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APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina Objetivos 1. Compreender a etiologia, epidemiologia, fatores de risco, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento, bem como ciclo biológico e transmissão de: Giárgia lamblia, Entamoeba histolystica, Oxiuros, Teníase, Esquistossomose, Ascaris L. 2. Relacionar o saneamento básico às protozooses e helmintíases. Giárgia lamblia (Protozoose) Etioepidemiologia O ciclo de vida da giardia é composto de dois estágios: trofozoíto e cisto. Os cistos são as formas infectantes, sendo responsáveis pela disseminação do parasita. Infecções podem ser resultantes da ingestão de 10 ou até menos cistos. São resistentes, podendo permanecer viáveis durante dois meses no meio exterior. Condições de temperatura e umidade, como a água de 4 a 10°C, podem mantê-los viáveis por até 3 meses. A eliminação dos cistos não é contínua, sendo altamente variável, justificando- se exames parasitológicos das fezes com resultados falso-negativos. Atualmente, em infecções de média intensidade, o número de cistos eliminados por dia varia de 300 milhões a 14 bilhões. O ciclo de vida é completado quando são ingeridos pelo homem. A giardíase ocorre em todas as regiões do mundo, preferencialmente em climas temperado e tropical, sendo mais comum em grupos etários inferiores a 10 anos. É considerada pela OMS como uma zoonose, em decorrência das evidências de contaminação de riachos e reservatórios de água por animais parasitados. Tem seu maior acometimento em regiões com condições sanitárias precárias e tratamento de água inadequado, portanto com grande prevalência em países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, tem-se revelado uma patologia emergente em virtude dos diversos surtos veiculados por meio de alimentos contaminados e principalmente de água contaminada. Esses surtos ocorreram com mais intensidade nos Estados Unidos, especialmente em piscinas públicas e reservatórios de água. Existem relações de acometimento em pacientes imunocomprometidos. A infecção pelo H.pylori contribui para a presença da giardíase, em razão da redução do ácido gástrico. De modo geral, a transmissão ocorre principalmente por meio da água; da ingestão de frutas, verduras e legumes crus, contaminados pelos cistos; de manipuladores de alimentos; do contato direto pessoa a pessoa (fecal-oral), principalmente em creches, asilos, orfanatos e clínicas psiquiátricas; de artrópodes, como moscas e baratas, por meio de seus dejetos ou regurgitamentos; de relações sexuais anal-oral, no caso de indivíduos homossexuais. Os trofozoítos possuem simetria bilateral e movimentam-se por quatro pares de flagelos. Eles dividem-se de maneira assexuada, por fissão binária longitudinal. Na superfície ventral côncava do trofozoíto há um disco adesivo ou disco suctorial, principal responsável pela fixação do protozoário às células epiteliais do intestino. Além disso, os trofozoítos alimentam-se por meio de pinocitose. Não se sabe muitos detalhes do processo de encistamento de Giardia, no entanto, mudanças de pH e da concentração de sais biliares ao longo do trato digestório parecem estimular esse processo. Os cistos são ovalados ou elipsoides e são formas de resistência. As estruturas internas são as mesmas dos trofozoítos, só que duplicadas. Durante o encistamento parece haver fusão dos envelopes nucleares (cariogamia), sugerindo a existência de uma fase meiótica que possibilita as trocas genéticas entre os núcleos dos cistos O hábitat desse flagelado é o intestino delgado, principalmente o duodeno e as primeiras porções do jejuno. O protozoário desencista-se na luz do intestino delgado. APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina O trofozoíto apresenta dois núcleos, quatro pares de flagelos e corpos parabasais em forma de vírgula Em seres humanos, a infecção por Giardia pode ser assintomática ou produzir até síndromes graves de má absorção. Os fatores que possivelmente contribuem para esta variabilidade de expressão clínica incluem a virulência das cepas de Giardia, o número de cistos ingeridos e a idade e o estado imunitário do hospedeiro no momento da infecção. As infecções prévias por Giardia produzem certo grau de proteção contra formas clínicas em infecções subsequentes. Por isso, em áreas endêmicas, a maioria das infecções sintomáticas em indivíduos imunocompetentes ocorre em crianças ou em viajantes não imunes, provenientes de áreas de baixa transmissão. Em pacientes semi-imunes, a fase aguda pode resolver-se espontaneamente. Se isso não acontecer, segue-se um estágio crônico. Não se conhece em detalhes a fisiopatologia das alterações intestinais na giardíase. Giardia coloniza preferencialmente o duodeno e o jejuno, um ambiente hostil em que poucos microrganismos são capazes de sobreviver. Os trofozoítos não invadem as células intestinais do hospedeiro, revestidas por uma camada de muco; no entanto, aderem ao epitélio com auxílio do disco adesivo presente em sua superfície ventral, bem como de proteínas com ação de lectina. Entre elas, destaca-se a giardina α-1, uma das proteínas imunodominantes na superfície de G. duodenalis, que se liga a moléculas sulfatadas no epitélio intestinal. A corrente líquida produzida pelo batimento dos flagelos também auxilia na adesão ao epitélio intestinal. As lesões mais evidentes na morfologia da mucosa intestinal são a atrofia de vilos e a hiperplasia das criptas, que podem reduzir a superfície disponível para a absorção de nutrientes. No entanto, podem ocorrer sintomas em pacientes sem atrofia de vilos, sugerindo que essa alteração não explica completamente a patogênese da giardíase. Do ponto de vista funcional, a alteração mais frequentemente associada à infecção por G. duodenalis é a redução da atividade de diversas enzimas da borda em escova da mucosa intestinal, como a maltase, a sucrase, a lactase, a sacaridase e outras, bem como de enzimas do lúmen intestinal, como a tripsina, a quimiotripsina, a amilase e a lipase. Os fatores que levam à redução de atividade dessas enzimas permanecem desconhecidos, mas suas consequências (essencialmente a redução da absorção de carboidratos, gorduras e vitaminas) são evidentes. A giardíase produz também aumento da permeabilidade intestinal, provavelmente como consequência de inflamação da mucosa e apoptose de enterócitos, bem como aumento da secreção de cloretos, levando ao acúmulo de líquido no lúmen intestinal durante a infecção. Observa-se também aumento da motilidade intestinal. Finalmente, acredita-se que a giardíase produza alterações na composição da microflora intestinal que podem afetar a resposta do hospedeiro à presença do próprio parasito e de outros patógenos intestinais APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina Patogenia da giardíase: (1) Os trofozoítos aderem ao epitélio com auxílio do disco adesivo presente em sua superfície ventral, bem como de proteínas com ação de lectina. (2) A interação entre os trofozoítos e o enterócito induz a liberação de quimiocinas que, por sua vez, atraem mastócitos, células dendríticas e outras células do sistema imune. (3) A inflamação resultante produz a ruptura das junções aderentes entre as células epiteliais, bem como (4) a apoptose dos enterócitos. (5) Os trofozoítos consomem grande quantidade de arginina em seu metabolismo energético; a falta de arginina disponível para o enterócito aumenta sua propensão à apoptose. (6) A perda das junções aderentes intercelulares e a morte celular por apoptose produzem aumento da permeabilidade intestinal.(7) O aumento da secreção de cloretos pelo enterócito, levando ao acúmulo de líquido no lúmen intestinal, e a hipermotilidade intestinal (8), decorrente do aumento de secreção de hormônios digestivos como a motilina, contribuem para a diarreia, agravada pela hiperplasia das criptas intestinais (9), que reduz a superfície disponível para a absorção de água e nutrientes. A giardíase, por fim, produz alterações na composição da microflora intestinal (10). Manifestações clínicas A infecção assintomática ocorre tanto em adultos como em algumas crianças. Estima-se que, em países industrializados, 5 a 15% dos portadores de infecção permaneçam sem sintomas mesmo se não tratados. Entre crianças de países em desenvolvimento, a infecção é extremamente comum, mas frequentemente não ocorre diarreia. Episódios repetidos de infecção levam ao retardo do crescimento ao longo dos dois primeiros anos, o que indica que as infecções subclínicas (assintomáticas) possuam impacto nutricional. É possível que alguns indivíduos classificados como assintomáticos apresentem episódios de diarreia transitória. A giardíase aguda caracteriza-se como uma doença diarreica, com duração entre 2 e 4 semanas. Os sinais e sintomas mais comuns são a esteatorreia e o desconforto abdominal; pode haver náuseas, vômitos e perda de peso. Na fase inicial da doença, a diarreia é frequentemente explosiva, mas progressivamente as evacuações se tornam mais intermitentes. Embora a infecção seja autolimitada na maioria dos indivíduos imunocompetentes, cerca de 30 a 50% deles apresentam diarreia crônica (duração superior a 2 semanas). Em 25% dos pacientes não imunes, os sintomas podem persistir por 7 semanas ou mais. Nesses casos, a perda de peso pode ser pronunciada em função das dificuldades de absorção de diversos nutrientes. Pode haver deficiência secundária de lactase APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina em até 40% dos pacientes, criando dificuldades de absorção de lactose. Se não tratadas, as infecções podem durar vários meses, com exacerbação periódica do quadro diarreico. As infecções crônicas são mais comuns entre indivíduos com baixa produção de anticorpos, como os portadores de agamaglobulinemia ligada ao X, de imunodeficiência comum variável e de deficiência de IgA. O período de incubação é de 1 a 2 semanas antes do aparecimento dos sintomas, podendo variar de 1 a 45 dias. O principal sintoma é diarreia, inicialmente líquida, podendo chegar ao grau de esteatorreia acompanhada de náuseas, desconforto abdominal e perda de peso. Diagnóstico O exame parasitológico de fezes constitui a melhor maneira de estabelecer o diagnóstico da giardíase, por ser um método não invasivo, de fácil execução, baixo custo, bem como utilizar equipamento disponível em todos os laboratórios de parasitologia. Em fezes diarreicas, espera-se encontrar trofozoítos do parasito, situação em que amostras recém-emitidas devem ser examinadas por método direto, preferencialmente com coloração pela hematoxilina férrica ou pelo tricrômico. Nas fezes formadas, predominam cistos. Para o encontro de cistos, são geralmente necessárias técnicas de concentração, a fim de separá-los de partículas interferentes presentes nas fezes. Os métodos de sedimentação de Hoffman et al. e de centrífugo-flutuação de Faust et al. são os mais utilizados em nosso meio com essa finalidade. Os cistos podem ser corados com solução de Lugol, hematoxilina férrica ou tricrômico. Como a eliminação de cistos não é contínua, ocorrendo períodos de 7 a 10 dias durante os quais estão presentes em pequena quantidade ou desaparecem, exames falso- negativos tornam-se comuns. Desse modo, é recomendável, como forma de padronização, a realização de três exames, preferencialmente um a cada três dias. Estima-se que a sensibilidade de um único exame de fezes esteja em torno de 60 a 80%, enquanto três exames seriados seriam capazes de detectar mais de 90% das infecções por G. duodenalis. Ocasionalmente, aspirados duodenais são obtidos para o diagnóstico de giardíase pelo encontro de trofozoítos. A obtenção de amostras de tecido por biopsia é raramente justificada, mas o achado do parasito é possível em amostras obtidas por aposição do fragmento de tecido em uma lâmina, seguida de fixação e coloração. Existem diversos produtos comerciais para a detecção de antígenos de G. duodenalis nas fezes, por meio de imunoensaio enzimático (ELISA) de captura, com sensibilidade entre 85 e 98% e especificidade superior a 90%. O teste mais utilizado tem como alvo a glicoproteína GSA 65, presente em cistos e trofozoítos, e pode ser realizado com amostras congeladas ou mantidas em soluções preservativas. Alguns dos testes comercialmente disponíveis, como o Tri-Combo (produzido nos EUA pela empresa TechLab), detectam não somente antígenos de G. duodenalis, mas também de outros protozoários intestinais como E. histolytica/dispar, Cryptosporidium parvum e C. hominis. A sensibilidade situa-se acima de 90%, com especificidade de 97 a 99%. Os métodos moleculares para o diagnóstico de giardíase, que se baseiam na amplificação de sequências de DNA do parasito com a reação em cadeia da polimerase (PCR), em versão convencional ou em tempo real, permanecem essencialmente restritos ao ambiente de pesquisa. Por outro lado, os métodos de detecção de anticorpos séricos contra G. duodenalis são utilizados em estudos epidemiológicos, com o objetivo de estimar a população exposta ao parasito, mas não distinguem infecções atuais de pregressas. Por isso, não são em geral aplicados rotineiramente em análises clínicas. As técnicas APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina de cultivo do parasito in vitro são raramente utilizadas com finalidade diagnóstica. Tratamento Os compostos nitroimidazólicos, como metronidazol, tinidazol, secnidazol, ornidazol e nimorazol, são os principais agentes atualmente empregados no tratamento da giardíase. Em geral, são recomendados os seguintes esquemas terapêuticos: Tinidazol, secnidazol, ornidazol, nimorazol: 2 g, dose única, em adultos; 50 mg/kg, também dose única, em crianças Metronidazol: 250 mg, 3 vezes/dia, durante 5 a 10 dias, em adultos; 5 mg/kg/dia, 3 vezes/dia, por 5 a 10 dias, em crianças. As alternativas aos nitroimidazólicos são: furazolidona (100 mg, 2 vezes/dia, por 7 a 10 dias em adultos e 2 mg/kg, 2 vezes/dia, por 7 a 10 dias em crianças) albendazol (400 mg/dia, por 5 dias em adultos, e 15 mg/kg/dia [dose máxima, 400 mg], por 5 a 7 dias em crianças) A nitazoxanida (400 a 500 mg/dia, 3 dias em adultos) pode ser uma alternativa em casos refratários ao tratamento com nitroimidazólicos, mas não apresenta vantagens em relação ao tratamento clássico na ausência de resistência documentada. Sugere-se realizar novos exames parasitológicos de fezes 7, 14 e 21 dias após o término do tratamento, como controle de cura. Entamoeba histolística (Protozoose) O termo amebíase refere-se ao parasitismo humano por E. histolytica e E. dispar, acompanhado ou não de manifestações clínicas. Embora E. histolytica tenha sido considerada uma única espécie, definem-se atualmente duas espécies morfologicamente idênticas, que diferem em características bioquímicas, imunológicas, genéticas e epidemiológicas, associadas à amebíase humana: E. histolytica, patogênica, e E. dispar, não patogênica. A Entamoeba histolytica é um protozoário da superclasse Rhizopoda, com mobilidade dependente de pseudópodos. Seu ciclo vital inclui três formas. Etiologia A E. histolytica parasita o cólon humano, alimentando-se de bactérias e partículasde alimento. É um patógeno considerado um dos mais potentes matadores de células, entre os agentes infecciosos. A sua ação de matar as células é realizada por reações citolíticas contato-dependentes, semelhante à ação dos linfócitos citotóxicos. A associação de E. histolytica a bactérias facilita seu crescimento em culturas e no cólon, determinando seu caráter invasivo. Esse parasita é capaz de aderir e ingerir bactérias não opsonizadas, contendo galactose (ou NacGlc) na sua superfície. A invasividade da E. histolytica pode estar relacionada com fatores nutricionais, pois a deficiência de proteínas na APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina dieta de ratos condiciona a infecção, em humanos. Ao contrário, a dieta hiperproteica facilita a eliminação da infecção. O ferro é nutriente necessário para crescimento das amebas. Epidemiologia É doença de distribuição universal, havendo diferenças na prevalência da infecção e na sua incidência, ao redor do mundo, em virtude das variações na transmissão e na invasividade do parasita, determinadas pelas condições ecológicas e socioeconômicas. Estima-se que a amebíase provoque 500 milhões de infecções por ano, sendo que 50 milhões de pessoas, aproximadamente, desenvolvem os sintomas de disenteria amebiana ou abscesso hepático, com taxa de morte anual de 40 a 100.000 pessoas em todo o mundo. São considerados fatores de risco para a infecção amebiana: o clima, a baixa condição socioeconômica, a higiene precária, a falta de suprimento de água tratada, a viagem a regiões endêmicas, entre outros. A maioria das infecções ocorre pela ingestão de alimentos ou água contaminados com fezes, contendo os cistos da E. histolytica. Entretanto, é importante ter atenção para as vias de infecção menos comuns, como o sexo oral e anal. Ciclo biológico Os trofozoítos de E. histolytica/E. dispar são pleomórficos, com um único núcleo e apresentando movimentação por pseudópodes, e divisão assexuada por fissão binária simples. As formas invasivas de E. histolytica/E. dispar são grandes e, em geral, têm hemácias no citoplasma. Alimentam-se por emissão de pseudópodes, por processo de fagocitose. Os pré-cistos são intermediários entre trofozoítos e cistos, com um núcleo. Os cistos são esféricos ou ovais, com parede cística rígida. Apresentam divisão múltipla por esquizogonia; podem conter um a quatro núcleos, que apresentam as mesmas características morfológicas dos núcleos dos trofozoítos. Os cistos imaturos, aqueles com um ou dois núcleos, apresentam um ou mais corpos cromatoides, constituídos por agrupamentos de ribossomos em forma de bastão, com extremidades arredondadas. Têm também um ou mais vacúolos de glicogênio, que servem como reserva de energia para essa forma de resistência. O hábitat de E. histolytica e E. dispar é o intestino grosso. Os cistos maduros, quadrinucleados, são liberados, nos últimos segmentos do intestino delgado ou na parte anterior do intestino grosso, formas chamadas de metacísticas. Após rápida divisão mitótica, transformam-se em oito trofozoítos que passam a colonizar o epitélio do intestino grosso. Os trofozoítos multiplicam-se de modo assexuado, por fissão binária simples. Se levados às últimas porções do intestino grosso, os trofozoítos progressivamente desenvolvem uma membrana cística, e são liberados para o meio exterior. Contaminam a água e os alimentos, podendo então atingir outros hospedeiros. Os cistos são as únicas formas com condições de sobrevivência no ambiente externo. Os cistos maduros, com quatro núcleos, não apresentam vacúolos de glicogênio nem corpos cromatoides e são as formas responsáveis pela transmissão ao próximo hospedeiro. As formas invasivas ou trofozoítos penetram no epitélio intestinal e dividem-se intensamente na submucosa. Podem ser eventualmente eliminados nas fezes de pacientes com disenteria grave. Produzem ulcerações extensas e podem atingir outros órgãos por via hematogênica. A transmissão do protozoário é orofecal, por contaminação de água e alimentos com cistos, dependendo de hábitos culturais, idade, saneamento básico, aglomeração populacional e nível socioeconômico. Embora consideradas como anaeróbicas, essas amebas são microaerófilas, isto é, utilizam pequenas quantidades de oxigênio. Têm APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina estrutura celular simples, com metabolismo semelhante ao das bactérias. O ambiente ácido do estômago serve como a primeira barreira contra os patógenos entéricos, mas os cistos de Entamoeba resistem ao baixo pH e o excistamento ocorre somente no lúmen do intestino delgado terminal ou nas primeiras porções do intestino grosso. A adesão das amebas à camada de muco que reveste o epitélio intestinal é a primeira etapa do processo que levará a uma erosão do epitélio da mucosa intestinal. A adesão é mediada pela lectina de adesão inibível por Gal/GalNAc, um um domínio de reconhecimento de carboidratos localizado no domínio extracelular da cadeia pesada é o responsável pela adesão à mucina, o principal componente dessa camada mucosa. Uma vez aderidas, as amebas secretam glicosidases e proteases, especialmente cisteína- proteases, que degradam os polímeros do muco. As amebas restritas ao muco intestinal geralmente não causam sintomas. A lectina de adesão inibível por Gal/GalNAc não somente participa do fenômeno de adesão ao muco, mas também bloqueia a deposição, na superfície das amebas, do complexo de ataque de membrana do sistema complemento, impedindo sua lise. Essa lectina de adesão é também alvo de imunidade protetora, naturalmente adquirida, mediada por anticorpos de classe IgA. A degradação da camada mucosa, como consequência da ação enzimática, torna possível o contato inicial entre as amebas e suas células-alvo, os enterócitos. A partir dessa etapa inicia-se o processo de quebra da barreira epitelial, com alteração do transporte de íons e de absorção de nutrientes, inflamação local e sistêmica e mudança da composição da microbiota intestinal que caracteriza a amebíase como doença. Uma vez aderidas aos enterócitos, as amebas desencadeiam a morte das células do epitélio intestinal mediante dois processos distintos. O primeiro é a apoptose. As amebas fagocitam exclusivamente as células apoptóticas. Entre os componentes com ação digestiva produzidos pelos trofozoítos de E. histolytica encontram-se as proteínas formadoras de poros conhecidas como amoebapore, cuja principal função, no interior dos vacúolos fagocitários, consiste na inativação e morte das bactérias ingeridas pelas amebas. O segundo processo de morte celular é conhecido como trogocitose. Trata-se da internalização de fragmentos de células hospedeiras vivas, resultando em elevação dos níveis intracelulares de cálcio e morte celular. A trogocitose, entretanto, só é desencadeada quando a ameba interage com enterócitos vivos, com a participação da lectina de adesão inibível por Gal/GalNAc; os enterócitos apoptóticos são ingeridos por fagocitose. A morte celular estimula a produção de pré- interleucina (IL) 1β e de IL-1β, que, por sua vez, ativam o fator de transcrição nuclear NF-κB, o que resulta na produção de diversos mediadores de inflamação (IL-1α, IL-8, IL-6, COX-2, GM-CSF) e no recrutamento de neutrófilos. Este processo é facilitado pelas cisteína-proteases das amebas, capazes de converter pré-IL-1β em sua forma ativa, IL-1β. Além disso, os trofozoítos são capazes de produzir prostaglandina E2, que estimula a produção de IL-8. A migração de neutrófilos e outros leucócitos, atraídos pelos mediadores liberados, agrava a lesão epitelial.Nas áreas de erosão epitelial inicia-se a invasão das amebas, preferencialmente através do epitélio APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina interglandular. Em sua passagem até as camadas internas da mucosa intestinal, as amebas lisam células e degradam componentes da matriz extracelular. A morte de neutrófilos recrutados para a lesão resulta na liberação de mais citocinas inflamatórias, como o fator de necrose tumoral (TNF)-α, contribuindo para agravar a inflamação e a destruição celular, com consequente aumento da permeabilidade intestinal. O excistamento ocorre na luz do intestino e os trofozoítos aderem à camada mucosa que recobre as células epiteliais, via lectina Gal/Ga/NAc. Os componentes da camada mucosa são degradados por glicosidades e proteases. Os trofozoítos desencadeiam a morte das células epiteliais, ultrapassam a lâmina própria e podem chegar a vasos sanguíneos da submucosa, disseminando- se por via hematogênica e podendo chegar ao fígado e a outros órgãos. Manifestações clínicas Amebíase intestinal Os indivíduos que ingerem cistos de E. histolytica podem infectar-se ou não. Quando infectados, podem tornar-se portadores crônicos assintomáticos (possivelmente quando as amebas restringem-se à camada mucosa, sem interação direta com o epitélio intestinal), apresentar disenteria moderada a grave, a chamada disenteria amebiana, ou ainda apresentar colite sem disenteria (colite amebiana não disentérica). A composição da microbiota intestinal e as diferenças de virulência entre cepas de E. histolytica estão entre os determinantes do desfecho clínico. Distinguem-se quatro formas clínicas principais de amebíase intestinal invasiva, todas de evolução aguda: disenteria amebiana/diarreia sanguinolenta, colite fulminante, apendicite amebiana e ameboma do cólon. As síndromes diarreicas e disentéricas correspondem a 90% dos casos de amebíase intestinal invasiva. Os pacientes apresentam geralmente três a cinco evacuações por dia, sem febre. Ocorre dor moderada em cólica precedendo as evacuações. A disenteria amebiana é a diarreia com muco e sangue nas fezes. Na colite amebiana não disentérica, observam-se episódios recorrentes de diarreia sem muco ou sangue nas fezes, tendo a mucosa do cólon um aspecto geralmente normal. A colite fulminante ou necrosante é um quadro de evolução rápida, em que os pacientes apresentam 30 ou mais evacuações diárias acompanhadas de cólicas intensas e tenesmo. Os amebomas são lesões pseudotumorais resultantes de necrose, inflamação e edema da mucosa e submucosa do cólon. Nos primeiros estágios de invasão das células epiteliais, as amebas podem causar reações inflamatórias, com edema e hiperemia – lesões inespecíficas precursoras de ulcerações focais. Inicialmente estas ulcerações são superficiais; podem depois estender-se à submucosa, com rápida disseminação das amebas. Amebíase extraintestinal O fígado pode ser atingido por disseminação sistêmica, causando o chamado abscesso amebiano de fígado ou necrose amebiana de fígado. O quadro clínico caracteriza-se por início súbito, com dor no hipocôndrio direito que aumenta à inspiração profunda, geralmente acompanhada de febre. Raramente ocorre icterícia. Por motivos desconhecidos, a amebíase hepática é muito mais comum em homens do que em mulheres, e incomum em crianças. APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina As lesões podem ser únicas ou múltiplas e, nos casos mais graves, muito extensas. Os protozoários que se desprendem dos bordos das lesões podem penetrar outros locais do fígado. O pulmão direito em geral é atingido pelo diafragma, a partir de lesões hepáticas. As lesões pulmonares apresentam também aspecto necrótico e podem ser múltiplas. Em casos graves, porém raros, o cérebro também pode apresentar focos necróticos. Eventualmente a pele, sobretudo a região perianal, pode ser afetada. Diagnóstico O diagnóstico laboratorial da amebíase intestinal é rotineiramente realizado por meio de exame parasitológico de fezes. O diagnóstico de abscesso amebiano pode ser relativamente difícil e depende, em grande parte, de dados clínicos e epidemiológicos. Exames de imagem, como a ultrassonografia ou a tomografia computadorizada, tornam possível a identificação de abscessos hepáticos. Em geral não se recomenda a punção dos abscessos amebianos, com finalidade diagnóstica ou terapêutica, diante do risco de contaminação bacteriana secundária. Os testes sorológicos são positivos para anticorpos na maioria dos indivíduos com amebíase intestinal invasiva (75%) e abscesso amebiano (90%). O imunoensaio enzimático (ELISA), considerado teste de referência, tem grande utilidade diagnóstica na amebíase extraintestinal de indivíduos provenientes de áreas não endêmicas, em que a presença de anticorpos em pacientes com um quadro clínico sugestivo pode ser interpretada como a confirmação do diagnóstico. Entretanto, em área endêmicas, muitos indivíduos saudáveis podem apresentar anticorpos detectáveis meramente em função de infecções prévias. Tratamento O tratamento de amebíase depende da forma clínica encontrada. As estratégias de tratamento baseiam-se em agentes com ação predominante no lúmen intestinal, utilizados nas formas não invasivas, e aqueles com melhor penetração nos tecidos, utilizados nas formas invasivas. Na forma intestinal assintomática, utilizam-se geralmente uma dicloroacetamida (etofamida) ou uma benzilamina (teclosan) como amebicidas de ação luminal nos seguintes esquemas: •Etofamida: 500 mg, 2 vezes/dia, durante 3 dias •Teclosan: 500 mg, de 8 em 8 horas, por 1 dia, ou 100 mg, 3 vezes/dia, durante 5 dias. Alternativamente, pode-se empregar um composto nitroimidazólico com ação tecidual: •Tinidazol: 2 g/dia, durante 2 a 5 dias, em adultos; 50 mg/kg/dia, durante 2 dias, em crianças. Para tratamento da amebíase invasiva ou extraintestinal, empregam-se derivados nitroimidazólicos nas seguintes dosagens: •Metronidazol: 500 a 750 mg/dose, 3 vezes/dia, durante 10 dias, em adultos; 20 a 40 mg/dia, durante 10 dias, em crianças •Tinidazol: 2 g/dia, durante 2 a 5 dias, em adultos; 50 mg/kg/dia, durante 2 a 5 dias, em crianças. O esquema fundamentado em tinidazol parece ser ligeiramente superior, em termos de eficácia, no tratamento da colite amebiana. Nas formas intestinais, sugere-se realizar a pesquisa de cistos e trofozoítos nas fezes, como controle de cura, 7, 14, 21 e 28 dias após o término do tratamento. Enterobius/Oxiuros A Enterobíase, enterobiose ou oxiurose, é a verminose intestinal devida ao Enterobius vermicularis, mais conhecido como oxiúro. Possui localização preferencial no ceco, apêndice, cólon e reto, onde determina sua principal manifestação clínica, o prurido anal. Epidemiologia Enterobius vermicularis é um verme cosmopolita, particularmente comum em países de clima frio e desenvolvidos. Ocorre comumente na infância e APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina em instituições infantis, como creches, reformatórios, colégios etc. É a helmintíase mais comum na Europa e América do Norte, infectando cerca de 42 milhões de pessoas só nos Estados Unidos. Aglomerações aumentam as chances de adquirir enterobíase. Além da transmissão direta, da região anal para a boca, há a transmissão indireta; pela contaminação dos alimentos pelas mãos sujas e a transmissão pela poeira; inalação de ovos – nos dormitórios, colégios, habitações coletivas etc. Ciclo biológico Apresenta dimorfismo sexual, porém possuem características comuns aos dois sexos: cor branca e filiformes.A fêmea possui cerca de 1 cm de comprimento e permanece no lúmen intestinal, junto ao revestimento mucoso que recobre o epitélio. Quando grávida, migra para a região perianal ou perineal dos hospedeiros, durante a noite, onde ocasionalmente pode ser encontrada; em meninas e mulheres, pode penetrar na vagina. Na região perineal, são expelidos os 5.000 a 17.000 (média de 11.000) ovos existentes em seu útero; alguns destes misturam-se às fezes, enquanto os demais ficam retidos na pele da região perianal. A fêmea morre após a oviposição. O macho mede cerca de 5 mm de comprimento e o ovo mede cerca de 50 micrômetros. Apresenta ciclo monoxênico (apenas um hospedeiro). Após a cópula, os machos são eliminados pelas fezes e morrem, já as fêmeas, repletas de ovos, se desprendem do ceco e se dirigem para o ânus, depositando os seus ovos, principalmente no turno da noite. Os ovos eliminados, já embrionados, se tornam infectantes em 6 horas. Em condições ideais, os ovos permanecem viáveis no meio externo por até 13 dias. Quando ingeridos pelo hospedeiro, os ovos liberam uma larva L1 no duodeno. No intestino delgado, as larvas rabditoides eclodem e sofrem duas mudas no trajeto até o ceco, se transformando em vermes adultos. A cópula entre os vermes adultos ocorre no ceco. Todo o ciclo ocorre no lúmen intestinal, sem migração visceral. Um a dois meses após a ingestão dos ovos, as fêmeas são encontradas na região perianal, não havendo reinfecção. As fêmeas vivem 1 a 3 meses, e os machos, cerca de 7 semanas. Transmissão Heteroinfecção: quando os ovos presentes na poeira ou alimento atingem um novo hospedeiro; APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina Indireta: quando os ovos presentes na poeira ou alimentos atingem o mesmo hospedeiro que os eliminou; Auto-infecção externa ou direta: a criança ou o adulto levam os ovos da região perianal a boca. Auto-infecção interna: quando as larvas eclodem ainda dentro do reto e migram para o ceco, se transformando em vermes adultos; Retroinfecção: as larvas eclodem na região perianal, na parte externa, penetram pelo ânus e migram pelo intestino grosso chegando ao ceco, onde se transformam em larvas adultas. Fisiopatologia e manifestações clínicas A ação patogênica no intestino é mecânica e irritativo. Quando os vermes são produzidos, geram erosões na mucosa, nos pontos que se fixam. A alteração mais intensa é o prurido anal, em que a mucosa local fica congesta, recoberta de muco e contendo ovo, e as vezes a fêmea inteira. Esse prurido exacerba-se à noite, devido a ativação dos enteróbios pelo calor do corpo acamado, às vezes, tornando-se mesmo intolerável, o que leva o paciente a coçar-se constante e intensamente, resultando uma lesão local e facilitando a contaminação via ânus- boca, além de provocar insônia. As migrações erráticas dos vermes são responsáveis, quando atingem o aparelho genital feminino, por sintomas do tipo excitação sexual, onanismo, corrimento vaginal, salpingite, ooforite e granulomas peritoneais. Podendo levar a masturbação e erotismo. O envolvimento extraintestinal ocorre no trato genital feminino, causada pela migração do verme do ânus para a vagina, o que leva a reações inflamatórias granulomatosas. A carga de vermes é tão alta, que leva a dor abdominal, náuseas e vômitos. Diagnóstico O exame de fezes não funciona para essa verminose intestinal. O melhor método é o da fita adesiva ou método de Graham. Método da fita adesiva: aplica-se sobre a região perianal uma fita adesiva transparente de 8 a 10 cm, e quando os ovos estão presentes, estes aderem à superfície tomada da fita. Depois de removida da pele, a fita será colada sobre uma lâmina de microscopia e examinado no microscópio. Nessa preparação, podem ser vistas uma ou mais fêmeas, e caso dê negativo, deve repetir o exame cinco ou seis vezes, em dias sucessivos, pela manhã assim que o paciente se levantar e antes de tomar banho. Tratamento Ivermectina (Revectina): atua nos canais de cloreto bloqueados por ligantes, especificamente os bloqueados por glutamato, gerando o bloqueio da neurotransmissão em neurônios e miócitos, resultando em paralisia e morte do parasita. A dose utilizada é de 200 μg/kg em dose única. Pode ser associado a albendazol. Pamoato de Pirantel: administrado na dose de 10 mg/kg em dose única, via oral, de preferência em jejum. Proibido para gestantes. Eficácia em torno de 80 a 100%, praticamente sem efeitos colaterais. Mebendazol: em relação ao pamoato de pirantel, o mebendazol apresenta a desvantagem de ser administrado durante três dias consecutivos. É, entretanto, muito útil nos poliparasitados, apresentando índices de cura de 90 a 100%. Albendazol: possui excelente tolerabilidade e eficácia de 100% no tratamento da enterobíase de crianças de ambos os sexos, utilizando dose única de 10 mg/kg, via oral. Todos os membros da família ou do grupo comunitário deverão ser tratados simultaneamente, com o intuito de evitar reinfecções repetidas. APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina Várias séries de tratamento poderão ser necessárias para a erradicação da helmintíase. Cuidados de higiene pessoal deverão ser recomendados, como unhas cortadas rentes, banhos frequentes, roupas íntimas e camas limpas e trocadas diariamente durante o tratamento. Teníase Os cestódeos mais frequentes encontrados parasitando os humanos pertencem a família Taenia solium e Taenia saginata. Essas espécies conhecidas como solitárias, são responsáveis pelo complexo teníasecisticercose, que pode ser definido como um conjunto de alterações patológicas causadas pelas formas adultas e larvares nos hospedeiros. A teníase é uma alteração provocada pela presença da forma adulta da Taenia solium ou da Taenia saginata no intestino delgado do hospedeiro definitivo, os humanos. A cisticercose é a alteração provocada pela larva nos tecidos dos hospedeiros intermediários, suínos e bovinos. Epidemiologia As tênias são encontradas em todas as partes do mundo em que tem o hábito de comer carne de porco ou de boi, crua ou malcozida. Assim, a tênia saginata é rara entre os hindus que não comem carne bovina e a Tênia solium, entre os judeus, que não comem carne de suínos. O cão é um importante hospedeiro no sudoeste da Ásia, onde a sua carne é utilizada na alimentação humana. No Brasil, há falta de dados recentes sobre a incidência nos animais. Possui larga distribuição, devido as precárias condições de higiene em grande parte da população. A contaminação ocorre pelo contato por ovos de Taenia solium, que é ingerido pelas seguintes maneiras: Contaminação de fontes de água para beber ou utilizadas para regar hortaliças; Disseminação de ovos de Taenia solium por moscas e baratas; Acidentes de laboratório; Transmissão através de práticas sexuais orais. Morfologia A Taenia saginata e Taenia solium apresentam o corpo achatado, de cor branca leitosa. É dividido em escólex (pequena dilatação), colo (porção mais delgada do corpo), estróbilo (o restante do corpo, iniciando no colo), os ovos (são esféricos) e o cisticerco. O cisticerco possui alguns estágios: estágio vesicular, coloidal, granular e Cysticercus racemosus. Ciclo biológico Os humanos parasitados pela tênia eliminam as proglotes grávidas cheias de ovos para o exterior. Geralmente, as proglotes se rompem no meio externo, devido a contração muscular ou decomposição de suas estruturas, liberando milhares de ovos no solo. APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina Um hospedeiro intermediário,como o suíno ou bovino, ingere os ovos, e os embrióforos (casca do ovo) sofrem a ação da pepsina no estômago. No intestino, as oncosferas sofrem a ação dos sais biliares, sendo importantes na sua ativação e liberação. Quando ativadas, as oncosferas se liberam do embrióforo, se movimentando no sentido da vilosidade e penetrando-as. Em seguida, penetram nas vênulas e atingem as veias e os linfáticos mesentéricos. Pela corrente circulatória, atingem todos os órgãos e tecidos, até atingirem o local de implantação por bloqueio capilar. Após isso, atravessam a parede do vaso, se instalando nos tecidos circunvizinhos. Para que as oncosferas se desenvolvam em cisticerco, é necessário que esteja em tecido mole, dando preferência a músculo de maior movimentação e orientação, como língua, coração, cérebro e masseter. Dentro dos tecidos, perdem os acúleos e cada oncosfera se transforma em um pequeno cisticerco delgado e translúcido, que começa a crescer. Continuam nos músculos por alguns meses e o cisticerco da Taenia solium, no SNC, por alguns anos. A ingestão humana ocorre pela ingestão de carne crua ou malcozida de porco ou boi infectado. O cisticerco ingerido, sofre a ação do suco gástrico, evaginação e se fixando na mucosa do intestino delgado, pelo escólex, se transformando em tênia delta, podendo atingir até 8 metros em alguns meses. Três meses após a ingestão do cisticerco, inicia a eliminação das proglotes grávidas. A proglote da T. solium possui menor atividade locomotora, sendo observadas a sua eliminação pelo ânus e raramente pela boca. Transmissão Teníase: o humano é o hospedeiro definitivo, se infectando ao ingerir a carne suína ou bovina, crua ou malcozida, infectada pelo cisticerco. Mecanismos possíveis de infecção humana: Auto-infecção externa: ocorre quando os portadores de T. solium quando eliminam proglotes e ovos de sua própria tênia, levando-os a boca pelas mãos contaminadas. Auto-infecção interna: pode ocorrer durante vômitos ou movimentos retroperistálticos do intestino, permitindo ovos de T. solium no estômago. Heteroinfecção: ocorre quando os humanos ingerem alimentos ou água contaminada com os ovos da T. solium através de dejetos de outros pacientes Fisiopatologia e manifestações clínicas Teníase: Devido a longos períodos em que a tênia parasita o homem, pode gerar fenômenos alérgicos, através de substância excretada, provocando hemorragias, por conta da sua fixação na mucosa, destruindo o epitélio, produzindo hipersecreção de muco, devido a inflamação ocasionada. O acelerado crescimento acaba sendo necessário um suplemento nutricional, gerando tonturas, APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina astenia, dores em diversas regiões no abdômen e perda de peso, em alguns casos. Cisticercose: é responsável por alterações nos tecidos. O cisticerco se aloja em diversas áreas do organismo, como tecidos musculares e subcutâneos. Cisticercose muscular ou subcutânea em geral é sintomática. Porém, com a morte do parasito pode haver calcificações. Se grande quantidade de cisticerco se instalar no músculo esquelético, provocando do, fadiga e câimbras. Cisticercose cardíaca pode gerar palpitações e ruídos anormais, além da dispneia quando os cisticercos se instalam nas válvulas. Cisticercose ocular se instala na retina, gerando reações inflamatórias, uveíte, opacificação. Cisticercose no SNC: pode alcançar o parênquima cerebral, gerando processos irritativos, vasculares e obstrutivos. Pode gerar hidrocefalia, hipertensão intracraniana e calcificações. As manifestações mais frequentes são: crises epilépticas, síndrome de hipertensão intracraniana, cefaléias, meningite cisticercótica, distúrbios psíquicos e síndrome medular, mais raramente. Diagnóstico Parasitológico: é feito a pesquisa de proglotes e os ovos da tênia nas fezes, mais raro. É feito pelos métodos tinteiros ou pelo método da fita tomada. Clínico: relatos como procedência do paciente, criação inadequada, hábitos de higiene, serviço de saneamento, qualidade da água utilizada para beber, entre outros aspectos. Imunológico: durante algum tempo, eram utilizados a hemaglutinação indireta, imunofluorescência e reação de Weinberg, apresentavam limitações devido a baixa sensibilidade. Após, o teste ELISA passou a ser recomendado após melhora na qualidade e no preparo de antígenos, com o objetivo de avaliar as imunoglobulinas IgG, IgM, IgE e IgA. Neuroimagens: é utilizado o rio X, tomografia computadorizada e ressonância magnética. A TC é considerada o método de escolha com suspeita de neurocisticercose. Tratamento Niclosamida: atua no sistema nervoso da tênia, imobilizando-a, facilitando a sua eliminação pelas fezes. Praziquantel: aumenta a permeabilidade da membrana dos helmintos, causando perda de cálcio intracelular, contrações e paralisia da musculatura dos parasitas, que se desprendem da parede dos vasos; vacuolização e desintegração do tegumento dos esquistossomos, causando sua morte. Esquistossomose A Esquistossomose é uma doença causada por infecção por vermes sanguíneos parasitas. Possuem sete espécies que podem causar infecção aos humanos, mas as três principais são Schistosoma mansoni (África e América do Sul), Schistosoma haematobium (África e Oriente Médio) e Schistosoma japonicum (Ásia Oriental). É uma doença produzida pelo Schistosoma mansoni e transmitida por contato com água contaminada por larvas (cercárias) que se reproduzem dentro dos caramujos do gênero Biomphalaria. Caracteriza-se por uma fase inicial, geralmente despercebida, e outra crônica, na qual podem aparecer as formas graves, evidenciadas principalmente pela hipertensão porta e suas complicações e pelo comprometimento do sistema nervoso. O macho mede cerca de 1 cm, possuindo cor esbranquiçada; a fêmea possui 1,5 cm e tem cor mais escura; o ovo mede 150 micrômetros, com o formato oval; o miracídio apresenta uma forma cilíndrica, possuindo 180 micrômetros de comprimento e a cercária possui 500 micrômetros de comprimento. Eles se fixam na parede dos vasos por meio de ventosas. APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina Epidemiologia A prevalência maior é na África Subsaariana e em todo mundo, estima-se que mais de 200 milhões de pessoas estejam infectadas. A infecção tende a ocorrer em áreas rurais. As áreas urbanas não possuem as condições de água doce necessária para que o hospedeiro intermediário do caramujo prospere. As crianças adquirem a infecção tomando banho em lagoas de água doce, lagos e rios contaminados com as larvas. Ciclo biológico Quando o Schistosoma mansoni atinge a fase adulta, alcança as veias mesentéricas, migrando para a corrente circulatória. Essa migração demora dois dias, desde que o ovo é colocado, até que atinja a luz intestinal, demorando cerca de seis dias até que tenha a maturação desse ovo. Se passarem 20 dias e os ovos não conseguirem atingir a luz intestinal, ocorrerá a morte dos miracídios. Os ovos que não alcançam a luz intestinal, podem ficar presos na mucosa intestinal ou serem arrastados para o fígado. Se conseguirem chegar a luz intestinal, vão para o meio externo juntamente com o bolo fecal, alcançando a água. Na água, os ovos liberam o miracídio, devido a fatores externos que auxiliam nesse processo, como alta temperatura, luz intensa e oxigenação da água. O miracídio se agita intensamente, realizando movimentos contráteis e rotatórios para que tenha o contato com o molusco. O conjunto dos movimentos do miracídio e a ação enzimática, permite que o miracídio se introduza nos tecidos do molusco. Esse processo depenetração, dura cerca de 10 a 15 minutos. Após a perda das glândulas no momento da adesão e na penetração do molusco, a larva continua perdendo outras estruturas nesse processo de penetração. A próxima estrutura a ser perdida é o epitélio ciliado e a degeneração do terebratorium, logo após o desaparecimento da musculatura subepitelial, e por último, do sistema nervoso. Assim, o miracídio passa a ser um saco com parede cuticulares, contendo células germinativas, que recebe o nome de esporocisto. Logo no início, o esporocisto possui movimentos amebóides. As células germinativas se multiplicam, fazendo com o que após 72 horas, a larva chamada esporocisto primário, dobre de tamanho. Na segunda semana da infecção, dentro do esporocisto possui ramificações tubulares, que preenche todo o espaço do tecido conjuntivo. No interior das ramificações, as células germinativas também estão se multiplicando. Em temperaturas entre 25 e 28°C, ocorre a formação do esporocisto secundário, que ocorre após 14 dias após a penetração do miracídio. A migração do esporocisto secundário se inicia em torno do 18° dia de infecção do molusco após a saída da estrutura do esporocisto primário por hipotético poro de nascimento. A localização final dos esporocistos será nos espaços intertubulares da glândula digestiva, onde inicia diversas mudanças anatomias. Os esporocistos secundários, após terem atingido o seu destino final, apresentam três áreas bem definidas: poro de nascimento, cercárias desenvolvidas ou em desenvolvimento e células embrionárias. Essa última geração de célula embrionária origina novos esporocistos, que seriam chamados esporocistos III. Um único miracídio pode gerar 100 a 300 mil cercárias. A sua penetração e migração coincidem com o esvaziamento das APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina glândulas pré-acetabulares, ricas em enzimas proteoliticas, que quando ingeridas com água, as que chegam ao estômago são destruídas pelo suco gástrico e as que penetram na mucosa bucal, se desenvolvem normalmente. Após a penetração, as larvas chamadas de esquistossômulos, migram para o tecido subcutâneo e penetram no vaso e são levados até o pulmão, pela via do coração direito. Dos pulmões, o esquistossômulos encaminham para o sistema porta, pode usar duas vias: uma sanguínea e a outra tissular. A migração pela via sanguínea será pelas arteríolas pulmonares e dos capilares alveolares, chegando as veias pulmonares, e coração esquerdo. Acompanhando o fluxo sanguíneo, seria disseminado pela aorta para diversos pontos, chegando ao sistema porta intrahepático. Pela via tissular, os esquistossômulos passa pelos alvéolos pulmonares, perfurando o parênquima, atravessando a pleura, o diafragma, chegando na cavidade peritonial, perfurando a cápsula e o parênquima hepático, alcançando o sistema porta intra-hepático. Ao chegar no sistema porta intra-hepático, os esquistossômulos se alimentam e se desenvolvem, transformando-se em machos e fêmeas. Os ovos serão depositados nos tecidos, formando o miracídio, sendo liberados pelas fezes do hospedeiro, cerca de 42 dias após a infecção. Imunopatologia A esquistossomose mansoni é uma doença que decorre da resposta inflamatória granulomatosa. Os antígenos secretados, atravessam os portos dos ovos chamados antígenos solúveis dos ovos, introduzem tanto a reposta imunológica humoral, quanto a celular e são elementos fundamentais para a formação do granuloma. Na fase aguda, a reação granulomatosa atinge o volume considerável, de até 100 vezes do ovo. Na fase crônica, esse granuloma atinge dimensões menores, constituindo vantagens ao hospedeiro, já que em animais e pessoas imunodeprimidas, os antígenos do ovo lesam área maior que a constituída pelo granuloma, além de haver o acúmulo de ovos na parede do intestino nos imunodeficientes. Fisiopatologia O curso natural da infecção depende da idade de exposição primária, da intensidade da exposição, do desenvolvimento da imunidade contra a infecção repetida e da suscetibilidade genética. A doença clinica é causada pela resposta imune do hospedeiro aos ovos migratórios. Os vermes, quando adultos, absorvem as proteínas do hospedeiro e se revestem com antígenos do hospedeiro, permitindo a residência prolongada na corrente sanguínea. A migração dos ovos através dos tecidos pode gerar inflamação e fibrose. Os ovos podem embolizar para o fígado, pulmões, baço, cérebro ou medula espinhal. Esses ovos presos secretam proteínas e carboidratos que estimulam a resposta imune Th-2 no hospedeiro, levando a uma reação granulomatosa eosinofílica. APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina No intestino, a inflamação pode gerar ulceração, perda de sangue e cicatrizes; No fígado, pode ocorrer a hipertensão portal; Na bexiga, os ovos provocam inflamação granulomatosa, ulcerações e desenvolvimento de pseudopólipos nas paredes vesical e uretral, o que pode gerar malignidade. As migrações para o cérebro e medula espinhal raramente ocorrem, mas causam morbidade grave. Manifestações clínicas Infecção aguda Coceira do nadador: também chamada de dermatite cercariana, quando ocorre a penetração da pele pelas cercárias. Alguns indivíduos desenvolvem erupção cutânea com coceira, logo após nadar em água doce. É uma dermatite localizada, que pode resultar em uma erupção cutânea papular ou urticária pruriginosa, geralmente ocorrendo nos pés ou na parte inferior das pernas. Síndrome da esquistossomose aguda: também conhecida como síndrome de Katayama, é uma reação de hipersensibilidade sistêmica a antígenos esquistossômicos e imunocompetente circulantes, que ocorrem de três a oito semanas após a infecção. O início das manifestações se dá em 3 a 10 semanas após a infecção, e coincide com o início da produção dos ovos. As manifestações incluem: tosse seca, diarreia, febre, urticária, calafrios, dor abdominal e dor de cabeça. Infecção crônica Esquistossomose intestinal: dor abdominal crônica, falta de apetite e diarreia. Pode gerar pólipos intestinais e displasia. Esquistossomose hepatoesplênica: em crianças e adolescentes pode haver o aumento do fígado e esplenomegalia. Já nos adultos, oclusão da veia porta, hipertensão portal com esplenomegalia e varizes gastrointestinais. Diagnóstico Exame de fezes: pode ser feito por sedimentação ou centrifugação em éter, ou por Kato-Katz. Biopsia ou raspagem da mucosa retal: maior sensibilidade e verificação mais rápida do efeito da quimioterapia. Ultrassonografia: é utilizado principalmente na fase crônica, técnica que realiza o diagnostico de alterações hepáticas. Reação intradérmica: teste alérgico. Reação de fixação do complemento: técnica que tem sensibilidade 90%, porém não é mais tão utilizada. ELISA: é um dos métodos mais utilizados atualmente para o diagnóstico das doenças infecciosas parasitárias. PCR: pode ser usado no controle após a quimioterapia e em infecções com baixas cargas parasitárias. Tratamento Oxamniquina: possui efeito anticolinérgico, aumentando a motilidade do parasito e a inibição de síntese de ácidos nucleico. Praziquantel: lesa o tegumento do parasito, expondo a antígenos alvo da resposta imune. Ascaris L. – Ascaridíase A ascaridíase decorre da infecção do tubo digestivo com o nematoide Ascaris lumbricoides, vulgarmente conhecido como lombriga. Além de manifestações decorrentes da migração de formas larvárias, a capacidade de deslocamento do verme adulto no interior do tubo digestivo, aliada às suas dimensões avantajadas, pode ocasionar quadros obstrutivos variados, revestidos de gravidade. Estima-seque a ascaridíase seja uma das helmintíases mais comuns, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde as condições sanitárias precárias facilitam sua propagação. APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina As formas adultas são robustas, cilíndricas e apresentam as extremidades mais afiliadas. Os machos medem cerca de 20 a 30 cm de comprimento e a boca está na extremidade anterior. A fêmea mede de 30 a 40 cm quando estão adultas, sendo mais robustas do que os machos. Os ovos são brancos e adquirem a cor castanha devido ao contato com as fezes. São grandes, medindo cerda de 50 micrômetros de diâmetro, sendo ovais e possuindo capsula espessa. Epidemiologia A distribuição dessa helmintíase é mundial, há, aproximadamente, 1,2 bilhões de pessoas infectadas, ocorrendo em regiões com clima tropical, subtropical ou até mesmo temperado. A maioria dos indivíduos infectados vivem na Ásia, África e América do Sul. Por tratar-se de uma geo-helmintíase, água potável ou alimentos com contaminação no solo são fatores da maior relevância para a disseminação dessa parasitose. Nos países e regiões mais desenvolvidos, são vistos casos nas zonas rurais. Em regiões mais secas, a transmissão ocorre em períodos chuvosos. A infecção predomina em crianças e adolescentes, decrescendo progressivamente à medida que a faixa etária avança. A infecção humana tem sido associada a criação de suíno e uso de fezes como fertilizantes. Existem fatores que interferem na prevalência desta parasitose, como: concentração de indivíduos que vivem em condições precárias de saneamento básico e grande quantidade de ovos produzidos e eliminados pelas fêmeas. Ciclo biológico O ciclo de vida é monoxênico, possuindo apenas um hospedeiro. A primeira larva é a L1, é formada dentro do ovo, do tipo rabditóide. Após 1 semana, essa larva sofre mudança, formando a L2 e em seguida, forma a L3 do tipo infectante, chamada de filarióide. Após a ingestão, os ovos contendo a L3 atravessam todo o trato digestivo e eclodem. Essa eclosão é causada pela presença de agentes redutores, pH, temperatura, etc. As larvas liberadas atravessam a parede intestinal pelo ceco, caindo nos vasos linfáticos, chegando ao fígado. Em 2 a 3 dias chegam ao coração direito, e vão para o pulmão (ciclo de Loss). Cerca de oito dias após a infecção, as larvas mudam para L4, rompendo os capilares e caem nos alvéolos, mudando para L5. Sobem pela árvore brônquica e traqueia, podendo ser expelidas ou deglutidas. (1) vermes adultos vivem na luz do intestino delgado; (2) as fêmeas ovipõem e os ovos são eliminados com as fezes; APG 5 – “ESTUDANTES EM AÇÃO” PATOLOGIAS DO SISTEMA GASTROINTESTINAL Magny Emanuele Lima – Medicina (3) os ovos embrionados tornam-se infectantes na dependência de condições ambientais (umidade, calor, sombra); (4) após a ingestão de ovos embrionados; (5) estes eclodem liberando larvas; (6) que invadem a mucosa intestinal e são carreadas pela circulação portal e, depois, sistêmica aos pulmões; (7) aí elas maturam, penetram os alvéolos, ascendem a árvore brônquica até a faringe sendo, então, deglutidas; (1) após atingirem o intestino delgado, transformam-se em vermes adultos. Fisiopatologia e manifestações clínicas A ação patogênica se desenvolve a partir da migração das larvas e quando os vermes adultos já se encontram em seu habitat definitivo. Infecções por larvas: em infecções de baixa intensidade, geralmente não se encontra alteração. Em infecções maciças encontram-se lesões hepáticas e pulmonares. Quando encontrado no fígado em numerosas formas de larvas migrando para o parênquima, podem encontrar focos hemorrágicas e de necrose. Nos pulmões, podem encontrar pontos hemorrágicos por conta da passagem das larvas, e a depender do número, pode determinar um quadro pneumonico. Fase inicial: geralmente ocorre em indivíduos sem exposição prévia. O envolvimento pulmonar sintomático é raro em indivíduos em áreas endêmicas com exposição contínua. Esse envolvimento pulmonar é conhecido como síndrome de Loffler. As manifestações incluem: tosse, dispneia, febre, sibilância, desconforto subesternal e escarro com sangue. A hepatomegalia pode se desenvolver. Fase tardia (manifestações intestinais): pode gerar desconforto abdominal, anorexia, náuseas, vômitos e diarreia. Complicações também podem ocorrer, como obstrução intestinal, principalmente da válvula ileocecal, envolvimento hepatobiliar e pancreático e desnutrição. Diagnóstico Exame de fezes: geralmente, o diagnóstico é feito pelo encontro de ovos nas fezes. É um exame direto da matéria fecal, diluída e colocada entre lamina e lamínula, para permitir o encontro dos ovos. Utiliza-se o método Stoll ou Katz. O método Katz é bastante eficiente, sendo recomendado pela OMS. Essa técnica permite a quantificação dos ovos e estima o grau de parasitismo. Tratamento A Organização Mundial da Saúde recomenda quatro drogas: albendazol, mebendazol, levamisol e pamoato de pirantel. Albendazol: atua de duas maneiras, sendo através da ligação seletiva nas tubulina inibindo a tubulina-polimerase, prevenindo a formação de microtúbulo e impedindo a divisão celular, e ainda impede a captação de glicose, inibindo a formação de ATP que é usado como fonte de energia pelo verme. Mebendazol: mesmo mecanismo da Albendazol. Levamisol: inibe os receptores de acetilcolina, causando contração espástica e paralisia muscular, consequentemente a eliminação dos vermes. É absorvida pelo trato gastrointestinal e metabolizada no fígado e eliminada pela urina. Pamoato de Pirantel: possui mecanismo de ação semelhante ao Levamisol, porém é pouco absorvida no trato gastrointestinal, e uma pequena fração é metabolizada no fígado e eliminada pela urina.