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CINTIA LIRA BORGES SARCOPENIA E QUEDAS EM IDOSOS ATENDIDOS EM UMA CLÍNICA ESCOLA FORTALEZA- CEARÁ 2019 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA DOUTORADO EM SAÚDE COLETIVA CINTIA LIRA BORGES SARCOPENIA E QUEDAS EM IDOSOS ATENDIDOS EM UMA CLÍNICA ESCOLA Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Saúde Coletiva do Programa de Pós- graduação em Saúde Coletiva do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Saúde Coletiva. Área de concentração: Saúde Coletiva. Orientador: Prof. Dr. José Wellington Oliveira Lima FORTALEZA-CEARÁ 2019 CINTIA LIRA BORGES SARCOPENIA E QUEDAS EM IDOSOS ATENDIDOS EM UMA CLÍNICA ESCOLA Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Saúde Coletiva do Programa de Pós- graduação em Saúde Coletiva do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Saúde Coletiva. Área de concentração: Saúde Coletiva. Aprovada em 28 de janeiro de 2019. Dedico esse trabalho a minha família e as pessoas mais importantes da minha vida: meus pais, meu filho e meu marido. AGRADECIMENTOS A Deus, por me dar o dom da vida e a sorte de ter todos os meus desejos e sonhos realizados. Aos meus pais por lutarem pelos meus estudos e por batalharem, até hoje, para que eu tenha uma vida melhor. Sem eles, com certeza, eu não seria quem sou. Ao meu marido (Saul Pedrosa) por ajudar nos momentos mais difíceis e compreender a vida acadêmica conturbada e a enorme falta de tempo para as atividades em família. Ao meu filho (Saul Borges) por existir na minha vida, e por compreender, aos nove anos, todo o esforço que demanda um doutorado, mesmo sem entender o motivo disso tudo. Ao Prof. Dr. José Wellington e todos os seus ensinmentos e orientações. Durante o doutorado, devo o meu aprendizado a você e a sua sabedoria que ultrapassa a dos seres humanos normais. Ao Prof. Dr. Arnaldo Peixoto, pois sem a sua paciência e generosidade, eu não teria finalizado essa importante etapa da minha vida. Deus colocou um anjo no meu caminho, e esse ser de luz foi você que me acolheu e proporcionou finalizar o doutorado. Obrigada imensamente. A Prof. Dra. Thereza Magalhães por fornecer considerações essenciais ao meu trabalho, por estar sempre disponível e responder prontamente às minhas dúvidas, e por suas palavras motivadoras. Aos Professores Charlys Barbosa e Jarbas Roriz Filho que no meio de uma vida tão atribulada se comprometeram em participar da banca e conceder sugestões fundamentais a minha tese. Aos colegas de doutorado com os quais dividi tristezas, ansiedades, alegrias e momentos incríveis: Ana Paula Brilhante, Bruna Yhang, Francisco Trindade Silva, Joana Mary Soares, Marcia Andréia Barros, Maria Sônia Nogueira, Raquel Sampaio. Maria Lidiany Tributino, Ana Luiza de Rezende, Fernando Sérgio, Sarah Vieira, Geyse Lanne Muniz. A todos os professores do doutorado, em especial Prof. Dr. Andrea Caprara e Profa. Dra. Lucia Conde, cuja memória do aprendizado e dos ensinamentos será eterna. Às amigas Beatriz Camurça e Ana Beatriz Vasconcelos por auxiliarem na coleta de dados, fazerem parte dos momentos de sofrimento e alegria, e me dedicarem força e apoio. Aos idosos que aceitaram participar da pesquisa. Sem vocês esse desafio não seria possível. Agradeço imensamente. Aos acompanhantes, cuidadores e familiares por entenderem a importância da pesquisa e estimularem a participação do seu idoso. Aos funcionários e equipe de saúde, do ambulatório da Unichristus, por disponibilizar um espaço adequado e ótima estrutura para coleta de dados. E por todos aqueles que torceram por mim do começo ao fim. Muito obrigada! O velho e o moço Deixo tudo assim não me importo em ver a idade em mim ouço o que convém eu gosto é do gasto sei do incômodo e ela tem razão quando vem dizer que eu preciso sim de todo o cuidado e se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz quem então agora eu seria ahh tanto faz e o que não foi não é eu sei que ainda vou voltar mas eu quem será? deixo tudo assim não me acanho em ver vaidade em mim eu digo o que condiz eu gosto é do estrago sei do escândalo e eles tem razão quando vem dizer que eu não sei medir nem tempo e nem medo e se eu for o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado ahhh ora se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim dispenso a previsão ahhh se o que eu sou é também o que eu escolhi ser aceito a condição vou levando assim que o acaso é amigo do meu coração quando fala comigo quando eu sei ouvir (Los Hermanos) RESUMO Introdução: Sarcopenia é uma doença caracterizada por diminuição de força, massa muscular e desempenho físico. Nos últimos anos, tem sido aprofundada sua associação com fatores que influenciam o cotidiano e a qualidade de vida dos idosos. Objetivo: Estimar a prevalência, a incidência e os fatores associados à provável sarcopenia, à sarcopenia e quedas em uma amostra de idosos atendidos em uma clínica escola. Métodos: estudo prospectivo longitudinal realizado em um ambulatório com idosos, no período de agosto de 2016 a novembro de 2018, na cidade de Fortaleza, Ceará. Foi dividido em dois momentos, sendo o seguimento transversal de agosto de 2016 a novembro de 2018 (n=129), e o prospectivo de agosto de 2018 a novembro de 2018 (n=66). A sarcopenia foi avaliada por meio da medida da força de preensão manual por dinamômetro; da circunferência da panturilha; e do teste de velocidade em 4,6 metros. As quedas foram avaliadas a partir da seguinte pergunta: Você caiu no último ano; ou entre a sua primeira e segunda avaliação? Quantas vezes? Além disso, foram aplicados instrumentos para relação com as variáveis independentes, a saber: 1) questionário de variáveis sociodemográficas, saúde e hábitos de vida; 2) questionário de sintomas sobre doença do refluxo gastroesofágico; 3) questionário de Porto Alegre de sintomas dispépticos; 4) Índice SOF (avalia fragilidade); 5) critérios de Roma III para constipação funcional; 6) Escala GOHAI para autopercepção da saúde bucal. Os dados foram analisados utilizando o software estatístico Stata versão 17.0. A relação entre variáveis independentes e sarcopenia foi estudada por meio de Regressão logística; e a relação com quedas foi examinada por meio da Regressão de Poisson. As variáveis provável sarcopenia e sarcopenia foram transformadas em uma categoria única. Resultados: A prevalência de provável sarcopenia e sarcopenia foi de 34,1%, e quedas de 44,2%. Os riscos para sarcopenia foram aumento da idade (OR: 1,1); não morar com o cônjuge (OR: 3,67); e apresentar mais pontos no questionário de sintomas na doença do refluxo gastroesofágico (OR: 1,09). O resultado quedas mostrou associação com ser hipertenso (RDI: 2,96); ter IMC ≥ 27kg/m2 (RDI: 2.52) e ter constipação funcional (RDI: 3.18). A incidência de provável sarcopenia e sarcopenia foi de 35,7%, e quedas de 36,4%, Conclusão: Considera-se alta a prevalência e incidência de sarcopenia e quedas entre os idosos avaliados, e ressalta-se a necessidade de se estudar os fatores associados a esses desfechos, uma vez que contemplam uma cadeia causal ampla e complexa. Palavras-chave: Sarcopenia. Idoso. Fatores de risco. Prevalência. Incidência. Fatores epidemiológicos. Fragilidade. ABSTRACT Introduction: Sarcopenia is a disease characterized by decreased strength, muscle mass and physical performance. In recent years, it has been deepened its associationwith factors that influence daily life and the quality of life of the elderly. Objective: To estimate the prevalence, incidence, and factors associated with probable sarcopenia, sarcopenia, and falls in a sample of elderly attending a school clinic. Methods: This was a longitudinal prospective study carried out in an outpatient clinic with elderly patients, from August 2016 to November 2018, in the city of Fortaleza, Ceará. It was divided into two moments, with a cross-sectional follow-up from August 2016 to November 2018 (n = 129), and the prospective study from August 2018 to November 2018 (n = 66). The sarcopenia was evaluated by means of the measurement of the manual grip force per dynamometer; of the circumference of the calf; and speed test at 4.6 meters. The falls were assessed from the following question: You fell in the last year; or between your first and second evaluation? How many times? In addition, instruments were applied in relation to the independent variables, namely: 1) questionnaire of socio-demographic variables, health and life habits; 2) symptom questionnaire on gastroesophageal reflux disease; 3) Porto Alegre questionnaire of dyspeptic symptoms; 4) SOF index (evaluates fragility); 5) Rome III criteria for functional constipation; 6) GOHAI scale for self-perception of oral health. Data were analyzed using statistical software Stata version 17.0. The relationship between independent variables and sarcopenia was studied by means of Logistic Regression; and the relation with falls was examined by means of the Poisson Regression. The likely sarcopenia and sarcopenia variables were transformed into a single category. Results: The prevalence of probable sarcopenia and sarcopenia was 34.1%, and falls of 44.2%. The risks for sarcopenia were increased age (OR: 1.1); not living with the spouse (OR: 3.67); and present more points in the symptom questionnaire in gastroesophageal reflux disease (OR: 1.09). The falls result showed association with being hypertensive (RDI: 2.96); have BMI ≥ 27 kg / m2 (RDI: 2.52) and have functional constipation (RDI: 3.18). The incidence of probable sarcopenia and sarcopenia was 35.7%, and falls of 36.4%. Conclusion: The prevalence and incidence of sarcopenia and falls among the elderly are considered high, and it is emphasized the need to study the factors associated with these outcomes, since they contemplate a broad and complex causal chain. Key-words: Sarcopenia. Aged. Risk Factors. Prevalence. Incidence. Epidemiologic factors. Frailty. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Aspectos envolvidos no algoritmo da triagem de sarcopenia do Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Pessoas Idosas (EWGSOP).............................................................................................. 20 Figura 2- Algoritmo da triagem de sarcopenia do Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Pessoas Idosas (EWGSOP)................ 20 Figura 3- Descrição da amostra do estudo............................................................ 31 Figura 4- Fluxograma mostrando como os artigos revisados foram identificados e selecionados por meio da estratégia PRISMA (2018) 85 Quadro 1- Recursos informacionais consultados, estratégias de busca e referências recuperadas. Fortaleza-CE. Brasil. 2018.......................... 82 Quadro 2- Descrição dos estudos incluídos na revisão sistemática na base Scielo e CINAHL, segundo autores, ano, objetivo, classificação de sarcopenia, tipo de estudo e base/portal. Fortaleza-CE. Brasil. 2018.......................................................................................................... 86 Quadro 3- Descrição dos estudos incluídos na revisão sistemática no portal Pubmed, segundo autores, ano, objetivo, classificação de sarcopenia, tipo de estudo e base/portal. Fortaleza-CE. Brasil. 2018.......................................................................................................... 87 Quadro 4- Relação entre sarcopenia e fatores de risco/proteção, de acordo com os modelos de regressão dos estudos incluídos da base Scielo e CINAHL na revisão sistemática. Fortaleza-CE. Brasil. 2018............ 91 Quadro 5- Relação entre sarcopenia e fatores de risco/proteção, de acordo com os modelos de regressão dos estudos incluídos do portal PubMed na revisão sistemática. Fortaleza-CE. Brasil. 2018.............. 93 Quadro 6- Qualidade desta revisão sistemática pelo guia AMSTAR.................. 117 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Definição dos pontos de corte para os marcadores e testes clínicos de sarcopenia........................................................................................ 19 Tabela 2- Estudo Transversal da Relação entre variáveis sociodemográficas, de estilo de vida e Provável Sarcopenia e Sarcopenia, numa amostra (n=129) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza.................................................. 39 Tabela 3- Estudo Transversal da Relação entre comorbidades, número de doenças, número de medicamentos, fragilidade e Provável Sarcopenia e Sarcopenia, numa amostra (n=129) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza................................................................................................ 41 Tabela 4- Análise multivariada da provável sarcopenia e sarcopenia, no estudo transversal, numa amostra (n=129) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza......................................... 42 Tabela 5- Estudo Transversal da Relação entre variáveis sociodemográficas, de estilo de vida e Número de Quedas, numa amostra (n=129) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza............................................................................... 43 Tabela 6- Estudo Transversal da Relação entre comorbidades, número de doenças, número de medicamentos, IMC e Número de Quedas, numa amostra (n=129) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza......................................................................... 44 Tabela 7- Estudo Transversal da Relação entre sintomas dispépticos, constipação funcional, sarcopenia, marcadores clínicos de sarcopenia, fragilidade e Número de Quedas, numa amostra (n=129) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza................................................................................................ 45 Tabela 8- Análise multivariada do número de quedas, no estudo transversal, numa amostra (n=129) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza......................................................................... 46 Tabela 9- Estudo Prospectivo da relação entre variáveis sociodemográficas, de estilo de vida e Número de Quedas, numa amostra (n=66) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza...... 47 Tabela 10- Estudo Prospectivo da relação entre comorbidades, número de doenças, número de medicamentos, fragilidade, Teste Time up and go, sintomas dispépticos, constipação funcional e Provável Sarcopenia e Sarcopenia, numa amostra (n=56) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza................................................................................................. 48 Tabela 11- Análise multivariada da provável sarcopenia e sarcopenia, no estudo prospectivo, numa amostra (n=66) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza................................................................................................. 49 Tabela 12- Estudo Prospectivo da relação entre variáveis sociodemográficas, de estilo de vida e Número de Quedas, numaamostra (n=66) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza................................................................................................. 50 Tabela 13- Estudo Prospectivo da relação entre comorbidades, IMC, número de doenças e medicamentos, sarcopenia, marcadores de sarcopenia, sarcopenia, fragilidade, sintomas dispépticos, constipação funcional e Número de Quedas, numa amostra (n=66) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza................................................................................................. 51 Tabela 14- Análise multivariada do número de quedas, no estudo prospectivo, numa amostra (n=66) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza................................................... 52 Tabela 15- Qualidade dos estudos transversais da base PubMed, a partir da ferramenta Newcastle-Ottawa Scale. Fortaleza-CE. Brasil. 2018......................................................................................................... 114 Tabela 16- Qualidade dos estudos transversais da base PubMed, a partir da ferramenta Newcastle-Ottawa Scale. Fortaleza-CE. Brasil. 2018.... 115 Tabela 17- Qualidade dos estudos de coorte a partir da ferramenta Newcastle-Ottawa Scale........................................................................ 116 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS EWGSOP The European Working Group on Sarcopenia in Older People SOF Study of Osteoporotic Fracture Criteria for Frailty TUG Time Up and Go SPPB Short Physical Performance Battery DI Densidade de incidência AWGS Algoritmo Asian Working Group for Sarcopenia FNIH Foundation for the National Institutes of Health IWGS International Working Group on Sarcopenia SIG Special Interest Group BIA Bioimpedância elétrica DXA Varreduras de absorciometria de raios-x de dupla energia TC Tomografia Computadorizada RM Ressonância magnética HAS Hipertensão Arterial Sistêmica DRGE Doença do Refluxo Gastroesofágico OR Odds Ratio RQPP Razão de Quedas Por Pessoa SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 14 1.1 SARCOPENIA.................................................................................................... 14 1.2 FISIOPATOLOGIA DA SARCOPENIA........................................................... 15 1.3 PARÂMETROS DA SARCOPENIA................................................................. 16 1.4 TERMOS RELACIONADOS À SARCOPENIA............................................... 20 1.5 TRATAMENTO DA SARCOPENIA................................................................. 23 1.6 QUEDAS ENTRE IDOSOS............................................................................... 24 1.7 JUSTIFICATIVA................................................................................................ 25 2 OBJETIVO........................................................................................................ 27 3 MÉTODOS......................................................................................................... 28 3.1 TIPO DE ESTUDO............................................................................................. 28 3.2 LOCAL E PERÍODO......................................................................................... 28 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA............................................................................ 29 3.4 INSTRUMENTOS E VARIÁVEIS DE COLETA............................................ 31 3.5 ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS.................................................. 34 3.6 ASPECTOS ÉTICOS.......................................................................................... 36 4 RESULTADOS.................................................................................................. 37 4.1 RESULTADO ESTUDO TRANSVERSAL....................................................... 38 4.2 RESULTADO ESTUDO PROSPECTIVO........................................................ 47 5 DISCUSSÃO...................................................................................................... 53 5.1 DISCUSSÃO ESTUDO TRANSVERSAL E PROSPECTIVO SOBRE SARCOPENIA.................................................................................................... 53 5.2 DISCUSSÃO ESTUDO TRANSVERSAL E PROSPECTIVO SOBRE QUEDAS............................................................................................................. 56 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 61 REFERÊNCIAS................................................................................................ 63 APÊNDICES..................................................................................................... 73 APÊNDICE A- QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO E DE SAÚDE... 75 APÊNDICE B- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.................................................................................................. 77 APÊNDICE C- TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO.......................................... 78 APÊNDICE D- CARTA DE ANUÊNCIA......................................................... 79 APÊNDICE E- ARTIGO DE REVISÃO SISTEMÁTICA................................ 80 APÊNDICE F- QUALIDADE DOS ESTUDOS TRANSVERSAIS DA BASE SCIELO E CINAHL................................................................................ 115 APÊNDICE G- QUALIDADE DOS ESTUDOS TRANSVERSAIS DA BASE SCIELO E CINAHL................................................................................ 116 APÊNDICE H- QUALIDADE DOS ESTUDOS DE COORTE............................................................................................................. 117 APÊNDICE I- QUALIDADE DA REVISÃO SISTEMÁTICA PELO GUIA AMSTAR............................................................................................................. 118 ANEXOS............................................................................................................ 119 ANEXO A- AVALIAÇÃO DOS ESTUDOS TRANSVERSAIS- NEWCASTLE-OTTAWA SCALE..................................................................... 120 ANEXO B- AVALIAÇÃO DOS ESTUDOS DE COORTE- NEWCASTLE- OTTAWA SCALE.............................................................................................. 121 ANEXO C- FERRAMENTA AMSTAR............................................................ 122 ANEXO D- FERRAMENTA PRISMA.............................................................. 123 ANEXO E- ÍNDICE GOHAI.............................................................................. 124 ANEXO F- SINTOMAS DISPÉPTICOS........................................................... 125 ANEXO G- ROMA IV (CONSTIPAÇÃO FUNCIONAL)................................ 127 ANEXO H- ÍNDICE SOF (STUDY OF OSTEOPOROTIC FRACTURES)…. 128 ANEXO I- PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP................................. 129 14 1 INTRODUÇÃO 1.1 SARCOPENIA Durante o envelhecimento, o organismo sofre diversas alterações estruturais, metabólicas e de funções fisiológicas. Essas modificações podem contribuir para maior susceptibilidade a desfechos clínicos diferentes das outras faixas etárias. A idade avançada está relacionada ao aparecimento de fragilidade e inúmeras comorbidades, como a sarcopenia, as quais estão inter-relacionadas e, frequentemente, ocorrem concomitantemente. Sarcopenia é um distúrbio muscular esquelético progressivo e generalizado que está associado ao aumento de quedas, fraturas, incapacidade física, internações e mortalidade. (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). Até final do ano de 2018, o estadiamento podia ser feito, conforme a condição do idoso,em pré-sarcopênico, ou seja, baixa massa muscular sem alterações de força e desempenho; ou sarcopênico, isto é, quando apresentava baixa massa muscular e um dos dois fatores: redução de força ou baixo desempenho; e como sarcopênico grave, quando todos os critérios estavam presentes (CRUZ-JENTOFT et al., 2010). A sua origem pode ser primária, quando está unicamente relacionada à idade; ou secundária, quando uma ou mais outras causas são evidentes, por exemplo, quando se concatena a déficits de atividade, nutrição e/ou doença (CRUZ-JENTOFT et al., 2010). Recentemente, o consenso europeu do The European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) sobre sarcopenia foi atualizado e classifica: idoso provavelmente sarcopênico aquele que tem redução da força muscular; idoso com diagnóstico confirmado de sarcopenia aquele que tem diminuição de força e de massa muscular; e gravemente sarcopênico aquele que tem perda de força, massa e desempenho físico (CRUZ- JENTOFT et al., 2019). Além disso, a sarcopenia pode ser aguda, quando relacionada a uma doença ou lesão ocorrida em um período menor de seis meses; ou crônica, quando presente em um período igual ou maior de seis meses, e associada a condições crônicas progressivas e ao aumento da mortalidade (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). O consenso ainda refere que a baixa força muscular é suficiente para considerar intervenções em saúde (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). 15 A abordagem da sarcopenia, a partir de pesquisas de alta qualidade, levou ao reconhecimento da entidade como doença, sendo instituído o código M62.84 na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), em setembro de 2016 (ANKER; MORLEY; VON HAEHLING, 2016). Isso representou relevante avanço, corroborando para o aumento da disponibilidade de ferramentas diagnósticas e para motivação das empresas farmacêuticas em desenvolver drogas para tratamento (ANKER; MORLEY; VON HAEHLING, 2016). Atualmente, em 18 de junho de 2018, foi lançada a CID-11, que cita a sarcopenia como transtorno paraneoplásico ou autoimune do músculo (código 8E4A.3) (WHO, 2018a) incorporado aos transtornos paraneoplásicos ou autoimunes do sistema nervoso (código 8E4A) (WHO, 2018b). Além disso, considera sarcopenia como outros transtornos específicos dos músculos (código FB32.Y) (WHO, 2018c) referente às desordens específicas dos músculos (código FB32). Nesse último caso, a descrição trata-se de comprometimento da saúde ou condição de funcionamento muscular anormal que não se encaixa em outra categoria (WHO, 2018d). A epidemiologia da sarcopenia é diversa entre os países e tem relação estreita com o estilo de vida e com o estado clínico do idoso. Dessa forma, em idosos da comunidade pode variar entre 8,8% (KÖNIG et al., 2018) e 33,5% (ROSSI et al., 2017); em idosos hospitalizados de 30,2% a 50,7% (BIANCHI et al., 2017); em idosos atendidos em ambulatório de 15,2% (KILIC et al., 2017) a 27,6% (BEAUDART et al., 2015); e naqueles institucionalizados varia de 38,1% (BUCKINX et al., 2017) a 40,2% (SENIOR et al., 2015). 1.2 FISIOPATOLOGIA DA SARCOPENIA A fisiopatologia da sarcopenia envolve diversos mecanismos que merecem ser elucidados a fim de melhor compreensão sobre estratégias que podem ser aplicadas em nível laboratorial/experimental e na prática clínica. De maneira geral, esses envolvem fatores intrínsecos, como inflamação, autofagia (SAKUMA; AOI; YAMAGUCHI, 2015; KALINKOVICH; LIVSHITS, 2015); deficiência de síntese proteica; proteólise, problemas na integridade neuromuscular (CRUZ-JENTOFT et al., 2010); diminuição do tamanho da fibra muscular; homeostase mitocondrial desregulada e apoptose (SAKUMA; AOI; YAMAGUCHI, 2015). https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Anker%20SD%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27891296 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Morley%20JE%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27891296 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=von%20Haehling%20S%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27891296 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=von%20Haehling%20S%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27891296 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Anker%20SD%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27891296 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Morley%20JE%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27891296 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=von%20Haehling%20S%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27891296 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Sakuma%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Aoi%20W%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Yamaguchi%20A%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Sakuma%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Aoi%20W%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Yamaguchi%20A%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 16 Nessa doença, muitos reguladores negativos agem inibindo a síntese de proteínas e aumentando a degradação proteica no músculo esquelético (SAKUMA; AOI; YAMAGUCHI, 2015). Destaca-se que, nos seres humanos, o músculo esquelético é o mais abundante, responsável por 40 a 50 % da massa corporal; e desempenha papel vital na locomoção e na produção de calor para manutenção do metabolismo (SAKUMA; AOI; YAMAGUCHI, 2015). Além disso, fatores extrínsecos (SAKUMA; AOI; YAMAGUCHI, 2015; KALINKOVICH; LIVSHITS, 2015), como estado nutricional, sedentarismo e imobilidade, contribuem para miogênese defeituosa, atrofia muscular e fraqueza (KWAK et al., 2018). Com relação a fatores bioquímicos específicos, destacam-se que indivíduos tendem a ser sarcopênicos quando apresentam valores aumentados de miostatina sérica (TAY et al., 2015), a qual é uma proteína sintetizada e secretada pelo músculo esquelético que regula negativamente a massa muscular e faz parte da família do fator de crescimento transformador β (TGF-β) (BERGEN et al., 2015; SAKUMA; AOI; YAMAGUCHI, 2015). Também, quando apresentam níveis diminuídos de osteocalcina no osso, uma vez que a sinalização desse hormônio em miofibras é necessária para promover a síntese de proteínas em células musculares (MERA et al., 2016). Ainda, quando possuem menores valores do fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1) (TAY et al., 2015; KWAK et al., 2018), o qual é uma proteína que regula a síntese proteica e o ciclo celular (MOORE et al., 2018), estando associada a menor força de preensão palmar e pior desempenho físico (VAN NIEUWPOORT et al., 2018). Dessa forma, a literatura aponta que repor proteínas ou fatores que estão envolvidos na fisiopatologia da sarcopenia pode contribuir para prevenir ou tratar a doença. 1.3 PARÂMETROS DA SARCOPENIA Sabe-se que a sarcopenia é identificada na presença de três marcadores: força, massa muscular e desempenho físico. A definição do consenso de 2018, sugere que a força muscular seja a medida mais confiável da função muscular e o parâmetro primário para classificação da sarcopenia (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). Essa atualização foi fundamental para facilitar a avaliação da sarcopenia na prática clínica e para evitar confusão entre os termos dinapenia e sarcopenia. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Sakuma%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Aoi%20W%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Yamaguchi%20A%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Sakuma%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Aoi%20W%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Yamaguchi%20A%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Sakuma%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Aoi%20W%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Yamaguchi%20A%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Sakuma%20K%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Aoi%20W%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Yamaguchi%20A%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=24797147 17 Por muito tempo, estudiosos discordaram sobre as definições das nomenclaturas sarcopenia e dinapenia. Muitos consideravam dinapenia como perda de força e sarcopenia como perda de massa muscular. Acreditavam que a manutenção ou o ganho de massa muscular não previnia o declínio de força muscular adquirido com o envelhecimento (MANINI; CLARK, 2012). Ainda, que a força muscular seja um fator crítico e determinante de incapacidade física e morte entre idosos, sugerindo, portanto, que a sarcopenia poderia ser secundária à dinapenia (MANINI; CLARK, 2012). Atualmente, a força muscular é o principal marcador de sarcopenia, o que facilita a identificação imediata da doença na prática, pois é considerado um método simples e barato (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). Esse marcador pode ser medido por meio de um dinamômetro para o cálculo da força de preensão palmar; ou pelo teste de suporte da cadeira (“chair rise test”) em que é cronometrado o tempo que o paciente sobe cinco vezes, a partir de uma posição sentada sem utilizar os braços; nesse caso, se avalia a força dos músculos da perna (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). A massa muscular é determinante para se definir força muscular. No entanto, a perda de massa não pode ser considerada a única ou a principal explicação para a redução de força (BEAUDART et al., 2017). Essa diminuição de massa é ocasionada por uma desregulação entre a síntese e a quebra de proteínas nas células musculares, e contribui para o aumento de morbidade entre idosos, devido, sobretudo, o maior índice de quedas e fraturas (MERA et al., 2016). Nem sempre o aumento ou a manutenção da massa muscular está relacionado com o ganho de força (MANINI; CLARK, 2012). Essa dissociação entre perda de massa versus força, entre outros fatores, pode ser explicada pela atrofia e denervação das fibras musculares (BEAUDART et al., 2017), e pelas respostas inflamatórias, durante doenças agudas, que levam ao desbalanço de nitrogênio no organismo (GARIBALLA; ALESSA, 2017). A massa muscular pode ser estimada por uma variedade de técnicas. O consenso sugere as medidas de Massa Muscular Esquelética Apendicular (STUDENSKI et al., 2014) ou Massa Muscular Esquelética Apendicular/peso2 (GOULD et al., 2014) para quantificar a perda de massa (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). 18 Para estabelecer essas medidas existem várias tecnologias, incluindo imagens de ressonância magnética (RM), tomografia computadorizada (TC), varreduras de absorciometria de raios-x de dupla energia (DXA), bioimpedância elétrica (BIA) (KWAK et al., 2018; BARTLEY; STUDENSKI, 2017) e intensidade de eco ultrassônico (ou ultrasound echointensity- EI) (BARTLEY; STUDENSKI, 2017). A quantificação relacionada à imagem por RM e TC tem sido considerada como padrão-ouro para medir a massa muscular, no entanto, possui alto custo, baixa acessibilidade e exposição à radiação gerada por TC (CRUZ-JENTOFT et al., 2010; CRUZ-JENTOFT et al., 2019). A DXA tem exposição mínima à radiação e menor custo do que a RM e TC (GUGLIELMI et al., 2016), porém não oferece informações sobre a composição muscular (BARTLEY; STUDENSKI, 2017). A BIA é simples e portátil, principalmente para o uso em pacientes acamados e ambulatoriais, estima o volume de gordura e massa corporal magra, e é considerada uma alternativa portátil para a DXA (CRUZ-JENTOFT et al., 2010). A intensidade de eco ultrassônico é um marcador útil e, relativamente, barato de ultrassonografia não invasiva para avaliar a qualidade muscular e fragilidade, tendo a vantagem de não sofrer interações dependentes do sexo ou comorbidades (BARTLEY; STUDENSKI, 2017). Ressalta-se que níveis mais elevados de intensidade de eco ultrassônico estão associados a baixos níveis de força muscular e à fragilidade (MIRÓN MOMBIELA et al., 2017). No entanto, ainda é preciso comparar e validar essa ferramenta com os outros exames (BARTLEY; STUDENSKI, 2017) para testá-la com mais precisão (MIRÓN MOMBIELA et al., 2017). Nos locais onde o acesso é precário ao alcance dessas tecnologias, as medidas de circunferência da panturrilha podem ser utilizadas (LANDI et al., 2014; CRUZ-JENTOFT et al., 2019). Os pontos de corte podem variar entre os países (LANDI et al., 2014; PAGOTTO et al., 2018). A medida que define a gravidade da sarcopenia é o desempenho físico que pode ser medido pelo Short Physical Performance Battery (SPPB), pela velocidade de marcha em quatro metros, pelo teste Time Up and Go (TUG), teste de caminhada de 400 m, entre outros (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). Os pontos de corte variam para cada teste. Porém, para 19 simplificar o grupo de trabalho europeu define uma velocidade de marcha com ponto de corte ≤ 0,8 m/s para sarcopenia grave, já que é mais conveniente na prática clínica e prevê desfechos relacionados à doença (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). A tabela 1 resume os parâmetros de sarcopenia com os respectivos pontos de corte, a partir do consenso atualizado em 2018 (CRUZ-JENTOFT et al., 2019) Tabela 1- Definição dos pontos de corte para os marcadores e testes clínicos de sarcopenia MARCADORES e TESTES PONTOS DE CORTE ♂ PONTOS DE CORTE ♀ REFERÊNCIAS FORÇA MUSCULAR PREENSÃO PALMAR < 27 kgf < 16 kgf DODDS et al. (2014) LEVANTAR DA CADEIRA > 15 s > 15 s CESARI et al. (2009) MASSA MUSCULAR MASSA MUSCULAR ESQUELÉTICA APENDICULAR < 20 kg < 15kg STUDENSKI et al. (2014) MASSA MUSCULAR ESQUELÉTICA APENDICULAR/ PESO 2 < 7 kg/m 2 < 6,0 kg/m 2 GOULD et al. (2014) DESEMPENHO FÍSICO VELOCIDADE DE MARCHA ≤ 0,8 m/s - CRUZ-JENTOFT et al. (2010) TUG ≥ 20 s - BISCHOFF et al. (2003) Fonte: Adaptado de CRUZ-JENTOFT et al., 2019. Após, realizados os devidos testes, deve-se determinar os casos, o diagnóstico e a gravidade da sarcopenia. Para isso, o consenso do EWGSOP recomenda o algoritmo Find- Asses-Confirm-Severity para uso em pesquisas e na prática clínica com o objetivo do raciocínio lógico e prático, durante o diagnóstico (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). A figura 1 mostra as etapas do algoritmo. Destaca-se que na etapa Find (encontrar os casos), a ferramenta SARC-F é composta por cinco itens de autorrelato sobre a percepção do paciente quando a limitações de força, capacidade para andar, levantar de uma cadeira, subir escadas e sobre quedas (MALMSTROM et al., 2016). Soma de zero a dez pontos, e quando maior que quatro (MALMSTROM et al., 2016), considera-se positivo para continuar a triagem. 20 Figura 1- Aspectos envolvidos no algoritmo da triagem de sarcopenia do Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Pessoas Idosas (EWGSOP) Encontrar os casos (find): identificar os que estão em risco pela suspeita clínica ou pela aplicação do SARC-F (MALMSTROM et al., 2016). Avaliação (asses): usar força de preensão palmar ou o tempo de levantar e sentar na cadeira por cinco vezes. Confirmação (confirm): detectar baixa quantidade e qualidade muscular com DXA, BIA, TC, RM ou medidas antropométricas. Gravidade (severity): utilizar velocidade de marcha, TUG, SPPB e teste de caminhada de 400m. Fonte: Adaptado de CRUZ-JENTOFT et al., 2019. A figura 2 expõe o algoritmo de triagem da sarcopenia, a partir do consenso atualizado. Figura 2- Algoritmo da triagem de sarcopenia do Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Pessoas Idosas (EWGSOP) Fonte : Adaptado de CRUZ-JENTOFT et al., 2019. 1.4 TERMOS RELACIONADOS À SARCOPENIAÉ importante conhecer a diferença entre sarcopenia, fragilidade, desnutrição, anorexia e caquexia, as quais são condições que, muitas vezes, se sobrepõem e são confundidas na prática clínica. 21 Fragilidade e sarcopenia se sobrepõem, ou seja, idosos mais frágeis exibem sarcopenia, e alguns idosos com sarcopenia também são frágeis (CRUZ-JENTOFT et al., 2010). A fragilidade tem um fenótipo estabelecido por perda de peso não intencional (>5 kg no decorrer de um ano), fraqueza, autorrelato de exaustão, lentidão e nível baixo de atividade física (FRIED et al., 2001). Essa síndrome é multifatorial, por isso inclui outras dimensões, além da física, que envolvem aspectos psicológicos e emocionais. Mesmo assim, é comum a dificuldade de distinguir fragilidade de sarcopenia. Inclusive, a sarcopenia tem sido estudada como substrato biológico do comprometimento da função física que caracteriza a fragilidade física (LANDI et al., 2015). Sabe-se que ambos são importantes problemas de saúde pública, devido à alta prevalência e à associação com diversos desfechos adversos em populações geriátricas (CALVANI et al, 2017). Ademais, a falta de uma definição unívoca e a ausência de biomarcadores robustos para fins de triagem, diagnóstico e prognóstico, têm sido um obstáculo para implementação clínica (CALVANI et al, 2017). De fato, encontrar um verdadeiro biomarcador para medir fragilidade e sarcopenia ainda é uma tarefa difícil (BARTLEY; STUDENSKI, 2017). Porém, são essenciais, uma vez que testes de função física, como força de preensão e velocidade de marcha, podem ser interrompidos por comorbidades, como problemas articulares e déficits neurológicos, comuns em populações com sarcopenia (KWAK et al., 2018). Medidas objetivas de qualidade muscular e fragilidade poderiam ser usadas para diagnóstico precoce e tomada de decisão sobre potencial intervenção para aqueles em risco, e determinar quais as opções de tratamento são mais apropriadas (KWAK et al., 2018). A desnutrição, como uma condição caracterizada pelo desequilíbrio entre a oferta e demanda de nutrientes no organismo (REMELLI; VOLPATO, 2018), desempenha papel fundamental na patogênese da fragilidade e sarcopenia (CRUZ-JENTOFT et al., 2017). Os idosos são os mais afetados, uma vez que estão mais expostos a processos catabólicos, ao reduzido anabolismo do tecido muscular e à baixa ingestão de proteínas (REMELLI; VOLPATO, 2018). Os efeitos deletérios da desnutrição incluem diminuição da massa muscular, supressão imune, atraso na cicatrização de feridas cutâneas e síndrome da falência múltipla dos órgãos (REMELLI; VOLPATO, 2018). Em um ciclo vicioso, o declínio da força muscular e do desempenho físico pode aumentar o risco de má nutrição, enquanto a nutrição inadequada pode contribuir para 22 sarcopenia e fragilidade (CRUZ-JENTOFT et al., 2017). Portanto, para manutenção da massa, força muscular e do desempenho físico, a quantidade de alimentos e energia consumidos é primordial (CRUZ-JENTOFT et al., 2017). A anorexia do envelhecimento é causada, especialmente, pela diminuição da complacência do estômago - por redução do alongamento antral (pré-pilórico) - e por aumento da atividade de colecistocinina - que é o principal hormônio da saciedade gastrintestinal (MORLEY, 2017a). Essa condição leva à perda de peso, sendo uma das causas de sarcopenia, e pode ser mais grave, quando se tem outras comorbidades e crescente número de citocinas inflamatórias, o que pode corroborar para o surgimento de caquexia (MORLEY, 2017a). Logo, conclui-se que a anorexia é fator de risco para sarcopenia e caquexia. Em contraste com a sarcopenia, a caquexia é uma síndrome metabólica subjacente a algum tipo de doença e caracterizada por redução de massa muscular com ou sem perda de massa gorda (EVANS et al., 2008). O diagnóstico dessa síndrome é feito por, obrigatoriamente, perda de peso de pelo ou menos 5% no último ano (livre de edema), e pelo ou menos três dos seguintes critérios: diminuição da força muscular, fadiga, anorexia, baixo índice de massa livre de gordura, e bioquímica anormal (Proteína C reativa>5mg/L; Interleucina-6>4pg/ml; Hemoglobina<12g/dl; albumina sérica<3,2 g/dl) (EVANS et al., 2008). As doenças mais diretamente associadas à caquexia são as neoplasias, nas quais há perda de peso rápido em três a seis meses, e a insuficiência renal, cardíaca e doença pulmonar obstrutiva crônica, nas quais a perda ocorre no período, usualmente, de doze meses (EVANS et al., 2008). De fato, quase 80% dos pacientes com neoplasias morrem no prazo de um ano do diagnóstico de caquexia (BOWEN; SCHULER; ADAMS, 2015). Destaca-se que a desnutrição melhora com quantidades adequadas de alimento, já a caquexia não (VON HAEHLING; ANKER, 2014). A caquexia contribui para morbimortalidade, piora na qualidade de vida e custos em saúde (VON HAEHLING; ANKER, 2014). Logo, a diferenciação entre essas síndromes e doenças é relevante, tendo em vista que as intervenções podem ser erroneamente programadas e as terapêuticas podem não ser eficazes, dependendo do estado de saúde e da condição clínica do idoso. 23 1.5 TRATAMENTO DA SARCOPENIA Quanto ao tratamento, ainda não há intervenções terapêuticas bem estabelecidas para tratar com sucesso (BOWEN; SCHULER; ADAMS, 2015). De forma geral, as intervenções para o manejo da sarcopenia tem nível de evidência baixo e recomendação fraca (ARAI et al., 2018). Exercícios de resistência em combinação com uma intervenção nutricional parece atenuar a sarcopenia (MARTONE et al., 2015). O treinamento de resistência leve, por exemplo, induz a pequenas alterações na massa muscular esquelética (SAKUMA; AOI; YAMAGUCHI, 2015), o que pode fazer diferença naqueles indivíduos com limitações físicas importantes e comorbidades. Já, o treinamento de força induz hipertrofia acentuada dos músculos em atividade (SAKUMA; AOI; YAMAGUCHI, 2015). A dieta é um fator que pode ser modificável para retardar o início da sarcopenia (CHAN; LEUNG; WOO, 2016), por isso alcançar melhorias nutricionais em idosos que estão em risco, pode prevenir ou retardar as perdas relacionadas à idade, à massa e à função muscular; como também, serem estratégias potenciais de tratamento para pacientes que já são sarcopênicos (DENISON et al., 2015). Uma metanálise publicada, recentemente, confirmou o caráter protetor da atividade física (OR: 0,45; IC95%: 0,37-0,55) e o seu poder preventivo contra a sarcopenia (STEFFL et al., 2017). Outra pesquisa de revisão concluiu que o treinamento físico exerce maior influência na manutenção da força muscular do que da massa e do desempenho físico (DENISON et al., 2015). Ademais, o treinamento aeróbio pode aumentar a sinalização de PGC-1α (Peroxisome proliferator-activated receptor gamma coactivator 1-alpha) (MARTONE et al., 2015) que é uma enzima envolvida no metabolismo biogênico da mitocôndria e contribuir para melhoria da resistência muscular, remodelação mitocondrial, treinamento de resistência, manutenção do equilíbrio e coordenação motora (GILL et al., 2018). Na sarcopenia primária, estratégias com exercícios e dietas podem ser eficazes para aumentar a massa, a força muscular e a velocidade de marcha (ARAI et al., 2018). Na sarcopenia secundária, o exercício é eficaz em pacientes com câncer de mama, próstata e com doença renal crônica; a suplementação de aminoácidos é importante para pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica; o exercício mais a suplementação de testosterona 24 resultam em melhores funções físicas nos pacientes com insuficiência cardíaca crônica; e a testosterona pode induzir o aumento da massa muscular esquelética na osteoporose (ARAI et al., 2018). Evidencia-se que alguns trabalhos apontam para reposição de hormônios e proteínas como alternativas benéficas no tratamento da sarcopenia. As pesquisas retratam que a reposiçãode miostatina, por exemplo, é um alvo terapêutico promissor em casos de comprometimento da saúde muscular, incluindo sarcopenia relacionada à idade, caquexia associada à doença, miopatias congênitas, distrofias musculares, atrofia por desuso e traumas (TAY et al., 2015). Outras, realizadas com animais, concluem que a introdução de osteocalcina pode favorecer a manutenção da massa muscular, porém não afeta a força muscular (MERA et al., 2016). Dessa forma, ressalta-se que é de suma importância a realização de estudos clínicos que verifiquem o efeito da intervenção nutricional combinada ao exercício para melhoria da força muscular e do desempenho físico em idosos (CRUZ-JENTOFT et al., 2014). 1.6 QUEDAS ENTRE IDOSOS O elevado índice de quedas é responsável por malefícios à saúde e à qualidade de vida do idoso, e resulta em número aumentado de internações e morte nessa população. Esse desfecho tem causa multifatorial e uma série de fatores associados que compõe uma ampla e complexa cadeia causal. As quedas podem ter causas intrínsecas e extrínsecas. As intrínsecas são inerentes às mudanças biopsicológicas do sujeito (SMITH et al., 2017), associadas à lentidão dos movimentos e dos reflexos posturais e às inúmeras comorbidades (PORTO GAUTERIO et al., 2015); e as extrínsecas resultam da interação com o meio ambiente (SMITH et al., 2017), como condições de moradia, iluminação, qualidade do piso, dos transportes públicos, entre outros (PORTO GAUTERIO et al., 2015). A prevalência de quedas varia de 23,3% a 52% (ROLLAND et al., 2017; FRISOLI JR. et al., 2018; POTHIRAJ et al., 2019; BISCHOFF-FERRARI et al., 2015) na literatura nacional e internacional. É maior entre idosos com idade avançada (POTHIRAJ et al., 2019), residentes de instituições de longa permanência (ZHANG et al., 2019) e em 25 mulheres (BISCHOFF-FERRARI et al., 2015). Dos idosos que caem constantemente, é comum a expressão do medo de cair, de redução das atividades funcionais e de problemas com a prática das atividades de vida diária (POTHIRAJ et al., 2019). A probabilidade da pessoa idosa cair aumenta quando estão presentes múltiplas comorbidades e outras afecções agudas que comprometem seu quadro clínico. De fato, o número incidente de quedas é maior entre aqueles idosos com sarcopenia e fragilidade (MORI; TOKUDA, 2019), podendo gerar consequências irreversíveis. Uma delas é a dependência que gera desafios para o idoso e a família que, muitas vezes, necessitam de uma mudança brusca de ambiente e sofrem com os aspectos que envolvem as questões materiais, emocionais e de conhecimento (PORTO GAUTERIO et al., 2015). Um relatório emitido com dados originados dos bancos de dados dos Estados Unidos, constatou que, em 2012, o custo total de quedas não fatais foi de 30,3 bilhões de dólares, e as hospitalizações representaram 57% dos custos totais, o que equivale a 17,2 bilhões de dólares (BURNS; STEVENS; LEE, 2016). Já em 2015, o custo total de uma queda fatal foi de, aproximadamente, 637,2 milhões, e o tratamento de uma queda não fatal foi de 31,3 bilhões de dólares (BURNS; STEVENS; LEE, 2016). Dessa forma, considera-se quedas um problema de saúde pública que responde por elevados custos em saúde. Acredita-se que a implementação de intervenções baseadas em evidências para a prevenção de quedas é essencial para diminuir a incidência e os custos onerosos associados a esses eventos (BURNS; STEVENS; LEE, 2016). Logo, nesse estudo, o desfecho quedas tem participação fundamental na explicação do surgimento de inúmeros outros fenômenos, se comportando como causa negativa e desencadeadora; assim como, aparece como consequência de uma situação clínica, na qual o idoso já está vulnerável e sujeito a quedas. 1.7 JUSTIFICATIVA O interesse em realizar essa pesquisa justifica-se pelo seu caráter prospectivo e pela falta de estudos sobre sarcopenia com esse delineamento no Nordeste e no Brasil. Portanto, essa investigação se torna inovadora e pode contribuir para o acompanhamento, especialmente dos idosos que se tornaram sarcopênicos e aqueles em risco. https://www-ncbi-nlm-nih-gov.ez76.periodicos.capes.gov.br/pubmed/?term=Burns%20ER%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27620939 https://www-ncbi-nlm-nih-gov.ez76.periodicos.capes.gov.br/pubmed/?term=Stevens%20JA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27620939 https://www-ncbi-nlm-nih-gov.ez76.periodicos.capes.gov.br/pubmed/?term=Lee%20R%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27620939 https://www-ncbi-nlm-nih-gov.ez76.periodicos.capes.gov.br/pubmed/?term=Burns%20ER%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27620939 https://www-ncbi-nlm-nih-gov.ez76.periodicos.capes.gov.br/pubmed/?term=Stevens%20JA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27620939 https://www-ncbi-nlm-nih-gov.ez76.periodicos.capes.gov.br/pubmed/?term=Lee%20R%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27620939 https://www-ncbi-nlm-nih-gov.ez76.periodicos.capes.gov.br/pubmed/?term=Burns%20ER%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27620939 https://www-ncbi-nlm-nih-gov.ez76.periodicos.capes.gov.br/pubmed/?term=Stevens%20JA%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27620939 https://www-ncbi-nlm-nih-gov.ez76.periodicos.capes.gov.br/pubmed/?term=Lee%20R%5BAuthor%5D&cauthor=true&cauthor_uid=27620939 26 Nesse contexto, entende-se a relevância de se estudar esse assunto que exerce forte influência na vida da população geriátrica, e contribui para números elevados e crescentes índices de morbimortalidade e para piora da qualidade de vida. Esse tema deve ser abordado de forma mais intensa pelos estudiosos da área da geriatria e gerontologia, pela sociedade, pelos próprios idosos e pelas instituições formadoras de opinião. A difusão desse conhecimento poderá contribuir para medidas mais enérgicas de prevenção e tratamento da sarcopenia. Logo, a pergunta-problema dessa pesquisa é: Qual a prevalência e a incidência de sarcopenia provável, sarcopenia e quedas numa amostra de idosos atendidos em uma clínica escola? A hipótese de pesquisa é: são elevadas as taxas de prevalência e incidência de sarcopenia provável, sarcopenia e quedas entre idosos acompanhados a nível ambulatorial. 27 2 OBJETIVOS Objetivo geral • Estimar a prevalência, a incidência e os fatores associados à provável sarcopenia e sarcopenia em uma amostra de idosos atendidos em uma clínica escola. • Estimar a prevalência, a incidência e os fatores associados a quedas em uma amostra de idosos atendidos em uma clínica escola. Objetivos específicos • Numa amostra transversal, estudar a relação entre algumas variáveis independentes e a ✓ presença de Sarcopenia; ✓ frequência de queda; • Numa amostra prospectiva estudar a relação entre algumas variáveis independentes e a ✓ incidência de Sarcopenia; ✓ incidência de Quedas. 28 3 MÉTODOS 3.1 TIPO DE ESTUDO Trata-se de um estudo longitudinal prospectivo. Destaca-se que o estudo longitudinal/coorte tem a intenção de descrever a incidência de certos desfechos ao longo do tempo e analisar a associação entre preditores e fatores de risco (CUMMINGS; NEWMAN; HULEY, 2008). No estudo de coorte prospectivo, são observadas modificações nos sujeitos ao longo do tempo por meio de medições periódicas das variáveis e dos desfechos de interesse (CUMMINGS; NEWMAN; HULEY, 2008). A partir da pesquisa retrospectiva é possível fazer relações com o presente e comparações sobre as mudanças ocorridas e as taxas de sobrevivência, indicando a influência das variáveis contidas no estudo. 3.2 LOCAL E PERÍODO O estudo foi realizado com pacientes idosos (> 60 anos) atendidos em um ambulatório de uma instituição de ensino superior na cidade de Fortaleza, Ceará. Esse ambulatório realiza atendimentos gratuitos de medicina, enfermagem e psicologia, de forma integrada, humanizada e de qualidade para o cuidado, ensino e pesquisa junto a comunidadede Fortaleza e municípios adjacentes. A assistência inclui consulta de enfermagem, atendimento psicológico e psicopedagógico e consultas médicas em diferentes áreas, como psiquiatria, reumatologia, geriatria, cardiologia, dermatologia, pneumologia, endocrinologia, entre outras. O local ainda desenvolve o Programa Serviço de Atenção Especializada (SAE) em IST/AIDS, em parceria com o Sistema Único de Saúde. O período designado foi de agosto de 2016 a novembro de 2018. Porém, esse estudo não se encerrou e continuará até 2022, quando necessitará de nova aprovação pelo Comitê de Ética. Esse tempo de coleta se justifica tendo em vista a quantidade restrita de pesquisas de cunho prospectivo sobre sarcopenia no mundo, sobretudo, no Brasil. O assunto sarcopenia é bastante atual e, por isso, necessita de mais evidências para que possa ser melhor abordado na prática clínica, seja com intervenções medicamentosas ou não. 29 Portanto, faz-se necessário entender o desenvolvimento e a evolução do desfecho ao longo do tempo, a fim de auxiliar no diagnóstico precoce e para intervenções eficazes. Ressalta-se que, no Ceará, ainda não há estudos de prevalência e incidência sobre sarcopenia, o que torna imprescindível sua avaliação em qualquer contexto da prática clínica. 3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA A população desse estudo foi formada por todos os idosos atendidos na clínica escola que até novembro de 2018 somavam 998 idosos residentes em Fortaleza ou nos municípios adjacentes. De maneira geral, os idosos acompanhados na clínica escola possuem diferentes níveis de dependência e são atendidos por pelo ou menos uma especialidade médica. A amostra, foi selecionada semanalmente, de forma não aleatória, e se constituiu de 129 idosos, os quais foram selecionados, ao longo da coorte, de forma dinâmica. Quando o idoso tinha dependência grave ou, necessitava, de supervisão direta do cuidador ou do ente que o acompanhava não era convocado para essa pesquisa. A escolha dos sujeitos do estudo visou obter uma amostra significativa da população geriátrica atendida na Clínica Escola de Saúde, visando também uma maior representatividade dos dados analisados (DIZ et al., 2015). Os critérios de inclusão para determinar a amostra foram: 1) ter idade igual ou maior de 60 anos, conforme preconiza o Estatuto do Idoso como pessoa idosa; 2) ser atendido por qualquer especialidade médica na Clínica Escola; 3) ser capaz de entender as instruções. Os critérios de exclusão foram: idoso com déficit cognitivo sugestivo de demências degenerativas, portador de Parkinson ou Alzheimer avançado, acamado, que sofreu sequelas de Acidente Vascular Cerebral com perda de força e afasia, que possui déficits visuais e auditivos que prejudicam a comunicação, com amputações, não aptos a deambular sem ajuda de órtese ou de outra pessoa. Para o estabelecimento desses critérios, a metodologia do estudo FIBRA, no Brasil, foi consultada (FATTORI et al., 2012). Como já dito, o período completo do estudo foi de agosto de 2016 a novembro de 2018. Logo, todos os idosos que foram entrevistados até o mês de julho de 2018 (98 idosos) foram convidados por ligação telefônica para uma reavaliação entre os meses de agosto a 30 novembro de 2018, e fizeram parte do estudo prospectivo. Nessa segunda avaliação, todos os instrumentos foram aplicados novamente. Destaca-se que mais idosos foram entrando na coorte para fazerem parte da fase de estudo transversal. Portanto, entre agosto e novembro de 2018, foram selecionados mais 31 idosos que não foram reavaliados, mas compuseram o estudo transversal. A figura 3 explica mais claramente a descrição da amostra do estudo, de acordo com o período de coleta de dados. Resumidamente: ✓ Total de idosos entrevistados a partir de uma única avaliação: 129 ✓ Total de idosos entrevistados até julho de 2018: 98 ✓ Total de idosos que compareceram à segunda avaliação: 66 ✓ Total de recusas: 14 ✓ Total de óbitos: 2 ✓ Total de idosos que não compareceram à segunda avaliação: 16 Dos 16 idosos, os principais motivos de não comparecerem à entrevista foi por motivo de doença, por dificuldades de deslocamento para o ambulatório, por falta de transporte ou por carência de recursos financeiros. Dessa forma, serão remarcadas novas reavaliações na clínica escola, futuramente. 31 Figura 3- Descrição da amostra do estudo Fonte: Eladorado pela autora (2019). 3.4 INSTRUMENTOS E VARIÁVEIS DE COLETA A coleta ocorreu em consultório, a fim de proporcionar um ambiente calmo, longe de barulho ou de outros ruídos que incomodem a intimidade e tranquilidade dos idosos; foi privilegiada a privacidade durante o diálogo e foram considerados todos os preceitos do relacionamento terapêutico: diálogo atencioso, escuta ativa, tolerância da espera e do tempo para falar, empatia, compreensão; bem como, foram realizadas intervenções na conversa, quando necessárias, para evitar repetições ou prolongamento excessivo do diálogo. Foram explanados os objetivos, riscos e benefícios da pesquisa antes de iniciar a aplicação dos instrumentos. A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora e por acadêmicos de medicina treinados para realizar as medições e classificar a sarcopenia. A média de tempo para coleta individual de todos os dados foi de quarenta minutos a uma hora. No início da entrevista, foi aplicado um questionário socioeconômico e de saúde semiestruturado, com perguntas sobre sexo, idade, escolaridade, tempo de diagnóstico da doença, medicamentos em uso, realização de atividade física (tipo e intensidade), variação de peso e altura nos últimos seis meses, etc (APÊNDICE A). 32 Além disso, foram aplicados outros instrumentos para estabelecimento da relação com sarcopenia e quedas a saber: • Questionário semiestruturado de variáveis sociodemográficas, de saúde e de hábitos de vida, elaborado pelos pesquisadores (APÊNDICE A); • Autoavaliação da saúde oral (índice GOHAI) (ATCHISON; DOLAN, 1990) (ANEXO E): que se caracteriza por 12 perguntas referentes à função física (mastigação, fala e deglutição); psicossocial (preocupação com a saúde oral, satisfação ou insatisfação com a aparência, autoconsciência sobre a saúde oral e negação do contato social); dor ou desconforto (medicação para aliviar a dor). Os itens variam de sempre a nunca. A sua versão em português foi traduzida em 2013, com consistência interna de 0,77 (CARVALHO et al., 2013). A pontuação maior ou igual a 57 pontos classifica-se como alta percepção da saúde oral; de 56 a 51 pontos, moderada percepção; e menor ou igual a 50 pontos, baixa percepção (ATCHISON; DOLAN, 1990); • Questionário de sintomas na doença do refluxo gastroesofágico (QS-DRGE) (VELANOVICH et al., 1996) (ANEXO F): composto por dez perguntas, que investiga sintomas como tosse, regurgitação e pirose. A pontuação varia entre zero (melhor resposta) a cinquenta (pior resposta) pontos. É de fácil aplicação e compreensão, e possui excelente reprodutibilidade na língua portuguesa (FORNARI et al., 2004); • Questionário de Porto Alegre de Sintomas Dispépticos (SANDER, 2003; SANDER et al., 2004) (ANEXO F): contém três domínios, a saber: dor, com três itens que somam 12 pontos; náuseas e vômitos, com quatro itens que somam 16 pontos; e distensão e saciedade, com quatro itens que somam 16 pontos. A escala de intensidade varia de ausente a muito forte; e as respostas são dadas com base o último mês. É um instrumento prático e simples de ser aplicado. Não possui ponto de corte específico (SANDER, 2003; SANDER et al., 2004) (ANEXO F); • Critérios de ROMA III para constipação funcional (DROSSMAN, 2016) (ANEXO G): é positivo quando incluir dois ou mais dos seguintes sintomas em, pelo ou menos, 25% das evacuações: esforço evacuatório; fezes grumosas ou duras; sensação de evacuação incompleta; sensação de obstrução/bloqueio anorretal dasfezes; manobras manuais para facilitar; e menos de três evacuações por semana (DROSSMAN, 2016). Nesse estudo, quando o indivíduo referiu apresentar dois ou mais sintomas “algumas vezes”, “frequentemente”, “a maior parte das vezes” ou “sempre”, considerou-se diagnóstico de constipação funcional; 33 • Índice SOF (Study of Osteoporotic Fracture Criteria for Frailty) (ENSRUD et al., 2007) (ANEXO H): contém três perguntas acerca da perda de peso, intencional ou não, de pelo ou menos 5% num período de dois anos; da incapacidade de levantar da cadeira cinco vezes seguidas sem ajuda das mãos; e resposta “não” à pergunta “você se sente cheio de energia?”. Se o sujeito não apresentar nenhum critério, classifica-se como não frágil; se apresentar um critério, é pré-frágil; e se dois ou três, é frágil (ENSRUD et al., 2007). Destaca-se que a escolha dos instrumentos que envolvem sinais e sintomas do trato gastrointestinal, refere-se a busca por relação com a sarcopenia, entendendo que podem corroborar para o aparecimento da doença, ou a sarcopenia pode ser fator de risco para complicações gastrintestinais. Esses instrumentos não são específicos para situações clínicas oncológicas, porém a literatura reforça que pacientes com câncer gastroesofágico estão mais sujeitos à desnutrição e, portanto, ao maior risco de sarcopenia e fragilidade (WAGNER et al., 2016). Esses fatores justificam a triagem de sintomas do trato gastrintestinal e sua associação com sarcopenia. Para avaliação da sarcopenia, utilizou-se a fundamentação do último consenso europeu publicado, eletronicamente em setembro de 2018, que define: 1) provável sarcopenia- perda de força muscular; 2) sarcopenia- perda de força e massa muscular; 3) sarcopenia grave- perda de força e massa muscular e baixo desempenho físico (CRUZ-JENTOFT et al., 2019). A força muscular foi aferida pelo teste de preensão palmar por meio de um dinamômetro manual SAEHAN, modelo SH 5001, registro ANVISA nº 80211579011. Essa medida foi obtida com o idoso sentado, com o cotovelo fletido a 90º sobre uma mesa de consultório. Após, foi solicitado que apertasse a alça do dinamômetro, por seis segundos, com a mão dominante e depois relaxasse. O comando de início e de parada foi dado em voz alta, e foram realizadas três medidas consecutivas, com intervalo de um minuto entre cada uma delas. A variável força muscular foi medida por meio da média das três avaliações em quilograma-força (Kgf). Foram considerados os pontos de corte do estudo do European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP), sendo <16kgf para mulheres e <27kgf para homens (CRUZ-JENTOFT et al., 2019; DODDS et al., 2014). A massa muscular foi avaliada por meio da circunferência da panturrilha direita e esquerda com fita métrica inelástica, com capacidade para 1,5 metros (m) e sensibilidade de 34 0,5 centímetros (cm). A circunferência foi aferida no maior volume da perna com o indivíduo sentado em uma cadeira. Para análise foi utilizada a média entre as medições das duas pernas. O ponto de corte considerado para avaliação da perda de massa muscular foi limitado com base na literatura em 33 cm para mulheres e 34 cm para homens (PAGOTTO et al., 2018). O desempenho físico foi medido pelo teste de caminhada em 4,6m. O percurso totaliza 8,6m, sendo dois metros de aceleração e dois metros de desaceleração, os quais não entram na cronometragem. Nos 4,6m, é cronometrado o tempo e calculada a velocidade de marcha cujo valor é considerado baixo quando ≤0,8m/s (VIANA et al., 2018; CRUZ- JENTOFT et al., 2010). Além disso, foi aplicado o teste Time up and go (TUG), com ponto de corte estabelecido de ≥20 seg para baixo desempenho (BISCHOFF et al., 2003). O teste de desempenho físico tem como vantagem a objetividade e a avaliação da dificuldade de deambular do idoso (MARTINEZ et al., 2014). O peso e a altura foram aferidos em balança antropométrica manual, devidamente testada e calibrada, com capacidade para 150 quilogramas (Kg) e precisão de 100 gramas (g). O IMC foi obtido a partir da divisão do peso corporal em Kg pela estatura elevada ao quadrado (Kg/m2). Os pontos de corte para a avaliação do IMC foram: baixo peso (IMC < 22 Kg/ m2); eutrófico ou adequado (IMC entre 22 e 27 Kg/ m2) e sobrepeso (IMC > 27 Kg/ m2) (BRASIL, 2006). 3.5 ORGANIZAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Os dados coletados referentes às características sociodemográficas dos idosos e aos outros questionários foram inseridos em planilha eletrônica do Microsoft Excel 2016 para procedimentos de análise descritiva, sendo utilizado o programa Stata versão 17.0. Quando necessário, fez-se uso dos prontuários eletrônicos. As observações feitas neste trabalho foram divididas em dois momentos: um estudo transversal que incluiu todos os idosos examinados na primeira avaliação (129 idosos); e um estudo prospectivo que incluiu apenas os idosos que foram examinados na primeira e na segunda avaliação (66 idosos). As variáveis independentes foram: Sexo, Idade, Índice de Massa Corporal, Aposentado, Escolaridade (baixa- analfabeto e ensino fundamental incompleto), Residência em Fortaleza, Morar com Filhos, Morar com Cônjuge, Ex-etilista, Etilista, Ex-tabagista, 35 Tabagista, Atividade Física, Caminhada, Comorbidades (hipertensão arterial, diabetes mellitus, hipertireoidismo, artrose, osteoartrite, osteoporose), Número de Medicamentos, Número de Doenças, Fragilidade e Sarcopenia. As variáveis dependentes ou desfechos foram: Sarcopenia e Número de Quedas. Nas tabelas, as categorias provável sarcopenia e sarcopenia (seja ela grave ou não) foram agrupadas em uma só. Isso se justifica porque a perda de força como variável isolada já indica início de intervenções e acompanhamento em saúde. As quedas foram avaliadas pelas seguintes perguntas: Você caiu no último ano, ou entre a sua primeira e segunda avaliação? Quantas vezes? Quais foram as consequências? As variáveis independentes de contagem Número de Medicamentos e Número de Doenças foram categorizadas da forma que melhor discriminassem o desfecho Sarcopenia. No estudo prospectivo, foram considerados portadores de Provável Sarcopenia e Sarcopenia, os idosos que apresentaram Provável Sarcopenia e Sarcopenia na primeira e na segunda avaliação, assim como, os idosos que não apresentaram na primeira avaliação, mas eram portadores das mesmas na segunda avaliação. E, foram considerados não portadores de Provável Sarcopenia e Sarcopenia, os que não apresentaram esse desfecho nem na primeira nem na segunda avaliação. O Tempo de Observação foi o tempo decorrido entre a primeira e a segunda avaliação. No estudo prospectivo, a relação entre variáveis independentes e Número de Quedas foi examinada através de Regressão de Poisson levando em conta o Tempo de Observação. Nesta análise, Densidade de Incidência (DI) de Quedas foi estimada dividindo-se o Número de Quedas pelo Tempo de Observação. Nos dois estudos, a relação entre variáveis independentes e Sarcopenia foi estudada através de regressão logística. Adicionalmente, no estudo transversal, a relação entre variáveis independentes e Número de Quedas foi avaliada por Regressão de Poisson do Número de Quedas por cada uma das variáveis independentes. A relação entre Presença de Provável Sarcopenia e Sarcopenia, Número de Quedas e várias variáveis independentes foram estudadas através de regressão logística múltipla ou regressão de Poisson múltipla. Variáveis foram incluídas nas equações de regressão múltipla, de acordo com a magnitude do coeficiente de regressão numa sequência 36 do maior para o menor coeficiente. Equações de Regressão Múltipla foram comparadas através do Teste de Razão de Verossimilhança (TRV). Quando duas equações de regressão múltipla com números diferentes de variáveis apresentavam um TRV não significativo (Valor p≥0,05), foi então selecionada a equaçãomais simples, com menor número de variáveis. Mas, quando a equação mais complexa tinha uma variável que exercia um efeito confundidor relevante (uma alteração maior que 10% de um coeficiente de regressão), foi então selecionada a equação de regressão com o maior número de variáveis. 3.6 ASPECTOS ÉTICOS A pesquisa foi registrada na Plataforma Brasil e avaliada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unichristus, CAAE: 66527617.6.0000.5049, número do parecer: 2.757.675 (ANEXO I). Destaca-se que durante o procedimento de coleta de dados foi explicado para cada idoso, individualmente, os objetivos da pesquisa; e foi lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B). Somente, após a assinatura ou marca digital, quando analfabetos, foram entrevistados. Os TCLEs com a assinatura por digitais tiveram registro de uma testemunha, conforme a resolução 466/12. O TCLE foi assinado em duas vias. O estudo seguiu as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos, Resolução n° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Foram seguidos os preceitos básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça. 37 4 RESULTADOS Este tópico da tese inclui os resultados referentes à pesquisa com dados primários coletados em ambulatório e a uma pesquisa de revisão sistemática sobre os fatores de risco e proteção que envolvem a sarcopenia. A revisão sistemática será apresentada na parte de APÊNDICES (APÊNDICE E), tendo em vista a organização do corpo da tese. A revisão seguiu etapas rígidas para garantia da qualidade do estudo. Foi apresentada em formato de artigo, conferindo as tendências atuais de elaboração de teses em programas de pós-graduação. Os resultados primários desse trabalho serão apresentados em formato tradicional, dividindo-se a parte de resultados do estudo transversal e do estudo prospectivo. 38 4.1 RESULTADOS ESTUDO TRANSVERSAL Dos 129 idosos que participaram do estudo, a maioria era do sexo feminino (72,9%), com média de idade de 71,3 (DP:±7,95; mínimo: 60, máximo: 106), aposentados (79,8%), com baixa escolaridade (65,9%), moravam com o cônjuge (48,8%) e não praticavam atividade física (66,6%). A prevalência de provável sarcopenia e sarcopenia foi de 34,1%. Desses idosos, 75% era do sexo feminino, 56,8% possuía idade entre 60 a 74 anos, 88,6% era aposentado, 75% possuía baixa escolaridade, 63,6% morava com os filhos, e 68,2% não praticava atividade física. A prevalência de idosos somente com provável sarcopenia foi de 22,5%; com sarcopenia foi de 3,8%; e com sarcopenia grave foi de 7,8%. A análise de regressão logística mostrou que a idade (como variável contínua), não morar com cônjuge e ser ex tabagista representou risco de 1,08 (p=0,002), 2,51 (p=0,017), e 2,64 (p=0,015) para sarcopenia, respectivamente (Tabela 2). Vale ressaltar que idosos com idade entre 75 a 106 anos apresentaram risco aumentado para sarcopenia (OR: 2,05), mesmo não obtendo resultado estatisticamente significante (p=0,066). Da mesma forma, ser aposentado (OR: 2,56) representou maior risco, mas não obteve p significativo (p=0,080). 39 Tabela 2- Estudo Transversal da relação entre variáveis sociodemográficas, de estilo de vida e Provável Sarcopenia e Sarcopenia, numa amostra (n=129) de idosos atendidos em uma clínica escola da cidade de Fortaleza Variável Total¥ Provável sarcopenia e Sarcopenia Regressão Logística n % OR Erro Padrão I.C. 95% p Sexo: -Feminino -Masculino 94 35 33 11 35,1 31,4 1,18 1 0,499 - 0,514-2,71 - 0,695 Idade: -60 a 74 anos -75 a 106 anos 87 42 25 19 28,1 45,2 1 2,05 - 0,799 - 0,953-4,40 0,066 Idade€ 129 44 34,1 1,08 0,028 1,03-1,14 0,002 Aposentado: -Sim -Não 103 26 39 5 37,8 19,2 2,56 1 1,37 - 0,893-7,34 - 0,080 Escolaridade: -Menor -Maior 85 44 33 11 38,8 25 1,90 1 0,786 - 0,847-4,27 - 0,119 Mora em Fortaleza: -Sim -Não 95 34 33 11 34,7 32,3 1,11 1 0,473 - 0,483-2,56 - 0,801 Mora com Filhos: -Sim -Não 73 56 28 16 38,4 28,6 1,55 1 0,593 - 0,736-3,28 - 0,247 Mora com Cônjuge: -Sim -Não 63 66 15 29 23,8 43,9 1 2,51 - 0,968 - 1,17-5,34 0,017 Etilista: -Sim -Não 10 119 2 42 20 35,3 1 2,18 - 1,77 - 0,443-10,7 0,338 Ex-Etilista: -Sim -Não 20 109 7 37 35 33,9 1,05 1 0,535 - 0,385-2,85 - 0,927 Tabagista: -Sim -Não 11 118 3 41 27,3 34,7 1 1,42 - 0,999 - 0,357-5,64 0,619 Ex-Tabagista: -Sim -Não 38 91 19 25 50 27,5 2,64 1 1,06 - 1,2-5,78 - 0,015 Atividade Física: -Pratica -Não Pratica 43 86 14 30 32,6 34,8 1 1,11 - 0,439 - 0,51-2,41 0,793 Caminhada: -Pratica -Não Pratica 33 96 12 32 36,4 33,3 1,14 1 0,482 - 0,5-2,61 - 0,752 Legenda: ¥Total de Idosos; €Como Variável Contínua Fonte: Elaborada pela autora (2019). Com relação ao padrão de saúde dos idosos com o desfecho entrevistados, 72,7% dos idosos eram hipertensos, 36,4% eram diabéticos, 56,8% tinham de três a sete doenças, 52,3% utilizavam de cinco a treze medicamentos, 52,3% tinham IMC ≥27kg/m2. 40 Na amostra transversal, dos 129 pacientes observados, 96,12% (124 idosos) referiram pelo menos uma doença. Por outro lado, a média geral do número de doenças foi 2,79 (DP: ±1,58); e, a média entre os que referiram pelo menos uma doença foi 2,91 (DP: ±1,51). Assim como, 124 (96,12%) reportaram o uso de pelo menos um medicamento. A média de medicamentos usados foi de 4,65 (DP: ±3,05); e, a média entre os que referiram o uso de pelo menos um medicamento foi 4,84 (DP: ±2,96). Vale destacar que houve um incremento do risco (OR: 2,1) para sarcopenia quando o idoso era usuário de polifarmácia (cinco a treze medicamentos/dia), porém esse aumento não foi significativo (Tabela 3). Ainda, 33,3% dos idosos eram não frágeis, 40,3% pré-frágeis e 26,4% frágeis. Neste caso, a maioria dos prováveis sarcopênicos e sarcopênicos eram pré-frágeis ou frágeis (72,7%). No que concerne o tempo para realização do teste Time Up and Go, 53,3% foram de idosos prováveis sarcopênicos ou sarcopênicos que completaram o teste no tempo ≥ 20 segundos. A respeito da percepção dos idosos sobre sua saúde oral (GOHAI), 75,9% consideraram alta, 12,4%, moderada e 11,6% baixa percepção. Dos idosos prováveis sarcopênicos ou sarcopênicos, 81,8% tiveram alta e 18% tiveram moderada a baixa percepção (Tabela 3). Quanto a presença de sintomas relacionados à Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), 56,6% não apresentou sequer um sintoma; 26,4% apresentou pontuação de um a oito pontos na escala; e 17,1% de nove a 51 pontos. Além disso, 61,4% dos idosos prováveis sarcopênicos ou sarcopênicos não apresentaram sintomas; e 38,6% apresentou de um a 51 pontos na escala de DRGE (Tabela 3). Em relação a escala de sintomas dispépticos, os idosos entrevistados obtiveram média de 5,54 pontos (DP: ±6,79, mínimo: 0, máximo: 32). Entre idosos prováveis sarcopênicos ou sarcopênicos, 36,4% não tiveram sintomas; 63,6% referiram de um a 32 pontos na escala (Tabela 3). Nessa pesquisa, 45,74% do total de idosos e 40,9% dos idosos prováveis sarcopênicos ou sarcopênicos apresentaram constipação funcional (Tabela 3). Nenhuma dessas ferramentas mostrou associação com sarcopenia no estudo transversal (Tabela 3). 41 Tabela 3- Estudo Transversal da relação entre comorbidades,
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