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FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL Neste capítulo, você conhecerá as relações entre o trabalho docente e as mudanças na educação, refletidas nas políticas implementadas em diferentes momentos de nossa história educacional das últimas décadas. Além disso, vai analisar o papel do professor quanto às suas atribuições e funções, na formulação e execução dessas políticas. Em seguida, estudará especificamente as políticas educacionais voltadas para a formação docente. AULA 02 A POLÍTICA DA FORMAÇÃO DOCENTE NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Relacionar o trabalho docente com as alterações na política educacional. • Analisar o papel do professor na formulação e execução da política educacional. • Discutir a relação da formação de professores com a política educacional. 2 TRABALHO DOCENTE E POLÍTICA NACIONAL Uma vez, uma menina paquistanesa que havia sido baleada na cabeça pelo Talibã em 2012 ao retornar da escola falou a seguinte frase em uma palestra na sede da ONU: “Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo” (MALALA, 2013). Essa frase nos leva a refletir sobre a essência da educação e das relações que se estabelecem entre alunos e professores em diferentes tempos e lugares. No entanto, é importante destacar que, no decorrer da história educacional brasileira, essas relações sofreram influência da visão que cada governo teve do conceito de educação e de seus objetivos. O que estudaremos neste capítulo, é a forma pela qual essas relações foram alteradas em nosso país, a partir de transformações históricas, sociais e políticas. Com a globalização e alguns fenômenos econômicos, vieram também novas formas de organização das instituições escolares, por meio de políticas educacionais reguladoras e novos tipos de articulações entre os cenários locais e globais. Os novos papéis do Estado também descentralizaram demandas administrativas, financeiras e pedagógicas, afetando a práxis docente no que tange às suas responsabilidades, intensificando o trabalho e as funções a desempenhar, tal como aponta Oliveira (2007, p. 366): Tal descentralização veio acompanhada de processos de padronização de procedimentos administrativos e pedagógicos, como meios de garantir o rebaixamento dos custos da expansão do atendimento e redefinir gastos, sem, contudo, abrir mão do controle central das políticas. Por meio dos currículos centralizados, o livro e material didático, vídeos, programas de computadores, a regularidade dos exames nacionais de avaliação e a prescrição normativa sobre o trabalho pedagógico, observa-se relativa padronização nos processos escolares. Além dessas observações, encontramos mudanças advindas da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), nº. 9.394/96 (BRASIL, 1996). Tal lei é indicativa da realização de um trabalho escolar feito coletivamente, no qual professores passam a participar efetivamente do planejamento do Projeto Político Pedagógico das instituições escolares, trabalhando com os conteúdos curriculares de modo transversal. Assim, passam-se a conceber as avaliações como ações contínuas, considerando seu viés diagnóstico, somativo e formativo. Outro setor amplamente transformado foi o administrativo e financeiro. Gestores escolares passaram a ter mais autonomia, flexibilidade e responsabilidade na obtenção de recursos externos. Essas transformações afetam o trabalho pedagógico, “[...] proveniente da combinação de diferentes fatores que se fazem presentes na gestão e organização do trabalho escolar, tendo como corolário [uma] maior responsabilização dos professores e [um] maior envolvimento da comunidade” (OLIVEIRA, 2007, p. 367). Essas demandas descentralizadoras foram adotadas para a diminuição das ações burocráticas das instituições escolares, visando a uma maior eficiência e ampliando as atribuições de tomada de decisão dos gestores. Como parte dessas mudanças, encontramos também ressignificações das responsabilidades de estudantes e seus responsáveis, atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Na LDB, por exemplo, essas demandas evidenciam-se pela menção do Estatuto da Criança e do Adolescente e dos Conselhos Escolares (BRASIL, 1996). Assim, ao refletirmos sobre essas transformações, notamos que, se de um lado surgem marcos normativos que ampliam a autonomia dos sujeitos, de outro ampliam-se os elementos controladores. Como aponta Oliveira (2007, p. 367– 368): [...] aumenta a responsabilidade dos trabalhadores docentes sobre o êxito dos alunos, ampliando os raios de ação e competência desses profissionais. O desempenho dos alunos passa a ser algo exaustivamente mensurado, avaliado sistematicamente por instrumentos que não são elaborados no contexto escolar. Da mesma maneira, são muitas as demandas que chegam a esses trabalhadores como provas e exigências de sua competência em conseguir responder às prescrições de ordem orçamentária, jurídica, pedagógica e política. Os trabalhadores docentes se vêem então forçados a dominarem práticas e saberes que antes não eram exigidos deles para o exercício de suas funções e, muitas vezes, recebem tais exigências como resultados do avanço da autonomia e da democratização da escola e de seu trabalho. Assim, o trabalho docente passa a contemplar as atividades em sala de aula, as reuniões pedagógicas, a participação na gestão da escola, o planejamento pedagógico, entre outras. Levando em consideração que nos próprios processos de ensino e aprendizagem já existiam uma série de dificuldades e desafios para os profissionais envolvidos, a situação torna-se complicada com a instituição de mais atribuições. Além disso, “[...] esses novos modelos de organização escolar expressam muito mais um discurso sobre a prática do que a própria realidade” (VALENTE, 2012, p. 28). Assim, o que as políticas de reformas educacionais exigem não leva em consideração que a formação docente não acompanhou a reestruturação das relações de trabalho pedagógico/administrativo, tampouco que esses profissionais lidam com condições salariais desfavoráveis e com a precarização das condições estruturais de trabalho. Pesquisadores que se dedicam a investigar essas transformações apontam que a ótica das reformas educacionais se voltou para as formas como o trabalho docente é organizado nas instituições escolares: como é feito o planejamento, as relações entre o controle e a autonomia, a coletividade, as formas avaliativas internas e externas, os recursos disponibilizados e os resultados alcançados (DUARTE, 2006). No entanto, é fundamental que também sejam considerados outros aspectos, tais como o contexto da comunidade local onde a instituição escolar está inserida, os atores envolvidos nesse processo (os representantes da comunidade), os alunos e os responsáveis. Deve-se considerar que a “[...] atividade fim do professor é o aluno e, nesse sentido, a ação pedagógica educativa e formativa é dirigida ao aluno, que, nesse contexto, pode ser considerado objeto do trabalho do professor” (VALENTE, 2012, p. 29). A partir do momento em que as políticas educacionais expandem esse objeto, ultrapassam-se também as ações envolvendo processos de ensino- aprendizagem. O docente passa a ser considerado um profissional que, segundo Shiroma e Evangelista (2004, p. 531-532), deve ser: [...] dotado de conhecimento especializado e competências organizacionais; [...] condições de ajudar os alunos a encontrarem, organizarem e gerirem o saber; meios de possibilitar ao educando a inserção na sociedade da informação, entre outras qualidades [além de] [...] participar das políticas educacionais formulando-as e executando-as; ser reflexivos, autônomos, criativos e comprometidos com a mudança; desenvolver a aprendizagem formal e à distância, e mais uma lista imensa de atribuições. A partir dessas novas responsabilidadesdos docentes, advindas das políticas públicas de reformas educacionais, observamos a existência de uma autonomia para decisões de determinadas demandas do cotidiano, tais como a escolha de temas que serão trabalhados transversalmente, dos projetos que serão desenvolvidos e das propostas para o enfrentamento dos problemas da comunidade escolar. A questão é que, junto com essa autonomia, chegam as cobranças por resultados, causando uma sobrecarga que afeta esses profissionais que já lidam diariamente com tantos desafios. 2.1 O papel do professor na formulação e execução da política educacional Sem professores, a implementação das políticas educacionais não seria possível, concorda? Antes mesmo de avançarmos nossos estudos sobre o papel do professor nessas formulações e execuções, destacamos que esse profissional é essencial em todos os aspectos e dimensões que fazem parte do campo educacional. As atribuições docentes no mundo contemporâneo envolvem o processo de ensino-aprendizagem em sala de aula, a participação em atividades realizadas coletivamente e a comunicação com responsáveis e membros da comunidade escolar. Uma dessas atribuições se efetiva na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP), encontrado na Lei nº. 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação. A disposição sobre as ações de promoção desse plano envolve: [...] estimular a participação e a consulta de profissionais da educação, alunos (as) e seus familiares na formulação dos projetos político-pedagógicos, currículos escolares, planos de gestão escolar e regimentos escolares, assegurando a participação dos pais na avaliação de docentes e gestores escolares (BRASIL, 2014). O Projeto Político Pedagógico passou a ser obrigatório por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no artigo 12, onde consta que a “[...] determinação de os estabelecimentos de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica” (BRASIL, 1996). As instituições passam a exercer um papel mais autônomo e participativo, refletindo, planejando e implementando ações pensadas em conjunto. O envolvimento dos professores no PPP oportuniza uma maior apropriação da realidade da localidade onde estão atuando. Assim, podem pensar teorias pedagógicas e desdobrarem-nas no dia a dia de seu trabalho, reconhecendo-se como membros participantes do desenvolvimento pedagógico da instituição. É importante destacar que esse documento “[...] estabelece princípios, diretrizes, propostas de organização, sistematização e avaliação das atividades desenvolvidas por um estabelecimento educacional como um todo” (FELÍCIO, 2010, p. 147). Agora que já comentamos as atribuições dos docentes na formulação e execução da política educacional, em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases e o Plano Nacional de Educação, trataremos de algumas das funções desses profissionais. Como função, o docente tem por objetivo o desenvolvimento global dos alunos, apoiando o exercício da cidadania. Além disso, participa de ações em conjunto com os gestores escolares, contribuindo para fortalecer “[...] uma cultura institucional democrática e intervir no projeto, implementação e avaliação de políticas educacionais locais e nacionais, para promover nos estudantes aprendizagens e desenvolvimento de competências e habilidades para a vida” (UNESCO, 2005, p. 11). Desse modo, podemos identificar três dimensões que abarcam o trabalho docente, abrangendo alunos, gestores e políticas educacionais. Essas últimas fazem alusão à atuação dos docentes na elaboração, implementação e avaliação de políticas, partindo da análise das necessidades sociais da comunidade local e da própria instituição escolar. Para isso, é fundamental o esforço de todos para aproximações, debates e discussões que resultem em decisões pedagógicas, administrativas e financeiras. Estes papéis podem ser assumidos por professores que tenham competências profissionais, éticas e sociais, que se sintam formados, capacitados e dispostos a se lançar num novo papel de protagonista. Que se vejam a si mesmos e a suas escolas como membros de alianças com outros atores, para que seus estudantes aprendam mais e melhor, para que haja uma gestão cooperativa das escolas e para que as políticas locais e nacionais reflitam as demandas de desenvolvimento das comunidades e sociedades, e para que essas demandas sejam efetivamente atendidas. Com essa visão dos papéis dos docentes, a re-significação de seu trabalho e a recuperação da posição central dele pressupõem um reconhecimento de que há um conjunto de fatores que determinam o desempenho, e de que esses fatores interagem e influenciam uns aos outros. Entre eles: formação inicial, desenvolvimento profissional em serviço, condições de trabalho, saúde, auto- estima, compromisso profissional, clima institucional, valorização social, capital cultural, salários, estímulos, incentivos, carreira profissional, avaliação do desempenho (UNESCO, 2005, p. 12). Outro aspecto importante a ser mencionado é que essas mudanças, advindas das reformas do ensino na execução de políticas educacionais pelos docentes, trouxeram como uma das consequências a separação “[...] entre a concepção e execução do trabalho educacional” (VALENTE, 2012, p. 33). Esse distanciamento causou sensação de desânimo e impotência por parte dos professores, pela perda de sua autonomia para a execução dos processos de ensino e aprendizagem. O trabalho do docente passou a estar vinculado a treinamentos e métodos que buscam eficiência para a obtenção de resultados no desempenho dos alunos e da instituição escolar, estando estes diretamente relacionados à distribuição de verbas. Com isso, a escola deixa de priorizar os aspectos sociais para se voltar aos aspectos técnicos, visando a obtenção de bons resultados (FREITAS, 2011). Em torno dessas questões, muitas críticas surgem pelas vozes de docentes e educadores que são impactados diretamente em sua práxis, sentindo-se atores em um cenário descontextualizado da realidade local, responsabilizados por resultados que não dependem somente de seu desempenho. Um levantamento feito pela pesquisadora Linda Darling-Hammond apontou que, mais que o desempenho individual do docente, existem outras variáveis que afetam os resultados educacionais, como: Fatores escolares, tais como tamanho das turmas, escolhas curriculares, tempo de ensino, disponibilidade de especialistas, tutores, livros, computadores, laboratórios científicos, e outros recursos; – Experiência anterior de escolaridade e docentes, assim como outros aspectos das experiências mais atuais – tais como oportunidades de aprendizagem profissional e planejamento colaborativo; – Cultura de pares e desempenho; – Diferencial de ganhos e perdas na aprendizagem de verão (férias); – Fatores domésticos, tais como capacidade dos pais no auxílio aos trabalhos para casa, segurança com a alimentação e moradia, e apoio ou abuso físico e mental; e – Necessidades individuais dos estudantes, saúde e assistência (DARLING- HAMMOND, 2015, apud HYPOLITO, 2015, p. 519). A partir desses fatores, que comprovadamente se relacionam ao desempenho dos estudantes, constatamos que a responsabilidade pelos resultados das avaliações não deveria recair somente sobre o trabalho dos docentes. Partindo desse pressuposto, deve ser um esforço coletivo a reflexão para pensar em ações nos âmbitos pedagógicos, administrativos e financeiros que promovam uma educação de qualidade. É fundamental que todos os atores envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem estejam conscientes de sua responsabilidade, bem como das normas e diretrizes governamentais vigentes em diferentes esferas. Acima de tudo, para que os professores possam cumprir seus papéis na formulação e execução das políticas educacionais, eles devem ser ouvidos, considerados e valorizados,tanto no que diz respeito a sua remuneração, quanto às condições adequadas para o exercício de suas funções. 2.2 As relações entre a formação de professores e a política educacional Ao acompanharmos a práxis docente ao longo das últimas décadas, observamos profundas transformações a partir das mudanças nas relações de trabalho, das tendências econômicas e das concepções governamentais sobre o objetivo da educação na sociedade. A instituição escolar no mundo contemporâneo deixou de ser um espaço de transmissão de conteúdo para se tornar um ambiente democrático de formação para a cidadania, para o desenvolvimento integral, para o estímulo à reflexão e para a formação da vida em coletividade, respeitando a diversidade, preservando a identidade e a cultura e baseando-se em valores e princípios éticos. Um exemplo que corrobora com essa identificação é encontrado em um relatório elaborado pela Comissão Internacional sobre a Educação no Século XXI, que aponta como pilares educacionais, os seguintes princípios (INTERNATIONAL COMMISSION ON EDUCATION FOR THE TWENTY- FIRST, 2010, p. 31): • Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente ampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um número reduzido de assuntos, ou seja: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida. • Aprender a fazer, a fim de adquirir não só uma qualificação profissional, mas, de uma maneira mais abrangente, a competência que torna a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Além disso, aprender a fazer no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho, oferecidas aos jovens e adolescentes, seja espontaneamente na sequência do contexto local ou nacional, seja formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. • Aprender a conviver, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerenciar conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. • Aprender a ser, para desenvolver, o melhor possível, a personalidade e estar em condições de agir com uma capacidade cada vez maior de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Com essa finalidade, a educação deve levar em consideração todas as potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. Ao observar todos esses princípios envolvendo a educação, nos questionamos: será que a formação docente se adequou para preparar os professores para tantas transformações? Para que esses pilares sejam efetivamente trabalhados em sala de aula, é fundamental que o docente possua uma formação que desenvolva competências que o levem a desempenhar uma prática reflexiva e crítica, que o envolva nos processos de ensino e aprendizagem das tendências educacionais globais. No que diz respeito à legislação, temos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), em seu art. 61, a seguinte garantia de direitos e estabelecimento de diretrizes: A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e as características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: I- a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço; II- aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades (BRASIL, 1996, documento-online). Realizando uma análise crítica, é recomendável que a formação dos professores seja planejada para preparar esses profissionais para “[...] atuar num nível de educação onde são definidos os valores e as condições básicas para o aluno apreender o conhecimento mínimo elaborar a visão estratégica imprescindível a compreender o mundo, intervir na realidade e agir como sujeito crítico” (CARNEIRO, 2003, p. 150). Desse modo, para que o professor possa promover um ambiente reflexivo em sala de aula, é recomendável que sua capacitação seja fundamentada e organizada em dois planos, conforme afirmam Perrenoud e outros autores (2002), o primeiro, para de forma conjunta, construir uma visão comum e sintética da formação de professores, seus objetivos e procedimentos na escala de um projeto de fundação, e em segundo plano, desenvolvimento de regulamentos especiais em grupos de trabalho restritos de acordo com um plano comum. A partir dessas considerações, para que esses profissionais estejam preparados para atuar nesse cenário educacional, palco de tantas transformações, as políticas educacionais devem se voltar para a premissa de que “[...] o desenvolvimento do professor se realiza de forma ampla, seja ela inicial, continuada, de atualização ou aperfeiçoamento, desde que o permita buscar outros conhecimentos e interligá-los com sua área de atuação” (BARBOSA; MAIA, 2012, p. 3). Após abordamos alguns aspectos conceituais sobre a formação docente, veremos a seguir, como a nossa legislação federal concebe a institucionalização da formação de professores para educação básica. A partir da análise de Cury (1996) a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 concedeu-se um título para os profissionais da educação, o Título VI da Lei, que consequente a Constituição Federal, elege dispositivos programáticos para a valorização dos profissionais. Além disso, alguns parágrafos são mais específicos, como os art. 62, 63 e 64, que se referem à formação docentes em universidades e institutos de educação de nível superior, e também sobre as especializações. A partir desses dispositivos legais, diferentes esferas governamentais exercem um papel essencial na formulação de políticas educacionais, planos e programas que assegurem o direito à formação inicial e continuada dos professores. Quanto à formação inicial da educação básica, Libâneo (2001) faz uma crítica em relação a sua organização. O autor afirma que grande parte das licenciaturas aproxima o docente da realidade escolar somente após este ter tido a formação teórica dos aportes específicos e pedagógicos de sua área. De acordo com o autor, o ideal seria o docente em formação integrar, desde seu ingresso no Ensino Superior, os conteúdos disciplinares às vivências práticas, para que tivesse a oportunidade de prever situações e desafios, refletindo sobre os caminhos e decisões pertinentes para alcançar os objetivos propostos. Ter a contribuição desses especialistas é fundamental para buscarmos superar dificuldades e propormos novas estratégias, tais como as encontradas no Plano Nacional de Educação (PNE), instituído na Lei nº. 13.005, de junho de 2014, do qual destacaremos alguns dos compromissos assumidos em relação aos profissionais docentes (BRASIL, 2014): • Promover a formação inicial e continuada dos (as) profissionais da educação infantil, garantindo, progressivamente, o atendimento por profissionais com formação superior; • Estimular a articulação entre pós-graduação, núcleos de pesquisa e cursos de formação para profissionais da educação, de modo a garantir a elaboração de currículos e propostas pedagógicas que incorporem os avanços de pesquisas ligadas ao processo de ensino-aprendizagem e às teorias educacionais no atendimento da população de 0 (zero) a 5 (cinco) anos; • Promover e estimular a formação inicial e continuada de professores (as) para a alfabetização de crianças, com o conhecimento de novas tecnologias educacionais e práticas pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação entre programas de pós-graduação stricto sensu e ações de formação continuada de professores (as) para a alfabetização; • Fomentar a formação de consórcios entre instituições públicas de educação superior, com vistas a potencializar a atuação regional, inclusive por meio de planode desenvolvimento institucional integrado, assegurando maior visibilidade nacional e internacional às atividades de ensino, pesquisa e extensão; • Ampliar programa permanente de iniciação à docência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, a fim de aprimorar a formação de profissionais para atuar no magistério da educação básica; • Fomentar a oferta de cursos técnicos de nível médio e tecnológicos de nível superior destinados à formação, nas respectivas áreas de atuação, dos (as) profissionais da educação de outros segmentos que não os do magistério. Observar propostas, metas e compromissos, como os destacados acima, permite-nos reconhecer avanços. Basta relembrarmos nosso passado educacional e vermos a preocupação formativa, abarcando diferentes aspectos e buscando articulá- los às tendências globais. Em suma, o que discutimos ao longo de nossos estudos a respeito da formação dos professores e das políticas educacionais permite-nos concluir que essas ações, planos e programas devem se voltar para a oferta de uma preparação inicial e continuada do exercício docente, visando à implementação de propostas de aperfeiçoamento fundamentados de referenciais teóricos e vivências práticas que formem profissionais com a base necessária para atuar. Esses profissionais devem se apropriar de competências essenciais que deem conta de cumprir os objetivos de formação dos educandos exigidos no mundo contemporâneo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, R. R.; MAIA, R. S. Políticas educacionais para a formação de professores para educação básica. Revista Científica do ITPAC, v. 5, n. 4, out. 2012. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Brasília, DF, 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- 2014/2014/Lei/L13005. Acesso em: 06 jan. 2023. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 06 jan. 2023 CARNEIRO, M. A. LDB fácil: leitura crítico-compreensiva artigo a artigo. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. CURY, C. R. J. Estado e educação na Revisão Constitucional de 1926. Educação e Sociedade, n. 55, p. 238-262, ago. 1996. DARLING-HAMMOND, L. Can value added add value to teacher evaluation? Educational Researcher, v. 44, n. 2, p. 132–137, 2015. DUARTE, A. M. C. O processo de trabalho docente na educação básica: a análise dos pesquisadores da Rede Estrado. Revista de Ciências Humanas, v. 6, n. 2, p. 239– 252, jul./ dez. 2006. FELÍCIO, H. M. S. O papel do professor/pesquisador na construção do projeto político pedagógico no ensino superior. Olhar de Professor, v. 13, n. 1, p. 145-153, 2010. FREITAS, Luiz Carlos de et al. Responsabilização, meritocracia e privatização: conseguiremos escapar ao neotecnicismo. Seminário de Educação Brasileira, v. 3, p. 1-35, 2011. HYPOLITO, Á. L. M. Trabalho docente e o novo Plano Nacional de Educação: valorização, formação e condições de trabalho. Cadernos Cedes, v. 35, n. 97, p. 517– 534, set./dez., 2015. INTERNATIONAL COMMISSION ON EDUCATION FOR THE TWENTY-FIRST CENTURY. Educação: um tesouro a descobrir. Brasília, DF: Unesco Brasil, 2010. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000109590_por. Acesso em: 06 jan. 2023. LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 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