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LOCAÇÃO A locação de coisas é um contrato em que uma parte (locador) cede a outra parte (locatário) o uso e gozo de um bem específico por um período determinado ou indeterminado, mediante pagamento. Nas locações imobiliárias, os termos senhorio/inquilino são comumente utilizados como sinônimos de locador/locatário. Esse conceito, baseado no artigo 565 do Código Civil, é amplo o suficiente para compreender o instituto de forma abrangente. A Lei do Inquilinato (Lei n. 8.245/91), em seu artigo 2º, presume a solidariedade entre os locadores em caso de pluralidade de sujeitos, o que aparentemente contorna a regra do artigo 265 do Código Civil, que estabelece que a solidariedade não é presumida, mas resulta da lei ou da vontade das partes. ELEMENTOS Embora os requisitos de existência e validade se apliquem a todos os negócios jurídicos, no contrato de locação, alguns deles são especialmente relevantes, como previsto no artigo 565 do Código Civil de 2002. a) o tempo (duração da locação); O contrato de locação é essencialmente temporário, não sendo vitalício. A não devolução do bem pelo locatário no término do contrato resulta em posse injusta, sujeita a regras legais (arts. 1.216 a 1.220 do CC/2002). Na locação por prazo indeterminado, é necessário notificar o locatário para devolver a coisa locada. O descumprimento do contrato pelo locatário pode acarretar o pagamento do aluguel arbitrado pelo locador e a responsabilidade por danos causados ao bem. (art. 575 e 399 do CC/2002). Na locação imobiliária, a anuência do cônjuge é exigida para contratos com prazo igual ou superior a dez anos, sendo uma limitação ao direito (Lei n. 8.245/91 exige, em seu art. 3.º). Art. 573. A locação por tempo determinado cessa de pleno direito findo o prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso”. Art. 574. Se, findo o prazo, o locatário continuar na posse da coisa alugada, sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação pelo mesmo aluguel, mas sem prazo determinado” Lei n. 8.245/91Art. 6.: O locatário poderá denunciar a locação por prazo indeterminado mediante aviso por escrito ao locador, com antecedência mínima de trinta dias. Parágrafo único. Na ausência do aviso, o locador poderá exigir quantia correspondente a um mês de aluguel e encargos, vigentes quando da resilição B) a coisa (objeto da locação); O contrato de locação pode envolver tanto coisas móveis quanto imóveis, sendo essencial que o bem seja infungível, ou seja, não possa ser substituído por outros da mesma espécie. • Isso ocorre porque a natureza da locação pressupõe o retorno do bem ao locador. Por esse motivo, não é possível a locação de bens consumíveis, que são aqueles cujo uso resulta na sua destruição imediata. c) a retribuição (preço da locação) No contrato de locação, um elemento fundamental é a retribuição pela disponibilidade do bem locado, chamada de preço, aluguel ou renda. Essa retribuição é estabelecida pelas partes, podendo ser determinada administrativa, judicialmente ou por ato governamental. No caso de locação de bens da União, ocorre por concorrência pública (parágrafo único do art. 95 do Decreto-Lei n. 9.760, de 5- 9-1946). O preço deve ser sério, determinado ou determinável, e pode ser pago em dinheiro ou outras formas acordadas. Se for pago exclusivamente com os frutos e produtos do imóvel, deixa de ser uma locação e se torna um contrato sem nome específico. “Art. 575. Se, notificado o locatário, não restituir a coisa, pagará, enquanto a tiver em seu poder, o aluguel que o locador arbitrar, e responderá pelo dano que ela venha a sofrer, embora proveniente de caso fortuito. Parágrafo único. Se o aluguel arbitrado for manifestamente excessivo, poderá o juiz reduzi-lo, mas tendo sempre em conta o seu caráter de penalidade”. Lei n. 8.245/91 “Art. 19. Não havendo acordo, o locador ou locatário, após três anos de vigência do contrato ou do acordo anteriormente realizado, poderão pedir revisão judicial do aluguel, a fim de ajustá-lo ao preço de mercado”. CARACTERÍSTICA A locação é um contrato típico, nominado, bilateral e individual, onde locador e locatário possuem direitos e obrigações. É essencialmente oneroso, com as partes trocando benefícios patrimoniais. É um contrato comutativo, no qual as prestações são conhecidas desde o início. Pode ser realizado de forma paritária ou por adesão, sendo consensual e não solene, podendo ser feito de forma verbal ou por escrito. O contrato de locação não é personalíssimo, permitindo a transferência aos herdeiros, mas essa possibilidade pode ser excluída (art. 577 do CC/2002). A duração pode ser determinada ou indeterminada, não sendo permitida a locação vitalícia. É um contrato principal e definitivo, não dependendo de outros negócios jurídicos. MODALIDADES Existem outras modalidades de locação, como a locação imobiliária urbana, regidas por normas específicas, merecendo apenas uma breve menção aqui. A Lei do Inquilinato (Lei n. 8.245/91) disciplina essa forma de locação, essa lei abrange: ➔ Locação residencial urbana: arts. 46 e 47 ➔ Locação de temporada: arts. 48 a 50 ➔ Locação não residencial para fins comerciais: arts. 51 a 57, incorporando regras do Decreto n. 24.150/34. As locações de vagas autônomas de garagem ou espaços para estacionamento são contratos atípicos, que denotam características não somente da locação de coisas, mas, também, dos contratos de depósito e prestação de serviços. Registre-se que as vagas de estacionamento ligadas a locação imobiliária já se encontram incluídas na disciplina do inquilinato. Já os espaços destinados a publicidade encontram sua regência na própria codificação civil, uma vez que sua finalidade é distinta da pretendida pela Lei n. 8.245/91, que objetiva disciplinar relações imobiliárias propriamente ditas. Cumpre destacar, também, que a locação para exploração agrícola ou pecuária de prédio rústico, ou seja, o arrendamento rural, é regida pelo Estatuto da Terra (Lei n. 4.504, de 30-11- 1964), aplicando-se supletivamente o Código Civil, conforme preceitua o § 9. º do art. 92 do mencionado Estatuto (“§ 9. º Para solução dos casos omissos na presente Lei, prevalecerá o disposto no Código Civil”). • A quisição da coisa por terceiro e contrato de locação: Artigos 576 e 473 códigos civil. DIREITOS E OBRIGAÇÕES DAS PARTES Obrigações do locador × direitos do locatário “Art. 566. O locador é obrigado: I — a entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças, em estado de servir ao uso a que se destina, e a mantê-la nesse estado, pelo tempo do contrato, salvo cláusula expressa em contrário; II — a garantir-lhe, durante o tempo do contrato, o uso pacífico da coisa”. Entregar ao locatário a coisa alugada, em bom estado e pronta para ser usada para o propósito acordado (CC, art. 566, I; Lei n. 8.245/91, art. 22, I). • Se o locador não cumprir essa obrigação básica após a celebração do contrato, o locatário tem o direito de rescindir o acordo e buscar reparação por perdas e danos. • A obrigação também inclui o dever de respeitar o prazo do contrato, caso tenha sido estipulado com uma duração específica. “Art. 571. Havendo prazo estipulado à duração do contrato, antes do vencimento não poderá o locador reaver a coisa alugada, senão ressarcindo ao locatário as perdas e danos resultantes, nem o locatário devolvê-la ao locador, senão pagando, proporcionalmente, a multa prevista no contrato. Parágrafo único. O locatário gozará do direito de retenção, enquanto não for ressarcido”. A Lei nº 12.112/2009 estabeleceque, durante o prazo do contrato de locação, o locador não pode retomar o imóvel alugado. O locatário tem o direito de devolvê-lo, pagando uma multa proporcional ao tempo de cumprimento do contrato, ou uma multa determinada pelo tribunal se não houver acordo prévio. • No caso de transferência do locatário para outra localidade devido a serviço prestado por seu empregador, seja público ou privado, o locatário não precisa pagar a multa se notificar o locador por escrito com pelo menos trinta dias de antecedência. “Art. 572. Se a obrigação de pagar o aluguel pelo tempo que faltar constituir indenização excessiva, será facultado ao juiz fixá-la em bases razoáveis”. Dever de manter a propriedade em perfeitas condições durante o contrato, salvo cláusula em contrário. • As despesas ordinárias de manutenção e conservação do condomínio são responsabilidade do locatário, a menos que haja disposição contratual em contrário (Código Civil, artigos 566, I, segunda parte e 567; Lei nº 8.245/91, artigo 22, III e X; artigo 23, XII). Lei n. 8.245/91 “Art. 25. Atribuída ao locatário a responsabilidade pelo pagamento dos tributos, encargos e despesas ordinárias de condomínio, o locador poderá cobrar tais verbas juntamente com o aluguel do mês a que se refiram. “Art. 567. Se, durante a locação, se deteriorar a coisa alugada, sem culpa do locatário, a este caberá pedir redução proporcional do aluguel, ou resolver o contrato, caso já não sirva a coisa para o fim a que se destinava”. Lei n. 8.245/91 “Art. 26. Necessitando o imóvel de reparos urgentes, cuja realização incumba ao locador, o locatário é obrigado a consenti-los. Parágrafo único. Se os reparos durarem mais de dez dias, o locatário terá direito ao abatimento do aluguel, proporcional ao período excedente; se mais de trinta dias, poderá resilir o contrato. O locador tem a obrigação de garantir ao locatário o uso pacífico da propriedade durante todo o contrato de locação, mesmo que a propriedade em si não seja essencial para o acordo. • É fundamental que o locatário possa desfrutar da propriedade sem perturbações ou questionamentos. “Art. 568. O locador resguardará o locatário dos embaraços e turbações de terceiros, que tenham ou pretendam ter direitos sobre a coisa alugada, e responderá pelos seus vícios, ou defeitos, anteriores à locação” Obrigações do locatário × direitos do locador “Art. 569. O locatário é obrigado: I — a servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou presumidos, conforme a natureza dela e as circunstâncias, bem como tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse; II — a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o costume do lugar; III — a levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, que se pretendam fundadas em direito; IV — a restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, salvas as deteriorações naturais ao uso regular”. De acordo com o artigo 569, inciso I, do Código Civil, o locador deve utilizar a propriedade alugada conforme os fins acordados ou presumidos. • O desvio dessa finalidade pode levar à rescisão do contrato e à busca por indenização. “Art. 570. Se o locatário empregar a coisa em uso diverso do ajustado, ou do a que se destina, ou se ela se danificar por abuso do locatário, poderá o locador, além de rescindir o contrato, exigir perdas e danos”. O locatário tem a obrigação de tratar a propriedade alugada com o máximo cuidado, como se fosse sua. Isso implica em tomar todas as precauções necessárias ao lidar com a propriedade objeto do contrato de locação. A principal obrigação do locatário é pagar o aluguel pontualmente nos prazos estabelecidos. • O pagamento geralmente é feito após o início do uso da propriedade, mas pode ser acordado de forma diferente. • O pagamento antecipado do aluguel é proibido, exceto em casos de ausência de garantia locatícia ou locação por temporada. As garantias da locação se estendem até a devolução efetiva do imóvel, mesmo em caso de prorrogação do contrato por prazo indeterminado. Artigo 20 da Lei nº 8.245/91 : Salvo as hipóteses do art. 42 e da locação para temporada, o locador não poderá exigir o pagamento antecipado do aluguel. Lei nº 12.112 artigo 39: Salvo disposição contratual em contrário, qualquer das garantias da locação se estende até a efetiva devolução do imóvel, ainda que prorrogada a locação por prazo indeterminado, por força desta Lei." O locador deve garantir o uso pacífico da propriedade, protegendo o locatário de perturbações de terceiros. O locatário tem o dever de informar ao locador sobre qualquer interferência legítima de terceiros, para que o locador possa agir em defesa da propriedade alugada. A devolução da propriedade locada ao locador ao final do contrato é uma obrigação fundamental do locatário. • O locador tem o direito de receber a propriedade no mesmo estado em que foi entregue, com exceção das deteriorações naturais causadas pelo uso regular. INDENIZAÇÃO POR BENFEITORIAS NA COISA LOCADA “Art. 578. Salvo disposição em contrário, o locatário goza do direito de retenção, no caso de benfeitorias necessárias, ou no de benfeitorias úteis, se estas houverem sido feitas com expresso consentimento do locador”. DIREITO DE RETENÇÃO O credor tem o direito de reter um bem do devedor até que este cumpra sua obrigação. • Isso é chamado de retenção de posse e é um direito potestativo do credor. • No caso das benfeitorias necessárias ou úteis, é permitido ao credor exercer esse direito de autodefesa. (art. 578 do CC/2002) Anteriormente, isso estava restrito ao contrato de locação, mas agora também é aplicável à rescisão antecipada de contratos com prazo determinado. CESSÃO DO CONTRATO DE LOCAÇÃO E SUBLOCAÇÃO Para que uma cessão de contrato seja válida, é necessário: a) um acordo entre o cedente e o cessionário b) a transferência completa dos direitos e obrigações do contrato (cessão global). c) o consentimento expresso da outra parte envolvida. Certas obrigações de natureza personalíssima não podem ser cedidas. Se não houver proibição contratual e houver consentimento, a cessão é possível. Caso tenha proibição contratual ou não seja consentido, o cedente continua obrigado a cumprir o contrato. EXTINÇÃO DO CONTRATO DE LOCAÇÃO De acordo com a Lei nº 8.245/91, em locações por escrito com prazo igual ou superior a trinta meses, o contrato é encerrado ao final do prazo estipulado. Se o locatário permanecer no imóvel por mais de trinta dias sem oposição do locador, presume-se que a locação foi prorrogada por prazo indeterminado. Nesse caso, o locador pode rescindir o contrato a qualquer momento, concedendo um prazo de trinta dias para desocupação do imóvel. Art. 47. Quando ajustada verbalmente ou por escrito e com prazo inferior a trinta meses, findo o prazo estabelecido, a locação prorroga-se automaticamente, por prazo indeterminado, somente podendo ser retomado o imóvel: I — Nos casos do art. 9.º; II — em decorrência de extinção do contrato de trabalho, se a ocupação do imóvel pelo locatário estiver relacionada com o seu emprego; III — se for pedido para uso próprio, de seu cônjuge ou companheiro, ou para uso residencial de ascendente ou descendente que não disponha, assim como seu cônjuge ou companheiro, de imóvel residencial próprio; IV — se for pedido para demolição e edificação licenciada ou para a realização de obras aprovadas pelo Poder Público, que aumentem a área construída em, no mínimo, vinte por cento ou, se o imóvel for destinado a exploração de hotel ou pensão, em cinquenta por cento;V — se a vigência ininterrupta da locação ultrapassar cinco anos. Para retomar um imóvel alugado, o proprietário pode fazer isso nas seguintes situações: Se o proprietário que deseja retomar o imóvel alegar necessidade de uso e já estiver ocupando outro imóvel de sua propriedade na mesma localidade para a mesma finalidade, ou se estiver residindo ou utilizando um imóvel de terceiros e já tiver retomado o imóvel anteriormente. Se o ascendente ou descendente beneficiário da retomada residir em imóvel próprio. O retomante deve comprovar sua condição de proprietário, promissário comprador ou promissário cessionário, com título registrado no imóvel. Além disso, é possível encerrar o contrato de locação de forma antecipada com ônus correspondentes, por meio da resilição bilateral amigável ou pela denúncia vazia, em que uma das partes manifesta a vontade de encerrar o contrato sem necessidade de justificação legal. • Art. 571 do CC/2002, e art. 4.º, da Lei n. 8.245/91. Na hipótese de locação por duração indeterminada, é possível, portanto, a resilição unilateral, desde que a parte interessada notifique a outra, com prazo razoável, sob pena de incidência dos efeitos da mora. Lei n. 8.245/91 “Art. 6. º O locatário poderá denunciar a locação por prazo indeterminado mediante aviso por escrito ao locador, com antecedência mínima de trinta dias. Parágrafo único. Na ausência do aviso, o locador poderá exigir quantia correspondente a um mês de aluguel e encargos, vigentes quando da resilição”. A morte do locador ou do locatário NÃO extingue o contrato de locação, de acordo com o artigo 577 do Código Civil de 2002 e os artigos 10 e 11 da Lei do Inquilinato. No caso de mudança de estado civil, ocorre a cessão do contrato, com a transferência dos direitos e deveres (Lei n. 8.245/91 Art. 12) A aquisição do imóvel por terceiro também pode levar à extinção do contrato de locação, observadas as regras já tratadas em tópico anterior. Lei n. 8.245/91 “Art. 9. º A locação também poderá ser desfeita: I — por mútuo acordo; II — em decorrência da prática de infração legal ou contratual; III — em decorrência da falta de pagamento do aluguel e demais encargos; IV — para a realização de reparações urgentes determinadas pelo Poder Público, que não possam ser normalmente executadas com a permanência do locatário no imóvel ou, podendo, ele se recuse a consenti-las”.
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