Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Abdome agudo 1 Abdome agudo Natasha Ferreira - ATM25 INTRODUÇÃO Distúrbio não traumático espontâneo súbito, cujo principal manifestação ocorre na área abdominal e pode ser necessário operação de urgência Quadro clínico Dor, de início súbito ou de evolução progressiva, que necessita de definição diagnóstica e de conduta terapêutica imediata Duração de horas até 4 dias, não ultrapassando 7 dias Náusea e vomito Constipação Diarreia É uma desordem progressiva → necessita abordagem ordenada e cuidadosa Anamnese e Exame físico devem sugerir prováveis causas e guiar a escolha dos exames complementares (laboratoriais e imagem). Alguns casos são necessários fazer uma Laparotomia exploratória RX de abdome agudo ortostatismo, decúbito e que pegue cúpulas diafragmáticas Laparotomia é diagnóstico e tto Tipos de dor Dor abdominal é menos localizada devido a rede de inervação sensorial ser complexa e dual Decálogo da dor Abdome agudo 2 Origem Dor visceral Fibras lentas tipo C → paredes das vísceras ocas e na cápsula de órgãos sólidos Desencadeada por distensão, isquemia ou contração exagerada da musculatura visceral (espasmo) Sensação dolorosa profunda, mal localizada, em cólicas, intermitente Sentida na linha media do abdome → inervação bilateral Dor parietal Fibras do tipo C e A-delta Aguda , em pontada e bem localizada em um dos quadrantes, constante Distribuição cutânea unilateral, ou seja, local da dor indica onde está a lesão Desencadeado por inflamação, edema ou congestão vascular (algo que causa irritação peritoneal) Irritação do peritônio parietal por bile, urina ou secreção do TGI Associada a rigidez muscular e íleo adinâmico Manobras de irritação peritoneal (blumberg, rovsing, murphy) Defesa muscular → inicio voluntaria e depois torna-se involuntária. Essa defesa involuntária inicia-se localmente pela inflamação, dai torna-se purulenta, faz um abcesso, esse pus do abcesso não fica retido só naquela área especifica, se espalha e aí então torna-se generalizada (Abdome em tábua) EX: Dor imprecisa da fase inicial passa a ser uma dor mais localizada (FID) porque o apêndice esta inflamado, as vezes encontra-se supurada, encosta no peritônio parietal e assim temos dor localizada Na apendicite temos 2 tipos de dor Localização Dor referida São menos frequentes Sensações dolorosas que ocorrem em local distante do local de estimulo primário, devido aos metâmeros da anatomia dor referida a região escapular em pacientes com pneumoperitônio ou abcesso subfrênico Abdome agudo 3 Dor Irradiada Dor sentida na região periumbilical que vem devido a apendicite Dor em FID que advém de uma úlcera perfurada Incidência de abdome agudo 1. Agudamente em uma víscera que nunca teve patologia nenhuma: apendicite 2. Agudização de uma patologia crônica: pacientes que tenham cólicas biliares, já tem um US prévio mostrando coledocolitíase, e acaba por fazer um processo mais agudo, apresentando um quadro sistêmico com febre, calafrios de agudização da patologia crônica. 3. Patologias extra-abdominais: pneumonia, infarto, uremias, anemia falciforme, diabetes descontroladas. Principais patologias causadoras de AA Aparelho gastrointestinal Apendicite aguda (principal) Obstrução do delgado Hérnia encarcerada Ulcera péptica perfurada Diverticulite de cólon Obstrução de cólon por neoplasia Adenite mesentérica Diverticulite de Meckel Colecistite aguda Pancreatite aguda Abscesso hepático Rotura de TU hepático Rotura de cisto hidático Aparelho Urinário Cólica nefrítica ou ureteral Pielonefrite aguda Aparelho Ginecológico Doença inflamatória pélvica Gravidez ectópica rota Cisto de ovário torcido ou roto Aparelho Vascular Trombose mesentérica Isquemia mesentérica Colite isquêmica aguda Afecções do peritônio/omento Abscesso intraperitoneal (decorrente de outra Abdome agudo 4 patologia que por vezes não é cirúrgica – DIP) Peritonite primária Torção de omento Diagnósticos Diferenciais É importante caracterizar para que se consiga pensar no diagnóstico diferencial de todas patologias causadoras de AA Questionar como foi o início da dor, como ela se manifestou no seguimento desse pcte, se o início foi gradual, explosivo, se constante, em cólica,... Dor localizada em FID: apendicite aguda Dor localizada no HD: doença da via biliar Dor em FIE: diverticulite ou tumor perfurado Dor em facada na região epigástrica: úlcera péptica perfurada ou pancreatite aguda No momento que se tem a dor localizada o diagnóstico passa a ser TOPOGRÁFICO e devemos procurar primeiramente em órgãos que estão contíguos nessa localização ANAMNESE + EXAME FÍSICO Anamnese Histórico ginecológico-obstétrico Uso de medicamentos Anticonvulsivantes (hematomas retroperitoneais, de duodeno e de jejuno) Crack e cocaína (infarto intestinal, perfuração pilórica) Histórico familiar (neoplasias), cirúrgico (bridas) Viagens recentes Inspeção Procurar cicatriz cirúrgica abdominal que faz o diagnóstico das aderências (75% das causas de AA obstrutivo são as aderências), com presença de abdome distendido ou não, devido ao íleo paralítico como reflexo ao componente inflamatório do peritônio Equimoses ou petéquias indicam sangramento retoperitonial ou coagulopatia de consumo Procurar por hérnias Tosse Ausculta RHA podem estar diminuídos ou abolidos (íleo paralítico) Podem ser aumentados, de timbre metálico (de luta) na fase inicial do AA obstrutivo, pois na fase tardia há formação do 3° espaço dentro da alça, que sequestra grande quantidade de líquido, produzindo um distúrbio hidroeletrolítico muito grande e por reflexo cria o íleo paralítico Presença de estertores bolhosos em bases pulmonares servem para o diagnóstico diferencial de AA, pois patologias do andar inferior do tórax, como uma pneumonia de bases pode dar um íleo paralítico e dor abdominal. Percussão Pode ter dor à percussão abdominal Timpanismo abdominal quando íleo paralítico e desaparecimento da macicez hepática, quando úlcera perfurada (sinal de pneumoperitônio – sinal de jober). Palpação Dor a palpação superficial normalmente é sinal de AA Dor a palpação profunda, rigidez abdominal ocorre na pancreatite aguda e na úlcera perfurada. Dor a Descompressão Brusca abdominal→ Sinal mais importante para o diagnóstico de AA Abdome agudo 5 É um sinal que só acontece quando o AA está na fase avançada, mas fica extremamente fácil de fazer o diagnóstico, pois indica PERITONITE Ainda existem suas variantes, como a dor a descompressão brusca do ponto apendicular (Mc Burney), Sinal de Blumberg e a interrupção da inspiração durante a palpação do ponto cístico (Murphy) Também deve-se procurar massas abdominais, no caso dos tumores principalmente Exame Proctológico Presença de sangue ou pús em ampola retal Evidências de tumores de reto baixo e canal anal. Exame ginecológico Diverticulite, diagnóstico de massas pélvicas Atentar pra presença de leucorreia Dor à movimentação uterina (sinais de DIP) Sangramento vaginal (pensar em tumores ginecológicos) EXAMES COMPLEMENTARES Feito o diagnóstico clínico, não é necessário fazer os demais exames para não perder tempo Se houver dúvida, lançar mão dos exames complementares Laboratoriais Hemograma: leucocitose com desvio a esquerda (infecção) Leucopenia c/ desvio E → gram negativo Leucocitose c/ desvio E → gram positivo Leucopenia s/ desvio → infecção viral Eletrólitos Creatinina/ureia: IRA Amilase e Lipase: pancreatite Transaminases, FA, Bilirrubinas: infecções hepática e do trato biliar Coagulograma: hemorragias EQU: infecções do trato urinário Beta- HCG: toda mulher em idade fértil deve realizar B-hcg; Raio-x 3 incidências RX de abdome Decúbito dorsal → ver presença ascite. Sinal do empilhamento de moedas (distensão) Ortostatismo → ver presença de níveis hidroaéreos, pneumoperitônio RX de tórax (ortostatismo) → ver as condições de base, um derrame pleural, uma elevação da cúpula diafragmática Importante em 2 tipos de abdomeagudo: Obstrutivo e Perfurativo Porém, há 2 tipos de AA em que o raio-x só vai retardar a realização da TC: inflamatório e vascular A radiografia nos mostrará principalmente: presença de gás Livre no abdome (pneumoperitônio): indica AA perfurativo, ocorreu perfuração de alça intestinal e o gás ficou livre na cavidade abdominal Interior das alças: indica AA obstrutivo, a alça fica distendida por gás Atentar ao Sinal de chilaidite Consiste na interposição de cólon entre o diafragma e o fígado, podendo simular um pneumoperitônio e dar sinal de Jobert positivo. Abdome agudo 6 A diferença é que na imagem não vemos a lâmina bem definida e sim o formato das haustrações. Este sinal é mais confundido com abcesso subfrênico do que com pneumoperitônio (este é mais liso e homogêneo) Ultrassonografia Tem baixa sensibilidade em situações em que há distensão gasosa nas alças intestinais e abd: obstrutivo Não se deve pedir US pra alguém que está em íleo pois o ar não permite a propagação do US É ideal para diagnóstico de coleções intra-abdominais, e superior que a TC nos seguintes casos: Padrão-ouro pra doenças das vias biliares (colecistite, coledocolitíase) Emergências ginecológicas (torção de ovário, gravidez ectópica rota)→ US transvaginal Apendicite quando abdome não é volumoso, em crianças e jovens, dependendo da posição do apêndice Crianças em geral, por não utilizar radiação, e a causa mais comum ser intussuscepção TC Melhor para apendicite Utilizado sem contraste (AA inflamatório) e com contraste (AA vascular) Deve ser realizada em pacientes hemodinamicamente estáveis. Ampla informação sobre a cavidade abdominal, coleções, massas tumorais. Permite o exame do retroperitônio CLASSIFICAÇÃO DO AA Inflamatório/infeccioso Consiste na 1ª ou 2ª maior causa de dor abdominal em pronto socorro, sendo apendicite a principal causa Quadro clínico Dor progressiva, moderada a intensa e localizada → Lembrando: primeiro a dor visceral, depois parietal Defesa local ou generalizada → abdome em tábua Percussão e palpação com muita dor localizada com sinais de irritação peritoneal RHA diminuídos ou depois ausentes (silêncio abdominal) Presença de plastrão (para defesa do organismo, o epiplon acaba englobando aquela região inflamatória como se fosse um abscesso inflamatório) Distensão abdominal precoce Vômitos reflexos no início e depois fecaloide Febre em geral presente, baixa (se alta, está associada a sepse) Toque retal ou genital pode ser doloroso pela irritação peritoneal // Genital fala a favor de DIP Exames Hemograma infeccioso (leucocitose com desvio à esquerda) (febre supurativa) RX → alças do intestino delgado distendidas, opacidade, velamento, líquido intracavitário, nível hidroaéreo TC: é a 1ª escolha → porém em casos específicos US é superior (vias biliares, ginecológicas, etc) Abdome agudo 7 Diverticulite aguda Quando operar? Perfuração livre com peritonite Abcesso não abordável por via percutânea Fístula Obstrução Deterioração clínica ou piora mesmo com tto conservador Obstrutivo Principal causa de abdome agudo obstrutivo → bridas (cirurgias prévias) Delgado - brida Grosso - tumor Outras causas: hérnia encarcerada, neoplasia, volvos de sigmoide, intussussepção (tto: enema aéreo) Marco anatômico que divide a obstrução → válvula íleo-cecal Síndrome de Ogilvie Pseudo-obstrução colônica aguda distúrbio autonômico e funcional do cólon que leva a obstrução → distensão abdominal neostimina → droga para tto pode ser realizada sondagem descompressiva Quadro clínico Dor em cólica e distensão abdominal: quanto mais alto a obstrução, menor a distensão. Náuseas e vômitos Vômito precoce alimentar ou biliar, sem distensão abdominal - obstrução alta Vômito tardio fecalóide, com distensão abdominal- obstrução baixa Parada de eliminação de gases e fezes Afebril Eventualmente peristaltismo visível RHA timbre metálico (luta) e tardiamente ausentes Está tentando passar pela obstrução e depois pelo desequilíbrio hidroeletrolítico, faz um íleo adinâmico e os RHA param Abdome agudo 8 Percussão → hipertimpanismo Abdome flácido, porém, doloroso à palpação profunda Sem sinais de irritação peritoneal Desidratação precoce e marcante: perde líquido para o 3º espaço (luz intestinal), dependendo da patologia, pode perder 5L ou mais. Deve-se então hidratar o paciente para avaliarmos e depois tratar Nos casos graves as alças podem evoluir para sofrimento isquêmico e perfurar, resultando em abcessos, pneumoperitônio e peritonite Toque retal pode revelar a causa (fecaloma) → sinal de Gersuny (crepitação à descompressão do abdome) Exames RX: Distensão de alças em decúbito, nível hidroaéreo em ortostatismo Define se é obstrução mecânica (distribuição dos níveis hidroaéreos de forma heterogênea) ou funcional Sinal do empilhamento de moedas: distensão de alças de delgado devido aos anéis presentes Sinal do grão de café: distensão de alças do cólon (volvo de sigmoide) TC pode facilitar indicação cirurgica Tratamento Manejo inicial jejum hidratação analgesia sonda nasogástrica para descompressão ATB para gram - e anaeróbios Cirúrgico → laparoscopia Perfurativo perfuração de víscera oca que resulta em pneumoperitônio e peritonite Principal causa: úlcera péptica Quadro clínico Comprometimento do estado geral e facies toxêmica Dor súbita, intensa e localizada “em facada”; Posição antálgica (imóvel); Distensão abdominal (timpânico), com dor a percussão Ausência de macicez hepática → Sinal de Jobert Irritação peritoneal: localizada (quando processo é tamponado) ou generalizada (abdome em tábua); Tipo de perfuração Mais alta a perfuração (UP), mais peritonite química teremos, mais súbita e intensa será a dor Mais baixa, mais lenta e progressiva será a peritonite (sigmoide) Desidratação e hipotensão arterial Febre com sudorese fria Abdome em tábua súbito. (Infarto dá dor súbita, mas não causa abdome em tábua) Perda da barreira da mucosa que leva a sepse pois as bactérias intestinais caem na circulação sanguínea Exames RX de abdome agudo, mostrará pneumoperitônio Abdome agudo 9 Neste tipo de AA, não é observado a perfuração em si nos exames de imagem, e sim sua consequência que é ar livre na cavidade abdominal US e TC não são bons nesse AA Tratamento cirurgico → laparotomia Vascular isquêmico Um exemplo é o infarto intestinal → tem mortalidade elevada FR Idade > 50 anos portadores de cardiopatia e/ou doença vascular aterosclerótica Causas Infarto intestinal por embolia de AMS principal causa associada a cardiopatia e fibrilação atrial Tratamento: embolectomia Trombose arterial mesentérica aterosclerose aórtica Tratamento: revascularização Trombose venosa mesentérica aterosclerose aórtica Tratamento: anticoagulação Isquemia mesentérica arterial aguda não-oclusiva hipofluxo (hipovolemia, sepse…) Quadro clínico Dor abdominal de forte intensidade desproporcional ao exame físico abdome flácido porém doloroso depressível, sem sinais de irritação peritoneal (sem abdome em tábua) Se houver necrose intestinal → sinais de irritação peritoneal difusa A percussão e palpação não modificam muito a intensidade da dor RHA progressivamente ausentes Náuseas e vômitos reflexos no início e após fecaloides Parada de eliminação de gases e fezes Distensão abdominal pouco marcante no início Desidratação precoce e marcante Afebril, podendo a temperatura retal estar abaixo da axilar (patognomônico) Toque retal → geleia de framboesa (com sangue e conteúdo necrótico) Sinais: hipotensão ou choque Exames RX → pobreza de gases em alças intestinais Paracentese → líquido necrótico na cavidade TC com contraste arterial e venoso (angiotomografia) Abdome agudo 10 trombo endoluminal, espessamento parietal (edema, hemorragia), defeito de realce parietal, complicações isquêmicas (pneumatose, gás em sistema porta), distensão de nível hidroaéreo Hemorrágico O que caracteriza o abdome agudo hemorrágico é ochoque hipovolêmico Exige intervenção cirúrgica imediata Causas Hemorragia digestiva Aneurisma abdominal roto Cisto ovariano hemorrágico roto Gravidez ectópica rota Quadro clínico Dor abdominal súbita e instabilidade hemodinâmica Abdome flácido, porém com dor difusa à palpação e dor à descompressão superficial e profunda o sangue na cavidade peritoneal causa uma irritação peritoneal leve Sinais de choque hipovolêmico Taquipneia e taquicardia, hipotensão arterial grave, sudorese fria, palidez cutâneo-mucosa, rebaixamento da consciência Exames USG → líquido livre na cavidade Endoscopia sempre está indicada!! TC para investigar e tratar etiologia Tratamento instável: laparotomia exploradora Estável: paracentese
Compartilhar