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Ana Paula Rodrigues da Silva Docência em EaD: Formação Introdutória em Tutoria São Carlos, 2023. Docência em EaD: Formação Introdutória em Tutoria 1. Introdução A figura do tutor de Educação a Distância (EaD) tem se tornado cada vez mais presente no cenário educacional brasileiro, acompanhando a acelerada expansão desta modalidade de ensino nas últimas décadas. Embora ainda haja uma carência grande de regulamentação sobre a identidade profissional do tutor de EaD, já existe consenso na literatura sobre a importância da tutoria na proposta pedagógica de cursos a distância. No entanto, você sabe o que é tutoria? E o que faz um tutor de EaD? Que papel ele desempenha na relação com professores e estudantes? Quais competências deve desenvolver para realizar adequadamente esta função? Quais são boas práticas na tutoria? Este material abordará tais questões, na tentativa de contribuir para uma formação introdutória aos interessados em atuar na tutoria de cursos da modalidade EaD. Vamos lá? 2. Breve conceituação sobre tutoria A palavra “tutor” tem origem latina (tütor, tutõris) e relaciona-se às ideias de guarda, protetor. Dessa forma, “o tutor pode ser entendido como o indivíduo encarregado legalmente de tutelar ou acompanhar e proteger alguém” (MILL; CESÁRIO, 2018, p. 662). Analisando os significados do termo, Carneiro e Turchielo (2013, p. 37) afirmam que “A ideia de ‘guia’ parece ser a que tem mais força ao se definir a tarefa do tutor”. Historicamente, a figura do tutor aparece com a institucionalização do ensino superior nas universidades europeias, por volta do século XI. Segundo Lázaro (1997, p. 7), o tutor era o professor que exercia uma função de tutela educativa, incumbido de orientar o estudante em sua formação intelectual e moral e de assegurar o desenvolvimento de sua personalidade, com zelosa dedicação. Figura 1 - Professor e estudantes na universidade medieval. Imagem extraída da obra “Les Grandes Chroniques de France”. Fonte: https://flic.kr/p/xvpHAS https://flic.kr/p/xvpHAS Seguindo essa tradição, Arredondo, González e González (2012, p. 28) afirmam que O conceito de tutoria circunscreve-se aos modelos de educação personalizada como resposta à necessidade de apoiar os processos educacionais, não somente como atividades do tipo didático-convencional, mas também abordando o conjunto da pessoa, do indivíduo, em suas diversas facetas (grifo dos autores). Os autores compreendem, assim, a tutoria como uma forma de acompanhamento educacional que contribui para a formação integral dos estudantes, orienta seu processo de tomada de decisões nos diversos itinerários de formação, favorece a relação e a interação entre os atores da comunidade educacional, propicia a autonomia e a autorrealização (ARREDONDO; GONZÁLEZ; GONZÁLEZ, 2012, p. 30). Preti (2003, p. 3) considera que esse modelo bem-sucedido de apoio à aprendizagem dos estudantes existente no ensino presencial teria influenciado, já no século XX, a configuração do sistema de tutoria implementado pela primeira universidade a distância, a Open University, servindo de modelo para as grandes universidades a distância que surgiram depois dela em todo o mundo. Buscando uma definição sobre o termo “tutoria na educação a distância”, Mill (2018, p. 656) afirma que, No âmbito da EaD, a ideia de guia prevalece nas definições de tutor, aquele que organiza e facilita a participação dos estudantes, usando um conjunto de estratégias pedagógicas preestabelecidas para uma aprendizagem enriquecedora. Assim, o tutor na EaD pode ser entendido como aquele que apoia a construção do conhecimento e dos processos reflexivos de estudantes. A tutoria é, assim, vista como a atividade do tutor, podendo ser uma tutoria virtual ou presencial. Enquanto a tutoria virtual, ou a distância, é realizada por meio de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), a tutoria presencial é realizada in loco, no polo de apoio presencial1. Apesar dos sistemas de tutoria de cada contexto apresentarem especificidades, atribuindo ênfases diferentes ao papel do tutor, as pesquisas sobre o tema apontam para o importante papel que a tutoria desempenha no sucesso dos cursos da modalidade EaD e na 1 “O polo de apoio presencial refere-se à unidade acadêmico-operacional instalada para o desenvolvimento descentralizado de atividades pedagógicas e administrativas, concernentes a cursos ofertados na modalidade a distância” (VELOSO; MILL, 2018, p. 513). redução das taxas de evasão dos estudantes (PRETI, 2003). Entenderemos melhor porque isso acontece na próxima seção, ao discutirmos as atribuições do tutor de EaD e seu papel docente. 3. Atribuições da tutoria de EaD na polidocência Podemos afirmar que já existe consenso na literatura e nas regulamentações nacionais sobre o papel eminentemente docente desempenhado pelo tutor de Educação a Distância. Os “Referenciais de Qualidade para a Educação Superior a Distância”, do Ministério da Educação, consideram os tutores como membros da equipe multidisciplinar e participantes ativos da prática pedagógica, cujas atividades “devem contribuir para o desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem e para o acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico” (BRASIL, 2007, p. 21). Já o Conselho Nacional de Educação, ao estabelecer as diretrizes para a oferta de cursos de educação superior na modalidade EaD (BRASIL, 2016), considera como tutor o profissional de nível superior “que atue na área de conhecimento de sua formação, como suporte às atividades dos docentes e mediação pedagógica, junto a estudantes” (Art. 8º, § 2º). O tutor assume, dessa forma, funções pedagógicas importantes, devendo trabalhar de forma articulada ao professor de EaD. Observe que tutor e professor desempenham aqui atribuições didáticas diferentes, num contexto em que o papel do docente de EaD sofreu, devido às peculiaridades da modalidade, um importante processo de fragmentação. Conforme explica Mill (2010, p. 25), Na EaD, normalmente cabem a diferentes profissionais as tarefas de produzir o conteúdo do curso, de organizar didaticamente o material, de converter o material para a linguagem da mídia (impressa, audiovisual, virtual, etc.), de coordenar todas as atividades de um curso e manejar/gerenciar a turma, entre outras. [...] Por isso, considera-se difícil, senão impossível, um único profissional dar conta de todas as atividades envolvidas – mesmo quando detém os saberes de todos os membros da equipe. A essa unidade, formada pelo trabalho de uma equipe de profissionais da EaD, denomina-se de polidocência (grifos do autor). Em geral, na equipe polidocente o professor de EaD é responsável pelo planejamento pedagógico da disciplina, realizando a seleção de conteúdos, a curadoria e produção de materiais didáticos, a definição das estratégias metodológicas e dos instrumentos de avaliação, o gerenciamento da oferta da disciplina. Já o tutor desempenha atividades relacionadas ao acompanhamento, orientação e avaliação dos estudantes, mediando os processos de aprendizagem. Mill (2018, p. 657) descreve as atividades do tutor da seguinte forma: O trabalho de tutoria é composto por atividades didático-pedagógicas circunscritas ao atendimento aos alunos: estudar os materiais do curso e estimular os estudantes em seus estudos, orientar na realização das atividades da disciplina, auxiliar os estudantes em suas dúvidas e dificuldades com o conteúdo ou com questões técnicas, desenvolver e empregar estratégias de estímulo à reflexão sobre os temas discutidos na disciplina, gerenciar o ambiente virtual de aprendizagem (AVA) da disciplina, dar feedback sobre as atividades dos alunos, promover e mediar interações do estudante com seus colegas e com os docentes, atender às demandas administrativasda instituição formadora que ocorrem no processo de formação. Pode-se observar que é ampla a gama de atividades esperadas do tutor de EaD. A partir de uma revisão da literatura, Carneiro e Turchielo (2013) propuseram a divisão das atribuições dos tutores em quatro categorias principais. São elas: Figura 2 - Atribuições da tutoria de EaD em categorias. Fonte: Elaborada pela autora, com base em Carneiro e Turchielo (2013). As atribuições predominantemente pedagógicas (tais como orientar o processo de aprendizagem dos estudantes, apoiá-los na realização das atividades, avaliar seu progresso etc.) demandam que os tutores dominem não apenas os conteúdos que estão sendo trabalhados, como também tenham formação pedagógica, isto é, conhecimentos de didática e sobre a forma como as pessoas aprendem, especialmente como aprendem a distância (CARNEIRO; TURCHIELO, 2013, p. 44). De forma complementar, na categoria comunicacional tem destaque a interlocução do tutor com seu grupo de estudantes, buscando promover a aprendizagem colaborativa. O envio de feedbacks formativos aos estudantes a partir das tarefas realizadas, visando potencializar sua aprendizagem e motivar os estudantes em seu percurso, também é um ponto crucial na atividade da tutoria. Mill et al. (2008, p. 115) destacam que “a comunicação entre tutor e alunos é a chave da EaD, pois deve ser clara e objetiva e ao mesmo tempo possibilitar aproximação, calor humano e compartilhamento". A categoria organizacional “dá ênfase ao papel do tutor como uma interface entre os alunos e a instituição” (CARNEIRO; TURCHIELO, 2013, p. 45). Dessa forma, para apoiar adequadamente os estudantes, o tutor precisa conhecer a forma de funcionamento da instituição, a equipe do curso e as atribuições de cada um, os canais de comunicação institucionais etc. Também é importante que o tutor consiga organizar adequadamente seu trabalho, por meio de múltiplas ferramentas, e que saiba orientar os estudantes para seu planejamento pessoal de estudos. O domínio das diversas tecnologias necessárias para a realização do curso na modalidade a distância, inclusive do ambiente virtual de aprendizagem, faz parte da categoria técnica e é essencial para o suporte adequado aos estudantes da EaD. 4. Competências relacionadas à tutoria na EaD Para o desempenho adequado de todas as atribuições indicadas na seção anterior, os profissionais da tutoria precisam desenvolver uma série de competências. Com base no perfil dos atores da EaD (professores, tutores e estudantes), Schneider, Silva e Behar (2013) realizaram um amplo mapeamento das competências necessárias para cada perfil. Nesse estudo, as autoras partem da compreensão de que "uma competência pressupõe a existência de elementos (Conhecimentos, Habilidades e Atitudes, ou CHA) que a compõem e que precisam ser mobilizados para atender a necessidade que emerge em determinada situação e contexto" (BEHAR et al., 2013, p. 25-26). No Quadro 1, apresentamos a lista das competências necessárias ao tutor de EaD, de acordo com as autoras. Uma descrição mais detalhada de cada competência, com indicação dos conhecimentos, habilidades e atitudes de cada uma, pode ser conferida no material “Competências relacionadas à tutoria na EaD”. Para saber mais sobre as competências da tutoria em EaD, consulte o objeto de aprendizagem CompEAD, desenvolvido pelo Núcleo de Tecnologia Digital aplicada à Educação da UFRGS - http://nuted.ufrgs.br/oa/compead/ https://cursos.poca.ufscar.br/mod/resource/view.php?id=5461 http://nuted.ufrgs.br/oa/compead/ Quadro 1 - Competências relacionadas à tutoria na EaD, segundo Schneider, Silva e Behar (2013). Competência Descrição FLUÊNCIA DIGITAL Está ligada à utilização da tecnologia de modo que o sujeito se sinta digitalmente ativo/participante dos avanços tecnológicos. A fluência possibilita não só o uso, mas também a criação e produção de conteúdos/materiais. AUTONOMIA Para Piaget, autonomia significa ser governado por si mesmo. É o oposto de heteronomia, que significa que uma pessoa é governada por outra. REFLEXÃO Está baseada na abstração para refletir e analisar criticamente situações, atividades e modos de agir. ORGANIZAÇÃO Relaciona-se com a ordenação, estruturação e sistematização de atividades, materiais e grupos. COMUNICAÇÃO Está fundamentada na clareza e na objetividade da expressão oral, gestual e escrita. ADMINISTRAÇÃO DO TEMPO É pautada no cumprimento da agenda, conciliar atividades de compromissos para a gestão das atividades, atingindo as prioridades, metas e objetivos. TRABALHO EM EQUIPE O trabalho em equipe contempla as relações intra e interpessoal, as quais permitem ao sujeito expressar e comunicar, de modo adequado, seus sentimentos, desejos, opiniões e expectativas. Além disso, evidencia condutas interpessoais, destreza para interagir com outras pessoas de forma socialmente aceitável e valorizada, podendo, assim, trazer benefícios aos participantes nos momentos de interação. Esses elementos podem, ainda, ser complementados sob a ótica afetiva, isso porque a complexidade das relações sociais também requer a capacidade de perceber e fazer distinções no humor, nas intenções, nas motivações e nos sentimentos de outras pessoas. MOTIVAÇÃO Estabelece as condições para manter a motivação entre pares e consigo mesmo, sendo um facilitador dos processos. Da mesma forma, ser capaz de acolher as dificuldades do outro, incentivando-o a permanecer e concluir uma atividade, sendo ativo e participativo. Ser capaz de lidar com as próprias dificuldades. PLANEJAMENTO Baseado no estabelecimento de prioridades, metas e objetivos. Em educação, consideram-se também as condições necessárias para criar situações e aplicar estratégias de aprendizagem. RELACIONAMENTO INTERPESSOAL É fundamentada na empatia, na mediação pedagógica, na facilitação nos processos de ensino e de aprendizagem, na cooperação, na transparência, no foco ao ser humano, além de adequado relacionamento com os parceiros. MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA Condições para incentivar e mobilizar as trocas entre os alunos, organizar grupos, orientar ações, problematizar posicionamentos e entendimentos sobre o conteúdo em questão, administrar conflitos, realizar negociações, tendo por objetivo aproximar os alunos do conteúdo de forma ativa e coletiva, visando a construção de conhecimentos. DAR E RECEBER FEEDBACK Leitura e compreensão da(s) ação(ões) ou da(s) mensagem(ns) emitida(s) por outro, dando retorno ao emissor de forma respeitosa e adequada ao contexto da ação ou mensagem, como também compreender e aceitar o retorno de outro sobre sua(s) ação(ões) ou mensagem(ns). No caso do contexto educacional, trata-se da leitura e compreensão do trabalho do aluno apresentado presencialmente ou a distância, de postagens de mensagens nas ferramentas de interação dos recursos digitais, entre outras possibilidades, dando retorno de forma acolhedora e respeitosa diante do processo de aprendizagem, bem como alunos, monitores/tutores e professores, recebendo o feedback de modo a compreender e a aceitar o retorno do outro sobre sua atuação. DIDÁTICA Revela-se na ação dos professores. Considera-se como a reflexão sistemática da prática pedagógica. Pressupõe a ação educativa em uma sociedade historicamente determinada; capacidade de seleção e aplicação de procedimentos, métodos, técnicas e recursos aos conteúdos, por meio da determinação de objetivos e finalidades pedagógicas. GESTÃO ACADÊMICA Refere-se ao planejamento, adequação, organização de várias etapas do processo de desenvolvimento do curso: a) pensar a transposição didática do projeto do curso, disciplina/módulo e estratégias pedagógicas, conforme o modelo didático; b) produção do material didático e organização do ambiente virtual de aprendizagem; c)desenvolvimento da disciplina/módulo, acompanhamento e avaliação do aluno; d) elaboração de relatórios e realização de registros acadêmicos. Paralelamente, envolve a parte logística como a realização de aulas presenciais e webconferências, prazos e envio de materiais aos polos de apoio presencial. Fonte: SCHNEIDER; SILVA; BEHAR, 2013. Em pesquisa realizada no contexto europeu, Langesee (2022) elencou nove competências necessárias ao tutor que atua em contextos de aprendizagem on-line. Além de definir as competências, estas foram organizadas numa escala de importância: “muito importante”, “importante” e “bom ter” (tradução livre). No Quadro 2 as competências são apresentadas, em ordem de importância. Quadro 2 - Competências necessárias para os e-tutores, adaptado de Langesee (2022). Grau de importância para o tutor Competência Definição Exemplos de atributos Exemplos de atividades Muito importante Competência comunicacional A competência comunicacional pode ser definida como a habilidade e vontade de um indivíduo de participar responsavelmente em uma transação de forma a maximizar o resultado do significado compartilhado. Habilidades de expressão oral e escrita, atitude acolhedora, reação a contribuições. Responder a perguntas relacionadas ao conteúdo, explicar tarefas, auxiliar no tratamento de conflitos. Muito importante Competência pedagógica Em geral, esta competência descreve o conhecimento da metodologia de ensino, psicologia pedagógica e conhecimentos pedagógicos básicos. Conhecimento sobre ensino on- line, educação a distância, didática básica e princípios pedagógicos. Responder a perguntas relacionadas com o conteúdo, apoiar a organização de atividades de aprendizagem e dar feedback sobre o comportamento de aprendizagem do indivíduo/grupo. Muito importante Competência social A competência social pode ser descrita como “eficácia na interação social”. É a capacidade de alcançar objetivos pessoais na interação social enquanto mantém simultaneamente relacionamentos positivos com os outros ao longo do tempo e em diversas situações. Humanização do ambiente de aprendizagem on-line, motivação e animação dos estudantes, intervenção adequada. Auxiliar em caso de problemas de compreensão/ambiguidades, dar feedback sobre o progresso do trabalho e resultados atuais, auxiliar no tratamento de conflitos. Importante Competência profissional A competência profissional pode ser descrita como o grau em que o indivíduo pode usar o conhecimento, as habilidades e o julgamento associados à profissão para atuar efetivamente no domínio de sua prática profissional. Conhecimento aprofundado da matéria e do conteúdo, racionalidade pedagógica, conhecimento sobre recursos adequados para ensino e aprendizagem on-line. Responder a perguntas relacionadas ao conteúdo, auxiliar em caso de problemas com compreensão/ambiguidades, apoiar o uso direcionado de diferentes ferramentas para comunicação e colaboração (funcionalidade, seleção, apoio a questões técnicas). Importante Competência tecnológica Competência tecnológica refere-se à capacidade de acessar a tecnologia; entender e abordar criticamente diferentes aspectos dos conteúdos e instituições tecnológicas; criar comunicação em uma variedade de contextos. Habilidades básicas de informática, uso de software específico, conhecimento sobre uma variedade de multimídias, vídeos, conferências de áudio, e habilidades de análise de dados. Apoiar a utilização orientada de diferentes ferramentas de comunicação e colaboração (funcionalidade, seleção, apoio a problemas técnicos), monitorar o cumprimento dos prazos das tarefas, dar suporte a avaliações com base em instrumento especial. Importante Competência organizacional A competência organizacional ou gerencial em um contexto educacional pode ser definida como o desejo e a vontade de gerenciar as atividades educacionais e cognitivas dos estudantes profissionalmente, assegurando a conquista de resultados pedagógicos pessoal e socialmente significativos. Capacidade de planejamento e organização estratégica, estabelecimento de diretrizes, habilidades de gerenciamento de projetos e mudanças. Dar dicas de literatura, materiais extras, técnicas de trabalho, métodos, apoiar a organização das atividades de aprendizagem, monitorar o cumprimento dos prazos das tarefas. Bom ter Competência individual Esta competência refere-se a traços profundamente pessoais. Por exemplo, um estilo de aprendizagem ou o caráter mental pode ser considerado uma competência individual. Entusiasmado, amigável, comprometido com um assunto. Dar dicas de literatura, materiais extras, técnicas de trabalho, métodos, cuidar dos problemas de aprendizagem de indivíduos/grupos, dar feedback sobre o progresso do trabalho e resultados atuais. Bom ter Competência intercultural A competência intercultural é a capacidade de se comunicar de forma eficaz e apropriada em situações interculturais com base nos conhecimentos, habilidades e atitudes interculturais do outro. Conhecimentos sobre gerenciamento eficiente de grupos diversos. Auxiliar no tratamento de conflitos. Bom ter Competência avaliativa Esta competência inclui o desenvolvimento, seleção e aplicação de métodos de coleta, análise e interpretação de dados sobre as características dos estudantes, como testes, entrevistas e observação. Monitorar o desempenho dos estudantes, corrigir, enviar notas. Apoiar a avaliação com base em um instrumento especial, dar feedback sobre o comportamento de aprendizagem do indivíduo/grupo. Fonte: LANGESEE, 2022 (tradução livre). 5. Boas práticas de tutoria na EaD Nesta seção, apresentamos resultados do artigo de Vlachopoulos e Makri (2019) que, a partir de uma revisão da literatura, discutem elementos de boas práticas de EaD no contexto do ensino superior. No artigo, os autores têm como foco estratégias para aprimorar a comunicação e interação em ambientes virtuais de aprendizagem, considerados aspectos cruciais para a qualidade desta modalidade de ensino. Para Vlachopoulos e Makri (2019, p. 616), “interações significativas entre tutor e estudantes devem ser uma prioridade para os tutores, de maneira a criar uma atmosfera tranquila para os estudantes e cultivar relacionamentos saudáveis” (tradução livre). Destacamos a seguir três práticas que, segundo os autores, visam melhorar essa interação: feedback oportuno e imediato, participação e condução das discussões, e incentivo e apoio contínuos. Feedback oportuno e imediato Vlachopoulos e Makri (2019) defendem que a chave para se estabelecerem interações significativas e de qualidade entre tutor e estudantes está no feedback oportuno e imediato do tutor. O feedback imediato em salas de aula on-line tem o potencial de reduzir a distância social e psicológica típicas da EaD2. Mensagens instantâneas também podem melhorar a qualidade das interações, tornando os tutores disponíveis para feedback imediato e permitindo que os alunos façam perguntas adicionais com facilidade. Resultados positivos têm sido alcançados quando os tutores dão respostas rápidas às dúvidas dos estudantes, realizam esforços para se aproximar deles, fazem perguntas sobre seu bem-estar e utilizam linguagem mais informal. Boas estratégias incluem acolher os estudantes, encorajar e envolver aqueles com baixa participação. É preciso destacar também que “o feedback fornecido pelos tutores deve se concentrar em melhorar o desempenho do estudante e em aumentar suas habilidades cognitivas, direcionando seus esforços de aprendizagem, oferecendo suporte contínuo e discutindo seu progresso” (VLACHOPOULOS; MAKRI, 2019, p. 616, tradução livre). Assim, o feedback pode ajudar os estudantes a identificarem lacunas no seu conhecimento e estimular novas estratégias de aprendizagem.2 Para mais informações sobre a teoria da distância transacional, consulte: http://www.abed.org.br/revistacientifica/Revista_PDF_Doc/2002_Teoria_Distancia_Transacional_Micha el_Moore.pdf. Para saber mais sobre este assunto, acesse o curso: “Feedback formativo: aspectos teóricos e boas práticas”. http://www.abed.org.br/revistacientifica/Revista_PDF_Doc/2002_Teoria_Distancia_Transacional_Michael_Moore.pdf http://www.abed.org.br/revistacientifica/Revista_PDF_Doc/2002_Teoria_Distancia_Transacional_Michael_Moore.pdf https://cursos.poca.ufscar.br/course/view.php?id=85 https://cursos.poca.ufscar.br/course/view.php?id=85 https://cursos.poca.ufscar.br/course/view.php?id=85 Participação e condução das discussões Considerando que a EaD pode levar os estudantes, por vezes, a sentimentos de solidão e isolamento, Vlachopoulos e Makri (2019) destacam a importância da interação por meio dos fóruns de discussão para ajudar os estudantes a se sentirem mais conectados. Discussões on- line oferecem oportunidades para os estudantes compartilharem perguntas ou mensagens relacionadas a atividades, compararem estratégias de aprendizagem ou até mesmo apoiarem uns aos outros na realização de tarefas definidas. Também podem compartilhar mensagens de natureza social não relacionadas às suas atividades de aprendizagem. A participação e a condução do tutor nessas discussões são consideradas fatores críticos para melhorar a interação social dos estudantes com seus colegas e promover o fortalecimento de comunidades virtuais de aprendizagem. Incentivo e apoio contínuos É tema recorrente na literatura a ideia de que “os tutores devem atuar como facilitadores e mentores e trabalhar ativamente para criar um senso de comunidade em cursos on-line” (VLACHOPOULOS; MAKRI, 2019, p. 617, tradução livre). Para isso, é importante que os tutores construam conexões fortes com seus estudantes, por meio de diálogos frequentes, feedback atencioso e oportuno, horário de atendimento virtual e moderação das discussões. Também devem facilitar o trabalho em grupo, ajudando os estudantes a se conhecerem, explicando funções e promovendo habilidades de equipe. A criação de um ambiente de aprendizagem positivo e de apoio surge, assim, como tarefa essencial da tutoria. 6. Dicas dos tutores de EaD Para finalizar este material, trazemos aqui algumas dicas de tutores experientes direcionadas a educadores que pretendem atuar na tutoria de EaD, publicadas em Mill et al. (2008). São elas: • Convencer-se: antes de qualquer coisa, é extremamente importante verificar se é exatamente esse tipo de trabalho que você deseja e saiba que a grande dedicação precisa ser contínua no processo. • Organizar-se: a EaD demanda muita organização pessoal, do tempo e do trabalho a ser executado. É importante ter muita disciplina, organização e responsabilidade, inclusive para respeitar os seus próprios tempos e espaços de trabalho e descanso. A disciplina, o planejamento e a execução do trabalho são processos obrigatórios para você vencer as intenções pedagógicas propostas. Para saber mais sobre este assunto, acesse o curso: “Estratégias de mediação em fóruns de discussão on- line”. https://cursos.poca.ufscar.br/course/view.php?id=46 https://cursos.poca.ufscar.br/course/view.php?id=46 https://cursos.poca.ufscar.br/course/view.php?id=46 • Disciplinar-se: ritmo e periodicidade são as chaves para não acumular trabalho. Não adie suas tarefas, divulgue seus horários de trabalho e acesse o curso regularmente (uma vez por dia, se possível) — isso vai fazer a diferença, pois, embora estranho, assim trabalhará menos: não acumulará nada e seus alunos serão bem atendidos... • Expressar-se: clareza na exposição de ideias é imprescindível. Busque melhorar a redação (correção gramatical, ortográfica, estrutura do texto etc.; revisite a gramática e livros de redação) e aprenda a ter objetividade nas suas explicações e/ou orientações. • Compartilhar-se: tenha paciência com alunos e colegas e cultive o movimento de empatia (para entender o outro) e simpatia também. A sinergia e a inteligência coletiva são pontos-chave: a partilha do conhecimento, o trabalho em equipe e a pesquisa são condutas necessárias para alcançar bons resultados. • Dedicar-se: aperfeiçoamento profissional constante e disponibilidade. Para além de teorias, repense sua formação didático-pedagógica... O aluno do curso a distância (...) precisa de muita atenção. Dedicação e rapidez nas respostas ao aluno evita evasão. • Responsabilizar-se: não confundir EaD com trabalho fácil, pois não é: o trabalho na EaD demanda muito tempo e, por isso, organização e planejamento são importantes. Também importante é despir-se do preconceito de que EaD não funciona... qualidade e seriedade precisam estar sempre em alta. • Cuidar-se: preparem os olhos, as mãos, pulsos e dedos, a coluna, o espírito da esposa/marido e as alterações de humor. Reservar um tempo para o lazer, não deixar que o trabalho tome todo seu tempo. • Desafiar-se: aceitem o desafio! Trabalhem com dedicação e empenho. Façam tudo que for possível para que os alunos não desistam do curso nas primeiras duas semanas. Se conseguir mantê-los ativos nas duas primeiras semanas, a probabilidade deste aluno concluir o curso com êxito é muito maior (...) (MILL et al., 2008, p. 116-117). 7. Considerações finais Foi objetivo deste material apresentar a origem da figura do tutor, desde seu surgimento nas universidades europeias da Idade Média até chegar à modalidade de Educação a Distância nos dias atuais. Nesse percurso, nota-se a importância da tutoria no processo de acompanhamento personalizado dos estudantes ao longo do seu percurso formativo, com destaque para sua função docente. As atribuições da tutoria de EaD passam por questões de cunho pedagógico, comunicacional, organizacional e técnico, demandando deste profissional o desenvolvimento de uma série de competências que o habilitam a bem desempenhar a função de tutor. Após apresentar alguns elementos de boas práticas de tutoria na EaD, finalizamos trazendo dicas de tutores experientes para quem deseja iniciar-se profissionalmente na função. Outros cursos abertos aqui do PoCA podem contribuir para sua formação em tutoria na EaD. Confira! ✓ Feedback Formativo: aspectos teóricos e boas práticas ✓ Estratégias de mediação em fóruns de discussão on-line ✓ O sucesso acadêmico do estudante de EaD: autorregulação da aprendizagem em foco ✓ Docência em EaD: Introdução ao Moodle ✓ Docência em EaD: Desafios da avaliação Referências ARREDONDO, S. C.; GONZÁLEZ, J. A. T.; GONZÁLEZ, L. P. Formação de tutores: fundamentos teóricos e práticos. Tradução de Sandra M. Dolinsky. Curitiba: Intersaberes, 2012. BEHAR, P. A. et al. Competências: conceito, elementos e recursos de suporte, mobilização e evolução. In: BEHAR, P. A. (Org.). Competências em educação a distância. Porto Alegre: Penso, 2013. p. 20-41. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução nº 1, de 11 de março de 2016. Estabelece Diretrizes e Normas Nacionais para a Oferta de Programas e Cursos de Educação Superior na Modalidade a Distância. Brasília, 2016. 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