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MODELAGEM MATEMÁTICA APLICADA ÀS FINANÇAS AULA 1 Prof. Me. Ernani João Silva 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja bem-vindo à disciplina de Modelagem Matemática Aplicada às Finanças. Acredito que você está curioso sobre o que vem a ser essa tal “modelagem matemática” e, logicamente, como ela é “aplicada às finanças”. Vamos responder a essa questão por partes. Modelagem significa fazer um modelo para alcançar uma melhor percepção sobre algo que necessita ser analisado. Por exemplo, antes de um alfaiate cortar tecidos caros para fazer um terno, ele sensatamente faz uso de uma modelagem dessa vestimenta em materiais mais simples (em geral, no papel). Da mesma forma, uma artista, antes de esculpir uma obra de arte de grandes proporções em um mármore, também faz um modelo em escala menor desse projeto. Entendeu? Uma modelagem nada mais é que um artifício utilizado para entendermos o que pode ocorrer em um determinado evento a ser realizado. Seguindo essa linha de raciocínio, podemos dizer que uma modelagem matemática é o que os estudiosos fazem quando querem analisar como certo evento se comportará frente às possibilidades numéricas conhecidas. Isso pode ser feito em diferentes ciências, como economia, física, biologia, sociologia etc. Em nosso caso, aplicamos a modelagem matemática em um cenário de finanças, ou seja, analisamos questões da vida financeira por meio de modelos matemáticos para buscar entendimento sobre o possível comportamento do capital ao longo do tempo. Nossa disciplina vai conduzi-lo nesse novo saber por meio de seis aulas (também chamadas de rotas), em que cada uma foi didaticamente dividida em cinco temas de aplicações de modelos matemáticos. Nesta primeira aula, nossa estrutura em temas apresenta uma visão geral sobre o que são juros (tema 1) e como eles impactam no capital (temas 2 e 3). Em seguida, vemos as formas de capitalização (tema 4) e, por fim, como os frutos desses rendimentos podem apresentar, em um mesmo período de tempo, igualdade de resultados (tema 5). Ufa! Quanto conteúdo que será visto. Talvez você esteja se perguntando “Por que tudo isso?”. Bem, nosso objetivo é que ao término desta aula você seja capaz de entender como os modelos da matemática financeira podem ser aplicados em nosso dia a dia. Além disso, queremos que você compreenda quais cuidados devem ser tomados quando taxas de juros são utilizadas em cálculos 3 e como estas devem ser interpretadas quando são citadas em projetos ou em investimentos financeiros. Dito isso, só me resta dizer... boa leitura! CONTEXTUALIZANDO A expressão finança é algo comum nas conversas das pessoas. Todavia, se você perguntar o que ela significa ou como surgiu, dificilmente encontrará alguém capaz de lhe responder. A palavra finança tem sua origem no termo francês finance e este, por sua vez, vem do termo finaare, que deriva do latim finis. O que significa? Bem, finis era usado para expressar “fim” e finace era uma expressão comum para indicar o “fim de uma dívida”. Assim, durante esta aula, desenvolvemos nosso raciocínio com base nesse cenário linguístico. Uma operação financeira envolve duas partes: uma que cede um capital (recurso financeiro) e outra que recebe esse capital. Dado esse fato, precisamos analisar como deve ser o fim dessa dívida (o valor a ser pago) ao longo do tempo. Talvez você esteja pensando: quando vou aplicar isso? A resposta é: em muitos momentos de sua vida! Entre outras aplicações, temos aqueles exemplos em que alguém empresta dinheiro para outra pessoa; alguém empresta dinheiro para um banco (o mercado chama isso de aplicação); alguém empresta dinheiro para uma empresa (o mercado chama isso de venda a prazo, de empréstimo comercial, participação acionária etc.). Este, meu caro leitor, é o contexto que abordamos nesta aula. Juntos, nós tentamos entender como oportunidades, riscos, capital, tempo e juros podem ser modelados pelo uso da matemática para serem aplicados. TEMA 1 – JUROS: CONCEITO ECONÔMICO BÁSICO Como vimos anteriormente, uma dívida ocorre quando alguém empresta algo que tem sobrando a outra pessoa que o necessita. Acontece que o ser humano, pelo menos segundo as teorias econômica clássica e neoclássica, é um indivíduo racional, egoísta e maximizador do próprio bem-estar. Tudo bem, eu sei que essas não as palavras mais lindas para nos definir, porém entenda que é assim que a história registrou nossos feitos aos olhos de muitos economistas. Dado os atributos apresentados, o ser humano, para aceitar emprestar algo para alguém, precisar ter uma vantagem mínima para si, isto é, 4 precisa ter um ganho que atenda a seu egoísmo de tal maneira que sua razão diga que seu bem-estar aumentou de alguma forma. Para que possamos dizer que algo é melhor ou pior, é necessário compará-lo com alguma coisa, ou seja, precisamos de uma régua. Nesse sentido, a razão econômica passou a considerar nos empréstimos duas variáveis nesse processo de comparação: custo de oportunidade e prêmio de risco. O custo de oportunidade considera o sacrifício que um empréstimo gera para quem empresta. Já o prêmio de risco é um valor adicional que é pago para quem cedeu o empréstimo, dado o risco de o dinheiro não ser devolvido segundo o acordo feito. Ou seja, esse último é um valor adicional pago para convencer alguém a sair de uma posição de risco menor para ir a uma posição de risco maior. A soma do custo de oportunidade com o prêmio de risco é o que chamamos de custo do capital ou juros. A palavra juro, como visto anteriormente, representa, portanto, um valor de direito que alguém tem por ter cedido sua propriedade a outrem. Podemos dizer que o juro nada mais é que o aluguel do dinheiro. Essa ideia vai de encontro com a própria origem da palavra, pois segundo alguns estudiosos, como demonstra Rodrigues (2014), juros deriva do “latim jus, juris (direito de propriedade, justiça, documento que estabelece um direito)”. Todavia, convém ressaltar que nem todas as nações usam o termo juro – os americanos usam interest; os espanhóis, interés; os franceses, intérêt, e assim por diante. Resumindo, muitos usam no lugar de juro a expressão interesse, ou seja, o valor que interessa para aquele que cede o dinheiro. Ficou um pouco confuso? Então veja este exemplo: Imagine que o Sr. João Honesto tem um amigo que está precisando de R$ 200 mil emprestados, por certo período de tempo, para comprar um carro esportivo. O Sr. João tem esse valor disponível, porém o dinheiro está aplicado em um banco. Além disso, por coincidência, para o mesmo período de tempo que o amigo deseja ficar com o dinheiro, o contrato do banco diz que o capital do Sr. João vai ser remunerado em R$ 10 mil. Ou seja, os R$ 200 mil de nosso fictício personagem, se ficarem no banco, vão aumentar para R$ 210 mil. Agora, se Sr. João sacar o dinheiro para emprestá-lo ao amigo, obviamente perderá a oportunidade de ganhar esse juro bancário. Assim, o valor de R$ 10 mil representa seu custo de oportunidade. 5 Quanto ao risco, sabemos que no banco o risco do Sr. João Honesto é praticamente zero, pois lá ele tem liquidez diária (pode sacar seu dinheiro a qualquer momento) e, além disso, como o banco é sólido (tradicional e bem capitalizado), o risco de o banco não devolver o dinheiro é inexpressivo. O mesmo não ocorre com o amigo do Sr. Honesto, pois ele pode perder o emprego, fugir etc. Seja qual for o caso, acabou o dinheiro e a amizade. Por isso, para que o Sr. João Honesto seja convencido a tirar seu dinheiro do banco, ele precisa teralguma vantagem nesse empréstimo para o amigo. Quanto de vantagem? Pelo menos um valor que supere os ganhos do banco, dado o risco que ele precisará assumir. Em outras palavras, ele precisa receber um valor adicional que cubra, segundo sua análise, o risco que está assumindo pelo tempo que ficará longe de seu dinheiro. Ele precisa receber um valor denominado pelo mercado como prêmio de risco. Convém ressaltar que o valor de um prêmio de risco é algo muito pessoal, por isso alguns estipulam quantias maiores e outros valores menores que aquelas que, muitas vezes, acreditaríamos ser certo e(ou) justo. Para resumirmos a história, vamos supor que o Sr. João considere justo receber um prêmio de risco de R$ 5 mil pelo empréstimo dos R$ 200 mil. Assim, temos que o juro a ser cobrado pelo nosso personagem para ceder o empréstimo é de R$ 15 mil (R$ 10 mil de custo de oportunidade mais R$ 5 mil de prêmio de risco). Com base nesse conceito, podemos elaborar nosso primeiro modelo matemático a ser aplicado em finanças: K = J = COp + PR (1) Em que: K = custo do capital (em unidades monetárias); J = juros (em unidades monetárias); COp = custo de oportunidade (em unidades monetárias); PR = prêmio de risco (em unidades monetárias). Mas atenção! Esse modelo 1, o qual aborda os valores monetários para explicar o comportamento do juro, é apenas a ponta do iceberg; mais tarde, veremos uma vertente mais famosa dessa lógica (modelo 4). Acredite, você vai gostar! Mas até lá temos um caminho a percorrer, o qual começa com o conceito de montante. 6 TEMA 2 – MONTANTE, PRINCIPAL E JUROS: CONCEITOS FINANCEIROS Como vimos anteriormente, uma dívida tem, no mínimo, dois atores envolvidos: alguém que cede um empréstimo e alguém que recebe o empréstimo. Aquele que cede o empréstimo deseja receber, além do valor emprestado, um valor adicional chamado de juro. Quando os juros são somados ao valor principal (isto é, ao valor original), o que obtemos é o valor total que quita uma dívida, isto é, o valor montante da dívida (modelo 2)1: M = P + J (2) Em que: M = montante = valor original acrescido de juro; P = principal = valor original do dinheiro emprestado; J = juro = custo do capital. Portanto, logicamente, é possível deduzir que se forem conhecidos dois dos três elementos desse modelo de análise, o terceiro pode ser facilmente encontrado. Vamos retornar ao caso do Sr. João Honesto, porém transformando- o em quatro questões para ilustrar a aplicação do modelo: a. Qual é o valor pago para quitar uma dívida cujo valor emprestado foi de R$ 200 mil e o juro cobrado foi de R$ 15 mil? Resolução M = P + J M = R$ 200 mil + R$ 15 milM = R$ 215 mil b. Qual foi o valor emprestado sabendo que uma dívida foi quitada com um pagamento de R$ 215 mil e o juro cobrado foi de R$ 15 mil? Resolução M = P + J R$ 215 mil = P + R$15 mil P = R$ 215 mil – R$ 5 mil P = R$ 200 mil c. Qual foi o valor do juro cobrado sabendo que uma dívida de R$ 200 mil foi quitada por R$ 215 mil? 1 O valor principal P pode aparecer em alguns livros como C, pois eles tratam o valor original como capital. Nesses casos, a fórmula será: M = C + J. Todavia, o conceito teórico é o mesmo. 7 Resolução M = P + JR$ 215 mil = R$ 200 mil + J J = R$ 215 mil – R$ 200 mil J = R$ 15 mil Já sei o que você está pensando: “Credo, que coisa mais fácil! É só isso?”. Bem, já que é assim... Vamos complicar um pouco mais as coisas. Até aqui, tratamos todos os valores que compõem os juros em termos monetários (ou seja, tudo em unidade de dinheiro), porém o mercado não costuma tratá-los dessa forma, ele prefere usar as unidades percentuais nos processos analíticos. O motivo? É mais fácil analisar os custos do capital em diferentes possibilidades financeiras. Venha comigo, vou explicar como isso é feito. Uma percentagem é uma representação simplificada de uma razão matemática em que o consequente (ou denominador) apresenta valor igual a 100, e o antecedente (ou numerador) apresenta... Hum! Ficou um pouco confuso, acho melhor exemplificarmos esse conceito com uma regra de três simples e o caso do Sr. João Honesto. Você lembra que o Sr. João Honesto, para emprestar seu dinheiro, desejava receber R$ 215 mil, que eram os R$ 200 mil que emprestará mais R$ 15 mil referentes ao juro? Esses R$ 15 mil podem ser transformados em um valor percentual, como demonstram os sete passos que seguem: a. Forma de regra de três simples: R$ % 200 mil (valor original) . 100 mil (valor do juro) . X b. Dados da regra de três na forma de razão: 200 𝑚𝑖𝑙 15 𝑚𝑖𝑙 = 100 𝑥 c. Aplicando a 1ª propriedade das proporções (multiplicação cruzada): 200 𝑚𝑖𝑙 . 𝑥 = 100 . 15 𝑚𝑖𝑙 x = 100 . 15 𝑚𝑖𝑙 200 𝑚𝑖𝑙 8 d. Como sempre, teremos o 100 da % nesse tipo de conta, vamos destacá- lo: 𝑥 = 100 . 15 𝑚𝑖𝑙 200 𝑚𝑖𝑙 e. Resolvendo a razão, isto é, dividindo em cima e em baixo por 200 mil: 𝑥 = 100 . 0,075 1 f. Efetuando a multiplicação da fração em cima e em baixo por 100: 𝑥 = 7,5 100 = 7,5 por 100 = 7,5% (esse valor é chamado de taxa de juro) g. Como em finanças o símbolo da taxa de juro é a letra i (por causa de interest), substituímos x por i para indicar a taxa de juro desse empréstimo: i = 7,5%. Assim, podemos extrair nosso próximo modelo: i = (J / P) . 100 (3) Em que: I = taxa de juro para o período de tempo t; J = juro = custo do capital para o período t; P = principal = valor original. Resumindo a ópera, temos que R$ 15 mil de juros em R$ 200 mil emprestados é o mesmo que uma taxa de juro de 7,5%, ou seja, o mesmo que R$ 7,5 de juros a cada R$ 100,00. Lembra-se do modelo 1? Pois bem, agora ele, por causa do uso das taxas, fica assim: k = i = COp + PR (4) Em que: k = custo do capital (valor em %, k minúsculo); i = taxa de Juros; 9 COp = custo de oportunidade (valor em %); PR = prêmio de risco (valor em %). Dica: considerando o modelo 1 e o modelo 4, o modelo 4 é o mais importante, porque usa taxas em vez de unidades monetárias e tanto o mercado como a academia preferem analisar o custo do capital por meio de percentagens. Por quê? Ora, porque assim é mais fácil comparar as aplicações, pois precisamos olhar apenas as variações percentuais que elas oferecem. Da mesma forma, fica mais fácil para simularmos operações com outros valores de empréstimos com as mesmas condições de oportunidade e risco. Por exemplo, caso o Sr. Honesto quisesse emprestar mais dinheiro para o amigo, veja só como seriam os juros e o montante para uma quantia de R$ 300 mil de dinheiro cedido a uma taxa de 7,5% para o período: a. Forma de regra de três simples: R$ % 300 mil (valor original) . 100 x (valor do juro) . 7,5 (taxa de juro) b. Dados da regra de três na forma de razão: 300 𝑚𝑖𝑙 𝑥 = 100 7,5 c. Aplicando a 1ª propriedade fundamental da proporção: 300 𝑚𝑖𝑙 . 7,5 = 100 . 𝑥 x = 300 𝑚𝑖𝑙 . 7,5 100 d. Como sempre estarão presentes nesse tipo de conta tanto o valor 100 da % e o valorda taxa de juros, vamos destacá-los: 𝑥 = 300 𝑚𝑖𝑙 . 7,5 100 𝑥 = $ 300 𝑚𝑖𝑙 . 0,075 = $ 22.500,00 ; O que, por sua vez, é o mesmo que dizer: 𝑅$ 300 𝑚𝑖𝑙 . 7,5% = $ 22.500 10 Sendo R$ 300 mil = P, R$ 22,5 mil = J e 7,5% = i, podemos extrair com esses dados nosso modelo 5: J = P . i (5) Em que: J = juros cobrados no período; P = principal (valor no início do período); I = taxa de juro para o período. Como o juro é de R$ 22.500,00, podemos encontrar facilmente o montante: M = P + J => M = R$ 300 mil + R$ 22.500 => M = R$ 322.500,00 Convenhamos, é bem legal! Mas pode ficar melhor, pois podemos modelar tudo isso. Pense comigo: O montante de R$ 322,5 mil é a soma do principal (R$ 300 mil) com os juros (R$ 22,5 mil). Assim: M = P + J. O juro de R$ 22,5 mil é o produto dos R$ 300 mil (principal) com 7,5% da taxa de juro (veja o item d, modelo 5). Portanto: J = P . i. Trocando o J na fórmula M = P + J por P . i, temos M = P + P . i. Se colocarmos P em evidência, o que teremos? Ora, simplesmente a fórmula base da matemática financeira para um período, a qual, por sua vez, representa nosso próximo modelo matemático: M = P + J M = P. (1 + i) (6) Em que: M = montante (valor no término do período); J = juros cobrados no período; P = principal (valor no início do período); I = taxa de juro para o período. Vamos testar! a. Montante: 11 M = P. (1 + i) M = R$ 300 mil . (1+ 7,5%) M = R$ 300 mil . 1,075 = R$ 322,5 mil b. Juros: J = P . i J = R$ 300 mil . 7,5% J = R$ 22,5 mil (resposta juros) ou M = P + J R$ 322, 5 mil = R$ 300 + J J = R$ 22,5 mil (resposta juros) Viu? O valor obtido com o modelo ficou igual ao valor feito por regra de três, só que o cálculo foi bem mais fácil com ele. Acredito que você está começando a entender como é legal aplicar a modelagem matemática em finanças. Vamos complicar um pouco mais as coisas? Que bom que você concordou! Então vamos lá, vamos para o tema 3. TEMA 3 – CAPITALIZAÇÃO: AJUSTES DE PERÍODOS E TAXAS No exemplo que fizemos até agora, eu disse que o empréstimo do Sr. João Honesto ocorria em certo período, porém não disse qual era a unidade de medida desse período (se era dias, semanas, meses ou anos). Além disso, afirmei que a taxa de juros era referente a esse período como um todo (veja que os modelos 3, 5 e 6 têm o termo “para o período” em destaque na taxa de juro). Todavia, nem sempre isso acontece, pois a capitalização (o processo de geração do juro) na maioria das vezes é feita em mais de um momento em um mesmo período de tempo. Por fim, o cálculo pode ou não considerar juros intermediários, por isso... Hum! Acho que você ficou confuso de novo. Bem, meu caro leitor, fique tranquilo, pois neste tema eu vou explicar tudo isso de um jeito bem fácil. 3.1 Período de aplicação e período de capitalização Como vimos agora a pouco, quando usamos a expressão capitalização em finanças, estamos nos referindo ao processo de geração de juros (J) por meio do uso de uma taxa de juro (i) em um certo período de aplicação. Essa capitalização no período de aplicação pode ocorrer em diferentes quantidades. Por exemplo: capitalização diária significa que o juro será gerado todos os dias 12 no período de aplicação; capitalização mensal significa que o juro será gerado somente a cada mês no período de aplicação; capitalização anual significa que o juro será gerado apenas a cada ano; e assim por diante. Ou seja, em um período de aplicação, teremos, conforme a condição de capitalização, n períodos de capitalizações, em que pelo menos um dos três cenários que segue ocorrerá: a. Quando o período t (tempo de aplicação) é igual ao da condição de capitalização, então o valor de n será igual a 1. Por exemplo: o Período de tempo 1 ano, capitalização anual => n = 1 capitalização o Período de tempo 1 mês, capitalização mensal => n = 1 capitalização b. Quando o período de tempo t é maior que o da condição da capitalização, o valor de n será maior que 1. Por exemplo: um período de tempo de 1 ano com capitalização mensal terá 12 períodos de capitalização (n = 12), pois: Regra de três simples Tempo (condição e período) n (capitalizações) Condição da capitalização => 1 mês 1 Período da aplicação ajustado => 1 ano = 12 meses. x 1 12 = 1 𝑥 1. x = 12 . 1 x = 12 n = 12 capitalizações Aqui temos algo muito importante na matemática financeira: sempre devemos ajustar a unidade de medida do período de aplicação para ficar igual à unidade da condição da capitalização. Somente depois é que achamos o número n de períodos de capitalização. Nesse caso, a condição de capitalização era mensal, e o período de aplicação era anual, por isso 1 ano virou 12 meses. c. Quando o período de tempo t é menor que o da condição da capitalização, o valor de n será menor que o número 1. Por exemplo: um período de tempo de 1 mês, com capitalização anual, tem 0,0833 períodos de capitalização (n = 0,0833), pois: Regra de três simples Tempo n Condição da capitalização => 1 ano 1 Período da aplicação ajustado=> 1 mês = 1/12 ano. x 1 1/12 = 1 𝑥 1. x = 1 / 12 . 1 x = 1 12 n = 0,0833 capitalizações 13 Como você pode observar nos itens b e c, sempre que o período de aplicação é ajustado para a unidade de tempo da condição de capitalização, o valor que obtemos no ajuste é igual ao valor do próprio n (período de capitalizações). Então, por conseguinte, basta realizarmos o ajuste das unidades para termo o valor de n. Vamos exercitar essa questão de ajuste de unidade de tempo para você ter certeza disso: a. Período de aplicação de 2 anos, capitalização bienal: n = 1 capitalização, pois a aplicação é igual à condição de capitalização. b. Período de aplicação de 2 anos, capitalização mensal: 1 ano = 12 meses n = 12 meses/ano . 2 anos n = 24 capitalizações. c. Período de aplicação de 6 meses, capitalização anual: 6 meses = 0,5 ano n = 0,5 capitalização. d. Período de aplicação de 1/3 trimestre, capitalização semestral: 1 trimestre = 1/2 semestre n =1/2 semestre/ trimestre .1/3 de trimestre 2 n = 1/6 capitalizações = 0,16667 capitalizações. É fácil transformar o período do tempo de aplicação em um número n de quantidades de capitalizações, basta verificar quantas capitalizações ocorrem naquele período. Agora, uma dica muito importante: quando falamos de capitalização em tempo comercial ou ordinário, saiba que os anos sempre terão 360 dias e os meses sempre terão 30 dias. Agora, se falarmos em capitalização em tempo civil ou normal, faça a contagem dos anos com 365 dias para os anos normais e 366 dias para os anos bissextos. Já os meses devem ser contatos segundo os dias que realmente apresentarem (obs.: se não for dito qual é o mês, use 30 dias como regra geral). Agora vamos falar sobre as taxas de juros e as capitalizações. Para começo de conversa, existem várias formas de identificar uma taxa de juro: taxa nominal, taxa proporcional, taxa efetiva, taxa equivalente, taxa aparente e taxa 2 A simbologia significa portanto. 14 real. Todavia, neste tema, abordamos apenas as duas primeiras taxas no próximo tópico. 3.2Taxa de juro nominal e taxa de juro efetiva A taxa de juro nominal é o nome que uma taxa recebe quando não sabemos qual é a capitalização que será feita ou quando a unidade de tempo da taxa não bate com a unidade de tempo da capitalização. Por exemplo, se alguém falar para você que a taxa de juro é de 12% ao ano e não disser qual é a capitalização, então 12% ao ano é uma taxa nominal. Da mesma forma, se lhe for dito que a taxa de juro é de 12% ao ano e a capitalização é mensal, então 12% ao ano também é uma taxa nominal, pois nesse caso a unidade de tempo da taxa é ano e a unidade da capitalização é mês. A taxa efetiva, por sua vez, nada mais é que uma taxa que efetivamente é usada no cálculo de matemática financeira, pois sua unidade de tempo é igual à unidade de tempo da condição de capitalização. Por exemplo, 12% ao ano com capitalização anual é uma taxa efetiva, assim como 2% ao mês com capitalização mensal também é uma taxa efetiva. Quando recebemos uma taxa de juro e ela não apresenta igualdade para com a unidade de tempo da capitalização, dizemos que ela é apenas uma taxa nominal e, assim, precisa ser convertida em uma taxa efetiva de juro para poder ser usada nos cálculos. Por exemplo, 36% ao ano com capitalização mensal é uma taxa nominal, porém, utilizando o conceito de proporcionalidade, podemos transformá-la em 3% ao mês. A mágica é a seguinte: Resolução por regra de três simples Taxas de juro (i) Período (unid. capitalização) Taxa nominal => 36% = 0,36 12 meses Taxa efetiva => x . 1 mês 0,36 𝑥 = 12 1 12. x = 0,36 . 1 x = 0,36. 1 12 x = 0,03 i = 3% Ou seja, para transformar uma taxa nominal em uma taxa efetiva, precisamos ajustá-la, o que, por sua vez, pode ser feito facilmente por meio de uma regra de três ou por meio de um modelo que pode ser derivado desse procedimento lógico: 15 x = 0,24 . 1 mês 12 meses i efetivo = i nominal . condição capitalização período da taxa nominal (7) Vamos fazer alguns exercícios com esse modelo com a ajuda de Castanheira e Macedo (2010, p. 68-69): a. Taxa de 24% ao ano, capitalização mensal: i efetivo = 24% . 1 𝑚ê𝑠 12 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 i efetivo = 0,24 . 0,0833 i efetivo = 2% ao mês b. Taxa de 36% ao ano, capitalização bimestral: i efetivo= 36% . 2 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 12 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 i efetivo= 0,36 . 0,1667 i efetivo= 6% ao bimestre ou i efetivo= 36% . 1 𝑏𝑖𝑚𝑒𝑠𝑡𝑟𝑒 6 𝑏𝑖𝑚𝑒𝑠𝑡𝑟𝑒 i efetivo= 0,36. 0,1667 i efetivo= 6% ao bimestre c. Taxa de 20% ao semestre, capitalização trimestral: i efetivo= 20% . 3 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 6 𝑚𝑒𝑠𝑒𝑠 i efetivo= 0,20 . 0,5 i efetivo= 10% ao trimestre ou i efetivo= 20% . 1 𝑡𝑟𝑖𝑚𝑒𝑠𝑡𝑟𝑒 2 𝑡𝑟𝑖𝑚𝑒𝑠𝑡𝑟𝑒 i efetivo= 0,20. 0,5 i efetivo= 10% ao trimestre Viu? O ajuste da taxa é muito fácil; todavia, este exige atenção. Agora que já sabemos ajustar os períodos e as taxas de juros às condições de capitalização, no próximo tema estudamos quais são as duas principais formas de geração de juro: capitalização simples e capitalização composta. TEMA 4 – CAPITALIZAÇÃO: REGIME SIMPLES E COMPOSTO DE JUROS O processo de capitalização, como já vimos de maneira sintética no tema 1, consiste no ato de gerar um valor de juro em certo período de tempo, com 16 base em uma taxa de juro i. Até aqui, essa lógica estava expressa no seguinte modelo: M = P + J M = P + P . i M= P . (1 + i). Acontece que esse modelo trata o processo de capitalização como sendo n = 1, ou seja, a capitalização somente ocorreu uma vez no período de tempo da aplicação. Todavia, como vimos anteriormente, em um período de aplicação o processo de capitalização pode ocorrer também com valores de n < 1 (uma fração do período de aplicação) ou com valores de n > 1 (mais de uma vez conforme o período de aplicação). Dado esse fato, precisamos evidenciar a variável n em nossos cálculos. Para tanto, devemos considerar que J é, na verdade, um caso de n =1 e, assim, devemos mudar nossa fórmula: M = P + ∑ .𝑛𝑗=1 J j M = P + (J 1 + J 2 +...+J n) Em que: M = montante (valor final); P = principal (valor original); J = somatório dos juros formados no período (de j = 1 até j = n); J1 = juro formado na primeira capitalização (j = 1); J2 = juro formado na segunda capitalização (j = 2); Jn = juro formado na “enésima” capitalização (última capitalização; j = n). O pulo do gato aqui é saber que existem duas formas diferentes de gerar os juros: capitalização simples de juros e capitalização composta de juros. A capitalização simples é uma forma na qual a taxa de juro i somente terá impacto sobre o valor principal (valor original do capital). Já na capitalização composta, a taxa i, por sua vez, impactará em cada etapa da capitalização tanto no principal como também no valor do juro acumulado até então. Vamos entender essa lógica! 4.1 Capitalização simples Se adaptarmos o modelo M = P + J para um cenário de várias capitalizações, com a taxa impactando apenas no valor do P, o que teremos será um valor constante para cada item do J j, pois: M = P + ∑ .𝑛𝑗=1 J j M = P + J1 + J2 +...+Jn 17 Em que: J1 = P . i ; J2 = P . i ; Jn = P . i; Ou seja: J1 = J2 = ...= Jn = J ∑ .𝑛𝑗=1 J j = n . J ou J . n Assim: M = P + ∑ .𝑛𝑗=1 J j M = P + J . n M = P + P . i . n Portanto, todos os juros que serão gerados terão o mesmo valor e, por isso, para acharmos o valor do juro total ( J), basta multiplicar quantas vezes esse valor único de juro aparece: J . n ou P. i . n. Agora, se deixarmos em evidência P na fórmula M = P + P . i . n, temos a modelagem matemática que representa a capitalização simples dos juros: M = P . (1 + i . n) (8) Em que: M = montante (valor no término do período de tempo); P = principal (valor no início do período t); I = taxa de juro ajustada à condição de capitalização; n = período de capitalização. Vamos exercitar! Relembrando o cenário original do Sr. João Honesto, temos que eram R$ 200 mil de empréstimos, com juro de 7,5% para o período como um todo. Agora, vamos alterar um pouco as coisas para entendermos o que é a capitalização simples dos juros. Imagine que esse período do empréstimo é de 1 ano e que Sr. Honesto resolveu que seria justo que os 7,5% de juro do período (isto é, ao ano) fossem considerados por capitalização mensal em regime de cálculo por juros simples. Quanto será cobrado de juro nesse um ano e quanto será o montante a ser pago ao final do empréstimo? (Obs.: para facilitar a demonstração, vamos omitir “mil” na resolução e adicioná-lo somente no final). 18 a. Resolução método extenso (somente para fins didáticos): Antes de efetuarmos os cálculos, precisamos verificar se a taxa de juro é nominal ou efetiva3: Se a taxa é de 7,5% ao ano e a capitalização é mensal, temos aqui apenas taxa nominal de juro. Assim, precisamos transformá-la em taxa efetiva: i = 7,5% / 12 = 0,625% ao mês. Nesta tabela de capitalização simples, fica evidente que o valor do juro é sempre o mesmo, pois a taxa de juro sempre vai impactar apenas no valor do principal no momento zero. Assim, ao término do período de aplicação (ou seja, na data de devolução do empréstimo), o Sr. João Honesto precisa receber seus R$ 200 mil mais R$ 15 mil de juros referentes aos 0,625% ao mês de taxa de juro. b. Resolução por modelagem (o que deve ser feito sempre) Fórmula para encontramos o montante: M = P . (1 + i . n) M=200. (1 + 0,625%.12) M = 200. (1 + 0,625/100. 12) M = 200. (1 + 0,00625 .12) M= 200 . (1 + 0,075) M = 200 . 1,075 M = R$ 215 mil (montante) Fórmula para encontramos o juro: J = P . i . n J = 200 . 0,625% . 12 J = 200 . 0,625/100 . 12 J = 200 . 0,00625 .12 3 É importante deixar claro que nem todos usam o termo taxa efetiva para a taxa utilizada no cálculo de capitalização simples de juros. Em geral, reserva-se o termo taxa efetiva para a capitalização composta de juros, assim, no juro simples, o termo mais usado é taxa proporcional. Entretanto, por uma questão de coerência semântica, usamos aqui na aula o termo taxa efetiva, dado o fato que é ela (essa taxa proporcional) que efetivamente é usada no cálculo. 19 J = 200 . 0,075 J = R$ 15 mil (juro) Usando os dois modelos que deduzimos na explicação teórica, obtemos os mesmos valores da tabela. Agora, você percebeu que o juro simples de 7,5% ao ano e o de 0,625% ao mês terão o mesmo resultado? Isso sempre acontecerá na capitalização simples de juro, mas o motivo eu só vou explicar no tema cinco dessa aula. Então segura a curiosidade até lá. 4.2 Capitalização composta Adaptando agora o modelo básico que vimos para um cenário de várias capitalizações para uma condição em que a taxa de juros incide tanto no valor do P como também nos juros acumulados, o que temos são valores diferentes para cada item do J j: M = P + ∑ .𝑛𝑗=1 J j M = P + J1 + J2 +...+Jn Em que: J1 = P0 . i ; J2 = P1 . i ; Jn = Pn . i Ou seja: ∑ .𝑛𝑗=1 J j = J1 + J2 +...+Jn = (P. i) + (P1 . i) + ... + (Pn . i) Assim: P1 = P + P . i P1 = P . (1 + i) P2 = P1 + P1 . i P2 = P1 .(1+ i ) P2 = P. (1 + i) . (1 + i) P2 = P . (1 +i)2 Portanto, para encontrar o valor de cada novo P no período de aplicação, basta multiplicar o valor de P original por (1 + i), elevado ao período de capitalização, que aqui foi 2. Assim: Pn = P(1 +i)n. Por fim, temos que sendo Pn o último valor capitalizado, ele é, em verdade, o próprio valor montante do período de capitalização, o que, por sua vez, nos permite obter a modelagem matemática que representa a capitalização composta dos juros: M = P . (1 + i)n (9) Em que: M = montante (valor no término do período de tempo); P = principal (valor no início do período t); i = taxa de juro ajustada à condição de capitalização; 20 n = período de capitalização. Vamos exercitar! Vamos relembrar o cenário original do Sr. João Honesto e alterar novamente um pouco a situação para entendermos o que é a capitalização composta dos juros. Imagine que esse período do empréstimo é de 1 ano e que Sr. Honesto resolveu que seria justo que os 15% de juro do período (isto é, ao ano) fossem por capitalização mensal em regime de cálculo por juros composto. Quanto será cobrado de juro nesse um ano e quanto será o montante a ser pago ao final do empréstimo (Obs.: para facilitar a demonstração, omitimos novamente “mil” na resolução)? a. Resolução método extenso (somente para fins didáticos): Antes de efetuarmos os cálculos, precisamos verificar se a taxa de juro é nominal ou efetiva. Se a taxa é de 7,5% ao ano e a capitalização é mensal, temos aqui apenas taxa nominal de juro. Assim, precisamos transformá-la em taxa efetiva: i = 7,5% / 12 = 0,625% ao mês Nesta tabela de capitalização composta, fica evidente que o valor do juro é diferente em cada momento de capitalização, pois a taxa de juro sempre vai impactar no valor do principal no momento zero mais o valor acumulado de juro até aquele momento novo. Assim, ao término do período de aplicação (ou seja, na data de devolução do empréstimo), o Sr. João Honesto precisa receber seus R$ 200 mil mais R$ 15,53 mil de juros referentes aos 0,6250% ao mês de taxa de juro. Ou seja, ele precisa receber R$ 0,53 mil a mais que o valor do juro simples. O mercado chama isso de juros sobre juros. Agora, você notou que o cálculo para transformar a taxa nominal em taxa efetiva é o mesmo que o do juro simples? Não existe diferença nesse ponto. Também não existe diferença de valores no momento n = 1. O motivo? Ora, 21 quando é n = 1, no juro simples temos que (1 + i . n) = (1 + i .1) = (1 + i); já no juro composto, (1 + i) n = (1 + i) 1 = (1 + i). Ou seja, tanto no juro simples como no juro composto, quando é n =1, o valor multiplicado de P é apenas (1 + i). Aposto que você entendeu porque é que, quando temos apenas uma capitalização no período de aplicação, podemos usar apenas a fórmula M = P . (1 + i ), vista no tema 2. Como já sabemos a diferença entre juros simples e juros compostos, vemos no próximo tema como podemos ter para um mesmo valor principal um mesmo resultado de montante, em condições de capitalização diferentes, em um mesmo período de tempo de aplicação. Chegou a hora de estudarmos o que são taxas equivalentes e proporcionais. TEMA 5 – TAXAS EFETIVAS: PROPORCIONAIS E EQUIVALENTES Intuitivamente, talvez você espere que um mesmo valor principal de capital, em um mesmo período de aplicação, em condições de capitalizações diferentes, tenha sempre para taxas efetivas distintas também valores montantes diferentes. Todavia, se olharmos bem as fórmulas que foram estudas até aqui, podemos deduzir que, em verdade, nem sempre isso ocorrerá. Por quê? Porque em matemática financeira existe tanto a condição das taxas proporcionais nos juros simples como a condição das taxas equivalentes nos juros compostos. Ou seja, existem cenários financeiros em que taxas efetivas diferentes, para um mesmo valor de principal, geram, conforme a condição de capitalização, resultados iguais de montante em um mesmo período de aplicação. Vamos agora estudá-los! 5.1 Capitalização simples: taxas proporcionais Este, por certo é um dos tópicos mais breves desta aula, pois apenas apresenta a constatação de um fato que está explícito na fórmula de capitalização simples. Para tanto, usamos alguns exemplos de capitalização diferentes para uma taxa de juro anual de 24% (taxa nominal), aplicada em um valor principal de R$ 10,00 durante um período de aplicação igual a 2 anos: a. Capitalização diária, juros simples (ano comercial): 1. Ajuste das taxas e do período à condição de capitalização 22 i = 24% ao ano / 360 dias = 0,066667% ao dia (taxa efetiva) n = 2 anos . 360 dias = 720 dias = 720 capitalizações 2. Cálculo do valor montante: M = P.(1 + i.n) => M = $10.(1 + 0,06667% . 720) => M = R$ 10.(1 + 48%) M = R$ 10 . 1,48 => M = R$ 14,80 b. Capitalização mensal, juros simples: 1. Ajuste das taxas e do período à condição de capitalização: i = 24% ao ano / 12 meses = 2 % ao mês (taxa efetiva) n = 2 anos .12 meses = 24 meses = 24 capitalizações 2. Cálculo do valor montante: M = P.(1 + i.n) => M = R$ 10 . (1 + 2% . 24) => M = R$ 10 . (1 + 48%) M = R$ 10 . 1,48 => M = R$ 14,80 c. Capitalização anual, juros simples: 1. Ajuste das taxas e do período à condição de capitalização: i = 24% ao ano (taxa efetiva) n = 2 anos 2. Cálculo do valor montante: M= P. (1 + i.n) => M = R$ 10 . (1 + 24% . 2) => M = R$ 10 . (1 + 48%) M = R$ 10 . 1,48 => M = R$ 14,80 Pense comigo! Se para realizarmos um cálculo de valor montante precisamos ajustar o período do tempo e a taxa de juros para condição de capitalização, isto é, precisamos deixá-las na mesma unidade de tempo da condição, então, nos juros simples, por i e n serem fatores de uma multiplicação, 23 sempre teremos para uma mesma taxa nominal, em um mesmo período de aplicação, o mesmo valor montante como resultado, não importa a condiçãode capitalização. Está duvidando? Então veja isso: valor principal de R$ 20; tempo de aplicação 3 anos; taxa de juro de 1% ao dia (considerar ano comercial) com condição de... a. Capitalização mensal, juros simples: M = 20.(1 + (1%.30).(3.12) )= 20.(1 + 3 . 36) = 20.(1 + 10,8) = 20.11,8 = R$ 236,00 b. Capitalização anual, juros simples: M = 20.(1 + (1%.360). 3) = 20.(1 + 3,6 . 3) = 20.(1 + 10,8) = 20.11,8 = R$ 236,00 c. Capitalização trienal, juros simples: M = 20.(1 + (1%.3.360).(3/3)) = 20.(1 + 10,8 .1) = 20.(1 + 10,8) = 20.11,8 = R$ 236,00 Viu? Mesmo com taxa nominal ao dia, tempo de aplicação em anos, os resultados são sempre os mesmos para o valor montante, uma vez que na capitalização simples as taxas proporcionais obtidas geram resultados iguais de montantes para o mesmo período de aplicação. 5.2 Capitalização composta: taxas equivalentes Vamos ver agora o que acontece na capitalização composta. Começamos fazendo os três exemplos do tópico anterior: taxa de juro anual de 24% (taxa nominal) para um valor principal de R$ 10,00 durante um período de aplicação igual a 2 anos: a. Capitalização diária, juros compostos (ano comercial): 1. Ajuste das taxas e do período à condição de capitalização: i = 24% ao ano / 360 dias = 0,066667 % ao dia (taxa efetiva) n = 2 anos .360 dias = 720 dias 2. Cálculo do valor montante: M = P.(1+ i)n => M= R$ 10.(1+0,06667%)720 => M = R$10. (1,0006667)720 24 M = R$ 10 . 1,615816 => M = R$ 16,16 b. Capitalização mensal, juros compostos: 1. Ajuste das taxas e do período à condição de capitalização: i = 24% ao ano / 12 meses = 2 % ao mês (taxa efetiva) n = 2 anos .12 meses = 24 meses 2. Cálculo do valor montante: M = P.(1 + i )n => M = R$ 10 . (1 + 2%) 24 => M = R$ 10 . (1,02)24 M = R$ 10 . 1,608437 => M = R$ 16,08 c. Capitalização anual, juros compostos: 1. Ajuste das taxas e do período à condição de capitalização: i = 24% ao ano (taxa efetiva) n = 2 anos 2. Cálculo do valor montante: M = P . (1 + i )n => M = R$ 10 . (1 + 24%)2 => M = R$ 10 . (1,24)2 M = R$ 10 . 1,5376 => M = R$ 15,38 Como você pode ver, agora não temos com o uso das taxas proporcionais valores iguais de montante. O motivo? O valor de n no juro composto é utilizado na forma de potência. Por isso, na capitalização composta de juros, para obtermos um mesmo valor montante para certo valor de principal, em um mesmo período, é necessário o uso de uma taxa de equivalência. Ou seja, não basta simplesmente fazer a taxa proporcional de uma mesma taxa nominal. Veja como essa taxa efetiva equivalente pode ser obtida, por meio deste exemplo: vamos encontrar a taxa equivalente anual da taxa efetiva diária 0,06667%: Se: 25 M = P.(1 + i )n = R$ 10.(1+0,06667%)720 dias = 16,15816 = R$ 16,16 Então: 16,15816 = 10.(1+ i )2 anos 16,15816/10 = (1+ i)2 1,615816 = (1+ i)2 1 + i =√1,615816 2 (raiz de índice 2)1+ i =1,6158161/2 1+ i =1,271147 i = 1,271147 – 1 i = 0,271147 = 27,1147% Vamos testar: M = P.(1 + i )n = R$10.(1 + 27,1147%)2 anos = R$ 16,158 = $ 16,16 Lógica aprovada, vamos modelar para achar i que queremos (i q): 10.(1 + i q)2 anos = 10.(1 + 0,06667%)720 dias; vamos simplificar o valor 10 (1+ i q)2 anos = (1 + 0,06667%)720 dias 1 + i q = [ (1 + 0,06667%)720 dias] 1/2 anos 1 + i q = (1 + 0,06667%) 720 dias / 2 anos i q = (1+0,06667%) 360 / 1 – 1 Vamos interpretar o que significa a potência 360/1. Ela demonstra uma razão entre as duas unidades de tempo do cálculo (em que temos que são necessários 360 dias para cada 1 ano). Todavia, também podemos interpretar esse cenário como sendo que a taxa diária de 0,06667% (a taxa efetiva que temos) precisa ser elevada por 360 dias (= 1 ano, condição de capitalização que queremos) para ser convertida em uma taxa efetiva anual (taxa efetiva que queremos). Assim, podemos transformar nossa lógica financeira na seguinte modelagem matemática: i q = (1 + i t) nq / nt ─ 1 (10) Em que: i q = taxa efetiva de juro que quero; i t = taxa efetiva de juro que tenho; n q = período de capitalização que quero (na unidade de n t ); n t = período de capitalização que tenho. Vamos testar! 26 a. Taxa equivalente anual da taxa efetiva diária 0,06667% (ano comercial): i q = (1 + i t) nq / nt – 1 i q = (1 + 0,06667%) 360 dias / 1 dias – 1 i q = 1,000667 360 – 1 i q = 1,271147 – 1 i q = 27,1147% Comprovando a taxa de equivalência: período de aplicação de 2 anos: M = P.(1 + i )n => M = R$ 10.(1 + 0,06667% ao dia ) 720 dias => M = R$ 16,16 M = P. (1 + i )n => M = R$ 10.(1 + 27,1147% ao ano) 2 anos=> M = R$ 16,16 Conclusão: montantes iguais, portanto as taxas são equivalentes. b. Taxa equivalente mensal da taxa efetiva diária 0,06667% (ano comercial): i q = (1 + i t) nq / nt – 1 i q = (1 + 0,06667%) 30 dias / 1 mês – 1 i q = 1,000667 30 – 1 i q = 1,020195 – 1 i q = 0,020195 = 2,0195% Comprovando a taxa de equivalência: período de aplicação de 24 meses: M = P.(1 + i )n => M = R$ 10.(1 + 0,06667% ao dia) 720 dias => M = R$ 16,16 M = P. (1 + i )n => M = R$ 10.(1 + 2,0195% ao mês)24 meses => M = R$ 16,16 Conclusão: montantes iguais, portanto as taxas são equivalentes. Resumindo a opera, temos que na capitalização composta de juros: i = 0,06667% a.d. equivale a i = 2,0195% a.m., que equivale a i = 27,1147% a.a. Em que: a.d. = ao dia; a.m. = ao mês; a.a. = ao ano. Ou seja, em um mesmo período de aplicação, qualquer valor principal terá o mesmo valor montante quando essas taxas efetivas forem utilizadas. Todavia, diferente do que ocorre na capitalização simples de juros, essas taxas efetivas apresentam taxas nominais anuais diferentes entre si: 27 Taxa efetiva 0,06667% a.d. 360 dias = taxa nominal de 24,0000% ao ano. Taxa efetiva 2,0195% a.m. 12 meses = taxa nominal de 24,2335% ao ano. Taxa efetiva 27,1147% a.a. 1 ano = taxa nominal de 27,1147% ao ano. Então, não se esqueça de que: 1. Taxas proporcionais da taxa nominal, na capitalização simples de juros, geram valores montantes iguais para um mesmo valor de principal (capital original), em um mesmo período de capitalização. 2. Taxas efetivas equivalentes, na capitalização composta de juros, geram valores montantes iguais para um mesmo valor de principal (capital original), em um mesmo período de capitalização. Todavia, não apresentam, necessariamente, igualdade nas taxas nominais quando usada o princípio da proporção. TROCANDO IDEIAS Durante os cinco temas que foram vistos nesta aula, analisamos as bases da matemática financeira e vimos como a economia interpreta o juro e a capitalização composta e simples. Agora, entre no fórum da disciplina e, usando o conhecimento geral adquirido, reflita com seus pares como a AVEF, se a capitalização composta de juros é justa ou não. Para tanto, usem como base o seguinte texto on-line: <http://profmoney.com.br/investimentos/juros-compostos- por-que-e-justo/>. NA PRÁTICA a. Leitura do caso O Sr. Kenenóis tem uma aplicação no Banco A no valor de R$ 100 mil, em que a capitalização é mensal, com taxa de 18,6% ao ano. O Sr. Kenenóis pediu ao Banco B uma proposta de taxa para sua aplicação, para ver se valeria a pena transferir seus recursos do Banco A para o Banco B. Na análise, o Sr. Kenenóis precisa considerar que: (i) o Banco B somente trabalha com a condição de capitalização anual; (ii) na opinião de nosso personagem, o Banco A tem riscozero e o Banco B tem risco efetivo de 2,73% ao ano. Sabendo que ambas as aplicações são capitalizações compostas de juro, responda: qual deve ser a taxa efetiva mínima anual no Banco B para que o Sr. Kenenóis considere a 28 possibilidade de mudar sua aplicação de banco? Quanto ele terá de montante após 6 meses de aplicação caso mude de banco? b. Identificação do que deve ser feito e teoria/conteúdo que resolve o problema Para resolver esse problema, precisamos encontrar a taxa efetiva do Banco A (tema 3) e, depois, determinar a taxa equivalente anual da taxa mensal do Banco A (tema 5) – ela será o custo de oportunidade do Sr. Kenenóis. Em seguida, precisamos encontrar a taxa mínima para Banco B, considerando o custo de oportunidade e o prêmio de risco (tema 1). Por fim, calculamos o valor montante por meio de uma capitalização composta, que exige ajuste de período (respectivamente, temas 4 e 3). c. Apresentação da solução do problema 1. Encontrar a taxa efetiva mensal do Banco A. 18% ao ano com capitalização mensal => 18% / 12 meses => i = 1,55% a.m. 2. Encontrar a taxa efetiva equivalente anual da taxa efetiva mensal. i q = (1 + i t) nq / nt – 1 i q = (1 + 1,55%)12 meses / 1 mês – 1 = 20,27% 3. Encontrar a taxa efetiva anual para transferência. i = COp + PR i = 20,27% + 2,73% i = 23% 4. Ajustar o período para o cálculo do juro composto. Condição de capitalização anal Período de aplicação 6 meses = Período de capitalização 0,5 ano 5. Calcular o valor montante. M = P . (1 + i) n M = 100 . (1 + 23%) 0,5 M = 110,9056 = R$ 110,91 29 FINALIZANDO Então, meu caro leitor, como foi visto nesta aula, em finanças o valor inicial P do capital sofre incrementos ao longo de um período de aplicação, em virtude do impacto que a taxa de juro efetiva i tem sobre ele. Todavia, para que o juro J e o valor montante M possam ser definidos, é necessário conhecer, antes de tudo, as condições de capitalização estabelecidas entre a parte que cede e a parte que recebe o capital (quando o juro será criado). O motivo? Somente assim podemos transformar o período da aplicação/empréstimo em um valor de n períodos de capitalização e também ajustar os valores das taxas nominais para valores de taxas efetivas. Além disso, vimos que, para realização dos cálculos, também precisamos saber se a capitalização dos juros será realizada de maneira simples (apenas sobre o principal) ou composta (juros sobre juros). Convém lembrar que nesta rota também vimos que a taxa de juros é composta por duas variáveis (custo de oportunidade e prêmio de risco) e que ela, além de poder ser tratada de como informação nominal e efetiva, pode ser analisada segundo a percepção da equivalência (taxa proporcional para juros simples, taxa equivalente para juros compostos). Antes de terminarmos, não se esqueça de sempre ajustar o período de aplicação para período de capitalização e de equalizar as unidades das taxas de juros para a condição de capitalização. Isso é tudo pessoal... por enquanto! 30 REFERÊNCIAS ANDRICH, E. G.; CRUZ, J. A. W. Gestão financeira: uma abordagem prática. Curitiba: InterSaberes, 2013. CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. Matemática financeira aplicada. Curitiba: Ibpex, 2010 RYBA, A.; LENZI, E. K.; LENZI, M. K. Elementos da engenharia econômica. Curitiba: Ibpex, 2011. RODRIGUES, S. Juros, o roubo do tempo. Revista Veja, São Paulo, Coluna Sobre Palavras. 31 out. 2014. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/juros-o-roubo-do-tempo/>. Acesso em: 15 dez. 2017.
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