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A Giardia intestinalis (G. lamblia ou G. duodenalis) é um protozoário parasita que habita o intestino delgado de seres humanos e de outros mamíferos. É uma das doenças parasitárias mais comuns mundialmente, tanto em países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento, causando doença intestinal e diarreia tanto endêmica como epidêmica. CICLO DE BIOLÓGICO E EPIDEMIOLOGIA A infecção é subsequente à ingestão de cistos resistentes ao ambiente e à saída do parasita do cisto no intestino delgado, liberando trofozoítos flagelados que se multiplicam por fissão binária. A Giardia permanece como um patógeno do intestino delgado proximal e não se dissemina por via hematogênica. Os trofozoítos ficam livres no lúmen ou se fixam ao epitélio da mucosa por meio de um disco ventral de sucção. Quando um trofozoíto encontra condições alteradas, ele forma um cisto morfologicamente distinto, que é a fase do parasita encontrada nas fezes. Os trofozoítos podem estar presentes e mesmo predominar, nas fezes soltas ou aquosas, mas é o cisto resistente que sobrevive fora do corpo e que é responsável pela transmissão. Os cistos não toleram aquecimento ou dessecação, mas permanecem viáveis por meses em água doce fria. A ingestão de apenas 10 cistos é suficiente para causar a infecção humana. Como os cistos são infecciosos quando excretados, a transmissão de pessoa a pessoa ocorre quando a higiene fecal é ruim. Prevalente em creches; a disseminação também tem lugar em outros cenários institucionais com má higiene fecal e durante contato oral-anal. Se a comida for contaminada com cistos de Giardia depois da cocção ou preparo, pode ocorrer a transmissão veiculada por alimento. A transmissão veiculada pela água é responsável por infecções episódicas (p. ex., em acampados e viajantes) e por grandes epidemias em áreas metropolitanas. A eficácia da água como um meio de transmissão é ampliada pelo pequeno inóculo infeccioso da Giardia, pela sobrevida longa dos cistos em água fria e pela resistência dos cistos à destruição por métodos de cloração rotineiros, que são adequados para controlar bactérias. Cistos viáveis podem ser erradicados da água por fervura ou por filtração. FISIOPATOLOGIA Embora trofozoítos tenham capacidade de aderir ao epitélio, eles não são invasivos, mas podem provocar apoptose de enterócitos, disfunção da barreira epitelial e má absorção e secreção de células epiteliais. Intolerância à lactose consequente e, em uma minoria de adultos e crianças infectados, má absorção significativa são sinais clínicos da perda de atividades enzimáticas na borda em escova. Na maioria das infecções, a morfologia do intestino é inalterada; entretanto, em pacientes sintomáticos, cronicamente infectados, os achados histopatológicos (inclusive vilosidades achatadas) e as manifestações clínicas às vezes se assemelham às do espru tropical e da enteropatia sensível ao glúten. A patogênese da diarreia na giardíase não é conhecida. As infecções podem ser abortivas, transitórias, recorrentes ou crônicas. Os parasitas G. intestinalis variam genotipicamente, e tais variações podem contribuir para os diferentes cursos da infecção. Fatores do parasita, bem como do hospedeiro, podem ser importantes para determinar o curso da infecção e da doença. Tanto respostas celulares como humorais se desenvolvem em infecções humanas, mas seus papéis precisos na patogênese da doença e/ou no controle da infecção são desconhecidos. Visto que pacientes com hipogamaglobulinemia sofrem infecções prolongadas, graves, que respondem mal ao tratamento, as respostas imunes humorais parecem ser importantes. A maior suscetibilidade dos jovens do que dos velhos, e de pessoas recentemente expostas do que de populações expostas cronicamente, sugere que uma imunidade protetora, pelo menos parcial, possa se desenvolver. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Variam desde o estado de portador assintomático até diarreia fulminante e má absorção. Giardíase aguda: os sintomas se desenvolvem depois de um período de incubação que dura pelo menos 5 a 6 dias, e geralmente 1 a 3 semanas. Os sintomas iniciais proeminentes incluem diarreia, dor abdominal, empachamento, eructações, flatulência, náusea e vômitos. Embora a diarreia seja comum, as manifestações intestinais altas, como náusea, vômitos, empachamento e dor abdominal, podem predominar. A duração da giardíase aguda geralmente é de > 1 semana, embora a diarreia frequentemente regrida. Giardíase crônica: podem se apresentar com ou sem antecedente de ter experimentado um episódio agudo sintomático. A diarreia não é necessariamente proeminente, mas ocorrem aumento de flatulência, fezes soltas, eructação sulfurosa e (em alguns casos) perda de peso. Os sintomas podem ser contínuos ou episódicos e podem persistir por anos. Algumas pessoas que têm sintomas relativamente leves por períodos longos só reconhecem a extensão de seu desconforto retrospectivamente. Febre, presença de sangue e/ou muco nas fezes e outros sinais e sintomas de colite são incomuns, sugerindo um diagnóstico diferente ou uma doença concomitante. Os sintomas tendem a ser intermitentes, mas recorrentes e gradualmente debilitantes, em contraste com os sintomas agudos incapacitantes associados a muitas infecções entéricas bacterianas. Por causa do caráter menos grave da doença em seu início e da propensão para infecções crônicas, os pacientes podem buscar orientação médica tardiamente no curso da enfermidade; contudo, a doença pode ser grave, resultando em má absorção, perda de peso, atraso do crescimento e desidratação. Manifestações extraintestinais, como urticária, uveíte anterior e artrite; não está claro se são causadas por giardíase ou por processos concomitantes. A giardíase pode ser grave em pacientes com hipogamaglobulinemia e pode complicar outras doenças intestinais preexistentes, como a que ocorre na fibrose cística. Em pacientes com Aids, a Giardia pode causar doença entérica refratária ao tratamento. DIAGNÓSTICO Detecção do antígeno do parasita nas fezes e/ou identificação de cistos (ovais, com quatro núcleos) ou trofozoítos em amostras de fezes ou por testes de amplificação do ácido nucleico. Devido à variabilidade na excreção dos cistos, pode haver necessidade de exame em diversas amostra TRATAMENTO As taxas de cura com metronidazol (250 mg, três vezes ao dia, por cinco dias) geralmente são > 90%. O tinidazol (2 g, via oral [VO], 1×) pode ser mais efetivo que o metronidazol. A nitazoxanida (500 mg, duas vezes ao dia, por três dias) é um agente alternativo para o tratamento da giardíase. A paromomicina, um aminoglicosídeo oral que não é bem absorvido, pode ser dado a pacientes grávidas sintomáticas, embora as informações sejam limitadas sobre a efetividade desse agente para erradicar a infecção. Em casos refratários a múltiplos cursos de tratamento, terapia prolongada com metronidazol (750 mg, três vezes ao dia, por 21 dias) ou tratamento com combinações variadas de múltiplos agentes têm sido bem-sucedidos. É uma infecção causada por Entamoeba histolytica, um protozoário intestinal. Seu espectro de síndromes clínicas varia desde colonização assintomática (90% dos casos) até amebíase invasiva, que é responsável por 10% das pessoas acometidas. A amebíase invasiva frequentemente se apresenta como colite (disenteria ou diarreia) ou como amebíase extraintestinal, na qual os abscessos do fígado são mais comumente encontrados do que o envolvimento dos pulmões ou do cérebro. CICLO DE BIOLÓGICO A E. histolytica é adquirida pela ingestão de cistos viáveis a partir de água, alimentos ou mãos contaminadas por fezes. Além de beber água contaminada, os meios menos comuns de transmissão incluem práticas de sexo oral e anal e, em raras ocasiões, a inoculação analdireta por meio de equipamentos de irrigação colônica. Os trofozoítos móveis são liberados dos cistos no intestino delgado e, na maioria dos pacientes, permanecem como comensais inofensivos no intestino grosso. Após o encistamento, os cistos infecciosos são eliminados pelas fezes e podem sobreviver por várias semanas em um ambiente úmido. Em alguns pacientes, os trofozoítos invadem a mucosa intestinal, causando colite sintomática, ou a corrente sanguínea, causando abscessos distantes no fígado, nos pulmões ou no cérebro. Os trofozoítos podem não encistar em pacientes com disenteria ativa, e os trofozoítos hematófagos móveis frequentemente estão presentes em fezes frescas. Os trofozoítos são mortos rapidamente pela exposição ao ar ou ao ácido estomacal e, portanto, não podem transmitir a infecção. EPIDEMIOLOGIA A infecção por E. histolytica tipicamente afeta regiões tropicais subdesenvolvidas com sistemas sanitários e de higiene ruins, ocorrendo particularmente em crianças < 5 anos de idade. Essa infecção é disseminada pelo subcontinente indiano e na África, em partes do Leste Asiático (Tailândia) e na América Central e do Sul (México e Colômbia). Conforme o estudo Global Burden of Disease 2015, a amebíase é responsável por 67.900 mortes em todas as idades, incluindo 15.500 crianças com < 5 anos de idade. Em contraste, os principais grupos em risco de amebíase em países desenvolvidos são viajantes em retorno, imigrantes recentes, homens que fazem sexo com homens (HSH), militares e pessoas institucionalizadas. No mundo todo, a E. histolytica é a segunda causa mais comum de morte relacionada a infecções parasitárias (após a malária). A colite invasiva e os abscessos hepáticos são 10 vezes mais comuns em homens do que em mulheres; essa diferença tem sido atribuída à disparidade em morte mediada pelo complemento e aos efeitos da testosterona sobre a secreção de γ-interferona. FISIOPATOLOGIA Tanto trofozoítos como cistos são encontrados no lúmen intestinal, mas apenas os trofozoítos da E. histolytica invadem os tecidos. Os trofozoítos se ligam ao muco colônico e células epiteliais por meio da lectina de adesão Gal/GalNAc, liberando glicosidases e proteases que causam degradação de polímeros da mucosa. As cisteínas proteinases extracelulares degradam colágeno, elastina, IgA, IgG e as anafilatoxinas C3a e C5a. Após a ruptura da camada mucosa, os trofozoítos danificam a mucosa por meio de citotoxicidade dependente do contato e independente do contato. A citotoxicidade dependente do contato é atribuível à indução de morte celular apoptótica; morte celular mediada por trogocitose (ingestão de fragmentos de células vivas); e lise de células inflamatórias (neutrófilos, monócitos e linfócitos), células colônicas e células hepáticas por meio da liberação de fosfolipase A e peptídeos formadores de poros. A citotoxicidade independente de contato ocorre após a produção de mediadores inflamatórios, como prostaglandina E2, pelos trofozoítos, por fim levando a aumento da permeabilidade a íons nas junções oclusivas intercelulares. Os trofozoítos da E. histolytica são expostos constantemente às espécies reativas do oxigênio e de nitrogênio do seu próprio metabolismo e do hospedeiro durante a invasão tissular. A capacidade de resistir às espécies reativas do oxigênio ou às espécies reativas do nitrogênio, como o óxido nítrico, ou S-nitrosotióis (p. ex., S-nitrosoglutationa [GSNO] e S-nitrosocisteína [CySNO]) também é um fator de virulência. A superexpressão da proteína de ligação regulatória do peróxido de hidrogênio parece aumentar a citotoxicidade da E. histolytica. Como a E. histolytica não tem glutationa e glutationa redutase, ela depende do sistema tioredoxina/tioredoxina redutase para prevenir, regular e reparar o dano causado pelo estresse oxidativo. Este sistema antioxidativo é versátil: ele tem a capacidade de reduzir as espécies reativas do nitrogênio e usar um doador de elétrons alternativo, como a forma reduzida de nicotinamida adenina dinucleotídeo. O metronidazol, o padrão atual de terapia para amebíase, parece exercer seu efeito antiparasitário por meio da inibição desse sistema antioxidante. As primeiras lesões intestinais são microulcerações da mucosa do ceco, cólon sigmoide ou reto, que liberam eritrócitos, células inflamatórias e células epiteliais. A colonoscopia revela pequenas úlceras com margens elevadas e mucosa normal intercalada. A extensão submucosa das ulcerações sob a superfície mucosa de aspecto viável causa a clássica úlcera em “forma de frasco” contendo trofozoítos nas margens de tecidos mortos e viáveis. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A maioria dos pacientes portadores de espécies de Entamoeba são assintomáticos, mas alguns desenvolvem colite inflamatória 2 a 6 semanas após a ingestão de cistos amebianos. A disenteria pode desenvolver-se, com 10 a 12 pequenas defecações diárias, consistindo, na sua maioria, em sangue e muco. Menos de 40% dos pacientes apresentam febre. A colite amebiana fulminante – caracterizada por diarreia mais profusa, dor abdominal intensa com sinais peritoneais e febre – é mais comum em crianças. O abscesso hepático é o tipo mais comum de infecção extraintestinal e pode surgir meses (geralmente ≤ 5 meses) após a exposição à E. histolytica. Os pacientes apresentam dor no quadrante superior direito, febre, derrame pleural à direita e dor à palpação hepática e tipicamente não apresentam colite. O abscesso pode romper através do diafragma e disseminar-se para outros órgãos (p. ex., pulmão, coração). DIAGNÓSTICO O exame microscópico de três amostras de fezes, em geral combinado com exames sorológicos, permanece a abordagem-padrão para o diagnóstico. Até 10% dos pacientes com abscesso amebiano do fígado podem ter sorologias negativas; o exame deve ser repetido em uma semana se a suspeita clínica permanecer alta. TRATAMENTO Metronidazol, Tinidazol A Política Nacional de Saneamento, instituída pela Lei Federal nº 11.445, de 20071, define saneamento básico como o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais urbanas. As políticas públicas de saneamento básico são essenciais para a promoção da saúde e da qualidade de vida nas comunidades, pois possibilitam um ambiente livre dos vetores (animais e insetos) que propagam parasitas, bactérias ou agentes patogênicos, o que contribui para a redução e o controle de doenças, como hepatite, dengue, diarreias, cólera, toxoplasmose e outras. A atualização do Marco Legal do Saneamento Básico, por meio da Lei Federal nº 14.026, de 20202, teve como principal objetivo universalizar e qualificar a prestação dos serviços no setor. Segundo a norma, os contratos de prestação dos serviços públicos de saneamento deverão definir metas de universalização que garantam o atendimento de 99% da população com água potável e de 90% da população com coleta e tratamento de esgotos até 31 de dezembro de 2033, assim como metas quantitativas de não intermitência do abastecimento, de redução de perdas e de melhoria dos processos de tratamento. Caso a prestação dos serviços de saneamento seja regionalizada e inviável economicamente a universalização até a data mencionada, fica permitida a dilação do prazo, desde que não ultrapasse 1º de janeiro de 2040 e haja anuência prévia da agência reguladora. JAMESON, J L.; FAUCI, Anthony S.; KASPER, Dennis L.; et al. Manual de medicina de Harrison: Grupo A, 2021. 9786558040040. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978655 8040040/. 1 BRASIL. Lei Federal nº 11.445, de 5 janeiro de 2017. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamentobásico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786558040040/ https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786558040040/