostrar que as operações empresariais podem ser divididas em atividades isoladas em relação ao custo (CREPALDI, 2002). O que difere o custeio ABC dos métodos tradicionais de custeio é que este modelo não apenas faz o rateio de despesas e custos indiretos com base nos custos diretos (o que gera distorções no custo real), mas analisa o comportamento dos custos por atividade, fazendo com que relações reais entre as atividades e o consumo de recursos sejam estabelecidas. Para Cooper e Kaplan (1998, p. 98), este modelo “permite a identificação dos fatores que levam a instituição a incorrer em custos nos seus processos de oferta de produtos e de atendimento a mercado e clientes”. Alguns especialistas defendem que o modelo ABC peca em sua eficácia por fornecer muitas informações ligadas ao passado, a produção já feita, ignorando que para tomar decisões estratégicas os gerentes necessitam de previsões futuras e tendências de custos. Custos indiretos Atividade 1 Atividade N Produto final Custos diretos Figura 12 – Acumulação de custos por atividades 2.5 Acumulação por responsabilidade Neste caso a acumulação de custos está diretamente ligada à figura de um responsável pelo centro de custo, departamento ou setor da empresa. Os custos são identificados, direta e indiretamente, pelo responsável, que deve ter autonomia de decisão, estar motivado, ter planejamento das atividades do seu setor e interação com os demais setores da instituição e possuir total controle das atividades que acontecem no departamento que está sob sua reponsabilidade (CREPALDI, 2005). Um outro modelo de acumulação de custo, pouco utilizado no Brasil, mas que merece atenção é o de Custos Conjuntos – Coprodutos e Subprodutos. Ele é adotado quando a partir de uma mesma 36 Unidade I matéria-prima existe a possibilidade de se retirar diferentes produtos finais. No caso específico, os custos se tornam indivisíveis, ou seja, não identificados em cada objeto retirado daquela matéria-prima. Tomemos como exemplo um frigorífico. Ao entrar na linha de abate um bovino poderá fornecer como produto final a carne, o couro, a queratina, o sebo etc. Até que estes produtos sejam separados na linha de produção, não é possível que o custo de produção de cada um deles seja identificado. Já ao produto final é possível acumular determinados custos específicos de cada um. Um item é classificado em sub quando seu valor comercial é muito baixo, como no exemplo fornecido o sebo e a queratina; já produtos com valores mais altos, como a carne e o couro, são chamados de coprodutos. Vale enfatizar que subprodutos não podem ser confundidos com sucatas. O primeiro está na linha de produção, tem venda contínua e está no plano de receita operacional da empresa, apesar de seu baixo valor comercial. Já a sucata são restos da produção vendidos esporadicamente, e a receita oriunda de sua venda é sempre lançada como outras receitas na Demonstração do Resultado, enquanto os subprodutos são lançados como receita operacional. 3 CLASSIFICAÇÃO DE MODELOS DE PRODUÇÃO O modelo de produção pode ser classificado em simples e complexo, dependendo da quantidadede etapas envolvidas na transformação da matéria-prima no produto final. A fabricação simples requer apenas uma fase de transformação e utiliza-se somente de um departamento produtivo, desta forma, o sistema de custeio mais utilizado na produção simples é o por processo. Já a fabricação complexa utiliza-se de vários departamentos da produção e passa por diferentes fases de transformação até se tornar um produto para venda. Neste caso, a cada departamento de produção que o produto passa, os custos também são transferidos, e utiliza-se mais o modelo de custeio por atividade (CREPALDI, 2005). Por exemplo: Um produto passa por duas fases de transformação e o custo total da produção é de R$ 24.000,00. A empresa está produzindo 800 unidades para venda direta e mais 160 para estoque, totalizando 960 unidades. Desta forma, na primeira etapa de transformação, temos que o preço unitário é calculado da seguinte maneira: R$ 24.000,00/960 = R$ 25,00 por unidade produzida Na segunda fase de transformação, o custo da produção de venda será calculado por: 800 unidades x R$ 25,00 = R$ 20.000,00 de custo de produção para venda Já os produtos em estoque podem ser calculados da seguinte forma: 200 unidades x R$ 25,00 = R$ 4.000,00 37 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS Observação O turismo oferta serviços ao consumidor, logo, não pode ser estocado. Desta forma, quanto mais precisa for a oferta, melhores os resultados, pois serviço não vendido é serviço (e dinheiro) perdido. 3.1 Bases para sistema de acumulação de custos Um sistema de acumulação de custos pode ser desenvolvido com base na departamentalização empresarial, na departamentalização produtiva e nos centros de custos (LEONE, 1997). A departamentalização empresarial é a divisão da empresa em áreas administrativas distintas, e desta forma, busca compreender melhor a estrutura administrativa, seus processos, sua dinâmica e a participação efetiva de cada departamento nas operações da companhia. Tais departamentos representam os custos indiretos sobre a produção. Já a departamentalização produtiva são os departamentos que estão diretamente envolvidos na transformação/produção da matéria-prima no produto final. Exemplos destes departamentos em uma linha de produção são: a montagem, a pintura, o acabamento, o teste de qualidade. Na departamentalização produtiva, surgem os departamentos auxiliares, que são aqueles que dão suporte à linha de produção. Como exemplos de departamentos auxiliares aos departamentos produtivos, podemos citar: o estoque, a manutenção, os suprimentos. Tendo definidos os departamentos da organização e sua efetiva participação na linha de produção, aprecem os centros de custos. Esses por sua vez são departamentos nos quais os custos indiretos e a produção serão alocados para posterior rateio ao produto final. Para Leone (1997), os centros de custos são sistemas organizacionais, organizados, que alocam custos para posterior rateio à produção final, gerando melhor distinção da participação de cada departamento na manufatura de um bem. Saiba mais Com o objetivo de possuir dados extras sobre acumulação de custos e precificação de produtos turísticos, leia: RODRIGUES, L. A. et al. Contabilidade de custos como ferramenta gerencial aplicada à atividade hoteleira: estudo de caso aplicado a um hotel situado na região das missões – RS. Revista Eletrônica de Administração e Turismo, v. 4, n. 2, jan./jun. 2014. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index. php/AT/article/viewFile/3574/3298. Acesso em: 7 maio 2020. 38 Unidade I 3.2 Gerenciamento tributário – tributos incidentes sobre o produto turístico: ICMS, PIS, Cofins, ISS e alocação dos custos tributários É fundamental que haja um bom planejamento tributário em uma organização, pois o fisco impõe regras e penalidades às empresas, visando minimizar fraudes na apuração dos tributos. Acerca dos tributos, faz-se importante também realizar o controle detalhado dos encargos recolhidos sobre os recursos humanos das empresas. O domínio dessas informações contribui para a gestão estratégica do negócio e facilita a tomada de decisão, minimizando os erros. Realizar a gestão tributária no Brasil é uma tarefa complicada, a principiar pela dificuldade de compreender o que são tributos, uma vez que a maioria das pessoas utiliza o termo “impostos”, em vez de “tributos”. Um tributo é o comprometimento atribuído às pessoas físicas e/ou jurídicas (contribuintes) de recolher valores – a partir de um fato gerador também identificado como base de cálculo – ao Estado ou às entidades equivalentes. Contudo, o fato de impor o recolhimento não significa que não existam estratégias para compor os tributos. No Brasil, temos várias formas de recolhimento de tributos. Isso é conhecido como “modalidades de tributação”, que estudaremos mais adiante. Para que a estratégia de tributação ocorra de forma correta e legal, a empresa precisa de profissionais que conheçam a fundo as atividades operacionais do negócio, cabendo a eles analisar e decidir quais tributos incidirão sobre as atividades, sem causar impacto negativo na organização. Dependendo da atividade fim da empresa, ela pode se creditar de alguns tributos que pagou. Ela consegue fazer isso, por exemplo, por meio de abatimento em novas aquisições de mercadorias para seu estoque. Vamos imaginar que o dono de um restaurante comprou castanhas-do-pará e, por consequência, pagou tributos referentes à aquisição dessa mercadoria. Contudo, a atividade fim da empresa dele não está relacionada com a revenda de tal produto. Ele moerá as castanhas e colocará o farelo na cobertura da sobremesa que é servida no estabelecimento. Com isso, entendemos que a castanha passou por um processo de beneficiamento (foi moída) e, por isso, os tributos que o proprietário do restaurante pagou serão substituídos por outros que possuem relação direta com a atividade fim do restaurante – uma vez que ele não vende o item no mesmo estado que o adquiriu. Em suma, o dono do restaurante solicitará o reembolso de alguns tributos que pagou, creditando-se nas próximas compras e pagará outros tipos de tarifas relacionadas diretamente com a atividade fim de seu negócio. Vale ressaltar que, geralmente, o cálculo é complexo e deve ser acompanhado por profissionais de atuação jurídica. Ainda falando de tributos cumulativos e não cumulativos, é essencial compreender que as alíquotas são diferenciadas para cada tipo de tributo. Outra informação de extrema importância é que os tributos podem ser de esfera federal, estadual e municipal. 39 GESTÃO DE CUSTOS E FINANÇAS EM EMPRESAS E PRODUTOS TURÍSTICOS Tributação estadual Tributação federal Tributação municipal Figura 13 Observação Um tributo municipal possui a alíquota de 5% sobre vendas. Vamos imaginar um hotel que vende diárias dos quartos. Faz-se necessário calcular qual foi o faturamento do hotel, multiplicando-se o número de diárias vendidas pelo seu valor unitário. Sobre esse resultado, ou seja, a receita bruta de vendas, incide 5% a título desse tributo. Agora que já sabemos o que são tributos, sobre o que incidem e quais são as esferas envolvidas, é hora de descobrir quais são os tipos deles. Os principais tributos no Brasil são os impostos, as taxas e as contribuições. Agora ficou fácil compreender porque não podemos chamar tudo de impostos: eles são um tipo de tributo, ou seja, nem todo tributo é imposto. Quadro 3 Impostos Taxas Contribuições São devidos pelo contribuinte, independentemente de qualquer contraprestação por parte do Estado. Destinam-se a atender despesas gerais de administração. São revertidos para o bem comum, por meio de investimentos e custeio de bens e serviços públicos como saúde, segurança e educação Diferentemente dos impostos, as taxas possuem uma contrapartida específica. Um contribuinte paga uma taxa em razão de um serviço público – englobando fiscalizações e licenciamentos
Compartilhar