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Fundamentos e Práticas Pediátricas e Neonatais Edição X Organizadores Guilherme Barroso L. de Freitas Ariádine Reder Custodio de Souza Roberta da Silva 2022 2023 by Editora Pasteur Copyright © Editora Pasteur Editor Chefe: Dr Guilherme Barroso Langoni de Freitas Corpo Editorial: Dr. Alaercio Aparecido de Oliveira (Faculdade INSPIRAR, UNINTER, CEPROMEC e Força Aérea Brasileira) Dra. Aldenora Maria Ximenes Rodrigues MSc. Aline de Oliveira Brandão (Universidade Federal de Minas Gerais - MG) Dra. Ariadine Reder Custodio de Souza (Universidade Estadual do Centro-Oeste – PR) MSc. Bárbara Mendes Paz (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dr. Daniel Brustolin Ludwig (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dr. Durinézio José de Almeida (Universidade Estadual de Maringá - PR) Dr. Everton Dias D’Andréa (University of Arizona/USA) Dr. Fábio Solon Tajra (Universidade Federal do Piauí - PI) Francisco Tiago dos Santos Silva Júnior (Universidade Federal do Piauí - PI) Dra. Gabriela Dantas Carvalho Dr. Geison Eduardo Cambri MSc. Guilherme Augusto G. Martins (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dr Guilherme Barroso Langoni de Freitas (Universidade Federal do Piauí - PI) Dra. Hanan Khaled Sleiman (Faculdade Guairacá - PR) MSc. Juliane Cristina de Almeida Paganini (Universidade Estadual do Centro-Oeste - PR) Dra. Kátia da Conceição Machado (Universidade Federal do Piauí - PI) Dr. Lucas Villas Boas Hoelz (FIOCRUZ - RJ) MSc. Lyslian Joelma Alves Moreira (Faculdade Inspirar - PR) Dra. Márcia Astrês Fernandes (Universidade Federal do Piauí - PI) Dr. Otávio Luiz Gusso Maioli (Instituto Federal do Espírito Santo - ES) Dr. Paulo Alex Bezerra Sales MSc. Raul Sousa Andreza MSc. Renan Monteiro do Nascimento Dra. Teresa Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Editora Pasteur, PR, Brasil) FR862c FREITAS, Guilherme Barroso Langoni de. Fundamentos e Práticas Pediátricas e Neonatais / Guilherme Barroso Langoni de Freitas- Irati: Pasteur, 2023. 1 livro digital; 257 p.; ed. X; il. Modo de acesso: Internet ISBN 978-65-6029-003-7 https://doi.org/10.59290/978-65-6029-0037-7 1. Pediatria 2. Saúde Infantil 3. Patologia I. Título. CDD 610 CDU 616/618 Em pediatria, há necessidade de reconhecer o desenvolvimento infantil como processo de formação, transacional e determinante na formação do adulto. A abordagem terapêutica em pacientes neonatais e pediátricos é diferenciada, ocorre muitas vezes sem testes clínicos adequados, e sempre deve buscar a promoção do conhecimento. Para assegurarmos a qualidade e garantia do atendimento à saúde infantil os serviços pediátricos devem ser responsivos, inovadores e com o máximo de segurança. Este conhecimento é fruto da troca dos saberes, das constantes atualizações dos profissionais, do conhecimento epidemiológico e da prática clínica quando bem executada. Parte dos profissionais de saúde se sente inadequadamente treinado para atender a este público em particular, o que gera justificável insegurança nos pais, pacientes e também nos próprios profissionais. O estudo das experiências profissionais, relatos de caso, revisões bem fundamentadas entre outros estudos possibilidade base para formação dos profissionais que desejam trabalhar com pediatria. Portanto, a Editora Pasteur criou uma coletânea para fornecer um campo rico de conhecimento. Este projeto foi possível devido à participação de profissionais e estudantes da área da saúde empenhados em fornecer o melhor material possível aos seus leitores. Capítulo 01........................................................................................................................ 1 ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA (APLV) EM LACTENTE: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA Capítulo 02...................................................................................................................... 13 CONVULSÕES FEBRIS Capítulo 03...................................................................................................................... 24 CARDIOPATIAS CONGÊNITAS: FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO E CONDUTA DAS PRINCIPAIS CARDIOPATIAS Capítulo 04...................................................................................................................... 31 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA MORTALIDADE NEONATAL Capítulo 05...................................................................................................................... 38 ALEITAMENTO MATERNO FATORES ASSOCIADOS A NÃO ADESÃO NOS PRIMEIROS 6 MESES DE VIDA Capítulo 06...................................................................................................................... 46 SÍNDROME DE CROUPE: O MANEJO NA EMERGÊNCIA Capítulo 07...................................................................................................................... 51 OBESIDADE INFANTIL VERSUS QUALIDADE DE VIDA: UM ESTUDO DE FATORES ASSOCIADOS E RISCOS À SAÚDE Capítulo 08...................................................................................................................... 61 O USO DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NO TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO LEVE PEDIÁTRICO Capítulo 09...................................................................................................................... 66 ABORDAGEM DA INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO NA INFÂNCIA: UMA REVISÃO DE LITERATURA Capítulo 10...................................................................................................................... 73 AS DERMATOSES MAIS PREVALENTES DA DERMATOLOGIA PEDIÁTRICA https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469803 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469804 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469804 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469805 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469806 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469807 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469808 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12...................................................................................................................... 94 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE INTERNAÇÕES POR PNEUMONIA EM CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS Capítulo 13.................................................................................................................... 101 DERMATITE ATÓPICA NA INFÂNCIA: ATUALIZAÇÕES TERAPÊUTICAS Capítulo 14.................................................................................................................... 115 ATENDIMENTO PRIMÁRIO PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO Capítulo 15.................................................................................................................... 126 EMERGÊNCIAS RESPIRATÓRIAS NA PEDIATRIA Capítulo 16.................................................................................................................... 138 A IMPORTÂNCIA DO RASTREIO REALIZADO NO TESTE DA ORELHINHA Capítulo 17.................................................................................................................... 145 OXIGENAÇÃO POR MEMBRANA EXTRACORPÓREA EM NEONATOS Capítulo 18.................................................................................................................... 154 O TESTE DO OLHINHO E SUA INFLUÊNCIA NA QUALIDADE DE VIDA DO RECÉM-NASCIDO154 Capítulo 19.................................................................................................................... 160 DERMATITE ATÓPICA GRAVE NA PEDIATRIA E AS OPÇÕES ATUAIS DE TRATAMENTO PARA MELHOR QUALIDADE DE VIDA Capítulo 20.................................................................................................................... 167 ABORDAGEM DO AFOGAMENTO NA INFÂNCIA Capítulo 21.................................................................................................................... 174 EFEITOS A LONGO PRAZO DO TRATAMENTO DA LEUCEMIA NA SAÚDE FÍSICA E EMOCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469823 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469824 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469824 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469825 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469826 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469826 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469827 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DESENVOLVIMENTO INFANTIL Capítulo 23.................................................................................................................... 190 ABORDAGEM DA OBSTRUÇÃO DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES NA EMERGÊNCIA PEDIÁTRICA Capítulo 24.................................................................................................................... 197 FATORES GENÉTICOS ASSOCIADOS A DISFUNÇÕES NO METABOLISMO DE METAIS: DO DIAGNÓSTICO AO TRATAMENTO Capítulo 25............................................................................ Erro! Indicador não definido. FIBROSE CÍSTICA NA INFÂNCIA Capítulo 26.................................................................................................................... 209 PANDEMIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTOINFANTIL EM RELAÇÃO AO COMPORTAMENTO COMUNICATIVO: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Capítulo 27.................................................................................................................... 218 A HEMORRAGIA PERIVENTRICULAR EM NEONATOS PRÉ-TERMOS: UMA IMPORTÂNCIA EMERGÊNCIA NEONATAL Capítulo 28.................................................................................................................... 231 CIRROSE HEPÁTICA CAUSADA POR EVOLUÇÃO DE DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA EM PACIENTES PEDIÁTRICOS Capítulo 29.................................................................................................................... 238 CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS BRASILEIRAS DAS FISSURAS LABIOPALATINAS NOS ÚLTIMOS 5 ANOS Capítulo 30.................................................................................................................... 244 EFEITO DE ABORDAGENS TERAPÊUTICAS NA CAPACIDADE MOTORA DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469845 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469846 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469846 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469847 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469848 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469848 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469849 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469850 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469850 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469854 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469855 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469856 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469857 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469857 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469858 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469859 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469859 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469860 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469861 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469861 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469862 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469863 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469863 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469864 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469865 https://d.docs.live.net/287d8d29131bd01e/Área%20de%20Trabalho/Livros/Pediatria%20Ed.%20X/E-book%20Pediatria%20X.docx#_Toc137469865 1 | P á g i n a Palavras Chave: Alergia à proteína; Leite de vaca; Alergias alimentares. Capítulo 01 ARTUR GARCIA GUERRA¹ DANIEL DIB FAGUNDES FACÓ HAUAJI¹ DOMINIC DINIZ CARDOSO MOREIRA¹ GIOVANNA MIGUEL CHIAPIN COSTA¹ LUIS CARLOS MOTTA NETTO¹ RYAN DI MINGO SIMÕES ALVES¹ ANA PAULA MACHADO FRIZZO² MARIANA GARDONE GUIMARÃES³ JUÇARA GONÇALES LIMA BEDIM4 1. Discente – Medicina da Universidade Iguaçu – UNIG – Campus V – Itaperuna. 2. Docente – Universidade Iguaçu – UNIG – Campus V – Itaperuna. Graduada em Medicina Pela Universidade Iguaçu (2011); Médica pediatra plantonista pelo Hospital São José do Avaí – Itaperuna - RJ. 3. Docente – Universidade Iguaçu – UNIG – Campus V – Itaperuna. Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. Fellowship pelo Sevizio Sanitario Regionale Emilia-Romana, Reggio Emilia, Itália. 4. Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ (2006); Mestre em Educação pela Universidade Católica de Petrópolis /UCP (2000); Especialista em Educação pela Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura (ASOEC)/Niterói-RJ (1991). ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA (APLV) EM LACTENTE: RELATO DE CASO E REVISÃO DE LITERATURA 10.59290/978-65-6029-003-7.1 2 | P á g i n a INTRODUÇÃO As reações alérgicas ocasionadas e induzi- das por alimentos são reações de hipersensibili- dade desencadeadas por mecanismos imunoló- gicos e podem ser responsáveis por quadros sin- tomatológicos diversos que envolvem a pele, trato gastrointestinal e respiratório (PETERSEN et al., 2018). A Alergia às Proteínas do Leite de Vaca (APLV) é a alergia alimentar mais comum na infância e pode ser atribuída a mecanismos mediados ou não pela Imunoglobulina E (IgE) (DÍAZ et al., 2018). No Brasil, a APLV repre- senta a incidência de 2,2% e prevalência de 5,4% na população pediátrica (SILVA et al., 2021). A maioria dos sintomas de APLV não são específicos ou definitivos, dessa maneira, isso pode induzir subdiagnósticos ou diagnósticos errôneos. A APLV pode ser confundida com distúrbios gastrointestinais funcionais e com in- tolerância à lactose, no entanto, o paciente L.M.C.S. do caso clínico a ser descrito, não de- monstrou abdome doloroso à palpação (FEEH- LEY et al., 2019). De acordo com Waserman et al. (2018), a APLV apresenta a fase de sensibilização alér- gica, na qual os antígenos alergênicos são reco- nhecidos e apresentados do MHC-II às células T naive, consequentemente, as células dendríticas expressam moléculas co-estimulatórias e citoci- nas, as quais realizam a indução e produção de anticorpos IgE por linfócitos B, ligam-se, por- tanto a receptores de alta afinidade em basófi- los e mastócitos, posteriormente, desenvol- vendo a degranulação e a reação alérgica. Neste contexto, o presente estudo de caso tem como objetivo o relato de um lactente de sexo masculino, prematuro, peso adequado para a idade gestacional (AIG), 4 meses de vida, que demonstrou o diagnóstico de APLV, confir- mado, após teste de provocação oral. Igual- mente, de maneira complementar, objetiva-se obter a compreensão sobre a sintomatologia as- sociada à APLV, debater sobre os possíveis di- agnósticos diferenciais e o impacto desse aco- metimento sobre o crescimento e desenvolvi- mento do paciente e a avaliação sobre as melho- res estratégias terapêuticas e resposta clínica. REVISÃO DE LITERATURA Alergia à proteína do leite de vaca e a sua fisiopatologia A alimentação saudável é um fator essen- cial, dentro dos carboidratosconsumidos se en- contra as proteínas do leite, as quais muitas ve- zes podem gerar uma resposta imunopatogê- nica, como alergias alimentares, sendo isso um problema de saúde pública. A sua prevalência varia de 6 a 10% em crianças (OLIVEIRA et al., 2019), e a sua incidência tem sido de 2% a 7.5% no primeiro ano de vida (PETERSEN et al., 2018). A APLV é uma alergia alimentar, doença inflamatória imunomediada que pode acometer o trato gastrointestinal e a pele (MENDONÇA et al., 2020). De maneira complementar, ao analisar as causas da APLV, que é muito comum, entre o primeiro e o terceiro ano de vida, determina-se que o principal fator para seu desenvolvimento é a iniciação do consumo precoce do leite de vaca na dieta de crianças lactantes, principal- mente antes dos seis meses de vida, visto que o organismo infantil é ainda imaturo. Além disso, a predisposição genética também é um fator de grande relevância como causa de desenvolvi- mento de tal quadro (GUIMARÃES et al., 2021). Por conseguinte, a APLV por ser uma pato- logia imunomediada, demonstra a sua fisiopato- logia através do envolvimento de processos de imunidade inata e celular com células T e cito- cinas como IL-2, IL-5, IL-8, TNF-α e a diminui- 3 | P á g i n a ção de TGF-β em receptores no epitélio intesti- nal, ocasionando inflamação intestinal no cólon e íleo. Em consequência, esses fatores inflama- tórios podem enfraquecer a integridade da bar- reira epitelial intestinal, permitindo que o antí- geno desenvolva uma resposta inflamatória (ZHANG et al., 2021). A APLV pode ser imu- nomediada pela imunoglobulina E (IgE), não mediada por IgE, ou mista, na qual possuiria manifestações das duas síndromes (SANTIN et al., 2018). Enquanto, a forma mais comum de APLV é a APLV mediada por IgE, onde as manifesta- ções clínicas tornam o diagnóstico relativa- mente simples. Por conseguinte, os lactentes ge- ralmente afetados podem manifestar quadro sin- tomatológico assim que recebem leite de vaca pela primeira vez, geralmente como fórmula in- fantil, em cereais com leite de vaca adicionado ou como outros produtos lácteos, como iogurte (MUNBLIT et al., 2020). O lactente citado neste estudo de caso, desenvolveu a APLV den- tro do período comum ao desenvolvimento da alergia, após o estabelecimento de seu diagnós- tico, ainda continuou sendo não administrado a este paciente por sua mãe as orientações corretas passadas pela Médica Pediatra. De acordo com o autor supracitado, os sinto- mas referentes à APLV mediada por IgE podem se desenvolver em até 2 horas após a exposição e podem incluir: anemia, perda de peso, vômi- tos, erupção cutânea como evidenciado na Fi- gura 1.1 e Figura 1.2, eritema, urticária, angi- oedema, letargia ou sintomas respiratórios, que geralmente se instalam em horas e são reprodu- tíveis devido à uma exposição repetida à prote- ína do leite de vaca. O paciente previamente co- mentado apresentou manifestações clínicas im- portantes como a desnutrição, perda de peso, anemia leve, eosinofilia, quadro eritematoso em membros inferiores e região cervical compatí- veis com os sintomas já discutidos. Figura 1.1 Erupção cutânea ocasionada por APLV Fonte: TUNSTALL, K. 2022 . Figura 1.2 Erupção cutânea ao redor da boca ocasionada por APLV Fonte: MARTORELL-ARAGONÉS A. et al. 2015. De maneira distinta, a APLV não mediada por IgE pode se apresentar com um quadro sin- tomatológico dissemelhante, lactentes acometi- dos podem reproduzir vômitos de início mais tardio, após a primeira exposição ao leite, apre- sentam síndrome de enterocolite induzida por proteína alimentar, proctocolite alérgica, ou sintomas que afetam pele ou sistema gastroin- testinal, incluindo diarreia, muco nas fezes, fe- zes com sangue como reproduzida na Figura 1.3, falta de ganho de peso, choro ou vômito. Figura 1.3 Muco nas fezes devido à APLV Fonte: WHAT TO EXPECT , 2018 4 | P á g i n a Portanto, a APLV não mediada por IgE pode variar em sua apresentação clínica e não possui teste diagnóstico validado, além da reexposição em um desafio alimentar oral, e sua eliminação posteriormente, tornando-se assim, a condição vulnerável a erros de diagnóstico. Consequentemente, se torna evidente que as proteínas alimentares secretadas no leite ma- terno podem contribuir para o estabelecimento da doença imunomediada citada previamente (BURRIS et al., 2020). Compreende-se, que a dieta de eliminação do leite de vaca materna costuma ser bem-sucedida em ajudar a resolver os sintomas, o que inicialmente neste estudo de caso, foi estabelecido como conduta, mas não respeitado pela mãe. Os bebês prematuros, as- sim como no caso do paciente L.M.C.S, cujo parto foi de 36 semanas, são mais suscetíveis à alergia alimentar. Diagnóstico Enquanto de acordo com Rangel et al. (2016) o diagnóstico de APLV é usualmente ba- seado na história clínica, exame físico, exames laboratoriais como radioallergosorbente test (RAST), exame por ensaio imunoenzimático (ELISA), testes cutâneos e melhora dos sinto- mas quando a dieta de exclusão é utilizada. De acordo com Mathai et al. (2020) a APLV se manifesta mais comumente no primeiro ano de vida, de maneira distinta com o caso pre- senciado. As manifestações gastrointestinais geralmente não são mediadas por IgE e, por- tanto, o teste cutâneo e os níveis específicos de IgE não são úteis no diagnóstico. A resposta clí- nica à dieta de eliminação seguida por um desa- fio alimentar oral positivo é diagnóstica. Em pa- cientes com manifestações apenas gastrointesti- nais, a sigmoidoscopia e a biópsia retal podem ser consideradas como alternativa, apesar de se- rem métodos invasivos. A conduta mais aconse- lhada seria evitar todas as formas de proteína do leite bovino, pode-se realizar a troca para fór- mulas nutricionais infantis à base de soja, de proteína extensamente hidrolisada e à base de aminoácidos. Tratamento e conduta Segundo Vandenplas et al. (2014), relatam que o tratamento ideal é o estímulo ao aleita- mento materno de maneira correta, e de maneira conjunta à exclusão de leite e de alimentos que utilizam a preparação com o leite de vaca ou com derivados, associando-se a suplementação de cálcio. Nos casos em que os lactentes são ali- mentados com fórmula, seja exclusivamente ou como complemento da amamentação, é comum que os pediatras troquem a fórmula quando ocorrem sintomas alérgicos, portanto, existem várias alternativas às fórmulas à base de leite de vaca como: Fórmula de aminoácidos (AAF), fórmula parcialmente hidrolisada (pHF), fór- mula extensivamente hidrolisada (eHF), caseína ou soro de leite, arroz parcialmente e/ou eHF, fórmula de soja, fórmula hidrolisada de soja. De acordo com Bocquet et al. (2019) as fór- mulas lácteas geralmente são hidrolisadas para remover epítopos alergênicos. A fórmula nutri- cional eHF foi desenvolvida de maneira a des- truir epítopos alergênicos. Complementar- mente, as fórmulas infantis eHF e pHF podem ser utilizadas no tratamento e na prevenção, en- quanto as fórmulas AAF foram desenvolvidas para superar a hipersensibilidade que pode sur- gir das proteínas residuais em eHF, sendo indi- cadas apenas no tratamento permitindo que o sistema imunológico desenvolva tolerância às proteínas do leite. Consequentemente, de acordo com o autor supracitado hidrolisados de arroz são alternati- vas seguras para eHFs no tratamento de APLV, enquanto a fórmula infantil de soja demonstrou ser segura e eficaz em 85-90% das crianças com 5 | P á g i n a APLV, entretanto os leites de mamíferos podem ocasionar reatividade. RELATO DO CASO Descrição L.M.C.S., paciente de sexo masculino, pre- maturo, AIG, peso de nascimento de 2,910 kg, com 4 meses de vida, nascido e natural de Itape- runa, RJ, apresentouquadro sintomatológico de eritema em região cervical com descamação, desnutrição e anemia leve, de forma conse- guinte, diagnósticos diferenciais como erros ina- tos do metabolismo, dermatite atópica, doença do refluxo gastroesofágico, intolerância à lac- tose e alergia à proteína do leite (APLV) foram considerados pela Médica Pediatra. No dia 2 de Junho de 2022, o lactente foi internado em uni- dade hospitalar em Itaperuna, RJ, pois durante o seu acompanhamento foi constatada leve ane- mia, desnutrição e baixo ganho ponderal, sus- tentando a hipótese sendo requisitada avaliação por especialistas e geneticista, prescrito ferro e/ou vitamina D. Exame físico foi descrito como: sem sinais de irritação meníngea, ativo e reativo, interagindo com o examinador, hidra- tado, hipocorado, acianótico, anictérico, sopro sistólico (++), abdome plano, murmúrios uni- versalmente audíveis sem ruídos adventícios, eupneico, reflexos adequados para idade, baixo peso, orofaringe e otoscopia sem alterações. No dia 9 de junho, de 2022, foi introduzida fórmula infantil parcialmente hidrolisada, sendo previa- mente trocada para fórmula à base de aminoáci- dos. Em seu exame físico, no dia 20 de junho de 2022, em atendimento na Enfermaria Pediátrica, o paciente L.M.C.S. se apresentou reativo ao manuseio, demonstrou tônus preservado, res- posta motora presente e simétrica, pupilas me- dianas, isocóricas e fotorreagentes, a sua ectos- copia foi relatada em bom estado geral, hidra- tado, hipocorado, acianótico, anictérico, eupneico, com broncopneumonia, pele seca, FAN (+), presença de nevo em região cervical, enquanto o aparelho cardiovascular demonstrou ritmo cardiovascular em 2 tempos, ACV: RR2T, BNF, sopro (+/6+), AR: MVUA, sem ru- ídos adventícios, e otoscopia sem alterações, exame físico abdominal e genitália normais, quanto aos membros inferiores, foi relatada a presença de lesões cicatriciais por escabiose. Foi solicitado hemocultura, exames de imagem, ecocardiograma, observação clínica rigorosa e solicitado liberação de fórmula infantil pela pre- feitura. Aos antecedentes pré, peri e pós-natal a ges- tação transcorreu com implicações, tais como, o quadro infeccioso causado por Sífilis e a ocor- rência de bolsa rota, sendo as principais relata- das. De acordo com documento de Evolução Médica, a criança nasceu prematura com Idade Gestacional de 36 semanas, parto cesárea, com Apgar de 6 no primeiro minuto e de 8 no quinto minuto, sendo necessária intervenção com O2 inalatório e internação em UTI neonatal. Tam- bém apresentou ao Teste de Guthrie o Traço Falcêmico. Posteriormente, no dia 1º de julho de 2022, foi levantada a hipótese diagnóstica de APLV, uma vez que em seu questionamento fisiopato- lógico pregresso, a mãe relatou internação em UTI neonatal após o tratamento por Sífilis Con- gênita e de acordo com o documento de Evolu- ção Médica, o paciente L.M.C.S. apresentou ta- quipneia transitória ao nascimento, desnutrição e leve anemia. No dia 4 de agosto de 2022, o lactente re- torna à Unidade Ambulatorial, com a presença de lesões papulares pruriginosas em membros inferiores sugestivo de escabiose, com peso de 3,870 kg, com perímetro cefálico de 39,5cm, e estatura de 57,5 cm, sob aleitamento materno e administração de fórmula infantil, para apresen- 6 | P á g i n a tar exames laboratoriais, a hipótese diagnóstica de Erros Inatos do Metabolismo foi considerada para a devida investigação e foi solicitada inter- nação do paciente devido desnutrição, ainda de- monstrando presença de anemia, com Hemató- crito de 33,8%, sendo orientada conduta de en- caminhamento à emergência para internação hospitalar, e a devida gravidade caso não procu- rasse a Unidade. No dia 13 de agosto de 2022, o paciente L.M.C.S., retornou para reavaliação de ganho ponderal, após internação. Demonstrou ganho ponderal de 100g/dia com peso de 4,570 kg, es- tatura de 61 cm, perímetro cefálico de 39,8 cm, vacinação em dia, alimentação sob fórmula in- fantil à base de aminoácido. Exame físico estava normal. A conduta aconselhada pela Médica Pe- diatra foi de ajuste do volume das mamadas pelo peso, a solicitação de Ecocardiograma e orien- tações gerais. A hipótese de EIM foi descartada, uma vez que o paciente apresentou melhora ex- ponencial após adesão ao tratamento. RESULTADOS E DISCUSSÃO O paciente foi submetido ao atendimento inicial para acolhimento e realização da anam- nese em cujos principais informes serão aqui re- ferenciados, logo então encaminhado ao fluxo de avaliação dermatológica e pediátrica para elaboração de proposta terapêutica. No estudo de caso, a conduta inicial conduzida pela Pedi- atria, foi a solicitação de exames laboratoriais, como hemograma, e os encaminhamentos para avaliação do paciente L.M.C.S. pelos especia- listas em Otorrinolaringologia, Oftalmologia, Neuropediatria, Dermatologia e ao Geneticista, para investigação de diagnósticos diferenciais como: Erros Inatos do Metabolismo, Intolerân- cia à Lactose, Dermatite Atópica e Doença do Refluxo Gástrico (DRGE), porém a sua respon- sável, não apresentou os laudos dessa avaliação até esse momento. De forma complementar, também foi solici- tado pela Médica, a internação devido ao baixo ganho ponderal de peso e à desnutrição, sendo orientada a devida gravidade caso não houvesse a procura, a dieta restritiva e de exclusão da mãe e do lactente, em relação aos laticínios e produ- tos derivados dos mesmos e a introdução de fór- mula infantil parcialmente hidrolisada de ma- neira conjunta à amamentação e, após a prefei- tura autorizar, houve a introdução de fórmula à base de aminoácidos. Complementarmente Batista et al. (2018) descrevem que primeiramente, deve- se retirar produtos com presença de proteína do leite da vaca da dieta da criança, para que em semanas haja a avaliação para determinar sua melhora ou ausência de melhora, mediante a atitude tomada. Para a realização, os pacientes devem estar em restrição do leite de vaca por pelo menos duas se- manas. O diagnóstico da APLV pode ser confir- mado se a criança apresentar reação alérgica após a reintrodução do leite. A dieta de exclusão deverá ser mantida por 6 a 12 meses na depen- dência da idade e da gravidade das manifesta- ções (GUIMARÃES et al., 2021). Caso a reti- rada de produtos com presente proteína do leite da vaca da dieta não haja melhora significativa, então é necessário buscar exames complemen- tares, a fim de procurar por diagnósticos dife- renciais ou confirmar se realmente é uma APLV (BRANCO et al., 2018). O diagnóstico de APLV realizado no relato de caso, foi realizado através da dieta de exclu- são solicitada e de exames clínicos, após a in- trodução de fórmula parcialmente hidrolisada, no dia 09 de Junho de 2022, o paciente demons- trou melhora da anemia, a hemoglobina previa- mente era de 9,6 g/dL evoluiu para 10,2 g/dL, sendo que o valor normal em lactentes até um ano seria de 11.0 a 13.0 g/dL (HADLER et al., 7 | P á g i n a 2002), hematócrito de 27%, aumentou para 32%, enquanto os valores esperados seriam de 38 a 52% (WAYHS et al., 2012), e eosinofilia de 12.700mm³ diminuiu para 11.600mm³, o va- lor de referência seria de contagem de eosinófi- los no sangue periférico seria de 70 a 750 mm³ (GARCÍA et al., 2018). Segundo Hadler et al. (2002) a hemoglobina abaixo do normal, conco- mitantemente com hematócrito abaixo dos valo- res de referência em lactentes, sugere-se ane- mia. Suplementarmente, há estudos demonstram que as alergias e hipersensibilidades alimentares geram um impacto psicossocial e afetam negati- vamente a qualidade de vida de crianças, adoles- centes e seus familiares, especialmente por se caracterizarem como uma doença na qual a res- trição alimentar é a principal forma de trata- mento, e hánecessidade constante de vigilância (MOIMAZ et al., 2019). Por conseguinte, é necessária a investigação minuciosa em relação a possíveis diagnósticos diferenciais que podem estar correlacionados aos sintomas, para a realização de um trata- mento correto, sendo importante a exclusão de outras patologias e a execução de exames com- plementares. Os diagnósticos prováveis e que foram estudados em razão dos sintomas princi- pais e seus sinais, destacaram-se, portanto: erros inatos do metabolismo, intolerância à lactose, dermatite atópica, doença do refluxo gastroeso- fágico (DRGE). De maneira complementar ao discutido acima, o diagnóstico diferencial mais importante a se considerar é a intolerância à lac- tose, que geralmente é causada pela deficiência de uma enzima no organismo, chamada lactase. Com isso, à digestão de alimentos que possuam a presença da lactose, e sem a presença da lac- tase para digeri-la, podem aparecer sintomas gastrointestinais, tais como diarreia, gases, náu- seas, e desconforto abdominal (BRANCO et al., 2018). A prevalência de intolerância à lactose entre a população é bem variada, sendo que dois ter- ços da população mundial não apresentam esses dados, entretanto estima- se que 70% das pes- soas têm essa intolerância. Na Ásia, América do Sul e África a prevalência está acima de 50%, nos países asiáticos atinge quase 100% (OLI- VEIRA et al., 2020). Pode-se compreender como o quadro sinto- matológico pode ser impactante especialmente na população pediátrica, a atividade reduzida da lactase aumenta a presença de lactose no lúmen intestinal e promove, portanto, a sua fermenta- ção pela microbiota intestinal para liberar gases e ácidos graxos de cadeia curta, resultando em aumento da distensão colônica. O diagnóstico de intolerância à lactose é muitas vezes feito de forma clínica devido à resposta a um ensaio em- pírico de prevenção da lactose na dieta. A do- ença descrita também pode ser diagnosticada por meio de um teste respiratório baseado na produção de hidrogênio pela microbiota intesti- nal após a fermentação da lactose não digerida; os gases são absorvidos e eliminados pelos pul- mões (POP et al., 2022). De acordo com Anguita-Ruiz et al. (2020) o acometimento acima relatado, ocorreria devido à ação combinada de fatores de transcrição e al- terações epigenéticas no gene LCT e uma região potenciadora reguladora denominada MCM6. Enquanto, Cheng et al. (2021) relatam de ma- neira distinta como a colonização das bactérias modificadas influenciaria a microbiota nativa por meio de interações microbianas de maneira associada à expressão de β-GAL e L-LDH. De acordo com Santos (2021), a intolerância à lactose por ser uma patologia gastrointestinal, pode apresentar como complicações: desnutri- ção, desidratação, diarreias aquosas, dores abdo- minais, vômitos, falta de ganho de peso sendo necessários teste genético, teste de tolerância à lactose, biópsia intestinal para o diagnóstico. A 8 | P á g i n a intolerância à lactose possui manifestações clí- nicas similares, como a desnutrição e falta de ga- nho de peso ponderal demonstrada pelo paci- ente, sendo o principal diagnóstico diferencial investigado, o que foi excluído devido ao teste de exclusão, confirmando o diagnóstico de APLV. Enquanto a doença do refluxo gastroesofá- gico (DRGE), é uma doença digestiva em que o ácido do estômago ou a bile voltam pelo esô- fago, causando irritação na mucosa do tubo ali- mentar, onde os sintomas incluem queimação no peito que geralmente ocorre depois de comer e piora ao deitar, podendo estar correlacionada com a perda de peso, principalmente em crian- ças (BORTOLI et al., 2021). Complementarmente, a DRGE inclui em sua causalidade, o envolvimento do esfíncter esofá- gico inferior (EEI), esta estrutura anatômica proporciona um tônus de repouso de cerca de 12-25 mm Hg, e o seu relaxamento podem durar de 5 a 30 segundos, no qual a pressão no esôfago se igualaria a do estômago, este fenômeno pode ser descrito como relaxamento transitório, este é independente da deglutição e têm duração rela- tivamente mais longa do que o relaxamento de- sencadeado por uma deglutição. O tônus do EEI em lactentes com DRGE não é diferente do nor- mal, mas eles apresentam uma maior frequência de relaxamento e com maior duração (BAR- NHART, 2016). Segundo Abrahão Junior (2014), a DRGE é uma das doenças mais prevalentes de todo o mundo, e afeta cerca de 12% da população bra- sileira, pode acometer crianças devido à imatu- ridade do trato gastrointestinal superior, sendo um problema de saúde pública. A DRGE pode apresentar complicações como déficit de cresci- mento, problemas respiratórios, úlceras, este- nose, esôfago de Barrett, esofagite erosiva. A DRGE também pode estar presente como mani- festação da APLV, sendo um subdiagnóstico, ocasiona sintomas similares por ser uma doença de acometimento gastrointestinal, e causar dis- túrbios no desenvolvimento da criança, como este último sintoma está presente no caso des- crito, sendo este excluído após teste físico, e melhora clínica e alimentar após introdução de fórmulas infantis. Por conseguinte, outro diagnóstico diferen- cial que foi pesquisado no estudo de caso, foram os erros inatos do metabolismo (EIM). Os EIM são patologias genéticas, de herança autossô- mica recessiva, a sua detecção pode ocorrer pelo teste de Guthrie ou teste do pezinho, envolve principalmente a fenilcetonúria, ocasionada por mutações genéticas no gene que codifica a en- zima fenilalanina, e possui como manifestações sintomáticas alteração de crescimento, deficiên- cia intelectual, dermatite, náuseas, vômito, erupção cutânea, desnutrição, ganho de peso in- suficiente. Enquanto dentro dos EIM, também foi considerado o hipotireoidismo congênito, o qual decorre da produção inadequada de hormô- nios tireoidianos, comprometendo o cresci- mento físico e mental do recém-nascido. Os EIM são distúrbios de origem genética, impactam vias metabólicas e podem envolver estruturas como os peroxissomos e lisossomos, os quais catalisam várias funções metabólicas indispensáveis na biologia celular. Consequen- temente, quando essas organelas são prejudica- das, desencadeiam vários distúrbios metabóli- cos pediátricos distintos entre si. Além disso, ambas as organelas podem produzir uma varie- dade de doenças que afetam múltiplos siste- mas de órgãos, apresentando ao pediatra uma variedade de apresentações clínicas (BELLET- TATO et al., 2018). De acordo com Lise et al. (2019), os EIM, podem demonstrar quadro clínico envolvendo icterícia, anemia, letargia, dificuldade alimen- tar, pele seca, dificuldade na alimentação com deficiente crescimento pôndero-estatural, ab- 9 | P á g i n a dome estendido, baixo peso ao nascer, microce- falia, eczemas, prematuridade, dermatites, irri- tabilidade, vômito, hiperatividade. As complica- ções que envolvem os EIM, envolvem intoxica- ções, com vômitos, coma, falência hepática, complicações tromboembólicas, deficiência pôndero- estatural, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, cardiomiopatias. O paciente L.M.C.S. apresentou anemia leve, estava letár- gico ao exame físico, com déficit pôndero- esta- tural, e de peso, manifestações eritematosas, por isso foi considerada a investigação. Por fim, a dermatite atópica é uma doença crônica e hereditária que causa inflamação da pele, levando ao aparecimento de lesões e pru- rido. Não é contagiosa e sua causa exata é des- conhecida, costuma ocorrer entre pessoas da mesma família, juntamente com a asma ou a ri- nite alérgica. A dermatite atópica ocorre geral- mente de 3 meses a 2 anos de idade em lactentes, pode estar presente também na APLV, pode apresentar lesões avermelhadas, descamativas, com crostas e prurido intenso em rosto e faces extensorasde articulações, sendo também inves- tigada no caso clínico devido às lesões eritema- tosas e descamativas (ARAÚJO et al., 2021). Dessa forma, é evidente como a dermatite atópica apresenta múltiplos fatores em sua pato- logia, fatores genéticos como a expressão do gene FLG epidérmico é regulada negativamente pelas citocinas IL-4, IL-13, IL-17A, IL-22, IL- 25, IL-31, TNF-α em pacientes, e foi descrito como correlacionado à doença, enquanto, poli- morfismos de nucleotídeo único do gene da claudina-1 (CLDN1) nesses pacientes demons- traram que junções apertadas contribuem para a disfunção da barreira e desregulação imune (BARNES, 2010). Segundo Kim et al. (2019), a dermatite ató- pica pode desenvolver complicações como: in- fecções de pele disseminadas, de tecidos circun- dantes, linfonodos, reações alérgicas de contato, neurodermite, complicações da visão. Em consequência, pode-se compreender como a APLV é uma afecção que necessita de tratamento adequado e que seja em exclusão total do leite de vaca da dieta, em qualquer de suas formas. Assim sendo, por ser um alimento muito comum na dieta como um todo, vale res- saltar a necessidade de esclarecimento correto e minucioso aos pais da criança com APLV, uma vez que, muitos alimentos do nosso cotidiano possuem derivados de leite de vaca em sua com- posição (GUIMARÃES et al., 2021). Enquanto no tratamento do paciente L.M.C.S., a dieta de exclusão e aleitamento ma- terno adequadamente foram preconizados, sendo também realizado de maneira associada, o tratamento com fórmula infantil parcialmente hidrolisada primeiramente, sendo aguardada a liberação pela prefeitura e posteriormente tro- cada por fórmula infantil a base de aminoácidos, apresentando melhoras hematológicas e meta- bólicas. O tratamento realizado no estudo de caso, incluiu a dieta com exclusão de laticí- nios, internação devido ao baixo peso ponde- ral e desnutrição, suplementação de ferro e vitamina D. CONCLUSÃO A compreensão das formas de apresentação da APLV e de sua etiopatogenia associado à uma investigação minuciosa, de maneira con- junta à uma anamnese cuidadosa, são essenciais para o manejo dos pacientes com alergia ali- mentar. O tratamento adequado é dependente da devida suspeita de APLV ao surgimento de sin- tomas clínicos sugestivos, além do estudo e ex- clusão de diagnósticos diferenciais com outras enfermidades, sendo essa execução inescusável para a obtenção do diagnóstico correto. 10 | P á g i n a O tratamento pode variar com a sintomato- logia, sendo o atendimento multidisciplinar um fator ideal, porém muitas vezes não prático. Após o estabelecimento do diagnóstico, como relatado no caso clínico, é imperiosa a imple- mentação de dieta de eliminação, aleitamento materno executado corretamente, com a associ- ação de substitutos nutricionais como as fórmu- las infantis. Os diagnósticos diferenciais em relação à APLV considerados foram: Erros Inatos do Me- tabolismo, Intolerância à Lactose, Dermatite Atópica, Doença do Refluxo Gástrico (DRGE). Os diagnósticos diferenciais citados apresentam sintomatologia similar, sendo o mais frequente considerado a Intolerância à Lactose, também ocasionam baixo peso ponderal, possível desen- volvimento para anemia, sendo que a Dermatite Atópica e o DRGE podem estar presentes no de- senvolvimento da APLV, sendo estes subdiag- nósticos. Por conseguinte, a APLV é de difícil elucidação, sintomas semelhantes apresentados por outras síndromes, sendo importante o segui- mento de forma correta pelo responsável. Dos possíveis diagnósticos elucidados acima, houve a consideração de um quadro sin- tomatológico relacionado à Alergia à Proteína do Leite de Vaca com a Classificação Internaci- onal de Doenças, CID-10 K52, devido ao qua- dro de anemia leve, desnutrição, eosinofilia constatada através de hemograma, antes da introdução de fórmula nutricional infantil, apre- sentando melhoras em exame após o uso. No caso acima descrito, foi de risco alto, devido à desnutrição e baixo peso ponderal demonstrado por sua evolução, sendo necessária intervenção pediátrica e aconselhamento à internação do mesmo. Essa conduta é importante, pois, como já apresentado acima, a alimentação inadequada pode levar às afecções do neurodesenvolvi- mento, e de seu crescimento, afetando a sua vida posteriormente, além de poder ocasionar a ina- tividade de órgãos. Durante os primeiros anos de vida da criança, as principais fontes alimentícias são o leite ma- terno e seus substitutos, como fórmulas infantis. No entanto, no caso de crianças APLV esse pro- cesso é muito diferente, pois pode gerar muitas dificuldades, dúvidas, sofrimento e mudanças aos pais, para adaptação a essa condição espe- cial de saúde do filho (SILVA et al., 2020). Uma das orientações fundamentais corresponde à lei- tura de rótulos. Tarefa difícil, pela quantidade de termos sinônimos ao leite existentes, pelo ta- manho das letras em rótulos de produtos e pela própria legislação existente no Brasil (MOI- MAZ et al., 2019). Neste contexto, conforme mencionado ante- riormente, é de fundamental importância a atua- ção de nutricionista na equipe multiprofissional que lida com pacientes com alergia e intolerân- cia alimentar, familiares e cuidadores. Sua fun- ção não se restringe apenas em fornecer receitas alternativas, mas, também, instruir todos aque- les que mantêm contato com o paciente de ma- neira a incutir em suas rotinas todos os passos que se referem aos cuidados com a alimentação, incluindo a possibilidade de escolha de alimen- tos substitutos mais acessíveis financeiramente (SILVA et al., 2020). 11 | P á g i n a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAHÃO JUNIOR, L.J. Doença do refluxo gastroeso- fágico. Jornal Brasileiro de Medicina, v. 102, n. 6, 2014. ANGUITA-RUIZ, A. et al. Genetics of Lactose Intoler- ance: An Updated Review and Online Interactive World Maps of Phenotype and Genotype Frequencies. Nutrients, v. 12, n. 9, p. 2689, 2020. ARAÚJO, N.D. et al. Avaliação da resposta terapêutica de imunossupressores em criança com dermatite atópica grave: relato de caso / evaluation of the therapeutic res- ponse of immunosuppressors in children whith serious atopic dermatitis: case report. 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CONVULSÕES FEBRIS 10.59290/978-65-6029-003-7.2 14 | P á g i n a INTRODUÇÃO Na infância são bastante frequentes os epi- sódios de Crise Convulsiva Febril (CF). É sabi- damente o distúrbio convulsivo mais comum da infância, e pode ocorrer em 2% a 5% das crian- ças (CAPOVILLA et al., 2009). Vale ressaltar que entre 30% e 40% dos casos de convulsões febris, as crianças que apresentarem a crise te- rão, pelo menos, um novo episódio nos anos se- guintes, demonstrando a recorrência de tal pato- logia. Porém, apesar de alta a possibilidade de recorrência, o risco de evolução para epilepsia ainda é incerto e controverso, entretanto, sabe- se que é muito baixo e que não é maior que o risco da população geral em caso de episódio fe- bril único (CANPOLAT et al., 2018). É importante perceber que crises convulsi- vas na infância, apesar de serem fenômenos be- nignos e autolimitados, representam um dos principais motivos de ida dos pais à emergência médica, pois estes enxergam o episódio como evento passível de complicações (EILBERT & CHAN, 2022). Dentre as crises, os episódios re- correntes ou prolongados irão necessitar de in- tervenção imediata e investigação clínica-diag- nóstica. Vale ressaltar que a duração da crise tem relação com a sua morbimortalidade, haja vista que quanto mais prolongada a manifesta- ção da crise neurológica, maior a sua gravidade. Logo, constata-se que convulsões prolongadas podem levar à neurotoxicidade e danos cere- brais permanentes (BRITO et al., 2017). A definição de crise convulsiva febril, de acordo com a Academia Americana de Pediatria & Subcommittee on Febrile Seizures (2011), é: episódio convulsivo que ocorre na vigência de febre (≥100,4°F ou 38°C por qualquer método), sem que haja evidência de infecção do sistema nervoso central, sendo predominante em crian- ças entre 6 meses e 60 meses. Pode ser classifi- cada em dois tipos, sendo eles simples (que re- presentam aproximadamente 65% das CF) e complexa (representando 35% das CF). A crise febril simples é caracterizada por: generalizada desde o início, durar menos de 15 minutos e ocorre apenas uma vez em um período de 24 ho- ras, em uma criança sem quadro neurológico prévio. Vale ressaltar que todas as característi- cas necessitam se fazer presentes para ser defi- nida como crise simples. Já a complexa é carac- terizada por: duração prolongada(>15 minu- tos), características focais ou recorrência dentro de 24 horas após o primeiro episódio (BERG & SHINNAR, 1996; SMITH et al., 2019). Apesar de ser uma patologia demasiada- mente frequente, com características bem defi- nidas, por vezes ainda há discordância na litera- tura em relação à alguns pontos, como idade de início ou até mesmo o tempo limite para carac- terizar como crise febril simples ou complexa, com algumas referências citando o tempo de 10 minutos e outras de 15 minutos (MEWASINGH et al., 2020). Também é importante diferenciar as crises convulsivas febris da epilepsia. Epilepsia é de- finida como a ocorrência de dois episódios ou mais de convulsões afebris não provocadas em dois dias diferentes. Foi relatado que aproxima- damente 10% a 15% das crianças epilépticas já tiveram convulsões febris (ALMOJALI et al., 2017). A crise convulsiva é conceituada por um rá- pido momento no qual o indivíduo manifesta si- nais e sintomas clínicos transitórios locais ou di- fusamente desorganizados no sistema nervoso central, devido a atividade neurológica exacer- bada ou sincrônica. Assim, nas crianças, o cére- bro imaturo apresenta uma maior suscetibili- dade a convulsões. Os mecanismos fisiopatoló- gicos para a convulsão febril ainda não foram totalmente elucidados. Acredita-se que a condi- ção de imaturidade do cérebro, a falta de mie- lina, a diferença de permeabilidade celular e a 15 | P á g i n a atividade elétrica do cérebro da criança são al- gumas das razões que tornam as crianças mais suscetíveis a convulsões febris do que os adultos (AMARAL, 2018). Um aspecto importante das crises febris é que ela quase sempre ocorre em vigência de um processo infeccioso, excetuando-se o envolvi- mento do sistema nervoso central. As infecções virais são mais frequentes que as bacterianas. O diagnóstico e classificação das convulsões febris é realizado por meio da anamnese clínica detalhada e completa com os familiares ou com o indivíduo que presenciou a crise convulsiva do paciente, exame físico geral e neurológico criterioso (SIQUEIRA, 2010). Durante a anamnese, deve-se questionar os pais sobre a história patológica pregressa do pa- ciente, investigando as intercorrências no perí- odo da gestação, via de parto, presença de do- ença sistêmica como cardiopatias, coagulopa- tias ou distúrbios hidroeletrolíticos. Destaca-se também que a genitora deve ser interrogada so- bre uso de drogas lícitas e ilícitas durante a ges- tação (GUARAGNA et al., 2016). Os exames complementares, como Tomo- grafia Computadorizada de Crânio e Eletroen- cefalograma, são pouco elucidativos e têm con- tribuído parcialmente para o fechamento de di- agnóstico, pois parte dos laudos de tais exames se apresentam normais (CANPOLAT et al., 2018). Nesse contexto, em um ambiente hospitalar, é fundamental que a equipe médica perceba qualquer alteração de comportamento que ante- cede a convulsão e as características do episó- dio, como um fenômeno sensorial alucinatório (aura), efeitos motores (movimentos oculares, contrações musculares, espasmos), alterações na consciência e estado pós-ictal. Deve-se aten- tar também para a duração do evento, tempo do início e interrupção da crise (FONSECA & BE- NAVIDES, 2022). Outrossim, o acolhimento dos anseios dos pais que presenciam as crises de convulsão de seus filhos deve ser imperativo, haja vista a an- siedade gerada no momento e o medo mediante a situação inusitada. A incerteza e falta de infor- mação sobre o manejo das convulsões febris e suas complicações graves, como epilepsia e morte, são componentes frequentes de ansie- dade dos pais. O objetivo deste estudo foi descrever e atua- lizar sobre as convulsões febris, formas de diag- nóstico e tratamento em crianças. MÉTODO Trata-se de uma revisão integrativa realizada no período de janeiro a fevereiro de 2023, por meio de pesquisas nas bases de dados: PubMed, Medline, Cochrane e SciELO. Foram utilizados os descritores: convulsões febris, crises convul- sivas, epilepsia, fisiopatologia convulsão febril, tratamento convulsão febril, prognóstico con- vulsão febril. Os critérios de inclusão foram: artigos nos idiomas português, inglês e espanhol; publica- dos no período de no máximo cinco anos e que abordavam as temáticas propostas para esta pes- quisa, disponibilizados na íntegra. Vale ressaltar que, alguns artigos com mais de 10 anos de sua publicação também foram utilizados, devido ao seu impacto na literatura nacional ou internaci- onal. Os critérios de exclusão foram: artigos du- plicados, disponibilizados na forma de resumo, que não abordavam diretamente a proposta es- tudada e que não atendiam aos demais critérios de inclusão. Após os critérios de seleção restaram 27 ar- tigos que foram submetidos à leitura minuciosa para a coleta de dados. Os resultados foram apresentados de forma descritiva, divididos em categorias temáticas abordando: epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diag- 16 | P á g i n a nóstico, tratamento, manejo clínico, prognóstico da convulsão febril em crianças. EPIDEMIOLOGIA As crises febris (CF) são o tipo mais comum de convulsões em crianças entre 6 meses e 5 anos de idade, estimando ocorra entre 2% e 5% das crianças nessa faixa etária, sendo assim, um evento neurológico comum na infância (CAPO- VILLA et al., 2009). Possui baixa morbidade e mortalidade. Geralmente, parte considerável das crianças com CF apresentam apenas um episó- dio durante a vida, sendo o período de pico de incidência entre os 12 e 18 meses de vida (TI- WARI et al., 2022). Tal prevalência diminui com o passar dos anos. Quando ocorre uma se- gunda crise, em 50% das crianças esta ocorre em até 6 meses após a primeira, 75% dentro de um ano e 90% dentro de dois anos (DE ALENCAR, 2015). Crianças de todas as etnias podem ter quadro de crises febris, mas a prevalência é maior em alguns grupos étnicos, especialmente em crianças brancas (4-5%), japonesas (6-9%), nativos americanos (5-10%), e crianças indianas (5-10%) (PATEL et al., 2015; LEUNG et al., 2018). É discretamente mais prevalente em me- ninos quando comparado às meninas, possuindo relação aproximada de 1.6 meninos para cada 1 menina (LEUNG et al., 2018). A maioria das CFs são simples, respondendo por 65-75% de todos os casos, enquanto CFs complexas res- pondem por 9-35% dos episódios febris (MA- CHADO et al., 2018). ETIOLOGIA A convulsão febril é, possivelmente, uma patologia de causa multifatorial, podendo ser correlacionada com fatores genéticos, infecções virais, infecções bacterianas e até mesmo com a administração de algumas vacinas (SMITH et al., 2019). Nas infecções virais temos influenza A e B, adenovírus, herpes vírus, metapneumo- vírus, como alguns dos agentes causais (TI- WARI et al., 2022). Nas infecções bacterianas, podemos encontrar a otite média como o princi- pal fator causal da CF, porém a pneumonia bac- teriana e infecção do trato urinário também são patologias que frequentemente estão associadas com a ocorrência de CF (TERAN et al., 2012; EILBERT & CHAN, 2022). Apesar do risco re- lativamente baixo, há também correlação entre vacinação e episódio convulsivo febril, e geral- mente as vacinas contra vírus influenza, tríplice viral, DTP, varicela, dentre outras, podem ser relacionadas às CF, principalmente em crianças com história prévia ou história familiar positivas (LI et al., 2018; LEUNG et al., 2018). Sobre a susceptibilidade genética é observado que histó- ria familiar positiva torna- se um fator impor- tante para a ocorrência da convulsão febril. Fi- lhos de pais acometidos por CF possuem um risco 4,4 vezes maior quando comparado a po- pulação geral, sendo esse risco maior (oito ve- zes) quando a mãe possui história prévia de CF(DE ALENCAR, 2015). Há duas mutações cha- ves que desempenham um papel importante na fisiopatologia da crise febril: canais de íons de sódio dependentes de voltagem (quando muta- ções ocorrem nas proteínas do canal de sódio, há ocorrência das convulsões febris, embora ainda seja difícil determinar o papel exato de- sempenhado por essa variação); canais contro- lados por nucleotídeos cíclicos ativados por hi- perpolarização (HCN) ativados por hiperpolari- zação (são canais-chave no desenvolvimento de convulsões, facilitando a excitabilidade neural). As mutações nem sempre são identificadas em crianças com convulsões febris, e pode ser que outras alterações genéticas ainda não descober- tas contribuam para a propagação das convul- sões febris. Independentemente disso, também é 17 | P á g i n a importante observar que, embora essas muta- ções do canal iônico desempenhem um papel nas convulsões febris, elas apresentam baixa pe- netrância. Assim, um segundo fator pode ser ne- cessário para a propagação das crises (SAWI- RES et al., 2022). FISIOPATOLOGIA As convulsões, no geral, ocorrem devido à ativação sincronizada, prolongada e descontro- lada de aglomerados de neurônios e surgem de uma incompatibilidade na atividade excitatória e inibitória no cérebro. Os mecanismos fisiopatológicos exatos da convulsão febril são discutidos no meio cientí- fico, não sendo claramente estabelecidos. Acre- dita-se que a condição de imaturidade do cére- bro, a falta de mielina, a diferença de permeabi- lidade celular e a atividade elétrica do cérebro da criança são algumas das razões que tornam as crianças mais susceptíveis a convulsões fe- bris do que os adultos (ROBLES et al., 2018). Indução da febre e convulsão O aumento da temperatura cerebral pode promover o disparo de neurônios e aumentar a probabilidade de atividade sincronizada dos neurônios, o que causa convulsões. Estressores pré-natais e pós-natais podem influenciar esse evento, alterando a neuroplasticidade do sistema nervoso central. Pensa-se que o trauma precoce (como infecção materna, estresse materno ou ambiental pré-natal, lesão hipóxico-isquêmica perinatal ou infecção pós-natal, convulsão ou le- são cerebral traumática) leva à modificação da excitabilidade do circuito recrutando astrócitos e micróglia no local do insulto. Após essa redu- ção no limiar convulsivo no cérebro em desen- volvimento, um “segundo golpe” (por exemplo, febre) pode ser suficiente para desencadear a atividade convulsiva. Além de afetar a via neu- ral, a febre pode desencadear convulsões febris pela via inflamatória (IL-1α, IL- 1β, TNF-α, IL- 6.). Podendo estar elevada, também, a citocina anti-inflamatória IL 10. As principais citocinas envolvidas na CF estão descritas na Tabela 2.1 (TIWARI et al., 2022). Tabela 2.1 Tabela das Citocinas e seu papel na indução de convulsão febril Papel da citocina Associação Principal vírus IL- 1β (PRÓ INFLAMATÓRIO) Aumentada até 5 horas após a convulsão febril HHV6 IL- 6 (PRÓ INFLAMATÓRIO) Produção aumentada em até́ 98% em células de crianças com histórico de convulsões febris. O nível de IL-6 pode indicar gravidade da doença INFLUENZA TNF-α (PRÓ INFLAMATÓRIO) Encontrado em 76% dos pacientes com encefa - lopatia induzida por influenza e convulsões fe- bris devido a influenza INFLUENZA IL-10 (ANTI - INFLAMATÓRIO) Aumentado em crianças com história de convul- são febril. Aumenta a mortalidade. INFLUENZA Fonte: Adaptado de TIWARI et al., 2022. QUADRO CLÍNICO A crise convulsiva febril costuma ocorrer durante o primeiro dia de febre, algumas vezes, após elevação súbita da temperatura. O quadro clínico mais comum é aquele em que os respon- sáveis pela criança não percebem a febre antes do evento. Sabe-se que em 21% das crianças a crise ocorre em mais ou menos 1 hora após o surgimento da febre; 57% ocorre de 1 a 24 horas após o início da febre e em 22% ocorre após 1 dia, devendo pensar em outras hipóteses diag- nósticas (MACHADO et al., 2018). 18 | P á g i n a Segundo Machado et al. (2018), a crise con- vulsiva pode ser classificada em tônica, clônica, monoclônica e tônico-clônico. • Tônica: Contração muscular mantida com duração de segundos a minutos. • Clônica: Breves abalos musculares (contração e relaxamento) repetitivos. • Monoclônica: Contrações musculares de curta duração, semelhantes a choques • Tônico-clônica: Fase inicial tônica, com contração de todas as musculaturas do corpo, com apneia e cianose, seguida pela fase clônica com abalos musculares generalizados. Há perda de consciência e pode haver relaxamento esfincteriano. O quadro clínico pode ser variado, pois exis- tem tipos diferentes de crise, podendo ser clas- sificada em simples, também chamada de típica, e em complexas. A crise simples é definida quando o episódio dura menos que 15 minutos (vale ressaltar que algumas referências, principalmente inglesas, consideram o valor menor que 10 minutos como tempo para considerar simples), é generalizada, sem que ocorra recorrência dentro de 24h, em um paciente sem histórico neurológico prévio. Já a complexa é definida quando há pelo menos uma das seguintes características: duração maior que 15 minutos, generalizada prolongada ou focal, presença de anormalidade neurológica como paralisia de Todd, presença de recorrência dentro de 24h (GUARANGNA et al., 2016; BRITO et al., 2017; MEWASINGH et al., 2020). Além destas características, vale ressaltar que a crise simples pode apresentar também si- alorreia, cianose labial, liberação esfincteriana, sonolência após episódio, vômitos, respiração irregular, dentre outros sintomas. Ela é a forma mais comum, ocorrendo em 65-75% dos casos. Já a crise complexa pode ocorrer mais de uma vez em 24h, podendo ocorrer apenas tremores limitados a um membro, apresentar-se como ataxia, ou como uma crise prolongada, e é pos- sível haver sonolência após o episódio (BERG & SHINNAR, 1996; BRITO et al., 2017; MA- CHADO et al., 2018). DIAGNÓSTICO O diagnóstico de uma Convulsão Febril é eminentemente clínico e baseia-se em uma anamnese completa, no exame físico neuroló- gico e na exclusão de diagnósticos diferenciais. A anamnese deve conter uma boa caracterização do episódio convulsivo, investigação de doen- ças recentes, questionamentos sobre vacinação contra Haemophilus influenzae tipo B e Strepto- coccus pneumoniae e investigação da história pessoal e familiar de convulsões. A investigação de diagnósticos diferenciais deve priorizar aqueles que conferem maior risco ao paciente, como é o caso da meningite, assim, no exame físico, é necessário investigar sinais de irritação meníngea, como sinal de Kernig, sinal de Brudzinski, irritabilidade, abaulamento de fon- tanela, rigidez de nuca, depressão sensória e di- minuição do tônus muscular. Contudo, os sinais que sugerem meningite podem ser sutis ou au- sentes em crianças pequenas (EILBERT & CHAN, 2022). O exame neurológico, logo após um episó- dio de crise febril, pode evidenciar sonolência e ataxia. Já em um episódio de crise convulsiva complexa pode haver sinais focais, entretanto o retorno para o estado basal costuma ser rápido, geralmente imediato, e caso isso não ocorra, deve-se analisar a presença de uma doença de base com comprometimento neurológico (MA- CHADO et al., 2018). Estudos laboratoriais Assim como em qualquer paciente que apre- sente quadro de convulsão, deve-se avaliar o ní- 19 | P á g i n a vel sérico de glicose da criança. Outros exames laboratoriais não são feitos de rotina em pacien- tes com convulsão febril uma vez que anormali- dades eletrolíticas são raras. Os estudos labora- toriais são realizados de modo individualizado, levando em consideração a anamnese e os exa- mes físicos e
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