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Teorias e Técnicas de Publicidade e Propaganda Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Esp. Moacir Trombelli Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites História da Publicidade e da Propaganda • Origens Históricas da Propaganda; • A Propaganda Ideológica no Século XX; • História da Publicidade no Brasil e no Mundo. · Conhecer as origens históricas da propaganda na antiguidade; · Reconhecer os recursos da propaganda ideológica no século XX; · Conhecer a história da publicidade, sobretudo no contexto brasileiro. OBJETIVO DE APRENDIZADO História da Publicidade e da Propaganda Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE História da Publicidade e da Propaganda Origens Históricas da Propaganda As origens históricas da propaganda certa- mente dariam uma novela épica, ou um belo romance histórico no melhor estilo do thriller policial de Umberto Eco, O Nome da Rosa. Não faltaram elementos essenciais a qualquer boa história: intrigas, suspense, descoberta e um desfecho aberto, sobre o qual ainda atuamos. O público, ao terminar o livro, ou sair do cinema, iria para casa pensando no final e quais seriam os desdobramentos que, em última análise, têm a ver com a vida de todas as pessoas e, é claro, com a dele mesmo. Assim é a propaganda, ou a publicidade, ou ainda ambas (vimos essas di- ferenças na unidade anterior, assim como esses termos podem ser “trocados” no dia-a-dia). Sabemos, no entanto, que o termo propagan- da trata de algo que lida com um convencimento. Não se trata ainda, no início, do convencimento de compra, mas de algo que é compartilhado e traz novas almas para essa causa; trata-se de algo que convence e é algo sobre persuadir por meio de argumentos lógicos ou emocionais. As religiões perceberam muito cedo que, para trazer mais fiéis às suas causas, deveriam lançar mão de técnicas de convencimento, a fim de que suas mensagens chegassem cada vez a mais pessoas, que, convencidas por essas palavras (no início na forma oral e somente depois pelo texto escrito) ou imagens, passariam a acreditar em dogmas específicos, ajudar a sustentar de várias maneiras essa fé e colaborar, assim, para que mais fiéis se juntassem à causa, por meio de mais propaganda. É provável ainda que muitas vezes essas ações não recebessem um nome específico, mas a ação é próxima e foi utilizada de várias maneiras, por várias religiões. As revoluções tecnológicas, no campo da comunicação, possuem uma forte influência nesse processo. A comunicação humana é marcada por uma série de evoluções constantes, são exemplos disso desde as primeiras manifestações pré- históricas de nossos ancestrais – como, por exemplo, nas grutas de Lascaux e Altamira (França e Espanha, respectivamente) – até a invenção de uma linguagem sistematizada e os registros dessa em uma escrita iconográfica e depois silábica. Historicamente, a escrita nasceu com os sumérios, na Mesopotâmia, provavelmente Figura 1 − Houve um longo caminho até que a mensagem publicitária chegasse até os meios de comunicação de massa Fonte: iStock/Getty Images 8 9 por razões contábeis ou de posse, cerca de três mil anos a.C. Assim, tem-se início o registro histórico como o conhecemos. A linguagem escrita, no entanto, foi restrita a uns poucos especialistas, que geralmente ocupavam um lugar de certo destaque, como os escribas no Egito antigo, por exemplo. Na Idade Média, monges trabalhavam copiando, traduzindo e decorando com iluminuras textos originais, fossem esses já no formato do livro (um legado da Idade Média) ou ainda em rolos de papiro ou pergaminho. Figura 2 – Exemplo da escrita cuneiforme, desenvolvida pelos sumérios, cerca de 3500 a.C. Fonte: iStock/Getty Images A comunicação pública na antiguidade era feita pela forma oral. A expressão oral era a forma como contavam-se as histórias, como se narravam batalhas épicas e como o conhecimento era passado às gerações futuras. Mais tarde, a escrita viria a sistematizar esses processos, já que a informação podia finalmente ser registrada sobre um suporte, possivelmente a pedra, a argila úmida, o papiro, o pergaminho e, finalmente o papel. Na antiguidade clássica, algumas comunicações eram feitas em forma de tabuletas, que foram por muito tempo utilizadas com o intuito de emitir uma mensagem pública. Considerando que as artes aplicadas em geral nascem com a questão da repro- dução mecânica. A invenção de Johannes Gutenberg (1398-1468) adquire, nesse contexto, uma importância extrema. Em meados do século XV, Gutenberg criou um sistema de caracteres padronizados individuais fundidos em metal. Cada letra individual era montada em linhas para que correspondesse à informação que deve- ria ser impressa. Assim, linha a linha, página a página, criava-se a prensa tipográ- fica e a imprensa moderna. É certo que os chineses (que aliás são os inventores do papel) já imprimiam utilizando-se de tipos em madeira, mas os teóricos concordam que Gutenberg, na cidade Mainz, no século XV, inaugurou uma série de processos que viriam a tornar-se o que hoje conhecemos como Indústria Cultural. 9 UNIDADE História da Publicidade e da Propaganda Figura 3 – Os tipos móveis inventados por Johannes Gutenberg revolucionaram a forma como a informação era disseminada Fonte: iStock/Getty Images A invenção da tipografia encontrará diversas utilizações. Uma emancipação do conhecimento se avizinha, por conta da transição da Idade Média para o Renasci- mento, e a igreja católica romana verá crescer dentro de si uma grande dissidência inspirada pelas palavras de Martinho Lutero, idealizador da Reforma Protestan- te. A Reforma da igreja foi divulgada já sob a égide da tipografia e do início dos processos de reprodução mecânica. Se por um lado a igreja católica romana era fechada em si mesma, extremamente dogmática e misteriosa, a igreja da reforma não via problema algum em lançar mão de uma nova tecnologia, no caso a impres- são com tipos móveis, para fazer chegar a mais pessoas as suas ideias, dentro do melhor exemplo possível de propaganda em sentido lato. Quando a inteligência humana descobriu que os processos de persuasão pessoal podiam ser apoiados, ou até mesmo substituídos,por mensagens dirigidas a um público, começou a funcionar a comunicação em massa, e especificamente o que chamamos de propaganda (PREDEBON, 2008). Com as evoluções tecnológicas promovidas não só pela invenção de Gutenberg, mas por muitos outros processos frutos da revolução industrial, como a fotografia, o cinema, o rádio e a televisão, surge uma cultura de massa de fato com o poder de comunicar algo a grandes e heterogêneos grupos de pessoas. Multiplica-se a audi- ência e surge uma necessidade extrema de lidar com a forma que essas mensagens, dos mais variados objetivos, devem ser passadas. O Guiness Book, o livro dos recordes, dá conta que R. F. White & Son, de Londres, foi a primeira agência de propaganda do mundo. A agência foi fundada por James “Jem” White em 1800. As agências atuais, no entanto, têm suas raízes no século XIX, baseadas em um modelo norte-americano. No ano de 1869, surge nos Estados Unidos a N. W. Ayers & Son, considerada por muitos como a primeira agência de propaganda do mundo, considerando um certo modelo. A J. W. 10 11 A Thompson também é indicada como uma das mais antigas. Nessa época, re- datores e artistas se empenhavam para levar as mensagens de compra ao público, sobretudo por meio dos primeiros jornais tipográficos. Apesar do talento de alguns artistas e ilustradores, a ênfase ainda era no texto, que ocupava nessas peças ini- ciais um papel de extrema importância. Nos meados do século XIX, os jornais tornaram-se muito importantes para a sociedade e, concomitantemente, começaram a veicular mensagens de propaganda, fato que se institucionalizou principalmente nos Estados Unidos, onde o comércio não era visto com o nariz torcido do julgamento de uma “atividade menor”, herança do ponto de vista da nobreza, muito presente na Europa (PREDEBON, 2008). Em 1884, um jovem chamado William Hesketh Lever resolveu empreender um negócio. Enveredou pelo mesmo ramo paterno: a venda de sabão, que naquela época era simplesmente vendido a peso, sendo cortado na hora, sem qualquer diferenciação. Foi de Lever a ideia de cortar o sabão em pedaços padronizados, regulares, embrulhados um a um e em uma embalagem que o diferenciava de seus concorrentes. Não contente, ainda lhe deu um nome: Sunlight. No final do século XIX, o sabão Sunlight era o mais vendido na Inglaterra e no mundo. Uma história de absoluto sucesso de um empreendedor visionário, que previu uma necessidade de diferenciação que provocou o surgimento das agências de publicidade. O leitor mais atento deve ter percebido tratar-se do fundador da empresa que hoje é conhecida com Unilever. Segundo a revista Exame, em 2015 a Unilever foi a empresa que mais gastou com publicidade no mundo (8,9 bilhões de dólares), atrás apenas da Procter & Gamble (10,4 bilhões de dólares). Ainda no século XIX, cartazistas como Alphonse Mucha e o próprio pintor Henri de Toulouse-Lautrec “emprestaram” seus talentos à produção de cartazes, que eram impressos pelo sistema da litografia. Essas produções são peças em estilo Art Nouveau de alto valor artístico, mas que em sua época tinham um objetivo muito orientado: divulgar produtos e eventos. É dessa época o costume de se comprar espaço nos jornais para oferecer os mais variados produtos e serviços. Essa prática floresceu principalmente em ambiente nor- te-americano, extremamente progressista com as questões comerciais (como a Arte Pop viria confirmar muito depois); com o tempo, profissionalizou-se essa prática. Uma das grandes revoluções nos ambientes de criação viria por volta da década de 1940, quando a DDB, de Bill Bernbach, reforçou um papel de maior protagonismo ao recurso estético, em parceria mais saudável com o texto. Isso intensificou a forma de gerar estímulos de consumo. Bernback trabalhou com Paul Rand (o criador da famosa marca da IBM, entre outras). Juntos, Rand e Bernbach criaram um novo modelo de execução das peças de comunicação, baseada em uma dupla de criação: um redator e um diretor de arte, ou layoutman. A partir da década de cinquenta, esse modelo ganha força e modifica o modo como as agências criam suas peças. 11 UNIDADE História da Publicidade e da Propaganda Importante! O Anúncio da Volkswagen conhecido como Think Small (1959), de Helmut Krone, é considerado como “o anúncio do século XX” pela revista Advertising Age. Figura 4 Fonte: Wikimedia Commons Você Sabia? Tem início assim o que se convencionou chamar a Era de Ouro da propaganda, que levou os hoje famosos endereços da Madison Avenue ao estrelato. A chegada da televisão e a forma como a publicidade se encaixou perfeitamente nessa nova mídia é um caso à parte. Recentemente, o canal americano AMC produziu uma série chamada Mad Men (como os publicitários da era de ouro se autointitulavam). Na série, as peripécias de Don Draper e sua equipe são de tirar o fôlego, é imperdível. A série é baseada no livro de mesmo nome do publicitário americano Jerry Della Femina, que trabalhou por quase sessenta anos no ramo e foi consultor da primeira temporada da série. A Propaganda Ideológica no Século XX Quando se debruça sobre um tema vasto como a comunicação, há uma série de definições com as quais o pesquisador ou o aluno se encontram. Nem sempre concordantes, a diversidade deve servir à pesquisa e ao aprendizado, na medida em que essa pluralidade servirá para que se construam modelos de pensamento que possam ser discutidos. No que concerne à propaganda ideológica, poder-se-ia destacar que ela não busca a venda específica de um produto ou serviço, diferindo, portanto, do que poderíamos chamar de publicidade, em sentido clássico. Ela visa à formação de ideias e convicções nos indivíduos que recebem seus estímulos, podendo ser útil para consolidar ou ainda converter um modelo diferente daquele do dominante. 12 13 Se é assim, qual seria então a diferença da propaganda ideológica daquela pro- paganda basicamente religiosa, que buscava a imposição de uma fé específica? Tal- vez o grande diferencial, nesse contexto, seja uma invenção do século XX: a cultura de massa. Como já citamos, a Indústria Cultural, como trataram Adorno e outros filósofos da chamada Escola de Frankfurt (e clara inclinação marxista), produz a cul- tura de massa. A gênese ancestral dessas questões estaria na invenção da imprensa e dos tipos móveis por Gutenberg, por volta de 1450. No entanto, foi a partir do jornal impresso tipograficamente (algo que viria algum tempo depois de Gutenberg e para o qual convergiram vários fatores), das revistas, mas sobretudo do cinema, do rádio e finalmente da televisão, que essa cultura se instalou entre nós de for- ma enraizada e definitiva. A propaganda ideológica, nesse contexto, utiliza-se dos meios de comunicação de massa para que logre êxito em seus intentos, conduzindo um certo comportamento esperado. Esse fenômeno é particularmente perceptível, do ponto de vista histórico, a partir das Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). As duas guerras mundiais que o nosso mundo presenciou em sua história ensina- ram muitas coisas. Uma delas, sem dúvida, foi que a comunicação tem o seu papel nesse tipo de conflito, e em muitos outros. Em todo conflito, e isso nunca foi tão correto de se afirmar, ambos os lados trabalham para desacreditar o inimigo, para trazer a população para o seu lado, ou ainda para vender títulos de guerra à po- pulação; assim, a propaganda tem o seu papel ideológico. Trata-se de uma guerra muitas vezes silenciosa, ou por vezes barulhenta e polêmica, mas que visa atender aos interesses de cada uma das partes envolvidas. A propaganda ideológica permite disseminar, de forma persuasiva, para toda a sociedade, as ideias de determinado grupo. Depois de emitida atra- vés dos diversos meios e suportes de comunicação, elas passam a ser retransmitidas, direta ou indiretamente, no seio das diversas instituições sociais, ampliando e reforçando o processo de difusão. A ideologia, dessa forma,se espalha e impregna todas as camadas da sociedade. Na família, na escola ou no trabalho, em todas as partes e por todos os meios, todos passam a ser orientados para os mesmos fins e enquadrados dentro dos mesmos princípios (GARCIA, 1992). A propaganda ideológica pode ainda apresentar uma ideia a um público – até por conta disso, a propaganda ideológica foi muito explorada em épocas de grande comoção, fosse de ordem política, cultural ou, ainda, como já citamos, em um conflito armado. Assim, utilizava-se o rádio, a televisão e a imprensa como um todo para promover esses ideais. Com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, os Estados Unidos inves- tiram drasticamente em propaganda. O principal objetivo era a convocação e o alistamento. Formaram-se grandes comitês de informação pública a fim de que se convocasse grandes nomes da comunicação, para que os melhores resultados fos- sem alcançados. Como grande exemplo, podemos citar o Uncle Sam (Tio Sam), 13 UNIDADE História da Publicidade e da Propaganda que foi um símbolo de comunicação muito forte na guerra (e ainda bem depois dela). Seu cartaz mais famoso trazia a seguinte frase, de forma impositiva: “quero você no exército dos Estados Unidos”. A versão americana foi baseada em um cartaz britânico de três anos antes. A propaganda na guerra foi a ferramenta de extrema eficácia, pois manteve a população razoavelmente tranquila com a ideia de que a guerra estava sob controle. No período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Hitler utilizou da propa- ganda para justificar suas políticas de eugenia. Quando o ditador assumiu o poder em 1933, Joseph Goebbels passou a ter grande destaque em sua condução, pois ele era o ministro da propaganda nazista, um dos mais importantes do regime. Figura 5 – Em contato direto com o espectador, o Tio Sam convida a todos a integrarem o exército americano. Cria-se um símbolo importante Fonte: Wikimedia Commons A propaganda ideológica pode ainda ser usada para a manipulação pura e simples. Nelson Jahr Garcia, em seu livro O que é Propaganda ideológica, destaca os usos desse tipo de recurso para que ditaduras, por exemplo, perpetuem- se no poder, censurando os meios de comunicação, inclusive na medida em que os controla ou tem a posse desses e, é claro, divulgando suas próprias ideias acerca do que é certo, de qual a orientação política esperada de um “bom cidadão”. O autor traz ainda vários exemplos de como a ditadura brasileira a partir de 1964 utilizou desses artifícios para essas finalidades. Segundo o autor, a propaganda foi tão bem realizada que ainda hoje existem pessoas que acreditam que aqueles tempos de opressão constituem os melhores tempos do país. 14 15 História da Publicidade no Brasil e no Mundo No Brasil, a publicidade surge com os primeiros jornais. Entretanto, durante trezentos anos o país manteve a tradição oral, assim como a humanidade “civilizada” dos primeiros tempos. O fato era que era proibida a impressão de qualquer material gráfico no país. A história da imprensa no Brasil teve seu início com a chegada da família real portuguesa em 1808, sendo até então proibida toda e qualquer atividade de im- pressão, incluindo a publicação de jornais, livros ou panfletos. Essa era uma ca- racterística da parte da América controlada por Portugal, pois nas demais colônias europeias no continente a imprensa se fazia presente desde o século XVI. Antes disso, no entanto, podia-se ver alguns comunicados, sempre fixados em locais públicos, com destaque para os “avisos de sacristia”. Podia-se ver ainda algo relacionado à identificação dos negócios e ao comércio, e um princípio de perso- nalização nas marcas deixadas a ferro no gado e, também, nos escravos vindos da África, que recebiam assim uma marca de “propriedade”. Era o tempo dos pregões, do “quem vai querer?”, incorporado à linguagem da publicidade desde os primeiros tempos. Esse cenário mudaria drasticamente em 1808, pois, com a chegada da corte portuguesa ao Brasil, passa-se a imprimir em terras brasileiras o primeiro jornal. A Impressão Régia foi a primeira editora brasileira e foi fundada em 13 de maio de 1808, na cidade do Rio de Janeiro. Foi uma filial da editora (de mesmo nome) existente em Lisboa. A iniciativa se deu, sem dúvida, em função da chegada da família real portuguesa em terras brasileiras, que proporcionou ao país uma série de conquistas, pelo simples fato de que o rei e sua corte precisavam suprir suas próprias necessidades e o Brasil era o novo centro do império português. A primeira publicação da Imprensa Régia foi a Gazeta do Rio de Janeiro, que noticiava a informação oficial, além do jornal O Patriota, publicado entre 1813 e 1814. A Imprensa Régia é a atual Imprensa Nacional. A Imprensa Nacional nasceu por decreto do príncipe regente D. João, em 13 de maio de 1808, com o nome de Impressão Régia. Recebeu, no decorrer dos anos, novos nomes: Real Officina Typographica, Tipographia Nacional, Tipographia Imperial, lmprensa Nacional, Departamento de Imprensa Nacional e, novamente, Imprensa Nacional. A partir de dois rudimentares prelos iniciais e 28 caixas de tipos que vieram de Portugal a bordo da nau Medusa, integrante da frota que trouxe a Família Real Portuguesa, a Imprensa Nacional orgulhosamente ostenta uma singular história de serviços ao país, tanto em sua missão de registrar diariamente a vida administrativa do Brasil pelo Diário Oficial da União, como por ser órgão de substantiva importância no plano cultural (Fonte: <www.imprensanacional.gov.br>). 15 UNIDADE História da Publicidade e da Propaganda É importante registrar que o fim da proibição não significava liberdade de imprensa. O documento que instituía a Imprensa Régia dizia que uma junta formada por três autoridades examinaria o conteúdo e fiscalizaria o que efetivamente era publicado, para que não se ferissem preceitos importantes para a sociedade da época. Havia jornais de oposição, que eram impressos fora do Brasil. É um exemplo disso o Correio Brasiliense (também chamado de Armazém Literário), publicado por Hipólito José da Costa, que era editado em Londres e bastante crítico ao regime; portanto, existiam jornais de oposição, mas eles não eram impressos no Brasil. Com o surgimento de A Gazeta do Rio de Janeiro, nosso primeiro jornal, surge também o primeiro anúncio. A partir desse momento, pode-se dizer que a “magia” começou. Tratava-se de um anúncio de imóvel, que inaugurava o segmento dos anúncios classificados, desacreditados um pouco pela internet e pelas novas mídias, mas que por muito tempo fizeram parte do cotidiano dos brasileiros, fosse para comprar um imóvel, procurar emprego ou ainda comprar algo de segunda mão, entre inúmeros outros serviços. Aquele anúncio inaugural, de imóvel, funda a nossa dinastia dos classifica- dos. É nesse formato, a imperar todo o século passado enchendo jornais, que se alugam, compram e vendem casa, carruagem ou escravo, que se oferecem produto, professor ou padre. Rapidamente, os artigos se mul- tiplicam, os serviços também. São unguentos, livros, roupas, pós faciais, são retratistas, cocheiros, relojoeiros, tipografias, restaurantes. Ninguém argumenta, apenas enumera. Os substantivos avultam, os adjetivos ra- reiam. Melhor começo, do ponto de vista da oferta, não merecíamos (RAMOS, 1990). Em 1821, surge um novo jornal carioca (é preciso lembrar que o Rio de Janeiro era a capital do Brasil de 1763 até 1960), o Diário do Rio de Janeiro, que era es- sencialmente um jornal de anúncios, seguido pelo O Espectador Brasileiro e pelo Almanaque dos Negociantes (1824). Essa publicidade, em seu início, evidencia uma evolução marcada pela rua do ouvir e seu comércio que cada vez mais se alastra- va. Os temas vão do mais banal ao mais “pitoresco”. Os registros temáticos relacio- nados ao nosso vergonhoso período da escravidão oferecem uma gama de absurdos. A partir de meados do século XIX, os anúncios ficaram maiores, um pouco mais sofisticados.Poetas tornaram-se então redatores. Eles produziam textos rimados que eram fáceis de lembrar – afinal grande parte do povo não sabia ler ou conhecia apenas os rudimentos da leitura. Para Ricardo Ramos (1990), talvez venha daí a “irreverência” característica da publicidade brasileira. A partir de 1900, surgem as revistas O Malho, A Careta, Fon-Fon etc.; em São Paulo, Vida Paulista, Arara, Cri-Cri. O art nouveau e a cultura francesa tomavam de certa forma de assalto a cultura lusitana; seus estilos, por um tempo, mais a partir do início do século XX, traria cada vez mais influência ao país, sobre- tudo com as elites. 16 17 Depois de algum tempo, anunciava-se pneus, blusas, apliques de cabelo, cha- péus e filmes Kodak. A revolução industrial havia legado novos produtos e a comu- nicação publicitária evoluiu com eles, profissionalizou-se. A televisão, que chegou na década de 1950, tornou-se o centro da sala de estar, no lugar do rádio, e continua a divulgar notícias e propagandas até hoje. Primeiramente, ela começou imitando o rádio e, posteriormente, desenvolvendo sua linguagem própria. A partir das décadas de 1960 e 1970, tivemos o grande salto da publicidade no Brasil, alinhada com as mais criativas, promissoras e economicamente importantes no mundo. 17 UNIDADE História da Publicidade e da Propaganda Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros A agência de comunicação publicitária como empresa: o lado menos charmoso da publicidade e da propaganda Para mais detalhes de como administrar uma agência, leia o livro de Edmundo Brandão Dantas “A agência de comunicação publicitária como empresa: o lado menos charmoso da publicidade e da propaganda”. O título da obra é provocativo, claro. Mas uma boa administração é fator imprescindível para o sucesso da agência como empresa. A obra está disponível na “Minha biblioteca”. Vídeos Leon Cakoff fala sobre Arquitetura da Destruição Assista ao vídeo no qual Leon Cakoff, criador da Mostra de São Paulo fala sobre o documentário Arquitetura da Destruição, dirigido por Peter Cohen, em 1989 (também imperdível), que retrata a construção do nazismo por Hitler. https://youtu.be/TX3pvne0jo8 Leitura Carlito Maia revoluciona mercado publicitário Conheça Carlito Maia, um dos mais criativos publicitários brasileiros. https://goo.gl/LSNB1V A propaganda no Brasil: uma brevíssima resenha do século XX Conheça mais sobre a moderna propaganda no Brasil por meio do texto A propaganda no Brasil: uma brevíssima resenha do século XX. https://goo.gl/9Qukwb 18 19 Referências GARCIA, Nelson Jahr. Propaganda: ideologia e manipulação. São Paulo: RocketEdition, 1999. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/ manipulacao.html>. Acesso em: 15 fev. 2018. IMPRENSA NACIONAL. Disponível em: <http://www.imprensanacional.gov. br/web/guest/institucional>. Acesso em: 03 fev. 2018. PREDEBON, José (org.). Propaganda: profissionais ensinam como se faz. São Paulo: Atlas, 1991. RAMOS, Ricardo. História da Propaganda no Brasil. São Paulo: Ibraco, 1990. SANTANNA, Armando. Propaganda: teoria, técnica e prática. Sã o Paulo: Cengage Learning, 2009. 19
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