Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FMU – Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas O que é ESG e qual sua relevância nas empresas de Telecom JADER RAFAEL ARAÚJO ALMEIDA Projeto de Experiência apresentado como requisito parcial para apresentação ao curso de MBA em Gestão de Processos FMU – Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidades. São Paulo 2023 O setor de telecom notou a importância de ter suas inciativas de ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) bem definidas e estruturadas, isso foi impulsionado pois existe uma preocupação com o futuro do planeta e o bem-estar das pessoas. Apesar das inciativas serem modestas, muito por consequência das metas de ESG não serem obrigatórias no Brasil, percebemos que as operadoras estão apostando em algumas ações como: energia renovável, inclusão de pessoas com deficiência, diversidade de gênero, transparência, diversidade de fornecedores, inclusão digital, sustentabilidade, proteção de dados etc. No entanto, o setor ainda está em desenvolvimento e existe muita oportunidade de conscientização e melhoria dos processos. Neste artigo vou abordar as principais dores do setor no que diz respeito aos aspectos de ESG, tendo em vista que a conectividade é um ponto importantíssimo na inclusão digital e é um direito universal que está na declaração dos direitos humanos. Exposto isso, observamos que poderíamos ter maiores investimentos de internet de qualidade em regiões e estados com baixo índice de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), mais incentivo financeiro das empresas privadas para desenvolverem programadores ou engenheiros de telecom no Brasil (de modo geral investimento em tecnologia), ainda temos um volume significativo de lixo eletrônico que poderiam ser reciclados (logística reversa) e políticas de governança que poderiam ser melhor administrada, como por exemplo a questão de antifraude, inclusão de mais mulheres em cargos de tomada de decisão e questões relacionadas a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). O presente trabalho consiste em propor alguns insights que vão de encontro aos princípios do ESG que serão capazes de contribuir na melhoria da experiência dos stakeholders na área de telecom, na qual atuo há dez anos. Diante disso, antes de adentrarmos no assunto, necessitamos entender o que é o ESG e sua importância dentro das organizações. Segundo o site FIA (2023), ESG é um acrônimo da língua inglesa que significa um conjunto de boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa que estão associadas à gestão de empresas e refere-se à forma como elas se posicionam no mercado, usando como parâmetro a sustentabilidade e boas práticas socialmente conscientes, onde as organizações que adotam os princípios de ESG em seus processos são reconhecidas por serem sustentáveis e conquistam certificações que as fazem ser bem-vistas perante o mercado e seus investidores. Segundo a mesma fonte os pilares do ESG de forma sucinta são: • Meio ambiente: trata-se do impacto ambiental da empresa, incluindo emissões de carbono, gestão de resíduos e a conscientização do uso de recursos naturais; • Social: questões relacionadas à equidade/igualdade, diversidade e inclusão, direitos humanos, melhores condições de trabalho e relações com a comunidade; • Governança: transparência, integridade e responsabilidade dos líderes da empresa, incluindo a remuneração dos executivos, práticas de voto e gerenciamento de risco. Com base nisso, como é um tema extenso, nesse trabalho vou citar as principais dores do setor de acordo com a minha experiência; contudo, de forma breve, na qual iniciaremos pelo pilar Meio Ambiente, onde as TIC’s (Tecnologias da informação e comunicação) são responsáveis por emitirem cerca de 3% a 4% do dióxido de carbono, se compararmos com o setor de aviação, as TIC’s poluem duas vezes mais, de acordo com o estudo da Boston Consulting Group (BCG). A mesma fonte alega que esse aumento foi impulsionado devido à alta demanda por conectividade durante a pandemia do Covid-19. Isso significa que em 2021, há uma expectativa de crescimento de 60% no uso de dados, o que leva os data centers a consumirem 8% do total de eletricidade produzida no mundo até 2030. Nesta mesma premissa, podemos citar a questão do descarte de lixo eletrônico, que segundo pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU), 97% do lixo eletrônico produzido na América Latina não é descartado de forma sustentável, sendo que muitos dessas matérias-primas contêm ouro e outros metais preciosos que poderiam ser recuperados, o que equivalem a US$ 1,7 bilhão por ano. Já no aspecto Social, as empresas de telecomunicação têm um papel fundamental na transformação digital, pois essas organizações são responsáveis por conectarem o mundo, e no Brasil os investimentos não são suficientes para expandirmos o acesso à internet de qualidade e formar profissionais no setor. O maior impacto está nas cidades e estados em que o índice de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é baixo e na rede pública de ensino, pois se considerarmos a renda per capita, o custo para se manter conectado (isso incluí os valores dos dispositivos) ainda é elevado, padecemos de escolas públicas com infraestrutura adequada, e se avaliarmos outros fatores internos, como por exemplo o domínio da língua estrangeira, que no país apenas 1% da população domina a língua inglesa. Para reforçar essa tese, o site InfoMoney (2022), trouxe um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que aponta que 28,2 milhões de brasileiros não têm acesso à internet. Embora a pandemia de Covid-19 tenha elevado o uso da internet, no Brasil nos últimos dois anos, 7,28 milhões de famílias no país não tinham acesso à internet no domicílio, dados de 2021 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A fonte diz que cerca de 28,2 milhões de brasileiros entre 10 anos ou mais não usavam a internet (sendo 3,6 milhões estudantes), dado os excluídos digitais que representavam 15,3% da população nessa faixa etária. Nas residências com acesso à internet, o porcentual de usuários com dados móveis caiu de 81,2% em 2019 para 79,2% em 2021, enquanto a banda larga fixa cresceu de 78,0% para 83,5%. Na Região Norte, a banda larga fixa teve um aumento de 20 pontos percentuais entre 2019 e 2021, de 54,7% para 70,5% das casas passaram a ser conectadas. “Em 2021, a internet móvel (3G ou 4G) diminuiu e a fixa cresceu, fazendo com que, pela primeira vez na série, a proporção de domicílios com acesso à banda larga fixa superasse a da banda larga móvel”, aponta o IBGE”. A pesquisa também expõe que no ano de 2021, 155,2 milhões de pessoas tinham aparelho de telefone celular no Brasil (84,4% da população com 10 anos ou mais). Entre os 28,7 milhões sem telefone celular, 8,9 milhões eram estudantes (dos quais 91,6% eram da rede pública de ensino). O principal fator para a ausência de telefone nesse nicho da população foi por motivo financeiro (40% dos estudantes do ensino público sem celular disseram que o aparelho telefônico era caro, e outros 4,7% relataram que o serviço era caro). Entre os alunos que não tinham internet, 94,7% frequentavam a rede pública de ensino. Os alunos de 10 anos ou mais que ainda são excluídos digitais relataram que não estavam conectados por conta da questão financeira: 25,1% consideravam o serviço caro e 18,3% afirmaram que o equipamento necessário para o acesso era caro. As demais razões apontadas para a falta de acesso à rede foram ausência de interesse (17,5%), não sabiam utilizar (15,9%) e falta de disponibilidade do serviço nos locais que costumava frequentar (10,6%). Outros fatores importantes no setor é a diferença de gênero e as questões da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), quesegundo o relatório Global Gender Gap (2022), publicado pelo Fórum Econômico Mundial, a porcentagem de mulheres formadas em Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) é de 1,7% em comparação com 8,2% dos homens formados e, em Engenharia e Manufatura, os números são de 24,6% para os homens e 6,6% para mulheres. Esse cenário evidencia que ainda há um longo caminho a trilhar e que necessitamos incentivar as mulheres a considerarem os campos das telecoms como um local de oportunidades. Em relação a LGPD, as telcoms enfrentam grandes desafios quanto a proteção dos dados dos seus usuários, visto que dentro dos bancos de dados das operadoras possuem uma infinidade de informações preciosas, que necessitam ser vigiado, o que tornam esse processo mais dificultoso devido a grande quantidade de ciberataques. Esse desafio não é apenas para as empresas de telecomunicação, e sim, para todas as organizações que trafegam dados, principalmente aquelas que armazenam informações sensíveis dos usuários. A grande missão dessas grandes empresas é manter o sigilo e a segurança cibernética, evitando vazamentos desses dados. Para tentar contribuir com as soluções desses problemas, existem muitas estratégias poderosas no mercado, contudo, um desses métodos é a utilização de técnicas desenvolvidas em diferentes áreas do conhecimento, como por exemplo o Design Thinking que é aplicado com frequência no ambiente organizacional e na Gestão de empresas que costumam utilizar a metodologia ágil em seus processos. De forma bem objetiva, o Design Thinking conhecido também como DT, é um método originalmente da área de designer que fornece insights para solucionar problemas complexos que muitas vezes são mal definidos ou até mesmo desconhecidos. Hoje devido a necessidade dos usuários e a alta competitividade do mercado, as telcoms deixaram de utilizar o método cascata na gestão empresarial e passaram adotar as metodologias ágeis no seu dia a dia. Para entendermos melhor o que essa poderosa metodologia contribui, fui atrás de fontes seguras que falam sobre o tema e conforme o site TOTVS (2022), “O design thinking é uma nova abordagem voltada para redirecionar o pensamento das empresas e seu desenvolvimento de soluções. Nela, o foco é nas pessoas e o objetivo é a inovação, no qual o resultado esperado é uma solução criativa e eficiente.” Segundo a mesma fonte, essa metodologia permite mapear as bases do Design Innovation, que são: • Tecnologia: a solução pode ser construída com recursos próprios? • Negócios: a solução é um empreendimento viável e sustentável? • Valores humanos: os envolvidos (todos os stakeholders) dão valor para a solução? Para o Blog da Zendesk, o Design Thinking (DT) é uma abordagem metodológica de projetos que propõe o uso da criatividade para resolver problemas de forma diferenciada, otimizando assim os resultados. O site diz que as cinco etapas do Design Thinking são: • Imersão: ter empatia com seu público e compreender; • Análise e síntese: definir qual é o problema a ser resolvido; • Ideação: sugerir ideias que possam solucionar o problema; • Prototipação: fazer uma “simulação” do produto/serviço final; • Validação e implementação: testar e colocar a ideia em prática. Diante o exposto, a minha contribuição com o setor seria utilizar dessa poderosa metodologia para colocar os stakeholders no centro das discussões, com objetivo de compreender as suas dores e mapear os problemas que precisam ser resolvidos com agilidade, evitando gargalos futuros. Neste artigo foi exposto que grande parte da população brasileira não tem acesso à internet de qualidade e por motivos de financeiros e devido ao alto custo dos dispositivos, esses usuários não conseguem se manter conectadas. A proposta consiste em incentivar as operadoras expandir a internet fibrada e acesso a rede móvel 4G e 5G para regiões e estados mais afastados e com menor poder aquisitivo, criando parcerias com os governos para ajudar nos custos de infraestrutura e baratear os serviços, tendo em vista que muitas vezes as operadoras não investem nesses locais pois o público não é rentável para as companhias. Notamos isso com a pandemia da Covid-19, as empresas do setor se uniram para conectar o mundo; entretanto, não reduziram seus lucros dando descontos nos seus serviços para ajudar a população com menor poder aquisitivo que foi mais impactada. Precisamos mudar esse paradigma, uma vez que quando as empresas chegam a uma cidade levando conexão de internet, elas estão desenvolvendo aquela comunidade/lugar, visto que a internet leva mais acesso à educação, conhecimento, serviços, cultura, entretenimento e saúde. Reforço que a digitalização é um vetor da cidadania, bem-estar e ascensão social de um cidadão ou de uma comunidade, com isso, as empresas do setor precisam lançar mais programas e cursos com preços acessíveis para que as pessoas aprendam as profissões do futuro e tornar essa área mais atrativa para mulheres, como: Cientistas de dados, Desenvolvedores, especialistas de cibersegurança, UX designer’s, Especialista em energias renováveis, IA e machine learning etc. No aspecto do Meio Ambiente, para reverter o cenário atual, as empresas telcoms precisam tomar medidas significativas e mudar o mindset sobre as políticas de ESG, visto que essas práticas não são modismo. Essas grandes companhias necessitam revisar e adotar melhores padrões de sustentabilidade junto dos seus fornecedores, compartilhando as suas políticas internas, rastreando os impactos ambientais que elas geram, investimento no uso de energias renováveis e eficiência energética. Essa ação vem acompanhada de monitorarmos e ajudarmos essas operadoras a reciclarem os lixos eletrônicos que elas produzem como por exemplo, aprimorar a efetividade de coleta de equipamentos de fibra e TV que são instalados nas casas dos clientes, em virtude que muitos desses equipamentos quando os clientes cancelam os serviços, acabam sendo descartados de maneira incorreta, impactando diretamente na restauração e utilização desses devices nas casas de outros clientes. Por fim, não menos importante, as empresas de telecom devem intensificar o cuidado com os dados dos usuários, há vista que frequentemente notamos vazamento de informações pessoais dos consumidores, isso se dá devido a facilidade que os hackers encontram para invadirem os servidores dessas empresas ou até mesmo o compartilhamento de informações com os fornecedores que são negligenciadas e acabam que esses dados são vendidos na deep web. Acredito que todas essas ações citadas acima trarão grandes benefícios para as empresas, tendo em vista que se mitigarmos os riscos, acompanharmos de perto, engajarmos os stakeholders e buscarmos parcerias, geraria um sentimento de pertencimento nas pessoas. Considerações finais: O setor de telecomunicações precisa ter abordagens mais sistemáticas para a inovação social tornando-se mais adaptável e flexível ao lidar com problemas dos stakeholders. As propostas para alcançar esses objetivos incluem o investimento de recursos em inovação e em modelos de design como o Design Thinking (DT) para descobrir as dores dos usuários e da população. Após a ideação, notamos que o DT pode ser facilmente adaptado no setor de telecom, uma vez que vimos que o descarte irregular de lixos eletrônicos é uma dor latente no setor e essa metodologia é capaz de propor soluções que levam em consideração os anseios da sociedade para elaboração de políticas públicas e investimento privado. Por fim, as cidades brasileiras necessitam que haja uma forte expansão da rede fibrada e acesso ao 4G e 5G, uma vez que os indivíduos precisam de internet de qualidade para estudar, trabalhar, lazer, consumir etc, e percebemos que essa qualidade do serviço está apenas nas regiões mais nobres ou em lugares no qual a renda per capitaé maior. Referências: BLOG DA ZENDESK. O que é Design Thinking e por que sua empresa deveria usar essa metodologia?. Disponível em: <https://www.zendesk.com.br/blog/o-que-design-thinking/>. Acesso em: 09 de Junho de 2023. TOTVS. Design Thinking: guia definitivo. Disponível em: <https://www.totvs.com/blog/inovacoes/design-thinking/>. Acesso em: 08 de Junho de 2023. CRYPTO ID. Mulheres que constroem: dados mostram o impacto da diferença de gênero. Disponível em: <https://cryptoid.com.br/criptografia-identificacao-digital-id- biometria/mulheres-que-constroem-dados-mostram-o-impacto-da-diferenca-de-genero/>. Acesso em: 08 de Junho de 2023. INFOMONEY. 28,2 milhões de brasileiros não têm acesso à internet, diz IBGE. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/consumo/282-milhoes-de-brasileiros-nao-tem-acesso-a- internet-diz-ibge/ >. Acesso em: 07 de Junho de 2023. ONU NEWS. 97% do lixo eletrônico da América Latina não é descartado de forma sustentável. Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2022/01/1777952 >. Acesso em: 07 de Junho de 2023. FIA BUSINESS SCHOOL. Entenda o que é ESG, sua importância, exemplos e como funcionam os investimentos!. Disponível em: <https://fia.com.br/blog/esg/>. Acesso em: 07 de Junho de 2023. TELETIME. Empresas de telecom impulsionam emissão de CO2 das TICs no mundo, diz BCG. Disponível em: <https://teletime.com.br/15/09/2021/empresas-de-telecom-impulsionam- emissao-de-co2-das-tics-no-mundo-diz-bcg/?amp>. Acesso em: 07 de Junho de 2023. EDUCA + BRASIL. Brasil tem 1% da população fluente em inglês. Disponível em: <https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/brasil-tem-1-da-populacao-fluente- em-ingles>. Acesso em: 06 de Junho de 2023. https://www.zendesk.com.br/blog/o-que-design-thinking/ https://www.totvs.com/blog/inovacoes/design-thinking/ https://cryptoid.com.br/criptografia-identificacao-digital-id-biometria/mulheres-que-constroem-dados-mostram-o-impacto-da-diferenca-de-genero/ https://cryptoid.com.br/criptografia-identificacao-digital-id-biometria/mulheres-que-constroem-dados-mostram-o-impacto-da-diferenca-de-genero/ https://www.infomoney.com.br/consumo/282-milhoes-de-brasileiros-nao-tem-acesso-a-internet-diz-ibge/ https://www.infomoney.com.br/consumo/282-milhoes-de-brasileiros-nao-tem-acesso-a-internet-diz-ibge/ https://news.un.org/pt/story/2022/01/1777952 https://fia.com.br/blog/esg/ https://teletime.com.br/15/09/2021/empresas-de-telecom-impulsionam-emissao-de-co2-das-tics-no-mundo-diz-bcg/?amp https://teletime.com.br/15/09/2021/empresas-de-telecom-impulsionam-emissao-de-co2-das-tics-no-mundo-diz-bcg/?amp https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/brasil-tem-1-da-populacao-fluente-em-ingles https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/noticias/brasil-tem-1-da-populacao-fluente-em-ingles
Compartilhar