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Aula 6 (1/10/2020) - Conclusão do inquérito (continuação...) - O juiz, ao receber o inquérito e verificar que o crime investigado é de ação penal pública, ele encaminha o IP ao mp. - As opções do MP ao receber o inquérito: a) oferecer acordo de não persecução penal (ANPP) b) requisitar novas diligências ao Delegado: isso ocorrerá quando o Promotor, estudando o inquérito, constatar que ainda não há elementos para oferecer denúncia (ou propor o acordo de não persecução), mas que novas diligências do delegado poderão trazer esses elementos. Ex: o promotor acredita que se forem ouvidas novas testemunhas, realizada perícia, feitos reconhecimentos etc. os elementos necessários (prova do crime e indícios de autoria) ainda poderão vir ao inquérito. - Nesse caso ele requisita essas diligências ao delegado. O Delegado recebe de volta o IP com a requisição dessas diligências, ficando obrigado a cumpri-las (salvo em caso de clara ilegalidade). - Ele realiza as diligências e restitui o inquérito ao MP. c) oferecer denúncia: isso ocorrerá quando o promotor entender que estão presentes os elementos necessários para a ação penal (prova da existência do crime e indícios de autoria) e não for caso de oferecer acordo de não persecução. - Nesse caso, ele estará promovendo a ação penal. d) Promover o arquivamento do inquérito policial: isso ocorrerá quando o inquérito não oferecer elementos suficientes para oferecimento de denúncia (ou acordo de não persecução) e não houver diligências que possam trazer esses elementos. Ex: ex. não se chega a um suspeito; não há crime algum; a punibilidade já está extinta pela prescrição ou outra causa etc. 20. Pacote anticrime (*em vigor, mas com aplicação suspensa). - O pacote anticrime modificou a sistemática do arquivamento do inquérito. - Em hipótese nenhuma o Delegado pode arquivar inquérito (art. 17 do CPP). - Na sistemática do pacote anticrime (lei 13.964/2019, que modificou o art. 28 do CPP), o próprio Promotor, entendendo que é caso de arquivamento, deve determina-lo de forma fundamentada, comunicando a vítima. - Em seguida, o Promotor enviará a sua manifestação ao órgão de controle do MP. - No MP estadual, é o Procurador Geral de Justiça. - No MP federal, é uma Câmara de Coordenação e Revisão. - Esse órgão de controle deve examinar as razões que levaram o Promotor a arquivar o inquérito, podendo manter o arquivamento ou designar outro promotor para oferece denúncia. - A vítima também poderá requerer a esse órgão que designe outro promotor para oferecer denúncia. - Esse novo promotor fica obrigado a oferece denúncia, pois ele não está agindo em seu próprio nome, mas por delegação superior. 20.1. Cenário atual: *No entanto, o STF, na liminar concedida em ação de inconstitucionalidade contra o pacote anticrime, suspendeu a eficácia desse novo art. 28 do CPP. - Portanto, enquanto não houver decisão do STF a respeito, continua-se aplicando o antigo art. 28. - Pela lei antiga, o Promotor, assim como o Delegado, não podia arquivar o inquérito. - Quem arquiva inquérito, pela lei antiga, é só o juiz. O Promotor, entendendo que é caso de arquivamento, deve enviar o inquérito ao juiz com a manifestação fundamentada em favor do arquivamento. - O juiz, se concordar com o MP, determina o arquivamento. - Se não concordar, o juiz remeterá o inquérito ao órgão superior do MP (Procurador geral ou Câmara) expondo as razões pelas quais entende que não é caso de arquivamento. - O órgão superior, se concordar com o arquivamento, devolve ao juiz, e este fica obrigado a arquivar. - SE o órgão superior do MP entender que o juiz tem razão, ou seja, que é caso de denúncia, designa outro promotor para oferece-la. 21. Possibilidade de desarquivamento do inquérito (art. 18 CPP): - depois de arquivado o inquérito, o art 18 só permite o desarquivamento se surgirem novas provas. - A Súmula 524 do STF também afirma que após o arquivamento do inquérito só poderá haver ação penal se surgirem novas provas. - Desarquivado o inquérito, poderão ocorrer novas diligências e eventualmente o oferecimento de denúncia. - No entanto, a doutrina e a jurisprudência dizem que essa prova nova deve ser SUBSTANCIALMENTE nova, e não apenas FORMALMENTE nova. a) Prova substancialmente nova é aquela que traz uma informação que ainda não se conhecia, ou seja, que modifica o quadro probatório dentro do qual havia sido determinado o arquivamento. - Essa prova autoriza o desarquivamento. Ex. surge uma nova testemunha e diz que reconhece o autor do crime; ou o produto do crime é encontrado escondido na casa de um suspeito etc. - Ela traz no seu conteúdo, na sua substância, um fato novo. b) Prova formalmente nova (que não autoriza o desarquivamento) é uma prova nova que em seu conteúdo não traz nenhum acréscimo à prova que já era conhecida. Ex. uma nova testemunha é encontrada, mas ela apenas repete exatamente o que as testemunhas anteriores haviam dito, sem nada de novo. - Essa prova não autoriza o desarquivamento. - Contudo, segundo a doutrina e a jurisprudência, se o arquivamento tiver sido motivado por atipicidade da conduta não poderá haver desarquivamento, nem que surja prova nova. Ação Penal - Direito de ação é o direito de pedir ao Poder Judiciário que solucione um litígio (lide) aplicando a lei a um caso concreto. - Lide penal: pretensão de uma parte que encontra resistência em outra. - A lide penal consiste na pretensão punitiva do Estado, que encontra resistência na defesa do réu, que pretende não ser punido. - No processo penal, ainda que o réu não resista à pretensão punitiva do Estado, fora dos casos de justiça penal consensual (Transação penal ou ANPP) o próprio Estado nomeará um defensor para resistir por ele. - O direito de ação é independente do direito material postulado na ação. - O direito de ação é um direito instrumental. É o direito ao meio para obter (ou não) o reconhecimento do direito reclamado. - O direito de ação é o direito de pedir algo ao Poder Judiciário. Não se confunde com o direito àquilo que é pedido. - Todas as vezes que uma ação é conhecida e julgada improcedente, isso significa que o autor tinha o direito de pedir (direito de ação) mas não tinha direito àquilo que ele pedia (direito material). - Se o direito de ação não está presente, o pedido nem sequer é julgado. A petição inicial é rejeitada. Ex. o MP mover ação em crime de ação privada. - O MP não tem direito a essa ação. Portanto, num caso desses, o juiz não julgaria o réu. Não apreciaria o pedido. Apenas rejeitaria a petição inicial. - A existência do direito de ação depende da presença concomitante de condições, que são as condições da ação: - São condições do direito de postular algo ao Poder Judiciário: a) Legitimidade: nem todos podem pedir. Ordinariamente, que pode pedir (quem tem legitimidade) é o titular do direito reclamado. Na ação pública, é o MP, que é órgão do Estado. - Na ação privada, a lei transfere a vítima o direito de postular o reconhecimento do direito de punir do Estado. b) Interesse de agir: só cabe ação quando a sentença for necessária, adequada e útil à realização do direito pretendido. Ex. não cabe ação penal, por falta de utilidade, quando já houve a extinção da punibilidade. c) Possibilidade Jurídica do Pedido: só há direito de pedir aquilo que, em tese, o direito admite. Por exemplo, não cabe ação penal para obter a punição de alguém por uma conduta atípica. - Não se pode pedir, por exemplo, a aplicação de uma pena que o direito não admite. - Essas 3 condições são chamadas no processo penal de condições gerais da ação, pois se aplicam a todas as ações penais. - No entanto, algumas ações exigem, além delas, outras condições (que só se exigem naquelas ações). São as chamadas condições específicas da ação (ou condições de procedibilidade). Ex: - nas ações penais públicas condicionadas à representação do ofendido, além das três condições gerais da ação, é exigida uma condição especial, que é a representação (manifestação de vontade) da vítima ou de seu representantelegal. - nas ações penais públicas condicionadas à requisição do Ministro da Justiça, além das três condições gerais da ação, é exigida uma condição especial, que é essa requisição (manifestação de vontade) do Ministro. Portanto: - Condições gerais da ação (exigidas para todas as ações): a) legitimidade; b) interesse; c) possibilidade jurídica - Condições específicas ou de procedibilidade (exigidas apenas para algumas ações): a) representação do ofendido ou b) requisição do ministro da justiça nas ações condicionadas Classificação das Ações Penais - Existem várias classificações. A mais importante é a classificação das ações penais de acordo com o seu autor (ou seja, de acordo com a titularidade do direito de ação). Quanto à titularidade: - Essa é a classificação das ações penais de acordo com o seu titular. - a ação penal pode ser pública ou privada. 1) Ação Penal Pública: - é aquela promovida com exclusividade pelo MP (CF, art. 129, I). - afirma-se que o MP é o "dominus litis" (senhor da lide) na ação pública, pois ele a exerce com monopólio (exclusividade). - Em regra, os crimes são de ação pública. Quando a lei penal, ao tipificar a conduta criminosa, não diz nada sobre a espécie de ação penal, entende-se que deve aplicada essa regra, ou seja, que o crime é de ação pública. Ex. roubo, latrocínio, homicídio, etc. - A ação penal pública pode ser: a) incondicionada: é aquela que o MP promove sem a necessidade de um consentimento. - ela só se subordina às condições gerais da ação, não havendo necessidade de consentimento da vítima nem do ministro da justiça. b) condicionada: é aquela em que o MP é titular da ação (ela é pública) mas para promove-la ele necessita de um consentimento, que em alguns casos será da vítima ou seu representante (ação penal pública condicionada à representação da vítima) e em outros caos do Min. da Justiça (ação pública condicionada a requisição do ministro da justiça). - Quando o crime é de ação pública condicionada a representação do ofendido, a lei penal, ao prever crime, afirma "somente se procede mediante representação do ofendido". - Quando o crime é de ação condicionada a requisição do ministro da justiça, a lei penal ao tipificar a conduta, afirma "somente se procede mediante requisição do Ministro da justiça". 2) Ação Penal Privada: - é aquele promovida por uma pessoa privada, que é a vítima ou quem a represente. - quando o crime é de ação privada, a lei penal, ao tipifica-lo, afirma: "somente se procede mediante queixa". - queixa é a petição inicial da ação privada. - A ação penal privada tem 2 espécies: a) ação penal privada principal ou exclusiva: é aquela promovida pela vítima ou seu representante, em crime de ação privada. b) ação penal privada subsidiária da pública: é uma ação penal privada (portanto, movida pela vítima ou seu representante) em crime de ação pública, quando houve inércia do MP. Ação Penal Pública - seu titular é exclusivamente o MP (art. 129, I da CF e art. 257, I do CPP). - o art. 27do CPP diz que qualquer do povo pode provocar o MP, ou seja, requerer que ele promova a ação pública. Princípios da ação penal pública: 1) oficialidade: todos os órgãos encarregados da persecução penal são órgãos oficiais (públicos): o MP ou a polícia investigam, o MP acusa e o juiz julga - não há participação de particular na persecução penal. 2) obrigatoriedade: por esse princípio, havendo prova do crime e indícios de autoria, o MP é obrigado a promover a ação. Não se trata de um ato discricionário (em que o MP poderia decidir não processar alguém, ainda que presentes os requisitos). * obs: esse princípio é mitigado, abrandado, nas hipóteses em que a lei prevê a possibilidade de acordo (transação penal ou anpp), pois nesses casos o MP, embora tenha elementos para promover a ação, é autorizado pela lei a não promove-la, desde que haja o acordo. Se não houver acordo, o MP fica obrigado a promover a ação. 3) Indisponibilidade (art. 42 CPP) o MP não pode desistir da ação depois de tê-la promovido. *obs. o MP, se entender no curso da ação, que o réu deve ser absolvido, deve pedir ao juiz que o absolva. Mas não pode desistir da ação. - O juiz não fica obrigado a absolver se houver esse pedido do MP. Do contrário, esse pedido equivaleria a uma desistência. O juiz pode condenar mesmo que haja pedido de absolvição do MP. - Mas nesse caso, o MP poder recorrer da sentença em favor do réu. 4) divisibilidade: esse princípio se aplica apenas nos casos de crimes cometidos em concurso de pessoas. - Se houver elementos para denunciar uma delas e forem necessárias diligências para apurar o envolvimento de outras, ou for de caso de arquivamento em relação a outras, o MP pode denunciar apenas uma e não as outras. Ex dois indivíduos praticaram um roubo, e um deles foi preso em flagrante, enquanto o outro fugiu. O MP, tendo em vista a identificação do que foi preso, pode desde logo denunciar essa pessoa, aguardando novas diligências para identificar o segundo.
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