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DESCRIÇÃO Introdução dos principais temas da produção científica e pesquisas científicas desenvolvidas na área de nutrição. PROPÓSITO Apresentar os principais temas abordados pela pesquisa e produção científica na área de nutrição de acordo com os principais núcleos de saberes e destaque no contexto da pesquisa brasileira. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer a produção científica na área de nutrição e os diversos campos e núcleos de saberes MÓDULO 2 Identificar a produção científica em nutrição clínica e esportiva MÓDULO 3 Descrever a produção científica em alimentação e nutrição em saúde coletiva MÓDULO 4 Definir a produção científica em ciência e tecnologia dos alimentos INTRODUÇÃO A produção de conhecimento científico no Brasil se dá basicamente nas universidades. De forma geral, os pesquisadores se organizam por meio de grupos para o desenvolvimento de pesquisas científicas, interação com outros grupos e instituições e avaliação de seus projetos por outros pesquisadores. Esses grupos são cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa da Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Nesse amplo banco de dados, é possível encontrar informações sobre as diferentes áreas de conhecimento, linhas de pesquisa e sua produção científica, tecnológica e artística, inclusive, na área de nutrição. A produção científica brasileira na área de nutrição se destaca pelas temáticas relacionadas à melhoria da qualidade de vida das pessoas por meio da alimentação; e também ligadas à composição, características e efeitos dos alimentos, nutrientes e compostos bioativos nas mais diferentes situações. Por outro lado, pesquisas em inovação tecnológica para produção de alimentos e refeições buscam atender não só às demandas dos indivíduos e de grupos populacionais, mas também do setor produtivo e econômico. A maioria das linhas de pesquisa da área se desenvolve em nutrição clínica e esportiva, alimentação e nutrição em saúde coletiva e ciência e tecnologia dos alimentos; os campos mais abordados nos estudos científicos publicados. Assim, desenha-se o cenário da pesquisa e produção científica da nutrição no Brasil, que será descrito a seguir. MÓDULO 1 Reconhecer a produção científica na área de nutrição e os diversos campos e núcleos de saberes ORIGEM DOS ESTUDOS EM ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO A pesquisa e a produção científica na área da nutrição demonstram, desde a origem, grande relevância científica e compromisso com a melhoria das condições de vida em sociedade e com o desenvolvimento da humanidade. Os trabalhos de Josué de Castro, iniciados nos anos 1930 com a publicação de As condições de vida das classes operárias no recife , foram diretamente responsáveis pela elaboração da ração essencial mínima (alimentos e suas respectivas quantidades para garantir a sobrevivência humana) e constituem um marco da assistência social e da saúde no Brasil. Esse pesquisador se dedicou a chamar a atenção para os problemas da fome e da miséria em todo o mundo, tendo sido, em 1951, nomeado presidente do Conselho Executivo da Organização para Alimentação e Agricultura (Food and Agricultural Organization , FAO), da Organização Mundial da Saúde (OMS). Data do século XIX o surgimento da pesquisa científica sobre alimentação e nutrição da população brasileira, a partir de teses de faculdades de Medicina no Brasil. VOCÊ SABIA Somente na década de 1930, a alimentação e a nutrição emergem como campo específico de produção de conhecimentos e saberes, ou seja, como ciência. Na mesma época, foram abertos espaços de trabalho ou profissão relacionados à área (novos cursos para nutricionistas, nutrólogos, tecnólogos de alimentos, engenheiros de alimentos, técnicos em nutrição, economistas domésticos, entre outros). A emergência de intervenção social do governo brasileiro nesse campo tem o objetivo de completar o cenário desse período. O perfil epidemiológico nutricional da época era caracterizado, sobretudo, por doenças carenciais (desnutrição energético-proteica, deficiência de vitamina A, pelagra, anemia ferropriva, e outras) relacionadas às condições de atraso no desenvolvimento social e econômico, pobreza, fome e desigualdades. Entre 1960 e 1980, observa-se o pico das pesquisas de base populacional sobre nutrição com indivíduos de todas as regiões geográficas do país, além de tentativas de incorporação da questão nutricional ao planejamento econômico. O alinhamento do modo de viver brasileiro àquele observado em países desenvolvidos e marcado pelo sedentarismo e aumento da obesidade e doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) se destaca na década seguinte, caracterizando o que chamamos de transição nutricional e epidemiológica. Esse processo se desenvolve juntamente com um aumento no consumo alimentar de gorduras (particularmente de origem animal) e carboidratos simples e redução no consumo de carboidratos complexos, fibras, vitaminas e minerais. Essa realidade se perpetua até os dias de hoje, quando observamos uma simultaneidade da presença de doenças nutricionais relacionadas à pobreza e ao modelo de desigualdade econômica, com outros desvios nutricionais associados ao avanço tecnológico e ao desenvolvimento econômico e tecnológico (obesidade, diabetes, dislipidemias, hipertensão e alguns tipos de câncer). Esse histórico ajuda a compreender o cenário atual da pesquisa e os diversos campos estudados. Acompanhando a evolução da pesquisa científica mundial e do desenvolvimento interno, hoje, a área de Alimentação e nutrição englobam também as questões relacionadas abaixo: Desenvolvimento humano Sustentabilidade ecológica Políticas públicas do governo brasileiro Esses pontos fazem parte de diversas iniciativas nacionais e internacionais inseridas e/ou alimentadas pela pesquisa científica no Brasil: A meta da Declaração do Milênio da Organização das Nações Unidas (ONU) de erradicação da pobreza e da fome. A Estratégia Global sobre Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde da OMS, visando à prevenção e controle das DCNT. O Programa Fome Zero do governo federal do Brasil, de 2003, composto por diversas políticas públicas voltadas à garantia da segurança alimentar e nutricional dos brasileiros. ESTUDOS EM ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO NA ATUALIDADE Descobertas científicas e tecnologias relacionadas à nutrição, e que mudam o contexto das sociedades ao redor mundo, têm pautado a pesquisa científica na área. A própria evolução do número de cursos de graduação em nutrição e nutricionistas no Brasil constituem fatores que contribuem para o crescimento da pesquisa e produção científica na área. Entretanto, o reduzido número de nutricionistas inseridos na pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) constitui entrave substancial para esse avanço, já que a pesquisa se dá também na graduação, mas, majoritariamente, na pós-graduação. Fica evidente a necessidade de investimentos na formação de nutricionistas, além de outros profissionais inseridos nesse campo eminentemente multidisciplinar. Foto: Stock.adobe.com Na pós-graduação stricto sensu , principal cenário da pesquisa científica no Brasil, o crescimento significativo das pesquisas na área de Alimentação e nutrição se deu entre as décadas de 1990 e 2000. A distribuição territorial desses programas de pós-graduação para fora do eixo sul e sudeste, como, normalmente, acontece em outras áreas, constitui um diferencial que possibilita maior abrangência de temas e a inclusão daqueles de interesse local, como carências nutricionais endêmicas em regiões específicas do país, por exemplo. Imagem: Governo federal do Brasil/ wikimedia commons/Domínio público A evolução do conjunto de programas de pós-graduação, e a robusta produção científica específica multi e interdisciplinar, diferenciando-se de outros programas da área da saúde, motivou a criação da nova área de nutrição no Conselho Superior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de NívelSuperior (CAPES) em 2011, dentro da grande área de Ciências da Saúde. A nutrição e sua dinâmica específica garantiram lugar no mesmo nível elevado das outras áreas afins, principalmente, as três áreas médicas: Saúde coletiva Ciência e tecnologia dos alimentos (que pertence à área de ciências agrárias) Áreas biológicas NÚCLEOS DE SABERES DO CAMPO CIENTÍFICO DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Durante a criação da nova área na CAPES, foram definidos os seguintes campos que inicialmente delimitariam a área, sendo possíveis modificações em função do aprofundamento da discussão: nutrição clínica, nutrição experimental, alimentação e nutrição em saúde coletiva, ciências humanas e sociais aplicadas à alimentação e nutrição, e ciência dos alimentos aplicada à saúde humana. Esses campos agrupam os principais temas das diversas linhas de pesquisa na área de alimentação e nutrição. Na Tabela 1, encontramos os principais núcleos de saberes dessa área. Núcleos de saberes Números absolutos Percentual 1. Alimentação e nutrição em saúde coletiva 29 42,0 Epidemiologia e nutrição Estudos epidemiológicos sobre nutrição e determinação do estado nutricional 14 20,3 Políticas de alimentação e nutrição Estudos sobre políticas, planejamento e gestão de programas de alimentação e nutrição 9 13,0 Ciências humanas e sociais em alimentação e nutrição Estudos sobre cultura, economia, educação, comunicação, epistemologia, direito, sociologia, filosofia em alimentação e nutrição 6 8,7 2. Nutrição básica e clínica 24 34,8 Nutrição básica Estudos bioquímicos, fisiológicos e genéticos sobre nutrição em animais de laboratório e humanos 14 20,3 Nutrição clínica Estudos clínicos sobre nutrição de humanos 10 14,5 3. Nutrição e alimentos 11 15,9 Estudos sobre composição química, qualidade sanitária e tecnologia dos alimentos. 4. Alimentação e nutrição em produção de refeições Estudos sobre produção e consumo de refeições em unidades de alimentação e nutrição coletivas e comerciais. 5 7,2 Total 69 100 Tabela 1. Núcleos de saberes do campo científico de alimentação e nutrição e sua presença em programas de pós-graduação stricto sensu inseridos na área de avaliação de Medicina II na Capes, em 2009, no Brasil. Extraída de KAC et al ., 2011, p. 912; CAPES, 2011. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Além da abordagem dos núcleos de saberes do campo científico de alimentação e nutrição, também se faz necessária uma análise relacionada às áreas de exercício profissional do nutricionista. Na Tabela 2, é possível observar o resultado de uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Nutricionistas, destacando as áreas de atuação existentes no mercado de trabalho. 2006 2017 Área de atuação Números absolutos Percentual Números absolutos Percentual Nutrição 1236 41,7 334 30,4 clínica Alimentação coletiva 963 32,2 338 30,8 Saúde coletiva 262 8,8 195 17,7 Ensino e educação 281 9,4 125 11,4 Nutrição esportiva 122 4,1 28 2,5 Indústria de alimentos 110 3,7 29 2,6 Marketing - - 14 1,3 Outros - - 36 3,3 Total 2974 100 1099 100 Tabela 2. Áreas de atuação do profissional nutricionista no Brasil. Elaborada por Thaís da Silva Ferreira, com base em CFN, 2006; CFN, 2019. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Apesar da sua significativa participação na produção científica na área de nutrição, a alimentação não consta da taxonomia vigente. A criação da área de nutrição pode contribuir de forma substancial para o crescimento da produção de conhecimento científico em alimentação. Ademais, a grandeza dos núcleos de saberes e a presença na pós-graduação da alimentação e da nutrição na produção de refeições não acompanha a concentração de nutricionistas atuando nessa área, que é a segunda em percentual de profissionais no mercado de trabalho. Tal fato sugere uma provável carência de especialização e qualificação dos profissionais e de produção científica nessa área específica, sendo necessários esforços para aumentar a inserção acadêmica e a produção de conhecimento científico atualizado e aplicável nesse campo. Outra classificação a ser observada é aquela do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que divide a área do conhecimento da nutrição nas seguintes subáreas: NUTRIÇÃO BIOQUÍMICA DA NUTRIÇÃO DIETÉTICA ANÁLISE NUTRICIONAL DE POPULAÇÃO E DESNUTRIÇÃO DESENVOLVIMENTO FISIOLÓGICO Imagem: Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações/ wikimedia commons/ CC-BY 2.0. Na maioria das instituições de pesquisa e formação de pessoal de nível superior, a distribuição de financiamento e recursos em geral, como auxílios, bolsas, vagas para estudantes e docentes, é baseada nessa classificação. Entretanto, ela se distancia grandemente dos núcleos de saberes do campo de alimentação e nutrição e das principais áreas de atuação do profissional nutricionista. Sendo assim, fica evidenciada a falta de correspondência entre os principais temas de pesquisa na área, assim como da produção científica, e as linhas de financiamento para pesquisa, reduzindo os recursos aplicados nos estudos da área. Considerando o aspecto dinâmico dos diferentes campos das ciências, essa distribuição de recursos pode modificar a estrutura da área, não devendo ser negligenciada. DISTINÇÃO DOS CONCEITOS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Com a diversidade de áreas nas quais se desenvolve a pesquisa e se dá a produção científica, é imprescindível que se destaquem as principais características que definem o campo de alimentação e nutrição e o diferenciam das outras áreas. Nutrição É a ciência que estuda os nutrientes, suas diversas interações, seu papel relacionado à saúde, à doença, assim como os processos envolvidos na ingestão, digestão, absorção, transporte, utilização e excreção dos resíduos alimentares. Sendo assim, por meio de métodos experimentais, ela é identificada pelo enfoque no efeito do comer sobre a prevenção e cura de agravos. Alimentação Conceito mais amplo, ultrapassa o nutrir e acrescenta as dimensões social, emocional e cultural ao ato de comer. Esse conjunto de atividades, ritos e símbolos caracterizam o fenômeno como humano. Dessa forma, metodologias do campo das ciências humanas também fazem parte do campo de alimentação e nutrição. Esse caráter transdisciplinar define o campo, caracterizado por agentes que atuam em processos sociais, culturais e biológicos da vida humana nas suas diversas fases, que envolvem a produção, distribuição, consumo, ingestão, mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos, além do desfecho nutricional. Vale destacar que são escassos os levantamentos descritivos detalhados derivados de investigação científica sobre grupos de pesquisa cadastrados, projetos de pesquisa, dissertações, teses e publicações em geral, dificultando uma análise mais profunda do campo de alimentação e nutrição no Brasil. Tratando-se de uma área em consolidação, a constante análise e discussão da inserção dos diversos campos e núcleos de saberes da nutrição na pesquisa científica se faz necessária. De qualquer forma, a literatura disponível indica que a maior parte da produção científica na área se dá em torno de três principais campos, que serão descritos nos próximos módulos. A PRODUÇÃO CIENTÍFICA NA NUTRIÇÃO A especialista Thaís da Silva Ferreira fala sobre a produção científica na nutrição. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O CAMPO DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO EMERGE COMO CIÊNCIA NUM CONTEXTO CARACTERIZADO POR: A) Transição epidemiológica e nutricional B) Ampliação dos espaços de trabalho na área de nutrição e necessidade de intervenção social do Estado para combater a pobreza e a fome C) Urgência no desenvolvimento de modos mais sustentáveis de produção de alimentos D) Surgimento de diversas iniciativas nacionais e internacionais para prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis E) Evolução do número de cursos degraduação em nutrição e nutricionistas no Brasil 2. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS NÚCLEOS DE SABERES DO CAMPO CIENTÍFICO DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO PRESENTES NOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO? A) Nutrição clínica, nutrição básica, nutrição e saúde pública, e tecnologia de alimentos B) Alimentação e nutrição em saúde coletiva, epidemiologia da nutrição, e nutrição clínica C) Alimentação e cultura, nutrição e alimentos, e alimentação e nutrição em produção de refeições D) Alimentação e nutrição em saúde coletiva, nutrição básica e clínica, nutrição e alimentos, e alimentação e nutrição em produção de refeições E) Nutrição básica, clínica e nutrigenômica, epidemiologia da nutrição, e alimentação coletiva GABARITO 1. O campo de alimentação e nutrição emerge como ciência num contexto caracterizado por: A alternativa "B " está correta. Alimentação e nutrição emergem como campo específico de produção de conhecimentos e saberes (ciência) na década de 1930. Campo esse caracterizado por problemas como a fome e a miséria no Brasil e no mundo, como destacam os estudos de Josué de Castro. Transição epidemiológica e nutricional, urgência no desenvolvimento de modos mais sustentáveis de produção de alimentos, surgimento de diversas iniciativas nacionais e internacionais para prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis e evolução do número de cursos de graduação em nutrição e nutricionistas no Brasil são acontecimentos posteriores. 2. Quais são os principais núcleos de saberes do campo científico de alimentação e nutrição presentes nos programas de pós-graduação? A alternativa "D " está correta. Alimentação e nutrição em saúde coletiva, nutrição básica e clínica, nutrição e alimentos, e alimentação e nutrição em produção de refeições são os quatro principais núcleos de saberes do campo científico de alimentação e nutrição presentes nos programas stricto sensu nos levantamentos realizados por KAC; PROENÇA; PRADO (2011) e PRADO (2013). MÓDULO 2 Identificar a produção científica em nutrição clínica e esportiva PESQUISA EM NUTRIÇÃO CLÍNICA, BÁSICA E EXPERIMENTAL A nutrição clínica é um núcleo de saberes que corresponde de 7 a 15% da pesquisa científica nacional na área de nutrição. De maneira geral, esse núcleo se dedica ao estudo da necessidade orgânica, relação ou efeito dos diversos nutrientes, alimentos e padrões alimentares, abrangendo a relação com o desenvolvimento de doenças ou alterações patológicas e os modelos fisiopatológicos envolvidos. COMENTÁRIO De característica ampla e inserida, principalmente, no campo das ciências biomédicas, a produção científica na nutrição clínica no Brasil é robusta, reconhecida e veiculada em periódicos internacionais. Em geral, estudos básicos, experimentais e clínicos são desenvolvidos. A condução de pesquisas clínicas pode demandar tempo bastante prolongado, exigindo maior planejamento prévio dos estudantes em relação a cronograma e prazos estabelecidos pelos seus cursos. Ensaios clínicos e estudos de coorte podem requerer muitos anos para sua execução. As questões éticas são particularmente complexas quando os estudos envolvem diretamente o tratamento de enfermidades e condições clínicas, e todas as diretrizes para pesquisas com seres humanos devem ser respeitadas, especialmente, no tocante à preservação e segurança dos participantes. Foto: Stock.adobe.com A captação de indivíduos nesses estudos pode ser bastante desafiadora. A pesquisa clínica inclui seres humanos vivenciando o adoecimento e o sofrimento, e outros cuja atividade corresponde à busca de caminhos para o alívio desse sofrer. Essa relação também pode ser estudada, assim como a participação de instituições, empresas e governos. Foto: Stock.adobe.com Não obstante, estudos experimentais envolvendo modelos animais ou culturas de células demandam cumprimento de normas específicas e infraestrutura muitas vezes complexa e custosa. A rede de instituições com capacidade de desenvolver essas investigações é restrita, tornando imprescindível a interação e a cooperação entre grupos de pesquisa. Muitas vezes, o financiamento para essa atividade é insuficiente frente à demanda em comparação a outros núcleos da área de alimentação e nutrição. A pesquisa experimental compartilha com os estudos clínicos essa alta demanda por recursos e infraestrutura para seu desenvolvimento. Foto: Stock.adobe.com COMENTÁRIO Apesar das dificuldades postas para a condução, quando esses estudos em nutrição clínica são bem delineados e executados, a divulgação dos seus resultados pode muitas vezes render publicação em periódicos de grande reconhecimento, inclusive, internacionais. O acúmulo de dados e o seguimento de linhas específicas de pesquisa contribuem para a construção de bases de dados robustas que permitem exploração e análise por diversos pesquisadores e alunos. A interdisciplinaridade entre a pesquisa clínica e os demais estudos biomédicos se apresenta como opção indiscutível para o núcleo de saberes da nutrição clínica, viabilizando a realização e a aplicabilidade dos estudos. A pesquisa translacional em nutrição, que se dedica a estudos que percorrem todo o caminho das análises experimentais até os testes clínicos, materializa essa aplicabilidade. As disciplinas tradicionais da área da saúde estão diretamente ligadas à biologia, ficando muitas vezes restritas a um olhar natural e técnico sobre a vida. Entretanto, não se podem descartar as outras dimensões envolvidas no processo de saúde e doença, prevenção e tratamento, como a psicológica, afetiva e cultural, entre outras. Sendo assim, outras áreas do conhecimento e núcleos de saberes da própria área de alimentação e nutrição muitas vezes se associam no desenvolvimento da pesquisa em nutrição clínica. Considerando a abrangência do núcleo, não se pretende esgotar todos os eixos da produção científica em nutrição clínica, mas sim destacar alguns, a saber: NUTRIENTES, COMPOSTOS BIOATIVOS, ALIMENTOS, PRODUTOS NUTRICIONAIS E PADRÕES ALIMENTARES APLICADOS Atuação na prevenção e tratamento de enfermidades; efeito e participação em mecanismos bioquímicos, metabólicos, fisiopatológicos e imunológicos; potenciais benefícios para a saúde e qualidade de vida; segurança e eficácia; adequação do consumo por indivíduos, grupos e populações; investigação em modelos animais e estudos clínicos PROCESSOS E PROTOCOLOS Planejamento, implementação e avaliação de modelos de assistência nutricional nos serviços de saúde; desenvolvimento de novos processos de atenção nutricional; validação de protocolos nutricionais no tratamento de doenças; validação de processos de avaliação do estado nutricional; desenvolvimento de equipamentos, softwares e índices de avaliação de estado nutricional; identificação de marcadores preditivos de resposta ao tratamento nutricional RELAÇÃO NUTRICIONISTA-PACIENTE NA PRÁTICA CLÍNICA Aprofundamento dos aspectos envolvidos; inovação da prática profissional PESQUISA EM NUTRIGENÔMICA O genoma humano, com aproximadamente 25 mil genes, é afetado por fatores ambientais, como tabagismo, poluição, atividade física, estresse, medicamentos e dieta. A influência da dieta sobre os genes caracteriza a nutrigenômica, que investiga como esse processo se dá em cada fase do ciclo da vida e frente a diferentes condições patológicas. Estamos “expostos” à alimentação desde a fase intrauterina e, portanto, essa interação entre nutrientes e compostos bioativos de alimentos com o genoma pode ocorrer desde as fases mais precoces da vida, com potencial impacto na saúde. Imagem: Stock.adobe.com O mapeamento do genoma humano e a investigação da sua interação com diversos nutrientes, compostos bioativos e padrões alimentares traz a perspectiva inovadora do desenvolvimento de prescrições nutricionais altamente individualizadas. A pequena variação interindividual de 0,1% observada no genoma dos seres humanos se dá, principalmente, por meio de alterações discretas na sequência doDNA conhecidas como polimorfismos de nucleotídeo. Os polimorfismos podem levar a alterações de inúmeros processos fisiológicos, características físicas e, inclusive, influenciar o risco para doenças crônicas não transmissíveis - DCNT, as necessidades de nutrientes e a resposta aos alimentos. Dessa forma, o estudo desses polimorfismos pode contribuir para uma conduta nutricional personalizada e focada na promoção da saúde e na prevenção de doenças. O campo é bastante vasto e complexo, por exemplo, no que se refere às DCNT, de origem poligênica. A investigação do impacto da combinação de diversos polimorfismos distribuídos no genoma humano, além das interações dessas variações genéticas com agentes ambientais, em especial a alimentação, constitui objeto de estudo bastante promissor. Diversos estudos se dedicam à análise da capacidade de nutrientes e compostos bioativos de modular a expressão gênica que poderá no futuro influenciar a escolha de alimentos com finalidade específica. As possibilidades são praticamente infinitas porque os componentes dos alimentos contêm múltiplos alvos moleculares e podem atuar de forma sinérgica por se encontrarem em diferentes combinações nos alimentos. Foto: Stock.adobe.com Além da contribuição para a saúde humana, o mundo corporativo já explora o grande potencial das descobertas nessa área, o que pode atrair diversos financiamentos para pesquisas e estimular a produção científica nesse núcleo de saberes. Entretanto, deve-se ressaltar mais uma vez a necessidade estrita de atenção aos preceitos éticos e divulgação de possíveis conflitos de interesse nesses casos. Todos os esforços devem ser empenhados no decorrer das pesquisas para garantir a confidencialidade da informação genética e prevenir ações discriminatórias, por exemplo. A Rede Brasileira de Nutrigenômica, criada em 2007, propõe-se a estimular o desenvolvimento dessa disciplina, além de promover e coordenar projetos integrados. Considerando a miscigenação e consequente variabilidade genética da população brasileira, e os diversos alimentos tradicionais no país, esses esforços podem contribuir para o desenvolvimento de um corpo consistente de evidências em nutrigenômica especificamente direcionadas aos brasileiros. PESQUISAS EM NUTRIÇÃO ESPORTIVA A influência da nutrição sobre a prática desportiva já é amplamente conhecida, podendo contribuir tanto para o melhor desempenho físico quanto para promoção e manutenção da saúde. A relação entre alimentação e desempenho físico no esporte precede as ciências esportivas, remontando às antigas civilizações gregas e romanas. O exercício físico pode promover diversos benefícios à saúde, mas também está relacionado a situações como treinamento excessivo, estresse metabólico e psicológico, distorção da imagem corporal, lesões e dietas inadequadas para a prática, que constituem importantes ameaças à saúde e merecem destaque. Foto: Stock.adobe.com No Brasil, observamos grande interesse por esportes, especialmente o futebol, mas grande parte da população não pratica o mínimo recomendado de atividade física durante a semana. Nesse contexto aparentemente paradoxal, emergem a pesquisa e a produção científica em nutrição esportiva. Ela abrange cenários bastante diversos, como a prática de atividade física como opção de lazer e/ou estratégia para manter ou recuperar a saúde e o desenvolvimento de atividade desportiva de alto nível competitivo. Etapa do ciclo da vida, sexo, tipo de atividade física e o objetivo principal influenciam a prática e consequentemente as recomendações nutricionais, demandando evidências de várias áreas do conhecimento para o desenvolvimento de estratégias adequadas a cada situação. ATENÇÃO O aprofundamento do estudo da fisiologia, bioquímica e mecânica do exercício físico se faz essencial, assim como a formação de grupos multidisciplinares de pesquisadores, por ser um campo das ciências que investiga principalmente o papel dos nutrientes no desempenho físico, na busca de melhores resultados, na recuperação do organismo, na mitigação do estresse produzido durante a prática intensa, e na promoção da saúde para a população em geral. Diversas áreas e núcleos de saberes da própria área da nutrição também podem compor esses grupos de pesquisa, como: Nutrição clínica Epidemiologia da nutrição Ciência e tecnologia dos alimentos Nutrição experimental Alimentação coletiva, entre outros As diversas modificações ocorridas durante a realização de exercícios físicos, intencionais ou não, também são objeto de estudo de muitos pesquisadores, já que as reservas corporais e a mobilização de gordura, massa muscular e líquidos é totalmente dependente da intensidade e frequência do exercício e do consumo alimentar habitual e no período próximo ao exercício. Para ilustrar a produção científica desse núcleo, estão descritos a seguir os eixos das principais pesquisas realizadas em nutrição esportiva: NUTRIÇÃO E FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO Natureza clínica ou experimental, fisiologia do músculo-esquelético, bases moleculares, bioquímicas e fisiopatológicas da resposta ao exercício e da influência da nutrição, efeito de diferentes intensidades de força e potência, participação da atividade física e da nutrição no esporte, no envelhecimento, na obesidade e em doenças crônicas, variabilidade individual, alterações do padrão locomotor, biodinâmica do exercício, gasto energético, mecanismos de reparação tecidual. RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS PARA O EXERCÍCIO Adequação às diferentes práticas esportivas, macro e micronutrientes, influência da matriz alimentar e da consistência, diferenças entre períodos de treino, antes, durante e depois da competição, prevenção de lesões, variabilidade individual. SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL Fundamentos fisiológicos, análise dos nutrientes, compostos bioativos e padrões alimentares de interesse, desenvolvimento de produtos específicos, impacto no desempenho físico, na saúde e na estética, prevenção e recuperação de lesões, eficácia e segurança. COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE ATLETAS Características específicas, relação com o tipo de prática desportiva e percepção corporal, percepções sobre dieta, controle da ingestão alimentar. PROMOÇÃO DA SAÚDE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE DCNT Efeitos da inatividade física/treinamento físico/nutrição em doenças crônicas, na recuperação de cirurgias e no envelhecimento, proposição e avaliação de políticas públicas para promoção da prática de atividade física. A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM NUTRIÇÃO CLÍNICA E ESPORTIVA NO BRASIL A especialista Monica Dalmacio fala sobre a produção científica em nutrição clínica e esportiva no Brasil e como desenvolver um projeto TCC na área. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CARACTERIZAM A PESQUISA E A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM NUTRIÇÃO CLÍNICA, BÁSICA E EXPERIMENTAL: A) Estrito respeito às diretrizes éticas para pesquisas com seres humanos e animais, infraestrutura geralmente complexa e custosa e divulgação em periódicos de grande reconhecimento no meio científico. B) Condução e participação de pesquisadores e profissionais especificamente da área de nutrição clínica, atuando em instituições com complexa infraestrutura. C) Relação direta e exclusiva com disciplinas ligadas à biologia, já que o estudo das dimensões psicológicas afetivas e culturais do processo saúde e doença é exclusivo de outras áreas de pesquisa. D) Ensaios clínicos e pesquisas experimentais desenvolvidos em um curto espaço de tempo. E) Somente estudos conduzidos com seres humanos, investigando o efeito de diversos alimentos e padrões alimentares no processo saúde e doença. 2. A PESQUISA CIENTÍFICA EM NUTRIÇÃO ESPORTIVA INVESTIGA PRINCIPALMENTE: A) A influência da dieta e da atividade física sobre os genes e como esse processo se dá em cada fase do ciclo da vida. B) A atuação dos nutrientes no desempenho físico, na recuperação do organismo e na redução do estresse produzido, e essas relações na promoção da saúde geral. C) Anecessidade orgânica dos diversos nutrientes para a prática esportiva e a relação com o desenvolvimento de doenças. D) A bioquímica e a mecânica do exercício físico e as diferenças entre as principais modalidades e fases do ciclo da vida. E) As diversas modificações na composição corporal ocorridas durante a realização de exercícios físicos, intencionais ou não. GABARITO 1. Caracterizam a pesquisa e a produção científica em nutrição clínica, básica e experimental: A alternativa "A " está correta. A pesquisa e a produção científica em nutrição clínica, básica e experimental são caracterizadas pela multidisciplinaridade, contando com pesquisadores e profissionais de diversas áreas e não somente nutricionistas. O estudo das dimensões psicológicas afetivas e culturais do processo saúde e doença e da relação entre profissional e pacientes também constituem objeto de estudo desse campo. Ensaios clínicos (com seres humanos), estudos básicos (para compreensão dos fenômenos fisiopatológicos) e pesquisas experimentais (com animais, tecidos e culturas de células, por exemplo) são desenvolvidas e podem demandar muito tempo para sua realização, infraestrutura e maior custo. 2. A pesquisa científica em nutrição esportiva investiga principalmente: A alternativa "B " está correta. A pesquisa em nutrição esportiva está atrelada à relação entre os nutrientes e o desempenho físico, e ao processo de melhoria e recuperação da saúde e consequentemente do funcionamento do organismo após estresse da prática esportiva e essas relações com a promoção da saúde. MÓDULO 3 Descrever a produção científica em alimentação e nutrição em saúde coletiva ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO EM SAÚDE COLETIVA Foto: Joa Souza / Shutterstock.com O estudo da alimentação e da nutrição em saúde coletiva se destacou no Brasil no fim dos anos 1930. Sua origem como ciência vem da disciplina de higiene alimentar das faculdades de Medicina, desde o século XIX. Mais especificamente, a vertente social relacionada aos aspectos econômicos, sociais e populacionais da produção, distribuição e consumo de alimentos, constituindo a base desse núcleo. Como política pública de Estado, ele surge entre as décadas de 1930 e 1960, numa conjuntura que instituiu a ração essencial mínima e o salário mínimo, e motivou a criação do Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), da Comissão Nacional de Alimentação (CNA) e da Campanha Nacional de Merenda Escolar. Ações e programas governamentais de assistência nutricional para trabalhadores, gestantes e crianças resultaram no desenvolvimento da alimentação e nutrição em saúde coletiva no Brasil, sem articulação com instituições internacionais. PESQUISA EM DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO EM NUTRIÇÃO E SAÚDE COLETIVA A partir da segunda metade da década de 1960 se dá a consolidação do campo de alimentação e nutrição em saúde coletiva, face à crescente demanda por estudos de base populacional com amostras representativas de todas as regiões geográficas do país, técnicas javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); para introdução do planejamento nutricional ao planejamento econômico, e a formação profissional na área de alimentação e nutrição. A questão nutricional e alimentar ganhou destaque na agenda brasileira de saúde pública. Imagem: Shutterstock.com Ocorrida a partir da década de 1980 e caracterizada pela sobreposição de doenças relacionadas às carências nutricionais e doenças relacionadas ao excesso nutricional, a transição nutricional e epidemiológica brasileira motivou novos direcionamentos e intervenções nas políticas de saúde, inclusive no campo da nutrição. O campo da nutrição em saúde coletiva passou a apresentar a atual configuração a partir da década de 1970 com o movimento sanitário brasileiro que culminou na construção do Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa científica nesse núcleo de saberes se dá por meio da construção de referenciais teóricos interdisciplinares e propostas que integram os campos da nutrição e da saúde coletiva. A produção científica é orientada e dá origem a produtos relacionados à dimensão científica dessa interface, ao histórico, aos programas e às teorias que fundamentam a questão da alimentação e nutrição, e ao papel da sociedade civil e dos governos na efetivação de segurança alimentar. COMENTÁRIO O campo da saúde coletiva traz a contribuição da interface com as ciências naturais, humanas e sociais, o que consequentemente promove um novo espaço para o estudo da alimentação e da nutrição como uma possibilidade de realização humana. A seguir, encontram-se descritos os principais eixos abordados na produção científica do núcleo de alimentação e nutrição em saúde coletiva: HISTÓRICO DA ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO EM SAÚDE COLETIVA Cenário histórico e contexto político da emergência do campo. POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Principais ações, programas e políticas de alimentação e nutrição do Brasil, suas bases teóricas, mecanismos de gestão, indicadores de monitoramento e avaliação e relação com o panorama internacional; novas perspectivas e estratégias nas políticas públicas; políticas voltadas a grupos vulneráveis. EPIDEMIOLOGIA DA NUTRIÇÃO Métodos epidemiológicos para investigação do papel da alimentação e nutrição nos processos de saúde e doença, do estado nutricional e da composição corporal de grupos populacionais, e de indicadores de distúrbios nutricionais específicos. AVALIAÇÃO E VIGILÂNCIA NUTRICIONAL Indicadores, métodos e técnicas de avaliação do estado nutricional e da composição corporal; inquéritos dietéticos; vigilância nutricional e relação com processo saúde e doença; medidas de morbidade e mortalidade e determinantes nutricionais; modelos de estudo. EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E ADEQUADA Teorias da educação, dos processos educativos e de comunicação; desenvolvimento e análise de programas educacionais e suas aplicações individuais e coletivas; estratégias de intervenção para promoção da alimentação adequada e saudável e para prevenção de agravos à saúde mais frequentes; pressupostos teóricos norteadores das práticas de promoção da alimentação saudável. SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL (SAN) Concretização do direito humano à alimentação adequada e saudável; determinantes da insegurança alimentar e nutricional; contexto político e econômico; sistema alimentar brasileiro; leis e políticas que estruturam programas de SAN; intervenções e programas emergenciais e estruturais de SAN. NUTRIÇÃO DO GRUPO MATERNO-INFANTIL E DE IDOSOS Fatores epidemiológicos no prognóstico da gravidez e na lactação; manejo da gestação de risco; alimentação complementar; desmame e aleitamento artificial; estudo do processo de envelhecimento; efeito de aspectos nutricionais na longevidade; diretrizes para alimentação nos grupos de interesse. ASPECTOS NUTRICIONAIS NO ENFRENTAMENTO DE DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS Políticas públicas e estratégias de intervenção para o enfretamento. PLANEJAMENTO E GESTÃO Gerenciamento da saúde coletiva; integração com o SUS; mecanismos de financiamento, gestão e controle; sistemas de informação para o planejamento e avaliação. PESQUISA EM PRODUÇÃO DE REFEIÇÕES E ALIMENTAÇÃO DE COLETIVIDADES A alimentação de coletividades constitui núcleo de saberes e práticas do campo científico de alimentação e nutrição que trata da produção e do fornecimento de refeições aos mais diversos grupos de pessoas e tem na cozinha industrial o principal cenário de ação. Esse núcleo emprega os conhecimentos dietéticos, especialmente para o planejamento de cardápios, e ferramentas conceituais e técnicas próprias do campo da administração para o planejamento e organização da produção de refeições e gestão do trabalho nessas cozinhas, também conhecidas como unidades de alimentação e nutrição (UAN). As UAN são representadas por instituições públicas ou privadas que oferecem refeições e restaurantes comerciais, comissárias,buffet e lanchonetes. O referido núcleo demonstra sua relevância no atendimento às demandas institucionais e dos comensais no tocante à alimentação da comunidade. Outros termos têm sido empregados para identificar o núcleo, sendo os principais: Alimentação coletiva Alimentação e nutrição em produção de refeições Administração de serviços de alimentação A produção de conhecimentos científicos no núcleo de alimentação de coletividades se destaca pelo estudo e desenvolvimento de tecnologias que visem o estabelecimento de práticas socialmente mais justas e ambientalmente mais sustentáveis na produção de refeições para grupos de pessoas. Algumas políticas e programas públicos relacionados à produção e distribuição de refeições, entre eles o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) e os restaurantes populares, só encontram viabilidade com base em dados produzidos por esse núcleo de saberes. Outros dados diretamente ligados a aspectos higiênico-sanitários embasam regulamentos e práticas conhecidos, por exemplo, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Foto: Edvaldo Reis/Site Prefeitura do Rio Restaurante popular no Rio de Janeiro Estudos científicos nesse núcleo podem também propor ou testar metodologias para o planejamento, produção e distribuição de refeições fora do domicílio. A atuação profissional do nutricionista desempenha importante papel na evolução do núcleo no Brasil, e por esse motivo métodos diretamente aplicáveis na atuação profissional do nutricionista são objeto de investigação de diversos estudos. De maneira geral, de acordo com CAMPOS et al . (2017), a produção científica desse núcleo pode ser agrupada nas seguintes categorias: QUALIDADE HIGIÊNICO-SANITÁRIA DAS REFEIÇÕES Controle microbiológico e adequação aos padrões sanitários vigentes, manipulação adequada dos alimentos, compreendendo a maior parte das pesquisas do núcleo. QUALIDADE NUTRICIONAL DAS REFEIÇÕES E CARDÁPIOS Biodisponibilidade de nutrientes, composição nutricional, adequação das refeições servidas nas UAN e uso de alimentos orgânicos e alimentos geneticamente modificados, sendo o último pouco explorado e alvo de estudos mais recentes desse núcleo. PROCESSOS E TÉCNICAS ENVOLVIDAS NA PRODUÇÃO DE REFEIÇÕES Dimensões técnica (relacionadas a métodos de cocção, alterações dietéticas e preservação dos alimentos, estrutura organizacional, desperdício de alimentos e custos etc.); científica (incluindo o conhecimento das características microbiológicas, físico-químicas e sensoriais de alimentos e preparações); e cultural (que lida com aspectos simbólicos do ato de comer). MANEJO DA SAÚDE E DO TRABALHO Manejo de recursos ergonômicos, humanos e de saúde dos trabalhadores em UAN. CONSUMO DE ALIMENTOS FORA DO DOMICÍLIO Frequência e caracterização do consumo de refeições em UAN. ATUAÇÃO DO NUTRICIONISTA NA PRODUÇÃO DE REFEIÇÕES Características do trabalho do nutricionista e UAN. SUSTENTABILIDADE EM UAN Manejo adequado de resíduos; uso racional da água e outros recursos; matérias-primas originadas de produções sustentáveis. ASPECTOS GASTRONÔMICOS Na promoção da alimentação saudável; técnicas culinárias; aspectos culturais. Existe uma íntima relação entre os objetos de estudo e a formação dos pesquisadores dos núcleos de alimentação de coletividades e de ciência e tecnologia de alimentos, e por esse motivo, muitas vezes, as temáticas se interpõem. Sendo assim, a divisão meramente didática se faz necessária para uma melhor compreensão. Os aspectos especificamente relacionados à ciência e tecnologia de alimentos serão abordados no último módulo. PESQUISA CIENTÍFICA SOBRE O COMPORTAMENTO ALIMENTAR A produção científica sobre comportamento alimentar tende a buscar referências no campo das ciências humanas e sociais, de forma a explorar o controle dos desejos e impulsos. No campo de alimentação e nutrição, os termos hábito e comportamento alimentares são aplicados de formas diversificadas ou sinônimas, assim como no campo das ciências humanas. De modo geral, o termo comportamento, comumente tratado no domínio das teorias comportamentais, pode ser definido como sinônimo de ação. Já o hábito é abordado em estudos de cunho antropológico e sociológico, assim como sua relação com a cultura e a tradição de determinados grupos sociais. Nos estudos do campo de alimentação e nutrição, os termos comportamentos alimentares e hábitos alimentares não correspondem especificamente aos sentidos anteriormente descritos, sendo aplicados sem distinção entre eles, buscando expressar uma realidade. Foto: Stock.adobe.com O comportamento alimentar pode ser entendido como um conjunto de fatores que envolvem cognições e afetos relacionados às condutas alimentares dos indivíduos influenciados psicológica, social e culturalmente. O ato de escolher e ingerir um alimento resulta de uma estruturação prévia de pensamentos, crenças e sentimentos influenciados pelo ambiente. Portanto, os diversos aspectos relacionados à alimentação têm significados diferentes para cada um, constituindo objeto de estudo para pesquisadores na área de nutrição. A identificação de determinados comportamentos e hábitos alimentares como patológicos no campo de alimentação e nutrição constitui risco para a redução da questão à lógica simplificada de causa e efeito. Sendo assim, nesse núcleo de saberes, busca-se analisar os hábitos alimentares para além da sua relação com o consumo ou ingestão alimentar de energia e nutrientes. O comportamento alimentar é estudado, muitas vezes, no tocante aos aspectos psicológicos do ato de comer. A necessidade de aprofundamento da discussão na conceituação desses temas na área de alimentação e nutrição constitui importante estímulo para o desenvolvimento de estudos com esse enfoque. Por meio da interface com as ciências humanas e sociais, esse assunto tem emergido na produção científica da área. Esses estudos podem ser conduzidos tanto com uma abordagem individualizada quanto a partir de uma visão mais coletiva. Entenda abaixo: Comportamento Parece estar situado em um campo mais individual, ainda que relacionado aos aspectos sociais presentes. Hábito Está mais relacionado à repetição cotidiana de ações que fazem parte de um contexto geral. Como os hábitos são formados desde a infância e podem se modificar ao longo da vida, na nutrição o comportamento alimentar pode ser estudado nas diversas fases do ciclo da vida. Os estudos científicos podem se apresentar: com uma visão mais tradicional da área, com interesse em investigar os alimentos ingeridos por determinados grupos, a frequência e o modo, sem diferenciar os termos hábito e comportamento; ou com uma abordagem mais problematizadora buscando entender o ato de comer por meio de suas complexidades e a alimentação como um fenômeno de difícil abordagem, avançando nas discussões sobre as semelhanças e diferenças entre hábitos, práticas e comportamentos. Imagem: Stock.adobe.com Estudos relativos ao tratamento de comportamentos alimentares patológicos surgem como emergentes nesse campo, conjugando a aplicação e análise de técnicas comportamentais e elementos mentais que perpassam as áreas de nutrição e psicologia. Agravos à saúde como transtornos alimentares e obesidade, relacionados na Política Nacional de Alimentação e Nutrição (2020) a alterações no comportamento alimentar, também figuram entre objetos de estudo desse núcleo. Nesse caso, o será na subjetividade e complexidade do comportamento alimentar. Por outro lado, outras políticas, estratégias e instrumentos de educação alimentar e nutricional para prevenção e tratamento de outros agravos excluem a subjetividade e a influência do comportamento alimentar. Destaca-se, então, um quadro que pode provocar questionamentos e estudos que explorem o comportamento em sua relação com o hábito, a subjetividade na repetição e a singularidade individual na mudança, dentro de um contexto sociale da complexidade da vida. Sendo assim, a pesquisa científica em nutrição sobre o comportamento alimentar pode se desenvolver em torno dos seguintes eixos: Estudo dos determinantes das escolhas alimentares, frequência de alimentação fora do domicílio. Estudo das práticas e sentidos da alimentação. Estudo das bases sociológicas e antropológicas. Estudo da comensalidade — avaliação nutricional e dos determinantes das escolhas alimentares em UAN, percepção e aceitação da comida por pessoas que comem no contexto de uma coletividade. Estudo da percepção do consumidor. Estudo da relação do comportamento alimentar com a ocorrência/prevenção de doenças e distúrbios nutricionais. Estudos bem delineados para investigar o comportamento alimentar são necessários, especialmente no Brasil. Diversos métodos e abordagens podem ser adotados, como: Imagem: Stock.adobe.com Relatos de observações (com o objetivo de descrever e compreender o comportamento alimentar em um determinado grupo). Imagem: Stock.adobe.com Instrumentos psicométricos (desenvolvidos para o estudo de questões com adequada validade e confiabilidade). Foto: Stock.adobe.com Anamnese alimentar (para obtenção de dados específicos sobre quantidade e qualidade da alimentação de um indivíduo, e das emoções e percepções associadas). Foto: Stock.adobe.com Entrevistas semiestruturadas (para questionamentos individuais ou coletivos). O TRABALHO MULTIDISCIPLINAR, INTERDISCIPLINAR E TRANSDISCIPLINAR E A PSICOPEDAGOGIA A especialista Thaís da Silva Ferreira fala sobre a produção científica em alimentação e nutrição em saúde coletiva e como desenvolver um projeto de TCC na área. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A ORIGEM DA PESQUISA EM ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO EM SAÚDE COLETIVA NO BRASIL SE DÁ COM BASE EM SUA VERTENTE: A) Comportamental, relacionada ao controle de impulsos e desejos. B) Sanitária, relacionada ao controle de qualidade na produção de refeições. C) Ambiental, relacionada à sustentabilidade na produção de refeições. D) Administrativa, relacionada à gestão de recursos em unidade de alimentação e nutrição. E) Social, relacionada aos aspectos econômicos, sociais e populacionais da produção, distribuição e consumo de alimentos. 2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE TRAZ TRÊS DOS EIXOS PRINCIPAIS A PARTIR DOS QUAIS SE DESENVOLVE A PESQUISA EM DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO EM NUTRIÇÃO E SAÚDE: A) Políticas públicas, epidemiologia e educação alimentar e nutricional B) Fortificação de alimentos, desenvolvimento de novos produtos e planejamento e gestão C) Segurança dos alimentos, enfrentamento de doenças crônicas e produção de refeições D) Prevenção de doenças crônicas, relação profissional paciente e educação alimentar e nutricional E) Necessidades nutricionais, composição corporal e avaliação e vigilância nutricional GABARITO 1. A origem da pesquisa em alimentação e nutrição em saúde coletiva no brasil se dá com base em sua vertente: A alternativa "E " está correta. O surgimento da pesquisa em alimentação e nutrição em saúde coletiva ocorre devido a aspectos sociais por meio da análise do acesso à produção, distribuição e consumo dos alimentos pela população brasileira, assim como do acesso aos alimentos a partir da relação com os aspectos econômicos inerentes ao Brasil. 2. Assinale a alternativa que traz três dos eixos principais a partir dos quais se desenvolve a pesquisa em diagnóstico e intervenção em nutrição e saúde: A alternativa "A " está correta. Dentre as opções, apenas políticas públicas, epidemiologia e educação alimentar e nutricional estão descritas como eixos principais a partir dos quais se desenvolve a pesquisa em diagnóstico e intervenção em nutrição e saúde. MÓDULO 4 Definir a produção científica em ciência e tecnologia dos alimentos PESQUISA CIENTÍFICA EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DOS ALIMENTOS A pesquisa científica em ciência e tecnologia dos alimentos é um núcleo de saberes dedicado: Foto: Stock.adobe.com A pesquisa e a produção científica nesse núcleo estão diretamente ligadas aos processos químicos, físicos e biológicos aos quais os alimentos estão submetidos. Com a evolução das técnicas de produção e da indústria de alimentos desde a segunda metade do século XIX, toda a cadeia de produção passou a demandar processos mais eficazes, seguros e sustentáveis e associação de conhecimentos advindos de várias áreas, como a Agronomia, Veterinária, Ecologia, Medicina, Microbiologia, Engenharia, Saúde Pública, entre outras, além da Nutrição. A seguir, destacam-se algumas das principais temáticas desses núcleos, com seus principais eixos de pesquisa e produção científica. PESQUISA EM INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS O desenvolvimento de novos produtos alimentícios com diferentes características nutricionais, sensoriais e tecnológicas, assim como os efeitos do seu consumo na saúde e doença, tanto em modelo animais quanto na pesquisa com seres humanos, constitui um dos caminhos mais promissores em ciência e tecnologia de alimentos. Imagem: Stock.adobe.com Biotecnologia Pode ser definida como um conjunto de conhecimentos que permitem utilizar organismos vivos ou partes (células, organelas, moléculas) para produzir bens e serviços — é conhecimento avançado e amplamente aplicado e aperfeiçoado. A clonagem de genes de diversas espécies vegetais e animais originando os organismos geneticamente modificados já é uma realidade e deflagra a necessidade de regulação específica. javascript:void(0) Imagem: Stock.adobe.com Nanotecnologia Tecnologia que trabalha em escala manométrica (nas dimensões de átomos ou moléculas) — estimulou uma revolução nessa área, podendo ser utilizada em várias etapas da cadeia produtiva, como processos, transporte, embalagem e distribuição. A identificação, caracterização e desenvolvimento de matérias-primas com potencial tecnológico e produtos alimentícios funcionais, bem como o aproveitamento e manejo dos subprodutos gerados visando o melhoramento de produtos e processos, e a agregação de valor aos mesmos, também são objeto de estudo de diversas linhas de pesquisa. Tal revolução, tanto na biotecnologia quanto na nanotecnologia, e os interesses econômicos envolvidos geraram a necessidade de normatização e aprofundamento de aspectos regulatórios importantes, que precisam ser equacionados e amplamente estudados para garantir a segurança dos consumidores, constituindo também um campo para pesquisa científica. PESQUISA EM TECNOLOGIA DOS ALIMENTOS A tecnologia dos alimentos estuda os processos de produção, estocagem, acondicionamento, conservação e garantia da qualidade dos alimentos, podendo também desenvolver a javascript:void(0) administração e gestão dos processos tecnológicos ligados à produção de alimentos. Ela é capaz de englobar todos os elementos relacionados à industrialização de alimentos. Seu desenvolvimento e aperfeiçoamento por meio da pesquisa científica e inovação tecnológica pode potencializar as atividades econômicas nesse ramo. O subsídio à elaboração de políticas públicas para o acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequadas, para o combate às principais carências e agravos nutricionais e para a preservação da saúde pública também constitui importante colaboração desse eixo de pesquisa. Algumas temáticas estão listadas a seguir: Processamento e produção de alimentos, aditivos, produtos alimentícios, suplementos dietéticos e refeições. Desenvolvimento de embalagens, inclusive aquelas biodegradáveis. Processos biotecnológicos e estudo de biomateriais. Desenvolvimento e aperfeiçoamento de tecnologias limpas, visando minimizar os impactos ambientais e a adequação ao contexto regional. Aplicação racional dos diversos recursos e manejo adequado de resíduos da produção de alimentos. Assessoramento técnico, gestão e administração de empresas produtoras de alimentos. PESQUISA EM COMPOSIÇÃO DOS ALIMENTOS E SEUS PROCESSOS DE MODIFICAÇÃO Para adequadaaplicação dos alimentos nos diversos processos tecnológicos e desenvolvimento de produtos a partir de matérias-primas alimentícias, faz-se necessário o profundo conhecimento das características químicas, físicas, microbiológicas e sensoriais dos alimentos. Da mesma forma, os processos envolvidos nas alterações sofridas pelos alimentos mediante a ação dos diversos agentes, minimamente os químicos, físicos e microbiológicos, merecem profunda exploração e são alvo de diversos estudos na área de ciência dos alimentos, bem como seu comportamento mediante diversas técnicas dietéticas e culinárias e processamentos tecnológicos. Desde o estudo experimental das propriedades inerentes a cada tipo de alimento e o seu efeito no controle dos processos de elaboração e cocção dos alimentos até as diferentes etapas envolvidas no preparo dos alimentos constituem uma fonte inesgotável de temas de interesse em pesquisa científica. A produção científica nesse campo é vasta e engloba também as alterações físico-químicas, nutricionais e sensoriais que os alimentos sofrem durante o processamento doméstico e/ou industrial e seu impacto na saúde humana. Pode-se perceber que mais uma vez a multidisciplinaridade é um fator preponderante em um núcleo de saberes da área de nutrição, assim como em diversas áreas da ciência. Estas temáticas são apontadas como as principais: Métodos industriais e caseiros de conservação e elaboração de alimentos. Alterações físico-químicas dos alimentos durante o processamento. Técnicas de pré-preparo e preparo e sua influência sobre o valor nutricional e os atributos sensoriais dos alimentos. Desenvolvimento de métodos e técnicas para atender a demandas nutricionais específicas. Aproveitamento de partes de alimentos convencionalmente não comestíveis e identificação de plantas alimentícias não convencionais. Tecnologias, métodos e softwares para a elaboração e avaliação da qualidade de cardápios e fichas técnicas de preparo para os diversos grupos de alimentos. Desenvolvimento de utensílios e material de apoio, além de indicadores culinários. Desenvolvimento de técnicas da gastronomia para a produção de produtos e preparações. Métodos de análise sensorial dos alimentos e produtos. Imagem: Stock.adobe.com A composição química dos alimentos ganha destaque, na medida em que podem ocorrer alterações na estrutura química durante o processamento e estocagem, assim como aditivos e contaminantes químicos podem ser introduzidos intencional ou acidentalmente. Todas as mudanças químicas, físicas, físico-químicas e bioquímicas dos alimentos e das matérias- primas alimentares e todos os processos químicos que acontecem no processamento dos alimentos constituem objeto de estudo para pesquisadores de várias áreas, não só da nutrição. Imagem: Stock.adobe.com Na microbiologia de alimentos, o foco é o estudo dos microrganismos que habitam, crescem e contaminam os alimentos, com destaque para aqueles que deterioram ou estragam os alimentos, e aqueles que agregam valor nutritivo e/ou características sensoriais favoráveis. A repercussão da atividade desses microrganismos pode ser observada no potencial prejuízo à saúde humana e no seu emprego na produção de alimentos como queijo, picles, pão, cerveja, vinagre, salame e vinho. Hoje, é imperativo entender de forma profunda como se comportam esses microrganismos e desenvolver práticas para eliminá-los, controlá-los e analisá-los, de acordo com a situação, dados esses que a pesquisa científica na área pode proporcionar. Com a evolução das ciências, destacou-se o entendimento dos processos celulares dos seres vivos, e as diversas alterações dos mesmos. Na metabolômica, são estudadas em nível celular as alterações dos metabólitos, que são produtos intermediários ou finais do metabolismo em uma amostra biológica; na genômica, os genes; e na proteômica, as alterações das proteínas. A produção de trabalhos nessa área é crescente, e novas abordagens relacionam as tecnologias ômicas avançadas com a área de alimentos e nutrição, para melhorar o bem-estar, a saúde e segurança dos consumidores, integrando pesquisadores de diversas áreas do conhecimento. Surge, então, um novo conceito na comunidade científica, a foodomics . Sua aplicabilidade pode ser comprovada pela diversidade de trabalhos na área relacionados a: técnicas de análise empregadas, tratamento de dados, autenticação de alimentos, toxinas e segurança de alimentos, produtos alimentícios diversos e oriundos de plantas, entre outros. Compostos bioativos presentes nos alimentos também despertam grande interesse em pesquisadores que estudam processos de modificação dos alimentos. Eles podem ser, por exemplo, adicionados em alimentos nos quais não estão naturalmente presentes e originar suplementos com esses compostos isolados. Para isso, se faz necessário o estudo da sua bioatividade, metabolismo e aplicação na prevenção de morbidades. Esses aspectos químicos, bioquímicos e microbiológicos se relacionam com compostos bioativos, enzimas e outros compostos de interesse científico e econômico, e de forma associada também são alvos de investigação, bem como o desenvolvimento de processos e tecnologias para aplicação. A produção científica relacionada às alterações ocorridas nos alimentos pode ainda subsidiar a criação, atualização e fiscalização de normas de higiene e boas práticas de fabricação de alimentos. PESQUISA CIENTÍFICA EM AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS ALIMENTOS A garantia da qualidade e segurança de alimentos é essencial para a concretização da situação de segurança alimentar e nutricional e para a orientação de instituições direcionadas à regulação da produção e comercialização de matérias-primas, alimentos e produtos alimentícios. O setor produtivo como um todo, estabelecimentos que produzem refeições, e mesmo os cidadãos no âmbito domiciliar, aplicam técnicas, ferramentas e procedimentos de forma integrada e em diferentes níveis de complexidade a fim de buscar a qualidade e a segurança dos alimentos consumidos. A pesquisa científica sobre qualidade dos alimentos fornece evidências científicas que subsidiam o desenvolvimento desses procedimentos. Foto: Stock.adobe.com Na indústria alimentícia e estabelecimentos produtores de alimentos, as boas práticas de fabricação e os procedimentos operacionais padrão de higienização devem ser constantemente atualizados à luz das novas descobertas científicas. Dessa forma, é possível racionalizar a produção e monitorar com rigor pontos críticos dos processos, priorizando uma abordagem preventiva em vez de reativa e reduzindo os custos operacionais. A produção científica na área dá origem a muitos desses protocolos. A atividade regulatória obrigatória da produção e comércio de alimentos é o braço das autoridades nacionais ou locais para garantir a disponibilidade de alimentos adequados, seguros e em conformidade com os requisitos de rotulagem. O que também é objeto e desdobramento das pesquisas científicas na área de controle de qualidade de alimentos. A PRODUÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DOS ALIMENTOS A especialista Carolina Beres fala sobre a produção em ciência e tecnologia dos alimentos e como desenvolver um projeto de TCC na área. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS, É CORRETO AFIRMAR QUE ESTÁ RELACIONADA AO ESTUDO DOS(AS): A) Técnicas de preparo e conservação dos alimentos B) Características físicas, químicas, microbiológicas e sensoriais dos alimentos C) Disciplinas relacionadas à Agronomia, Veterinária, Ecologia, Medicina, Microbiologia, Engenharia, Saúde Pública e nutrição D) Processos sociais e relações de poder envolvidos na produção e comercialização de alimentos E) Processamentos dos alimentos da matéria-prima à comercialização, desenvolvimento de novos produtos e tecnologias relacionadas à produção e distribuição 2. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA UMA CONTRIBUIÇÃOQUE O DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS ALIMENTÍCIOS PODE TRAZER PARA A SOCIEDADE: A) Elaboração de políticas públicas direcionadas às principais carências nutricionais. B) Tratamento de doenças infecciosas transmitidas por alimentos. C) Agregação de valor a subprodutos gerados na produção de alimentos. D) Otimização da vigilância epidemiológica e nutricional. E) Aperfeiçoamento de técnicas para a produção de refeições. GABARITO 1. Sobre a pesquisa científica em ciência e tecnologia de alimentos, é correto afirmar que está relacionada ao estudo dos(as): A alternativa "E " está correta. A pesquisa científica em ciência e tecnologia dos alimentos tem como enfoque toda a cadeia produtiva que envolve o processamento da matéria-prima, bem como a comercialização associada ao desenvolvimento de novos produtos com enfoque no desenvolvimento técnico- científico na área da tecnologia dos alimentos, além do marketing relacionado à produção e à distribuição. 2. Assinale a alternativa que apresenta uma contribuição que o desenvolvimento de novos produtos alimentícios pode trazer para a sociedade: A alternativa "C " está correta. Diversos subprodutos gerados na produção de alimentos são descartados. A agregação de valor a eles com o desenvolvimento de novos produtos alimentícios pode reduzir a geração de resíduos, contribuindo para o desenvolvimento de um processo produtivo sustentável e preservando o meio ambiente, importantes contribuições para a sociedade. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Foram apresentados e discutidos os principais campos e núcleos de saberes da nutrição, permitindo a caracterização da produção científica na área. Vimos as origens das pesquisas na área no Brasil, relacionadas às condições de vida da população, em especial, a problemas como a fome e carências nutricionais específicas. Entendemos a complexidade e a multidisciplinaridade da pesquisa em nutrição, destacamos sua relevância no desenvolvimento humano e exploramos os principais eixos que caracterizam a produção nos diversos campos. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALVARENGA, M.; FIGUEIREDO, M.; TIMERMAN, F.; e ANTONACCIO, C. nutrição comportamental. São Paulo: Manole, 2019. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, ACADEMY OF NUTRITION AND DIETETICS, DIETITIANS OF CANADA. Position stand. Nutrition and athletic performance. Medicine & Science in Sports & Exercise, v. 48, n. 3, p. 543-68, 2016. BARRETO, S. M.; PINHEIRO, A. R. O.; SICHIERI, R.; MONTEIRO, C. 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Revista de nutrição, Campinas, v. 30, n. 1, p. 1-12, 2017. CAMPOS, F. M.; KRAEMER, F. B.; PRADO, S. D. Alimentação de coletividades nos grupos de pesquisa e programas de pós-graduação em nutrição no Brasil. In: Lobo, A. R. (organizador). Avanços e desafios da nutrição no Brasil 2. Ponta Grossa: Atena Editora, 2018. CANUTO, G. A. B.; COSTA, J. L.; CRUZ, P. L. R.; SOUZA, A.R.L.; FACCIO, A.T.; KLASSEN, A.; RODRIGUES, K. T.; e TAVARES, M. F. M. Metabolômica: definições, estado-da-arte e aplicações representativas. Química Nova, São Paulo, v. 41, n. 1, 2018. CASTRO, J. Geopolítica da Fome: ensaio sobre os problemas de alimentação e de população no mundo. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1957. CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Perfil da atuação profissional do nutricionista no Brasil. Brasília: CFN, 2006. CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO. Tabela de áreas do conhecimento. Brasília (DF), 2021. CONTI, A.; MORENO, F. S; e ONG, T.P. Nutrigenômica: revolução genômica na nutrição. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 62, n. 2, 2010. COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR. Cadernos de indicadores. Brasília: MEC, 2011. DEMÉTRIO, F.; PAIVA, J. B.; FRÓES, A. A. G.; FREITAS, M. C. S.; SANTOS, L. A. S. A nutrição clínica ampliada e a humanização da relação nutricionista-paciente: contribuições para reflexão. Revista de nutrição, Campinas, v. 24, n. 5, p. 743-763, 2011. JUZWIAK, C.R. Reflection on sports nutrition: where we come from, where we are, and where we are headed. Revista de nutrição, Campinas, v. 29, n. 3, 2016. KAC, G.; PROENÇA, R. P. C.; PRADO, SD. A criação da área “nutrição” na Capes. Revista de nutrição, Campinas, v. 24, n. 6, p. 905-916, 2011. KLOTZ-SILVA, J.; PRADO, S. D.; SEIXAS, C. M. Comportamento alimentar no campo da alimentação e nutrição: do que estamos falando? Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 26, n. 4, p. 1103-1123, 2016. KRAUSE, M. V. 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Contém classificações relacionadas com os núcleos de saberes e práticas. Ouça o Podcast Ciência da nutrição que apresenta e discute temais atuais e desafiadores da ciência da nutrição, apresentado e dirigido pelos professores Anderson Teodoro e Luana Aquino da Escola de nutrição da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). O conteúdo está disponível nas principais plataformas digitais de áudio e vídeo. CONTEUDISTA Thaís da Silva Ferreira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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