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Doação “Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra”. • Economicamente é um contrato unilateral A doação é um acordo legal entre duas partes, o doador e o donatário, onde o doador transfere bens, sejam eles móveis ou imóveis, para o patrimônio do donatário, com o objetivo de beneficiência ou liberalidade. Essa transação é considerada um contrato típico e nominado, envolvendo uma única parte econômica, uma vez que apenas o doador faz a transferência dos bens, enquanto o donatário recebe os benefícios. CARACTERÍSTICAS A doação é um tipo de contrato específico e reconhecido legalmente, com uma característica principal de unilateralidade, impondo obrigações apenas ao doador. Mesmo quando a doação é onerosa, envolvendo um encargo, a unilateralidade ainda persiste, uma vez que o ônus imposto ao donatário não tem o peso de uma contraprestação significativa, não alterando a natureza do contrato. No entanto, em alguns casos, a doação pode ser simplesmente consensual (verbal), desde que envolva bens móveis de pequeno valor e ocorra imediatamente a sua transferência, conforme estabelecido no parágrafo único do artigo mencionado. • Na doutrina, há aqueles que consideram "pequeno valor" como sendo abaixo do limite de um salário mínimo, semelhante ao critério adotado no campo penal para o furto privilegiado (Código Penal, artigo 155, § 2º), embora essa questão não seja consensual. Animus donandi: representa a intenção de beneficiar o destinatário com bens patrimoniais. • Diferencia-se da simples renúncia, em que o doador apenas se desfaz de um bem sem um beneficiário específico. Trata-se de uma transferência de direitos com natureza de renúncia. A classificação de comutatividade ou aleatoriedade não se aplica à doação simples, devido à sua unilateralidade em relação aos efeitos. Não há uma equação financeira ou função econômica do contrato. Embora seja geralmente gratuito, é considerado um contrato de adesão, em que o donatário pode apenas aceitar ou recusar a liberalidade do doador, sem discutir os termos. A doação é um contrato impessoal, ou seja, o resultado da transação é o que importa, independentemente de quem realiza a atividade, e é individual, referindo-se a um acordo entre pessoas específicas. Quanto ao tempo, é comum que o contrato seja celebrado e executado imediatamente, mas não há impedimento para que os contratantes, principalmente o doador, estabeleçam a execução em um momento futuro ou até mesmo uma duração limitada. Por fim, a doação é considerada um "contrato principal" e, em princípio, "definitivo", embora seja possível a celebração de uma promessa de doação como um contrato preliminar, cujo objetivo é estabelecer um contrato definitivo posteriormente. ACEITAÇÃO DA DOAÇÃO Ao propor uma doação, espera-se que o donatário se manifeste expressamente, aceitando ou recusando a oferta. A aceitação pode ser expressa, tácita ou presumida, conforme o artigo 539 do Código Civil. • A formação do contrato ocorre somente após a aceitação do donatário. • Pode ser feita por escrito, verbalmente ou até mesmo por gestos. O doador deve ser uma pessoa capaz, embora possam existir restrições específicas, como no caso de uma pessoa casada que deseja doar um bem para sua concubina. • A lei permite que pessoas absolutamente incapazes sejam beneficiadas como donatárias, conforme o artigo 543 do Código Civil. • Até mesmo um nascituro (feto) pode ser beneficiado pela doação, como previsto no artigo 542. “Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal. Art. 543. Se o donatário for absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação, desde que se trate de doação pura”. DOAÇÃO “MORTIS CAUSA” Testamentos ordinários (art. 1.862 do CC/2002): I — o público; II — o cerrado; III — o particular. Testamentos especiais (arts. 1.886 e 1.887 do CC/2002): I — o marítimo; II — o aeronáutico; III — o militar. Não é aceitável a realização de uma doação após a morte do doador, uma vez que essa prática não possui respaldo legal claro. O legado, previsto nos artigos 1.912 a 1.940 do CC/2002, é a figura jurídica mais próxima da ideia de "doação post mortem". DOAÇÃO INOFICIOSA A doação inoficiosa ocorre quando há uma violação da parte legítima dos herdeiros necessários, que são aqueles sucessores que, por força da lei, têm direito a receber metade da herança (50%). “Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança. (...) Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento”. O ato seria reputado nulo (nulidade absoluta) ou anulável (nulidade relativa)? Correntes de pensamento formadas: a) Considera-a um negócio jurídico anulável, com prazo decadencial de dois anos para a ação correspondente (art. 179). b) Considera-a um negócio jurídico nulo, com pedido de nulidade imprescritível e pretensões de reivindicação do bem doado ou perdas e danos prescritíveis em dez anos. Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato”. “Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. “Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido.” “Art. 533. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com as seguintes modificações: II — é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante. “Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal”. Outros artigos sobre: Art. 1550, Art. 1.558. e Art. 2.027. DOAÇÃO UNIVERSAL Essa situação é claramente uma hipótese de nulidade absoluta, uma vez que envolve a violação de um preceito obrigatório, de ordem pública, que tem como objetivo proteger o mínimo de recursos necessários para garantir uma vida digna ao doador. “Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador”. ESPÉCIES DE DOAÇÃO Doação pura × doação com fatores eficácias Doação pura: que se traduz simplesmente em uma liberalidade, sem fixação de qualquer fator eficacial (condição, termo ou encargo). • Doação condicional: é estabelecida uma condição, que é um evento futuro e incerto, para que o negócio seja efetivado. Somente quando a condição ocorrer é que a doação se concretiza. • Doação a termo:, é estabelecido um termo, que é um evento futuro e certo, que delimita um prazo. Após o término desse prazo, o donatário passa a exercer o domínio sobre a coisa doada. • Doação modal, onerosa ou com encargo: Trata-se de uma doação que possui um ônus ou encargo associado a ela. Por exemplo, o doador se compromete a doar uma fazenda, impondo ao donatário o encargo de pagar uma pensão de meio salário mínimo à tia idosa do doador. Nesse caso, a doação é realizada com uma obrigação adicional além da simples transferência da propriedade. “Art. 553. O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso forem a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse geral.Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o Ministério Público poderá exigir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito”. “Art. 554. A doação a entidade futura caducará se, em dois anos, esta não estiver constituída regularmente”. Doação contemplativa × doação remuneratória Doação contemplativa: Trata-se de uma modalidade em que o doador declina ou indica as razões (motivos) que o levaram a fazer a doação. Em geral, é espécie de doação pura. “Art. 540. A doação feita em contemplação do merecimento do donatário não perde o caráter de liberalidade, como não o perde a doação remuneratória, ou a gravada, no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo imposto” Doação feita em contemplação a casamento futuro. “Art. 546. A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar”. Doação conjuntiva A doação feita a mais de uma pessoa é dividida igualmente entre elas, a menos que o doador tenha estabelecido o contrário. No caso de beneficiários casados, a doação permanece integral para o cônjuge sobrevivente, independentemente do regime de bens adotado, prevalecendo sobre outras regras sucessórias. (Art. 551, Código Civil de 2002) Doação com cláusula de reversão A doação com cláusula de reversão é uma figura jurídica em que se estabelece o retorno do bem ao doador caso o donatário faleça antes dele. Essa cláusula é definida como a disposição contratual em que o doador determina que o bem doado será devolvido em caso de falecimento do donatário. Doação mista × doações mútuas A doação mista, também conhecida como "negotium mixtum cum donatione", é um tipo de negócio jurídico que possui uma natureza prestacional híbrida, combinando elementos de um negócio oneroso com características de uma liberalidade. Doação sob forma de subvenção periódica Nesse caso, temos um contrato em que o doador realiza prestações periódicas, e é possível que o doador invista o capital, enquanto o donatário recebe os frutos desse investimento, porém não pode retirar o valor total. O período de validade dessa doação depende do que for estipulado pelo doador. Vale ressaltar que a lei permite o benefício pós-morte do doador, porém proíbe que os sucessores do donatário se beneficiem desses rendimentos. “Art. 545. A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extingue-se morrendo o doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas não poderá ultrapassar a vida do donatário”. Doação indireta × doação disfarçada Doação indireta: Um exemplo de doação indireta comumente citado é o perdão de dívida, que não é uma doação, mas sim um benefício, uma vez que o devedor obtém um acréscimo patrimonial ao ter sua dívida quitada (mas é conhecido como doação indireta). Doação disfarçada: ocorre quando um negócio jurídico é simulado ou realizado de forma fraudulenta para encobrir uma doação. Um exemplo disso é quando alguém falsamente realiza uma doação, mas na verdade está vendendo o bem, a fim de evitar que seus credores utilizem o valor como garantia para suas dívidas. DOAÇÃO FEITA AO NASCITURO E AO EMBRIÃO A palavra "nascituro" tem seu significado etimológico como "o que está por nascer". Portanto, refere-se a um ser que já foi concebido (envolvendo a fusão dos gametas para formar o zigoto ou embrião) e está implantado nas paredes do útero materno, mas ainda não nasceu. “Art. 2. º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal”. EXTINÇÃO DO CONTRATO DE DOAÇÃO A forma natural de extinção do contrato de doação dá-se por meio de sua execução, vale dizer, no momento em que o doador cumpre a prestação a que se obrigou, o negócio jurídico se exaure. A revogação da doação é o exercício de um direito potestativo, em que o doador, ao constatar a ocorrência de uma das situações previstas na lei, expressa sua vontade contrária à generosidade concedida, tornando o contrato celebrado sem efeito e despojando o donatário do bem doado. O Código Civil brasileiro permite a revogação da doação com base em duas categorias de motivos (art. 555): a) Inexecução do encargo, no caso da doação modal; b) Ingratidão do donatário. Hipóteses de ingratidão “Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações: I — se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio doloso contra ele; II — se cometeu contra ele ofensa física; III — se o injuriou gravemente ou o caluniou; IV — se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava”.
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