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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Rever a morfofisiologia das vias urinárias; 2- Estudar a epidemiologia, etiologia, fatores de risco, fatores protetores, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da infecção urinária. Vias urinárias ↠ O sistema urinário consiste em dois rins, dois ureteres, uma bexiga urinária e uma uretra (TORTORA, 14ª ed.). ANATOMIA E HISTOLOGIA URETERES ↠ Os ureteres são tubos delgados, com aproximadamente 25 cm de comprimento, que transportam a urina dos rins para a bexiga (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Cada ureter começa superiormente, no nível de L II, como uma continuação da pelve renal. A partir daí, ele desce na posição retroperitoneal através do abdome, entra na pelve verdadeira ao cruzar a cavidade pélvica na junção sacroilíaca, entra no ângulo posterolateral da bexiga e depois segue medialmente dentro da parede posterior da bexiga antes de se abrir para o interior da bexiga (MARIEB, 3ª ed.). Essa entrada oblíqua na bexiga evita o refluxo de urina da bexiga para os ureteres, pois qualquer aumento de pressão dentro da bexiga comprime a parede desse órgão, fechando assim as extremidades distais dos ureteres (VÁLVULA FISIOLÓGICA) (MARIEB, 3ª ed.). Quando esta válvula fisiológica não está funcionando corretamente, é possível que microrganismos passem da bexiga urinária para os ureteres, infectando um ou ambos os rins (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A estrutura histológica dos ureteres tubulares é a mesma dos cálices renais e da pelve renal; as paredes possuem três camadas básicas: mucosa, muscular e adventícia (MARIEB, 3ª ed.). • A mucosa de revestimento é composta por um epitélio transicional, que estica quando os ureteres se enchem de urina, e uma lâmina própria, composta por um tecido conjuntivo fibroelástico contendo placas de tecido linfático (MARIEB, 3ª ed.). O muco secretado pelas células caliciformes da túnica mucosa impede que as células entrem em contato com a urina, cuja concentração de soluto e cujo pH podem diferir drasticamente do citosol das células que formam a parede dos ureteres (TORTORA, 14ª ed.). • A camada muscular intermediária consiste em duas camadas de músculo liso: uma camada longitudinal interna e uma camada circular externa. Uma terceira camada muscular, a camada longitudinal externa, aparece no terço inferior do ureter (MARIEB, 3ªed.). • A adventícia (externa) da parede do ureter é um tecido conjuntivo típico (MARIEB, 3ª ed.). Contém vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos que suprem a túnica muscular e a túnica mucosa. A túnica adventícia mescla-se a áreas de tecido conjuntivo e mantém os ureteres em posição (TORTORA, 14ª ed.). BEXIGA ↠ A bexiga urinária é um órgão muscular oco e distensível situado na cavidade pélvica posteriormente à sínfise púbica. Nos homens, é diretamente anterior ao reto; nas mulheres, é anterior à vagina e inferior ao útero. Pregas do peritônio mantêm a bexiga em sua posição (TORTORA, 14ª ed.). Quando ligeiramente distendida em decorrência do acúmulo de urina, a bexiga urinária é esférica. Quando está vazia, ela se achata. APG 15 – “ENTRE ALTOS E BAIXOS... ASSIM SEGUE O TRATAMENTO” 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck Conforme o volume de urina aumenta, torna-se piriforme e ascende para a cavidade abdominal (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A capacidade média da bexiga urinária é de 700 a 800 ml. Ela é menor nas mulheres, porque o útero ocupa o espaço imediatamente superior à bexiga urinária (TORTORA, 14ª ed.). ↠ A bexiga vazia tem a forma de uma pirâmide de cabeça para baixo com quatro superfícies triangulares e quatro cantos, ou ângulos. Os dois ângulos posterolaterais recebem os ureteres. No ângulo anterior da bexiga (ou ápice) há uma faixa fibrosa chamada úraco (“canal urinário do feto”), o remanescente fechado de um tubo embrionário chamado alantoide. O ângulo inferior (colo) converge para a uretra (MARIEB, 3ª ed.). Nos homens, a próstata, uma glândula do sistema genital, situa- se diretamente inferior à bexiga, onde circunda a uretra (MARIEB, 3ª ed.). ↠ No assoalho da bexiga urinária encontra-se uma pequena área triangular chamada trígono da bexiga. Os dois cantos posteriores do trígono da bexiga contêm os dois óstios dos ureteres; a abertura para a uretra, o óstio interno da uretra, encontra-se no canto anterior (TORTORA, 14ª ed.). O trígono tem uma importância clínica especial porque as infecções tendem a persistir nessa região (MARIEB, 3ª ed.). VASOS E NERVOS: As artérias que irrigam a bexiga são ramos das artérias ilíacas internas, principalmente as artérias vesicais superiores e inferiores. As veias que drenam a bexiga formam um plexo nas superfícies inferior e posterior desse órgão cujo sangue drena nas veias ilíacas internas. Os nervos que vão do plexo hipogástrico até a bexiga consistem em fibras parassimpáticas provenientes dos nervos esplâncnicos pélvicos, algumas fibras simpáticas oriundas dos nervos esplâncnicos torácicos inferiores e lombares superiores e fibras sensitivas viscerais (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Três camadas formam a parede da bexiga urinária: (MARIEB, 3ª ed.). • Uma mucosa, com um epitélio transicional distensível e uma lâmina própria, forma o revestimento interno da bexiga. O revestimento mucoso contém pregas, ou rugas, que se achatam quando a bexiga enche (MARIEB, 3ª ed.). As células mais superficiais do epitélio de transição são responsáveis pela barreira osmótica entre a urina e os fluidos teciduais. Quando a bexiga se esvazia, a membrana se dobra nas regiões delgadas, e as placas espessas se invaginam e se enrolam, formando vesículas fusiformes intracitoplasmáticas, que permanecem próximo à superfície celular. Quando a bexiga se enche novamente, sua parede se distende, e ocorre um processo inverso, com transformação das vesículas citoplasmáticas fusiformes em placas que se inserem na membrana, aumentando a superfície das células. Essa membrana plasmática especial é sintetizada no complexo de Golgi e tem uma composição química peculiar: os cerebrosídeos constituem o principal componente da fração dos lipídios polares (JUNQUEIRA, 13ª ed.). • Uma musculatura espessa, chamada músculo detrusor da bexiga (“empurrar para fora”), forma a camada intermediária. Esse músculo consiste em fibras musculares lisas altamente misturadas e em duas camadas longitudinais (externa e interna) e uma circular (média). A contração desse músculo espele a urina da bexiga durante a micção (MARIEB, 3ª ed.). • Nas superfícies lateral e inferior, a camada mais externa é a adventícia. A superfície superior da bexiga é coberta pelo peritônio parietal (MARIEB, 3ª ed.). URETRA ↠ A uretra é um pequeno tubo que vai do óstio interno da uretra no assoalho da bexiga urinária até o exterior do corpo (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Na junção bexiga-uretra, um espessamento do detrusor forma o esfíncter interno da uretra. Esse é um esfíncter involuntário de músculo liso que mantém a uretra fechada quando a urina não está passando e evita o seu gotejamento entre as micções (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Um segundo esfíncter, o esfíncter externo da uretra, circunda a uretra no interior da camada muscular chamada 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck diafragma urogenital. Esse esfíncter externo é um músculo esquelético utilizado para inibir voluntariamente a micção. O músculo levantador do ânus do diafragma da pelve também serve como um constritor voluntário da uretra (MARIEB, 3ª ed.). URETRA MASCULINA X URETRA FEMININA MULHERES ↠ Nas mulheres, a uretra tem apenas de 3 a 4 cm de comprimento e está presa à parede anterior da vagina por tecido conjuntivo. Ela abre-se para o exterior no óstio externo da uretra, uma abertura pequena e frequentemente difícil de localizar, que se situa anterior à abertura da vagina e posteriorao clitóris (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Normalmente seu lúmen se encontra colabado, exceto durante a micção. Próximo à bexiga ela é revestida por um epitélio de transição, e ao longo de seu comprimento restante por um epitélio estratificado pavimentoso não- queratinizado. Intercaladas em meio ao epitélio há porções de epitélio pseudoestratificado cilíndrico (GARTNER, 3ª ed.). ↠ A camada muscular da uretra é contínua com a da bexiga, mas é constituída apenas por duas camadas de músculo liso, uma longitudinal interna e uma circular externa (GARTNER, 3ª ed.). HOMENS ↠ Nos homens, a uretra tem aproximadamente 20 cm de comprimento e possui três regiões: (MARIEB, 3ª ed.). • a parte prostática da uretra, que tem aproximadamente 2,5 cm de comprimento e passa pela próstata; • a parte intermédia da uretra, que ocupa aproximadamente 2,5 cm do diafragma urogenital membranoso; • a parte esponjosa da uretra, que tem aproximadamente 15 cm de comprimento, percorre pelo interior do pênis e se abre na glande do pênis através do óstio externo da uretra. ↠ A uretra masculina transporta para fora do corpo tanto o sêmen na ejaculação, como a urina na micção, embora não simultaneamente (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A uretra membranosa tem apenas 1 cm de extensão e é revestida por epitélio pseudoestratificado colunar. Nessa parte da uretra existe um esfíncter de músculo estriado: o esfíncter externo da uretra (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O epitélio da uretra cavernosa é pseudoestratificado colunar, com áreas de epitélio estratificado pavimentoso (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A lâmina própria de todas as três regiões é composta de tecido conjuntivo frouxo fibroelástico altamente vascularizado. Ela contém numerosas glândulas de Littre, cuja secreção mucosa lubrifica o epitélio que reveste a uretra (GARTNER, 3ª ed.). ↠ A túnica muscular da parte prostática é composta principalmente por fibras de músculo liso circulares superficiais à lâmina própria; estas fibras circulares ajudam a formar o músculo esfíncter interno da uretra da bexiga urinária. A túnica muscular da parte membranácea consiste em fibras musculares esqueléticas provenientes do músculo transverso profundo do períneo dispostas circularmente, que ajudam a formar o músculo esfíncter externo da uretra (TORTORA, 14ª ed.). FISIOLOGIA ↠ Contrações peristálticas das paredes musculares dos ureteres empurram a urina para a bexiga urinária, mas a pressão hidrostática e a gravidade também contribuem. Ondas peristálticas que vão da pelve renal à bexiga urinária variam em frequência de 1 a 5 por minuto, dependendo da velocidade em que a urina está sendo formada (TORTORA, 14ª ed.). FISIOLOGIA DA MICÇÃO ↠ A micção é um reflexo espinal simples que está sujeito aos controles consciente e inconsciente pelos centros superiores do encéfalo. À medida que a bexiga urinária se enche com urina e as suas paredes se expandem, receptores de estiramento enviam sinais através de neurônios sensoriais para a medula espinal. Lá, a 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck informação é integrada e transferida a dois conjuntos de neurônios (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ O estímulo da bexiga urinária cheia estimula os neurônios parassimpáticos, que inervam o músculo liso da parede da bexiga urinária. O músculo liso contrai, aumentando a pressão no conteúdo da bexiga urinária. Simultaneamente, os neurônios motores somáticos que inervam o esfincter externo da uretra são inibidos (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ A contração da bexiga urinária ocorre em uma onda, a qual empurra a urina para baixo, em direção à uretra. A pressão exercida pela urina força o esfíncter interno da uretra a abrir enquanto o esfíncter externo relaxa. A urina passa para a uretra e para fora do corpo, auxiliada pela gravidade (SILVERTHORN, 7ª ed.). Este reflexo de micção simples ocorre principalmente em crianças que ainda não foram treinadas para o controle dos esfíncteres. Uma pessoa que foi treinada para o controle esfincteriano adquire um reflexo aprendido, que mantém o reflexo da micção inibido até que ele ou ela deseje conscientemente urinar (SILVERTHORN, 7ª ed.). ↠ O reflexo aprendido envolve fibras sensoriais adicionais à bexiga urinária, que sinalizam o grau de enchimento. Centros no tronco encefálico e no córtex cerebral recebem essa informação e superam o reflexo de micção básico, inibindo diretamente as fibras parassimpáticas e reforçando a contração do esfíncter externo da uretra. Quando chega o momento apropriado para urinar, esses mesmos centros removem a inibição e facilitam o reflexo, inibindo a contração do esfíncter externo da uretra (SILVERTHORN, 7ª ed.). Além do controle consciente da micção, vários fatores inconscientes podem afetar esse reflexo. A “bexiga tímida” é uma condição na qual a pessoa não consegue urinar na presença de outra pessoa, apesar de sua intenção consciente de fazê-lo. O som de água corrente facilita a micção e, muitas vezes, é utilizado para ajudar os pacientes a urinar quando a uretra está irritada pela inserção de um cateter, um tubo inserido dentro da bexiga urinária para drená-la passivamente (SILVERTHORN, 7ª ed.). Infecção do trato urinário ↠ As infecções do trato urinário (ITU) são comuns, afetam homens e mulheres de todas as idades, variam acentuadamente na sua apresentação e sequelas, constituem uma causa comum de morbidade e podem levar a uma taxa de mortalidade significativa (WEIN, 2018). Infecção do trato urinário (ITU) é um termo que se aplica a uma variedade de condições clínicas, desde a presença assintomática de bactérias na urina, até infecção grave do rim com sepse resultante (MCANINCH, 2014). Considerando que a bexiga é um meio estéril, com exceção do meato uretral e uretra distal, que são regiões colonizadas principalmente por estafilococos, difteroides e outros comensais, a infecção do trato urinário (ITU) caracteriza-se pela presença de agentes infecciosos e invasão dos tecidos urinários (OLIVEIRA; SANTOS, 2018). ↠ Embora em condições normais não ocorra crescimento bacteriano nas vias urinárias, as bactérias que geralmente ascendem a partir do reservatório renal podem ocasionar ITU. Quando a virulência bacteriana aumenta ou os mecanismos de defesa do hospedeiro diminuem, ocorrem inoculação, colonização e infecção bacterianas das vias urinárias. Na maioria dos casos, diagnóstico e tratamento cuidadosos levam a uma resolução bem-sucedida das infecções (WEIN, 2018). DEFINIÇÃO: A ITU representa uma resposta inflamatória do urotélio a uma invasão bacteriana, que habitualmente está associada a bacteriúria e piúria. A bacteriúria refere-se à presença de bactérias na urina que, em condições normais, não contém esses microrganismos. A piúria, que se refere à presença de leucócitos na urina, indica geralmente uma infecção e/ou uma resposta inflamatória do urotélio à presença de bactérias, cálculos ou outro corpo estranho residente. A bacteriúria sem piúria em geral indica uma colonização bacteriana sem infecção das vias urinárias. A piúria sem bacteriúria justifica uma avaliação quanto à possibilidade de tuberculose, cálculos ou câncer. (WEIN, 2018). CLASSIFICAÇÃO ↠ Sendo classificada segundo sua localização, em infecção urinária baixa e alta. Estas infecções são caracterizadas em diferentes fases, desde uma uretrite a uma pielonefrite. A princípio têm-se uma inflamação da uretra (uretrite), e quando não tratada, inicialmente, essa inflamação atinge a bexiga (cistite) e até mesmo os ureteres (uretrite). O risco mais significativo deste tipo de infecção é que os microrganismos podem se deslocar pelos ureteres, alcançando os rins. (OLIVEIRA; SANTOS, 2018). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck Com frequência, as infecções são clinicamente definidas pelo seu suposto local de origem. A cistite descreve uma síndromeclínica de disúria, polaciúria, urgência e, em certas ocasiões, dor suprapúbica. A pielonefrite aguda, uma síndrome clínica de calafrios, febre e dor no flanco, é acompanhada de bacteriúria e piúria, uma associação razoavelmente específica de infecção bacteriana aguda do rim. Esse termo não deve ser utilizado na ausência de dor no flanco (WEIN, 2018). ↠ Em 2011, a Seção de Infecções em Urologia da EAU propôs o sistema de classificação ORENUC com base na apresentação clínica da ITU, no nível anatômico da ITU, no grau de gravidade da infecção, na categorização dos fatores de risco e na disponibilidade de terapia antimicrobiana apropriada (BONKAT et al., 2022). ↠ As ITUs também podem ser descritas em termos de sua localização anatômica ou estado funcional das vias urinárias e saúde do hospedeiro (WEIN, 2018). • Não complicada descreve uma infecção em um paciente saudável com via urinária normal dos pontos de vista estrutural e funcional. A maioria desses pacientes consiste em mulheres com cistite bacteriana isolada ou recorrente ou com pielonefrite aguda, e os patógenos infecciosos são habitualmente sensíveis e erradicados por um ciclo curto de antibioticoterapia oral de baixo custo. • Uma infecção complicada está associada a fatores que aumentam a probabilidade de adquirir bactérias e à diminuição da eficácia da terapia. A estrutura e a função das vias urinárias estão anormais, o hospedeiro está comprometido e/ou as bactérias apresentam virulência aumentada ou resistência aos agentes antimicrobianos. Esses pacientes são, em sua maioria, homens. ↠ As ITUs também podem ser definidas pela sua relação com outras ITUs (WEIN, 2018). • Uma primeira infecção ou infecção isolada é a que ocorre em um indivíduo que nunca teve uma ITU ou que apresenta uma infecção remota de ITU prévia. • Uma infecção não resolvida é a que não respondeu à terapia antimicrobiana e é documentada pelo mesmo microrganismo, com perfil de resistência semelhante. • Uma infecção recorrente é a que ocorre após resolução bem-sucedida e documentada de infecção antecedente. Existem dois tipos diferentes de infecção recorrente: I. A reinfecção descreve um novo evento associado à reintrodução de bactérias do meio externo para dentro das vias urinárias. II. A persistência bacteriana refere-se a uma ITU recorrente causada pela mesma bactéria que reemerge a partir de um foco dentro das vias urinárias, como cálculo infeccioso ou próstata. O termo recidiva é frequentemente usado como sinônimo. Essas definições exigem uma cuidadosa avaliação clínica e bacteriológica e são importantes, visto que influenciam o tipo e a extensão da avaliação e do tratamento do paciente. ↠ As ITUs domiciliares ou ambulatoriais ocorrem em pacientes que não são hospitalizados ou institucionalizados por ocasião da infecção. Em geral, as infecções são causadas por bactérias intestinais comuns (p. ex., Enterobacteriaceae ou Enterococcus faecalis), que são sensíveis à maioria dos agentes antimicrobianos (WEIN, 2018). ↠ As ITUs hospitalares ou associadas aos cuidados de saúde ocorrem em pacientes hospitalizados ou institucionalizados, e são infecções tipicamente causadas por Pseudomonas ou outras cepas mais resistentes a agentes antimicrobianos (WEIN, 2018). EPIDEMIOLOGIA ↠ A ITU é um quadro infeccioso muito prevalente entre a população mundial, e estima-se que 86% das pessoas já tenham sofrido com alguma ITU ao longo da vida, especialmente a população feminina, devido a sua anatomia uretral ser mais curta que o comprimento da uretra masculina, e consequentemente os patógenos podem colonizar mais facilmente a bexiga e o espaço uretra (SILVA et al., 2021). ↠ No Brasil estima-se que 73% da população tenha contraído ITU, tal fator é preocupante, pois essa infecção pode resultar em complicações como danos permanentes aos rins, predisposição para complicações gestacionais e sepse (SILVA et al., 2021). 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ A epidemiologia das infecções urinárias é bem conhecida: (RIELLA, 4ª ed.). • Ocorre em, aproximadamente, 1% dos recém- nascidos, sendo mais frequente, nessa fase, no sexo masculino que no feminino; • Após essa fase a infecção urinária é mais frequente no sexo feminino, aumentando a incidência a cada década, com acentuações ao início da atividade sexual e durante a gestação, até alcançar 10% a 15% aos 60-70 anos de idade. Também a bacteriúria assintomática é mais frequente no sexo feminino, embora após os 60-65 anos haja aumento da prevalência no sexo masculino. Aliás, infecção urinária e bacteriúria assintomática são infrequentes no sexo masculino, na ausência de fatores obstrutivos ou de instrumentações do trato urinário (RIELLA, 4ª ed.). ↠ As ITUs associadas a cateter (ITUACs) constituem a infecção hospitalar mais comum. Mais de 80% das ITUs hospitalares são secundárias a um cateter uretral de demora (WEIN, 2018). FATORES DE RISCO ↠ Os principais fatores de risco para infecções no trato urinário (ITU) identificados foram relacionados: (SILVA et al., 2021). • ao uso de cateteres vesical, especialmente os de demora; Uso de cateter aumenta os riscos de desenvolvimento de infecções no trato urinário dos pacientes, tal fato ocorre pela introdução de um componente não orgânico na uretra que pode estar contaminado ou ter se contaminado durante a técnica de passagem de sonda, e, além disso, repetidas introduções de cateteres urinários, ou seu uso por vários dias tornam-se meios de colonização de microrganismos, especialmente bactérias que podem causa infecções no trato urinário dos pacientes (SILVA et al., 2021). • práticas sexuais desprotegidas; Pessoas que não utilizam camisinha além do risco de contraírem infecções sexualmente transmissíveis (IST), tem maior chance de contraírem infecções no trato urinário devido as bactérias ou fungos provenientes das mucosas contaminadas dos parceiros sexuais (SILVA et al., 2021). • aumento da idade; Na menopausa, a baixa de estradiol resulta em alterações da mucosa vaginal e perineal, decréscimo de L. acidophilus responsável pela diminuição do pH da área do vestíbulo vaginal e mais fácil colonização por Gram-negativos entéricos (RIELLA, 4ª ed.). • urina com pH alcalino; • infecção genital; • resistência a antibióticos; Resistência a antibióticos, pois devido ao fácil acesso a esses fármacos e ao consumo desenfreado, o organismo de um paciente submetido a doses errôneas de antibióticos frequentemente pode deixar as bactérias resistentes, e estas podem atacar as defesas do corpo com mais facilidades causando uma série de malefícios a saúde, entre eles as infecções urinarias (SILVA et al., 2021). • má higienização das regiões perianal e vaginal ou excesso de higiene nessas áreas; A falta de higiene intima nos homens propicia um aumento de bactérias ao redor da glande, que podem atingir o canal uretral masculino e contaminar todo sistema urinário dependendo do número de bactérias. Todavia o excesso de higiene, principalmente nas mulheres, altera o pH da área genital, e as bactérias invasoras podem se difundir para o trato urinário causando infecções (SILVA et al., 2021). • diabetes mellitus e a hiperglicemia; • mulheres - pois essas possuem a uretra encurtada em relação a uretra masculina, e sofrem muitas alterações hormonais durante a gravidez; Prevalência da bacteriúria nas mulheres em função da idade. 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck Outro fator de risco para infecção urinária está relacionada ao comprimento da uretra, que no sexo feminino é menor que no sexo masculino, e pode propiciar a colonização de patógenos devido à proximidade do canal uretral com o exterior, facilitando ainda mais a entrada de microrganismos na bexiga, e o uso de cateteres vesicais que podem levar microrganismos patógenos diretamente parao trato urinário quando não se é seguido corretamente o procedimento de sondagem (SILVA et al., 2021). • qualquer anormalidade anatômica ou funcional do trato urinário; Anormalidade que impeça o fluxo da urina pode aumentar a suscetibilidade do hospedeiro a ITUs. Essas anormalidades incluem condições obstrutivas em qual- quer nível do trato urinário, doenças neurológicas afetando a função do trato urinário inferior, diabetes e gravidez. De modo semelhante, a presença de corpos estranhos (como cálculos, cateteres e stents) permite que as bactérias se escondam das defesas do hospedeiro (MCANINCH; LUE, 2014). FATORES DE PROTEÇÃO ↠ Os fatores relacionados com o hospedeiro têm um papel essencial na patogênese de ITUs (MCANINCH; LUE, 2014). O principal mecanismo de defesa fisiológico do aparelho urinário é a micção, onde a urina leva para fora do trato urinário às bactérias circunvizinhas da região genital que podem entrar em contato com a região interna da uretra e causar infecções. COMPOSIÇÃO DA URINA ↠ A própria urina tem caraterísticas específicas (osmolalidade, concentração de ureia, concentração de ácidos orgânicos e pH) que inibem o crescimento e a colonização bacteriana. Ela também contém fatores que inibem a aderência bacteriana, como a glicoproteína de Tamm-Horsfall – (THG) (MCANINCH; LUE, 2014). EPITÉLIO QUE REVESTE O TRATO URINÁRIO ↠ O epitélio que reveste o trato urinário não somente provê uma barreira física à infecção, mas também tem a capacidade de reconhecer bactérias, a fim de ativar as defesas do hospedeiro (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ As células uroteliais expressam receptores toll-like (TLR), que, após o engajamento por componentes bacterianos específicos, levam à produção de mediadores inflamatórios (MCANINCH; LUE, 2014). Em resposta à presença de bactérias, as células de revestimento do trato urinário secretam atraidores químicos, como a interleucina 8, para recrutar neutrófilos à área e limitar a invasão tecidual. Anticorpos específicos séricos e urinários são produzidos pelo rim para aumentar a opsonização bacteriana e a fagocitose, e para inibir a aderência bacteriana (MCANINCH; LUE, 2014). O papel protetor da imunidade, tanto de mediação celular como humoral, na prevenção de ITUs permanece obscuro. Entretanto, deve- se notar que os mesmos mecanismos de defesa do hospedeiro que ajudam a prevenir/limitar a infecção (como as respostas inflamatórias) podem levar a dano celular e tecidual (MCANINCH; LUE, 2014). FLORA NORMAL DA ÁREA PERIURETRAL OU DA PRÓSTATA ↠ Nas mulheres, a flora normal da área periuretral, composta de microrganismos como os lactobacilos, fornece uma defesa contra a colonização por bactérias uropatogênicas (MCANINCH; LUE, 2014). Alterações no ambiente periuretral (como mudanças no pH ou nos níveis de estrogênios, ou o uso de antibióticos) podem danificar a flora periuretral, permitindo que uropatógenos colonizem e, subsequentemente, infectem o trato urinário (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ Nos homens, a próstata secreta líquido contendo zinco, que tem atividade antimicrobiana potente (MCANINCH; LUE, 2014). ETIOLOGIA ↠ As ITUs são causadas, em sua maioria, por microrganismos anaeróbios facultativos, que habitualmente se originam da flora intestinal. Os uropatógenos, como Staphylococcus epidermidis e Candida albicans, originam-se da flora da vagina ou da pele perineal (WEIN, 2018). ↠ A E. coli constitui, sem dúvida alguma, a causa mais comum de ITU, sendo responsável por 85% das infecções adquiridas na comunidade e por 50% das infecções hospitalares. Outras Enterobacteriaceae Gram- negativas, incluindo Proteus e Klebsiella, e os microrganismos Gram-positivos E. faecalis e Staphylococcus saprophyticus são responsáveis pelo restante da maioria das infecções adquiridas na comunidade (WEIN, 2018). As cepas de E. coli que produzem infecção urinária provêm das fezes (RIELLA, 4ª ed.). 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck Existem muitas espécies bacterianas na flora intestinal, mas nem todas têm a mesma virulência, ou seja, a mesma capacidade de causar infecções. Este aspecto é bem estudado na E. coli, bactéria em que a virulência depende do tipo de fímbria ou pili que a bactéria tem e do tipo de adesivo produzido pela superfície bacteriana. Esses dois elementos determinam o grau de aderência bacteriana ao urotélio, que é fator primordial no estabelecimento de infecção urinária especialmente nos indivíduos com trato urinário normal nos quais a urina flui normalmente, sem estase. Os indivíduos mais sensíveis a infecções urinárias têm também receptores uroteliais que facilitam a aderência bacteriana. (SROUGI, 2014). ↠ As infecções hospitalares são causadas por E. coli, Klebsiella, Enterobacter, Citrobacter, Serratia, Pseudomonas aeruginosa, Providencia, E. faecalis e S. epidermidis (WEIN, 2018). ↠ A prevalência de microrganismos infecciosos é influenciada pela idade do paciente. Por exemplo, S. saprophyticus é atualmente reconhecido como agente etiológico de cerca de 10% das infecções sintomáticas do trato urinário baixo em mulheres jovens sexualmente ativas, enquanto raramente causa infecções em homens e indivíduos idosos (WEIN, 2018). FISIOPATOLOGIA A infecção das vias urinárias que se estabelece com sucesso é determinada, em parte, pelos fatores de virulência das bactérias, pelo tamanho do inóculo e pela presença de mecanismos de defesa do hospedeiro inadequados. Esses fatores também desempenham um papel na determinação do nível final de colonização e lesão das vias urinárias. Embora o aumento da virulência bacteriana pareça ser necessário para superar a forte resistência do hospedeiro, as bactérias com fatores de virulência mínima são capazes de infectar pacientes que apresentam imunocomprometimento significativo (SROUGI, 2014). ENTRADA BACTERIANA ↠ Há quatro maneiras possíveis de entrada de bactérias no trato geniturinário. De um modo geral, é aceito que bactérias periuretrais ascendendo no trato urinário causem a maioria das ITUs. A maior parte dos casos de pielonefrite é causada pela subida de bactérias a partir da bexiga, através do ureter e para dentro do parênquima renal (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ Outras formas de penetração bacteriana são causas incomuns de ITU (MCANINCH; LUE, 2014). • A disseminação hematogênica pode ocorrer em pacientes imunocomprometidos e em neonatos. Staphylococcus aureus, espécies de Candida e Mycobacterium tuberculosis são patógenos comuns que viajam pelo sangue para infectar o trato urinário. • A disseminação linfática ao longo dos vasos linfáticos retais, colônicos e periuterinos tem sido postulada como uma causa de ITU; contudo, atualmente, há pouco suporte científico para sugerir que a disseminação de bactérias por meio de canais linfáticos desempenhe um papel na patogênese da ITU. • Extensão direta de bactérias de órgãos adjacentes para dentro do trato urinário pode ocorrer em pacientes com abscessos intraperitoneais ou fístulas vesicointestinais ou vesicovaginais. • Infecção redicivante a partir de um foco tratado inadequadamente na próstata ou no rim pode surgir em outras partes dos tratos urinários. FATORES DE VIRULÊNCIA ↠ São apontados alguns marcadores de uropatogenicidade que caracterizam as cepas de E. coli (RIELLA, 4ª ed.). • resistência ao soro sanguíneo; • produção de hemolisinas; • existência de determinados antígenos O e K; • expressão de adesinas ou fímbrias tipo I (manose-sensível) e tipo II ou fímbria P (manose- resistentes); • produção de aerobactin. Das muitas cepas de Escherichia coli, as uropatogênicas pertencem a um número muito limitado de sorogrupos O, K e H (MCANINCH; LUE, 2014). Existem sugestões indicando que a presença de determinados antígenos O e K habilitam a E. coli a produzir mais frequentemente pielonefrite (RIELLA, 4ª ed.). Cepasde E. coli sem estas características de virulência são as que geralmente provocam cistite e bacteriúria assintomática. Todas as cepas que infectam o trato urinário provavelmente possuem a fímbria tipo I, que permite colonização do períneo e bexiga. A fímbria tipo II, entretanto, está mais relacionada a infecção do parênquima renal e se constitui no mais importante fator de virulência bacteriana (RIELLA, 4ª ed.). ↠ A maioria das bactérias causadoras de infecção do trato urinário tem a capacidade de aderir a células do epitélio urinário ou à uromucóide. Este fenômeno está associado à existência de fímbrias, que são filamentos 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck proteicos observados na superfície de bactérias Gram- negativas (RIELLA, 4ª ed.). ↠ A capacidade da E. coli de aderir a células epiteliais é mediada por ligantes localizados nas pontas das fímbrias bacterianas (pilosidades). Os ligantes prendem-se a receptores de glicolipídios ou glicoproteínas na membrana superficial das células uroepiteliais (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ As fímbrias são classificadas por sua capacidade de causar hemaglutinac ̧ão e pelo tipo de açúcar que pode bloquear esse processo (MCANINCH; LUE, 2014). • As fímbrias P, que podem aglutinar sangue humano, ligam- se a receptores de glicolipídios nas células uroepiteliais, eritrócitos (antígenos P de grupo sanguíneo) e células tubulares renais. • As fimbrias tipo 1, que podem aglutinar sangue de cobaias, ligam-se a resíduos de manosídeo em células uroepiteliais. .: Fímbrias P são observadas em 90% das cepas de E. coli que causam pielonefrite, mas em menos de 20% das cepas que causam ITUs baixas. Em contrapartida, as fímbrias tipo 1 podem ajudar bactérias a aderir à mucosa da bexiga. A maioria das E. coli uropatogênicas tem ambos os tipos de fímbrias (MCANINCH; LUE, 2014). As glicoproteínas, que servem de receptáculos para fímbrias tipo I, são encontradas na proteína de Tamm-Horsfall, ou nos glucosaminoglicanos que recobrem a superfície da bexiga; os glicoesfingolípides servem de receptores para as fímbrias tipo II ou P. Como os glicosaminoglicanos recobrem as células da bexiga e se renovam continuamente, e a proteína de Tamm-Horsfall se encontra livre na urina da bexiga, a fixação de bactérias a estes elementos que são excretados na urina serve como mecanismo de defesa contra a persistência e a multiplicação de bactérias no trato urinário (RIELLA, 4ª ed.). De outra parte, entende-se que a destruição desta camada protetora de glicoproteínas pode facilitar a colonização e a multiplicação de bactérias na bexiga, favorecendo penetração no epitélio e consequente reação inflamatória (RIELLA, 4ª ed.). ↠ Uma vez que ocorra ligação às células uroepiteliais, outros fatores patogênicos bacterianos tornam-se importantes. A maioria das cepas uropatogênicas de E. coli produz hemolisina, que inicia a invasão tecidual e torna o ferro disponível para os patógenos infectantes (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ A presença do antígeno K nas bactérias invasoras protege-as da fagocitose por neutrófilos. Esses fatores permitem que os patógenos infectantes escapem das várias defesas do hospedeiro (MCANINCH; LUE, 2014). Tem sido observado que muitas bactérias, como a E. coli, têm a capacidade de invadir as células do hospedeiro, atuando como patógenos intracelulares oportunistas. Tem sido mostrado que o fator necrosante citotóxico, as adesinas Afa/Dr e fímbrias tipo 1 promovem a invasão das células do hospedeiro (MCANINCH; LUE, 2014). A ligação da adesina FimH na extremidade distal de fímbrias tipo 1 à membrana do hospedeiro leva ao recrutamento de adesina quinase focal, fosfoinositídeo-3-quinases, actinina-a e vinculina, o que resulta em rearranjos localizados de actina e deglutição da bactéria presa por fechamento da membrana em volta das bactérias. As bactérias intracelulares amadurecem em biofilmes, criando protuberâncias semelhantes a vagens sobre a superfície do urotélio. As vagens contêm bactérias enclausuradas em uma matriz rica em polissacarídeos circundada por uma casca protetora de uroplaquina. A capacidade das bactérias uropatogênicas de invadir transitoriamente, sobreviver e se multiplicar dentro das células do hospedeiro pode proporcionar um mecanismo para a persistência e a recorrência das ITUs (MCANINCH; LUE, 2014). MECANISMOS DE DEFESA DO TRATO URINÁRIO ↠ A urina é um meio de cultura razoável para a maioria dos patógenos do trato urinário. A sua composição química permite a multiplicação bacteriana, e dificulta a ação de mecanismos humorais e celulares de defesa. Sua hiperosmolaridade inibe a fagocitose e a reatividade do complemento. Entretanto, a urina pode ser inibitória ou bactericida, devido aos seguintes fatores: (RIELLA, 4ª ed.). • elevada osmolalidade; • pH baixo; • elevada concentração de uréia; • alta concentração de ácidos orgânicos; • presença de secreção prostática no homem, que também pode ajudar o efeito antibacteriano da urina; • finalmente, a proteína de Tamm-Horsfall, secretada pelas células tubulares e presente na urina, pode agir como elemento de defesa. Ela é rica em resíduos de manose, permitindo a ligação de fímbrias tipo I de E. coli, e se elimina na urina com a bactéria a ela fixada. ↠ Depois da colonização periuretral, as bactérias devem penetrar a bexiga para que haja infecção, mas a bexiga apresenta vários mecanismos que dificultam o desenvolvimento de uma infecção: (RIELLA, 4ª ed.). • a micção é o mais eficaz mecanismo de defesa. O aumento do volume urinário e da diurese é capaz de reduzir grandemente, embora não completamente, o número de bactérias na bexiga. Este importante mecanismo de defesa é perdido em pacientes com distúrbios da urodinâmica; • a camada de glicosaminoglicanos, protegendo a superfície da bexiga e dificultando a fixação das bactérias às células uroteliais; como é renovável, as bactérias que a ela se fixam são também eliminadas; • os polimorfonucleares, que acorrem ao local da invasão do epitélio vesical; • a existência de agente ou fator antibacteriano produzido, talvez, pelas células do urotélio. 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Depois de atingida a bexiga, as bactérias ascendem aos rins, pela parte de turbilhão no fluxo ureteral da urina (porção mais externa). Lá, dependendo do inóculo e de condições propícias, pode instalar-se uma infecção. No rim, a medula é muito mais suscetível à infecção do que o córtex (RIELLA, 4ª ed.). A maior suscetibilidade da zona medular se relaciona à elevada concentração de amônia (que inativa o complemento), à elevada osmolaridade (que altera a quimiotaxia de polimorfonucleares), ao baixo pH e ao baixo fluxo sanguíneo (que alteram a função e o número de leucócitos na região). Nesta zona, as bactérias encontram mais facilidade para se multiplicar e iniciar o processo infeccioso. As cepas de E. coli que atingem os rins evidenciam várias características de virulência. Receptores para as fímbrias P se encontram distribuídos em todo o rim. As E. coli que infectam o tecido renal perdem as fímbrias tipo I, que facilitam a fagocitose, porque os leucócitos polimorfonucleares dispõem de receptores de manose (RIELLA, 4ª ed.). RESPOSTA IMUNE Reconhecimento do Patógeno ↠ O reconhecimento do patógeno pelo hospedeiro é mediado por uma série de receptores de padrões moleculares associados ao patógeno (PAMP, do inglês pathogen-associated molecular pattern), como receptores tipo Toll (TLR, do inglês Toll-like receptors), que estabelecem a conexão entre o reconhecimento dos microrganismos invasores e o desenvolvimento da resposta imune inata (WEIN, 2018). ↠ Os TLRs reconhecem padrões moleculares que são conservados entre muitas espécies de microrganismos patogênicos, como lipopolissacarídeo (LPS) e peptidoglicano (PG), e ativam vias de sinalização que desencadeiamrespostas imunes e inflamatórias para destruir os patógenos. As células epiteliais superficiais da bexiga expressam TLR4 em suas membranas, que, juntamente com CD14, reconhecem os LPS das bactérias e ativam a resposta imune inata. O TLR11 recém- identificado, que reconhece a UPEC e protege os rins de infecção ascendente, também é expresso nas células uroepiteliais, bem como nas células renais (WEIN, 2018). A resposta do sistema inato a uma infecção na bexiga ou nos rins consiste principalmente em inflamação local (WEIN, 2018). ↠ A resposta imune inata ocorre mais rapidamente do que a resposta adaptativa e envolve uma variedade de tipos de células, incluindo leucócitos polimorfonucleares, neutrófilos, macrófagos, eosinófilos, células natural killer, mastócitos e células dendríticas. Além disso, a transcrição aumentada da óxido nítrico sintase induzível pelos leucócitos polimorfonucleares resulta em níveis elevados de óxido nítrico e produtos de degradação relacionados, que também possuem efeitos tóxicos sobre as bactérias (WEIN, 2018). ↠ A resposta inata contribui para estabelecer a imunidade adaptativa devido a interações dos macrófagos, das células dendríticas e células natural killer com os linfócitos T e B. A imunidade adaptativa envolve o reconhecimento específico dos patógenos pelos linfócitos T e B e a produção de anticorpos de alta afinidade em um processo que leva 7 a 10 dias após a infecção (WEIN, 2018). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ↠ As infecções baixas do trato urinário revelam, frequentemente, disúria, aumento da frequência de micções, dor ou mal-estar suprapúbico, urgência miccional; às vezes, ocorre dor forte e aguda no final da micção (RIELLA, 4ª ed.). ↠ A urina do doente se mostra habitualmente turva, às vezes com filamentos, e pode ocorrer hematúria terminal. Sem razão clara, poucos doentes (geralmente do sexo feminino) evidenciam hematúria franca transitória, habitualmente com sintomas e sinais sugestivos de infecção urinária baixa (RIELLA, 4ª ed.). ↠ Nos casos de infecção aguda do trato urinário alto, o doente manifesta dor lombar uni ou bilateral (sensação de peso, dor à pressão ou à movimentação, às vezes dor à inspiração profunda), acompanhada geralmente de febre elevada (até 39-40°C) com calafrios. Esta dor é exacerbada à punho-percussão da região lombar (sinal de Giordano) (RIELLA, 4ª ed.). Vale assinalar que em pacientes idosos, às vezes, mesmo frente a infecções agudas graves, inexistem febre e dor lombar; por outro lado, a frequência de bacteriúria assintomática neste grupo etário é relativamente elevada. Também, vale assinalar que muitos doentes com infecção alta do trato urinário têm, concomitante ou precedente ao surto, manifestações de disúria, aumento da frequência das micções, dor ou sensação de peso suprapúbico; outros, entretanto, nada evidenciam referente ao trato urinário baixo (RIELLA, 4ª ed.). Em doentes hospitalizados, com outras doenças graves associadas, alguns deles cateterizados, pode ocorrer séria infecção do trato urinário e o diagnóstico não ser feito. É que os sintomas e sinais podem estar camuflados pela importância da doença básica, e, nestes casos, mesmo com múltiplos abscessos de rins, eles não demonstram febre elevada e, muitas vezes, não têm condições de se queixar. A suspeita deve ser feita através de valorização da proteinúria (não-nefrótica), piúria e hematúria microscópica não explicadas pela doença básica do paciente (RIELLA, 4ª ed.). 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck Existe um grupo grande de doentes que, apesar da existência de infecção do trato urinário, não apresentam queixas, ou apenas, quando inquiridos, referem-se a leve disúria, polaciúria e/ou noctúria. Estes casos oligossintomáticos, assim como os casos assintomáticos, são mais comuns em idosos, embora situação semelhante possa ocorrer em crianças e mulheres jovens, mesmo na presença de obstrução anatômica ou funcional do trato urinário (RIELLA, 4ª ed.). DIAGNÓSTICO ↠ O diagnóstico de ITU às vezes é difícil de se estabelecer e baseia-se em sumário de urina e urocultura (MCANINCH; LUE, 2014). Com maior frequência, a urina é obtida de uma amostra obtida por micção. Em crianças sem treinamento para uso do toalete, um dispositivo para coleta de urina, como um saquinho plástico, é colocado sobre a genitália, e a urina é cultivada do espécime assim coletado. Esses dois métodos de coleta de urina são fáceis de se obterem, mas pode ocorrer contaminação a partir da vagina e da área perirretal (MCANINCH; LUE, 2014). A coleta de urina obtida por um cateter urinário é menos invasiva que uma aspiração suprapúbica e tem menor probabilidade de contaminação do que um espécime obtido por micção. Se um paciente tem uma sonda de permanência, um espécime de urina deve ser coletado do portal de coleta do cateter (MCANINCH; LUE, 2014). SUMÁRIO DE URINA ↠ O exame sumário de urina é muito importante para a suspeita diagnóstica de uma infecção do trato urinário. A urina deve ser colhida após cuidadosa limpeza da região perineal, e, de preferência, deve ser examinado nestes casos o jato médio urinário. A presença de piúria (8 leucócitos por campo de grande aumento na mulher, e 5 leucócitos nos homens) sugere inflamação em algum ponto do trato urinário (RIELLA, 4ª ed.). ↠ Muito mais precisa e significante é a contagem de leucócitos por ml de urina. Acima de 8.000 leucócitos por ml de urina não centrifugada considera-se anormal. Este é o método preferencial para definição de piúria. Não esquecer que, apesar dos cuidados, o fluxo vaginal de mulheres pode contaminar a urina colhida e resultar disso alguma piúria; no homem, inflamação uretral também é uma causa comum de piúria, sem bacteriúria associada (RIELLA, 4ª ed.). ↠ O encontro de cilindros leucocitários, presentes em aproximadamente 60% dos pacientes com infecção do parênquima renal, é inespecífico, pois indica a presença de inflamação intraparenquimatosa e está presente em doenças túbulo-intersticiais e, também, glomerulares (RIELLA, 4ª ed.). ↠ Hematúria é frequente, ocorrendo em cerca da metade dos casos de infecções do trato urinário, e pode ser até macroscópica. Habitualmente é apenas microscópica, e desaparece com o tratamento (RIELLA, 4ª ed.). ↠ São também utilizados testes químicos que visam diagnosticar a presença de bacteriúria significante. O mais utilizado é o teste do nitrito, que se baseia na conversão do nitrato dietético em nitrito pela enzima nitrato redutase, produzida pelas enterobacteriáceas e algumas bactérias Gram-negativas. Embora de alta especificidade, o resultado negativo não exclui a presença de infecção por serem necessárias 4 a 6 horas para a bactéria converter nitrato em nitrito, na urina intravesical, além de não detectar infecções por Pseudomonas, estafilococos e enterococos (RIELLA, 4ª ed.). ↠ Um importante exame, pela simplicidade e pelo nível da informação que dá, é a coloração pelo Gram da urina não centrifugada. Nestes casos, a visualização de bactérias corresponde a elevado número de bactérias por ml de urina (a visualização de 1 ou mais bactérias em campo de aumento 1.000 [imersão] em amostra não centrifugada de urina ou > 5 bactérias em amostra centrifugada corresponde a número igual ou superior a 105 unidades formadoras de colônias/ml), indicando a existência de infecção. Este é um exame pouco realizado na prática, que poderá ser de grande ajuda mesmo em locais que não disponham de meios para a realização de uma urocultura (RIELLA, 4ª ed.). 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck UROCULTURA ↠ O padrão-ouro para a identificação de ITU é a cultura de urina quantitativa para bactérias específicas. A urina deve ser coletada em um recipiente estéril e cultivada imediatamente após a coleta. Quando isso não é possível, a urina podeser guardada no refrigerador por até 24 horas (MCANINCH; LUE, 2014). Urocultura quantitativa é o exame mais importante para o diagnóstico de uma infecção urinária porque não apenas indica a ocorrência de multiplicação bacteriana no trato urinário, mas permite o isolamento do agente causal e o estudo de sua sensibilidade frente aos antibacterianos (RIELLA, 4ª ed.). ↠ Habitualmente considera-se positiva a presença de número igual ou superior a 100.000 bactérias ou unidades formadoras de colônias por mililitro (105 ufc/ml) de urina. É lógico que um limite tão demarcado para uma condição heterogênea, e com uma multiplicidade de variáveis, pode gerar distorções, se este exame não for interpretado no contexto de cada caso. A grande maioria de doentes com infecção do trato urinário, de fato, evidencia 105 ufc/ml. Entretanto, aceita-se como positiva a urocultura com 102 ufc/ml em mulheres com disúria, frequência miccional aumentada, desconforto suprapúbico e piúria (“síndrome uretral aguda”) ou 104 ufc/ml em pacientes com sintomatologia sugestiva de pielonefrite (febre, calafrios, dor lombar, com ou sem sintomatologia baixa) (RIELLA, 4ª ed.). TESTES DE LOCALIZAÇÃO DE UMA INFECÇÃO URINÁRIA Na prática clínica, a ideia de localização de uma infecção urinária é dada pela sintomatologia e pelo tipo de doente que se observa. A ocorrência isolada de manifestações urinárias baixas (disúria, polaciúria, urgência miccional, peso ou dor suprapúbica no final da micção), sem febre e/ ou dor lombar, sugere uma localização baixa da infecção; se ocorre febre e dor lombar agravada pela punho- percussão, pensa-se em infecção alta do trato urinário. É natural que este exercício clínico, lógico e utilizável, não seja tão preciso (RIELLA, 4ª ed.). ↠ E muitos outros métodos complementares têm sido utilizados. Em geral eles se baseiam nos seguintes fatos: uma inflamação do tecido renal, mais que a inflamação da superfície da bexiga, tem maiores possibilidades de determinar um aumento de proteínas da fase reativa aguda de uma inflamação, explicando a elevação de proteína C reativa; também, tem mais possibilidade de lesar células tubulares renais (desde que a inflamação tem importante componente intersticial), podendo liberar, na urina, enzimas intracelulares múltiplas (LDH, - glucuronidase, N-acetil--D-glucosaminidase, leucino aminopeptidase, para citar algumas), assim como proteínas tubulares (beta2-microglobulina) (RIELLA, 4ª ed.). EXAMES DE IMAGEM ↠ Estes estudos são de grande importância na detecção de fatores predisponentes e consequências de uma infecção do trato urinário (RIELLA, 4ª ed.). • A ultrassonografia, pela simplicidade e inocuidade de sua realização, é um método prático e útil e de uso cada vez maior. Além de permitir verificar o tamanho, a forma e o contorno dos rins, indica a existência de fatores obstrutivos ao longo do aparelho urinário, assim como a presença de abscesso perinefrético ou intra-renal. • A tomografia computadorizada (TC), entretanto, tem substituído a urografia excretora na avaliação da infecção urinária. Além da opção de poder ser usada com ou sem contraste radiológico, identifica anormalidades anatômicas, gerais ou focais, processos obstrutivos, presença de abscesso perinefrético e de alterações intra-abdominais e retroperitoneais. TRATAMENTO ↠ O tratamento bem-sucedido das infecções do trato urinário depende essencialmente de: (RIELLA, 4ª ed.). • diagnóstico clínico-bacteriológico correto; • escolha de agente antibacteriano adequado, que deve ser usado de modo próprio; • acompanhamento do doente para verificar a ocorrência de recidiva da infecção. Nestes casos, investigar a existência de fator predisponente, para a medida terapêutica adequada. Como as manifestações clínicas de infecções do trato urinário são múltiplas, ocorrendo em situações muito variadas, a atitude terapêutica também pode e deve ser variada, adequando-se à situação clínica (RIELLA, 4ª ed.). ↠ A infecção do trato urinário continua sendo tratada pelo método convencional, através do uso de 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck antibacterianos, após a identificação do agente infectante e o conhecimento da sua sensibilidade aos antimicrobianos, considerando-se as peculiaridades do hospedeiro. O período do tratamento é variável, podendo ter a duração de 3 dias, 7 a 14 dias ou, excepcionalmente, ser em dose única. A natureza do tratamento convencional e empírico (RIELLA, 4ª ed.). Como a maioria dos antibióticos é depurada do corpo pelo fígado ou rim, certos agentes antimicrobianos precisam ser ajustados na presença de doenças nesses órgãos (MCANINCH; LUE, 2014). Sulfametoxazol-trimetoprima ↠ O sulfametoxazol-trimetoprima (SMX-TMP) é usado comumente para tratar muitas ITUs, exceto aquelas causadas por Enterococcus e Pseudomonas spp (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ Ele interfere no metabolismo bacteriano do folato. O SMX-TMP é altamente eficaz e relativamente barato (MCANINCH; LUE, 2014). Reações adversas ocorrem em 6 a 8% dos pacientes usando esse medicamento; elas incluem reações de hipersensibilidade, erupções cutâneas, perturbação gastrintestinal, leucopenia, trombocitopenia e fotossensibilidade (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ Ele é o antibiótico mais frequentemente prescrito para ITU não complicada. Recentemente, o uso de SMX-TMP tem declinado devido ao aumento da incidência de resistência bacteriana (MCANINCH; LUE, 2014). Fluoroquinolonas ↠ As fluoroquinolonas têm um amplo espectro de atividade, especialmente contra bactérias gram-negativas. Embora tenham atividade adequada contra espécies de estafilococos, as fluoroquinolonas não têm boa atividade contra espécies de estreptococos e bactérias anaeróbias (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ Elas interferem na girase do DNA bacteriano, impedindo a replicação das bactérias. Embora elas sejam altamente eficazes no tratamento de ITU, as fluoroquinolonas são relativamente caras. Reac ̧ões adversas são infrequentes e incluem efeitos gastrintestinais leves, tontura e sensação de leveza na cabeça (MCANINCH; LUE, 2014). Não devem ser usadas em pacientes grávidas e devem ser usadas criteriosamente em crianças devido ao seu potencial de dano à cartilagem em desenvolvimento (MCANINCH; LUE, 2014). Nitrofurantoína ↠ A nitrofurantoína tem boa atividade contra a maioria das bactérias gram-negativas (exceto Pseudomonas e Proteus spp.), estafilococos e espécies de enterococos (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ Ela inibe enzimas bacterianas e atividade de DNA. A nitrofurantoína é altamente eficaz no tratamento de ITU e é relativamente barata (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ Reac ̧ões adversas são relativamente comuns e incluem perturbação gastrintestinal, polineuropatia periférica e hepatotoxicidade. O uso de longa duração pode resultar em reação de hipersensibilidade pulmonar e alterações intersticiais (MCANINCH; LUE, 2014). Aminoglicosídeos ↠ Os aminoglicosídeos são usados comumente no tratamento de ITU complicada. Eles são altamente efetivos contra a maioria das bactérias gram-negativas. Quando combinados com ampicilina, eles são eficazes contra enterococos (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ Eles inibem a síntese bacteriana de DNA e RNA. Os principais efeitos adversos dos aminoglicosídeos são nefrotoxicidade e ototoxicidade. Os aminoglicosídeos são usados principalmente em pacientes com ITU complicada que precisam de antibióticos intravenosos (MCANINCH; LUE, 2014). Cefalosporinas ↠ As cefalosporinas têm boa atividade contra a maioria dos uropatógenos. As cefalosporinas de primeira geração têm boa atividade contra bactérias gram-positivas, E. coli e Proteus e Klebsiella spp (MCANINCH; LUE, 2014). 14 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ As cefalosporinas de segunda geração têm atividade aumentada contra anaeróbios e Haemophilus influenzae.As cefalosporinas de terceira geração têm cobertura mais ampla contra bactérias gram-negativas, porém menor contra bactérias gram-positivas (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ As cefalosporinas inibem a síntese da parede celular bacteriana. As reações adversas incluem hipersensibilidade e perturbação gastrintestinal (MCANINCH; LUE, 2014). Penicilinas ↠ As penicilinas de primeira geração são ineficazes contra a maioria dos uropatógenos e não são usadas comumente no tratamento de ITU. Entretanto, as aminopenicilinas (amoxicilina e ampicilina) têm boa atividade contra enterococos, estafilococos, E. coli e Proteus mirabilis. (MCANINCH; LUE, 2014). ↠ Contudo, as bactérias gram-negativas podem desenvolver resistência rapidamente a muitas aminopenicilinas. A adição de inibidores da betalactamase, como o ácido clavulânico, torna as aminopenicilinas mais ativas contra as bactérias gram-negativas (MCANINCH; LUE, 2014). Referências TORTORA, Gerard J. Princípios de anatomia e fisiologia / Gerard J. Tortora, Bryan Derrickson; tradução Ana Cavalcanti C. Botelho... [et al.]. – 14. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018 MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e Fisiologia, 3ª ed., Porto Alegra: Artmed, 2008 SILVERTHORN, Dee U. Fisiologia Humana. Disponível em: Minha Biblioteca, (7th edição). Grupo A, 2017. GARTNER, L. P.; HIATT, J. L. Tratado de Histologia em cores, 3ª ed., Elsevier Ltda., 2007. WEIN, Alan J. Campbell-Walsh Urologia. Grupo GEN, 2018. MCANINCH, Jack W.; LUE, Tom F. 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