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NUTRIÇÃO CLÍNICANUTRIÇÃO CLÍNICA Nutrição Clínica Tais Moala Tais Moala GRUPO SER EDUCACIONAL gente criando o futuro A nutrição clínica é extremamente importante para a formação pro� ssional do nutricio- nista, um vez que envolve o estudo do indivíduo como um todo. Assim, após o término da disciplina, o aluno possuirá conhecimento su� ciente para realizar o atendimento de um paciente. Entretanto, vale ressaltar que toda a teoria aqui abordada deve respeitar as caracterís- ticas individuais de cada um. A área de nutrição clínica precisa de constante atualização, visto que há mudanças contínuas nos protocolos, diretrizes e consensos, entre outros. Neste livro, especi� camente, o assunto abordado é relativo a patologias do trato gas- trointestinal (TGI) e suas dietoterapias. Isso posto, o objetivo desta disciplina é apre- sentar, com base em cada doença relacionada ao TGI, as formas e propostas de terapia nutricional indicadas para cada caso. Estudaremos patologias como esofagite, gastrite, câncer de estômago, constipação intestinal e diarreia, entre outras, além de seus trata- mentos nutricionais. O aluno irá observar, tanto no estágio como na prática pro� ssional, que essas doenças são relatadas por diversos pacientes. Portanto, é imprescindível que você saiba detec- tar as patologias e sintomas associados aqui discutidos. No ambiente hospitalar e am- bulatorial, o nutricionista precisa atuar junto à uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fonoaudiólogos, entre outros. Portanto, o aluno precisa compreender que os casos precisam ser discutidos entre a equipe, visto que só assim o paciente será atendido de forma integrada. Capa_SER_NUTRI_NUCLI.indd 1,3 28/09/2020 18:24:29 © Ser Educacional 2020 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE – CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Shutterstock Presidente do Conselho de Administração Diretor-presidente Diretoria Executiva de Ensino Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Diretoria de Ensino a Distância Autoria Projeto Gráfico e Capa Janguiê Diniz Jânyo Diniz Adriano Azevedo Joaldo Diniz Enzo Moreira Tais Moala DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 2 28/09/2020 16:28:16 Boxes ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. CURIOSIDADE Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 3 28/09/2020 16:28:16 Unidade 1 - Distúrbios do trato gastrointestinal Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades do aparelho digestório 13 Aspectos fisiológicos do aparelho digestório ........................................................... 13 Esofagite, hérnia de hiato, câncer da cavidade oral, faringe e esôfago ................... 16 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 19 Estômago: indigestão/dispepsia, gastrite, úlcera péptica/câncer ............................. 22 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 24 Sintomas comuns da disfunção intestinal: diarreia, gases intestinais, flatulência, constipação.............................................................................................................................26 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 27 Sintetizando ........................................................................................................................... 30 Referências bibliográficas ................................................................................................. 31 Sumário SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 4 28/09/2020 16:28:16 Sumário Unidade 2 - Distúrbios do trato gastrointestinal inferior Objetivos da unidade ........................................................................................................... 34 Doenças inflamatórias intestinais: doença de Crohn e retocolite ulcerativa inespecífica .. 35 Tratamento dietoterápico .............................................................................................. 36 Doença celíaca ..................................................................................................................... 37 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 39 Espru tropical ........................................................................................................................ 41 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 42 Deficiência de lactase (intolerância à lactose) ............................................................. 42 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 43 Síndrome do intestino irritável .......................................................................................... 45 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 47 Câncer de cólon e pólipos .................................................................................................. 49 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 50 Doença diverticular (diverticulose/diverticulite) .......................................................... 52 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 53 Sintetizando ........................................................................................................................... 55 Referências bibliográficas ................................................................................................. 56 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 5 28/09/2020 16:28:16 Sumário Unidade 3 - Distúrbios do trato gastrointestinal inferior Objetivos da unidade ........................................................................................................... 60 Patologia da nutrição e dietoterapia no pré e pós-operatório ............................................... 61 Pré-operatório .................................................................................................................. 63 Jejum pré-operatório ...................................................................................................... 65 Pós-operatório .................................................................................................................66 Síndrome do intestino curto ............................................................................................... 68 Dietoterapia ...................................................................................................................... 69 Fístulas ................................................................................................................................... 70 Dietoterapia ...................................................................................................................... 71 Pâncreas exócrino (pancreatite aguda, crônica e cirurgia pancreática) 72 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 74 Fígado, vesícula biliar, transplante hepático, cirurgia da vesícula biliar 78 Tratamento dietoterápico ............................................................................................... 81 Sintetizando ........................................................................................................................... 84 Referências bibliográficas ................................................................................................. 85 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 6 28/09/2020 16:28:16 Sumário Unidade 4 - Terapia nutricional Objetivos da unidade ........................................................................................................... 89 Suporte nutricional enteral e parenteral ......................................................................... 90 Terapia nutricional enteral ............................................................................................. 90 Terapia nutricional parenteral ....................................................................................... 96 Obesidade .............................................................................................................................. 99 Diagnóstico ..................................................................................................................... 100 Etiologia ........................................................................................................................... 101 Tratamento ...................................................................................................................... 104 Cirurgia de redução do estômago e distúrbios nutricionais ..................................... 106 Tratamento nutricional.................................................................................................. 109 Magreza, anorexia, bulimia ............................................................................................. 110 Tratamento nutricional.................................................................................................. 112 Sintetizando ......................................................................................................................... 115 Referências bibliográficas ............................................................................................... 116 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 7 28/09/2020 16:28:16 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 8 28/09/2020 16:28:16 A nutrição clínica é extremamente importante para a formação profi ssional do nutricionista, um vez que envolve o estudo do indivíduo como um todo. Assim, após o término da disciplina, o aluno possuirá conhecimento sufi ciente para realizar o atendimento de um paciente. Entretanto, vale ressaltar que toda a teoria aqui abordada deve respeitar as características individuais de cada um. A área de nutrição clínica precisa de constante atualização, visto que há mudanças contínuas nos protocolos, dire- trizes e consensos, entre outros. Neste livro, especifi camente, o assunto abordado é relativo a patologias do trato gastrointestinal (TGI) e suas dietoterapias. Isso posto, o objetivo desta disciplina é apresentar, com base em cada doença relacionada ao TGI, as for- mas e propostas de terapia nutricional indicadas para cada caso. Estudaremos patologias como esofagite, gastrite, câncer de estômago, constipação intestinal e diarreia, entre outras, além de seus tratamentos nutricionais. O aluno irá observar, tanto no estágio como na prática profi ssional, que essas doenças são relatadas por diversos pacientes. Portanto, é imprescindível que você saiba detectar as patologias e sintomas associados aqui discutidos. No ambiente hospitalar e ambulatorial, o nutricionista precisa atuar junto à uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fonoaudiólogos, entre outros. Portanto, o aluno precisa com- preender que os casos precisam ser discutidos entre a equipe, visto que só assim o paciente será atendido de forma integrada. preender que os casos precisam ser discutidos entre a equipe, visto que só assim o paciente será atendido de forma integrada. NUTRIÇÃO CLÍNICA 9 Apresentação SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 9 28/09/2020 16:28:16 Dedico primeiramente aos meus pais, Waldomiro e Ivete, que proporcionaram-me a chance de poder me dedicar aos estudos e que tiveram muita paciência com todas as fases do meu processo. Dedico também à minha colega de profi ssão, a nutricionista Aline Roquetto, que esteve comigo desde a faculdade até o doutorado, me dando força e me ajudando em todo o meu caminho. A professora Tais Moala é graduada (2011) em Nutrição pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), especialista (2013) em alimentos fun- cionais, suplementos e fi toterápicos pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), com aprimo- ramento profi ssional (2014) em nutri- ção em oncologia e hematologia pela Universidade de Campinas (Unicamp). Também é mestre (2016) em Alimentos e Nutrição pela Universidade de Cam- pinas (Unicamp) na Faculdade de Enge- nharia de Alimentos (FEA). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7955350159525757 NUTRIÇÃO CLÍNICA 10 A autora SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 10 28/09/2020 16:28:17 DISTÚRBIOS DO TRATO GASTROINTESTINAL 1 UNIDADE SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 11 28/09/2020 16:28:43 Objetivos da unidade Tópicos de estudo Apresentar ao aluno os aspectos fisiológicos do funcionamento do trato gastrointestinal e as diversas patologias que podem surgir no sistema digestivo; Fornecer ao aluno bases do tratamento dietoterápico nas patologias do sistema digestório. Patologia da nutrição e dietotera- pia nas enfermidades do aparelho digestório Aspectos fisiológicos do aparelho digestório Esofagite, hérnia de hiato, câncer da cavidade oral, faringe e esôfago Tratamento dietoterápico Estômago: indigestão/dispepsia, gastrite, úlcera péptica/câncer Tratamento dietoterápico Sintomas comuns da disfunção in- testinal: diarreia, gases intestinais, flatulência, constipação Tratamento dietoterápico NUTRIÇÃO CLÍNICA 12 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 12 28/09/2020 16:28:43 Patologia da nutrição e dietoterapia nas enfermidades do aparelho digestório As doenças do trato gastrointestinal estão entre os problemas mais comuns que aparecem nos pacientes. A alimentação possui um papel importantíssimo nesse cenário, seja no surgimento, tratamento ou prevenção destas doenças. Para exemplifi car, a o Quadro 1 evidencia um resumo de algumas doenças do trato gastrointestinal e suas principais intervenções nutricionais. Condição gastrointestinal Intervenções nutricionais Esofagite Evitar alimentos gordurosos, aumentar o fracionamento para 6 a 8 refeições e reduzir o volume das mesmas. Câncer de cavidade oral, esôfago ou estômago Modifi car a consistência dos alimentos, preferir alimentos mais umedecidos e averiguar a necessidade de suplementação e/ou terapia nutricional enteral. Diarreia Preferir frutas e alimentos obstipantes e verifi car a ingestão hídrica, posto que pode ocorrer desidratação. Constipação intestinal Preferir frutas e alimentos laxativos eaumentar a ingestão hídrica e a ingestão de fi bras, além de avaliar a prescrição de probiótico, prebióticos e simbióticos. QUADRO 1. DOENÇAS DO TRATO GASTROINTESTINAL E SUAS PRINCIPAIS INTERVENÇÕES Aspectos fisiológicos do aparelho digestório O trato gastrointestinal é composto pela boca, faringe, esôfago, estôma- go, intestino delgado e intestino grosso. O processo digestivo inicia-se na boca com a ajuda dos dentes, que degradam os alimentos em pequenas partes, e a língua, que auxilia na deglutição do alimento. Na região bucal existem três glândulas responsáveis pela produção da sali- va, a saber: glândula parótida, glândula submandibular e glândula sublingual. A saliva umidifi ca o alimento, tornando-o mais fácil de ser deglutido. Além disso, a saliva possui uma enzima chamada de amilase salivar, que inicia a digestão parcial do carboidrato do tipo amido. NUTRIÇÃO CLÍNICA 13 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 13 28/09/2020 16:28:43 O alimento após ser deglutido passa pela faringe, ou mais especificamente orofaringe e laringofaringe, para depois chegar ao esôfago. O esôfago é respon- sável por levar o alimento da faringe para o estômago, o que ocorre através do movimento peristáltico. Ao chegar no estômago, o esfíncter esofágico inferior se contrai para impedir que o alimento volte para o esôfago (GUYTON & HALL, 2011). O estômago secreta o suco gástrico responsável por auxiliar na digestão do ali- mento. Neste existem algumas células importantes para o processo de digestão, a saber: as células da superfície, que secretam um muco que protege as células do próprio estômago de serem agredidas pelo suco gástrico, as células principais, que secretam a enzima inativa pepsinogênio, as células parietais, que secretam o ácido clorídrico, e as células pilóricas, que secretam o hormônio gastrina. Esta última estimula a secreção do ácido clorídrico, responsável por converter o pepsinogênio em pepsina, de forma que a enzima se torne ativa. Assim, a pepsi- na inicia no estômago a digestão das proteínas, conforme afirma Fry em seu artigo “Secretions of the salivary glands and stomach”, de 2009. O alimento ingerido, ao atingir o intestino delgado, é chamado então de quimo. O intestino delgado divide-se em duodeno, jejuno e íleo, e sua superfície interna é recoberta por estruturas chamadas de vilosidades, que têm a função de aumentar a área para a absorção de nutrientes. Todas as secreções produzidas no intestino delgado são denominadas de suco entérico, o qual é constituído por enzimas como peptidases, maltase, sacarase e lactase que auxiliam na degradação e absorção de nutrientes. Além disso, alguns hormônios são secretados no duodeno, como a secretina e a colecistoquinina. Hormônio Local de produção Local de ação Ação Gastrina Estômago Esôfago Aumenta a pressão do EEI Estômago Libera o ácido clorídrico Secretina Intestino Esôfago Reduz a pressão do EEI Estômago Inibe a liberação do ácido clorídrico Pâncreas e fígado Estimula a liberação do suco pancreático e da bile QUADRO 2. HORMÔNIOS LIBERADOS DURANTE O PROCESSO DE DIGESTÃO NO TRATO GASTROINTESTINAL NUTRIÇÃO CLÍNICA 14 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 14 28/09/2020 16:28:43 Colecistoquinina Intestino Esôfago Reduz a pressão do EEI Pâncreas Relaciona-se à secreção do suco pancreático Vesícula biliar Relaciona-se à expulsão da bile Após a passagem pelo intestino delgado, o quimo atinge o intestino grosso, que é dividido em ceco, cólon, reto e canal anal. No intestino grosso não são secretadas enzimas, e sua principal função é a absorção de água e sais minerais, que ocorre principalmente na região do cólon. A mucosa do intestino grosso é rica em células caliciformes, responsáveis pela produção de muco e facilitando a passagem do bolo fecal e a formação das fezes. Microbiota intestinal Nos últimos anos, a microbiota intestinal tem ganhado grande destaque no estudo de nutrição e saúde. O trato gastrointestinal é colonizado por uma grande variedade de bactérias no que se acreditava se tratar de uma relação de comensalismo, uma vez que as bactérias se beneficiavam de um ambiente (intestino) adequado para seu crescimento e aquisição de nutrientes. Entretanto, novas evidências indicam que essa relação é mutualística, uma vez que as bacté- rias intestinais exercem diversas funções indispensáveis para o hospedeiro. As- sim, as duas espécies, hospedeiro e bactérias, são beneficiadas pela colonização (BACKHED et al.; 2005). Uma importante função que as bactérias intestinais desempenham é o es- tímulo do sistema imunológico. O intestino funciona como uma barreira física que impede a saída das bactérias intestinais para o meio externo, mantendo-as contidas no lúmen intestinal. Entretanto, alguns componentes bacterianos conseguem ultrapassar a bar- reira intestinal, estimulando os sistemas de defesa. Nesse sentido, a passagem controlada de constituintes microbianos auxilia na tolerância imune do hospe- deiro. Por outro lado, o aumento da passagem desses componentes pode desen- cadear um processo inflamatório no hospedeiro (BELKAID, HAND, 2014). A microbiota também é capaz de realizar processos de fermentação, uma função muito importante, uma vez que o intestino humano não consegue pro- duzir enzimas capazes de digerir alguns componentes da dieta, como as fibras. O produto final da fermentação bacteriana são os ácidos graxos de cadeia curta. NUTRIÇÃO CLÍNICA 15 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 15 28/09/2020 16:28:43 Esses compostos conseguem reduzir o pH intestinal, impedindo o crescimento de bactérias patogênicas. Além disso, a microbiota intestinal também possui relação com a produção de hormônios de saciedade e de neuro- transmissores, indicando a importante participação das bactérias intestinais nos processos fi siológicos do hospedeiro. CURIOSIDADE A composição da microbiota intestinal está relacionada com o mecanismo de ganho de peso e com o surgimento de comorbidades como diabetes e doenças cardiovasculares. A microbiota alterada pode modifi car a mobi- lidade intestinal; aumentar a captação de energia; aumentar a deposição de triglicerídeos nos adipócitos e no fígado; aumentar a lipogênese; reduzir a oxidação de ácidos graxos e aumentar a resposta imune infl amatória. Sabe-se também que uma dieta rica em gordura aumenta a permeabilidade da barreira intestinal, permitindo a passagem de bactérias gram-negativas. Esofagite, hérnia de hiato, câncer da cavidade oral, faringe e esôfago Esofagite Como dito anteriormente, o esôfago é responsável por encaminhar o ali- mento da faringe para o estômago e possui dois esfíncteres: o esfíncter eso- fagiano superior (EES), que relaxa para que o alimento chegue ao esôfago; e o esfíncter esofagiano inferior (EEI), que relaxa no momento em que o alimento sai do esôfago e chega ao estômago. A esofagite acontece quando existe um relaxamento constante do EEI, permitindo o retorno do conteúdo gástrico para o esôfago. Portanto, a esofagite consiste na infl amação da mucosa esofágica resultante do refl uxo gás- trico para o esôfago. A gestação e a obesidade aumentam a chance de incidência de esofagite no indivíduo, visto que ambos elevam a pressão intra-abdominal, contribuindo para o aumento do refl uxo gastroesofágico. NUTRIÇÃO CLÍNICA 16 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 16 28/09/2020 16:28:44 O controle do relaxamento ou pressão do EEI é feito pelo sistema nervoso central e humoral. A gastrina (secretada no estômago), a colecistocinina (CCK) e a secretina (secretada na fase intestinal da digestão) participam do mecanismo de relaxamento e pressão do EEI; sendo que a gastrina aumenta a pressão e a CCK e a secretina promovem o relaxamento do EEI, conforme afirma Cuppari em seu livro Guia de nutrição: nutrição clínica no adulto, de 2005. O tratamento da esofagite consiste em mudanças de hábitos alimentares e de estilo de vida, objetivando eliminar os sintomase corrigir os fatores propi- ciadores. Porém, caso essas medidas não sejam eficazes, será necessário se- guir terapia medicamentosa. Esfíncter esofágico inferior Retorno do conteúdo gástrico e ácido para o esôfago Contração estomacal Esôfago Figura 1. Esfíncter esofágico inferior. Fonte: Nucleus Medical Media, 2020a. (Adaptado). Hérnia de hiato (HH) A hérnia de hiato (HH) ocorre quando existe uma protusão do estômago para dentro do tórax através do hiato esofágico. A HH tem forte associação com a esofagite, e a correção cirúrgica pode ser a melhor forma de tratamento. NUTRIÇÃO CLÍNICA 17 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 17 28/09/2020 16:28:45 Esófago Hérnia de hiato Hiato Diafragma Estômago Figura 2. Hérnia de hiato. Fonte: Universo Saúde, 2016. Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago Câncer é o nome dado a um conjunto de doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, poden- do espalhar-se para outras regiões do organismo. Em um ciclo celular normal, células que crescem desordenadamente sofrem o processo de apoptose celu- lar, ou seja, a própria célula causa sua morte celular. Em um ciclo celular anor- mal, a célula com mutação não consegue realizar a sua morte celular e conti- nua a sua proliferação, desenvolvendo os tumores. O câncer da cavidade oral, faringe e esôfago também podem ser denominados de câncer de cabeça e pescoço, cujas principais causas são: cigarro, bebida alcóolica, má alimentação e genética. De acordo com o Inca (2020), é possível obser- var na Figura 3 a distribuição dos tipos de câncer mais incidentes em 2020. Nota-se que os tumores de cavidade oral, faringe e esôfago estão entre eles. NUTRIÇÃO CLÍNICA 18 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 18 28/09/2020 16:28:47 Localização primária Casos % Próstata 65.840 29,2% Cólon e reto 20.520 9,1% Traqueia, brônquio e pulmão 17.760 7,9% Estômago 13.360 5,9% Cavidade oral 11.180 5,0% Esôfago 8.690 3,9% Bexiga 7.590 3,4% Linfoma não Hodgkin 6.580 2,9% Laringe 6.470 2,9% Leucemias 5.920 2,6% *Números arredondados para múltiplos de 10. Localização primária Casos % Mama feminina 66.280 29,7% Cólon e reto 20.470 9,2% Colo do útero 16.590 7,4% Traqueia, brônquio e pulmão 12.440 5,6% Glândula tireoide 11.950 5,4% Estômago 7.870 3,5% Ovário 6.650 3,0% Corpo do útero 6.540 2,9% Linfoma não Hodgkin 5.450 2,4% Sistema nervoso central 5.220 2,3% Homens Mulheres Figura 3. Distribuição dos dez tipos de câncer mais incidentes estimados em 2020 por sexo, exceto melanoma. Fonte: INCA, 2020, p. 52. O câncer relativo à cavidade oral, faringe e esôfago pode interferir e muito na alimentação do indivíduo, podendo ocasionar perda de peso grave e até desnutrição. O tratamento determinado pelo médico pode envolver quimiote- rapia, radioterapia e/ou ressecção cirúrgica. Tratamento dietoterápico Esofagite O tratamento dietoterápico da esofagite visa aumentar a pressão do esfínc- ter esofágico inferior, visando evitar o retorno do conteúdo gástrico para o esô- fago. O consumo de lipídios deve ser reduzido, uma vez que a colescistoquinina diminui a pressão do EEI. Portanto, a recomendação é uma dieta hipolipídica (<20% das calorias totais). Características Recomendação Valor energético total (VET) Normocalórica, caso seja necessário programar perda de peso. Consistência da dieta Fase aguda: líquida ou semilíquida com evolução gradual até geral. Fracionamento Aumentar o fracionamento para 6 a 8 refeições e reduzir o volume das mesmas. Líquidos Preferencialmente entre as refeições, evitando a ingestão junto com o almoço e jantar, com o objetivo de reduzir o volume ingerido. QUADRO 3. OUTRAS RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS NA ESOFAGITE Fonte: CUPPARI, 2005, n.p. (Adaptado). NUTRIÇÃO CLÍNICA 19 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 19 28/09/2020 16:28:48 É importante também que o paciente exclua alimentos que irritam a muco- sa, como café, chá preto, sucos e frutas ácidas, tomate ou extrato de tomate, bebidas alcóolicas, chocolate e refrigerantes. Câncer da cavidade oral, faringe e esôfago O tratamento do câncer da cavidade oral, faringe e esôfago pode ocasionar alguns sintomas para o paciente, além de piorar a ingestão alimentar. A disfa- gia é um sintoma que pode surgir antes, durante ou após o tratamento, é ca- racterizada pela dificuldade de deglutição de alimentos pelo indivíduo e pode ocorrer por alimentos líquidos ou sólidos. Outro sintoma é a odinofagia, que se caracteriza por dor ao engolir. Caso o paciente venha a apresentar dis- fagia à alimentos líquidos ou semilíquidos, a recomendação nutricional é a de utilizar es- pessantes no momento em que este for ingerir lí- quidos ou semilíquidos. Caso o paciente apresente disfagia à alimentos sólidos e/ou odinofagia, as recomendações nutricionais são: EXEMPLIFICANDO Paciente (P.J.) do sexo masculino, portador de câncer de esôfago, está fazendo quimioterapia há 3 meses e relata inapetência persistente, disfagia e odinofagia à alimentos sólidos. Em relação à disfagia, o nutri- cionista precisa estar atento para modificar a consistência da sua dieta para alimentos pastosos, a fim de que o paciente consiga se alimentar sem dificuldade e dor. Alguns alimentos sugeridos neste caso: purê de batata, purê de legumes, sopas, vitaminas e mingau, caso o paciente aceite bem estes alimentos. Lembre-se sempre que devemos respeitar a individualidade de cada caso. • Preferir alimentos umedecidos como purês, sopas, mingau e vitaminas; • Evitar alimentos muito quentes; • Evitar alimentos que irritam a mucosa como café, bebidas alcóolicas, refri- gerantes, sucos e frutas ácidas, tomate e/ou extrato de tomate; • Evitar alimentos secos e duros como torradas e bolachas cream cracker. NUTRIÇÃO CLÍNICA 20 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 20 28/09/2020 16:28:48 Características Recomendação Perda de apetite -Fazer refeições pequenas e frequentes e com intervalo de 2 horas durante todo dia, ao invés de realizar grandes refeições; -Orientar o consumo de alimentos ricos em calorias e fáceis de ingerir, como iogurte e vitamina de leite com frutas, mesmo que não haja vontade de ingerir alimentos sólidos; -Evitar alimentos gordurosos; -Preferir alimentos frios ou em temperatura ambiente para atenuar seu aroma e sabor. Anorexia -Aumentar o fracionamento das refeições e diminuir o volume; -Utilizar bebidas nutritivas; -Preferir consumir os alimentos em temperatura ambiente; -Preferir lugares tranquilos para fazer as refeições; -Melhorar a apresentação dos pratos. Saciedade precoce -Evitar alimentos com casca e bagaço; -Evitar alimentos gordurosos; -Orientar o consumo de alimentos ricos em calorias e fáceis de ingerir, como iogurte e vitamina de leite com frutas, mesmo que não haja vontade de ingerir alimentos sólidos. Xerostomia (falta de saliva) -Ingerir líquidos durante as refeições para auxiliar na ingestão dos alimentos; -Mastigar e chupar gelo feito de água filtrada, água de coco ou de suco de frutas natural; -Evitar o consumo de alimentos secos; -Introduzir mais molhos e caldos na dieta. Disgeusia (alteração do paladar) -Enxaguar a boca antes das refeições; - Substituir os alimentos pouco tolerados por aqueles nutricionalmente similares e mais bem aceitos. Náuseas e vômitos -Aumentar o fracionamento e reduzir o volume das refeições; -Evitar ingerir líquidos durante as refeições; -Evitar ingerir alimentos gordurosos e muito condimentados; -Ficar afastado do local onde se prepara as refeições; -Preferir ingerir alimentos em temperatura ambiente. QUADRO 4. OUTRAS RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS NO CÂNCER DA CAVIDADE ORAL, FARINGE E ESÔFAGO Fonte: COTRIM, 2003, n.p. (Adaptado). NUTRIÇÃO CLÍNICA 21 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 21 28/09/2020 16:28:48 Estômago: indigestão/dispepsia, gastrite, úlcera péptica/ câncer Indigestão/dispepsia A dispepsia consiste no desconforto ou dor na região do estômago. O des- conforto pode estar ligadoa causas orgânicas como refl uxo gastresofágico, gastrite ou úlceras pépticas, refl uxo gastresofágico ou outras patologias gas- trointestinais. A dispepsia funcional é um termo que descreve dores e des- conforto do trato gastrointestinal inexplicáveis e recorrentes. Ela é caracte- rizada segundo os critérios de Roma IV pela presença de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: • Presença incômoda de sensação de plenitude pós-prandial; • Saciedade precoce; • Dor epigástrica; • Sensação de queimação estomacal. Além disso, não deve haver qualquer evidência de doença gástrica ou duo- denal identifi cável. Gastrite e úlceras pépticas Gastrite corresponde a uma infl amação na mucosa gástrica que pode aparecer e desaparecer em um tempo curto sem deixar sequelas, ou então manifestar-se como uma infl amação crônica, que dura por um longo período de tempo. A gastrite crônica é defi nida histologicamente pela atrofi a crônica progressiva da mucosa gástrica. Tanto na gastrite como na úlcera, o que ocorre é um desequilíbrio entre os fatores que agridem a mucosa (ácido clorídrico) e os que a protegem (barreira da mucosa). Esse desequilíbrio resulta em uma lesão nesta mucosa. A úlcera péptica ocorre quando existe, então, uma lesão na mucosa gástri- ca e ainda a presença de uma bactéria gram-negativa denominada de Helicobacter pylori na região, conforme afi rma Cuppari em seu livro Guia de nutrição: nutrição clínica no adulto, de 2005. Caso não seja tratada, a úlcera pode evoluir para a con- dição de câncer de estômago; portanto, pode-se afi rmar que a infecção por Helicobacter pylori é uma das princi- pais causas do surgimento deste tipo de câncer. NUTRIÇÃO CLÍNICA 22 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 22 28/09/2020 16:28:48 Câncer de estômago As principais causas deste tipo de câncer estão relacionadas à dieta, uso de tabaco, exposição a agentes químicos e infecções por vírus. Por ser uma doença muitas vezes silenciosa, o câncer de estômago se desenvolve sem a percepção do paciente e, no momento em que é notado, pode já estar em estágio avançado. O tratamento médico consiste na maioria das vezes em ressecção cirúr- gica, que pode ser parcial ou total. A ressecção total do estômago, também chamada de gastrectomia total, é um procedimento em que o estomago é totalmente retirado e ocorre a anastomose entre o esôfago e o jejuno. A ressecção parcial do estômago é também chamada de gastrectomia parcial, na qual retira-se apenas uma porção do estômago. Após a ressecção gástrica, o paciente deve permanecer em jejum por 3 a 5 dias. O processo de reintrodução alimentar deve ser conduzido de forma individual e gradativo, de acordo com a evolução clínica do paciente e se- guindo determinadas características das dietas de evolução. Na ressecção gástrica, há a perda total ou parcial do espaço para a diges- tão do alimento no estômago, ocasionando uma passagem dos alimentos para o intestino delgado muito rápida, o qual não está acostumado a rece- ber essa grande quantidade de nutrientes tão rapidamente. Por isso, alguns pacientes podem apresentar síndrome de Dumping após a cirurgia, além de algumas outras complicações, como saciedade precoce, perda de peso e diversas deficiências nutricionais. A síndrome de Dumping pode ocorrer quando o paciente ingere alimentos com alto teor de gordu- ra e açúcar, e seus sintomas são taquicardia, náusea, diarreia e sudorese. Se na ressecção a porção do antro do estômago for retirada, ocorre atrofia das células parietais, as quais produ- zem o fator intrínseco, responsável pela absorção da vitamina B12. Devido a este fato, o paciente necessita de suplementação de vitamina B12 endovenosa, visando evitar uma deficiência desta vitamina. NUTRIÇÃO CLÍNICA 23 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 23 28/09/2020 16:28:48 Tratamento dietoterápico Em relação à dietoterapia na gastrite e úlceras pépticas, observe o Quadro 5: Valor energético total Sufi ciente para manter ou recuperar o estado nutricional Distribuição calórica Normal (Carboidratos: 50 a 60%, proteínas: 10 a 15% e lipídios: 25 a 30%) Consistência Geral ou adaptada às condições da cavidade oral Alimentos a serem evitados Bebidas alcoólicas: o álcool é um potente irritante da mucosa; Café: Irrita a mucosa; Pimenta: Irrita a mucosa; Refrigerantes: Aumentam a produção de ácido gástrico, resultando na irritação da mucosa; Mostarda em grão, chili e chocolates: Irritam a mucosa; Frutas ácidas e cítricas: Irritam a mucosa. Ambiente durante a alimentação Procurar fazer as refeições em ambiente tranquilo, comendo devagar e mastigando bem os alimentos QUADRO 5. DIETOTERAPIA NA GASTRITE E ÚLCERAS PÉPTICAS Fonte: CUPPARI, 2005, n.p. Dietoterapia no câncer gástrico Algumas orientações nutricionais que devem ser seguidas após a ressecção gástrica e alta hospitalar, se o paciente estiver com alimentação via oral, são (ASSAF, 2003): • Evitar o consumo de líquidos durantes as refeições; • Evitar a ingestão de alimentos gordurosos, muito açucarados e defumados; • Aumentar o fracionamento das refeições para 6 a 8 refeições diárias e reduzir o volume das mesmas; • Realizar as refeições em ambientes tranquilos. Na presença de Dumping: • Preferir leites e derivados sem lactose; • Evitar sacarose; • Evitar alimentos gordurosos. NUTRIÇÃO CLÍNICA 24 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 24 28/09/2020 16:28:48 O uso de fibras alimentares na dieta pode ser benéfico para evitar a síndrome de Dumping, uma vez que a fibra reduz o tempo de trânsito no trato gastrointestinal superior e diminui a taxa de absorção de glicose. Assim, pectina e fibras presentes em frutas e vegetais devem ser incluídas na dieta. Características das dietas de evolução após a ressecção gástrica As dietas a seguir devem evoluir seguindo a ordem escrita e de acordo com a adaptação individual do paciente. 1º dieta líquida de prova • Apenas água, chá e gelatina de cor clara e isenta de sacarose. 2º dieta líquida • Dietas de consistência líquida que devem ser coadas e de fácil di- gestão; • Alimentos permitidos: água, chás, café, sucos coados, bebidas isotônicas, água de coco, caldos de legumes coados, gelatinas de cor clara e vitaminas líquidas. Tudo deve ser coado. 3º dieta pastosa • Dieta de consistência pastosa com alimentos que sofrem ação mecâ- nica, visando facilitar a mastigação, deglutição e digestão; • Os alimentos são líquidos ou cremosos, cozidos e/ou liquidificados; • Alimentos permitidos: purês, sopas espessadas, liquidificadas ou sopa-creme, arroz pastoso, frutas cozidas picadas ou em forma de purê, frutas cruas macias (mamão, banana, abacate, melancia), picadas ou ras- padas em forma de papa. Todos os alimentos devem ser cozidos, liquidifi- cados ou pastosos. 3º dieta leve • Dieta de consistência semissólida, com alimentos que devem ser cozi- dos ou sofrer ação mecânica para serem oferecidos moídos ou desfiados; • Alimentos permitidos: leites e derivados, sucos e vitaminas de fru- ta, legumes sem casca e sem semente cozidos e amassados em forma de purê, frutas sem casca, sem semente e cozidas. NUTRIÇÃO CLÍNICA 25 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 25 28/09/2020 16:28:56 4º dieta branda • Dieta de transição para dieta geral, em que as fi bras e o tecido conectivo das carnes estão abrandados pela cocção. Evita-se frituras e con- dimentos, a fi m de facilitar a digestão; •Alimentos permitidos: carnes bem cozidas, sem pele e sem gordura, verduras de folhas cozidas ou refogadas, frutas cozidas e sem casca, bolo simples, pão de leite, arroz, macarrão e batata bem cozidos. Sintomas comuns da disfunção intestinal: diarreia, gases intestinais, flatulência, constipação Diarreia Conforme afi rma Cuppari em seu livro Guia de nutrição: nutrição clínica no adulto, de 2005, o aumento da frequência de evacuações, normalmente acima de 3 vezes ao dia, com fezes semi pastosas e/ou líquidas é classifi cado comodiarreia. Gases intestinais/fl atulência Os gases podem ser formados de determinadas maneiras, como engolir alimentos muito rapidamente, ingerir alimentos formadores de gases, ingerir antiácidos ou antibióticos e/ou ausência da prática de exercícios físicos. Constipação intestinal A constipação intestinal é uma alteração do funcionamento intestinal ca- racterizada pela redução do número de evacuações, formando fezes endu- recidas e esforço no momento de eliminá-las. Os sintomas mais comumente relatados são: difi culdade e redução do número de evacuações, fezes resse- cadas e sensação de evacuação incompleta. As causas da constipação são amplas e comple- xas, englobando: hábitos alimentares inadequados, falta de exercícios, doenças do intestino grosso (obstrução mecânica ou insufi ciência na propulsão do bolo fecal), neuropatia (diabetes), hemorroidas e neoplasias intestinais. NUTRIÇÃO CLÍNICA 26 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 26 28/09/2020 16:28:57 Tratamento dietoterápico Diarreia No tratamento dietoterápico da diarreia, segundo Cuppari (2005), as prin- cipais recomendações são: EXEMPLIFICANDO Paciente (A.S.), portadora de câncer de pulmão, está fazendo radiote- rapia e quimioterapia há 2 meses. A paciente refere saciedade precoce e diarreia, apresentando episódios de 5 evacuações líquidas por dia. Assim, o nutricionista deve estar atento à hidratação do paciente, pois com este sintoma perde-se muitos líquidos e eletrólitos. Para este caso, o profi ssional pode orientar o mesmo a ingerir líquidos, realizando o cálculo da necessidade hídrica do paciente, que é de 35mL/kg dia. Exem- plos de alimentos sugeridos neste caso são purê de batata, mingau de maisena e frutas obstipantes. • Aumento da oferta de líquidos e eletrólitos sufi ciente para repor as per- das. Podem ser utilizados para repor os eletrólitos água de coco e bebidas iso- tônicas (avaliar se o paciente é hipertenso); • Normalmente leite e seus derivados são evitados, visto que pode haver intolerância; • Evitar frutas laxativas como mamão, abacate, ameixa, laranja, kiwi, caqui e manga; • Preferir maçã, banana maçã, goiaba e suco de limão; • Evitar os grãos de feijão, preferir somente o caldo; • Consumir legumes sem casca e sementes. Gases intestinais/fl atulência Para eliminar ou reduzir a quantidade de gases intestinais deve-se evitar alimentos formadores de gases, como: • Brócolis, couve-fl or, couve e repolho; • Nabo, cebola crua, pimentão verde, rabanete, pepino e batata; • Grão de leguminosas: feijão, ervilha, grão de bico e lentilha; • Ovo cozido ou frito; • Leites e derivados com lactose; NUTRIÇÃO CLÍNICA 27 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 27 28/09/2020 16:28:57 • Bebidas gasosas como refrigerantes; • Excesso de açúcar. Constipação intestinal As fibras possuem um papel extremamente importante no tratamento nu- tricional da constipação intestinal. Isso posto, cabe ressaltar que a definição de fibras é a seguinte: são carboidratos não digeríveis pelo nosso sistema gas- trointestinal. Farelo de trigo e farelo de aveia, bem como cereais e grãos integrais, são indicados como fontes de fibras, as quais auxiliam no tratamento nutricional da constipação. A ameixa (preta) e seu suco também melhora, o funcionamento intestinal. A American Dietic Association recomenda a quantidade do consumo de fi- bras por dia como sendo 20 a 35 g/dia, e a ingestão hídrica deve ser aumentada no tratamento dietoterápico da constipação intestinal. Segundo Commane et al. (2009), a recomendação de ingestão hídrica deve ser de 35 ml/kg de peso atual/dia. O uso de probióticos, prebióticos e simbióticos também é recomen- dado na dietoterapia da constipação intestinal. Probióticos são microrganismos vivos que chegam intactos ao intestino e que, quando administrados em quantidades adequadas, contribuem para o desenvolvimento da microbiota intestinal saudável, além de trazerem bene- fícios para a saúde. São exemplos deste grupo os gêneros Bifidobacterium e Lactobacillus, a exemplo da espécie Lactobacillus acidophilus. Os alimentos que contém probióticos são os iogurtes e leites fermentados. Entretanto, eles podem ser prescritos para serem manipulados, seguindo a recomendação de dosagem indicada. Pode-se observar alteração benéfica da microbiota intestinal com doses contendo a partir de 109 unidades formadoras de colônias (UFC) de microrganismos probióticos. Já prebióticos são fibras não digeríveis, mas que fermentam em nossos intestinos e estimulam o crescimento das bactérias probióticas. Prebióticos como inulina, presente em alimentos como yacon, chicória, alcachofra, alho e aspargos, entre outros, e frutooligossacarídeos (FOS), presentes em alimentos como farinha de banana verde, centeio, açúcar mascavo, mel e tomate, entre outros, atuam como fatores bifidogênicos e colaboram com os mecanismos de ação dos probióticos. NUTRIÇÃO CLÍNICA 28 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 28 28/09/2020 16:28:57 Estímulos Bifidobactérias Lactobacilos Prebióticos •Inulina •Oligofrutose Probióticos provenientes da dieta Intestino delgado •Não digeridos •Não absorvidos Cólon •Bifidobactérias endógenas •Bifidobactérias da dieta Intestino delgado •Lactobacilos endógenos •Lactobacilos da dieta Cólon Efeito bifidogênico Efeitos probióticos •Modulação da microbiota intestinal Competição por sítios de adesão Competição por nutrientes •Alteração do metabolismo microbiano Aumento ou diminuição da atividade enzimática •Estímulo da imunidade do hospedeiro Aumento dos níveis de anticorpos Aumento da atividade dos macrófagos •Estímulo na absorção de determinados nutrientes como cálcio •Outros possíveis efeitos probióticos Figura 4. Mecanismo de ação dos probióticos e prebióticos. Fonte: OLIVEIRA, 2014, p. 8. Já simbióticos são uma associação de probióticos com prebióticos. Os sim- bióticos são recomendados quando há necessidade de ofertar tanto a fibra alimentar quanto o microrganismo. Geralmente, são muito utilizados quando o indivíduo faz uso de certos me- dicamentos, como os antibióticos, em condições pré-operatórias, objetivando evitar infecções no pós-operatório. NUTRIÇÃO CLÍNICA 29 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 29 28/09/2020 16:28:57 Sintetizando Iniciamos nosso estudo abordando as doenças do trato gastrointestinal, mui- to comuns em diversos pacientes. Algumas dessas doenças são a esofagite, o câncer de cavidade oral, esôfago ou estômago, a diarreia e a constipação intes- tinal. Vimos também quais são os aspectos fisiológicos do aparelho digestório, que inclui boca, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso. Estudamos a esofagite e seu tratamento, além da hérnia de hiato e o câncer da cavidade oral, faringe e esôfago, que pode ser definido como um conjunto de doenças que se assemelham pelo crescimento desordenado de células, que invadem os tecidos e órgãos. Vimos as características da indigestão/dispepsia, gastrite e úlceras pépticas e o câncer de estômago, além de quais são os tratamentos dietoterápicos para gastrite e úlceras pépticas. Por fim, vimos sintomas comuns da disfunção intesti- nal, como diarreia, gases intestinais, flatulência e constipação. Em síntese, aprendemos sobre a fisiologia e patologia do sistema gastroin- testinal e suas intervenções nutricionais. O aluno deve então, a partir daqui, conseguir diagnosticar e realizar intervenções nutricionais com pacientes com disfunções do trato gastrointestinal. É necessário ressaltar que que cada caso é um caso e que sempre deve-se respeitar a aceitação do paciente, uma vez que cada organismo é único. NUTRIÇÃO CLÍNICA 30 SER_NUTRI_NUCLI_UNID1.indd 30 28/09/2020 16:28:57 Referências bibliográficas ASSAF, L. Terapia nutricional dos pacientes com tumores abdominais. In: IKEMORI, E. H. A. et al. Nutrição em Oncologia. São Paulo: Tecmedd, 2003. BACKHED, F.; LEY, R. E.; SONNENBURG, J. L.; et al., Host-bacterial mutualismin the hu- man intestine. Science, v. 307, p. 1915-1920, 2005. BELKAID, Y.; HAND T. W. Role of the microbiota in immunity and inflammation. Cell, v. 157, p. 121‐141, 2014. CLARKE, G. et al. Minireview: Gut microbiota: The neglected endocrine organ. Molecu- lar Endocrinology, v. 28, p. 1221-1238, 2014. COMMANE, D. M.; ARASARADNAM, R. P.; MILLS, S.; et al., Diet, ageing and genetic fac- tors in the pathogenesis of diverticular disease. World Journal of Gastroenterology, v. 15, n. 20, p. 2479-2488, 2009. COTRIM, T. H. Acompanhamento nutricional de pacientes em radioterapia e quimio- terapia. In: IKEMORI, E. H. A. et al. Nutrição em oncologia. São Paulo: Tecmedd, 2003. 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Doenças inflamatórias intesti- nais: doença de Crohn e retocoli- te ulcerativa inespecífica Tratamento dietoterápico Doença celíaca Tratamento dietoterápico Espru tropical Tratamento dietoterápico Deficiência de lactase (intole- rância à lactose) Tratamento dietoterápico Síndrome do intestino irritável Tratamento dietoterápico Câncer de cólon e pólipos Tratamento dietoterápico Doença diverticular (diverticu- lose/diverticulite) Tratamento dietoterápico NUTRIÇÃO CLÍNICA 34 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 34 28/09/2020 17:08:05 Doenças inflamatórias intestinais: doença de Crohn e retocolite ulcerativa inespecífica As doenças infl amatórias intestinais mais comuns são representadas pela doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. As causas para o desenvolvimento destas doenças são multifatoriais, incluindo fatores ambientais e genéticos, e o diagnóstico pode ser difícil, principalmente em seus estágios iniciais. Embora essas doenças sejam reconhecidas por processo infl amatório, elas apresentam algumas características distintas. A retocolite ulcerativa por exem- plo é determinada por uma infl amação não transmural, ou seja, limitada ao cólon e reto, e apresenta lesão contínua. Já na doença de Crohn, a infl amação é transmural e pode atingir qualquer porção do trato gastrointestinal de forma descontínua (CAZARIN, 2014). Estreitamento Íleo terminal Infl amação cólon descendente Locais de manifestação das doenças infl amatórias intestinais Áreas infl amadas Colite ulcerativa Doença de Crohn Figura 1. Diferenças entre os locais de manifestação entre a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa inespecífi ca. Fonte: Apbiocorpohumano, 2009. A etiologia da doença ainda não foi totalmente esclarecida, embora se sai- ba que as doenças infl amatórias intestinais têm infl uência genética. Ademais, a microbiota intestinal e a dieta praticada também interferem no desenvolvi- mento das patologias, uma vez que a dieta consegue modular a comunidade microbiana intestinal. O aparecimento dessas doenças também está relaciona- do à alta ingestão de sacarose, desequilíbrio na ingestão de carne vermelha, ál- NUTRIÇÃO CLÍNICA 35 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 35 28/09/2020 17:08:07 cool, proporção de ácidos graxos ômega 3/ômega 6 e baixo consumo de frutas, hortaliças e fi bras alimentares. O intestino funciona como uma barreira física seletiva que tanto permite a absorção de água e nutrientes quanto impede o contato direto das bactérias intestinais com o sistema imunológico. Assim, a passagem controlada de com- ponentes bacterianos permite que o organismo adquira tolerância imune. En- tretanto, portadores de doenças infl amatórias intestinais apresentam altera- ções na microbiota intestinal, redução da tolerância imune e dos mecanismos de defesa e elevação de marcadores infl amatórios, levando à lesão tecidual. Os principais sinais e sintomas das doenças infl amatórias intestinais in- cluem dor abdominal, diarreia, sangramento retal, febre, perda de peso, ane- mia, intolerâncias alimentares, e desnutrição. O tratamento médico é estabelecido com base no alívio dos sintomas e na melhora da qualidade de vida do paciente e utiliza corticoides, anti-infl amató- rios e imunomoduladores. O tratamento cirúrgico também pode ser recomen- dado dependendo do tipo de doença infl amatória intestinal, severidade e local da lesão. Na doença de Crohn, pode ser necessária a retirada de segmentos importantes do intestino, o que poderá difi cultar a absorção de nutrientes. O tratamento nutricional tem como objetivo restaurar ou manter o estado nutricional do paciente, uma vez que a presença de desnutrição pode compro- meter ainda mais seu sistema imunológico e a função absortiva do intestino. Nesse sentido, pode-se indicar a utilização de terapia nutricional enteral, visan- do o estímulo do trato digestivo, e a nutrição parenteral, em casos que houver grandes ressecções, fístulas, obstrução intestinal e síndrome do intestino cur- to (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2010). Tratamento dietoterápico Recomendações nutricionais: • Proteínas: 1,3 – 1,5 g / kg / dia; • Lipídeos: hipolipídica (20% das calorias totais); • Carboidratos: na fase aguda deve-se evitar a ingestão de lactose, visto que esta pode provocar cólicas abdominais. A dieta deve ser rica em fi bras solúveis, a fi mde estimular a fermentação bacteriana e aumentar a produção de ácidos NUTRIÇÃO CLÍNICA 36 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 36 28/09/2020 17:08:07 graxos de cadeia curta, e pobre em fi bras insolúveis. Em caso de estenose ou obstrução parcial do intestino, deve-se diminuir a ingestão de fi bras alimen- tares. Por fi m, na fase de remissão, devem-se aumentar progressivamente as fi bras insolúveis. Outras estratégias: • Aumentar o fracionamento das refeições; • Em casos de má absorção de gordura, a utilização de triglicerídeos de ca- deia média pode contribuir para o estado nutricional do paciente, pois além de terem absorção facilitada, podem aumentar o valor calórico da refeição; • Modulação da microbiota intestinal através do consumo de probióticos (bactérias vivas); • Aumentar a ingestão de alimentos prebióticos (oligossacarídeos, fi bras fermentáveis e amido resistente), posto que estes auxiliam na produção de ácidos graxos de cadeia curta; • Evitar alimentos que produzem gases, como repolho, couve-fl or, brócolis, ovos, leguminosas, refrigerantes e excesso de açúcar. Pontos importantes no tratamento de doenças infl amatórias intestinais: • Realizar reposição de fl uídos e eletrólitos em caso de vômitos e diarreia; • Monitorar o possível surgimento de intolerâncias alimentares, e reduzir o consumo de lactose ou glúten se necessário; • Controlar o processo infl amatório através da ingestão de óleos de peixe; • Monitorar defi ciências nutricionais, suplementando vitaminas e minerais quando necessário; • Aumentar a ingestão de frutas e fi bras dietéticas quando possível. Doença celíaca A doença celíaca é uma doença infl amatória autoimune causada pela sensi- bilidade ao glúten. O glúten é uma proteína presente em alimentos como trigo, cevada e centeio, os quais provocam a atrofi a do epitélio intestinal, diminuindo o processo de absorção. Como consequência, a doença celíaca pode levar ao desenvolvimento de defi ciências nutricionais e perda de peso. Em condições normais, o intestino delgado é constituído por células deno- minadas enterócitos, que secretam enzimas específi cas para a digestão de dis- NUTRIÇÃO CLÍNICA 37 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 37 28/09/2020 17:08:07 sacarídeos. Para que a atividade de absorção ocorra de maneira eficiente, os enterócitos formam uma estrutura chamada de borda em escova, ou projeções das microvilosidades intestinais, que permite o aumento da área superficial em pelo menos 20 vezes. Vilosidades Veia porta hepática MicrovilosidadesLúmen Vaso linfático Rede de capilares Para o fígado Intestino Vilosidades Vilosidade normal Atrofia de vilosidade e hiperplasia de criptas Figura 2. Estruturas das vilosidades intestinais. Fonte: Só Biologia, [s.d.]. Figura 3. Fotomicrografia de intestino saudável e de intestino com atrofia de vilosidades. Fonte: TORRES, 2019. No paciente celíaco, o consumo de glúten gera uma reação inflamatória e au- toimune, levando a atrofia das vilosidades e má absorção de nutrientes. A Figura 3 demonstra as diferenças histológicas do intestino saudável e daquele portador de doença celíaca. Observe que a segunda fotomicrografia apresenta achatamento das vilosidades: esse quadro diminui a superfície de absorção dos nutrientes. Vilosidades NUTRIÇÃO CLÍNICA 38 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 38 28/09/2020 17:08:09 As causas para o desenvolvimento de doença celíaca parecem estar rela- cionadas à predisposição genética juntamente com determinados fatores de- sencadeantes, que estimulam resposta imunitária aumentada quando ocorre a ingestão de glúten. O glúten representa uma fração proteica presente em alguns cereais como trigo, cevada e centeio. Os agressores presentes no trigo são as gluteninas e gliadinas, no centeio a secalina e, por fi m, a hordeína na cevada. A presença dessas moléculas no intestino delgado desencadeia uma reação imunológica e promove sintomas como náuseas, cólicas abdominais, diarreia, perda de peso, anemia, dermatite e osteomalacia (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2010). O diagnóstico para a doença celíaca envolve testes sorológicos como a de- tecção de antitransglutaminase tecidual (TTG), antiendomísio e antigliadina. Para o correto diagnóstico, a avaliação deve ocorrer antes do paciente retirar o glúten da dieta, uma vez que a alimentação pode afetar o resultado. O padrão ouro para o diagnóstico é a biópsia do intestino delgado, para avaliação da mucosa intestinal. Tratamento dietoterápico O tratamento dietético na doença celíaca é essencial para o paciente e consiste na retirada do glúten da dieta, que é o fator agressor da mucosa intestinal. O tratamento permite que o paciente melhore e amenize os sintomas gastrointestinais dentro de alguns dias, mas a melhora histológica do intestino pode levar anos dependendo do caso. A Associação de Celíacos do Brasil (ACELBRA, [s.d.]) dispõe uma lista de alimen- tos que podem ser consumidos e que devem ser evitados pelos celíacos: Grupo: farinhas e féculas, cereais, tubérculos e seus subprodutos, que en- contramos em forma de pó. Permitidos: os mais indicados são arroz, batata, milho e mandioca. Arroz: farinha de arroz, creme de arroz, arrozina, arroz integral em pó e seus derivados. Lembrando que o creme de arroz não é creme ou pasta, e sim um pó. Milho: fubá, farinha, amido de milho, fl ocos, canjica e pipoca. Batata: fécula ou farinha. Mandioca ou aipim: fécula ou farinha, como tapioca, polvilho doce ou azedo. Macarrão de cereais: arroz, milho e mandioca. Cará, inhame, araruta, sagu e trigo sarraceno. NUTRIÇÃO CLÍNICA 39 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 39 28/09/2020 17:08:09 Não recomendáveis: Trigo: farinha, semolina, germe e farelo. Aveia: flocos e farinha. Centeio. Cevada: farinha. Malte. Todos os produtos elaborados com os cereais citados. Grupo: bebidas Permitidos: sucos de frutas e vegetais naturais, refrigerantes e chás. Vinhos, champagnes, aguardentes e saquê. Cafés com selo ABIC. Não recomendáveis: cerveja, whisky, vodca, gin e ginger-ale. Ovomaltine, bebi- das contendo malte, cafés misturados com cevada. Outras bebidas cuja composição não esteja clara no rótulo. Grupo: Leites e derivados Permitidos: leite em pó e esterilizados, leites integrais, desnatados e semi- desnatados. Leite condensado e cremes de leite. Queijos frescos, tipo minas, ricota e parmesão. Pães de queijo. Para iogurte e requeijão, verificar observa- ções nas embalagens. Não recomendáveis: leites achocolatados que contenham malte ou ex- trato de malte, queijos fundidos e queijos preparados com cereais proibi- dos. Na dúvida ou ausência das informações corretas nas embalagens, não adquira o produto. Grupo: açúcares, doces e achocolatados Permitidos: açúcar de cana, mel, melado, rapadura, glucose de milho, maltodex- trina, dextrose e glicose. Geleias de fruta e de mocotó, doces e sorvetes caseiros preparados com alimentos permitidos. Achocolatados de cacau, balas e caramelos. Não recomendáveis: para todos os casos, verifique as embalagens. Grupo: carnes (boi, aves, porco, cabrito, rãs, etc.), peixes e produtos do mar, ovos e vísceras (fígado, coração) Permitidos: todas, incluindo presunto e linguiça caseira. Não recomendáveis: Patês enlatados, embutidos (salame, salaminho e algumas salsichas). Carnes à milanesa. Grupo: gorduras e óleos Permitidos: manteiga, margarina, banha de porco, gordura vegetal hidrogenada, óleos vegetais e azeite. Grupo: grãos Permitidos: feijão, broto de feijão, ervilha seca, lentilha, amendoim e grão de bico, soja (extrato proteico de soja, extrato hidrossolúvel de soja). NUTRIÇÃO CLÍNICA 40 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 40 28/09/2020 17:08:09 Não permitidos: extrato proteico vegetal e proteína vegetal hidrolisada. Grupo: hortaliças Permitidos: Todos os legumes e verduras são permitidos Grupo: condimentos Permitidos: sal, pimenta, cheiro-verde, erva, temperos caseiros, maionese ca- seira, vinagre fermentado de vinhostinto e de arroz e glutamato monossódico. Não permitidos: maionese industrializada, ketchup, mostarda e temperos industrializados podem conter glúten. Leia o rótulo com muita atenção. Grupo: quaisquer alimentos Permitidos: Leia atentamente os rótulos. Não permitidos: Os proibidos devem ter a expressão “contém glúten” no rótulo. CURIOSIDADE Com a fi nalidade de facilitar as escolhas alimentares de indivíduos com doença celíaca, a Anvisa, através da determinação da Lei nº 10.674/2003, prevê que todos os alimentos industrializados devem obrigatoriamente trazer em seu rótulo as inscrições “contém glúten” ou “não contém glú- ten”, conforme cada caso. Espru tropical O termo espru refere-se às doenças que ocasionam redu- ção da absorção pela mucosa intestinal. O espru tropical di- fere do espru não tropical por ocorrer nos trópicos e estar relacionado à infecção bacteriana (HALL, 2017). Assim, a inflamação da mucosa intestinal reduz a absorção de nu- trientes, ocasionando diarreia e com possibilidade de evoluir para ano- rexia, distensão abdominal e deficiências nutricionais variadas. O espru tropical parece ter origem bacteriana, mas sua causa exata ainda precisa ser elucidada. As características da doença incluem alte- rações celulares do trato gastrointestinal, da população bacteriana e na motilidade intestinal. Aqui, também se pode encontrar mucosa gástrica atrofiada, inflamada e com redução dos níveis de ácido clorídrico e fator intrínseco. NUTRIÇÃO CLÍNICA 41 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 41 28/09/2020 17:08:09 Tratamento dietoterápico O tratamento para espru tropical pode incluir o uso de antibióticos, garantia de reposição hidroeletrolítica e fornecimento de macronutrientes e micronu- trientes, podendo ser necessária suplementação em caso de defi ciência nutri- cional. O tratamento nutricional pode englobar abordagens semelhantes ao tratamento de diarreia, como: • Garantir hidratação com reposição de eletrólitos; • Evitar o consumo de leite, uma vez que a diarreia pode provocar intolerân- cia à lactose; • Incluir alimentos como banana e maçã devido à presença de pectina; • Moderar o consumo de gordura; • Ingerir probióticos, que podem auxiliar na reconstituição da fl ora intestinal. Deficiência de lactase (intolerância à lactose) Os enterócitos presentes no intestino delgado são células especializadas que permitem o processo de absorção intestinal. Algumas enzimas podem ser encontradas nas células epiteliais e auxiliam na digestão de dissacarídeos, que- brando ligações moleculares. As enzimas secretadas incluem sacarase, lactase, maltase e isomaltase. Isso posto, a intolerância à lactose é considerada uma intolerância ali- mentar, ou seja, é decorrente de uma reação adversa a um alimento devido à forma com que o organismo o pro- cessa, sem ativar o sistema imunoló- gico. Neste caso, a intolerância ocorre pela ingestão de alimentos que conte- nham lactose e que o organismo não é capaz de digerir corretamente, graças à defi ciência da enzima lactase. Quan- do a lactose atinge o intestino grosso, as bactérias intestinais fermentam o açúcar, causando desconforto abdominal e diarreia. NUTRIÇÃO CLÍNICA 42 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 42 28/09/2020 17:08:17 A defi ciência de lactase, em sua maioria, está relacionada a causas ge- néticas. A intolerância à lactose poda ocasionar fl atulências, distensão ab- dominal, cólicas e diarreia algumas horas após a ingestão de produtos ou alimentos contendo lactose. A presença de lactose no intestino que tenha defi ciência de lactase pre- judica a absorção do açúcar e, como consequência, as bactérias intestinais fermentam o substrato, liberando ácidos graxos de cadeia curta, dióxido de carbono e gás hidrogênio, o que resulta em fl atulências e cólicas. A lactose também pode aumentar a osmolaridade intestinal, contribuindo para a re- tenção de água e causando inchaço. Tratamento dietoterápico O tratamento da intolerância à lactose envolve a ingestão controlada de alimentos que possuam o dissacarídeo, segundo afirmam Nelson e Cox em seu livro Princípios de bioquímica de Lehninger, de 2014. É impor- tante ressaltar que os indivíduos que optarem pela redução de lácteos podem necessitar de suplementação de cálcio e vitamina D. No entanto, a maioria dos intolerantes à lactose admitem seu consumo em pequenas quantidades (até 12 g/dia), o que torna desnecessária a retirada total da lactose da dieta. Uma das estratégias que podem ser utilizadas para o tratamento de intole- rância à lactose é a introdução gradual do dissacarídeo, de forma que a ex- posição controlada possa aumentar a tolerância pela modulação da fl ora bac- teriana. Assim, produtos como quei- jos curados e iogurtes costumam ser bem tolerados, devido ao baixo teor de lactose desses produtos (MAHAN & ESCOTT-STUMP, 2010). A Tabela 1 apre- senta os níveis de alguns alimentos que contém lactose. NUTRIÇÃO CLÍNICA 43 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 43 28/09/2020 17:08:28 TABELA 1. CONTEÚDO DE LACTOSE NO LEITE, PRODUTOS LÁCTEOS E ALGUNS PRODUTOS MANUFATURADOS Alimento Tipo % por peso Leite Desnatado* 4,8 Semi-desnatado* 4,7 Integral* 4,6 Condensado, integral, adoçado* 12,3 Pó desnatado* 52,9 Evaporado, integral* 8,5 Cabra 4,4 Humano 7,2 Ovelha 5,1 Creme Único 2,2 Duplo 1,7 Amargo 2,7 Crème fraîche 2,1 Imitação de creme como, por exemplo, Elmlea, Tip Top, Dream Topping 2,3-6,8 Queijo Brie / camembert Traços Cheddar 0,1 Requeijão 4,4 Requeijão, reduzido de gordura 7,3 Queijo cottage 3,1 Queijo cottage, reduzido de gordura 3,3 Queijo cremoso Traços Dinamarquês azul Traços Stilton 0,1 Edam / gouda Traços Feta 1,4 Queijo de cabra 0,9 Muçarela Traços Parmesão 0,9 Fatias de queijo processado 5,0 LeiteLeite Desnatado* Semi-desnatado* Desnatado* Semi-desnatado* Condensado, integral, adoçado* Desnatado* Semi-desnatado* Condensado, integral, adoçado* Desnatado* Semi-desnatado* Integral* Condensado, integral, adoçado* Semi-desnatado* Integral* Condensado, integral, adoçado* Semi-desnatado* Integral* Condensado, integral, adoçado* Pó desnatado* Evaporado, integral* Condensado, integral, adoçado* Pó desnatado* Evaporado, integral* Condensado, integral, adoçado* Pó desnatado* Evaporado, integral* Condensado, integral, adoçado* Pó desnatado* Evaporado, integral* Cabra Condensado, integral, adoçado* Evaporado, integral* Cabra Humano Condensado, integral, adoçado* Evaporado, integral* Humano Ovelha 4,8 Humano Ovelha 4,8 4,7 Ovelha 4,7 4,6 12,3 52,952,9 8,58,5 4,44,4 7,2 5,1 CremeCreme Único Imitação de creme como, por exemplo, Único Duplo Imitação de creme como, por exemplo, Duplo Amargo Crème fraîche Imitação de creme como, por exemplo, Elmlea, Tip Top, Dream Topping Amargo Crème fraîche Imitação de creme como, por exemplo, Elmlea, Tip Top, Dream Topping Amargo Crème fraîche Imitação de creme como, por exemplo, Elmlea, Tip Top, Dream Topping Crème fraîche Imitação de creme como, por exemplo, Elmlea, Tip Top, Dream Topping Brie / camembert Crème fraîche Imitação de creme como, por exemplo, Elmlea, Tip Top, Dream Topping Brie / camembert Imitação de creme como, por exemplo, Elmlea, Tip Top, Dream Topping Brie / camembert Cheddar Imitação de creme como, por exemplo, Elmlea, Tip Top, Dream Topping Brie / camembert Cheddar Requeijão Imitação de creme como, por exemplo, Elmlea, Tip Top, Dream Topping Brie / camembert Cheddar Requeijão 2,2 Imitação de creme como, por exemplo, Elmlea, Tip Top, Dream Topping Requeijão 1,7 Imitação de creme como, por exemplo, Requeijão 1,7 2,7 2,1 2,3-6,82,3-6,8 TraçosTraçosTraços 0,1 4,44,4 QueijoQueijoQueijo Requeijão, reduzido de gorduraRequeijão, reduzido de gorduraRequeijão, reduzido de gordura Queijo cottage, reduzido de gordura Requeijão, reduzido de gordura Queijo cottage Queijo cottage, reduzido de gordura Requeijão,reduzido de gordura Queijo cottage Queijo cottage, reduzido de gordura Requeijão, reduzido de gordura Queijo cottage Queijo cottage, reduzido de gordura Requeijão, reduzido de gordura Queijo cottage Queijo cottage, reduzido de gordura Queijo cremoso Requeijão, reduzido de gordura Queijo cottage Queijo cottage, reduzido de gordura Queijo cremoso Dinamarquês azul Requeijão, reduzido de gordura Queijo cottage, reduzido de gordura Queijo cremoso Dinamarquês azul Queijo cottage, reduzido de gordura Queijo cremoso Dinamarquês azul Queijo cottage, reduzido de gordura Queijo cremoso Dinamarquês azul Stilton Queijo cottage, reduzido de gordura Dinamarquês azul Stilton Edam / gouda Queijo cottage, reduzido de gordura Dinamarquês azul Stilton Edam / gouda 7,3 Edam / gouda 7,3 Edam / gouda Feta 3,1 3,33,3 TraçosTraçosTraços TraçosTraços 0,1 TraçosTraços 1,4 Queijo de cabraQueijo de cabraQueijo de cabra Muçarela Fatias de queijo processado Queijo de cabra Muçarela Parmesão Fatias de queijo processado Queijo de cabra Muçarela Parmesão Fatias de queijo processado Parmesão Fatias de queijo processadoFatias de queijo processadoFatias de queijo processadoFatias de queijo processadoFatias de queijo processado 1,4 0,90,9 TraçosTraçosTraços 0,9 5,05,0 NUTRIÇÃO CLÍNICA 44 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 44 28/09/2020 17:08:29 Iogurte Natural 4,7 Fruta 4,0 Iogurte de beber 4,0 Fromage frais natural 4,0 Fromage frais de fruta 3,0 Tzatziki (com pepinos) 0,3 Pudins Milkshake comum 4,5 Sorvete de baunilha não lácteo 4,8 Sorvete de baunilha lácteo 5,2 Sorvete de chocolate 4,7 Arroz doce 3,9 Creme feito com leite integral 5,2 Mousse de chocolate 3,8 *Leite de vaca IogurteIogurte NaturalNatural Iogurte de beber Natural Fruta Iogurte de beber Fromage frais Fruta Iogurte de beber Fromage frais Fromage frais Iogurte de beber Fromage frais Fromage frais Tzatziki Iogurte de beber Fromage frais Fromage frais Tzatziki Iogurte de beber natural Fromage frais Tzatziki (com pepinos)Tzatziki (com pepinos)Tzatziki natural de fruta (com pepinos) de fruta (com pepinos) de fruta (com pepinos) (com pepinos) 4,7 4,0 4,04,0 4,04,0 3,0 0,3 PudinsPudins *Leite de vaca*Leite de vaca Sorvete de baunilha não lácteo *Leite de vaca Milkshake comum Sorvete de baunilha não lácteo *Leite de vaca Milkshake comum Sorvete de baunilha não lácteo Sorvete de baunilha lácteo *Leite de vaca Milkshake comum Sorvete de baunilha não lácteo Sorvete de baunilha lácteo Milkshake comum Sorvete de baunilha não lácteo Sorvete de baunilha lácteo Sorvete de chocolate Milkshake comum Sorvete de baunilha não lácteo Sorvete de baunilha lácteo Sorvete de chocolate Sorvete de baunilha não lácteo Sorvete de baunilha lácteo Sorvete de chocolate Creme feito com leite integral Sorvete de baunilha não lácteo Sorvete de baunilha lácteo Sorvete de chocolate Arroz doce Creme feito com leite integral Sorvete de baunilha não lácteo Sorvete de baunilha lácteo Sorvete de chocolate Arroz doce Creme feito com leite integral Mousse de chocolate Sorvete de baunilha lácteo Sorvete de chocolate Arroz doce Creme feito com leite integral Mousse de chocolate Sorvete de chocolate Creme feito com leite integral Mousse de chocolate Creme feito com leite integral Mousse de chocolate Creme feito com leite integral Mousse de chocolate 4,5 Creme feito com leite integral Mousse de chocolate 4,8 Creme feito com leite integral Mousse de chocolate 5,25,2 4,7 3,9 5,25,2 3,8 Fonte: MATAR; MAZZO, 2010, p. 233. Objetivos e estratégias no tratamento dietoterápico da defi ciência de lactase • Gerenciar a dor e desconforto abdominal controlando a ingestão de lactose; • Monitorar a defi ciência de cálcio. Podem ser indicados alimentos que conte- nham cálcio, mas sem lactose; • Monitorar a tolerância à lactose, ingerindo gradualmente o dissacarídeo; • Fornecer suplementos da enzima lactase, ingerindo-os minutos antes de consumir algum produto contendo lactose. Síndrome do intestino irritável A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio carac- terizado por alterações da motilidade intestinal, mas em que não há evidências de modificações metabólicas, bioquími- cas ou estruturais. Como o sistema nervoso entérico responde às influências do sistema nervoso central, os indivíduos que já possuem alterações na motilidade intestinal são mais propensos a desenvolver os sintomas da SII, majorita- riamente desencadeados por problemas emocionais. NUTRIÇÃO CLÍNICA 45 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 45 28/09/2020 17:08:30 O stress do cotidiano, mudanças de emprego, viagens, reuniões ou situa- ções sociais desconfortáveis podem ser alguns dos fatores causais do surgi- mento ou agravamento dos sintomas. Além de fatores psicológicos, antibióti- cos, cafeína e falta de regularidade no sono também interferem no surgimento ou agravamento da síndrome. Essa síndrome apresenta como sintomas dor/desconforto abdominal asso- ciados a mudanças do hábito intestinal, como constipação e/ou diarreia. A pre- sença de muco nas fezes, flatulência e distensão abdominal também ocorrem na maioria dos casos. O Consenso Roma II estabeleceu os critérios mais utilizados para o diagnós- tico da SII. Isso posto, caracteriza-se como SII quando houver dor e/ou descon- forto abdominal, com a presença de pelo menos duas das três características seguintes: alterações da consistência das fezes, alterações na frequência das evacuações e alívio ao evacuar, por no mínimo 12 semanas de evolução, nos últimos 12 meses (TALLEY et al., 2000). Fonte: PASSOS, 2006, n.p. O tratamento medicamentoso como ilustrado na figura apresentada é pres- crito pelo médico de acordo com os sintomas relatados, incluindo desde anti- diarreicos até antidepressivos. Síndrome do intestino irritável Dor predominante Antiespasmódicos Antidepressivos Alosetron* (se diarreia associada) Tegaserode (se constipação associada) Antidiarreicos Alosetron* Cilansetron* Laxativos (fibras ou osmóticos) Tegaserode Antidepressivos Alosetron* (se predomina diarreia) Tegaserode (se predomina constipação) Psicoterapia Diarreia predominante Constipação predominante Forma grave ou refratária DIAGRAMA 1. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO NA SII NUTRIÇÃO CLÍNICA 46 SER_NUTRI_NUCLI_UNID2.indd 46 28/09/2020 17:08:30 Tratamento dietoterápico A dietoterapia para os pacientes com síndrome do intestino irritável deve ser pobre em FODMAPs. Este termo vem de uma sigla em inglês que signifi ca: F (Fermentable), O (Oligosaccharides), D (Disaccharides), M (Monosaccharide), A (And), P (Polyols). A sigla F vem do inglês Fermentable, que traduzido para o português sig- nifi ca fermentação, um processo no qual as bactérias intestinais degradam carboidratos e produzem gases (hidrogênio, metano e dióxido de carbono). O restante das siglas estão exemplifi cadas em português no Quadro 1, além de seu subgrupo alimentar e exemplos de alimentos. Letra na sigla FODMAPs Subgrupo que é o FODMAPs Alimentos Oligossacarídeos Frutanos Trigo, aveia, centeio, cevada, alho poró, alho e cebola. Dissacarídeos Apenas a lactose Leite e seus derivados. Monossacarídeos Apenas a frutose Maçã, manga, sucos de frutas, frutas secas e mel. Polióis Sorbitol Manitol Xilitol Maltitol Adoçantes derivados de álcoois. QUADRO 1. FODMAPS, SUBGRUPOS E ALIMENTOS OligossacarídeosOligossacarídeosOligossacarídeos Dissacarídeos Oligossacarídeos Dissacarídeos Monossacarídeos Oligossacarídeos Dissacarídeos Monossacarídeos Dissacarídeos MonossacarídeosMonossacarídeosMonossacarídeosMonossacarídeos Polióis Polióis FrutanosFrutanos Apenas a lactose Frutanos Apenas a lactose Apenas a frutose Apenas a lactose Apenas a frutose Apenas a lactose Apenas a frutose Apenas a lactose Apenas a frutoseApenas a frutose Sorbitol Manitol Trigo, aveia, centeio, cevada,
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