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Indaial – 2020 Mediação nas Relações de ConsuMo, TRabalho e Meio aMbienTe Profª. Maria Fernanda Soares Macedo 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Profª. Maria Fernanda Soares Macedo Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M141m Macedo, Maria Fernanda Soares Mediação nas relações de consumo, trabalho e meio ambiente. / Maria Fernanda Soares Macedo. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 197 p.; il. ISBN 978-65-5663-040-3 1. Mediação. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 341.415 III apResenTação A mediação é um método consensual de resolução de conflitos basea- do no diálogo entre as partes. Trata-se de uma importante ferramenta na busca pela cultura da pacificação social. A atuação do mediador (terceiro imparcial) é fundamental para que a mediação ocorra e seja bem sucedida, pois as partes envolvidas na demanda contam com a sua participação para a condução dos diálogos e para a facilitação da conversação e escuta entre elas, isso porque a função do mediador não é julgar e nem decidir o conflito, mas sim propiciar, de maneira neutra, imparcial, acolhedora e tranquila, as condições adequadas para que as partes envolvidas possam dialogar e, juntas, chegar a um acordo baseado no entendimento mútuo e que seja benéfico para ambas. A mediação é um método extrajudicial e colaborativo que pode ser empregado a várias áreas conflituosas instauradas entre os seres humanos. Trata-se de uma forma de resolução de conflitos célere, flexível e econômica. A principal missão do mediador (terceiro neutro e imparcial) é a facilitação e restauração do diálogo entre as partes. Nesta unidade, aprenderemos ini- cialmente sobre o conceito, os objetivos e o papel do mediador na mediação das relações consumeristas. A seguir, analisaremos como a mediação pode ser aplicada da prevenção e na resolução das demandas instauradas nas relações trabalhistas. Por fim, estudaremos como a mediação pode ser empregada nas relações e nos conflitos ambientais. Para tanto, estudaremos sobre a importância do mercado consumidor para o aquecimento e movimentação da economia, sobre a vulnerabilidade e a hipossuficiência do consumidor na relação de consumo, sobre a ligação entre a mediação e a Resolução Adequada de Disputas (RADs), bem como verificare- mos como o assunto é tratado na legislação brasileira e no ordenamento jurídico brasileiro (em especial, na Constituição Federal de 1988, no Código de Defesa do Consumidor, na Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015, no Código de Processo Civil de 2015 além da Resolução n° 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça). Também estudaremos sobre a aplicação da autocomposição no Direi- to do Consumidor. Por fim, averiguaremos a importância do Procon para as ações educativas em plano consumerista, para a prevenção e para a mediação de conflitos. Profª. Maria Fernanda Soares Macedo IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – MEDIAÇÃO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO ......................................................1 TÓPICO 1 – CONCEITO, OBJETIVOS E PAPEL DO MEDIADOR NA MEDIAÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ..................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988 E A PROTEÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA: UM ESTUDO ACERCA DA TUTELA DO CONSUMIDOR ...................................4 3 MEDIAÇÃO E A RESOLUÇÃO ADEQUADA DE DISPUTAS (RADs): APLICAÇÃO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO ............................................................................7 3.1 LEI n° 13.140/2015: PREVISÃO NORMATIVA DA MEDIAÇÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ....................................................................................................9 3.1.1 Objetivos da mediação .........................................................................................................10 3.1.2 Princípios da mediação .........................................................................................................11 3.2 ETAPAS DA MEDIAÇÃO ..............................................................................................................12 4 O PAPEL DO MEDIADOR NA MEDIAÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ..................14 4.1 CÓDIGO DE ÉTICA PARA MEDIADORES ................................................................................15 4.1.1 Atuação do mediador: imparcialidade, credibilidade, competência, confidencialidade e diligência ...............................................................................................................................16 4.2 ACOLHIMENTO, ESCUTA E PACIFICAÇÃO NOS DIÁLOGOS ...........................................16 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................18 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................20 TÓPICO 2 – A APLICAÇÃO DA AUTOCOMPOSIÇÃO NO DIREITO DO CONSUMIDOR ..............................................................................23 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................23 2 AUTOCOMPOSIÇÃO NO DIREITO: CONSENSO ENTRE AS PARTES PARA A PACIFICAÇÃO DO CONFLITO .......................................................................................................23 2.1 A APLICAÇÃO DA AUTOCOMPOSIÇÃO NO DIREITO DO CONSUMIDOR ...................27 3 O EMPODERAMENTO DOS ATORES CONSUMERISTAS COMO MECANISMO PARA A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ........................................................................................38RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................42 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................44 TÓPICO 3 – O PROCON COMO INSTRUMENTO DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS .........47 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................47 2 PROGRAMA DE PROTEÇÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR (PROCON): EQUILÍBRIO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO E FISCALIZAÇÃO DAS NORMAS CONSUMEIRISTAS.............................................................................................................................54 2.1 PROCON: CARÁTER FISCALIZATÓRIO, CARÁTER EDUCATIVO E CARÁTER PUNITIVO....................................................................................................................55 3 LIMITES DA MEDIAÇÃO NAS RELAÇÕES CONSUMERISTAS ...........................................61 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................65 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................72 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................73 suMáRio VIII UNIDADE 2 – MEDIAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO ..................................................75 TÓPICO 1 – JUSTIÇA DO TRABALHO: ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIAS ....................77 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................77 2 DIREITO DO TRABALHO .................................................................................................................79 3 JUSTIÇA DO TRABALHO: ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIAS.........................................81 3.1 PRINCÍPIOS BASILARES DA JUSTIÇA DO TRABALHO .......................................................83 3.2 PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DAS RELAÇÕES DE TRABALHO ..................................88 4 CONFLITOS DO TRABALHO ..........................................................................................................92 4.1 CONFLITOS INDIVIDUAIS DE TRABALHO ............................................................................93 4.2 CONFLITOS COLETIVOS DE TRABALHO ...............................................................................93 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................94 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................95 TÓPICO 2 – O PROCESSO TRABALHISTA .....................................................................................97 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................97 2 O PROCESSO TRABALHISTA .......................................................................................................100 2.1 AS PARTES ENVOLVIDAS NO PROCESSO TRABALHISTA ...............................................104 2.1.1 Direitos e deveres das partes nas relações processuais trabalhistas .............................107 2.2 ETAPAS DO PROCESSO TRABALHISTA .................................................................................109 2.3 O PROCESSO TRABALHISTA E O ACESSO À JUSTIÇA.......................................................112 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................115 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117 TÓPICO 3 – MEDIAÇÃO NAS RELAÇÕESDE TRABALHO ......................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 MEDIAÇÃO NAS RELAÇÕES DE TRABALHO .........................................................................120 2.1 CONCEITO, OBJETIVOS E O PAPEL DO MEDIADOR NAS RELAÇÕES TRABALHISTAS ............................................................................................................................121 3 A MEDIAÇÃO E A ARBITRAGEM COMO MEIOS EXTRAJUDICIAIS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS TRABALHISTAS NA VIGÊNCIA DA LEI 13.467/17 .......123 4 RESOLUÇÃO CSJT Nº 174/2016..........................................................................................................126 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................128 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................130 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................132 UNIDADE 3 – MEDIAÇÃO NAS RELAÇÕES DO MEIO AMBIENTE .....................................135 TÓPICO 1 – RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL: O DANO AMBIENTAL E A SUA REPARAÇÃO .....................................................137 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137 2 PROTEÇÃO NORMATIVA DO MEIO AMBIENTE: BREVE PANORAMA INTERNACIONAL E NACIONAL .................................................................................................139 2.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988 E A TUTELA AMBIENTAL ..........142 2.2 DIREITO AMBIENTAL, POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ....................................................................................145 3 RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL: O DANO AMBIENTAL E A SUA REPARAÇÃO .........................................................................................................................150 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................154 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................156 IX TÓPICO 2 – MEDIAÇÃO NA ÁREA DO MEIO AMBIENTE: CONCEITO, OBJETIVO, PAPEL DO MEDIADOR NAS QUESTÕES AMBIENTAIS ............159 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159 2 MEDIAÇÃO NA ÁREA DO MEIO AMBIENTE ..........................................................................160 2.1 GESTÃO AMBIENTAL, DIÁLOGO, MEDIAÇÃO E A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS .................................................................................................165 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................171 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................172 TÓPICO 3 – ACESSO À JUSTIÇA E TUTELA COLETIVA ..........................................................175 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................175 2 ACESSO À JUSTIÇA, JUSTIÇA AMBIENTAL E TUTELA COLETIVA .................................177 3 EDUCAÇÃO E ÉTICA AMBIENTAL: CAMINHOS PARA A EFETIVAÇÃO INTEGRAL DA TUTELA DO MEIO AMBIENTE .......................................................................178 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................183RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................189 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................190 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................192 X 1 UNIDADE 1 MEDIAÇÃO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender que as relações de consumo impactam na dinâmica da eco- nomia e da sociedade; • conhecer e compreender o conceito, os objetivos e o papel do mediador na mediação das relações de consumo; • aprender sobre a aplicação da autocomposição no Direito do Consumidor; • compreender como o empoderamento dos Atores Consumeristas é um eficiente mecanismo para a resolução de conflitos; • conhecer as funções educativas, fiscalizatórias e punitivas do Procon; • aprender sobre a importância do Procon como ferramenta educativa e instrumento de mediação de conflitos; • reconhecer os limites da mediação nas relações consumeristas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEITO, OBJETIVOS E PAPEL DO MEDIADOR NA MEDIAÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO TÓPICO 2 – A APLICAÇÃO DA AUTOCOMPOSIÇÃO NO DIREITO DO CONSUMIDOR TÓPICO 3 – O PROCON COMO INSTRUMENTO DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONCEITO, OBJETIVOS E PAPEL DO MEDIADOR NA MEDIAÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO 1 INTRODUÇÃO O poder de consumo da população é um dos fatores que influencia direta- mente o Produto Interno Bruto (PIB), um dos principais indicadores do potencial econômico de um país (quanto maior é o poder de compra e aquisição de bens e serviços, melhor é resultado do PIB). O mercado aquecido proporciona dinamismo à sociedade, inovação em pes- quisas para o desenvolvimento e sustentabilidade dos produtos, além do aumento de empregos no comércio e no varejo. O equacionamento do PIB permite que se ve- rifique se a economia está em desenvolvimento ou recessão. As relações de consumo são compostas precipuamente por duas partes: o fornecedor e o consumidor. FIGURA 1 – CARTEIRA COM DINHEIRO FONTE: <http://bit.ly/2vhLyNE>. Acesso em: 26 nov. 2019. UNIDADE 1 | MEDIAÇÃO NAS 4 Como em todos os tipos de relações contratuais, é comum e previsível que existem divergências e litígios entre as partes, que podem buscar a via judicial, a via administrativa e a via extrajudicial, bem como a maneira litigiosa ou consensual para a resolução desses conflitos. Entretanto, tendo em vista o cenário de abarrotamento de processos e, con- sequentemente, de morosidade do Poder Judiciário, as alternativas para a solução de conflitos se tornam cada vez mais indispensáveis e ganham cada vez mais espa- ço na sociedade brasileira. Nesse sentido, é necessário ressaltar que tanto a legis- lação brasileira (em especial, a Resolução n° 125/2010, o novo Código de Processo Civil e a Lei de Mediação, ambos do ano de 2015) quanto a atuação dos mediado- res mostram-se como mecanismos imprescindíveis para a busca da substituição da cultura do litígio pela cultura da paz, para a facilitação do diálogo entre as partes e para a resolução célere, consensual e pacífica das lides. De acordo com o Relatório Justiça em Números 2018 – ano-base 2017 publi- cado pelo Conselho Nacional de Justiça, o número alto de processos é um gargalo para que o cidadão tenha acesso à justiça: “o tema Direito Civil aparece entre os cinco assuntos com os maiores quantitativos de processos em todas as instâncias da Justiça Estadual, destacando-se, também, o elevado número de processos de Direito Penal no 2º grau, de Direito Tributário na justiça comum e de Direito do Consumidor nos juizados especiais e turmas recursais”. FONTE: CNJ. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em Números 2018: ano-base 2017. Brasília: CNJ, 2018, p. 180. Disponível em: http://bit.ly/2vi1Ea2. Acesso em: 10 ago. 2019. IMPORTANT E 2 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988 E A PROTEÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA: UM ESTUDO ACERCA DA TUTELA DO CONSUMIDOR No passado, as relações contratuais firmadas entre consumidores e fornece- dores eram regidas pelo Código Civil de 1916. A legislação civilista brasileira consi- derava que as partes estavam em uma relação de equilíbrio, privatista e de mesmo patamar, o que dificultava muito a proteção e a defesa do consumidor sempre que ocorria algum problema com a aquisição do produto ou conflito com o fornecedor. Isso porque, geralmente, o consumidor está em posição desigual, de fragili- dade e de vulnerabilidade em âmbito econômico, jurídico, técnico e fático frente à estrutura que o fornecedor possui e, sem o amparo da legislação, o consumidor en- frentava enormes barreiras e desafios para tentar conseguir resolver esses proble- mas. A configuração legislativa era um enorme empecilho para o acesso à justiça. TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETIVOS E PAPEL DO MEDIADOR 5 A Constituição Federal Brasileira de 1988 (CF/88), também conhecida como Constituição Cidadã, entretanto, altera esse cenário, ao reconhecer que essa deman- da é uma questão de ordem pública, que há de fato esse desequilíbrio entre as par- tes, que o direito do acesso à justiça deve ser respeitado e, como resultado, trazer um arcabouço de normas que garantam a proteção do consumidor. De acordo com os artigos 5º (incisos XXXII e XXXV) e 170 (inciso V), da CF/88: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na- tureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXII- o Estado pro- moverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; XXXV- a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho hu- mano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor. Em harmonia com as regras constitucionais, o art. 48 dos Atos das Dis- posições Constitucionais Transitórias (ADCT) estabelece que: “o Congresso Na- cional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor” (BRASIL, 1988). Como resultado dessas diretrizes, em 11 de setembro de 1990, foi pro- mulgado o Código de Defesa do Consumidor – Lei nº 8078/1990. Composto por 119 artigos, o CDC traz dispositivos referentes aos direitos do consumidor; aos direitos e deveres das partes; à Política Nacional de Relações de Consumo; à qua- lidade de produtos e serviços; à prevenção e reparação dos danos; às práticas comerciais; à proteção contratual; às sanções administrativas; às infrações penais e reparações cíveis tanto em âmbito individual quanto coletivo. Dentre suas principais características estão o reconhecimento da vulne- rabilidade do consumidor e o princípio da boa-fé como pilares das relações de consumo. Ademais, os artigos 2º e 3º do CDC apresentam as seguintes definições: Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou uti- liza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equi- para-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indeterminá- veis, que haja intervindo nas relações de consumo. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou priva- da, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercializa- ção de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer ativida- de fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as de- correntes das relações de caráter trabalhista (BRASIL, 1990). A clareza de conceitos e toda a sistemática e organização do CDC são elementos essenciais para a definição dos direitos e deveres das partes e para a proteção ao consumidor nas áreas e demandas educativas, preventivas e repres- UNIDADE 1 | MEDIAÇÃO NAS 6 sivas relativas à intersecção das questões consumeristas com o Direito Civil, com o Direito Penal, com o Direito Administrativo, com o Direito Processual Civil e com o Direito Processual Penal. Essa configuração normativa trouxe diversas consequências, como: a defini- ção precisa de quem se enquadra no conceito de fornecedor e de consumidor; o re- conhecimento da importância do CDC para a efetivação dos direitos do consumidor; a criação de mecanismos em âmbito administrativo, cível e penal para que as partes possam pleitear em juízo que seus direitos sejam respeitados e cumpridos. Em que pese esses avanços gerarem resultados muito positivos, deve-se tam- bém observar que o acesso à justiça pautado pela cultura do litígio (no qual as partes submetem a demanda à análise e aguardam passivamente pelo julgamento do ma- gistrado) acarreta um alto índice de ações judiciais e causa grande impacto e lentidão no Poder Judiciário, o que, consequentemente, se reflete na demora da efetividade da prestação dos serviços jurisdicionais e da análise e solução das lides. Por esse motivo, a mediação e a atuação do mediador na área do consumo são tão relevantes e a carreira de mediador (tanto judicial quanto extrajudicial) en- contra-se em franca expansão (esse tema será retomado ao longo das unidades do livro didático). De acordo com o Relatório ICJ Brasil, que mede o índice de confiança na justiça no Brasil: “uma das formas de se medir essa legitimidade é por meio das motiva- ções que levam os cidadãos a utilizar (ou não) o Judiciário e a confiar (ou não) nele, em termos de eficiência (celeridade), capacidade de resposta (competência), imparcialidade, honestidade e acesso (facilidade de uso e custos). No caso brasileiro, a crise no sistema de Justiça não é um fenômeno recente. Uma série de pesquisas mostra que, do ponto de vista da eficiência do Judiciário e da burocratização de seus serviços, a sua legitimidade vem sendo questionada desde o início da década de 1980”. FONTE: FACULDADE GETÚLIO VARGAS. FGV Direito São Paulo. Relatório ICJ Brasil. 1º semestre de 2017. 2017, p. 3. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/ handle/10438/19034/Relatorio-ICJBrasil_1_sem_2017.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 20 ago. 2019. IMPORTANT E http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/19034/Relatorio-ICJBrasil_1_sem_2017.pdf?sequence=1&isAllowed=y http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/19034/Relatorio-ICJBrasil_1_sem_2017.pdf?sequence=1&isAllowed=y TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETIVOS E PAPEL DO MEDIADOR 7 3 MEDIAÇÃO E A RESOLUÇÃO ADEQUADA DE DISPUTAS (RADs): APLICAÇÃO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO A política de Resolução Adequada de Disputas (RADs) tem por objetivo fa- zer com que as partes litigantes – pautadas na autonomia de vontade e no equilíbrio das relações – dialoguem, negociem seus próprios interesses e, juntas, cheguem a um consenso. Trata-se de um contexto colaborativo ao invés de combativo para a solução do litígio em que o conflito será resolvido pelas próprias partes ao invés de ser sub- metido à análise judicial e as partes aguardarem passivamente pelo julgamento do juiz de Direito. A mediação pode ser aplicada tanto para conflitos que envolvam relações afetivas e continuadas (como demandas familiares) quanto para relações contratuais, comerciais e de relações de consumo (nas relações consumeristas, além de solucionar a demanda, a mediação pode ser uma das formas de se proporcionar a plena satis- fação do consumidor e a possibilidade de retorno para novas relações de consumo). A atuação do mediador é essencial para a condução dos diálogos e para a negociação entre as partes. O preparo e o treinamento das pessoas que atuarão nas mediações devem abarcar o núcleo sistêmico de normas constitucionais e infraconsti- tucionais (com destaque para as normas processuais civis e as diretrizes gravadas na Resolução n° 125/2010 e na Lei n° 13.140/2015) bem como devem abranger competên- cias e habilidades interpessoais, inteligência emocional, liderança e gestão de emo- ções e de conflitos além de buscar diminuir os ruídos na comunicação entre as partes. Cabe ao mediador também observar atentamente os termos nos quais o acor- do está sendo delineado – em caso de acordo entre as partes que resulte em prejuízo para uma delas ou desequilíbrio na relação, o mediador deve se manifestar, mostran- do para as partes que os termos devem ser renegociados. Nesse sentido, a Resolução n° 125/2010 (que dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências) estabelece, em seus artigos 1° a 3°: https://blog.sajadv.com.br/relacao-de-consumo/ UNIDADE 1 | MEDIAÇÃO NAS 8 Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados a sua natureza e peculiaridade. Pa- rágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe, nos termos do art. 334 do Novo Código de Processo Civil combinado com o art. 27 da Lei de Mediação, antes da solução adjudicada mediante sentença, oferecer ou- tros mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão. Art. 2º Na implementação da política Judiciária Nacional, com vista à boa qualidade dos serviços e à disseminação da cultura de pacificação social, serão observados: I- centralização das estruturas judiciárias; II- adequada formação e treinamento de servidores, conciliadores e media- dores; III- acompanhamento estatístico específico. Art. 3º O CNJ auxiliará os tribunais na organização dos serviços mencio- nados no art. 1º, podendo ser firmadas parcerias com entidades públicas e privadas, em especial quanto à capacitação de mediadores e concilia- dores, seu credenciamento, nos termos do art. 167, § 3°, do Novo Código de Processo Civil, e à realização de mediações e conciliações, na forma do art. 334, dessa lei. A participação ativa das partes e o seu engajamento na solução do litígio representa uma perspectiva de resultados muito positiva na resolução dos conflitos de interesses. O diálogo respeitoso e os debates realizados em ambientes amistosos e apropriados permitem a restauração da comunicação e garantem que cada lado exponha calmamente suas razões e que as partes se sintam próximas entre elas e próximas do ambiente forense sem que ocorra a imposição da decisão por meio de uma sentença proferida pelo juiz. Esse sentimento é fundamental para o empoderamento e o protagonismo das partes (no Tópico 2 da Unidade 1, estudaremos de maneira aprofundada sobre os impactos positivos do empoderamento das pessoas na busca pela resolução dos litígios consumeristas tanto em plano individual quanto para a coletividade). O mediador não decide, não sentencia e nem julga o fato, mas proporciona e conduz o ambiente adequado e respeitoso para que as conversas entre os litigan- tes ocorram. Conforme já explicado, o mediador também deve observar se o acordo entre as partes é pautado no equilíbrio entre elas e, se ocorrer desequilíbrio jurídico, conduzi-laspara novos debates, para que o acordo não seja prejudicial a uma delas. É imprescindível que o mediador desenvolva as seguintes técnicas e apli- que as seguintes competências nas sessões de mediação: acolhimento; neutralida- de; escuta ativa; questionamentos precisos que levem as partes à reflexão e ao exa- me imparcial da demanda e à compreensão sobre os benefícios de se chegar a um acordo; inteligência emocional; habilidade de resumir e organizar ideias e empatia. TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETIVOS E PAPEL DO MEDIADOR 9 A aderência às sessões de mediação garante a voluntariedade e a liberda- de de escolha para as partes, pois a legislação brasileira estabelece que ninguém é obrigado a ingressar e/ou permanecer na mediação (ou seja, as partes podem desistir dessa forma de solução de conflitos a qualquer tempo e podem optar por submeter o conflito à análise e decisão do magistrado). Ademais, a mediação pode ser aplicada ao conflito em sua totalidade ou apenas em parte(s) dele. O art. 3º da Lei n° 13.140/2015 esclarece que: “pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre di- reitos indisponíveis que admitam transação. § 1º A mediação pode versar sobre todo o conflito ou parte dele. § 2º O consenso das partes envolvendo direitos in- disponíveis, mas transigíveis, deve ser homologado em juízo, exigida a oitiva do Ministério Público”. É necessário também frisar as seguintes características da mediação: o custo é menor que o custo de uma demanda processual; há maior celeridade; há garantia de sigilo e confidencialidade; flexibilidade nas negociações, participação ativa dos litigantes na busca pela solução da lide, o que resulta na alta probabi- lidade de se chegar a um acordo e, por fim, não há a rigidez procedimental que existe nos processos judiciais. 3.1 LEI N° 13.140/2015: PREVISÃO NORMATIVA DA MEDIAÇÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A Lei n° 13.140/2015 dispõe sobre a mediação entre particulares como meio de solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âm- bito da administração pública. O parágrafo único do art. 1º desta Lei estabelece que: “considera-se mediação a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia”. Em continuidade, a Lei n° 13.140/2015 prevê que o mediador será designa- do pelo tribunal ou escolhido pelas partes. Cabe ao mediador conduzir o proce- dimento de comunicação entre as partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do conflito. Quanto aos mediadores extrajudiciais, esses estão previstos nos artigos 9º e 10º da Lei n° 13.140/2015: Art. 9º Poderá funcionar como mediador extrajudicial qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de integrar qualquer tipo de conse- lho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se. Art. 10. As partes poderão ser assistidas por advogados ou defensores públicos. Parágrafo único. Comparecendo uma das partes acompanhada de ad- vogado ou defensor público, o mediador suspenderá o procedimento, até que todas estejam devidamente assistidas. Sobre os mediadores judiciais, a Lei n° 13.140/2015 estabelece: UNIDADE 1 | MEDIAÇÃO NAS 10 Art. 11. Poderá atuar como mediador judicial a pessoa capaz, graduada há pelo menos dois anos em curso de ensino superior de instituição re- conhecida pelo Ministério da Educação e que tenha obtido capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores, reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados - EN- FAM ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos estabeleci- dos pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça. Art. 12. Os tribunais criarão e manterão cadastros atualizados dos mediadores habilitados e autorizados a atuar em mediação judicial. § 1º A inscrição no cadastro de mediadores judiciais será requerida pelo interessado ao tribunal com jurisdição na área em que pretenda exercer a mediação. § 2º Os tribunais regulamentarão o processo de inscrição e desligamento de seus mediadores. Art. 13. A remuneração devida aos mediadores judiciais será fixada pelos tribunais e custeada pelas partes, observado o disposto no § 2º do art. 4º desta Lei. É importante que você se atente ao seguinte fato: apesar de mediação estar relacionada com conflitos jurídicos, esta não é uma área de atuação exclusiva para bacharéis em Direito e advogados. Para atuar na área como mediador extrajudicial, a pessoa capaz deve ser de confiança das partes e deve ter sido adequadamente capa- citada para o exercício da função. Para atuar na área como mediador judicial, é necessário que o profissional cumpra os requisitos registrados entre os artigos 11 a 13 da Lei n° 13.140/2015 (pes- soa capaz, graduada há pelo menos dois anos em curso superior reconhecido pelo Ministério da Educação). Ademais, deve ter obtido capacitação em escola ou instituição de formação de mediadores reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM) ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos estabe- lecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça). 3.1.1 Objetivos da mediação A mediação é um meio adequado de resolução de conflitos (RADs) con- duzido pelo mediador (terceiro neutro, equidistante das partes e imparcial) que tem por objetivo principal a facilitação do diálogo entre as partes litigantes para que essas possam debater sobre a demanda e, juntas, chegarem a uma solução. O mediador deve proporcionar um ambiente calmo, tranquilo, acolhedor e harmônico para que as partes possam se comunicar, se posicionar, expor suas razões, motivar e refletir sobre as divergências e, em conjunto, construírem uma resolução pacífica do conflito. O manejo e a destreza do mediador na condução das sessões são fun- damentais para que as partes possam, juntas, chegar a um acordo (não cabe ao mediador interferir apresentando sugestões, julgar o fato e nem impor decisões). Dentre as características da mediação, é possível elencar as seguintes: a celerida- TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETIVOS E PAPEL DO MEDIADOR 11 de, a confidencialidade, a diminuição dos desgastes e atritos entre os litigantes, a redução de custos e a restauração da comunicação e da pacificação entre as partes. Além de ser extremamente positiva para os litigantes, a mediação também apresenta resultados muito benéficos para a coletividade, visto que auxilia na mu- dança da cultura do litígio pela cultura da pacificação, na restauração da paz social e na redução de demandas litigiosas submetidas à análise do Poder Judiciário. 3.1.2 Princípios da mediação O art. 2º da Lei n° 13.140/2015 elenca os princípios que pautam e regem a mediação. São eles: imparcialidade do mediador, isonomia entre as partes, oralida- de, informalidade, autonomia da vontade das partes, busca do consenso, confiden- cialidade e boa-fé. A imparcialidade do mediador é a equidistância que ele deve manter com as partes, sem que ele tenha predileção, amizade, inimizade ou antipatia por uma de- las. A isonomia entre as partes garante que essas sejam tratadas com igualdade. A oralidade do procedimento está profundamente relacionada com a comuni- cação e com o diálogo. A informalidade da mediação, por sua vez, se opõe ao forma- lismo processual e garante que o procedimento seja simples, ágil e flexível. É neces- sário, entretanto, ressaltar que – apesar de a informalidade ser um dos princípios da mediação – o termo inicial e o termo final (no qual o acordo estabelecido entre as partes é registrado), devem necessariamente ser formalizados por escrito. A autonomia da vontade das partes significa que elas podem optar por submeter ou não o conflito (em todo ou em parte) à mediação e, se querem ou não dar conti-nuidade às sessões de mediação ou se preferem que o magistrado julgue o conflito. A busca do consenso significa que as partes devem dialogar e, juntas, cons- truir um acordo benéfico para ambas. O princípio da confidencialidade garante que as informações referentes à mediação permanecerão em sigilo (trata-se da obrigatoriedade do mediador de não divulgar essas informações a terceiros, salvo nos casos expressamente previs- tos em lei). Por fim, o princípio da boa-fé representa a presunção de que as partes agirão com lealdade e honestidade ao longo de todo o período de negociação e cumprimento do acordo. UNIDADE 1 | MEDIAÇÃO NAS 12 FIGURA 2 – PESSOAS CONVERSANDO FONTE: <http://bit.ly/2xn6tPR>. Acesso em: 26 nov. 2019. 3.2 ETAPAS DA MEDIAÇÃO Apesar de a mediação ser um procedimento muito flexível, é necessário que o mediador siga uma estrutura sequencial lógica para conduzir as sessões e para que as partes possam se organizar e concatenar as ideias. O procedimento da mediação está previsto na Lei n° 13.140/2015 (as dis- posições comuns referentes às mediações estão previstas entre os artigos 14 a 20 dessa Lei. A seguir, os artigos 21 a 23 são destinados à mediação extrajudicial. Em continuidade, os artigos 24 a 29 são dirigidos à mediação judicial). São cinco as etapas a serem seguidas: A fase inaugural é a fase de pré-mediação. Nessa fase, há a avaliação panorâmica e geral da situação conflituosa bem como a seleção do mediador que atuará no caso concreto. Escolhido o mediador, a segunda etapa é pautada pelo discurso de aber- tura. Nessa fase, o mediador se apresenta para as partes e explica detalhadamen- te sobre os princípios, procedimentos, objetivos e benefícios da mediação. O mediador deve proporcionar um ambiente amistoso entre as partes e mostrar que atuará de modo imparcial, conduzindo os debates de maneira har- mônica e proporcionando a comunicação adequada entre os participantes para que essas possam dar início às exposições de motivos e à escuta. Ademais, o me- diador deve alertar as partes acerca das regras de confidencialidade aplicáveis ao procedimento. Quanto à confidencialidade, é necessário que você saiba que o art. 30 da Lei n° 13.140/2015 estabelece algumas exceções: TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETIVOS E PAPEL DO MEDIADOR 13 Toda e qualquer informação relativa ao procedimento de mediação será confidencial em relação a terceiros, não podendo ser revelada sequer em processo arbitral ou judicial salvo se as partes expressamente decidirem de forma diversa ou quando sua divulgação for exigida por lei ou neces- sária para cumprimento de acordo obtido pela mediação. § 1º O dever de confidencialidade aplica-se ao mediador, às partes, a seus prepostos, advogados, assessores técnicos e a outras pessoas de sua confiança que tenham, direta ou indiretamente, participado do procedimento de me- diação, alcançando: I - declaração, opinião, sugestão, promessa ou pro- posta formulada por uma parte à outra na busca de entendimento para o conflito; II - reconhecimento de fato por qualquer das partes no curso do procedimento de mediação; III - manifestação de aceitação de proposta de acordo apresentada pelo mediador; IV - documento preparado uni- camente para os fins do procedimento de mediação. § 2º A prova apre- sentada em desacordo com o disposto neste artigo não será admitida em processo arbitral ou judicial. § 3º Não está abrigada pela regra de confi- dencialidade a informação relativa à ocorrência de crime de ação pública. § 4º A regra da confidencialidade não afasta o dever de as pessoas discri- minadas no caput prestarem informações à administração tributária após o termo final da mediação, aplicando-se aos seus servidores a obrigação de manterem sigilo das informações compartilhadas nos termos do art. 198 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacio- nal. Art. 31. Será confidencial a informação prestada por uma parte em sessão privada, não podendo o mediador revelá-la às demais, exceto se expressamente autorizado. A terceira etapa é destinada à narrativa pormenorizada dos relatos e à escu- ta ativa das informações. Esse é o momento destinado à apresentação dos motivos e pontos de divergência e, simultaneamente, ao comprometimento de escuta plena, atenta e respeitosa. É importante ressaltar que a escuta ativa é composta pela comunicação verbal e pela comunicação não verbal entre as partes (vale dizer, portanto, que tanto as informações transmitidas pelo interlocutor quanto o ambiente no qual estas são proferidas são fundamentais para que se crie um vínculo de empatia e compreensão com a outra parte. A concentração plena e o foco absolutos no momento dos diálogos são altamente eficazes para que os debates entre as partes possam ocorrer de maneira sadia). O restabelecimento da comunicação entre as partes é essencial para que a busca pela resolução do conflito seja frutífera. É fundamental que o mediador acompanhe atentamente as partes, apazigue-as nos momentos de tensão e de âni- mos acirrados e que faça um resumo pontuando os itens mais importantes das falas de cada participante para que as partes possam visualizar os pontos dis- cordantes de maneira clara, organizada, concisa e concreta e para que possam se preparar para dialogar e chegar a um acordo. Após a sintetização das informações, dos pontos convergentes e diver- gentes entre as partes, passa-se para a quarta etapa: a fase de negociação das possíveis e viáveis soluções. Aqui, as propostas podem ser aceitas ou rejeitadas. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5172.htm#art198 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5172.htm#art198 UNIDADE 1 | MEDIAÇÃO NAS 14 Superada essa etapa, ocorre, finalmente, a quinta etapa: o encerramento da mediação, assim previsto no art. 20 da Lei n° 13.140/2015: O procedimento de mediação será encerrado com a lavratura do seu termo final, quando for celebrado acordo ou quando não se justifica- rem novos esforços para a obtenção de consenso, seja por declaração do mediador nesse sentido ou por manifestação de qualquer das par- tes. Parágrafo único. O termo final de mediação, na hipótese de ce- lebração de acordo, constitui título executivo extrajudicial e, quando homologado judicialmente, título executivo judicial. A mediação é uma excelente maneira de restauração da pacificação social e da resolução voluntária, célere e consensual do conflito. A busca ativa das par- tes por soluções frente ao conflito tem impactos muito positivos tanto em âmbito individual quanto em esfera coletiva – isso porque a construção desses acordos em conjunto proporciona uma nova maneira de a sociedade pensar coletivamen- te sobre formas para que os direitos sejam efetivamente respeitados. É imprescindível a ampla divulgação da legitimidade e dos benefícios dessa forma de resolução de conflitos para que as pessoas a conheçam já que, no Brasil, ainda prepondera a cultura da litigiosidade. 4 O PAPEL DO MEDIADOR NA MEDIAÇÃO DAS RELAÇÕES DE CONSUMO Depois de as partes aceitarem que o mediador conduza as sessões, cabe a ele administrar as discussões dos problemas. O mediador deve aplicar as etapas da mediação (descritas no subtópico 3.2), proporcionar um ambiente adequado e propício para que as negociações ocorram e sejam frutíferas, auxiliando as partes a restaurarem a comunicação e a desenvolverem empatia. A escuta ativa envolve a linguagem verbal e não verbal e é fundamental para que a comunicação entre o interlocutor e o ouvinte seja eficiente. O mediador deve auxiliar as partes a examinarem seus interesses e necessidades e colaborar para a compreensão dos pontos de vista de cada envolvido, contribuindo para que seja construído um acordo mutuamente satisfatório. É necessário que você observe os dispositivos previstos entre os artigos 6º a 8º da Lei n° 13.140/2015: Art. 6º O mediador fica impedido, pelo prazo de um ano, contado do término da última audiência em que atuou, de assessorar,represen- tar ou patrocinar qualquer das partes. Art. 7º O mediador não poderá atuar como árbitro nem funcionar como testemunha em processos ju- diciais ou arbitrais pertinentes a conflito em que tenha atuado como mediador. Art. 8º O mediador e todos aqueles que o assessoram no procedimento de mediação, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, são equiparados a servidor público, para os efeitos da legislação penal. TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETIVOS E PAPEL DO MEDIADOR 15 Deve-se buscar compreender quais são os pontos de aceitação e de resistên- cia das pessoas frente à possibilidade de submissão do conflito ao mediador e à sistemá- tica da mediação para que se possa efetivar com sucesso a cultura da pacificação social em âmbito nacional. Trata-se de pesquisa de cunho multidisciplinar que deve se pautar na percepção dos profissionais e das partes frente aos casos concretos, nos fluxos de gestão e de gerenciamento desses conflitos, bem como no fortalecimento de ações educativas destinadas à desmistificação desta forma de solução da lide. Apesar de o Código de Ética tratar da atuação dos mediadores e dos conci- liadores, este material é voltado para a atuação do mediador. É necessário que você saiba que, no ordenamento jurídico brasileiro, há diferenças entre a conciliação e a mediação e a atuação do conciliador e do mediador frente à análise e busca pela resolução do confli- to. Na conciliação, o conciliador atua de forma mais dinâmica e ativa na busca pela resolu- ção do litígio (podendo inclusive sugerir opções de solução para o conflito). Na mediação, o mediador tem um papel mais passivo, facilitando a comunicação e o diálogo entre as partes para que elas mesmas construam as soluções (o mediador não decide o conflito e nem propõe soluções para tanto). IMPORTANT E IMPORTANT E 4.1 CÓDIGO DE ÉTICA PARA MEDIADORES O Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais está previsto no Anexo III da Resolução 125, de 2010 do Conselho Nacional de Justiça e tem por objetivo proporcionar o desenvolvimento de uma política pública adequada para a prevenção e resolução pacífica dos conflitos. A qualidade dos serviços prestados pelos mediadores e conciliadores é elen- cada como um dos principais pilares do sucesso desta política e, para tanto, é essencial que esses profissionais sejam capacitados e treinados para seguirem os parâmetros definidos neste Código. O art. 1º do Código de Ética de Conciliadores e Mediadores estabelece que: “são princípios fundamentais que regem a atuação de conciliadores e mediadores judiciais: confidencialidade, competência, imparcialidade, neutralidade, independência e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes”. Insta salientar que, além da capacitação, é indispensável que os mediadores e conciliadores participem das reciclagens periódicas obrigatórias para formação continuada e para o aperfeiçoamento de suas técnicas. UNIDADE 1 | MEDIAÇÃO NAS 16 4.1.1 Atuação do mediador: imparcialidade, credibilidade, competência, confidencialidade e diligência As sessões de mediação devem ser pautadas pela cordialidade, pelo respeito, imparcialidade, credibilidade, competência, confidencialidade e diligência. Para que o mediador possa prestar um serviço célere, imparcial, de qualidade, celeridade, efi- ciente e eficaz, além de ser capacitado nos termos da Resolução n° 125/2010 do Con- selho Nacional de Justiça, ele deve aplicar tanto o embasamento jurídico e normativo quanto as competências interpessoais e gerenciais de gestão de pessoas e de conflitos. O mediador deve estabelecer o rapport (técnica da área da Psicologia que é utilizada para fazer com que uma pessoa se conecte com a outra. Para tanto, é ne- cessária a adoção e aplicação de uma série de comportamentos que efetivamente proporcionem essa conexão, em especial, a postura corporal receptiva e a escuta ati- va, proporcionar um ambiente em que as emoções negativas das partes possam ser transformadas em positivas; fazer surgir o real interesse dos participantes na nego- ciação, utilizar mecanismos para o detalhamento e a recontextualização da situação em concreto gerando tanto o sentimento de empatia das partes quanto fortalecendo o empoderamento delas na busca pela solução da lide. 4.2 ACOLHIMENTO, ESCUTA E PACIFICAÇÃO NOS DIÁLOGOS O mediador deve conduzir a mediação proporcionando a facilitação da co- municação entre as partes. Para tanto, é importante que o mediador inspire confian- ça, empatia, amistosidade e respeito entre as partes. Cabe ao mediador garantir a adequação comunicacional entre as partes, ob- servando e percebendo as singularidades, necessidades e expectativas de cada parti- cipante e adequando a comunicação verbal e não verbal entre as partes para que seja viável a realização de um diálogo tranquilo, respeitoso e pacífico. Nesse sentido, é interessante observar as seguintes lições apresentadas por Mikhai Bakhtin: Enquanto falo, sempre levo em conta o fundo aperceptivo sobre o qual minha fala será recebida pelo destinatário: o grau de informação que ele tem da situação, seus conhecimentos especializados na área de determinada comunicação cultural, suas opiniões e suas convicções, seus preconceitos (de meu ponto de vista), suas simpatias e antipatias etc.; pois é isso que condicionará sua compreensão responsiva de meu enunciado (BAKHTIN, 1997, p. 322). O mediador também deve buscar gerenciar as emoções das partes, vez que o estado emocional humano exerce grande influência nas decisões tomadas. De acordo com Daniel Goleman: TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETIVOS E PAPEL DO MEDIADOR 17 Quando investigam por que a evolução da espécie humana deu à emo- ção um papel tão essencial em nosso psiquismo, os sociobiólogos verifi- cam que, em momentos decisivos, ocorreu uma ascendência do coração sobre a razão. São as nossas emoções, dizem esses pesquisadores, que nos orientam quando diante de um impasse e quando temos de tomar providências importantes demais para que sejam deixadas a cargo uni- camente do intelecto — em situações de perigo, na experimentação da dor causada por uma perda, na necessidade de não perder a perspectiva apesar dos percalços, na ligação com um companheiro, na formação de uma família. Cada tipo de emoção que vivenciamos nos predispõe para uma ação imediata; cada uma sinaliza para uma direção que, nos recor- rentes desafios enfrentados pelo ser humano ao longo da vida, provou ser a mais acertada (GOLEMAN, 2011, p. 32). Além das sessões de mediação em conjunto, é possível também a realização de sessões individualizadas para melhor preparar as partes para que elas cheguem a um consenso. Por fim, é importante que você saiba que é possível fracionar o con- flito em questões menores para que se possa facilitar as discussões pontuais sobre os tópicos específicos e se possa chegar a um acordo com maior facilidade. Para aprofundar seus estudos sobre Mediação e a Resolução Apropriada de Disputas (RADs), leia o Guia de Conciliação e Mediação Orientações para a implantação de CEJUCS (2015) em: http://bit.ly/2TV1L3D. DICAS Para compreender sobre a Política Nacional das Relações de Consumo, leia as informações sobre a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) vinculadas ao Ministério da Justiça e Segurança Pública: https://www.justica.gov.br/seus-direitos/ consumidor/o-que-e-senacon. DICAS https://www.justica.gov.br/seus-direitos/consumidor/o-que-e-senacon https://www.justica.gov.br/seus-direitos/consumidor/o-que-e-senacon 18 Neste tópico, você aprendeu que: • As relações de consumo – muito importantes para o desenvolvimento e aque- cimento da economia e para a dinâmica da sociedade – são compostas basilar- mente por duas partes: o fornecedor e o consumidor. • Antes da Constituição Federal Brasileira de 1988, as relações contratuais esta- belecidas entre os consumidores e os fornecedores eram regidas pelo Código Civil de 1916. Essa configuração legislativa considerava que as partesestavam em mesmo patamar e equilíbrio, o que era muito prejudicial para o consumidor. • Esse panorama muda com a Constituição Federal Brasileira de 1988, que elenca a proteção do consumidor como um dos princípios da ordem econômica nacio- nal. O reconhecimento da vulnerabilidade técnica, fática e jurídica do consumi- dor na relação de consumo é essencial para que este tenha a proteção jurídica adequada. • Em que pese os grandes avanços trazidos pela Constituição Federal de 1988, a busca pela resolução de conflitos pela via judicial teve como uma de suas con- sequências o abarrotamento de processos nas varas judiciais. • É de extrema importância a busca por meios pacíficos de resolução das deman- das. Os marcos que regem a cultura da pacificação dos litígios no Brasil são: a Resolução n° 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça; a Lei de Mediação e o Novo Código de Processo Civil, ambos de 2015. • A mediação tem por um de seus objetivos o estabelecimento da harmonia entre as partes. O diálogo entre os participantes e a possibilidade de cada parte ceder parcialmente são fundamentais para que se instaure o bem-estar comum. A interlocução entre o mediador e as partes é essencial para que a pacificação do conflito seja frutífera. • A atuação do mediador é essencial para que a mediação seja bem-sucedida. É imprescindível que o mediador desenvolva e aplique as seguintes competên- cias: escuta ativa; questionamento esclarecedor; inteligência emocional; habili- dade de resumir e organizar ideias; e empatia. RESUMO DO TÓPICO 1 19 • Não é necessário ser advogado, nem ter formação em Direito para ser media- dor. No caso da mediação extrajudicial, qualquer pessoa capaz e que tenha confiança das partes pode ser mediador, desde que tenha sido adequadamen- te capacitada para o exercício da função. Por sua vez, na mediação judicial, é necessário que, além de ser capaz, a pessoa cumpra os pré-requisitos: I. ser graduada há pelo menos dois anos em qualquer curso superior de instituição reconhecida pelo Ministério da Educação; II. tenha obtido capacitação em esco- la ou instituição de formação de mediadores reconhecida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM) ou pelos tribunais, observados os requisitos mínimos estabelecidos pelo Conselho Nacional de Justiça em conjunto com o Ministério da Justiça. 20 1 (FGV, 2015) Saulo e Bianca são casados há quinze anos e, há dez, decidiram ingressar no ramo das festas de casamento, produzindo os chamados “bem- -casados”, deliciosos doces recheados oferecidos aos convidados ao final da festa. Saulo e Bianca não possuem registro da atividade empresarial desen- volvida, sendo essa a fonte única de renda da família. No mês passado, os noivos Carla e Jair encomendaram ao casal uma centena de “bem-casados” no sabor doce de leite. A encomenda foi entregue conforme contratado, no dia do casamento. Contudo, diversos convidados que ingeriram os quitutes sofreram infecção gastrointestinal, já que o produto estava estragado. A im- propriedade do produto para o consumo foi comprovada por perícia técni- ca. Com base no caso narrado, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O casal Saulo e Bianca se enquadra no conceito de fornecedor do Código do Consumidor, pois fornecem produtos com habitualidade e onerosidade, sendo que apenas Carla e Jair, na qualidade de consumidores indiretos, pode- rão pleitear indenização. b) ( ) Embora a empresa do casal Saulo e Bianca não esteja devidamente registra- da na Junta Comercial, pode ser considerada fornecedora à luz do Código do Consumidor, e os convidados do casamento, na qualidade de consumidores por equiparação, poderão pedir indenização diretamente àqueles. c) ( ) O Código de Defesa do Consumidor é aplicável ao caso, sendo certo que tanto Carla e Jair quanto seus convidados intoxicados são consumidores por equiparação e poderão pedir indenização, porém a inversão do ônus da prova só se aplica em favor de Carla e Jair, contratantes diretos. d) ( ) A atividade desenvolvida pelo casal Saulo e Bianca não está oficialmente registrada na Junta Comercial e, portanto, por ser ente despersonalizado, não se enquadra no conceito legal de fornecedor da lei do consumidor, aplicando- -se ao caso as regras atinentes aos vícios redibitórios do Código Civil. FONTE: <http://bit.ly/2QkOn80>. Acesso em: 20 jul. 2019. 2 (CESPE, 2019) Com relação a procedimentos, posturas, condutas e mecanis- mos apropriados para a obtenção da solução conciliada de conflitos, assinale a opção CORRETA, à luz da legislação pertinente: a) ( ) Os advogados podem estimular a conciliação e outros métodos de solução consensual de conflitos nos processos que atuem, desde que autorizados pelo juiz competente. b) ( ) A audiência de conciliação ou de mediação deverá ser necessariamente rea- lizada de forma presencial. c) ( ) Incumbe ao juiz promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferen- cialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais. AUTOATIVIDADE 21 d) ( ) Para que a realização da audiência de conciliação ou de mediação seja dis- pensada, basta que uma das partes manifeste, expressamente, o desinteresse na composição consensual. e) ( ) É vedado às partes do processo judicial escolher livremente o conciliador ou o mediador: elas devem selecionar profissional inscrito no cadastro do tribunal pertinente. FONTE: <http://bit.ly/2UhBPzrF>. Acesso em: 20 dez. 2019 3 (FGV, 2018) A Construtora X instalou um estande de vendas em um sho- pping center da cidade, apresentando folder de empreendimento imobiliá- rio de dez edifícios residenciais com área comum que incluía churrasqueira, espaço gourmet, salão de festas, parquinho infantil, academia e piscina. A proposta fez tanto sucesso que, em apenas um mês, foram firmados con- tratos de compra e venda da integralidade das unidades. A Construtora X somente realizou a entrega dois anos após o prazo originário de entrega dos imóveis e sem pagamento de qualquer verba pela mora, visto que o contrato previa exclusão de cláusula penal, e também deixou de entregar a área co- mum de lazer que constava do folder. Nesse caso, à luz do Código de Defesa do Consumidor, cabe: a) ( ) ação individual ou coletiva, em razão da propaganda enganosa evidencia- da pela ausência da entrega da parte comum indicada no folder de venda. b) ( ) ação individual ou coletiva, em busca de ressarcimento decorrente da demo- ra na entrega; contudo, não se configura, na hipótese, propaganda enganosa, mas apenas inadimplemento contratual, sendo viável a exclusão da cláusula penal. c) ( ) ação coletiva, somente, haja vista que cada adquirente, individualmente, não possui interesse processual decorrente da propaganda enganosa. d) ( ) ação individual ou coletiva, a fim de buscar tutela declaratória de nulidade do contrato, inválido de pleno direito por conter cláusula abusiva que fixou im- pedimento de qualquer cláusula penal. FONTE: <http://bit.ly/38TOIop>. Acesso em: 23 jul. 2019. 4 (FGV, 2017) Leilane, autora da ação de indenização por danos morais, pro- posta em face de Carlindo na 5ª Vara Cível da comarca da capital, informou, em sua petição inicial, que não possuía interesse na audiência de conciliação prevista no Art. 334 do CPC/15. Mesmo assim, o magistrado marcou a audi- ência de conciliação e ordenou a citação do réu. O réu, regularmente citado, manifestou interesse na realização da referida audiência, na qual apenas o réu compareceu. O juiz, então, aplicou à autora a multa de 2% sobre o valor da causa. Sobre o procedimento do magistrado, a partir do caso apresenta- do, assinale a afirmativa CORRETA: 22 a) ( ) O magistrado não deveria ter marcado a audiência de conciliação, já que a autora informou, em sua petição inicial, que não possuía interesse. b) ( ) O magistrado agiu corretamente, tendo em vista que a conduta da autora se caracteriza como um ato atentatório à dignidade da justiça. c) ( ) O magistrado deveriater declarado o processo extinto sem resolução do mérito, e a multa não possui fundamento legal. d) ( ) A manifestação de interesse do réu na realização da referida audiência pode ser feita em até 72 horas antes da sua realização. FONTE: <http://bit.ly/38UAyDG>. Acesso em: 30 jun. 2019. 5 (FGV, 2014) Há uma cultura do litígio enraizada na sociedade, cuja tendên- cia é resolver os conflitos de forma adversarial. Nessas circunstâncias, os de- nominados meios alternativos de resolução de conflitos apresentam especial importância, com destaque para a mediação, na medida em que possuem os seguintes objetivos, EXCETO: a) ( ) aliviar o congestionamento do judiciário; b) ( ) promover a pacificação social; c) ( ) democratizar o acesso à justiça; d) ( ) promover a autocomposição da solução de controvérsias; e) ( ) garantir a legitimidade dos ritos judiciais. FONTE: <http://bit.ly/2WgIWdY>. Acesso em: 2 jul. 2019. 23 TÓPICO 2 A APLICAÇÃO DA AUTOCOMPOSIÇÃO NO DIREITO DO CONSUMIDOR UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Nas relações interpessoais e nas relações contratuais é absolutamente previsí- vel e comum que existem divergências, oposições e litígios entre as partes. Os conflitos podem ser definidos como frustrações e resistências perante uma situação, choque de ideias ou visões antagonistas entre as partes. A maneira como as pessoas envolvidas na situação enfrentam esses conflitos são determinantes para o desfecho da lide. Caso as partes tenham uma atitude positiva e flexível frente ao conflito, o resultado será benéfico, haverá cooperação e colaboração bem como os debates po- dem proporcionar novas maneiras de compreensão, entendimento e resolução da situação. Por outro lado, se as partes tiverem uma postura inflexível, de resistência e combativa, o resultado será negativo, haverá desgaste emocional entre as partes e as divergências e resistências restarão presentes. 2 AUTOCOMPOSIÇÃO NO DIREITO: CONSENSO ENTRE AS PARTES PARA A PACIFICAÇÃO DO CONFLITO A legislação brasileira prevê várias maneiras para a resolução de conflitos entre as partes: a submissão do conflito ao Poder Judiciário para que o magis- trado analise e julgue a questão, a utilização da arbitragem, da negociação, da conciliação ou da mediação. As partes podem resolver o conflito sem o auxílio de terceiros, com o auxílio de terceiros ou com uma terceira pessoa decidindo a questão. De acordo com o Relatório Analítico Propositivo: Mediação e Concilia- ção avaliadas empiricamente: UNIDADE 1 | MEDIAÇÃO NAS 24 Quando conflitos são assumidos formalmente e demandam interven- ção de uma instância para pacificá-los, seja ela na forma de conciliação, me- diação, arbitragem ou tribunal judicial, passam a ser designados por litígio. A resolução de litígios abrange dois modos: processos adjudicatórios e processos consensuais. O primeiro modo é aquele no qual a decisão sobre o litígio vem de ordem jurídica e não do mandato das partes. A terceira pessoa, imparcial e neutra, possui legitimidade para impor sua decisão às partes. O segundo modo é aquele em que as partes possuem controle tantos dos resultados quanto dos termos do processo. Neste caso, o terceiro, também neutro, pode apenas auxi- liar as partes na resolução do litígio e não impor uma solução. Esta intervenção abrange desde a facilitação do contato entre as partes litigantes até a sugestão de medidas de acordo (FRADE, 2003). Em Direito, é mais aceita a classificação da decisão dos litígios em métodos de autocomposição ou heterocomposição. Na autocomposição, as partes trabalham o conflito com ou sem auxílio de uma pessoa estranha à controvérsia e não há qualquer decisão, mas um acordo. Na heterocomposição, há um terceiro que decide o conflito com base nas informa- ções que lhe são trazidas pelas partes. São formas de autocomposição a media- ção e a conciliação, constando a arbitragem e a decisão judicial como formas de heterocomposição (GRINOVER, 2015). FONTE: CNJ. Relatório analítico propositivo. Mediação e Conciliação avaliadas empiricamente. Brasília, 2019, p. 25. Disponível em: http://bit.ly/2WhRD7P. Acesso em: 19 ago. 2019. Dessa maneira, a jurisdição e a arbitragem são meios heterocompositivos, pois a solução do litígio demanda a decisão de uma terceira pessoa. A negociação, a conci- liação e a mediação, por sua vez, fazem parte da autocomposição, visto que o terceiro imparcial, equidistante e neutro deverá conduzir as sessões, mas os próprios envolvi- dos devem amigavelmente decidir o conflito e buscar as soluções mais adequadas. É relevante destacar que a adoção e aplicação da autocomposição enseja maior atuação e participação dos envolvidos na busca pela resolução consensual do litígio. É necessário que você recorde que a mediação é permeada por diversos prin- cípios (que foram descritos e explicados no Tópico 1 desta unidade), dentre os quais: voluntariedade e autonomia da vontade das partes (não há obrigatoriedade para as partes aceitarem esse procedimento ou darem continuidade a ele, ou seja, as par- tes podem livremente optar por ingressar e permanecer nas sessões de mediação ou delas sair para buscarem outros meios para a solução do litígio); imparcialidade do mediador (o mediador deve manter-se equidistante das partes e criar um ambiente receptivo, amistoso e respeitoso para que os litigantes possam restaurar a comunica- ção e, juntos, pensarem nas formas mais adequadas de solução das lides, chegando a um consenso para que o acordo seja benéfico para ambos. A missão do mediador é a de permitir a viabilidade do diálogo sadio e respeitoso entre as partes; não cabe a ele trazer sugestões e nem decidir as ques- tões, mas, sim, estimular as partes para que elas mesmas participem ativamente nas reuniões, cheguem as suas próprias conclusões e resolvam o conflito. TÓPICO 2 | A APLICAÇÃO DA AUTOCOMPOSIÇÃO 25 Cabe ao mediador também analisar se o acordo traçado pelas partes garan- te o equilíbrio entre elas ou proporciona desequilíbrio jurídico e, nesse caso, cabe a ele conduzir as partes para novas negociações de modo que o acordo seja contra- balanceado e benéfico para ambos; confidencialidade (o mediador tem o dever de guardar sigilo sobre as informações obtidas nas sessões de mediação, salvo nos ca- sos expressamente previstos em Lei); oralidade (vez que a mediação privilegia o di- álogo, o restabelecimento da comunicação entre as partes e a escuta ativa); informa- lidade (ao contrário da rigidez processual, a mediação é um procedimento simples e sem formalidades. Insta salientar, entretanto, que o termo inicial e o termo final, no qual registra-se o acordo, devem necessariamente ser registrados e formalizados por escrito); e, por fim, boa-fé das partes (princípio que reconhece a disposição das partes em agir com lealdade, correção e honestidade). O preparo para atuação como mediador enseja o conhecimento de várias áreas científicas e o manejo de diversas técnicas para que o profissional conduza as reuniões de maneira que as partes possam ter uma atmosfera adequada para deli- near quadros de soluções e para que possam, juntas, chegar a um acordo amigável e equilibrado. O mediador deve desenvolver suas habilidades de percepção para verificar quais são os principais fundamentos do conflito (a motivação da resistên- cia pode ser, por exemplo, jurídica, econômica ou psicológica). Jean Piaget (1954, p. 28) discorre sobre a resistência psicológica e explica que: A lei psicológica mais elementar: nenhum ser humano gosta que lhe deem lições, e dos mestres menos ainda. Faz tempo que os psicólogos bem sa- bem que, para os mestres e os administradores serem ouvidos não devem dar a impressão de estar recorrendo a doutrinas psicológicas, mas devem dar a entender que estão apelando, simplesmente, ao senso comum. Dentre as diversas maneiras de atuação e aplicação de técnicas, o mediador pode auxiliar as partes organizando resumos com os pontos principais levantados pelos litigantes, realizando reuniões conjuntase, se necessário, reuniões em separado. UNIDADE 1 | MEDIAÇÃO NAS 26 FIGURA 3 – LOUSAS E CANETAS PARA A ORGANIZAÇÃO DOS DADOS FONTE: <http://bit.ly/38Z5G4W>. Acesso em: 26 nov. 2019. Ademais, são pertinentes as seguintes informações acerca das caracterís- ticas da mediação disponibilizadas pelo Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem (CONIMA, 2019, s.p.): A Mediação é um Processo não-adversarial e voluntário de resolução de controvérsias por intermédio do qual duas ou mais pessoas, físicas ou jurídicas, buscam obter uma solução consensual que possibilite preservar o relacionamento entre elas. Para isso, recorrem a um terceiro facilitador, o Mediador-especialista imparcial, competente, diligente, com credibili- dade e comprometido com o sigilo; que estimule, viabilize a comunica- ção e auxilie na busca da identificação dos reais interesses envolvidos. O Mediador, através de uma série de procedimentos e de técnicas pró- prias, identifica os interesses das partes e constrói com elas, sem caráter vinculativo, opções de solução, visando ao consenso e/ou à realização do acordo. A Mediação envolve aspectos emocionais, relacionais, negociais, legais, sociológicos, entre outros. Assim, quando necessário, para atender às peculiaridades de cada caso, também poderão participar do Processo profissionais especializados nos diversos aspectos que envolvam a con- trovérsia, permitindo uma solução interdisciplinar por meio da comple- mentaridade do conhecimento. Comediação é o processo realizado por dois (ou mais mediadores) e que permite uma reflexão e amplia a visão da controvérsia, propiciando um melhor controle da qualidade da Me- diação. A opção pela Mediação prestigia o poder dispositivo das partes, possibilita a celeridade na resolução das controvérsias e reduz os custos. Os procedimentos são confidenciais e a responsabilidade das decisões cabe às partes envolvidas. A Mediação possui características próprias que a diferenciam de outras formas de Resolução de controvérsias, possibi- litando inclusive estabelecer, a priori, a futura adoção da arbitragem. O compromisso com as pessoas envolvidas na controvérsia, a importância do instituto para a sociedade e a seriedade imprescindível ao seu exer- cício exigem do Mediador uma formação adequada e criteriosa que o habilite. Mediação é um acordo de vontades (motivo pelo qual deverá ser objeto de um contrato sempre que for instalado seu procedimento) que prescinde de regulamentação legal, muito embora se faça necessário alcançar uma desejável uniformidade dos seus princípios e regras gerais. Dentre as várias áreas nas quais a mediação (autocomposição entre as partes) pode ser aplicada, insere-se o ramo jurídico que abarca as relações jurí- dico-contratuais entre os consumidores e fornecedores, que é intitulado como direito do consumidor. É esse o tema que passaremos a examinar a seguir. TÓPICO 2 | A APLICAÇÃO DA AUTOCOMPOSIÇÃO 27 2.1 A APLICAÇÃO DA AUTOCOMPOSIÇÃO NO DIREITO DO CONSUMIDOR O estudo acerca das relações jurídico-contratuais de consumo demanda a conjugação da reflexão sobre a evolução e o aumento das relações contratuais con- sumeristas ao longo dos anos com a importância da evolução da legislação brasileira destinada à tutela do consumidor. É relevante que você saiba que – apesar de as relações de compra e venda existirem desde a antiguidade – foi a partir do período pós-revolução industrial que essas relações se tornaram cada vez mais volumosas, intensas, dinâmicas, impessoais, rápidas e complexas. Dentre todas as características que permeiam o período da Revolução In- dustrial e o período posterior a ela, destacam-se as seguintes: as configurações de produção e venda de produtos sofreram modificações radicais (se, no passado, pre- dominavam a manufatura, a venda local e a pessoalidade das relações – pois via de regra os vendedores e compradores residiam no mesmo local e se conheciam, com a Revolução e o uso das máquinas, as produções passaram a ser realizadas em grande escala, de maneira fracionada e impessoal e vendidas em muitas regiões); o aumento da produção de produtos ampliou muito a oferta de emprego nas indústrias e im- pulsionou o comércio; aumentaram as relações de compras bem como a variedade de produtos a serem adquiridos. A superação de distância para as compras e vendas de produtos teve tantos impactos positivos quanto impactos negativos na vida humana e na sociedade. Ex- plico: ao mesmo tempo em que essa amplitude permitiu a abertura e expansão dos mercados de venda e a divulgação dos produtos dos fornecedores bem como a possi- bilidade de aquisição de produtos diversos para os consumidores, sempre que ocor- ria um problema entre as partes (por exemplo, um produto incompleto, com defeito ou estragado) isso gerava transtornos para o consumidor que, além da distância física e da impessoalidade das relações, ainda enfrentava a falta de amparo normativo para poder solucionar estas questões. É importante que você relembre que essa situação se refletiu na evolução da legislação brasileira: inicialmente as relações entre as partes eram regidas pelo Código Civil de 1916; posteriormente, a Constituição Federal Brasileira de 1988 tratou do assunto e, como resultado, foi promulgado o Código de Defesa do Consumidor (CDC) – Lei nº 8078/90. Observe que a sociedade – assim como o Direito – está sempre em movimento, em alteração e evolução, dessa maneira, sempre existirão novas situações, novos confli- tos, novos desafios a serem superados e esse cenário sempre ensejará o constante repen- sar sobre as maneiras com as quais os conflitos podem ser resolvidos de maneira pacífica, respeitosa e célere. IMPORTANT E UNIDADE 1 | MEDIAÇÃO NAS 28 Em que pese a importância do CDC para a proteção e tutela do consumidor, em um momento inicial, o pensamento preponderante dos operadores do Direito, das partes e da maioria da sociedade era a resolução das demandas consumeristas pela via litigiosa e judicial (aguardando passivamente a decisão do magistrado no caso concreto para saber quem tinha razão e tinha vencido e quem estava errado e ti- nha perdido), entretanto, com o consumo aumentando exponencialmente, os proble- mas enfrentados pelas partes (consumidores e fornecedores) também aumentavam velozmente e o acúmulo de ações dessa natureza sobrecarregou o Poder Judiciário. A lentidão da prestação judicial afeta diretamente o acesso à justiça, a segu- rança jurídica, a efetividade e a celeridade processual; por esse motivo, foi necessário repensar como essas lides poderiam ser resolvidas em um contexto de sociedade de consumo em massa. Ademais, é necessário refletir sobre a possibilidade de ambas as partes ganharem e perderem simultaneamente para que um acordo seja realizado, ao invés de uma parte ganhar e a outra parte perder a demanda integralmente. É nesse ponto que os meios alternativos de resolução dos conflitos (Alterna- tive Dispute Resolutions) ganham espaço no cotidiano brasileiro. Trata-se de uma gradual alteração da cultura da judicialização dos conflitos para a desjudicialização deles. Uma das formas alternativas de resolução de conflitos na modalidade auto- composição é a mediação. É relevante que você saiba que o Novo Código de Processo Civil (Lei n° 13.105/2015) tem por um de seus pilares o estímulo à resolução consen- sual dos conflitos. O art. 3º da Exposição de Motivos do Novo Código de Processo Civil determina que: Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conci- liação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial (BRASIL, 2015, p. 38). Na sociedade de consumo em massa, a mediação mostra-se como uma solução
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