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PARASITOLOGIA Graziela Gonzaga Santana CONCEITOS GERAIS • Transmitida pela Giardia lamblia (G. duodenalis ou G. intestinalis) que possui baixa especificidade para seus hospedeiros, ou seja, ela não precisa do hospedeiro humano para completar seu ciclo de vida e por isso ela é considerada uma zoonose. • É um protozoário flagelado e esses flagelos permitem a locomoção. • Uma pessoa infectada produz 300 milhões de trofozoítos e 14 milhões de cistos infectantes viáveis por dia. • Acomete indivíduos de qualquer idade, porém é mais comum em menores de 5 anos, especialmente em locais com más condições sanitárias. MORFOLOGIA • A Giardia é um parasito que se apresenta em duas formas: cisto e trofozoíto. • Ambas formas podem ser eliminadas nas fezes, sendo que nas fezes diarreicas são encontrados trofozoítos, e nas formadas são encontrados cistos. O cisto constitui a forma infectante. TROFOZOÍTO • Formato de pera. • Binucleado. • Simetria bilateral. • Não possui mitocôndrias. • Possui quatro pares de flagelos. • Apresentam um disco suctorial adesivo. • Mede 20 µm de comprimento e 10 µm de largura. CISTO • Formato oval. • Forma infecciosa. • Possui de 2 a 4 núcleos. • Mede cerca de 12 µm de comprimento por 8 µm de largura. • Membrana externa bem destacada do citoplasma. CICLO BIOLÓGICO • O ciclo é monoxênico (apenas 1 hospedeiro definitivo). • Inicia-se com a ingestão de cistos maduros. • Por divisão binária se multiplicam no intestino delgado, sendo que a gravidade da doença é proporcional ao número de parasitos. • Alguns trofozoítos sofrem encistamento e são eliminados nas fezes. • Os cistos se rompem no duodeno, formando trofozoítos, os quais se multiplicam intensamente. • Os trofozoítos vivem no duodeno e nas primeiras porções do jejuno, e a atividade dos flagelos lhes confere rápido e irregular deslocamento. • O ciclo se completa pelo encistamento do parasito e sua eliminação para o meio exterior (o ceco é o principal sítio de encistamento). • Os cistos são eliminados pelas fezes em grande quantidade, há períodos de interrupção de eliminação de 7 a 10 dias. • Os trofozoítos também estar presentes nas fezes, mas são os cistos os responsáveis pela transmissão. • Os cistos resistem fora do hospedeiro, sobrevivendo em água doce e fria, pelo menos, 2 meses no meio ambiente. 2 • Na água os cistos podem conservar sua vitalidade durante 2 meses ou mais. ln vitro, consegue-se o desencistamento, após exposição a 37°C e pH 2, seguida de semeadura em meios de cultura com pH 6,8 e naquela temperatura. VIAS DE TRANSMISSÃO • A principal é a via oral através da infecção do homem pela ingestão de cistos presentes em água ou em alimentos contaminados, sendo que a ingestão de um número pequeno é suficiente para causar a infecção. • Também pode ocorrer por via oral-fecal através de hábitos higiênicos inadequados levando a auto infecção e a hetero infecção. • Contaminação de pessoa a pessoa por meio das mãos contaminadas, em locais de aglomeração humana ou entre membros de uma família, quando se tem algum indivíduo infectado. • Além disso, transmissão de animal a pessoa. Ex.: animais domésticos infectados com Giardia (controverso na literatura). PATOLOGIA • O parasitismo pela Giardia intestinalis é em geral assintomático, mas também pode estar relacionado com quadros clínicos de diarreia aguda ou com formas crônicas de diarreia e má absorção intestinal. • Formas graves são observadas em pessoas sem imunidade ou imunodeficientes. • Quanto aos fatores do hospedeiro, a idade é muito importante, predominando os casos sintomáticos entre os <5 anos e caindo muito depois da adolescência. • Também se atribui maior suscetibilidade aos pacientes com hipogamaglobulinemia e, principalmente, a uma deficiência de IgA. Alguns acreditam que a infecção seria controlada pela produção de anticorpos específicos IgM, lgG e lgA que aumentam na fase de eliminação do parasito. • As lesões anatomopatológicas atribuídas ao parasito têm sido principalmente atrofia das vilosidades e dos microvilos, reduzindo a área de absorção da mucosa intestinal, infiltração por linfócitos e outros elementos inflamatórios, e aumento da secreção de muco. MECANISMO PATOGÊNICO • Uma alta carga parasitária pode causar ação irritativa sobre a mucosa intestinal, levando à produção excessiva de muco e a alterações da produção de enzimas digestivas. • A RI acontece quando o parasito entra em contato com macrófagos que ativam os linfócitos T que ativam os linfócitos B que produzem IgA e IgE. • A IgE se liga aos mastócitos (presentes na superfície da mucosa intestinal), provocando a degranulação dessas células e a liberando várias substâncias (histamina). • Desta forma, é desencadeada uma reação anafilática que provoca edema da mucosa e contração de seus ms. lisos, aumentando a motilidade do intestino. • Ocorrem também lesões (produzidas pelos trofozoítos) nas microvilosidades intestinais produzidas pelos trofozoítos, até invasão da lâmina própria. SINTOMATOLOGIA • Nos casos sintomáticos, sintomas são variados e surgem de 1 a 3 semanas após a ingestão dos cistos. • Os sintomas mais frequentes: Evacuações líquidas ou pastosas (em 93 a 96% dos pacientes). Número aumentado de evacuações. Mal-estar. Cólicas abdominais. Fraqueza. Perda de peso. • Sintomas menos frequentes foram: Diminuição do apetite. Náuseas. Vômitos. Flatulência. Distensão abdominal. Ligeira febre. Cefaleia. Nervosismo. • A diarreia, que é a manifestação mais constante, podendo ser aguda e autolimitada, intermitente, ou crônica e persistente. • As fezes pastosas ou liquefeitas são malcheirosas, geralmente claras ou acinzentadas. • Frequentemente elas contêm muco, mas raras vezes sangue ou pus. Nos casos mais graves pode haver esteatorreia. • Em alguns casos pode haver distensão e desconforto epigástrico, sem alterações do trânsito intestinal, 3 simulando os quadros de úlcera péptica, de alteração das vias biliares, de hérnia do hiato ou de pancreatite. • Os sintomas da giardíase crônica variam entre manifestações benignas e graves (forma subaguda). • Pacientes com imunodeficiência podem ter diarreia persistente, má absorção e perda de peso acentuada. • Em crianças, a sintomatologia é semelhante, constituindo por vezes uma síndrome com diarreia crônica, dor abdominal e abdome distendido, anorexia, perda de peso e crescimento retardado. DIAGNÓSTICO • Os métodos de diagnóstico habituais são: Nos casos de fezes formadas, a busca de cistos. Nas evacuações diarreicas, a pesquisa de trofozoítos ou de cistos. • Quando negativos, os exames devem ser repetidos várias vezes, com técnicas de concentração. CLÍNICO • A partir de informações colhidas na anamnese e a partir da sintomatologia. • Em crianças de 8 meses a 10-12 anos, a principal sintomatologia é diarreia com esteatorreia, irritabilidade, insônia, náuseas e vômitos, perda de apetite (com ou não emagrecimento) e dor abdominal. LABORATORIAL • Exame parasitológico de fezes. • Para confirmar a suspeita clínica, deve-se fazer o exame de fezes nos pacientes para a identificação de cistos ou trofozoítos nas fezes. • A detecção deve ser feita 3 coletas de fezes com intervalo de 2-3 dias, pois na fase aguda a eliminação de cistos é menor e pode resultar em falso negativo. TRATAMENTO • Os derivados nitroimidazólicos (metronidazol, ornidazol, tinidazol e nimorazol) são os medicamentos mais recomendados para a cura da giardíase. • Quando o parasito apresenta resistência a terapêutica recomenda-se dar um intervalo decinco a dez dias para eliminação do primeiro medicamento e completar a terapêutica com outro princípio ativo. • O tratamento em grávidas deverá ser postergado em grávidas pouco sintomáticas ou assintomáticas pois não há drogas sem efeitos adversos. A paromomicina é a mais segura caso não dê para postergar. PREVENÇÃO • Epidemiologia e Profilaxia Giardia intestinalis é encontrada em todo o mundo, mas incide mais em regiões de clima temperado do que em zonas tropicais. • A incidência aumenta, nas crianças, até a puberdade e depois cai muito, não se sabe se é devido à imunidade ou a outras questões fisiológicas. • Mais frequente nos grupos populacionais que apresentam condições higiênicas mais precárias e em instituições fechadas (creches, asilos, orfanatos etc.). • Os surtos localizados parecem resultar sobretudo da contaminação das águas de abastecimento. A infecção pode provir do consumo de água contaminada e de alimentos contaminados com matéria fecal (menos frequente); de mãos sujas de indivíduos infectados; também de relações homossexuais. • Nos países desenvolvidos está sendo considerada uma doença reemergente, sobretudo em centros de atendimento diário a crianças e outras pessoas. • A prevenção deve compreender todas as medidas higiênicas recomendadas para controlar a propagação de agentes infecciosos e parasitários disseminados pelas fezes e pelas mãos sujas. • A concentração de cloro utilizada para o tratamento da água não é suficiente para destruir os cistos de Giardia. • Algumas medidas preventivas: Tratamento da população. Educação sanitária (higiene pessoal) e ambiental. Alimentos higienizados. Saneamento básico (incluindo água tratada). Incentivo financeiro no desenvolvimento de fármacos.