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FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 2 ORIGEM E PROCESSOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL .... 5 2.1 As relações entre formação plena do docente e sua prática de ensino ............ 8 2.2 Programas de governo de incentivo à formação continuada dos docentes ...... 9 2 TRABALHO DOCENTE E POLÍTICA NACIONAL ............................................... 13 2.1 O papel do professor na formulação e execução da política educacional ...... 16 2.2 As relações entre a formação de professores e a política educacional .......... 19 3 A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO ......................................................................... 23 3.1 A formação do pedagogo e a sua atuação ..................................................... 27 3.2 A formação inicial e continuada de professores no Brasil............................... 29 3.3 A formação docente e a BNCC ....................................................................... 33 4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES ............ 36 4.1 Diretrizes nacionais para a formação continuada de professores .................. 40 4.2 Proposta para as ações de formação continuada ........................................... 40 5 COMPETÊNCIAS DO PROFISSIONAL DE PEDAGOGIA .................................. 42 5.1 A escola e a atuação do pedagogo frente às diversidades ............................. 43 5.2 Parâmetros nacionais para o profissional de Pedagogia no Brasil ................. 44 5.3 Algumas considerações sobre a contextualização da profissão de pedagogo no mundo ....................................................................................................................... 47 6 FORMAÇÃO PROFISSIONAL TEÓRICA METODOLÓGICA .............................. 48 6.1 A formação do pedagogo e a atuação no contexto escolar ............................ 50 6.2 Desafios contemporâneos na formação acadêmica do profissional de Pedagogia 51 7 A IMPORTÂNCIA DO MATERIAL PEDAGÓGICO .............................................. 53 7.1 O significado histórico, cultural e simbólico do material pedagógico .............. 55 7.2 Materiais pedagógicos lúdicos e promoção de novas aprendizagens ............ 57 7.3 Os diferentes tipos de materiais pedagógicos, seus usos e suas funções ..... 59 7.4 Os jogos como materiais pedagógicos na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental ................................................................................................... 59 8 DOCÊNCIA NO BRASIL: UMA PRÁTICA EM CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO 61 8.1 Prática docente: da educação básica ao ensino superior ............................... 66 8.2 Prática docente: percepções e perspectivas .................................................. 68 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 72 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 2 ORIGEM E PROCESSOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL A educação sofreu significativas transformações durante nossa história. Para que possamos compreender a complexidade que envolve a formação de professores, é necessário conhecer as nossas origens. Desse modo, convido você a voltar no tempo, mais precisamente no período que marca o início da educação em nosso país. No período Brasil colônia, marcado pelo surgimento dos colégios construídos pelos jesuítas e, pela implementação das aulas régias na reforma pombalina, não havia uma preocupação evidente com a formação dos professores. Foi a partir da Independência do Brasil que se iniciou uma organização educacional voltada para a instrução das camadas populares da sociedade. Assim, Saviani (2009, p. 144) organiza a história da formação dos professores de acordo com o seguinte panorama: • Ensaios intermitentes de formação de professores (1827-1890). Esse período se inicia com o dispositivo da Lei das Escolas de Primeiras Letras, que obrigava os professores a se instruir no método do ensino mútuo, às próprias expensas; estende-se até 1890, quando prevalece o modelo das Escolas Normais. • Estabelecimento e expansão do padrão das Escolas Normais (1890-1932), cujo marco inicial é a reforma paulista da Escola Normal tendo como anexo a escola- modelo. • Organização dos Institutos de Educação (1932- 1939), cujos marcos são as reformas de Anísio Teixeira no Distrito Federal, em 1932, e de Fernando de Azevedo em São Paulo, em 1933. • Organização e implantação dos Cursos de Pedagogia e de Licenciatura e consolidação do modelo das Escolas Normais (1939-1971). • Substituição da Escola Normal pela Habilitação Específica de Magistério (1971- 1996). • Advento dos Institutos Superiores de Educação, Escolas Normais Superiores e o novo perfil do Curso de Pedagogia (1996-2006). Agora que vimos as fases que marcaram a formação dos professores no decorrer de nossa história, de acordo com a percepção de Saviani, iremos nos aprofundar em cada uma delas, trazendo as suas principais características. A primeira delas denominada pelo autor como Ensaios intermitentes de formação de professores, contemplando o período que vai de 1827 a 1890, caracteriza-se pela criação da Lei das Escolas de Primeiras Letras em outubro de 1827, determinando que o ensino deveria passar a se valer de um método mútuo para treinar professores que seriam didaticamente capacitados. Em 1834, a instrução primária passou a ser responsabilidade da província, momento marcado pelo surgimento das Escolas Normais. Na teoria, o objetivo dessas instituições era a preparação dos professores para assumirem o ensino nas escolas primárias, porém, a preocupação recaiu sobre a capacitação para o domínio dos conhecimentos a serem transmitidos nas Escolas de Primeiras Letras, trazendo, como consequência, a ausência do preparo pedagógico adequado desses profissionais (SAVIANI, 2009). Entre o período de 1890 a 1932, após muitas contestações e reflexões, as Escolas Normais passam a ser expandidas e houve uma reformulação do currículo. De acordo com Saviani, A reforma foi marcada por dois vetores: enriquecimento dos conteúdos curriculares anteriores e ênfase nos exercícios práticos de ensino, cuja marca característica foi a criação da escola-modelo anexa à Escola Normal – na verdade a principal inovação da reforma. Assumindo os custos de sua instalação e centralizando o preparo dos novos professores nos exercícios práticos, os reformadores estavam assumindo o entendimento de que, sem assegurar de forma deliberada e sistemática por meio da organização curricular a preparação pedagógico-didática, não se estaria, em sentido próprio, formando professores (SAVIANI, 2009, p. 145). Seguindo essa estrutura organizacional, a EscolaNormal passou a se expandir pelas principais cidades do país. Dando continuidade à análise dos marcos de referências que apontam diferentes tendências para os cursos de formação de professores, veremos o período de 1932 a 1939 marcado pela organização dos Institutos de Educação. Nesse momento, há uma preocupação com o domínio dos conhecimentos que serão transmitidos. Esses espaços institucionais concebiam a educação como ensino e pesquisa. Os institutos de educação incorporaram as demandas pedagógicas que concebiam o conhecimento com um viés científico, consolidando um modelo educacional de formação docente capaz de superar algumas inconsistências e distorções anteriores das escolas normais. Assim, apresentavam “[...] um curso híbrido, que oferecia, ao lado de um exíguo currículo profissional, um ensino de humanidades e ciências quantitativamente mais significativo” (TANURI, 2000, p. 72). Após a fase de consolidação dos Institutos de Educação, temos, em nosso país, a fase de organização e implementação para os cursos de pedagogia e licenciatura, além da consolidação do padrão das escolas normais. Essa fase compreende o período de 1939 até 1971 e expande os institutos ao Ensino Superior. Contudo, o paradigma de formação de professores de nível superior foi perdendo as referências de sua concepção, não tendo mais como base as pesquisas que garantiam o viés científico desses processos de formação (SAVIANI, 2009). Na data de 2 de janeiro de 1946 aprovou-se o decreto nº 8.530, que apresentava a Lei Orgânica do Ensino Normal. O documento continha a nova base do curso normal, que passou então a ser dividido em fases, ou ciclos. O primeiro, se relacionava ao ciclo ginasial e fazia parte do período de quatro anos. O segundo, ciclo colegial, durava três anos (SAVIANI, 2009). De 1971 a 1996, foi substituída a Escola Normal pela habilitação específica de Magistério. Nesse período, o país sofreu um Golpe Militar que determinou alterações no campo educacional. Segundo o autor Nessa nova estrutura, desapareceram as Escolas Normais. Em seu lugar foi instituída a habilitação específica de 2º grau para o exercício do magistério de 1º grau (HEM). Pelo parecer n. 349/72 (Brasil-MEC-CFE, 1972), aprovado em 6 de abril de 1972, a habilitação específica do magistério foi organizada em duas modalidades básicas: uma com a duração de três anos (2.200 horas), que habilitaria a lecionar até a 4ª série; e outra com a duração de quatro anos (2.900 horas), habilitando ao magistério até a 6ª série do 1º grau. O currículo mínimo compreendia o núcleo comum, obrigatório em todo o território nacional para todo o ensino de 1º e 2º graus, destinado a garantir a formação geral; e uma parte diversificada, visando à formação especial. O antigo curso normal cedeu lugar a uma habilitação de 2º Grau. A formação de professores para o antigo ensino primário foi, pois, reduzida a uma habilitação dispersa em meio a tantas outras, configurando um quadro de precariedade bastante preocupante (SAVIANI, 2009, p. 147). Conforme as mudanças mencionadas ocorriam, no ano de 1980, houve um esforço que implicava a reformulação dos cursos de Pedagogia. Os cursos voltados para essa habilitação passaram a contemplar a “[...] docência como a base da identidade profissional de todos os profissionais da educação” (SILVA, 2003, p. 68 e 79). 2.1 As relações entre formação plena do docente e sua prática de ensino Os processos de ensino e aprendizagem referem-se a relações complexas ligadas ao desenvolvimento histórico e social. Para que o espaço escolar ofereça experiências estimulantes, globais e contextuais, espera-se que os professores que medeiam a construção do conhecimento, passem por um processo pleno de formação. Embora seja claro que para alcançar resultados pedagógicos positivos é preciso investir na formação de professores, ainda há muito o que discutir, refletir e mudar na prática, já que aquele ensino tradicional que tem sido modelo para grande parte de nossa educação ficou obsoleto. Segundo Parente, Valle e Mattos (2015, p.15): As pesquisas e as reflexões, em escala crescente, têm se dedicado ao (novo) papel do professor nesses processos e, frequentemente, afirma-se que as formas atuais de qualificação dos docentes não têm sido adequadas ou suficientes para que eles possam enfrentar a complexidade dos problemas educacionais da contemporaneidade e que isto tem muito a ver com o descompasso entre a sua formação inicial e a realidade da educação e da escola. Nas duas últimas décadas, notadamente desde o final dos anos de 1990, diversas iniciativas, tanto públicas como privadas, tentam preencher as lacunas de formação inicial por meio da formação continuada, para que os professores possam enfrentar, primeiramente, o denominado “choque de realidade”. Além do esforço de investir na formação desses profissionais, preparando os mesmos para a prática profissional, torna-se necessário que eles acompanhem os avanços no campo da educação e do ensino e aprendizagem. A formação de professores deve ser capaz de fornecer aos futuros profissionais suporte teórico e prático para desenvolver as habilidades e competências necessárias em cenários educacionais que acompanham o desenvolvimento da tecnologia e redefinir os papéis dos participantes desse processo. Onde antes o professor era visto como detentor do conhecimento e os alunos como receptores, agora esse professor medeia o encontro dos alunos com o conhecimento, que se constrói na realidade desses alunos por meio de atividades contextualizadas. Essas questões foram ponto de preocupação das esferas governamentais e houve um avanço no investimento e na compreensão de que não se trata de reciclar ou treinar professores em momentos estanques, mas, sim, algo que deve ocorrer de modo gradual e contínuo desde a sua graduação, tendo sequência ao longo de sua carreira profissional (PLACCO; SILVA, 2006). A oferta de formação continuada para professores é necessária para que haja correção de algumas lacunas existentes na formação inicial e também para criar uma base capaz de dar segurança frente às mudanças sociais e educativas, a qual apresenta- se como um meio poderoso de equilibrar teoria e prática. Ocorreram diante da constatação da importância desses investimentos, pesquisas nas esferas acadêmicas que, segundo Parente, Valle e Mattos (2015, p. 26) tinham como objetivo: [...] fornecer subsídios teóricos e práticos que fundamentassem políticas nacionais de formação continuada válidos para todo o território nacional e adequados às diferenças regionais que caracterizam o Brasil. Experiências de formação continuada, promovidas pelas escolas de forma autônoma, espalham- se pelo território brasileiro e são estudadas pelos pesquisadores que retornam às universidades munidos de dados e informações de grande relevância para que suas pesquisas não sejam feitas no vazio. Os conhecimentos desenvolvidos através de pesquisas e apresentações em conferências, juntamente com reflexões sobre as práticas quotidianas da escola, revelam as preocupações com os professores em início de carreira e como as inovações no campo da educação vão refletir na formação dos professores nos próximos anos (PARENTE; VALLE; MATTOS, 2015). Portanto, são necessários esforços, tanto das instituições de ensino que formam esses professores quanto dos próprios profissionais, para se apropriarem desse processo formativo que propõe novos olhares para a educação. 2.2 Programas de governo de incentivo à formação continuada dos docentes Objetivando reparar algumas brechas causadas pelas políticas de educação que culminaram em desigualdades sociais, o Ministério da Educação (MEC) propôs documentos, leis e diretrizes como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), e também o Plano Nacional de Educação (PNE). Sendo assim, apresentaremos noQuadro 1, as mudanças causadas por esses documentos em relação à formação docente: Quadro 1 – Mudanças na formação dos professores, proporcionadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e pelo Plano Nacional de Educação. LDBEN Lei nº 9394/96 “Art 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.” “Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: I – cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental; II – programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica; III – programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis.” PNE Lei nº 13005/14 “Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento) dos professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.” Fonte: Brasil (1996; 2014) Além da criação desses documentos, ao analisarmos a história da educação em nosso país e as transformações sociais ao longo das últimas décadas, verificaremos que foram realizadas diversas pesquisas e também inúmeros estudos acadêmicos apontando para a necessidade de se investir em uma formação que seja capaz de oferecer meios para que o docente tenha condições de lidar com as demandas educacionais atuais. A fim de que possamos conhecer algumas das principais iniciativas, o Quadro 2 apresenta os programas de incentivo à formação continuada elaborados pelo MEC. Listaremos as principais características e os objetivos, bem como os resultados alcançados Quadro 2 – Programas de incentivo à formação continuada elaborados pelo MEC. Nome do programa de governo O que é o programa? Objetivos UAB (início em 08 de junho de 2006) É um sistema integrado por universidades públicas que oferece cursos de nível superior para camadas da população que têm dificuldade de acesso à formação universitária, por meio do uso da metodologia da educação à distância. O público em geral é atendido, mas os professores que atuam na Educação Básica têm prioridade de formação, seguidos dos dirigentes, dos gestores e dos trabalhadores em Educação Básica de Estados, municípios e do Distrito Federal Oferecer cursos de licenciatura e de formação inicial e continuada de professores da Educação Básica; ofertar cursos superiores para capacitação de dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios; dispor de cursos superiores nas diferentes áreas do conhecimento; ampliar o acesso à educação superior pública; reduzir as desigualdades de oferta de ensino superior entre as diferentes regiões do país; estabelecer amplo sistema nacional de educação superior à distância; fomentar o desenvolvimento institucional para a modalidade de educação à distância, bem como a pesquisa em metodologias inovadoras de ensino superior apoiadas em tecnologias de informação e comunicação Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial (início em 2007) O Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial oferta cursos de aperfeiçoamento ou especialização em educação especial, na modalidade à distância, no âmbito da UAB, por meio de instituições públicas de educação superior Formar professores das redes públicas de ensino que atuam no atendimento educacional especializado, em salas de recursos multifuncionais, e professores do ensino regular para o desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia Educacional – ProInfo Integrado (início em 12 de dezembro de 2007) O ProInfo Integrado é um programa para integrar e articular a distribuição de equipamentos tecnológicos às escolas, como computadores, impressoras e outros equipamentos de informática, além de ofertar cursos de formação continuada e conteúdos e Proporcionar a inclusão digital de professores, gestores de escolas públicas da educação básica e a comunidade escolar em geral, além de dinamizar a qualificação dos processos de ensino e aprendizagem, desenvolvendo recursos multimídia e digitais por meio do Portal do Professor, da TV Escola, etc. É ofertado a professores e gestores das escolas públicas contempladas com laboratórios de informática pelo ProInfo, a técnicos e demais agentes educacionais dos sistemas de ensino responsáveis pelas escolas e por núcleos de tecnologia educacional, 3 cursos de formação continuada e 1 curso de especialização competências, habilidades e conhecimentos Portal do Professor (início em 18 de junho de 2008) O Portal do Professor é uma solução tecnológica que permite o armazenamento e a circulação de conteúdos educacionais multimídias, oferecendo aos educadores, em especial os professores atuantes na Educação Básica, acesso rápido e funcional a um acervo variado O Portal do Professor apoia o processo de formação dos professores e permite o armazenamento e a circulação de um acervo de conteúdos educacionais multimídia em diferentes formatos, além de links e funcionalidades que subsidiem a pesquisa e a interação na Educação Infantil, nos ensinos Fundamental, Médio, Profissional e modalidades. O portal funciona também como elemento integrador do sistema público de educação básica e profissional, unindo o MEC, as secretarias estaduais e municipais de educação, as escolas, os gestores, os professores e os alunos Fonte: Própria autoria Conhecer os principais programas de incentivo à formação continuada nos permite observar a preocupação de atender às diferentes exigências e às tentativas de preencher lacunas na busca de superar alguns dos problemas educacionais recorrentes em nossa história educacional. Analisamos que, de uma maneira geral, esses programas oportunizam aos docentes formados em diferentes momentos a possibilidade de participar de bolsas de estudo, subsidiando os custos da continuidade de sua formação, tanto em território nacional, quanto em alguns outros países por meio de parcerias. Por meio da modalidade a distância, foi ofertado também, a estudantes de regiões com dificuldade de acesso ao ensino presencial, a possibilidade de iniciar e continuar sua formação. É importante ressaltar que as esferas governamentais devem estar sempre em consonância com a realidade das diferentes regiões e que, do mesmo modo que a formação dos docentes deve ser continuada, devem ser contínuos os esforços de enfrentamento dos problemas reais, bem como haver debate, diálogo e esforço de todos os setores envolvidos para que as transformações ocorram de modo satisfatório. É consenso que investir em educação é o caminho para o progresso e o desenvolvimento para nosso país. 2 TRABALHO DOCENTE E POLÍTICA NACIONAL Uma vez, uma menina paquistanesa que havia sido baleada na cabeça pelo Talibã em 2012 ao retornar da escola falou a seguinte frase em uma palestra na sede da ONU: “Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo” (MALALA, 2013). Essa frase nos leva a refletir sobre a essência da educação e das relações que se estabelecem entre alunos e professores em diferentes tempos e lugares. No entanto, é importante destacar que, no decorrer da históriaeducacional brasileira, essas relações sofreram influência da visão que cada governo teve do conceito de educação e de seus objetivos. O que estudaremos neste capítulo, é a forma pela qual essas relações foram alteradas em nosso país, a partir de transformações históricas, sociais e políticas. Com a globalização e alguns fenômenos econômicos, vieram também novas formas de organização das instituições escolares, por meio de políticas educacionais reguladoras e novos tipos de articulações entre os cenários locais e globais. Os novos papéis do Estado também descentralizaram demandas administrativas, financeiras e pedagógicas, afetando a práxis docente no que tange às suas responsabilidades, intensificando o trabalho e as funções a desempenhar, tal como aponta Oliveira (2007, p. 366): Tal descentralização veio acompanhada de processos de padronização de procedimentos administrativos e pedagógicos, como meios de garantir o rebaixamento dos custos da expansão do atendimento e redefinir gastos, sem, contudo, abrir mão do controle central das políticas. Por meio dos currículos centralizados, o livro e material didático, vídeos, programas de computadores, a regularidade dos exames nacionais de avaliação e a prescrição normativa sobre o trabalho pedagógico, observa-se relativa padronização nos processos escolares. Além dessas observações, encontramos mudanças advindas da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), nº. 9.394/96 (BRASIL, 1996). Tal lei é indicativa da realização de um trabalho escolar feito coletivamente, no qual professores passam a participar efetivamente do planejamento do Projeto Político Pedagógico das instituições escolares, trabalhando com os conteúdos curriculares de modo transversal. Assim, passam-se a conceber as avaliações como ações contínuas, considerando seu viés diagnóstico, somativo e formativo. Outro setor amplamente transformado foi o administrativo e financeiro. Gestores escolares passaram a ter mais autonomia, flexibilidade e responsabilidade na obtenção de recursos externos. Essas transformações afetam o trabalho pedagógico, “[...] proveniente da combinação de diferentes fatores que se fazem presentes na gestão e organização do trabalho escolar, tendo como corolário [uma] maior responsabilização dos professores e [um] maior envolvimento da comunidade” (OLIVEIRA, 2007, p. 367). Essas demandas descentralizadoras foram adotadas para a diminuição das ações burocráticas das instituições escolares, visando a uma maior eficiência e ampliando as atribuições de tomada de decisão dos gestores. Como parte dessas mudanças, encontramos também ressignificações das responsabilidades de estudantes e seus responsáveis, atores envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Na LDB, por exemplo, essas demandas evidenciam-se pela menção do Estatuto da Criança e do Adolescente e dos Conselhos Escolares (BRASIL, 1996). Assim, ao refletirmos sobre essas transformações, notamos que, se de um lado surgem marcos normativos que ampliam a autonomia dos sujeitos, de outro ampliam-se os elementos controladores. Como aponta Oliveira (2007, p. 367–368): [...] aumenta a responsabilidade dos trabalhadores docentes sobre o êxito dos alunos, ampliando os raios de ação e competência desses profissionais. O desempenho dos alunos passa a ser algo exaustivamente mensurado, avaliado sistematicamente por instrumentos que não são elaborados no contexto escolar. Da mesma maneira, são muitas as demandas que chegam a esses trabalhadores como provas e exigências de sua competência em conseguir responder às prescrições de ordem orçamentária, jurídica, pedagógica e política. Os trabalhadores docentes se vêem então forçados a dominarem práticas e saberes que antes não eram exigidos deles para o exercício de suas funções e, muitas vezes, recebem tais exigências como resultados do avanço da autonomia e da democratização da escola e de seu trabalho. Assim, o trabalho docente passa a contemplar as atividades em sala de aula, as reuniões pedagógicas, a participação na gestão da escola, o planejamento pedagógico, entre outras. Levando em consideração que nos próprios processos de ensino e aprendizagem já existiam uma série de dificuldades e desafios para os profissionais envolvidos, a situação torna-se complicada com a instituição de mais atribuições. Além disso, “[...] esses novos modelos de organização escolar expressam muito mais um discurso sobre a prática do que a própria realidade” (VALENTE, 2012, p. 28). Assim, o que as políticas de reformas educacionais exigem não leva em consideração que a formação docente não acompanhou a reestruturação das relações de trabalho pedagógico/administrativo, tampouco que esses profissionais lidam com condições salariais desfavoráveis e com a precarização das condições estruturais de trabalho. Pesquisadores que se dedicam a investigar essas transformações apontam que a ótica das reformas educacionais se voltou para as formas como o trabalho docente é organizado nas instituições escolares: como é feito o planejamento, as relações entre o controle e a autonomia, a coletividade, as formas avaliativas internas e externas, os recursos disponibilizados e os resultados alcançados (DUARTE, 2006). No entanto, é fundamental que também sejam considerados outros aspectos, tais como o contexto da comunidade local onde a instituição escolar está inserida, os atores envolvidos nesse processo (os representantes da comunidade), os alunos e os responsáveis. Deve-se considerar que a “[...] atividade fim do professor é o aluno e, nesse sentido, a ação pedagógica educativa e formativa é dirigida ao aluno, que, nesse contexto, pode ser considerado objeto do trabalho do professor” (VALENTE, 2012, p. 29). A partir do momento em que as políticas educacionais expandem esse objeto, ultrapassam-se também as ações envolvendo processos de ensino-aprendizagem. O docente passa a ser considerado um profissional que, segundo Shiroma e Evangelista (2004, p. 531-532), deve ser: [...] dotado de conhecimento especializado e competências organizacionais; [...] condições de ajudar os alunos a encontrarem, organizarem e gerirem o saber; meios de possibilitar ao educando a inserção na sociedade da informação, entre outras qualidades [além de] [...] participar das políticas educacionais formulando- as e executando-as; ser reflexivos, autônomos, criativos e comprometidos com a mudança; desenvolver a aprendizagem formal e à distância, e mais uma lista imensa de atribuições. A partir dessas novas responsabilidades dos docentes, advindas das políticas públicas de reformas educacionais, observamos a existência de uma autonomia para decisões de determinadas demandas do cotidiano, tais como a escolha de temas que serão trabalhados transversalmente, dos projetos que serão desenvolvidos e das propostas para o enfrentamento dos problemas da comunidade escolar. A questão é que, junto com essa autonomia, chegam as cobranças por resultados, causando uma sobrecarga que afeta esses profissionais que já lidam diariamente com tantos desafios. 2.1 O papel do professor na formulação e execução da política educacional Sem professores, a implementação das políticas educacionais não seria possível, concorda? Antes mesmo de avançarmos nossos estudos sobre o papel do professor nessas formulações e execuções, destacamos que esse profissional é essencial em todos os aspectos e dimensões que fazem parte do campo educacional. As atribuições docentes no mundo contemporâneo envolvem o processo de ensino-aprendizagem em sala de aula, a participação em atividades realizadas coletivamente e a comunicação com responsáveis e membros da comunidade escolar. Uma dessas atribuições se efetiva na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP), encontrado na Lei nº. 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação. A disposição sobre as ações de promoção desseplano envolve: [...] estimular a participação e a consulta de profissionais da educação, alunos (as) e seus familiares na formulação dos projetos político-pedagógicos, currículos escolares, planos de gestão escolar e regimentos escolares, assegurando a participação dos pais na avaliação de docentes e gestores escolares (BRASIL, 2014). O Projeto Político Pedagógico passou a ser obrigatório por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no artigo 12, onde consta que a “[...] determinação de os estabelecimentos de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica” (BRASIL, 1996). As instituições passam a exercer um papel mais autônomo e participativo, refletindo, planejando e implementando ações pensadas em conjunto. O envolvimento dos professores no PPP oportuniza uma maior apropriação da realidade da localidade onde estão atuando. Assim, podem pensar teorias pedagógicas e desdobrarem-nas no dia a dia de seu trabalho, reconhecendo-se como membros participantes do desenvolvimento pedagógico da instituição. É importante destacar que esse documento “[...] estabelece princípios, diretrizes, propostas de organização, sistematização e avaliação das atividades desenvolvidas por um estabelecimento educacional como um todo” (FELÍCIO, 2010, p. 147). Agora que já comentamos as atribuições dos docentes na formulação e execução da política educacional, em consonância com a Lei de Diretrizes e Bases e o Plano Nacional de Educação, trataremos de algumas das funções desses profissionais. Como função, o docente tem por objetivo o desenvolvimento global dos alunos, apoiando o exercício da cidadania. Além disso, participa de ações em conjunto com os gestores escolares, contribuindo para fortalecer “[...] uma cultura institucional democrática e intervir no projeto, implementação e avaliação de políticas educacionais locais e nacionais, para promover nos estudantes aprendizagens e desenvolvimento de competências e habilidades para a vida” (UNESCO, 2005, p. 11). Desse modo, podemos identificar três dimensões que abarcam o trabalho docente, abrangendo alunos, gestores e políticas educacionais. Essas últimas fazem alusão à atuação dos docentes na elaboração, implementação e avaliação de políticas, partindo da análise das necessidades sociais da comunidade local e da própria instituição escolar. Para isso, é fundamental o esforço de todos para aproximações, debates e discussões que resultem em decisões pedagógicas, administrativas e financeiras. Estes papéis podem ser assumidos por professores que tenham competências profissionais, éticas e sociais, que se sintam formados, capacitados e dispostos a se lançar num novo papel de protagonista. Que se vejam a si mesmos e a suas escolas como membros de alianças com outros atores, para que seus estudantes aprendam mais e melhor, para que haja uma gestão cooperativa das escolas e para que as políticas locais e nacionais reflitam as demandas de desenvolvimento das comunidades e sociedades, e para que essas demandas sejam efetivamente atendidas. Com essa visão dos papéis dos docentes, a re-significação de seu trabalho e a recuperação da posição central dele pressupõem um reconhecimento de que há um conjunto de fatores que determinam o desempenho, e de que esses fatores interagem e influenciam uns aos outros. Entre eles: formação inicial, desenvolvimento profissional em serviço, condições de trabalho, saúde, auto-estima, compromisso profissional, clima institucional, valorização social, capital cultural, salários, estímulos, incentivos, carreira profissional, avaliação do desempenho (UNESCO, 2005, p. 12). Outro aspecto importante a ser mencionado é que essas mudanças, advindas das reformas do ensino na execução de políticas educacionais pelos docentes, trouxeram como uma das consequências a separação “[...] entre a concepção e execução do trabalho educacional” (VALENTE, 2012, p. 33). Esse distanciamento causou sensação de desânimo e impotência por parte dos professores, pela perda de sua autonomia para a execução dos processos de ensino e aprendizagem. O trabalho do docente passou a estar vinculado a treinamentos e métodos que buscam eficiência para a obtenção de resultados no desempenho dos alunos e da instituição escolar, estando estes diretamente relacionados à distribuição de verbas. Com isso, a escola deixa de priorizar os aspectos sociais para se voltar aos aspectos técnicos, visando a obtenção de bons resultados (FREITAS, 2011). Em torno dessas questões, muitas críticas surgem pelas vozes de docentes e educadores que são impactados diretamente em sua práxis, sentindo-se atores em um cenário descontextualizado da realidade local, responsabilizados por resultados que não dependem somente de seu desempenho. Um levantamento feito pela pesquisadora Linda Darling-Hammond apontou que, mais que o desempenho individual do docente, existem outras variáveis que afetam os resultados educacionais, como: Fatores escolares, tais como tamanho das turmas, escolhas curriculares, tempo de ensino, disponibilidade de especialistas, tutores, livros, computadores, laboratórios científicos, e outros recursos; – Experiência anterior de escolaridade e docentes, assim como outros aspectos das experiências mais atuais – tais como oportunidades de aprendizagem profissional e planejamento colaborativo; – Cultura de pares e desempenho; – Diferencial de ganhos e perdas na aprendizagem de verão (férias); – Fatores domésticos, tais como capacidade dos pais no auxílio aos trabalhos para casa, segurança com a alimentação e moradia, e apoio ou abuso físico e mental; e – Necessidades individuais dos estudantes, saúde e assistência (DARLING- HAMMOND, 2015, apud HYPOLITO, 2015, p. 519). A partir desses fatores, que comprovadamente se relacionam ao desempenho dos estudantes, constatamos que a responsabilidade pelos resultados das avaliações não deveria recair somente sobre o trabalho dos docentes. Partindo desse pressuposto, deve ser um esforço coletivo a reflexão para pensar em ações nos âmbitos pedagógicos, administrativos e financeiros que promovam uma educação de qualidade. É fundamental que todos os atores envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem estejam conscientes de sua responsabilidade, bem como das normas e diretrizes governamentais vigentes em diferentes esferas. Acima de tudo, para que os professores possam cumprir seus papéis na formulação e execução das políticas educacionais, eles devem ser ouvidos, considerados e valorizados, tanto no que diz respeito a sua remuneração, quanto às condições adequadas para o exercício de suas funções. 2.2 As relações entre a formação de professores e a política educacional Ao acompanharmos a práxis docente ao longo das últimas décadas, observamos profundas transformações a partir das mudanças nas relações de trabalho, das tendências econômicas e das concepções governamentais sobre o objetivo da educação na sociedade. A instituição escolar no mundo contemporâneo deixou de ser um espaço de transmissão de conteúdo para se tornar um ambiente democrático de formação para a cidadania, para o desenvolvimento integral, para o estímulo à reflexão e para a formação da vida em coletividade, respeitando a diversidade, preservando a identidade e a cultura e baseando-se em valores e princípios éticos. Um exemplo que corrobora com essa identificação é encontrado em um relatório elaborado pela Comissão Internacional sobre a Educação no Século XXI, que aponta como pilares educacionais, os seguintes princípios (INTERNATIONAL COMMISSION ON EDUCATION FOR THE TWENTY- FIRST, 2010, p. 31): • Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente ampla, com a possibilidade de estudar, em profundidade, um número reduzido de assuntos, ou seja: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo da vida. •Aprender a fazer, a fim de adquirir não só uma qualificação profissional, mas, de uma maneira mais abrangente, a competência que torna a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Além disso, aprender a fazer no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalho, oferecidas aos jovens e adolescentes, seja espontaneamente na sequência do contexto local ou nacional, seja formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. • Aprender a conviver, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerenciar conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. • Aprender a ser, para desenvolver, o melhor possível, a personalidade e estar em condições de agir com uma capacidade cada vez maior de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Com essa finalidade, a educação deve levar em consideração todas as potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. Ao observar todos esses princípios envolvendo a educação, nos questionamos: será que a formação docente se adequou para preparar os professores para tantas transformações? Para que esses pilares sejam efetivamente trabalhados em sala de aula, é fundamental que o docente possua uma formação que desenvolva competências que o levem a desempenhar uma prática reflexiva e crítica, que o envolva nos processos de ensino e aprendizagem das tendências educacionais globais. No que diz respeito à legislação, temos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), em seu art. 61, a seguinte garantia de direitos e estabelecimento de diretrizes: A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e as características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: I- a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço; II- aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades (BRASIL, 1996, documento-online). Realizando uma análise crítica, é recomendável que a formação dos professores seja planejada para preparar esses profissionais para “[...] atuar num nível de educação onde são definidos os valores e as condições básicas para o aluno apreender o conhecimento mínimo elaborar a visão estratégica imprescindível a compreender o mundo, intervir na realidade e agir como sujeito crítico” (CARNEIRO, 2003, p. 150). Desse modo, para que o professor possa promover um ambiente reflexivo em sala de aula, é recomendável que sua capacitação seja fundamentada e organizada em dois planos, conforme afirmam Perrenoud e outros autores (2002), o primeiro, para de forma conjunta, construir uma visão comum e sintética da formação de professores, seus objetivos e procedimentos na escala de um projeto de fundação, e em segundo plano, desenvolvimento de regulamentos especiais em grupos de trabalho restritos de acordo com um plano comum. A partir dessas considerações, para que esses profissionais estejam preparados para atuar nesse cenário educacional, palco de tantas transformações, as políticas educacionais devem se voltar para a premissa de que “[...] o desenvolvimento do professor se realiza de forma ampla, seja ela inicial, continuada, de atualização ou aperfeiçoamento, desde que o permita buscar outros conhecimentos e interligá-los com sua área de atuação” (BARBOSA; MAIA, 2012, p. 3). Após abordamos alguns aspectos conceituais sobre a formação docente, veremos a seguir, como a nossa legislação federal concebe a institucionalização da formação de professores para educação básica. A partir da análise de Cury (1996) a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 concedeu-se um título para os profissionais da educação, o Título VI da Lei, que consequente a Constituição Federal, elege dispositivos programáticos para a valorização dos profissionais. Além disso, alguns parágrafos são mais específicos, como os art. 62, 63 e 64, que se referem à formação docentes em universidades e institutos de educação de nível superior, e também sobre as especializações. A partir desses dispositivos legais, diferentes esferas governamentais exercem um papel essencial na formulação de políticas educacionais, planos e programas que assegurem o direito à formação inicial e continuada dos professores. Quanto à formação inicial da educação básica, Libâneo (2001) faz uma crítica em relação a sua organização. O autor afirma que grande parte das licenciaturas aproxima o docente da realidade escolar somente após este ter tido a formação teórica dos aportes específicos e pedagógicos de sua área. De acordo com o autor, o ideal seria o docente em formação integrar, desde seu ingresso no Ensino Superior, os conteúdos disciplinares às vivências práticas, para que tivesse a oportunidade de prever situações e desafios, refletindo sobre os caminhos e decisões pertinentes para alcançar os objetivos propostos. Ter a contribuição desses especialistas é fundamental para buscarmos superar dificuldades e propormos novas estratégias, tais como as encontradas no Plano Nacional de Educação (PNE), instituído na Lei nº. 13.005, de junho de 2014, do qual destacaremos alguns dos compromissos assumidos em relação aos profissionais docentes (BRASIL, 2014): • Promover a formação inicial e continuada dos (as) profissionais da educação infantil, garantindo, progressivamente, o atendimento por profissionais com formação superior; • Estimular a articulação entre pós-graduação, núcleos de pesquisa e cursos de formação para profissionais da educação, de modo a garantir a elaboração de currículos e propostas pedagógicas que incorporem os avanços de pesquisas ligadas ao processo de ensino-aprendizagem e às teorias educacionais no atendimento da população de 0 (zero) a 5 (cinco) anos; • Promover e estimular a formação inicial e continuada de professores (as) para a alfabetização de crianças, com o conhecimento de novas tecnologias educacionais e práticas pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação entre programas de pós-graduação stricto sensu e ações de formação continuada de professores (as) para a alfabetização; • Fomentar a formação de consórcios entre instituições públicas de educação superior, com vistas a potencializar a atuação regional, inclusive por meio de plano de desenvolvimento institucional integrado, assegurando maior visibilidade nacional e internacional às atividades de ensino, pesquisa e extensão; • Ampliar programa permanente de iniciação à docência a estudantes matriculados em cursos de licenciatura, a fim de aprimorar a formação de profissionais para atuar no magistério da educação básica; • Fomentar a oferta de cursos técnicos de nível médio e tecnológicos de nível superior destinados à formação, nas respectivas áreas de atuação, dos (as) profissionais da educação de outros segmentos que não os do magistério. Observar propostas, metas e compromissos, como os destacados acima, permite- nos reconhecer avanços. Basta relembrarmos nosso passado educacional e vermos a preocupação formativa, abarcando diferentes aspectos e buscando articulá-los às tendências globais. Em suma, o que discutimos ao longo de nossos estudos a respeito da formação dos professores e das políticas educacionais permite-nos concluir que essas ações, planos e programas devem se voltar para a oferta de uma preparação inicial e continuada do exercício docente, visando à implementação de propostas de aperfeiçoamento fundamentados de referenciais teóricos e vivências práticas que formem profissionais com a base necessária para atuar. Esses profissionais devem se apropriar de competências essenciais que deem conta de cumprir os objetivosde formação dos educandos exigidos no mundo contemporâneo. 3 A FORMAÇÃO DO PEDAGOGO Os professores que hoje ensinam as crianças e os jovens nas primeiras etapas da educação básica se formam nos cursos de Pedagogia. Segundo Saviani (2020, p. 30), a primeira vez que o termo “pedagogia” apareceu no Brasil foi em 1826, com a apresentação do Projeto de Lei “[...] que pretendia instituir um sistema completo de educação distribuído em quatro graus, sendo o primeiro, relativo ao ensino elementar, isto é, aos conhecimentos mínimos necessários a todos indistintamente”. Assim, a “[...] Lei das Escolas de Primeiras Letras promulgada em 15 de outubro de 1817 prescrevia, no artigo 1º: ‘Haverão [sic] escolas de primeiras letras, que se chamarão pedagogias, em todas as cidades, vilas e lugares populosos […]’” (SAVIANI, 2020, p. 31). Como em muitos países europeus, a formação inicial de professores no Brasil era feita nas Escolas Normais, sendo que a primeira fundada no país na data de 1835 se situava na cidade de Niterói. Observa-se que houve um atraso de quase meio século em relação à formação de professores na Europa, pois a primeira Escola Normal de que se tem registro foi aberta na França, na cidade de Paris, em 1795. Segundo Saviani (2020, p. 27), nas Escolas Normais Primárias europeias, predominava como modelo de formação o “[...] modelo pedagógico-didático [...] este modelo considera que a formação propriamente dita dos professores só se completa com o efetivo preparo pedagógico- didático” (SAVIANI, 2020, p. 32). Já no Brasil, o currículo priorizava os conteúdos a serem ensinados na escola elementar. Esse direcionamento estava previsto na Lei Provincial (Ato nº. 10), de 4 de abril de 1835. Ao determinar os conteúdos a serem ensinados às crianças, definiam-se os moldes da formação dos professores. Isso é observado no Decreto nº 7.247, de 19 de abril de 1879, da província do Rio de Janeiro, no qual fica determinado que o ensino primário passa a adotar o método intuitivo, como descreve Saviani (2020, p. 33): É o que se evidencia no enunciado da disciplina “prática do ensino intuitivo ou lições de coisas” (Art. 9º) do currículo da Escola Normal, bem como no componente disciplinar “noções de coisas” (Art. 4º) do currículo da escola primária. E o substantivo “pedagogia” assim como o adjetivo “pedagógico” já aparecem cada um uma vez no texto do decreto. Trata-se do inciso 10 do artigo 8º, onde se lê: “Fundar ou auxiliar bibliotecas e museus pedagógicos nos lugares onde houver escolas normais” e do § 1º do artigo 9º, onde se fixa “pedagogia e prática do ensino primário em geral” como uma das disciplinas do currículo da Escola Normal. Saviani (2020) destaca que o termo “pedagógico” é, na verdade, um adjetivo para bibliotecas e museus, e o substantivo “pedagogia” é uma indicação da atividade prática, não caracterizando o sentido de teoria da educação. Em 1890, na província de São Paulo, ocorreu a maior reforma da instrução pública, tendo como preocupação a boa formação dos professores e uma crítica às Escolas Normais existentes. Dessa forma, como destaca Saviani (2020, p. 35): A reforma foi marcada por dois vetores: enriquecimento dos conteúdos curriculares anteriores; e ênfase nos exercícios práticos de ensino, cuja marca característica foi a criação da Escola-Modelo anexa à Escola Normal, na verdade a principal inovação da reforma. De fato, foi por meio dessa escola de aplicação que o modelo pedagógico-didático se tornou a referência para a formação de professores propiciada pelas Escolas Normais. Esse modelo, que também pode ser chamado de escola de professores, evidenciou que era necessário garantir a preparação didático-pedagógica na formação de professores de forma deliberada e sistemática. Essa ideia se expandiu para todas as demais províncias. Dessa reforma, surgiu a primeira tentativa para elevar os estudos ao nível superior, A Lei n. 88, de 8 de setembro de 1892, instituiu o curso superior da Escola Normal organizado em duas seções, a científica e a literária, com dois anos de duração, tendo como finalidade a formação de professores para as Escolas Normais e ginásios. E “no regulamento da Escola Normal de São Paulo, aprovado em 9 de outubro de 1896, o curso superior reaparece apenas como um dos cursos da Escola Normal de São Paulo”, tendo como objetivo a formação de professores para o ensino secundário (SAVIANI, 2020, p. 35). Foi por meio do Decreto nº. 19.851, de 11 de abril de 1931, que se estabeleceu o Estatuto das Universidades Brasileiras, que se previu entre os cursos superiores o de educação. Para Saviani (2020, p. 36), foi um passo importante para a criação do “espaço acadêmico da pedagogia” — ou seja, a educação seria pensada no ensino superior, dentro das universidades onde, na época, só se valorizavam os cursos tradicionais de Direito, Medicina e Engenharia. No entanto, pela exigência do estatuto, foi instituída no Rio de Janeiro apenas a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras como espaço de formação de professores. Esse estatuto foi uma vitória, ainda que não se concretizasse o curso de Pedagogia, pois passaram a ser valorizados os estudos de educação em nível superior. Com a criação da Universidade de São Paulo (USP), em 1934, formou-se a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em São Paulo, como “[...] instituição integradora de todos os conhecimentos humanos” e que mantinha “disciplinas comuns aos demais institutos universitários para a formação dos professores das escolas secundárias e das instituições de ensino superior” (SAVIANI, 2020, p. 41). O espaço de educação da USP nascia, na verdade, em outro endereço, na Escola Normal da Praça, [...] o antigo Instituto Caetano de Campos, ao qual ficaram subordinados administrativa e tecnicamente, como institutos anexos, o Curso Complementar; a Escola Secundária; a Escola Primária; e o Jardim de Infância, “destinados à experimentação, demonstração e prática do ensino, e ao estágio profissional dos alunos da Escola de Professores”, conforme se estipulou no artigo 5º do Decreto Estadual n. 6.283, de 25 de janeiro de 1934, que criou a USP (SÃO PAULO, 2000, p. 211 apud SAVIANI, 2020, p. 42). O Decreto nº. 4.888, de 12 de fevereiro de 1931, transformou a Escola Normal da Praça em instituto pedagógico, por meio de Lourenço Filho, reorganizando o ensino normal com um “ideário renovador”. Isso porque se buscava uma formação aos professores primários de elevada qualidade, em que era possível vivenciar a escola em sua complexidade enquanto se preparava para atuar nela. Isso era inovador de tal forma que se podia afirmar, segundo Monarcha, que “[...] Lourenço Filho e Fernando Azevedo estariam inaugurando uma Escola Normal Superior” (MONARCHA, 1999 apud SAVIANI, 2020, p. 44). Segundo Gatti et al. (2019, p. 22): O efeito dos institutos de educação será contribuir para um novo padrão de escolas normais em nível secundário (hoje médio) e, com sua elevação ao nível universitário, no caso do Rio de Janeiro e de São Paulo, dão origem na Universidade do Distrito Federal e na Universidade de São Paulo à área de estudos relativos à Educação e aos cursos de Pedagogia. Esse movimento, construído passo a passo, devido à necessidade de qualificação na formação de professores, acabou por desencadear, em meio ao Estado Novo, pelo Decreto-Lei nº. 1.190, de 04 de abril de 1939, a organização da Faculdade Nacional de Filosofia. Esta se estruturava em quatro seções: filosofia, ciências, letras e pedagogia, acrescentando uma seção especial que era, na verdade, a de didática. Essas seções ofereciam diferentes cursos; contudo, as seções de pedagogia e didática abrigavam apenas o curso com o nome da seção. Segundo Saviani (2020), foi aí que nasceu o curso de Pedagogia. A Faculdade Nacional de Filosofia, em suas diferentes seções, oferecia cursos em duas modalidades, bacharelado e licenciatura,inclusive a pedagogia. No entanto, os cursos iniciavam com três anos de bacharelado. Somente ao final, caso os alunos quisessem atuar na docência, como professores, deveriam cursar a seção de didática, para receberem o grau de licenciados. Assim, o curso de pedagogia era: [...] lugar de formação de “técnicos em educação”. Estes eram, à época, professores primários que realizavam estudos superiores em Pedagogia para, mediante concurso, assumirem funções de administração, planejamento de currículos, orientação a professores, inspeção de escolas, avaliação do desempenho dos alunos e dos docentes, de pesquisa e desenvolvimento tecnológico da educação, no Ministério da Educação, nas secretarias dos estados e dos municípios (BRASIL, 2005, p. 2). Foi somente com a Reforma Universitária, a partir da Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, que houve uma nova regulamentação para o curso de Pedagogia, que resultou na Resolução nº. 02, de 12 de maio de 1969, do Conselho Federal de Educação (CFE), na qual foram estabelecidos os conteúdos e a duração do curso. Assim, a formação de professores teve seus conteúdos divididos em duas frentes: uma base comum a todos e uma parte diversificada, que continha as habilitações, como orientação educacional, administração escolar, supervisão escolar e inspeção escolar. Apesar de inúmeras discussões e movimentos acerca dos conteúdos e da carga horária, o curso de pedagogia não se alterou até 1996, com a publicação da LDB. Definindo a educação básica e as suas principais características, a LDB acabou impulsionando, primeiramente, a publicação da Resolução do Conselho Pleno (CP) nº. 01, de 30 de setembro de 1999, que criava os Institutos Superiores de Educação, com o intuito de promover as formações inicial, continuada e complementar de professores para atuarem na docência da educação básica. Em seguida, houve a publicação do Decreto nº. 3.276, de 6 de dezembro de 1999, que dispunha sobre a formação em nível superior de professores para atuar na educação básica. Nele, ficou estabelecido (no art. 5º) que o Conselho Nacional de Educação (CNE) definiria as diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores, o que ocorreu com a publicação da Resolução CNE/CP nº. 01, de 15 de maio de 2006, revogando, quase 50 anos depois de sua publicação, a Resolução CFE nº. 02/1969. Contudo, as mudanças não pararam por aí. Em 2015, o CNE publicou a Resolução nº. 02, de 1 de julho de 2015, que definia as diretrizes curriculares nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Essa Resolução não revogou as diretrizes do curso de Pedagogia, mas acrescentou a esse curso e a todos os demais cursos de formação de professores aspectos que definiam princípios, fundamentos, dinâmica formativa e procedimentos para a formação inicial e continuada. 3.1 A formação do pedagogo e a sua atuação A formação do pedagogo não se estabeleceu da noite para o dia — foi um longo processo de construção que, além de intervir na própria formação docente, também modificou o modo como a sociedade foi entendendo a educação e o papel do pedagogo. A formação inicial é compreendida, atualmente, como um processo de construção de identidade que articula o profissional formado no curso de pedagogia com a formação inicial de docentes — tanto que as políticas públicas delimitaram essas questões em diferentes resoluções. O pedagogo, ao se formar, segundo o art. 2º da Diretriz Curricular Nacional (DCN) do Curso de Pedagogia, está habilitado a atuar na docência da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, nos cursos de ensino médio, na modalidade normal, em cursos profissionais na área de serviço e apoio escolar e na gestão escolar (BRASIL, 2006). A DCN prevê que o pedagogo poderá atuar em quaisquer áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos, o que amplia os espaços de atuação, como a participação no “[...] planejamento, gestão e avaliação dos estabelecimentos de ensino, de sistemas educativos escolares, bem como na organização e desenvolvimento de programas não escolares”, conforme definido no Parecer CNE/CP nº. 05/2005 (BRASIL, 2005, documento on-line). Podemos destacar, a partir desse conjunto citado na legislação, a atuação do pedagogo como coordenador pedagógico, diretor de escola e supervisor de ensino. Podemos ainda ampliar esse espaço de atuação, considerando que o pedagogo poderá, entre outras funções: • Orientar a produção e revisão de materiais didáticos, sejam eles livros, brinquedos, jogos, games, entre outros; • Desenvolver programas de formação em empresas e corporações, bem como em instituições do terceiro setor, em hospitais, bibliotecas, museus e espaços diversos que compreendam ações educativas, o que inclui programas de rádio, TV e imprensa; • Elaborar questões para as avaliações em larga escala, como a Provinha Brasil e outras; • avaliar relatórios educacionais; • Desenvolver pesquisas na sua área de atuação. Observa-se que há um vasto campo de atuação já conquistado pelos pedagogos, e outras formas de atuação que vêm surgindo a cada mudança nos espaços produtivos, como tutor para a educação a distância, criador de conteúdo para sites e blogs na área da educação, entre outros. A Resolução CNE/CP nº. 01/2006, ao definir que o pedagogo poderá atuar em qualquer espaço que preveja os conhecimentos pedagógicos, entende, como descrito no § 2º do art. 2º, que o curso de pedagogia propiciará aos seus egressos: [...] por meio de estudos teórico-práticos, investigação e reflexão crítica, [...] I – o planejamento, execução e avaliação de atividades educativas; II – a aplicação ao campo da educação, de contribuições, entre outras, de conhecimentos como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental-ecológico, o psicológico, o linguístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural (BRASIL, 2006, documento on-line). Sendo a pedagogia uma área ligada diretamente à formação humana, torna-se necessário que esse campo possa ser compreendido dentro das demais áreas do conhecimento. Isso, porque o objetivo dos estudos de pedagogia é orientar os pedagogos na “[...] observação, análise, execução e avaliação do ato docente e de suas repercussões ou não em aprendizagens, bem como orientar práticas de gestão de processos educativos [...]”, sendo esses conhecimentos considerados centrais na formação do pedagogo (BRASIL, 2005, documento on-line). Nesse sentido, é importante compreender as competências que devem ser construídas pelos alunos ao longo do curso de Pedagogia e que definem a sua competência profissional. De acordo com o art. 5º da Resolução CNE/CP nº. 01/2006 (BRASIL, 2006, documento on-line), os egressos do curso de Pedagogia deverão estar aptos a: • atuar com ética e compromisso para uma sociedade justa, equânime e igualitária; • contribuir para o desenvolvimento integral de crianças de zero a cinco anos; • fortalecer as aprendizagens de crianças, jovens e adultos; • promover as aprendizagens a todos e nas diversas etapas de escolaridade; • reconhecer as necessidades dos educandos; • ensinar os conteúdos previstos nas diversas áreas de forma interdisciplinar; • relacionar as linguagens dos meios de comunicação à educação com domínio das novas tecnologias de informação e comunicação; • promover e facilitar a relação escola-família; • investigar e intervir nas realidades complexas; • respeitar as diferenças de forma consciente; • trabalhar em equipe de forma dialógica com todas as áreas; • participar plenamente da gestão das instituições escolares; • participar da gestão em espaços escolares e não escolares; • produzir conhecimentos que promovam o sucesso na área educacional; • utilizar com competência os instrumentosde construção de conhecimento pedagógico e científico; • estudar e aplicar a legislação educacional. Além da formação específica no curso de Pedagogia, é preciso que o profissional se oriente por duas outras resoluções: a Resolução CNE/CP nº. 02/2019, a DCN da formação inicial para professores, e a Resolução CNE/CP nº. 01/2020, a DCN da formação continuada. Ambas articulam a formação do professor com a BNCC. 3.2 A formação inicial e continuada de professores no Brasil Você já deve ter percebido que a formação de professores não termina. Assim, é fundamental compreender como esse percurso de aprendizagem está previsto nas políticas públicas, desde a graduação e ao longo de toda a atuação profissional. A Resolução CNE/CP nº. 02/2019 “Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação)” (BRASIL, 2019, documento on-line). Há uma preocupação na política educacional de que os professores tenham desenvolvidas competências profissionais que contribuam para a consolidação das aprendizagens essenciais previstas na BNCC para a educação básica. Por isso, essa Resolução também institui a BNC-Formação. A BNC-formação define 10 competências gerais e específicas (Quadro 1), sendo estas organizadas em três dimensões, que são interdependentes e devem integrar-se e complementar-se na ação docente. Quadro 1 – Competências específicas em suas três dimensões Conhecimento Profissional Prática Profissional Engajamento Profissional • Dominar objetos de conhecimento e saber ensiná-los; • Demonstrar conhecimentos sobre os estudantes e como eles aprendem; • Reconhecer os contextos da vida dos estudantes; • Conhecer a estrutura e a governança dos sistemas educacionais. • Planejar as ações de ensino que resultem em efetivas aprendizagens; • Criar e saber gerir os ambientes de aprendizagem; • Avaliar o desenvolvimento do educando, a aprendizagem e o ensino; • Conduzir as práticas pedagógicas dos objetos do conhecimento, as competências e as habilidades. • Comprometer-se com o próprio desenvolvimento profissional; • Comprometer-se com a aprendizagem dos estudantes e colocar em prática o princípio de que todos são capazes de aprender; • Participar do Projeto Pedagógico da escola e da construção de valores democráticos; • Engajar-se, profissionalmente, com as famílias e com a comunidade, visando melhorar o ambiente escolar. Fonte: adaptado de Brasil, 2019. As competências específicas para a formação inicial de professores possuem estreita relação com as competências para a formação dos pedagogos, e ambas devem compor a formação docente, sem qualquer hierarquia e com total integração. A formação inicial do professor visa garantir o pleno desenvolvimento dos alunos da educação básica em todas as suas etapas e modalidades. Dessa forma, são fundamentos: • a sólida formação básica com conhecimentos científicos e sociais do trabalho de sua competência; • a associação entre teorias e práticas pedagógicas; e • o aproveitamento da formação e de experiências anteriores, desenvolvidas ao longo da escolarização, em outras atividades docentes ou na área da educação. Enfatiza-se no parágrafo único do art. 5º da Resolução CNE/CP nº. 02/2019 que todos os processos de ensino e de aprendizagem devem alicerçar-se em conhecimentos científicos, de modo a favorecer o desenvolvimento dos saberes e promover o acesso ao conhecimento. A política de formação de professores para a educação básica, articulada à BNCC, enfatiza os princípios que mostram que o Estado se compromete com a formação docente para que se fortaleça uma educação básica de qualidade. Tais princípios são listados no art. 6º da Resolução CNE/CP nº. 02/2019 (BRASIL, 2019, documento on-line): Art. 6º A política de formação de professores para a Educação Básica, em consonância com os marcos regulatórios, em especial com a BNCC, tem como princípios relevantes: I - a formação docente para todas as etapas e modalidades da Educação Básica como compromisso de Estado, que assegure o direito das crianças, jovens e adultos a uma educação de qualidade, mediante a equiparação de oportunidades que considere a necessidade de todos e de cada um dos estudantes; II - a valorização da profissão docente, que inclui o reconhecimento e o fortalecimento dos saberes e práticas específicas de tal profissão; III - a colaboração constante entre os entes federados para a consecução dos objetivos previstos na política nacional de formação de professores para a Educação Básica; IV - a garantia de padrões de qualidade dos cursos de formação de docentes ofertados pelas instituições formadoras nas modalidades presencial e a distância; V - a articulação entre a teoria e a prática para a formação docente, fundada nos conhecimentos científicos e didáticos, contemplando a indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, visando à garantia do desenvolvimento dos estudantes; VI - a equidade no acesso à formação inicial e continuada, contribuindo para a redução das desigualdades sociais, regionais e locais; VII - a articulação entre a formação inicial e a formação continuada; VIII - a formação continuada que deve ser entendida como componente essencial para a profissionalização docente, devendo integrar-se ao cotidiano da instituição educativa e considerar os diferentes saberes e a experiência docente, bem como o projeto pedagógico da instituição de Educação Básica na qual atua o docente; IX - a compreensão dos docentes como agentes formadores de conhecimento e cultura e, como tal, da necessidade de seu acesso permanente a conhecimentos, informações, vivência e atualização cultural; e X - a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte, o saber e o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas. Com base nesses princípios, a Resolução determina que os cursos destinados à formação inicial de professores para a educação básica tenham em seus fundamentos pedagógicos toda a organização e o amparo necessários para uma formação sólida, de modo a tornar esses profissionais aptos e competentes para formarem as crianças e os jovens na educação básica em todas as áreas do conhecimento. Nessa prática, devem ser usadas estratégias e metodologias inovadoras, com domínio de todos os processos educacionais apoiados no conhecimento científico, e todas as decisões pedagógicas devem ser tomadas com base em evidências. Para os cursos de licenciatura, e aqui destacamos o curso de Pedagogia, essa Resolução destaca algumas temáticas que são indissociáveis da formação docente para atuar na educação básica, em especial na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, que veremos mais adiante. A formação continuada e a BNC-Continuada, apresentadas na Resolução CNE/CP nº. 01/2020, são definidas com orientações detalhadas para a implementação em todas as modalidades e cursos de formação de professores para a educação básica. Essa Resolução adota 10 competências gerais, as mesmas descritas na BNC-Formação, e também prevê as três dimensões para as competências específicas. No entanto, ao desenvolvê-las, amplia as habilidades, evidenciando a ideia de progressão na formação docente ao longo da vida. O art. 9º da Resolução CNE/CP nº. 01/2020 define os cursos e programas para a formação continuada, destacando que podem ser “[...] atividades formativas diversas, presenciais, a distância, semipresenciais, de forma híbrida, ou por outras estratégias não presenciais” (BRASIL, 2020, documento on-line). Considerando as necessidades formativas, tais atividades poderão ocorrer em cursos de atualização com carga horária mínima de 40 horas, em cursos e programas de extensão,em cursos de aperfeiçoamento com mínimo de 180 horas de carga horária, em cursos de pós graduação lato sensu com o mínimo de 360 horas de carga horária e em cursos e programas de mestrado acadêmico ou profissional e de doutorado, que são cursos de pós graduação stricto sensu. Espera-se que os docentes que ministrarão essa formação continuada nas instituições sejam professores com experiência nas redes escolares, para que haja uma ponte orgânica e contextualizada entre o ensino superior e a educação básica. Ainda, os artigos 11, 12, 13 e 14 que dispõe sobre as Diretrizes curriculares para a formação continuada de professores para a educação básica (BRASIL, 2020) apresentam as políticas de formação ao longo da vida e em serviço, sendo uma das inovações a relação de mentoria ou tutoria do professor mais experiente acompanhando a formação daquele que inicia sua trajetória, atendendo ao parágrafo único do art. 61 da LDB. Há, tanto na BNC-Formação quanto na BNC-Formação Continuada, uma forte preocupação em manter o constante diálogo entre a formação docente nas instituições formadoras e a vivência nos processos escolares. Isso porque esse diálogo possibilita maior qualificação no atendimento à educação básica, como previsto nos respectivos fundamentos e objetivos. 3.3 A formação docente e a BNCC Quando analisamos cuidadosamente a formação docente — inicial e continuada — e a sua articulação com a BNCC, podemos observar a estreita relação entre a ação pedagógica de ensino e a ampliação ao acesso dos alunos da educação básica a uma educação de qualidade. Por isso, a formação docente não pode se restringir ao espaço acadêmico, pois a sua vivência profissional se dará na complexidade e na especificidade das escolas da educação básica. Por mais que se discuta quantos são os aspectos formativos que compõem a escola, a qualidade da educação se inicia com a figura do professor, como defendem Gatti et al. (2019, p. 43): Qualquer que seja o tipo de relação estabelecida e as formas dos processos educativos, o formador é figura imprescindível. Os insumos, a infraestrutura, são condições necessárias, mas, não suficientes para a implementação de processos formativos. Terceiro aspecto a integrar essa forma de configurar qualidade educacional é a concepção de que o núcleo do processo educativo é a formação das pessoas, seja como indivíduos sociais e/ou como profissionais. Somente por meio das vivências é possível integrar-se à realidade do trabalho de formação das crianças e jovens no dia a dia da escola. Assim, podemos compreender o intuito da atual política pública, que define no art. 15 da Resolução CNE/CP nº. 02/2019 (BRASIL, 2019), que a carga horária de 800 horas, destinada às atividades práticas e ao estágio supervisionado, deve ser aplicada de forma presencial nos espaços escolares, tendo como suporte o apoio do professor da instituição formadora e de um professor experiente da escola em que o aluno realizará suas atividades. Assim, acredita-se ser possível concretizar a união entre teoria e prática e, consequentemente, entre a formação oferecida na graduação e a formação realizada nas escolas — o diálogo entre os saberes acadêmicos e os saberes escolares. Esse diálogo pode ser observado nas 10 competências gerais docentes propostas na BNC-Formação e na BNC-Formação Continuada e nas 10 competências gerais para a educação básica, apresentadas no Quadro 2. Quadro 2 – Competências gerais apresentadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na BNC – Formação e na BNC – Formação Continuada Competências gerais para educação básica — BNCC Competências gerais docentes — BNC-Formação e BNC Formação Continuada 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital, para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 1. Compreender e utilizar os conhecimentos historicamente construídos para poder ensinar a realidade, com engajamento na aprendizagem do estudante e na sua própria aprendizagem, colaborando para a construção de uma sociedade livre, justa, democrática e inclusiva 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 2. Pesquisar, investigar, refletir, realizar a análise crítica, usar a criatividade e buscar soluções tecnológicas para selecionar, organizar e planejar práticas pedagógicas desafiadoras, coerentes e significativas 3. Desenvolver o senso estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também para participar de práticas diversificadas da produção artístico- cultural. 3. Valorizar e incentivar as diversas manifestações artísticas e culturais, tanto locais quanto mundiais, e a participação em práticas diversificadas da produção artístico- - cultural, para que o estudante possa ampliar seu repertório cultura 4. Utilizar diferentes linguagens — verbal (oral ou visual-motora, como Libras) e escrita, corporal, visual, sonora e digital —, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos, em diferentes contextos, e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 4. Utilizar diferentes linguagens — verbal, corporal, visual, sonora e digital — para se expressar e fazer com que o estudante amplie seu modelo de expressão, ao partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos, produzindo sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação, de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas docentes, como recurso pedagógico e como ferramenta de formação, para comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e potencializar as aprendizagens. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade 6. Valorizar a formação permanente para o exercício profissional, buscar atualização na sua área e afins, apropriar-se de novos conhecimentos e experiências que lhe possibilitem aperfeiçoamento profissional e eficácia e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania, ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns, que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável, em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado consigo mesmo, com os outros e com o planeta 7. Desenvolver argumentos com base em fatos, dados e informações científicas para formular, negociar e defender ideias, pontos
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